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Velasquez et al. (2010)

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Pensando Eticamente: 
Uma Metodologia para a Tomada de Decisão Moral1 
por Manuel Velasquez, Claire Andre, Thomas Shanks, S.J., e Michael J. Meyer 
(Traduzido e adaptado por Carlos Alberto Torres. V1.2, 2010) 
 
Questões morais já nos desafiam pela manhã junto com as primeiras notícias no 
jornal, nos testam em nossas decisões no trabalho, nos importunam vindas dos 
campos de futebol e nos desejam boa noite no último jornal da TV. Somos 
bombardeados diariamente com perguntas sobre a correção de nossas políticas 
públicas, a moralidade de tecnologias médicas que podem prolongar nossas vidas, os 
direitos dos aposentados e dos desabrigados, a imparcialidade com que os professores 
tratam os diversos estudantes em suas salas de aula. 
Freqüentemente ficamos perplexos. Como lidar com estas questões morais? Como, 
exatamente, devemos refletir diante de uma questão ética? Que perguntas devemos 
fazer? Que fatores devemos considerar? 
A primeira etapa na análise de questões morais é óbvia mas nem sempre fácil: 
comece com os fatos. Algumas questões morais criam controvérsias simplesmente 
porque nós não queremos nos aborrecer com a verificação dos fatos. Esta primeira 
etapa, embora óbvia, é também a mais importante e a mais freqüentemente 
negligenciada. 
Mas ter os fatos não é o bastante. Fatos por si mesmos só nos contam o que é, de 
forma descritiva; eles não nos contam o que deveria ser, de forma normativa, em 
respeito ao que é considerado socialmente justo. Portanto, além de obter os fatos, 
resolver uma questão ética requer um apelo a valores. Os filósofos desenvolveram 
cinco abordagens diferentes aos valores para tratar com as questões morais. 
A Abordagem do Utilitarismo 
O utilitarismo surgiu no século IXX, tendo como referência principalmente a obra de 
Jeremy Bentham e John Stuart Mill, para ajudar aos legisladores a determinar quais 
leis eram moralmente melhores. Bentham e Mil sugeriram que as ações éticas eram 
aquelas que provêem a maior vantagem do bem sobre o mal. 
Para analisar uma questão usando a abordagem do utilitarismo, primeiro, nós 
identificamos os vários cursos ou alternativas de ação disponíveis. Em segundo, nós 
perguntamos quem será afetado por cada ação e quais benefícios ou prejuízos 
decorrerão de cada uma. Em terceiro, nós escolhemos a alternativa de ação que 
produzirá os maiores benefícios e o menor prejuízo. 
A ação ética é a que provê o maior bem - ou utilidade - para o maior número 
de pessoas. 
 2 
A Abordagem dos Direitos 
A segunda abordagem importante à ética tem como referência principal a filosofia do 
pensador do século XVIII Immanuel Kant, que focalizou no direito do indivíduo de fazer 
as suas próprias escolhas. Nesta concepção, as pessoas têm a sua dignidade baseada na 
sua capacidade de escolher livremente o que farão com suas próprias vidas, o que as 
torna diferentes de meras coisas; logo, pessoas devem ter as suas escolhas respeitadas 
como um direito moral fundamental. Pessoas não são objetos para serem manipuladas; 
logo, usar pessoas em formas que elas não escolheram livremente consiste em uma 
violação da dignidade humana. 
Além desse direito básico, obviamente, existem muitos outros a ele relacionados. Estes 
outros direitos (veja uma lista incompleta abaixo) podem ser pensados como aspectos 
diferentes do direito básico de termos as nossas escolhas respeitadas. 
 O direito à verdade: todos temos o direito de que nos contem a verdade e de 
sermos informados sobre os assuntos que afetam significativamente nossas 
escolhas. 
 O direito de privacidade: todos temos o direito de fazer, acreditar, e dizer o que 
quer que nós tenhamos escolhido em nossas vidas pessoais, desde que não 
violemos os direitos dos outros. 
 O direito de não ser ferido: todos temos o direito de não ser prejudicado ou 
ferido, a menos que façamos algo, livre e conscientemente, que mereça castigo 
de acordo com as nomas social e juridicamente estabelecidas; ou que tenhamos 
escolhido livre e conscientemente nos arriscar a tais ferimentos. 
 O direito ao que é acordado: todos temos o direito ao que foi prometido por 
aqueles com quem nós livremente tenhamos entrado em um contrato ou acordo. 
Ao decidir se uma ação é moral ou imoral usando esta segunda abordagem, devemos 
perguntar: “A ação respeita os direitos morais de todo o mundo?”. 
As ações estão erradas se violam os direitos dos indivíduos; e, quanto mais 
séria a violação, mais injusta a ação. 
A Abordagem da Imparcialidade ou da Justiça 
A abordagem da imparcialidade ou da justiça à ética tem suas raízes nos ensinamentos 
do antigo filósofo grego Aristóteles, que disse: "iguais devem ser tratados igualmente 
e desiguais desigualmente”. A pergunta moral básica nesta abordagem é: “Quão justa 
é uma ação? Trata a todos da mesma maneira, ou mostra favoritismo e 
discriminação?”. 
O favoritismo dá benefícios a algumas pessoas sem razão justificável para tal 
distinção; a discriminação impõe fardos a pessoas que não são em nada diferentes 
daquelas às quais não são impostos os mesmos fardos. 
O Favoritismo e a Discriminação são injustos e errados. 
 3 
A Abordagem do Bem-Comum 
Esta abordagem à ética assume uma sociedade composta de indivíduos em interação, 
cujo próprio bem está inescapavelmente ligado ao bem da comunidade em que vive. 
Ou seja, existe um conjunto de valores e de objetivos comuns que servem de limites 
às decisões e ações de todos os membros da comunidade, e que devem ser 
respeitados por todos. Idealmente, em uma dada sociedade, esses valores comuns 
deveriam ser compatíveis com os valores e objetivos singulares de cada indivíduo. 
O bem comum é uma noção que surgiu há mais de 2.000 anos nos escritos de Platão, 
Aristóteles e Cícero. Pode-se definir: “bem comum são certas condições gerais 
que servem igualmente para a vantagem de todos". 
Nesta abordagem o foco é assegurar que as políticas, os sistemas e as instituições 
sociais, bem como o meio ambiente, dos quais todos dependem, sejam benéficos para 
todos. Exemplos de bens comuns, são os serviços públicos de saúde, de educação, de 
segurança, de preservação da paz entre as nações, de um sistema jurídico 
democrático, etc. Pergunta: Qual curso de ação promove o bem comum? 
Apelos ao bem comum incitam-nos a ver nós mesmos como membros de uma 
comunidade. Isto implica em refletir sobre as amplas questões relativas ao 
tipo de sociedade que gostaríamos de ter, e sobre as decisões e ações para 
alcançar essa sociedade. Tendo como premissa o respeito à liberdade dos 
indivíduos para perseguir seus próprios objetivos, a abordagem do bem-
comum nos desafia a reconhecer e promover, também, os objetivos que 
compartilhamos em comum. 
A Abordagem da Virtude 
A abordagem da virtude à ética assume que existem certos comportamentos ideais 
que cada um de nós deveria se esforçar em desenvolver, que contribuem para o 
completo desenvolvimento de nossa própria humanidade. Estes ideais são descobertos 
por meio de uma concentrada reflexão sobre que tipo de pessoa nós temos o potencial 
de nos tornar. 
Virtudes* são atitudes ou características de caráter que nos permitem ser e 
agir de forma a desenvolver o nosso mais alto potencial. As virtudes aumentam 
nossa capacitação para perseguir os objetivos maiores que dão significado à nossa 
vida. Honestidade, coragem, amor, altruísmo, compaixão, generosidade, fidelidade, 
lealdade, integridade, justiça, disciplina e prudência são todos exemplos de virtudes. 
Lidando com um problema ético usando a abordagem da virtude, nós poderíamos 
perguntar: “Que tipo de pessoa eu poderia ser? O que irá promover o desenvolvimento 
do meu caráter? Como devo agir? Como posso servir à minha comunidade?”. 
 
*
 As virtudes são, também, valores instrumentais para atingirmosoutros valores. Valores, em sentido amplo, 
são crenças, princípios ou coisas que têm importância para cada um de nós, e se expressam pelo conjunto dos 
ideais ou objetivos que buscamos alcançar (CAT). 
 4 
Virtudes são como hábitos; quer dizer, uma vez incorporados ao 
comportamento, elas conformam o caráter de uma pessoa. Mais ainda, uma 
pessoa que desenvolveu virtudes estará naturalmente disposta a agir 
consistentemente com os princípios morais. A pessoa virtuosa é uma pessoa 
ética. 
A Resolução de um Problema Ético 
Uma vez que tenhamos averiguado os fatos, essas cinco abordagens sugerem que 
deveríamos fazer a nós mesmos cinco perguntas ao tentarmos solucionar uma questão 
moral (onde cada curso de ação é idêntico a uma alternativa de decisão): 
 Quais benefícios e danos cada curso de ação proposto irá produzir, e qual 
alternativa conduzirá às melhores conseqüências globais? 
 Quais direitos morais têm as pessoas ou as partes afetadas por uma 
determinada decisão, e qual curso de ação respeita melhor esses direitos? 
 Qual curso de ação trata a todos com imparcialidade, exceto onde há uma 
razão moralmente justificável para não fazê-lo, e sem mostrar favoritismo ou 
discriminação? 
 Qual curso de ação promove o bem comum? 
 Qual curso de ação desenvolve virtudes morais? 
Naturalmente, este método não fornece uma solução automática aos problemas 
morais; ele não possui este poder e, tampouco, justifica qualquer arrogância2 por parte 
dos que adotem esses valores éticos. O seu mérito situa-se no fato de que nos ajuda 
na reflexão e na identificação das considerações éticas mais importantes. 
Mensagem Final do Texto. 
Todos nós temos que deliberar sobre assuntos morais pessoalmente, mantendo uma 
cuidadosa atenção tanto aos fatos quanto aos princípios éticos envolvidos. 
Sobretudo, a ação ética é responsabilidade intransferível de cada indivíduo. 
 
 
1 This article updates several previous pieces from by Manuel Velasquez - Dirksen 
Professor of Business Ethics at Santa Clara University and former Center director - and 
Claire Andre, associate Center director. "Thinking Ethically" is based on a framework 
developed by the authors in collaboration with Center Director Thomas Shanks, S.J., 
Presidential Professor of Ethics and the Common Good Michael J. Meyer, and others. 
The framework is used as the basis for many programs and presentations at the 
Markkula Center for Applied Ethics. 
2 qualidade ou caráter de quem, por suposta superioridade moral, social, intelectual ou 
de comportamento, assume atitude prepotente ou de desprezo com relação aos 
outros; orgulho ostensivo, altivez (Houaiss, 2004)(CAT).

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