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O desafio de ler e compreender em
todas as disciplinas
Levar os alunos a entender tudo o que lêem exige explorar diferentes
gêneros e procedimentos de estudo. Para ser bem-sucedido na
tarefa, é necessário o envolvimento dos professores de todas as
disciplinas
Rodrigo Ratier
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No Brasil, um em cada dez brasileiros com 15 anos ou mais não sabe ler e escrever. Uma
vergonha que encobre outras realidades não tão evidentes, mas igualmente dramáticas. Como o
fato de que dois terços da população entre 15 e 64 anos é incapaz de entender textos longos,
localizar informações específicas, sintetizar a ideia principal ou comparar dois escritos. O
problema não é reflexo apenas de baixa escolarização: segundo dados do Instituto Paulo
Montenegro, ligado ao Ibope, mesmo considerando a faixa de pessoas que cursaram de 5ª a 8ª
série, apenas um quarto delas é plenamente alfabetizado. A conclusão é que, na escola, os
alunos aprendem a ler - mas não compreendem o que leem. 
É preciso virar esse jogo. Num mundo como o atual, em que os textos estão por toda a parte,
entender o que se lê é uma necessidade para poder participar plenamente da vida social.
Professores como você têm um papel fundamental nessa tarefa (leia o infográfico abaixo).
Independentemente de seu campo de atuação, você pode ajudar os alunos a ler e compreender
diferentes tipos de texto, incentivando-os a explorar cada um deles. Pode ensiná-los a fazer
anotações, resumos, comentários, facilitando a tarefa da interpretação. Pode, enfim,
encaminhá-los para a escrita, enriquecida pelos conhecimentos adquiridos na exploração de
livros, revistas, jornais, filmes, obras de arte e manifestações culturais e esportivas.
O primeiro passo é firmar um compromisso: ensinar a ler é tarefa de todas as disciplinas, não
apenas de Língua Portuguesa. É essa ideia que norteia esta edição especial de NOVA
ESCOLA. Em todas as áreas, há aproximações possíveis com o tema. "Um professor de
História deve ensinar que muitos textos da área têm uma estrutura cronológica e que é
necessário identificá-la para entender a informação. O de Ciências precisa discutir como ler as
instruções de experiências e ensinar a produzir relatórios, e o de Matemática, a interpretar
problemas. A alfabetização plena requer que os estudantes saibam compreender e produzir
textos específicos das disciplinas", explica a pesquisadora espanhola Isabel Solé, uma das
maiores autoridades do mundo quando o assunto é leitura (leia a entrevista).
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Foto: Paulo Vitale
UM GRANDE ENCONTRO
No diálogo entre o estudante e o texto, o professor tem
um papel importante para criar condições de
interpretação
O aluno
Leitor Ativo Toda criança é um leitor que realiza um
esforço cognitivo para processar e atribuir significado
ao que está escrito. Com isso, interpreta.
Conhecimentos prévios Tudo o que um estudante sabe antes de ler compõe os
chamados esquemas de pensamento, que influenciam o que ele compreende.
O professor
Contexto de produção Quem é o autor? Em que época escreveu? Quais suas possíveis
intenções? Cabe ao professor ajudar cada aluno a enxergar esses aspectos.
Contexto de leitura Para que lemos um texto? Estabelecer um objetivo claro
(considerando o que a turma já sabe) é fundamental para dar sentido à tarefa.
O texto
Forma Por possuir estruturas diferentes, cada gênero desperta expectativas distintas.
Explorar suas características oferece pistas para antecipar a interpretação.
Conteúdo Para motivar, o tema deve estar ligado aos interesses de quem lê. E o
professor de cada disciplina tem de direcionar o olhar da turma para aspectos
específicos de sua área.
 Leitura e procedimentos de estudos em todas as disciplinas
Ensinar estratégias que os leitores experientes usam
Antes de começar, vale a pena refletir um pouco sobre a tarefa à sua frente. Você já se
perguntou o que significa ensinar alguém a ler? Mais que isso: o que é ler? Um passeio pela
origem da palavra ajuda a esclarecer. Do latim lego, "ler" significa, entre outras coisas,
"colher" e "roubar". O primeiro termo aponta para um tipo de leitura em que o sentido do texto
já está pronto, totalmente determinado. Ao leitor, caberia só captar - colher - o que o autor quis
dizer. A essa concepção, dominante até pelo menos os anos 1970, contrapõe-se a indicada pelo
segundo termo. "Roubar", no caso, equivale a dizer que o autor deixa de ser dono absoluto do
que escreve: com base no que lê e em seus saberes prévios, o leitor também constrói sentidos. 
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Por essa perspectiva, os textos nunca dizem tudo: para se completarem, dependem da
interpretação de quem os lê. Essa ideia, presente na maioria dos estudos mais recentes sobre o
tema, não significa que o leitor seja livre para atribuir todos os sentidos que quiser. É aqui que
entra o ensino: cabe ao professor fornecer indícios para a compreensão - algo essencial, ainda
mais considerando que os estudantes são, em sua maioria, leitores em formação.
"Progressivamente, cada um estabelece um diálogo próprio com o texto - e a leitura se torna
autônoma", afirma Claudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. 
Encaminhar a turma para entender o que lê inclui ensinar uma série de estratégias de que o
leitor experiente lança mão inconscientemente quando se depara com um texto. Uma das mais
essenciais diz respeito aos objetivos de leitura: por que estou lendo isso? A resposta a essa
questão influi muito na maneira como o faz: se é por prazer, pode ler na cama, pular as partes
chatas e até desistir. Se a intenção é estudar as ideias do autor, provavelmente terá um lápis à
mão e, compenetrado, registrará os conceitos mais importantes. Agora, se quer encontrar,
digamos, uma estatística importante, basta passar os olhos, localizar o número, anotá-lo em
algum lugar e fechar o livro. 
Também é comum explorar o texto antes de ler. No caso de um livro, vale passear pela capa,
explorar a biografia do autor na orelha e dar uma olhada no índice. No jornal, títulos, subtítulos
e fotos captam a atenção. Ao mesmo tempo, cada um compara o que está escrito com seus
conhecimentos (o que sei sobre o conteúdo do texto?) e se indaga: o que espero encontrar
aqui? 
No momento da leitura, todo leitor confirma ou retifica suas expectativas sobre o que imaginou
encontrar. Também se interroga continuamente para saber se entende o que lê (qual a ideia
fundamental do texto? Captei os argumentos principais?). Nesse processo, talvez abra o
dicionário para procurar o significado de uma palavra desconhecida - ou, se decidir que ela não
é central para sua compreensão, simplesmente segue em frente. No fim, dependendo dos
objetivos (lembra-se deles?), pode escrever uma síntese do que leu ou incorporar trechos para
uma apresentação. Ou, ainda simplesmente acolher outros pontos de vista que também
contribuam para a interpretação.
Estes servem para todos
Dois procedimentos de estudo ajudam a leitura em todas as áreas e devem ser ensinados
por todo o corpo docente
Anotação e sublinhado Antes de sair grifando ou
anotando, cada aluno deve ter claro o motivo da tarefa.
Se a opção é destacar apenas as palavras-chave,
anotações à margem podem comentar o que o termo
escolhido expressa. Já se a intenção é revelar
argumentos, por exemplo, os grifos devem destacar
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COMPLEMENTO Grifos podem destacar
palavras essenciaispara a compreensão. 
Já as anotações desenvolvem, com mais
detalhes, o que o conceito em evidência
significa. Clique para ampliar
SEM CÓPIA Estruturas como a da foto,
com destaque para os blocos
significativos do texto, auxiliam alunos
iniciantes e evitam que os resumos virem 
transcrições. Clique para ampliar
ideias completas. É essencial, ainda, que você oriente a
turma a ler o texto todo antes de anotar (fica mais fácil
perceber o que é relevante) e não grifar trechos
enormes (com tudo destacado, o destaque perde a
função). Além disso, nem todos os parágrafos têm
passagens importantes.
Resumo Ao produzir textos que sintetizem os
originais, uma alternativa é dividir o escrito nos blocos
em que ele se estrutura (num texto opinativo, uma
classificação possível é apresentação do tema,
argumentação, conclusão e possíveis sugestões de
solução). Considerar esses blocos ajuda a evitar o
problema das cópias desenfreadas: você pode propor
uma estrutura de resumo com algumas frases que os
conectem (veja na foto). Conforme a turma avança,
você pode ir suprimindo essas passagens até que a
escrita seja, de fato, autônoma.
 Leitura e procedimentos de estudos em todas as disciplinas
Propósitos, procedimentos, gêneros e sequências
Esta edição pretende mostrar como é possível ajudar a construir essa rota. Com foco na leitura
para aprender - também chamada de leitura de estudo e trabalho, a que mais exige disciplina e
organização -, ela está dividida nas oito disciplinas das séries finais do Ensino Fundamental:
Arte, Ciências, Educação Física, Geografia, História, Língua Estrangeira, Língua Portuguesa e
Matemática. Os exemplos estão ligados a tarefas do 6º ao 9º ano, fase da escolarização básica
em que os textos ganham complexidade e passam a representar um desafio crescente. 
As reportagens estão separadas por disciplina e, dentro de cada uma, há uma divisão em cinco
blocos: a concepção de leitura na área, os gêneros privilegiados (alguns, como imagens,
esportes e obras de arte, não são escritos, mas também é preciso ensinar a lê-los), uma
sequência didática, caminhos para desenvolver habilidades antes, durante e depois do contato
com os textos e procedimentos de estudo - gêneros escritos que funcionam bem para a
recuperação de ideias significativas ou para uma compreensão mais aprofundada. Dois deles -
as anotações e os sublinhados e os resumos -, por serem úteis ao entendimento de quase todos
os tipos de texto, aparecem nesta apresentação. Outros oito surgem nas disciplinas em que são
mais usuais. É um erro partir do pressuposto de que a moçada já sabe sublinhar e fazer
esquemas. É necessário ensinar isso tudo. 
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Para completar, 20 casos reais de professores em escolas de todo o país mostram exemplos de
bons trabalhos em relação à leitura - prova de que levar todos os alunos a compreender o que
leem pode ser difícil, mas é possível. Mudar as estatísticas mostradas no primeiro parágrafo
está ao alcance de todos os professores, de todas as disciplinas. 
Quer saber mais?
CONTATO
Claudio Bazzoni, bazzoni@uol.com.br
BIBLIOGRAFIA
Ler e Escrever: Compromisso de Todas as Áreas, Neiva Otero Schaffer (org.), 232 págs., Ed.
UFRGS, 
tel. (51) 3308-5644 (edição esgotada)
Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed, 
tel. 0800-703-3444, 36 reais 
INTERNET
Em portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Anonimo?Publica_FundII.aspx, os Referenciais de
Expectativas para o Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora no Ciclo II do Ensino
Fundamental. 
 Leitura e procedimentos de estudos em todas as disciplinas
O desafio de ler e compreender em todas as disciplinas
Ensinar estratégias que os leitores experientes usam
Propósitos, procedimentos, gêneros e sequências
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Publicado em , Janeiro 2010,
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