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CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS À EDUCAÇÃO DAS...

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Os desafios da prática docente na aplicação da Lei 10.639/03
Eliane Mimesse Prado, Lilian Elizabete da Silva de Fatima
RESUMO
Esta pesquisa busca identificar os desafios encontrados pelos professores na aplicação da Lei 10.639/03. Desafios estes que se estendem da formação até o trabalho desenvolvido em sala de aula, para isso, faremos uso da pesquisa bibliográfica sobre a temática. Com a implementação da Lei 10.639/03 o qual torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas, temos o reconhecimento da população afrodescendente na constituição da cultura brasileira. A argumentação parte de explicitar a importância dessa Lei no resgate e reconhecimento da contribuição do povo negro na formação da cultura brasileira e como forma de combater a discriminação racial. Em seguida, discute sobre os desafios do ensino e da formação dos professores para se cumprir com os conteúdos programáticos, a fim de desconstruir o mito da democracia racial e tratar de forma adequada as questões raciais existentes na escola. Por fim, será discutida a formação continuada, a importância da capacitação docente como forma de conhecer a Lei 10.639/03 e a cultura Africana para que possa fundamentar e executar seu planejamento. A qualificação permite ao docente refletir sobre sua prática a fim de construir uma pedagogia da diversidade que contribua no combate a discriminação nas escolas.
Palavras-chave: Discriminação. Formação de professores. Prática docente.
 
ABSTRACT
The following study tries to identify the challenges faced by teaches when applying the 10.639/03 law. Such challenges go from graduating to the classroom practice. In order to do that the author has done a bibliographical research on the theme. By the implementation of the 10.639/03 law, which makes the teaching of Afro-Brazilian and African Culture mandatory in schools there is a recognition of African descendents influence within the Brazilian culture. The main objective is to show the importance of such law in demonstrating and recognizing the contribution of black people within the Brazilian culture as well as to fight racism. Then the study analyses the training and teaching challenges by the teachers when fulfilling the content needs in order to deconstruct the racial democratic myth and deal appropriately with the racial issues within the school environment. Finally it discuss the ongoing academic training as a way to be acquainted with the 10.639/03 law and the African culture to make the teacher able to put his lesson plan in action. The qualification allows the teacher to reflect on his/her practice in order to build a diversity pedagogy that contributes to fight discrimination within the school universe.
 
Key words: Discrimination. Teacher Training. Teaching practice.
 
RESUMEN
Esta investigación tiene como objetivo identificar las dificultades encontradas por los profesores en la aplicación de la Ley 10.639/03. Son retos que se extienden desde la formación hasta el trabajo desarrollado en el aula, por ello, vamos a utilizar la investigación bibliográfica sobre el tema. Con la aplicación de la Ley 10.639/03, que hace obligatoria la enseñanza de la Historia y la Cultura Afro-brasileña y africana en las escuelas, tenemos el reconocimiento de la población de ascendencia africana en la constitución de la cultura brasileña. La argumentación parte para explicar la importancia de este acto en el rescate y en el reconocimiento de la contribución de los negros en la formación de la cultura brasileña, y como una forma de combatir la discriminación racial. A continuación, analiza los desafíos de la educación y de la formación de los docentes para cumplir con el contenido programático a fin de desconstruir el mito de la democracia racial y tratar adecuadamente la cuestión racial existente en la escuela. Finalmente, se discutirá la formación continua, la importancia de la formación de los docentes como una forma de conocer la Ley 10.639/03 y la cultura africana para fundamentar y ejecutar la planificación. La calificación permite al docente reflexionar sobre sus prácticas, a fin de construir una pedagogía de la diversidad que contribuya en la lucha contra la discriminación en las escuelas.
 
Palabras-clave: Discriminación, Formación de profesores, Práctica docente.
CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS À EDUCAÇÃO DAS
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
CONTRIBUTIONS OF TEACHING SCIENCE EDUCATION ETHNICRACIAL
RELATIONS
Maria da Conceição Costa Melo<costamcjm@yahoo.com.br>
Universidade Federal de Pernambuco
Resumo: Este trabalho discute contribuições do Ensino de Ciências para o cumprimento da
Lei 10.639/2003, pela qual o Ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira
éobrigatório no país e,dasDiretrizesCurriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais,
conforme Parecer CP 03/2004.Nessa perspectiva foi realizada uma oficina, no Curso de
Pedagogia, na disciplina dePesquisa de Prática Pedagógica V e Seminários,numa
Universidade Pública, no Estado de Pernambuco,focada na construção das ideaiscientíficas
segundo ocontexto sócio-cultural-econômico e histórico, no qual são construídas. Com base
no corpus do discurso escrito,pelos futuros docentes a partir da resolução de uma situaçãoproblema,
foram constituídas duas categorias de análise: determinismo biológico e
determinismo cultural. A análise aponta o Ensino de Ciência como uma prática extremamente
promotora da igualdade dos sujeitos, independentemente do seu pertencimento étnico-racial.
Abordagem da Ciência como uma atividade humana, sócio histórica e cultural, utilizada para
interpretar a realidade, mas que não é a realidade, por meio de uma linguagem, nomeada
científica, que tem se modificado ao longo de sua história, nas aulas de Ciências favorece a
(des)construção de ideias arraigadas no imaginário da sociedade brasileira, podendo contribuir
dessa maneira para a Educação das Relações Étnico-Raciais.
Palavras-chave:Formação inicial, História das Ciências, Educaçãodas Relações ÉtnicoRacial.
Abstract:This paper discusses contributions of Science Teaching for the fulfillment of the
Law 10.639/2003, in which the teaching of African history and African- Brazilian culture is
mandatory in the country and the Curriculum Guidelines for the Education of Racial-Ethnic
Relations, as opinion CP 03 /2004. In this perspective a workshop was held in the School of
5362
Education, discipline Research and Teaching Practice S
Education, discipline Research and Teaching Practice Seminar V, a public university in the
state of Pernambuco, focused on the construction of scientific ideals according to the socio -
cultural -economic and historical context in which they are built. Based on the corpus of
written discourse, the future teachers from the resolution of a problem situation, were
established two categories of analysis: biological determinism and cultural determinism. The
analysis indicates the Teaching of Science as an extremely practical promoting equality of
individuals, regardless of their ethnic and racial belonging. Approach to science as a human
activity, historical and cultural partner, used to interpret reality, but that is not reality through
language, named Science, which has been modified throughout its history, in science classes
favors the (de) construction of ideas rooted in the imagination of Brazilian society,
contributing in this way for the Education of Racial-Ethnic Relations.
Keywords: Initial training, History of Science, Education Ethnic and Racial Relations.
INTRODUÇÃO
Sinais de hostilização ao povo negro têm sido frequentes no mundo e noBrasil, a utilização do
estereótipo ao homem e a mulher negra tem origem desde o período colonial, passado mais de
quatrocentos anos mantem-se presente nos dias atuais, atuando como uma forma de controle
sobre esta população. Diferentes espaços e meios de comunicação têm reforçado os
estereótipos negativos relacionados
com o povo negro fortalecendo a visão etnocêntrica,
impregnada no imaginário da sociedade brasileira, a partir depadrões culturais, por meio dos
quais expressam os comportamentos e as formas de ser a realidade dos outros povos,
desqualificando-o e suas práticas.
Estas ideias racistas que permeiam a sociedade atual, inclusive o ambiente escolar, estão
enfronhadas no modo das pessoas entenderem e agirem diante do mundo, transmitindo a
impressão de que se trata de ideias sem um marco histórico, com um início, produtos de uma
criação humana. Porém, desde o ano de 2003, o Ministério da Educação tem sugerido às
Secretárias Estaduais e Municipais e o Ensino Superior, em particular os Cursos de Pedagogia
e de Licenciatura a realização de políticas e práticas voltadas para a formação de professores e
professoras para aEducação das Relações Étnico-Raciais.
Nessa perspectiva, foi realizado uma oficina, intitulada “O ensino de ciênciasnuma
perspectiva dedesconstrução de estereótipos e preconceito ao povo negro” na disciplina
5363
dePesquisa de Prática Pedagógica V e Seminários, no Curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Pernambuco, cuja ação docente foi mediada pela utilização da História das
Ciências objetivando a desconstrução de ideias etnocêntricas. A partir deste ponto de
interação entre prática e ação são levantadas contribuições que o Ensino de Ciências pode
promover para a promoção de práticas de ações afirmativas voltadas à população negra,
apresentadas neste trabalho.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
A Lei nº 10.639/2003, que introduziu na Lei n 9.394/1996 – das Diretrizese Basesda
EducaçãoNacional- a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana refleterecomendaçõesacordadas pelo Brasil na III Conferência Mundial contra o
Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Correlatas de Intolerância, em
Durban, África do Sul, em 2001. As DiretrizesCurriculares Nacionais contidas nos termos do
Parecer CNE/CP nº 3/2004 (BRASIL, 2004a)e da Resolução CNE/CPI2004 (BRASIL,
2004b) estabelecem a Educação das Relações Étnico-Raciais.
Trata-se de uma temática que merece maior atenção no âmbito do espaço escolar e no Ensino
Superior, pois o número de pesquisa sobre esta questão ainda encontra-se muito incipiente no
mundo acadêmico, mesmo o cenário atual cobrando daEducação o cumprimento doseu
compromisso social: a formação de cidadãs e cidadãos há um descompasso entre ela e as
novas exigências exigidas pela sociedade brasileira.
Na sociedade contemporânea, no âmbito das relações dos grupos sociais, há uma
supervalorização do que Henry Gireux (1996, apud SILVA, 2007, p. 07) chama branquitude
normativa, ou seja, a valorização de traços do branco europeu como a norma social e natural
dos seres humanos. Para Silva (2007, p. 06)
Ahipervalorizarão da aparência nórdica e concomitante desvalorização das
características fenotípicas relacionadas a indígenas e negros/as atuam como
discursos que hierarquiza os grupos raciais, ou seja, posições de poder simbólicos e
econômicos para brancos e subalternidades para indígenas e negos/as.
Sendo assim, o discurso do professor/a se converte em objeto de estudo no meio acadêmico
por se ter evidências que o discurso educacional é um dos que mais influencia a sociedade,
5364
perdendo apenas para o midiático (DIJK, 2010, p. 72). Neste sentido, identificar o(s)
discurso(s) presente(s) nas escolas é fundamental para a desconstrução de práticas racistas,
visto que os sistemas educacionais é um meio pelo qual se pode perpetuar ou mudar a
apropriação dos discursos. Segundo Foucault (2010):
Sabe-se que a educação, embora seja, de direito, um instrumento graças ao qual todo
indivíduo, em uma sociedade como a nossa, pode ter acesso a qualquer tipo de
discurso, segue, em sua distribuição, no que permite e no que impede as linhas que
estão marcadas pela distância, pelas oposições e lutas sociais. Todo sistema de
educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos
discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo.
De acordo com Dijk (2010)as representações mentais socialmente compartilhadas,são
expressas, formuladas, defendidas e legitimadas por intermédio da escrita e da fala, ou seja,
por intermédio do discurso. Essas representações se nutrem de maneira sutil e silenciosa por
meios diversos na sociedade, em particular na escola. Pesquisas têm revelado que o livro
didático em vários países ocidentais continua reproduzindo estereótipos sobre a etnia negra,
valorizando de forma intensa as atividades e produtos culturais do mundo eurocêntrico
(BLONDIN, 1990; KLEIN, 1985; PREISWERK, 1980; VAN DIJK, 1993, apud VAN DIJK,
2010).
O conceito de etnia para caracterizar os grupos humanos com base em fatores culturais, como
a nacionalidade, a religião, a língua, as tradições e afiliação tribal a qual pertence é mais
adequado que o conceito de “raça”.Segundo Munanga e Gomes (2006, p. 176 e 177), “o
conceito de etnia é mais adequado porque não emprega o sentido biológico, atribuído à raça, o
que colabora para superação da ideia de que a humanidade se divide em raças superiores e
raças inferiores”.
2.2 O DISCURSO E O ENSINO DE CIÊNCIAS
O discurso na perspectiva de fenômeno constitutivo da sociedade fundamenta a Análise de
Discurso Crítica (ADC). Para esse aporte teórico-metodológico é importante considerar a
análise linguística como método de estudo da mudança social (FAIRCLOUGH, 1989, 2001,
2003), destacando a linguagem como prática social, ou seja, como processo de construção da
realidade na interação sociocomunicativa, no qual estruturas linguísticas atuam como modo
de ação sobre o mundo e sobre as pessoas.
Esse modelo proposto por Fairclough (2001a) que tomou como base Foucault (1997, 2003),
5365
Bakhtin (1997 e 2003), entre outros, aponta o meio social como um universo organizador da
atividade linguística, a qual funciona como modo de interação e produção social.
Considerando o discurso como prática social, Fairclough (2001a) propôs um modelo
tridimensional de Análise de Discurso, integrando as práticas discursivas às sociais. Esse
modelo tridimensional aponta uma relação entre texto (discurso) e prática social mediada pela
prática discursiva, que concentra processos sociocognitivos de produção, distribuição e
consumo do texto, além “de processos sociais relacionados à ambientes econômicos, políticos
e instituições particulares” (RESENDE, 2011, p. 28).
Entende-se dessa maneira que a ACD estuda as práticas discursivas mediadoras entre texto e
prática social, apontando sua significação e como ela pode promover a mudança social ou ser
utilizada como um instrumento de poder, “por parte de quem, em que instância social e em
que período histórico” (MELO, 2009). Assim, é possível apontar o modo como o abuso do
poder, a dominação e a desigualdade são representados, reproduzidos e combatidos por textos
orais e escritos no contexto social e político.
Por esta razão, o que se constata é que “a maioria da população é incapaz de aceder aos
conhecimentos científicos, que exigem um alto nível cognitivo” (GIL-PEREZ & VILCHES,
2001-2004, apud CACHAPUZ, 2005, p.29), o que dificulta o entendimento das relações entre
ciência e sociedade, impedindo esses indivíduos de tomarem decisões em defesa de uma
melhoria na qualidade de vida e na defesa de valores que construa uma sociedade mais justa e
igualitária. Isso comprova que a “educação é uma maneira política de manter ou de modificar
a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo”
(FOUCAULT, 2010), seja dando acesso aos discursos privilegiados ou omitindo-os.
Para que educação possibilite o acesso ao discurso científico é necessário que o educador
reveja sua prática pedagógica. Pois o que se percebe é que o discurso circulante nas aulas de
ciências está mais relacionado ao tempo de escolarização e de formação dos educadores do
que com os decorrentes das pesquisas na área de Ciências Naturais e na área de Didática das
Ciências, produzidas durante o início do século XXI (HEWSON e HEWSON, 1987;
TRIVELATO, 1993; ADAMS e KROCKOVER, 1997; BEACH e PERSON, 1998 e
HEWSON et al, 1999 apud CARVALHO, 2004).
Os estudos em análise crítica do discurso vêm mostrando que a relação entre discurso e a
sociedade tem uma função relevante na forma como cada grupo social se organiza. Por esse
5366
motivo Fairclough (2001) afirma que a natureza do discurso é dialética, tanto constituem
quanto refletem a realidade social. Sendo assim, pode-se afirmar que uma sociedade é produto
das práticas discursivas que nela circula e ao mesmo tempo ela é produtora dessas práticas. Se
os estudos apontam que a maioria da população é incapaz de ascender ao discurso científico é
porque precisa haver uma dialética de outra ordem que não a da relação entre a ciência,
sociedade e educação.
Percebe-se então a importância dalinguagem científica se fazer presente em sala de aula seja
compreendida como uma prática social, historicamente construída por homens e mulheres,
passível de mudanças, de controle dos limites e finalidades do conhecimentocientífico, ou
seja, ela não se constrói de forma neutra, visto que se encontra atrelada aodiscurso
estruturador da sociedade vigente (CARVALHO, 2004).
METOLODOLOGIA
A pesquisafoi do tipo qualitativa (estudo de caso), pois oferece meios de descrever os dados
que configuram um processo de ensino-aprendizagem, mas não pretende generalizar,
contando com a participação de trinta e quatro (34) estudantes.
CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS SOCIAIS:
Educandos e educandasdo Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco, que
fazem a disciplina de Pesquisa e Prática Pedagógica V,comcarga horária de cento e cinquenta
(150) horas aulas, sendo sessenta horas (60) horasdestinadaa formação docente
nauniversidade e noventas (90) horasdedicadas aoestágio no espaço escolar.
CARACTERIZAÇÃO DA PRÁTICA
Trata-se de uma disciplina ministrada de forma interdisciplinar por três educadoras deárea
específicas (Matemática, Geografias e Ciência), cujas intervenções pedagógicas são
planejadas e vivenciadas de maneira compartilhada. Durante a formação docente acontecem
oficinas, momento que cada professora possui para intervir de forma mais específica em sua
área. Nesses momentos amplia-se a discussão no sentido de aprofundar a reflexão sobre o
Ensino de Ciências, a partir de questões levantadas por parte de pesquisadores nesta área,
5367
cujas respostas se mantêm abertas, e carecem ser colocadas, pois se trata de uma estratégia
que permite refletir sobre compromisso científico e social desta prática na escola.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para analisar a compreensão de professores e professoras sobre a noção de “raça”, foi
realizada uma oficina para fomentar a Educação das Relações Étnico-Raciais no Ensino de
Ciências:
? Contextualização do contexto social e educacional;
? Aplicação de uma situação-problema;
? Desenvolvimento de uma ação docente quanto à importância da História das Ciências
para (des) construção deestereótipos e preconceito ao povo negro
Por fim,o corpus que caracteriza o discurso utilizado para abordar o conceito de “raça” nas
aulas de ciências, apresentado na dimensão de Resultados e Discussão possa se constituir
como elementos de contribuiçãopara a desconstrução da visão etnocêntrica presente no
imaginário social das pessoas, inclusive entre os futuros professores e professoras.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A oficina, da qual este trabalho discute contribuições do Ensino de Ciências para a
desconstrução de estereótipos e preconceitos ao povo negro, ocorreu durante o mês de abril do
ano em curso, intitulada “O ensino de ensino de ciênciasnuma perspectiva dedesconstrução de
estereótipos e preconceito ao povo negro”. Iniciou-se problematizando o que ensinarnas aulas
de ciências, pois a escolha datemáticaprecisa proporcionar o entendimento de algo do mundo
visto que os conteúdos escolares necessitam ser socialmente contextualizado.
Estratégias deste tipo possibilita a compreensão da relevância da abordagem da temática.
Nesta oficina, aapresentaçãoLeinº 11.645, de 11de março de 2008, quealterou a Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003,
estabelecendo a obrigatoriedade no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da
temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” e a distribuição do mapa da
violência no Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPE), divulgada em 2013, na qual aponta os dez estados mais violentos para
5368
pessoas negras e homossexuais, serviram como instrumentos que fundamenta a importânciade
se trabalhar nas aulas de Ciências questões relacionadas a temática.
Assim, o Ensino de História de História e Cultura Afro-brasileiras e Africanas, da constatação
da discriminação por cor, gênero e orientação sexual no Brasil,emboraestas temáticas
sejamtrabalhadas pedagogicamente pelas Áreas de Ciências Sociais, o Ensino de Ciências tem
muito a contribuir, a própria Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais,
instituída pela resolução CNE/CP 3/2004, sinaliza essa contribuição.
Para isso, um dos caminhos a perseguir é o desenvolvimento de abordagem investigativa,
recorrendo a História da Ciência entendida por Chassot (2011) como prática de ação
fomentadora da criticidade. No entanto, o uso desta se torna bastante potencializadora quando
se problematiza para o que ensinar de Ciências e como ensinar Ciências a partir de uma
resolução-problema. Compreendendo a ação docente nesta perspectiva a coleta docorpus de
análise foi obtida com base numa situação deste tipo.
Situação-Problema
ALei nº 10.639/2003 instituindo a obrigatoriedade do Ensino de História da África e da Cultura Afrobrasileira
possibilitou o Conselho Nacional de Educação a aprovar o parecer que propõe as Diretrizes
Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais, em 2004. As “Orientações e Ações para a
Educação das Relações Étnico-Raciais”, contendo sugestões de ações pedagógicaspara o Ensino
Superior e Educação Básica e destacando que os conteúdos da área de ciências poderão ser fortes
aliadosao combate de posturas etnocêntricas, foi publicado em 2010. Nesse caso,comovocê pode
abordar o conteúdo “raça” nas aulas de Ciências numa perspectiva de desconstruirestereótipos e
preconceitoatribuídos ao povo negro?
Quadro01– Situação-problema proposta à resolução
Omodelo de organização do ensino a partir da noção de situação-problema coloca os
educandos frente a uma tarefa, que seja capaz de mobilizá-los, permitindo que eles realizem
aprendizagens precisas, recorrendo ao seu sistema cognitivo Essa forma de organizar permite
que os interesses dos alunos sejam mobilizados, pois (MEIRIEU, op. cit, p.168):
? Os discentes são colocados em situação de construção de conhecimentos;
? A estrutura da tarefa permite que todos participem efetuando as operações mentais
solicitadas;
? O raciocínio de cada aluno é considerado;
? Os resultados obtidos são identificados em termos de aquisição pessoal;
5369
? Ocorre um trabalho metacognitivo.
Para que os educandos realizem um trabalho metacognitivo é necessário envolvê-los/as num
processo de reflexão e construção sucessivas, nos quais sejam capazes de interpretarem e
reinterpretarem mentalmente uma situação, recorrendo a aspectos conceituais apreendidos,
enquanto experimentaram situações semelhantes, com as quais se encontram. Para isso, o
ensino precisa conduzi-los à identificação de como suas construções pessoais se sucedem no
campo cognitivo, num determinado momento (COLL et al, 2000).
Essa estratégia de ensino, situação-problema, proposta por Meirieu (1998), corresponde a
momentos de construção de conhecimentos, à medida que educandos, estejam no processo
deescolarização ou deformação, efetuam
operações mentais, elaborando hipóteses
e/ouatitudes, para resolver a situação.
Assim, com base nas hipóteses expressam no discurso dos futuros docentes foram elaboradas
duas categorias deanálise, nomeadas de Determinismo Biológico e Cultural, agregadas por
semelhanças quanto às possíveis formas de prever o evento, a partir de suas visões, dispostas
no gráfico 01 a seguir:
Gráfico 01 – Visão predominante dos/aseducandos/as
No entanto, dos 50% das hipóteses que constitui a categoria de análise Determinismo
Biológico 41% estão comprometidas com o sentido de “raça” na perspectiva biologizante, ou
seja, a noção de “raça” está associada às características físicas e biológicas, no campo do
50% 50%
Como você pode abordar o conteúdo “raça” nas aulas de Ciências numa
perspectiva de desconstruir estereótipos e preconceito atribuídos ao povo
negro?
Determinismo Biológico Determinismo Cultural
5370
pensamento do racismo científico que preponderou entre o século XVIII estendendo-se até a
metade do século XX, uma visão amplamente eurocêntrica.
Apenas 09% destas revelamter entendimento das s transformações sofridas no mundo das
Ciências na segunda metade do século XX e início do século XI. Estes compartilhadas de
ideias semelhantes as que foram incluídas na categoria de análise Determinismo Cultural.
De um modo geral, 59% das hipóteses estão muito próximasdas circulantes entre as Ciências
Sociais/ Humanas e as Biológicas/Biomédicas sobre acondição humana, suas delimitações e
determinações biológicas e culturais. Todavia, 41% destas apontam para uma visão na qual os
conhecimentos científicos representam verdades imutáveis, não se modificando ao longo da
história das Ciências. Sabe-se, portanto que visões deste tipo comprometem tanto a forma de
representar o mundo quanto de agir no e sobre o mundo,pois o desconhecimento deque as
teorias científicas se modificam, em geral pelo acúmulo de evidências avessas
promovemrupturas,além disso, osacontecimentos não ocorrem de forma linear, mas
modificaçõessucessivas.
Outro aspecto importante no discurso do corpus analisado foram os conteúdos escolares
apontados como suporte para a abordagem do conceito de “raça”, sendo essesemsua maioria
das áreas de Ciências Biológicas. Porém, ao tentar explicá-losesses eram comprometidos
pelavisão de conhecimento etnocêntrica, presente também no mundo da ciência. Estas ainda
apresentavam sinais do conhecimento científico produzido durante a revolução francesa,
industrial e o descobrimento dos povos. Período histórico, no qualmuitos conceitos das
Ciências Naturais foram transpostos para Ciências Sociais,sendo usados por ambas para
explicar a sociedade humana. Assim, o saber científico articulado ao fazer pedagógico
permite repensar sobre as realidades que se configuram historicamente, revisitar conceitos,
criando assim possibilidades de acomodá-los às novas realidades. O observe o Gráfico 02.
5371
0
1
2
3
4
5
6
7
Conteúd
Conteúd
Sociais
Gráfico 02 – Conteúdos escolares favoráveis à abordagem do conteúdo de “raça” nas aulas de Ciências
Percebe-se então o quanto o Ensino de Ciências tem a contribuir na desconstruçãode
estereótipos e preconceitos contra o povo negro, em particular a utilização da História das
Ciências,proposto tanto no corpus analisado quanto na ação docente durante a oficina.
Pesquisas têm apontando que a utilização da História da Ciência favorece a compreensão
dasrelações entre o processo de produção de conhecimento na Ciência e contexto social,
político, econômico e cultural, na qual ela encontra-se vinculada, podendo ser abordado como
conteúdo de ensino e si mesma ou como fonte inspiradora para a definição de conteúdos e
para a proposiçãode estratégias de ensino (NARDI, 2002).
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES
Considera-se então que o Ensino de Ciências pode contribuir na desconstrução de estereótipos
e preconceitos contra o povo negro. Ação docente analisada sinaliza ferramentas de ensino,
entre as quais o uso direto e indireto História da Ciência. Por isso, a relevância de envolver
futuros docentes em vivências pedagógicas centradas na discussão em torno da construção das
ideias científicas com base na época sócio- histórica e cultural, no foram elaboradas. Desse
modo, estabelece condições para a compreensão do discurso científico como passível de
5372
reformulação,substituição ou até mesmo abolição das ideias que o constitui, dando margem
para um ensino comprometido com a igualdade de direitosde todos/as cidadãs e cidadãos.
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BARROS, J. D’ A. A Construção Social da Cor: diferença e desigualdade na formação da
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BRASIL, Orientações de Ações para a Educação das Relações Étnico-raciais. Brasília:
CECAD, 2010
CACHAPUZ, A. F.; CARVALHO, A.PERÉZ. G. (Orgs). O Ensino das Ciências como
compromisso científico e social: os caminhos que percorremos. São Paulo: Cortez, 2012.
CARVALHO, A. M. P (Org.). Ensino de Ciências: Unindo a Pesquisa e a Prática. São Paulo:
Pioneira Thomson Learming, 2004;
DIJK. T. V. Discurso e Poder. (Org.). Judith Hoffnagel, Karina Falcone, 2ed. São Paulo:
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FAIRCLOUGH, N Discurso e Mudança Social.Coordenadora da Tradução: Izabel
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FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Trad.: Laura Fraga de Almeida Sampaio, 20° ed.,
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MEIRIEU, P. Aprender... sim, mas como. Trad: VaniseDresch, 7ª ed., Porto Alegre: Artes
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MUNANGA, K.Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e
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NARDI, R.(org) Questões atuais no Ensino de Ciências. São Paulo: Escrituras Editora,
1998.
5373

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