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administração escolar

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PARO, Vitor Henrique. Administração escolar introdução crítica. São 
Paulo, Cortez Editora, 1987,175p. 
Vitor Henrique Paro, no seu trabalho sobre "Administração Escolar: Intro-
dução Crítica", estuda as múltiplas determinações econômicas e sociais 
da administração e examina as possibilidades de uma práxis escolar 
voltada para a transformação social. 
De forma clara e objetiva, o autor divide o conteúdo de seu livro em qua-
tro capítulos: no primeiro, examina o conceito de administração, fazendo 
abstração dos condicionantes específicos desta ou daquela estrutura so-
cial determinada; no segundo, estuda a administração na sociedade ca-
pitalista, procurando identificar seus principais determinantes sociais e 
econômicos; no terceiro capítulo, procura conceituar a transformação so-
cial, assim como caracterizar o papel que a educação pode desempenhar 
em tal processo. Finalmente, no quarto capítulo, analisa o caráter conser-
vador da teoria e da prática administrativa escolar no Brasil, procurando 
estabelecer alguns pressupostos básicos para uma experiência adminis-
trativa escolar comprometida com a transformação social. 
O autor, inicialmente, aborda o conceito de administração na sua forma 
mais geral e abstrata, fundamentando-se especialmente em Marx, En-
gels, Saviani e outros. Assim, ele considera que a "administração è a uti-
lização racional de recursos, para a realização de fins determinados", 
através do "esforço humano coletivo". Neste aspecto, baseado em Marx, 
o homem deve ser considerado não somente como recurso ou meio, mas 
essencialmente como fim. E considerar o homem como fim, implica tê-
lo como sujeito e não como objeto do processo, na busca da realização 
de objetivos. É pela atividade administrativa que o homem aparece como 
sujeito do processo de produção, pois na visão de Marx, os homens ao 
produzirem sua existência social "estabelecem relações determinadas, 
necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção, que 
correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças 
produtivas materiais (...)". Enquanto fenômeno histórico determinado, a 
administração se caracteriza como atividade necessária e exclusiva do 
homem, podendo articular-se tanto com a transformação quanto com a 
conservação social. 
É a partir deste contexto, que Marx e Engels assinalam que a classe do-
minante determina todo o âmbito de uma época histórica, uma vez que 
domina também como produtores de idéias, regulando a produção e dis-
tribuição das idéias de seu tempo. 
Já num segundo momento, Paro examina a gênese e a natureza da ad-
ministração especificamente capitalista em nossa sociedade e sua arti-
culação com os interesses dominantes. Isto porque numa administração 
capitalista a relação entre as pessoas é de "dominação" e as relações 
entre trabalho e capital é de exploração. Nesta relação de trabalho e ca-
pital é que se dá o valor, que Marx define como sendo o trabalho hu-
mano empregado e que produz toda riqueza. O capitalista ao comprar 
a força de trabalho, tem por finalidade valorizar não o trabalho humano, 
mas o seu capital, que é ampliado pela mais-valia ou excedente, de que 
ele se apropria. Melhor explicando, o sistema capitalista separa capital de 
trabalho, cujas relações são de dominação e exploração. 
O autor, analisando mais profundamente o sistema de administração ca-
pitalista, mostra a existência de divisão pormenorizada do trabalho no 
processo de produção, que ê uma característica da indústria capitalista, 
em que a produtividade do trabalho proporcionado pela divisão se faz à 
custa do esforço do trabalho. 
Por isso, Henrique Paro sugere que será preciso pensar a racionalidade 
das ações humanas, colocando como "questão fundamental a busca de 
objetivos, que atendam aos interesses de toda a sociedade e não de gru-
pos privilegiados"; mas, para isto, supõe "uma verdadeira transformação 
na ordem social vigente." 
Na prática administrativa, observa o autor, os chamados estudos de ad-
ministração concentram-se na sociedade capitalista, predominantemente 
nos problemas relacionados ao controle dos trabalhadores, através da 
gerência, que constitui a coordenação desse modo de produção. Por isso, 
ele enfatiza que em todos os campos e em particular na administração, 
devem ser aproveitados os desenvolvimentos da ciência e da técnica, no 
sentido de impulsionar o processo de mudança, para a conquista de uma 
nova sociedade democrática, cuja prioridade seja o homem. 
Em outro enfoque sobre transformação social e administração, o autor 
analisa a escola, enquanto instituição que pode contribuir para a trans-
formação social, pois esta transformação não deve ser uma mera esca-
moteação de antagonismo, mas a eliminação de suas causas, ou seja, a 
superação da sociedade de classes. Assim, o papel da educação esco-
lar, nesse processo de transformação social, está baseada segundo 
Gramsci (1978), em duas instâncias:a sociedade política (com função de 
coerção) e a sociedade civil (com função de persuasão). Para melhor 
explicitar este aspecto, o autor se baseia em Saviani, que afirma que en-
quanto a sociedade política se fundamenta na coerção, constituindo uma 
relação de dominação, a educação escolar se fundamenta na persua-
são. Ele entende, ainda, que a educação se revela como elemento de 
transformação social, na medida em que ela, pelo seu caráter pedagógi-
co, se posiciona em favor da classe trabalhadora e pela apropriação do 
saber historicamente acumulado, bem como o desenvolvimento de uma 
consciência crítica da realidade. 
Por outro ângulo, Henrique Paro, examina exaustivamente o caráter con-
servador da administração escolar vigente, verificando que de modo ge-
ral, os trabalhos teóricos publicados no Brasil, adotam implícita ou expli-
citamente, o pressuposto básico de que na escola, devem ser aplicados 
os mesmos princípios adotados na empresa capitalista. E se a escola é 
entendida desta forma, logicamente, ela se colocará ao lado dos interes-
ses do capital, que segundo Marx "domina tudo", não só na estrutura 
econômica, como também em todo o conjunto da sociedade. 
No tocante à administração escolar, especificamente, observa o autor 
que esta tem-se caracterizado pelo conservadorismo, tanto na teoria co-
mo na prática, por faltar uma vinculação orgânica entre a utilização dos 
recursos da escola e uma racionalidade externa que signifique sua ar 
ticulação com as classes trabalhadoras. 
Segundo o autor, a aplicação da administração capitalista na escola não 
deu certo, como se pode constatar pela divisão tecnicista, que leva à bu-
rocratização das atividades e em nada contribui para sua finalidade edu-
cativa. Pelo contrário, esse processo conduz ao esvaziamento de seus 
conteúdos, comprometendo a qualidade do ensino. 
Por outro lado, Paro mostra, ainda, a função de gerência como controle 
do trabalho na escola, que está presente nos manuais de Administração 
Escolar, em especial aos de procedência norte-americana. Nesta gerên-
cia de modelo capitalista, há uma especial repercussão na figura do dire-
tor de escola, que assume dupla função: como educador e como geren-
te. Quanto a este aspecto, ele observa que os órgãos de direção, como 
de praxe, bombardeiam a unidade escolar com grande número de leis, 
pareceres, resoluções, portarias, regulamentos etc, assoberbando as 
atividades do diretor, que se vê ocupado, sobretudo, em atender formali-
dades burocráticas, sobrando-lhe pouco tempo para dedicar-se às ativi-
dades pedagógicas da escola, na função de educador. 
O autor estuda, ainda, o processo de produção pedagógica na escola, 
mostrando que, enquanto a empresa capitalista alcança com eficiência 
seu objetivo último de realizar a mais-valia, a escola, pela sua ineficiência 
na busca de seus objetivos educacionais, acaba por se colocar contra os 
interesses da sociedade, na medida em que mantêmapenas na aparên-
cia sua função específica de distribuir a todos o saber historicamente 
acumulado. 
É na escola particular, esclarece Paro, que se identificam melhor os 
elementos de produção capitalista, na medida em que o ensino do profes-
sor toma-se um autêntico "trabalho produtivo", pois segundo Marx é "o 
trabalho assalariado que, buscando a parte variável do capital, ainda pro-
duz mais-valia para o capitalista", ou seja, o patrão que faz da escola um 
comércio lucrativo de sua empresa cultural. 
Finalmente, o autor estuda os pressupostos básicos de uma administra-
ção escolar comprometida com a transformação social, analisando deta-
lhadamente os seguintes pontos: 1) a questão da especificidade da 
administração escolar - quando a escola consegue levar às massas 
trabalhadoras a se apropriarem do saber e a desenvolverem a consciên-
cia crítica da realidade, objetivando uma educação libertadora; 2) admi-
nistração escolar e realidade social - no sentido em que aquilo que ele 
realiza tenha repercussão na vida do todo social; 3) a racionalidade in-
terna na escola - no sentido de que não basta o caráter transformador 
dos objetivos, mas que eles sejam perseguidos e realizados de modo 
efetivo; 4) administração escolar e participação coletiva - quando esta 
administração se organizar em bases democráticas, tendo como caracte-
rística a participação efetiva; 5) a administração escolar e a considera-
ção das condições concretas - quando todo o esforço para introduzir 
uma nova práxis administrativa, deve-se levar em conta as condições 
concretas onde a escola está inserida, para consecução dos objetivos. 
Com base nestes pressupostos, o autor tece algumas considerações fi-
nais, esclarecendo que num processo de mudança, deve-se criar um 
clima amistoso e propício à prática da administração escolar, através de 
uma consciência crítica dos trabalhadores da educação, em busca da 
eliminação da dominação e das desigualdades sociais. 
Samuel Aureliano da Silva 
Em Aberto, Brasília, ano 6, n. 36, out/dez. 1987

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