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CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 1 AULA 04 = FATOS JURÍDICOS – 1ª PARTE = Professor Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 2 Temas que serão abordados nesta aula FATOS E ATOS JURÍDICOS (1ª Parte). Fatos Jurídicos. Classificação. Aquisição. Resguardo. Modificação. Extinção de Direitos. Fato Natural. Atos Jurídicos. Conceito. Classificação. Aquisição. Resguardo. Modificação. Extinção de Direitos. Fato Natural. Prescrição. Conceito. Disposições gerais. Efeitos. Causas que impedem, suspendem e interrompem a prescrição. Prazos prescricionais. Decadência. Conceito. Disposições gerais. Espécies de decadência. Efeitos. Prazos decadenciais. Legislação a ser consultada Código Civil: arts. 189 até 211. Sumário Introdução ....................................................................................... 03 Classificação Geral dos Fatos ............................................................ 08 Prescrição e Decadência como Fato Jurídico ..................................... 11 PRESCRIÇÃO .................................................................................... 12 Disposições Gerais ...................................................................... 15 Causas Impeditivas e Suspensivas .............................................. 21 Causas Interruptivas .................................................................. 25 Prazos Prescricionais .................................................................. 28 Ações Imprescritíveis ................................................................. 31 DECADÊNCIA ................................................................................... 33 Espécies de Decadência .............................................................. 35 Prazos Decadenciais ................................................................... 37 Quadro Comparativo: Prescrição e Decadência ................................. 41 Aula 04 Fatos Jurídicos – 1ª Parte Prescrição e Decadência CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 3 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ..................................................... 42 Bibliografia Básica ........................................................................... 46 EXERCÍCIOS COMENTADOS (FCC) .................................................... 46 EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE) ................................................ 74 INTRODUÇÃO Como vimos, uma RELAÇÃO JURÍDICA é formada por três elementos: Elemento Subjetivo: são as pessoas envolvidas; os sujeitos de direito e suas relações. O sujeito ativo é o titular do direito oriundo da relação. O sujeito passivo é aquele sobre o qual recai um dever decorrente da obrigação assumida pela relação e que deve respeitar o direito do sujeito ativo. Elemento Objetivo: é o objeto do direito; o bem jurídico pretendido pelo sujeito ativo. Divide-se em objeto imediato, que é a prestação (a obrigação de dar, fazer ou não fazer) e objeto mediato (o bem em si: móvel ou imóvel, divisível ou indivisivel, fungível ou infungível, etc.). Elemento Imaterial: é o vínculo que se estabelece entre os sujeitos e os bens. Este é o FATO JURÍDICO. É o fato propulsor idôneo à produção de consequências jurídicas. Será o ponto desta e da próxima aula. Vejamos. Toda relação jurídica possui um ciclo vital: nasce, se desenvolve, pode ser conservada, modificada ou transferida e se extingue. Há sempre um fato que antecede o surgimento de um direito subjetivo. FATO, portanto, é uma ocorrência, um evento, um acontecimento. O tema “Fatos, Atos e Negócios Jurídicos” deve ser visto bem devagar. Por isso, o desmembramos em duas aulas. Esta primeira é introdutória. Costumo fazer isso também nas aulas presenciais. Primeiro dou essa parte teórica. Os alunos, de uma forma geral, não gostam muito dessa primeira parte do tema. Mas ela é imprescindível. Por isso vou tentar torná-la mais agradável... Falaremos hoje sobre alguns conceitos, classificações, e, principalmente da prescrição e da decadência. Na realidade este será o ponto central da aula. Depois, na próxima aula, passaremos para uma parte mais dinâmica, onde veremos o Negócio Jurídico e seus elementos constitutivos, além da ineficácia (nulidade e anulabilidade) do Negócio Jurídico. Comecemos, então. Como dissemos, fato é um acontecimento. No entanto, os fatos podem ser classificados. Há fatos que não interessam ao Direito. A doutrina os chama de “fatos comuns, meramente materiais ou ajurídicos”. São os acontecimentos naturais ou as condutas humanas, cuja ocorrência não traz o potencial de CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 4 repercutir na ordem jurídica. Exemplo: quando uma pessoa passeia por um jardim, está praticando um fato comum, que não sofre a incidência do direito. Porém, se essa pessoa que está passeando comprar um saco de pipocas, alugar uma bicicleta ou pisar sobre o gramado, causando danos à vegetação ou mesmo alimentar os animais em um zoológico (condutas consideradas como proibidas), tais fatos passarão a interessar ao direito, causado repercussões. Portanto, para que um acontecimento seja considerado como fato jurídico é necessário que esse acontecimento, de alguma forma, cause algum reflexo no âmbito do Direito. Seja este reflexo lícito ou ilícito. Observem a seguinte classificação: FATO: qualquer ocorrência ou acontecimento. Fato Comum: ação humana ou fato da natureza que não interessa ao Direito (por isso, não será objeto do nosso estudo). Fato Jurídico (em sentido amplo – lato sensu): Fato + Direito. É o fato qualificado pelo Direito. Ou seja, é o acontecimento natural ou humano ao qual o Direito atribui efeitos e relevância jurídica. Ex.: um contrato de locação é um fato jurídico (na verdade ele é mais do que isso; é um negócio jurídico), pois tanto o locador, como o locatário assumem compromissos e ficam vinculados um ao outro. Deste vínculo surgem efeitos, ou seja, reflexos no campo do Direito (direitos e deveres para ambas as partes). Vamos agora conceituar os fatos jurídicos: Acontecimentos previstos em norma de direito, em razão dos quais nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações jurídicas. Para efeito de memorização dos elementos do fato jurídico, costumo usar a expressão A.R.M.E. (Aquisição, Resguardo, Modificação e Extinção) de Direitos. Vejamos: AQUISIÇÃO DE DIREITO É a conjunção (união) dos direitos com seu titular. Ocorre a aquisição de um direito com a incorporação do patrimônio à personalidade do titular. Dessa forma, surge a propriedade quando o bem se subordina a seu titular. Ex.: quando eu acho um livro abandonado (e não perdido) ou quando eu compro um automóvel de um amigo, eu me torno proprietário destes bens; adquiri direitos sobre eles. Os direitos podem ser adquiridos de forma: a) Originária: o direito nasce no momento em que o titular se apossa ou seapropria de um bem de maneira direta, sem a participação de outra pessoa; não há qualquer relação com o titular anterior ou mesmo que tivesse, não há uma transmissão pelo seu titular. Ex.: pescar um peixe em alto-mar, achar uma coisa abandonada, usucapir um terreno, etc. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 5 b) Derivada: ocorre quando há uma transferência ou transmissão do direito de propriedade (sucessão), existindo uma relação jurídica entre o titular anterior (sucedido) e o atual (sucessor). Ex.: quando eu vendo um carro ou uma casa a propriedade do bem passa de uma pessoa para outra, daí ser considerada como derivada; outro exemplo é a aquisição de direitos pelos herdeiros. Lembrando que o direito é adquirido com todas as qualidades e defeitos do título anterior. A aquisição ainda pode ser classificada em: c) Gratuita: quando não há uma contraprestação na aquisição; só o adquirente aufere vantagem. Ex.: pessoa recebe um bem por doação; neste caso não há contraprestação (o mesmo ocorre quando se recebe uma herança). d) Onerosa: quando há uma contraprestação na aquisição; há benefícios recíprocos. Ex.: pessoa adquire o bem por meio de uma compra se por um lado a pessoa recebeu o bem, por outro lado ela teve que parar por ele, havendo uma contraprestação na aquisição (o mesmo ocorre na troca e na locação). RESGUARDO DE DIREITOS (proteção, conservação ou defesa) São atos praticados pela pessoa que servem para proteger os seus direitos. Ou seja, o titular de um direito deve praticar atos conservatórios preventivos (garantindo seu direito contra eventual e futura violação) ou repressivos (são os que visam restaurar eventual direito violado). Costuma-se dizer que não pode haver direito subjetivo sem a correspondente proteção. Exemplo: Direito de Retenção. Uma pessoa possui uma casa (o bem não é dela, mas ela está na posse de boa-fé, ou seja, acredita que a casa seja sua). Esse possuidor realiza benfeitorias necessárias (conserto dos alicerces ou do telhado) ou úteis (construção de garagem). Posteriormente o real proprietário move uma ação contra o possuidor de boa-fé e ganha a ação. O possuidor deve ir embora, sair da casa e devolvê-la. No entanto, como realizou benfeitorias, deve ser indenizado por elas. Se a outra parte não indenizar, o possuidor pode reter o bem (a casa) até que seja indenizada pelas benfeitorias (art. 1.219, CC). Outros exemplos: arresto (que é a apreensão judicial de coisa litigiosa ou de bens para a segurança da dívida; o que se quer é que se assegure o pagamento da dívida); sequestro (que é o depósito judicial da coisa litigiosa para garantia do direito sobre a coisa; o que se quer é a preservação da própria coisa); protesto, etc. A defesa pode ser: a) Extrajudicial: são hipóteses de defesa de direitos sem ser necessário ingressar em juízo. Ex.: quando se estabelece uma cláusula penal (multa) em um contrato o que se quer na verdade é estabelecer uma garantia para o cumprimento deste contrato. Outros exemplos: o sinal (também chamado de arras) que é um adiantamento da quantia que será paga também para garantir o cumprimento da CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 6 obrigação; a fiança, que serve para garantir o pagamento da dívida (se o devedor principal não pagar a dívida, o credor poderá acionar o fiador), etc. b) Judicial: são as ações judiciais para proteção de direitos. Recorre-se à autoridade judicial competente para restabelecer um direito já violado ou para proteger um direito ameaçado. Lembrando que para a propositura de uma ação judicial é necessário ter um interesse legítimo (econômico ou moral). Ex.: Mandado de Segurança (que visa proteger um direito líquido e certo); Interdito Proibitório (que é uma ação possessória, que visa proteger uma pessoa de eventuais ameaças a sua posse), etc. Lembrem-se do brocardo: “A todo DIREITO corresponde uma AÇÃO que o assegura”. Se houver ameaça ou violação a um direito subjetivo, este será protegido por meio de uma ação judicial (art. 5°, XXXV, CF/88 “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito”). Imaginem o seguinte exemplo: sabemos que “todo cidadão tem o direito de ir, vir e permanecer”. Esse é um Direito que temos; dizemos que este é um direito material. Agora... e se uma autoridade policial diz que você está preso em flagrante, sem ter um motivo plausível para esta prisão? É o famoso “teje preso”. O que você faria?? Com certeza você entraria com um Habeas Corpus!!! Ora, o Habeas Corpus é uma Ação. Assim, nós temos um Direito (no caso o direito de locomoção, de ir, vir e permanecer)! Violado este Direito, surge a Ação (no caso o Habeas Corpus)! Prevê o art. 5°, LXVIII, CF/88: “conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. O mesmo pode ocorrer com uma propriedade. Eu comprei um sítio. Paguei por ele. Tenho a escritura e o registro. Portanto é meu, eu tenho direito de propriedade. Mas alguém invadiu a minha propriedade. O que eu posso fazer? Com certeza entrarei com uma ação... no caso Ação Reivindicatória. Portanto, voltando e reforçando a ideia... “a todo direito corresponde uma ação”. AÇÃO é o meio que o titular do direito dispõe para obter a atuação do Poder Judiciário, no sentido de solucionar litígios relativos a interesses jurídicos (art. 17, CPC/2015 “Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade” – neste sentido a Súmula 409 do Supremo Tribunal Federal). Sabemos que no Brasil nós não podemos fazer “justiça pelas próprias mãos”, sob pena até de cometermos um crime (exercício arbitrário das próprias razões – art. 345, Código Penal). Se uma pessoa me deve seis meses de aluguel eu não posso ir até sua casa, lhe dar uns ‘tabefes’ e exigir o pagamento devido ou simplesmente colocá-la no ‘olho da rua’. Não! O correto é ingressar com uma ação de despejo por falta de pagamento e requerer também o pagamento dos aluguéis atrasados. No entanto, admite-se, excepcionalmente, a autodefesa ou CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 7 autotutela de um direito, como no caso da legítima defesa da posse (art. 1.210, §1°, CC), do penhor legal, etc. MODIFICAÇAO DE DIREITOS (transformação) Os direitos podem sofrer modificações relativas ao seu conteúdo (objeto) ou a seus titulares (pessoas), sem que haja alteração em sua substância. A modificação do direito pode: a) Objetiva: diz respeito ao conteúdo ou objeto da relação jurídica. Pode ser qualitativa, quando um direito se converte em outra espécie (o credor de uma saca de feijão aceita o equivalente em dinheiro; uma pessoa está devendo uma quantia em dinheiro e o credor aceita um terreno em substituição) ou quantitativa, quando diz respeito ao volume do objeto. b) Subjetiva: substituição da titularidade do direito, ou seja, de uma das pessoas (sujeito ativo ou passivo) envolvidas na obrigação, podendo ser inter vivos (contrato) ou causa mortis. Ex.: testamento – morrendo o titular de um direito este se transmite aos seus sucessores. Outros exemplos: desapropriação, venda de um bem, etc. Alguns autores afirmam que a transmissão dos direitosseria um quinto elemento do Fato Jurídico. Obs.: há direitos que não comportam modificação no sujeito por serem personalíssimos (também chamados de intuitu personae). EXTINÇÃO DE DIREITOS quando sobrevém uma causa que elimina os seus elementos essenciais. Notem que o perecimento deve ser total. Se for parcial, o direito persiste sobre o remanescente desta parte. Se a extinção puder ser atribuída a alguém, este será o responsável pelos prejuízos, devendo ressarci-los. Vejamos os principais exemplos de extinção dos direitos (entre outros): Perecimento do objeto (ex.: anel que cai em um rio profundo e é levado pela correnteza) ou perda das qualidades essenciais do objeto (ex.: campo de plantação que é invadido pelo mar). Renúncia: quando o titular de um direito, dele se despoja, sem transferi-lo a quem quer que seja; ele abre mão de um direito que teria (ex.: renúncia à herança). Abandono (ou derrelição): intenção do titular de se desfazer da coisa não querendo ser mais seu dono (ex.: jogar um par de sapatos velho no lixo). Alienação: que é o ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, de forma onerosa (compra e venda) ou gratuita (doação). Falecimento do titular, sendo direito personalíssimo, e por isso, intransferível. Confusão: numa só pessoa se reúnem as qualidades de credor e devedor. Prescrição ou Decadência: será o tema desta aula de forma pormenorizada. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 8 Bem... com isso encerramos esta parte introdutória sobre os elementos do fato jurídico. Vejamos agora a CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS FATOS JURÍDICOS. O quadro abaixo nos dará uma visão geral sobre o tema. CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS FATOS A) FATO COMUM Acontecimento sem repercussão no Direito. B) FATO JURÍDICO Acontecimento natural ou humano ao qual o Direito atribui efeitos (A.R.M.E.). Fato + Direito. Também chamado de Fato Jurídico em Sentido Amplo. I. FATO JURÍDICO NATURAL (Fato Jurídico em Sentido Estrito ou Stricto Sensu) é o acontecimento natural (independe da vontade do sujeito de direito), mas que decorrem efeitos. Divide-se: 1. Ordinários: são os que normalmente podem acontecer (previsíveis): nascimento, morte (por causas naturais), implemento de certa idade (16, 18, 21, 35, 70 anos), aluvião (art. 1.250, CC), avulsão (art. 1.251, CC), decurso de tempo (como a prescrição, a decadência, a usucapião), etc. Todos estes fatos produzem efeitos jurídicos relevantes. 2. Extraordinários: são os que ocorrem de forma inesperada (imprevisíveis). Exemplos clássicos: “caso fortuito” ou “força maior”. Têm importância ao direito por excluírem, como regra, a responsabilidade: destruição de bens móveis e imóveis em virtude de uma tempestade, desabamento de prédios em virtude de um terremoto, incêndio de uma fábrica em razão de um raio, naufrágio de um navio em virtude de um maremoto, tsunami, etc. II. FATO JURÍDICO HUMANO (ou simplesmente ATO) é o acontecimento que conta com a participação humana. Abrange tanto os atos lícitos como os ilícitos. Veremos este tema na próxima aula, de forma mais detalhada. Por enquanto, é importante que se saiba: 1) ATO LÍCITO também chamado de ato jurídico em sentido amplo (lato sensu) ou ato jurídico voluntário, previsto no art. 185, CC) praticado em conformidade com a ordem jurídica: a) ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO (stricto sensu): há a participação humana, voluntária, consciente e lícita. No entanto, os efeitos são impostos pela lei e não pela vontade das partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. Não há liberdade de escolha nos efeitos jurídicos produzidos, pois estes são automaticamente CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 9 conferidos pela lei. Também é chamado de “ato não-negocial”. Assim, a vontade é importante formação do ato, mas não quanto à produção dos efeitos deste ato, uma vez que decorrem da lei. Exemplos mais comuns: reconhecimento de filho, fixação de domicílio, emancipação voluntária feita pelos pais, abandono (derrelição), ocupação, percepção de frutos de uma árvore, confissão, atos de comunicação processual, como a notificação, etc. b) NEGÓCIO JURÍDICO: há um comportamento humano e os efeitos desse comportamento são ditados pela própria manifestação de vontade; os efeitos são desejados pelas partes. Há, portanto, autonomia privada; autorregulação de interesses particulares, em maior ou menor grau. As partes podem definir os efeitos que vão ocorrer em função da conduta praticada. Exemplos mais comuns: contratos e testamentos. 2) ATO ILÍCITO (ou involuntário): é o praticado em desacordo com a ordem jurídica (arts. 186 e 187, CC). Na realidade, muitas vezes a conduta é voluntária e consciente, havendo a transgressão a um dever jurídico. No entanto, a doutrina costuma chamar esses atos de involuntários porque os efeitos da sua prática é que são involuntários (ou seja, impostos pela lei). A consequência da prática do ato ilícito é o surgimento do dever de reparar o dano causado. Ao invés de criarem um direito, criam deveres e obrigações. Reforçando: quando se fala em fato jurídico involuntário, não é a conduta que é involuntária, mas sim os efeitos decorrentes dessa conduta. O ato ilícito pode atuar nas seguintes áreas do Direito: a) Penal: violação de um dever tipificado como crime, pressupondo um prejuízo causado à sociedade; desrespeitado, compromete-se a ordem social (norma de ordem pública); a sanção é pessoal, ou seja, é a pessoa do infrator imputável que irá responder pela conduta (não se transmite a responsabilidade a terceiros). b) Administrativo: violação de um dever que se tem para com a administração; a sanção também é pessoal. c) Civil: violação de um dever contratual ou legal, pressupondo um dano a terceiro; a sanção é patrimonial, ou seja, atinge o patrimônio do lesante (como regra). Costuma-se dizer que enquanto o ato lícito é fonte de direito, o ato ilícito é fonte de responsabilidade (obrigações). Observações 01) Parte da doutrina considera que o ato ilícito se enquadra na noção de ato jurídico. Daí alguns editais de concurso estabelecem: “Ato Jurídico: ato lícito CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 10 e ilícito”. Porém a doutrina majoritária discorda. Para ela, se ato jurídico é toda ação humana lícita, o ato ilícito seria reservado para uma categoria própria, não podendo ser enquadrado como ato jurídico. Podemos concluir: o ato ilícito é um fato jurídico (humano), porém não é um ato jurídico. 02) Parte da doutrina também se refere ao “ato-fato jurídico”. Não há previsão dessa categoria no atual Código Civil, ficando tudo no plano doutrinário. Seria uma categoria intermediária entre o ato da natureza e o fato do homem. Ocorre nas situações em que um ser humano pratica uma conduta lícita, sendo que esta gera uma consequência jurídica, ainda que a pessoa não tenha vontade que esse efeito se concretize. Trata-se do evento que, embora oriundo de uma conduta humana, produz efeitos na órbita jurídica, independentemente da vontade de os produzir (não há necessidade da vontade humana para a produção de efeitos). Os exemplos clássicos disso são o de uma criança de 10 anosque compra um doce em uma padaria ou de um louco que pinta um quadro que se torna uma obra de arte (ele se torna proprietário da obra sem ter a intenção para tanto). Em ambos os casos não há uma vontade direcionada à celebração de um contrato de consumo. Feitas essas observações vamos analisar os itens do quadro acima. O primeiro deles é o Fato Jurídico Natural. A doutrina também o chama de fato jurídico em sentido estrito ou fato jurídico stricto sensu. São expressões sinônimas, mas que costumam cair e confundem... Fato Natural é o acontecimento natural (independe da vontade humana) do qual decorrem efeitos jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos. Como vimos, podem ser classificados em: 1. Ordinários São aqueles que normalmente ocorrem; são previsíveis. Pergunto: o que há de mais certo em nossa vida? – A morte! Ela ocorrerá independente de nossa vontade! E trará uma série de consequências jurídicas. Se por um lado a morte extingue a personalidade de uma pessoa, por outro lado cria inúmeros direitos e obrigações para os sucessores do falecido. Portanto a morte é o exemplo clássico de fato natural. Lógico que estou falando da morte por causas naturais (costumo brincar: “a morte morrida”). Pois um homicídio (brincando ainda: “a morte matada”) é crime, e, portanto, ato ilícito. Outros exemplos de fato jurídico natural ordinário: o nascimento (início da personalidade), a maioridade (cessação da incapacidade), o decurso de tempo que juridicamente se apresente sob a forma de prazo (intervalo de dois termos), a usucapião (matéria que pertence ao Direito das Coisas), além da prescrição e da decadência, etc. Estes últimos temas são importantíssimos e serão analisados de forma autônoma, ainda nesta aula. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 11 2. Extraordinários São causas ligadas ao caso fortuito ou à força maior, onde se configura uma imprevisibilidade e inevitabilidade do evento, além da ausência de culpa pelo ocorrido. Não há uma unanimidade dos autores para se conceituar e diferenciar tais institutos. Para alguns, caso fortuito seria um evento da natureza, imprevisível e inevitável (ex.: uma tempestade, um terremoto, um tsunami, etc.). Já força maior é o que decorre de uma atuação humana imprevisível e inevitável interferindo no ato (ex.: uma greve). Para outros o conceito é exatamente o inverso. Para outros ainda, o caso fortuito decorre de uma causa desconhecida (ex.: explosão de uma caldeira em uma usina) e na força maior conhece-se a causa, que é fato da natureza (ex.: raio que provoca um incêndio). Outros autores tratam ambos os termos como sinônimos. Sílvio Venosa assim leciona: “caso fortuito e força maior são situações invencíveis, que refogem às forças humanas, ou às forças do devedor, impedindo e impossibilitando o cumprimento da obrigação”. Geralmente costuma cair nas provas (especialmente em Direito Civil) as expressões “caso fortuito” ou “força maior” e não a situação propriamente dita. E quando cai a situação (ex.: um terremoto), basta o aluno saber classificá-la o fato como “fato jurídico natural (ou fato jurídico em sentido estrito – stricto sensu) extraordinário”. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA COMO FATO JURÍDICO As obrigações jurídicas não são eternas. Se eu empresto determinada quantia em dinheiro a uma pessoa eu não posso ficar cobrando esta dívida a vida inteira. Eu tenho um prazo determinado para exigir o cumprimento da obrigação; se não cobrar dentro deste prazo não poderei mais fazê-lo. Assim, para que haja uma tranquilidade na ordem jurídica, fundada na necessidade de estabilidade social, da certeza do direito e de que as relações jurídicas não se prorrogam indefinidamente, surgiram os institutos da prescrição e da decadência. No entanto, como veremos mais adiante, alguns direitos são imprescritíveis (ex.: direito de reconhecimento de paternidade, direito ao nome, alimentos, etc.). Assim, o decurso do tempo, aliado a inércia do titular do direito, faz com que a situação de afronta ao direito prevaleça sobre o próprio direito. Ex.: o credor de uma dívida em dinheiro, que não recebeu o que lhe é devido, tem o direito de ajuizar uma ação para cobrar esta dívida. Mas se ele deixa de ajuizar a ação cabível, após certo tempo, perde o direito de fazê-lo, consolidando-se uma situação contrária a seus interesses, mas que ocorreu por sua própria culpa; por sua desídia. Há um brocardo em latim, muito conhecido, que diz: dormientibus non succurrit jus (o direito não socorre aos que dormem). O fundamento primordial dessa proteção a situações consolidadas no tempo (ainda que contrárias ao direito de alguém) é a paz social. Assim, impede- CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 12 se que esta paz seja perturbada, a qualquer tempo, por quem se sinta lesado em algum direito. Ora, se o próprio interessado não cuidou de defender seus direitos no tempo estabelecido em lei, vamos interpretar esta conduta como uma “renúncia ao direito”, pois ele aceitou de forma inerte a afronta que lhe foi feita. Não se trata de achar este instituto justo ou injusto. Não é esta a preocupação da lei. O que se busca é uma questão de segurança jurídica, de tranquilidade e paz social. Ninguém se veria seguro em seus direitos, se a qualquer tempo pudesse vê-los na contingência de serem contestados por fatos ocorridos há muito tempo. Elementos comuns da prescrição e decadência. Os dois institutos são causas extintivas decorrentes do não exercício de um direito em determinado prazo. Requisitos: a) inércia do titular do direito; b) decurso de tempo para o exercício desse direito. Atenção Embora o Direito Civil trace as regras gerais sobre prescrição e decadência, este tema é comum a todas as matérias do Direito. O Direito Penal, Administrativo, Tributário, Comercial, Trabalhista... todas elas tratam do assunto. Lógico que cada matéria possui as suas peculiaridades. Vamos dar o enfoque apenas sob a ótica do Direito Civil. Se cair uma questão sobre esse tema, observem bem em sua prova, qual ramo do Direito está sendo abordado. Reforço: o que vamos falar aqui se refere ao Direito Civil (embora muita coisa possa ser aproveitada por outras matérias). Curiosidade (já vi isso cair isto em alguns concursos recentes...) O Código Civil anterior não mencionava a expressão decadência. Para ele tudo era prescrição. Ele possuía um artigo que dizia: “Prescreve... ” e elencava uma série de situações. Era a doutrina que analisando item por item daquela relação dizia o que era prescrição e o que era decadência. Mas mesmo assim, não havia um consenso sobre todos os temas. Resumindo: era uma bagunça... atualmente a matéria está mais fácil. O Código diz exatamente o que é prescrição e o que é decadência. Ele conceitua ambos os institutos. E menciona as situações e os prazos de um e outro caso. Além disso, ainda existem alguns “macetes de concurso” que facilitam a diferenciação. Vou mencioná-los mais adiante. I. PRESCRIÇÃO (arts 189 a 206, CC) DIREITO SUBJETIVO é a faculdade que o ordenamento reconhece a alguém de exigir de outrem determinado comportamento. Representa a estrutura da relação poder-dever, em que o poder de uma das partes corresponde ao dever da outra. A infração deste dever resulta (nas relações jurídicas patrimoniais) um CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 13 dano para o titular do direito subjetivo. Por isso, todo direito subjetivo deve (ou deveria) ser protegido por uma ação. No momento em que este direito é violado surge a possibilidade de se exigir do devedor uma ação ou omissão, que permite a composição do dano ocorrido. A doutrina chama este direito de exigir de pretensão. Pretensão é o bem jurídico que uma pessoa deseja alcançar por meio da via judicial, uma vez que a obrigação não foi satisfeita de forma extrajudicial; ou seja, é o poder de exigir de outrem, coercitivamente, o cumprimento de um dever jurídico. A pretensão é deduzida em juízo por meio de uma ação (que é o instrumento para se exigir a pretensão). Violado um direito nasce para o seu titular a pretensão. A partir daí surge a possibilidade de se fazer valer em juízo este direito violado e também se inicia a contagem do prazo prescricional. Portanto, o prazo prescricional se inicia no momento em que o direito é violado... e morre no último dia do prazo prescricional. Havendo violação ao direito e o titular deste permanecer inerte, a consequência será a perda da pretensão. Não confundir pretensão (possibilidade conferida ao credor de exigir do devedor o cumprimento da prestação) com direito de ação (direito de pedir ao Estado a prestação de sua atividade jurisdicional analisando o caso concreto). O que a prescrição extingue é a pretensão (e não a ação), que surge exatamente quando o direito material subjetivo é violado, porque, nesse momento, pode o sujeito exigir coercitivamente o cumprimento de certo dever jurídico. Já o direito de ação não está sujeito à prescrição, pois qualquer pessoa pode, a qualquer tempo, sentindo necessidade de tutela jurisdicional, recorrer ao Estado em busca de Justiça. DIRETO AO PONTO Prescrição é a perda da pretensão do titular de um direito subjetivo, em virtude de sua inércia durante um prazo determinado previsto em lei. Reforçando: o que caracteriza a prescrição é que ela extingue uma pretensão alegável em juízo por meio de uma ação, mas não o direito propriamente dito. Trata-se de uma sanção aplicada a pessoa que foi negligente, pois não fez valer seu direito no prazo adequado, operando-se tanto em relação às pessoas naturais (físicas), como em relação às jurídicas. Portanto, a prescrição tem por objeto direitos patrimoniais e disponíveis (como exemplo as obrigações), não abrangendo os direitos de personalidade, os relacionados ao estado da pessoa e os direitos de família (que são imprescritíveis, conforme veremos adiante). Assim, a prescrição se por um lado extinguir determinada situação jurídica, por outro lado consolida relações que se prolongaram no tempo sem reclamação. A quem a prescrição favorece? Ao devedor que não pagou seu débito e não foi acionado em tempo oportuno para fazê-lo! CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 14 A quem a prescrição prejudica? Ao credor que ao ter o direito violado, pois o devedor não pagou a dívida, ficou inerte e não o acionou judicialmente dentro do prazo fixado em lei! Requisitos da Prescrição: a) violação de um direito e nascimento da pretensão (possibilidade de se ingressar com uma ação); b) inércia do titular do direito violado; c) continuidade desta inércia durante prazo fixado em lei (decurso de tempo); d) inexistência de impedimentos ou causas suspensivas ou interruptivas do prazo. Embora esta expressão seja bem técnica, precisamos mencioná-la, pois muitos concursos a exigem. Trata-se da actio nata. Isto é, não pode correr a prescrição enquanto não nascer a ação possível de ser ajuizada pela violação do direito. Vamos agora dar um exemplo completo Digamos que eu tenha emprestado certa quantia em dinheiro a uma pessoa, estabelecendo prazo de 06 (seis) meses para que a importância seja devolvida. A partir do momento em que eu empresto o dinheiro, surge o direito ao crédito. Se o devedor pagar a dívida dentro do prazo estabelecido a obrigação se extingue pelo seu cumprimento. Mas se ele não me pagar no prazo, haverá a violação ao direito de crédito. Neste momento “nasce” a pretensão (actio nata), que é a possibilidade de se exigir judicialmente o direito que foi violado. A partir daí eu já posso ingressar com uma ação pleiteando meu direito. Mas nada é eterno... eu tenho um prazo estabelecido na lei para fazer valer meu direito. Devo exercer o direito dentro desse prazo, pois se assim eu não fizer, inicia-se a contagem do prazo prescricional. Se eu entrar com a ação dentro do prazo, eu exerci meu direito. Mas... e se eu não ingressar com a ação dentro do prazo? – Ora, a minha pretensão de ver o crédito satisfeito prescreveu... Eu não posso mais entrar com a ação. Na realidade eu até “posso” entrar com a ação... mas esta ação está fadada ao fracasso, pois basta que a outra parte alegue (e mesmo que não alegue o juiz poderá reconhecer de ofício) que a ação será extinta! E eu ainda deverei suportar todos os encargos da ação (custas processuais, honorários advocatícios de ambas as partes, etc.). Com a prescrição eu perco o instrumento jurídico para fazer valer meu direito. Agora eu pergunto... e se o devedor pagar espontaneamente a dívida que estava prescrita? O pagamento valeu? E o devedor, percebendo que a dívida estava prescrita, pode se arrepender do pagamento que fez e pedir a devolução do dinheiro? Resposta: de fato, a dívida estava prescrita, mas a pessoa que pagou não pode mais pedir de volta o dinheiro. Se ela pagar espontaneamente a dívida prescrita, este pagamento valeu! E por quê? –Porque o direito material (que é o meu direito ao crédito, que nasceu no dia em que eu fiz o empréstimo) ainda existia. Ele não foi extinto pela prescrição. A pessoa ainda estava me devendo. A CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 15 prescrição atingiu apenas a pretensão; com a prescrição eu perdi o instrumento judicial para cobrar a dívida. E não o direito ao crédito. Com a prescrição perde- se apenas o direito à pretensão (consequentemente não há mais ação para exercer o direito em juízo). Mas o direito em si (o direito ao crédito) ainda se mantém intacto (embora sem proteção jurídica). Portanto a pessoa pagou algo que existia, valendo este pagamento, mesmo que a ação esteja prescrita, não se podendo pedir a devolução da quantia paga. Aliás, dívida prescrita é um excelente exemplo de obrigação natural, isto é, de uma obrigação sem proteção judicial, pois não pode ser exigida pelo credor e o devedor só paga se quiser; mas, pagando, não pode pedir a restituição do valor desembolsado. O art. 882, CC assim prevê: “Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita ou cumprir obrigação judicialmente inexigível” (lembrando que repetir, em sentido jurídico, significa pedir de volta). Vamos recordar. A prescrição não serve para proteger o lesante. Trata-se de uma punição ao próprio lesado por sua inércia. Baseia-se no interesse social de pacificação das demandas. Ela extingue a pretensão. Extinta a pretensão perde-se o direito de ajuizar a ação, ou seja, perde-se o direito de resolver a pendência judicialmente. Todavia, o direito em si (o direito material, o direito propriamente dito) permanece incólume, só que sem proteção jurídica para solucioná-lo. DISPOSIÇÕESGERAIS SOBRE A PRESCRIÇÃO Vejamos cada item do Código Civil de forma pormenorizada: EXCEÇÃO (art. 190, CC) Determina o Código Civil: “A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão” (art. 190, CC). Inicialmente cabe um esclarecimento quanto a esta frase, em especial àqueles que não têm formação jurídica. A expressão “exceção” possui basicamente dois sentidos. De uma forma geral significa aquilo que foge à regra; que não se inclui em determinada situação; dá uma ideia de ressalva, de reserva, de exclusão. No entanto, na técnica jurídica o vocábulo significa outra coisa: indica uma forma de defesa realizada por uma das partes (em geral o réu) em um processo para opor-se a um direito do adversário. Substitua no texto legal a expressão exceção por defesa... veja como ficou mais fácil! O autor de uma ação deduz uma pretensão (exigindo do réu o cumprimento de um dever jurídico). E o réu pode se defender por meio de uma exceção. Muitas vezes esta defesa é indireta, pois o réu, sem negar categoricamente o fato alegado pelo autor, alega outro fato ou direito com o objetivo de elidir ou paralisar a ação proposta. Exemplos: o autor ingressa com uma ação (deduzindo uma pretensão: CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 16 cobrando uma dívida) e o réu alega como defesa que já foi processado, sendo que a ação foi julgada improcedente por aquele mesmo fato (neste caso falamos em exceção de coisa julgada); ou alega que já há uma ação pendente sobre o mesmo assunto (exceção de litispendência); ou que aquele juízo é incompetente para apreciar este tipo de questionamentos (exceção de incompetência); ou que ele não é parte legítima no processo (exceção de ilegitimidade processual); etc. Outro exemplo: “A” possui um crédito contra “B”, mas este se encontra prescrito. Portanto “A” não pode exigir de “B” o pagamento da dívida. Ocorre que “B” ingressou contra “A” uma ação cobrando este por outra dívida. Pergunta-se: “A” pode se defender alegando a compensação desta dívida com a outra da qual é credor, mas se encontra prescrita? Resposta: Não! Ora, se está prescrita a pretensão (o crédito de “A” contra “B”), prescrita também está a defesa (exceção), que no caso se daria com a compensação. Assim, se o direito não pode ser alegado como modalidade de ataque (pretensão), também não poderá ser invocado como meio de defesa (exceção: no caso a compensação). Resumindo: o que o art. 190, CC quer dizer é que o prazo dado para a manifestação do contradireito (que é a exceção ou a defesa) é exatamente o mesmo que a lei estipula para que o titular da ação exerça sua pretensão. Por isso costuma-se dizer que “a exceção (defesa) nasce com o exercício da pretensão”. RENÚNCIA (art. 191, CC) Renúncia é um ato unilateral, produzindo efeitos sem necessidade da manifestação de vontade da outra parte. Uma dívida está prescrita. O credor não tem mais como cobrar a dívida judicialmente. Mesmo assim o devedor pode renunciar a esta prescrição. Dispõe a lei que esta renúncia pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar. Apesar de pequeno, este dispositivo é muito importante, cai muito nas provas e exames, além de trazer diversas consequências jurídicas. Vamos por partes. Inicialmente nosso Código não admite a renúncia prévia ou antecipada. Ou seja, o devedor não pode renunciar à prescrição antes dela ocorrer, até porque, não se pode renunciar algo que ainda não temos ou que ainda não existe. Ex.: Digamos que eu seja um credor. O devedor não pagou o que deve. Eu tenho um prazo para entrar com a ação. Mas eu não entrei com a ação no prazo legal. Portanto ocorreu a prescrição. Mas, mesmo prescrita a dívida, o devedor pode pagar o que deve. E se ele assim proceder (pagando a dívida após o prazo prescricional) estará renunciando à prescrição. Portanto a renúncia é um ato do devedor. No entanto o devedor somente pode renunciar à prescrição após a consumação desta. Enquanto o prazo prescricional estiver fluindo, o devedor não pode renunciar ela. Isto para não destruir a sua eficácia prática. Se assim não fosse o credor poderia inserir uma cláusula abusiva em um contrato. Ex.: o credor CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 17 insere no contrato uma cláusula em que o devedor renuncia (isto é, desiste do direito de alegar) de forma antecipada, eventual e futura prescrição. A lei proíbe esta conduta. Caso contrário qualquer credor poderia colocar uma cláusula no contrato de que o seu direito permaneceria válido e eficaz até o momento que ele, credor, desejasse e eventualmente ingressasse com a ação judicial. Ou seja, poderia propor a ação quando quisesse. Outra coisa: não pode haver renúncia à prescrição quando esta for em prejuízo de terceiros. Ex.: A deve a B e C determinada quantia (duas dívidas autônomas). Em relação a B a dívida está prescrita. Resta então A pagar C. No entanto A renuncia a prescrição em relação a B e paga sua dívida em relação a ele. A seguir alega que não tem mais dinheiro para pagar C. Ora, a dívida estava prescrita. B não tinha mais como cobrar a dívida. E A ao pagar B, renunciou à prescrição, mas prejudicou os direitos de C. Portanto esta conduta não é permitida. Trata-se de uma evidente fraude contra credores, sendo que C pode anular a renúncia e pedir a entrega do dinheiro para si. A renúncia pode ser classificada em: a) Expressa: o prescribente (pessoa a quem a prescrição aproveitaria; o devedor) abre mão do direito de forma explícita. Ex.: devedor redige um documento por escrito abrindo mão da prescrição; como isso possibilita-se ao credor acionar o devedor exigindo o crédito que estaria prescrito. b) Tácita: o interessado pratica determinado ato incompatível com a prescrição. O exemplo clássico é o próprio pagamento da dívida prescrita. Se eu pago uma dívida que está prescrita, eu estou renunciando tacitamente à prescrição. Outro exemplo é o requerimento que o devedor faz de “parcelamento do débito”; com esta conduta ele demonstra que quer pagar a dívida prescrita, embora em prestações. Cuidado com as expressões usadas pelos examinadores (todas erradas): “não pode haver renúncia à prescrição”; “a renúncia só pode ser expressa”; “só pode ser tácita”; “pode ser expressa ou tácita e ocorrer antes de sua consumação”, etc. ALEGAÇÃO (art. 193, CC) A prescrição pode ser alegada em qualquer fase do processo, mesmo em grau de recurso pela parte a que aproveita, ou seja, pela parte interessada com a sua declaração. Uma ação geralmente é interposta perante um Juiz singular (primeira instância), seguindo um trâmite processual. A prescrição pode ser alegada em qualquer momento deste trâmite: na contestação, na audiência de oitiva de testemunhas, nos debates, no julgamento, etc. Após a sentença do Juiz, as partes podem recorrer da decisão. O processo então será encaminhado para CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 18 um Tribunal, que é o órgão de segunda instância. Também no Tribunal a prescrição pode ser arguida. Atenção A doutrina aponta que não é cabível a alegação de prescrição na fase de liquidação em processo de execução, nem em fase de liquidação da sentença. Ou seja, o processode conhecimento já se findou. Agora somente vamos executar o que ficou decidido anteriormente. Segundo a doutrina, não tem cabimento alegar a prescrição somente no momento em se vai executar o que já foi exaustivamente debatido. Também se tem entendido que embora o art. 193 diga que a prescrição possa ser alegada “em qualquer grau de jurisdição”, ela não poderia ser alegada, pela primeira vez, perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF), pois estes Tribunais são considerados como instâncias especiais e extraordinárias. Eles somente poderiam conhecer de recursos nos quais tenha havido prévio debate da matéria em outras instâncias (chamamos isso de pré-questionamento). EFEITOS ESSENCIAIS DA PRESCRIÇÃO Um contrato não pode conter cláusula declarando que um direito é imprescritível. Só a lei pode fazê-lo e mesmo assim em circunstâncias muito especiais, conforme veremos. Os prazos prescricionais não podem ser alterados pelos particulares, ainda que haja um acordo de vontades entre eles (art. 192, CC), seja para reduzi-los, aumentá-los ou mesmo suprimi-los, uma vez que se trata de matéria de ordem pública. Não existe prazo prescricional convencional. Todos os prazos prescricionais são legais. É a lei que determina em que prazo determinada pretensão prescreve (veremos esses prazos mais adiante), impedindo que eles sejam alterados. Prescrevendo o principal, prescrevem todos os acessórios. Antes de consumada é irrenunciável: não se pode renunciar a prescrição que ainda não ocorreu. Os relativamente incapazes (art. 4°, CC) (art. 4°, CC) e as pessoas jurídicas têm direito a ação regressiva contra os seus assistentes ou representantes legais que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente (art. 195, CC). Ex.: foi nomeado um curador para um rapaz com 16 anos (relativamente incapaz), sendo que ele possuía um crédito vencido. O curador (assistente legal) sabe disso, não ingressa com a ação para cobrar o crédito e ocorre a prescrição. Em relação ao crédito, nada mais pode ser feito; está prescrito. Mas posteriormente o rapaz poderá acionar o curador em razão de sua não-alegação do direito. Trata-se de mais uma forma de se proteger e preservar o patrimônio de incapazes ou das empresas. Entende a doutrina CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 19 que a responsabilidade é subjetiva (é necessária a prova do dolo ou da negligência do agente). Suspensa a prescrição em favor de um credor solidário, somente se suspenderá a prescrição em favor dos demais se a obrigação for indivisível. Ex.: Antônio se comprometeu a entregar um cavalo de raça para Bernardo e Carlos de forma solidária. Assim, eles são credores solidários de um bem indivisível (o cavalo). Se por algum motivo o prazo prescricional for suspenso em relação a Bernardo, este prazo, por força de lei (art. 201, CC), também ficará suspenso em relação a Carlos, pois a obrigação além de solidária é indivisível. No entanto, se a obrigação for divisível (dinheiro) a prescrição somente ficará suspensa em relação a Bernardo, correndo normalmente em relação ao outro credor. Falarei um pouco mais sobre este assunto mais adiante. Cuidado Todos os efeitos citados acima têm uma grande incidência em concursos públicos!!! Pessoas a quem aproveita A prescrição pode ser alegada e aproveita tanto às pessoas físicas como às jurídicas. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra seu sucessor (art. 196, CC), a título universal (herança) ou singular (legado). Ex.: Antônio tem um direito de ação em face de Bernardo. Digamos que o prazo prescricional é de dez anos. Passados sete anos Antônio não ingressou com a ação e faleceu. Neste caso Carlos, herdeiro de Antônio, disporá apenas do prazo faltante para exercer a pretensão (ou seja, três anos). O prazo não parou em razão da morte de Antônio. Ou seja, a morte não interrompe e nem suspende o prazo prescricional, que continua a fluir normalmente contra os sucessores. No entanto... (como não podia deixar de ser...) há uma exceção a essa regra: na hipótese em que o sucessor é absolutamente incapaz. Neste caso a prescrição não corre (fica impedida ou suspensa, como veremos adiante). Aproveitando o exemplo acima: Antônio faleceu e Carlos, seu único filho, tem 12 anos de idade. Neste caso a morte de Antônio fará com que o prazo prescricional fique paralisado (suspenso) e somente se reiniciará quando Carlos completar 16 anos (pois passa a ser relativamente incapaz). Finalmente em relação a este tópico: prescrevendo o direito principal, prescrevem também os acessórios. Exemplo: se a dívida principal prescreveu, com ela prescreveu também a multa contratual (trata-se da aplicação da regra, que aqui também se aplica, de que “os acessórios acompanham o principal"). CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 20 Declaração de Ofício (ex officio) Indagação Importante: um Juiz, no curso de uma ação judicial, pode reconhecer a prescrição, mesmo que a outra parte não tenha alegado, ou seja, mesmo que não tenha sido provocado para decidir a respeito? Ex.: digamos que uma eventual pretensão já esteja prescrita. Eu tenho ciência deste fato, mas, assumindo o risco, ingresso com a ação judicial mesmo assim... A outra parte não alega a prescrição (dizemos na gíria que ela “engoliu barriga” ou “comeu bola”). O Juiz percebe que ocorreu a prescrição. Pergunto: pode o Juiz reconhecer a prescrição sem que a mesma tenha sido alegada (chamamos isso de declaração ex officio)? A lei era taxativa no sentido de que o Juiz não podia suprir de ofício a alegação de prescrição, salvo se favorecesse a pessoa absolutamente incapaz. Era o que dispunha o art. 194, CC. No entanto a Lei n° 11.280 de 16 de fevereiro de 2006 revogou o art. 194, CC e alterou o dispositivo do anterior CPC a respeito. Ocorre que a redação do CPC/2015 assim dispõe sobre o tema: Art. 332, §1°: “O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição”. No entanto, estabelece o parágrafo único do art. 487: “Ressalvada a hipótese do §1° do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se”. Concluindo: atualmente o Juiz pode reconhecer a prescrição (e também a decadência) independentemente de requerimento da outra parte liminarmente (logo que a demanda foi proposta). No entanto, sendo a outra parte citada e instaurada a relação processual o juiz somente poderá reconhecer a prescrição e a decadência depois de dar às partes oportunidade para manifestação. Requisitos para se reconhecer a prescrição Pretensão a ser exercida: a pretensão nasce com a violação de um direito. Inércia do titular desta pretensão: não exercício do direito. Decurso de prazo: continuidade da inércia durante certo lapso de tempo fixado em lei. Ausência de algum fato ou ato a que a lei confira eficácia impeditiva, suspensiva ou interruptiva de curso prescricional, conforme veremos logo adiante. Causas Impeditivas, Suspensivas e Interruptivas da Prescrição Como vimos, violado o direito subjetivo surge a pretensão. E a partir daí começa a correr o prazo prescricional para se ingressar com a ação adequada. No entanto a lei prevê situações em que o prazo sequerinicia seu fluxo, ainda que já surgida a pretensão (são as causas impeditivas) ou que suspendem o curso da CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 21 prescrição já iniciada (causas suspensivas) ou fazem com que o prazo seja reiniciado (causas interruptivas). A relação das hipóteses impeditivas, suspensivas e interruptivas é taxativa. Ou seja, as causas estão expressamente previstas na lei, não se podendo fazer uma “interpretação extensiva”. Estas causas só podem ser estabelecidas por lei (trata-se de norma de ordem pública). Vejamos cada uma das situações previstas no Código Civil. CAUSAS IMPEDITIVAS E SUSPENSIVAS (arts. 197, 198 E 199, CC) A expressão “não corre a prescrição” (prevista nos artigos 197, 198, 199 e 200, CC) indica uma causa impeditiva ou suspensiva do prazo prescricional. A diferença entre impedimento e suspensão é sutil. Ambas possuem o mesmo regime jurídico. Porém se diferenciam: Causas impeditivas são circunstâncias que impedem que o curso prescricional se inicie, em razão do estado de uma pessoa individual ou familiar (atendendo a razões de confiança, amizade, parentesco e de ordem moral). A contagem do prazo não se inicia enquanto durar a impossibilidade jurídica do impedimento. Ou seja, se o prazo ainda não começou a fluir a causa ou obstáculo impede que ele comece. Causas suspensivas são circunstâncias que paralisam temporariamente o prazo prescricional que já estava em curso, sem prejuízo do tempo já decorrido. O prazo prescricional vinha fluindo normalmente, sendo que ocorreu um fato que o fez paralisar. Neste momento a contagem do prazo fica suspensa. Superado esse fato, o prazo prescricional volta a correr de onde parou, aproveitando-se e computando-se o prazo já decorrido antes do fato. Resumindo: nas causas impeditivas o prazo nem começou a contar; nas causas suspensiva o prazo começou a fluir, mas parou, voltando a contagem quando cessar o motivo da “parada”. Impedimento do Prazo Prescricional ANOS IMPEDIMENTO 1º 2º 3º 4º 5º O prazo somente começa a fluir após a cessação da circunstância que impede que o curso prescricional se inicie. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 22 Suspensão do Prazo Prescricional Ano Ano 1º 2º 3º Prazo 4º 5º Fluxo de prazo prescricional de 05 anos, onde já decorreram 03 anos. Suspenso Cessada a suspensão, o prazo retoma seu fluxo pelo saldo (no caso são mais 02 anos). NÃO CORRE A PRESCRIÇÃO: Entre os cônjuges na constância da sociedade conjugal (art. 197, I, CC). Observem que dependendo do momento em que a dívida venceu pode ser hipótese de impedimento ou de suspensão do prazo. Ex.: uma mulher empresta determinada quantia a seu namorado. Antes do vencimento da dívida credora e devedor se casam (não importa saber qual o regime de bens adotado pelo casal). O prazo prescricional sequer se inicia, pois não corre prescrição na constância do casamento. É hipótese de impedimento. Se o marido não pagar a dívida e eles se separarem a mulher teria (ao menos em tese) o direito de cobrar a dívida. No entanto se a dívida venceu antes do casamento, o prazo prescricional já se iniciou, começou a correr... Após isso, sem que haja o pagamento da dívida, credora e devedor se casam. Neste momento o prazo fica suspenso. Se eles se separarem o prazo prescricional voltará a fluir pelo tempo que ainda resta. Enunciado 296 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “Não corre prescrição entre os companheiros, na constância da união estável”. Entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar (art. 197, II, CC). Exemplo: vamos supor que um casal se divorciou, sendo que eles tinham um filho com oito anos; a guarda do menor ficou com a mãe e o pai foi obrigado, por sentença judicial, a prestar pensão alimentícia mensal a seu filho. Ocorre que o pai nunca cumpriu a obrigação. A prescrição somente terá início quando o filho completar 18 anos (fim do poder familiar), pouco importando se o pai ou a mãe contraíram novas núpcias. Observação: há uma polêmica se a prescrição corre entre avós e netos, pois a lei foi genérica (“ascendentes e descendentes”). Não há dúvidas de que avós e netos estão numa relação de parentesco em linha reta. O avô é ascendente do neto, e, consequentemente, o neto é descendente do avô. Ocorre que o dispositivo legal também exige que haja uma relação de “poder familiar”. Como somente há poder familiar entre pais e filhos (art. 1.630, CC) entende-se que entre avô e neto pode correr a prescrição. E mesmo que se tratasse de tratasse de pais e filhos, não haveria causa de impedimento ou suspensão da fluência do prazo prescricional caso houvesse sido afastado o poder familiar (ex.: procedimento judicial de CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 23 destituição, maioridade, etc.). Neste sentido já caiu uma questão elaborada pelo CESPE (Advogado SERPRO – 2013). Entre tutelados ou curatelados e seus tutores e curadores, durante a tutela ou curatela (art. 197, III, CC). É a mesma justificativa em relação ao menor e seus pais. Protege-se, assim, o interesse do incapaz quanto à falta de zelo de seus representantes legais (tutores e curadores). Contra os incapazes de que trata o art. 3°, CC (art. 198, I, CC). Ex.: vamos imaginar que uma pessoa que é credora de outra, faleça. O de cujus (falecido) deixou um filho que tem oito anos de idade. Essa criança nem ao menos sabe de seus direitos e que têm créditos a receber. Por isso, para protegê-la, o CC determina que não corre prescrição contra ela, pois é absolutamente incapaz. Aguarda-se, assim, que complete 16 anos (e seja relativamente incapaz); somente a partir daí o fluxo do prazo prescricional terá início. No entanto a prescrição pode correr “a favor” dos absolutamente incapazes. Ex.: quando o incapaz é o devedor e o credor não o aciona no tempo certo; neste caso opera- se a prescrição, pois ela foi favorável ao incapaz. Resumindo: a) Prescrição contra absolutamente incapazes não corre. b) Prescrição contra relativamente incapazes corre normalmente. c) Prescrição a favor de incapazes (absoluta ou relativamente) corre normalmente. Contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados, ou dos Municípios (art. 198, II, CC). Contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra (art. 198, III, CC). Pendendo condição suspensiva (art. 199, I, CC): acompanhem o desenvolvimento lógico neste exemplo: eu lhe darei um carro se você passar no concurso (condição suspensiva). Enquanto você não passar no concurso, isto é, enquanto a condição não for realizada, você não adquire o direito. Se não houve a aquisição do direito, ainda não há uma ação para proteger o direito. E se não há uma ação que se possa exercitar o prazo prescricional não se inicia. Não estando vencido o prazo (art. 199, II, CC). Trata-se do mesmo princípio do item anterior. Se o prazo de uma dívida ainda não venceu, ainda não se pode exigir o seu pagamento. E se ainda não se pode exigi-lo o prazo prescricional também não pode ter início. Pendendo ação de evicção (art. 199, III, CC), suspende-se também a prescrição em andamento.Evicção é a perda da propriedade para terceiro em CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 24 virtude de ato jurídico anterior e de sentença judicial. Exemplo: há um litígio para se saber quem é o proprietário de um imóvel. Enquanto não resolvido este litígio definitivamente, o prazo prescricional não pode ter início. Mais uma vez trata-se do princípio da actio nata (a prescrição não corre enquanto não nascer a ação possível de ser ajuizada). Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva (art. 200, CC). Ex.: foi instaurado um processo criminal em que A é acusado de matar B. A alega que não matou (negativa de autoria). Neste caso a decisão criminal irá influir no Direito Civil. Em regra, há independência entre as esferas criminal, civil e administrativa (art. 935, CC). Mas em algumas situações (ex.: a existência ou não do fato delituoso e a negativa de autoria), a decisão criminal faz coisa julgada no cível. Portanto, deve-se aguardar o desfecho do processo criminal. Somente depois que a questão for resolvida no Juízo Criminal (decisão final com trânsito em julgado), apontando a autoria e a materialidade do delito é que se inicia o prazo prescricional. No nosso exemplo: aguarda-se a sentença criminal. Se A for condenado criminalmente, a partir desta condenação inicia-se o prazo de prescrição para que os familiares de B ingressem com eventual ação de reparação de danos pela prática do ato ilícito no Juízo Cível. Vejamos agora um exemplo prático em relação aos efeitos da suspensão da prescrição: imaginem um direito qualquer, cujo prazo prescricional previsto na lei seja de cinco anos. Passaram-se três anos e a pessoa não entrou com a ação judicial adequada. Após esse período (três anos), surge uma causa suspensiva da prescrição. A partir deste momento o prazo fica paralisado, suspenso. Durante o período em que o prazo esteve parado, ele não é computado. Posteriormente a circunstância que fez com que o prazo fosse suspenso, deixou de existir. O prazo volta a correr. O credor tem direito de ingressar com a ação de cobrança. Mas só pelo prazo que resta. No exemplo dado só restam dois anos. Ou seja: cinco anos (prazo inicial) menos três anos (prazo que já havia ocorrido), é igual a dois anos (o que ainda resta). Assim, é esse o prazo que resta para se ingressar com a ação, antes do prazo fatal da prescrição. O prazo volta a correr contado da data em que havia parado. Observação Importante Vamos reforçar e aprofundar um tema já visto, mas que é muito importante. Quando um examinador deseja tornar a prova mais difícil, utiliza o dispositivo previsto no art. 201, CC: “Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível”. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 25 Se uma obrigação tiver credores solidários (ou seja, duas ou mais pessoas são credoras de outra e qualquer desses credores pode exigir do devedor a prestação por inteiro), mas o objeto é divisível (ex.: dinheiro) e ocorreu uma causa de suspensão de prescrição para apenas um dos credores, a prescrição ficará suspensa apenas em relação este credor (ou seja, em relação aos demais credores o prazo continua a correr normalmente). Exemplo: três pessoas são credoras de uma quarta de uma importância em dinheiro. Um dos credores se tornou absolutamente incapaz. Neste caso o prazo prescricional somente não corre (fica suspenso) contra o incapaz, correndo normalmente contra os demais, pois a obrigação de entregar dinheiro é divisível. Por outro lado, se a obrigação solidária for indivisível, uma vez suspensa a prescrição em favor de um dos credores, tal suspensão aproveitará (será estendida) aos demais credores. Exemplo: dois credores, sendo que um tem 13 anos (absolutamente incapaz) têm direito de receber um cavalo puro-sangue reprodutor (obrigação indivisível). Neste caso o prazo prescricional somente começará a fluir para todos quando o incapaz completar 16 anos (pois a partir daí ele deixa de ser absolutamente incapaz). Isso porque, sendo o direito indivisível, a prescrição também fica “indivisível” (aproveita a todos). Resumindo: Suspensa a prescrição para um dos credores solidários: a) Obrigação divisível (ex.: dinheiro) a suspensão não se estende aos demais credores e continua a correr normalmente para eles. b) Obrigação indivisível (ex.: cavalo) a suspensão se estende aos demais credores; o prazo prescricional fica paralisado para todos. CAUSAS INTERRUPTIVAS (arts. 202 a 204, CC) São circunstâncias que impedem o fluxo normal do prazo prescricional, inutilizando o tempo já decorrido, de modo que o prazo recomeça a correr a partir da data do ato que o interrompeu, ou seja, o período já decorrido é inutilizado e o prazo volta a correr novamente por inteiro. A contagem recomeça do zero. Exemplo: o prazo prescricional é de cinco anos. Após três anos de fluência de prazo foi o mesmo interrompido. Este prazo recomeça do zero. A parte tem mais cinco anos para entrar com a ação apropriada. O efeito é instantâneo: o prazo recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 26 Suspensão X Interrupção A grande diferença ente suspensão e interrupção da prescrição é que na suspensão o prazo é temporariamente paralisado, de forma que superado o fato suspensivo, a prescrição continua a correr computando-se o tempo que já tinha decorrido (recomeça a correr pelo tempo faltante). Já na interrupção a causa interruptiva faz com que o prazo já iniciado seja desconsiderado, começando a ser contado de novo desde o início. Outra coisa: Na interrupção, em regra, exige-se um comportamento ativo, uma provocação do credor (ex.: protesto ou notificação judicial). Já na suspensão exige-se apenas a ocorrência de um fato previsto na lei; ocorrido este, o prazo prescricional é suspenso de forma automática. São causas que INTERROMPEM a prescrição (art. 202, CC): Despacho do Juiz, mesmo incompetente, que determinar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual. Aqui é necessário fazer uma conexão com o novo Código de Processo Civil: Art. 240: A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei n° 10.406/2002 (Código Civil). §1° A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. §4° O efeito retroativo a que se refere o §1° aplica- se à decadência e aos demais prazos extintivos previstos em lei. Protesto judicial (trata-se de uma ação judicial, na verdade uma medida cautelar prevista no CPC) ou protesto cambial (ou seja, o protesto extrajudicial de um título de crédito como o protesto de um cheque, de uma nota promissória ou de uma duplicata). Ambas as situações se destinam a prevenir responsabilidade, ressalvar e conservar direitos ou manifestar qualquer intençãode modo formal. Tais providências refletem um comportamento ativo do credor, demonstrando a sua intenção de agir, de ver seu crédito pago, constituindo o devedor em mora e interrompendo a prescrição. A apresentação do título de crédito em juízo de inventário, ou em concurso de devedores. A habilitação do credor em inventário, na falência ou nos autos de insolvência civil, constitui comportamento que também demonstra a intenção do credor em interromper a prescrição. Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor. Mora é o retardamento no cumprimento de uma obrigação. Assim, “constituir o devedor em mora” é um ato do credor fixando a responsabilidade do devedor no retardamento da obrigação. Ex.: interpelação judicial, notificação judicial, CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 27 ações cautelares de uma forma geral, etc. Cuidado: a notificação extrajudicial (feita por Cartórios – Ofícios de Registro de Títulos e Documentos) não interrompe o prazo prescricional. Qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito do devedor. Ex.: pagamento de uma parcela do débito, pedido de prorrogação de prazo para pagamento da dívida, etc. (nesta hipótese não há uma atividade do credor, mas sim do devedor). Atenção No Direito Civil a interrupção da prescrição só pode ocorrer uma única vez (art. 202, CC). Tal restrição é benéfica, evitando inúmeras interrupções abusivas, a má-fé e o adiamento da solução das pendências. Exemplo prático de uma hipótese de interrupção do prazo de prescrição: imaginem novamente um direito qualquer, cujo prazo prescricional seja de cinco anos. Passaram-se três anos e a pessoa não entrou com a ação judicial. Após esse prazo, surge uma causa interruptiva da prescrição (ex.: credor ingressa com uma notificação ou protesta um título de crédito). Neste caso o prazo “zera”, ou seja, volta à estaca zero. O prazo reinicia o seu curso. A pessoa tinha cinco anos para exercer o direito. Passaram-se três e não exerceu. Com a interrupção devolve-se o prazo de cinco anos para ingressar com a ação principal. Observem o quadro abaixo: Interrupção do Prazo Prescricional Ano Ano 1º 2º 3º 1º 2º 3º 4º 5º Fluxo de um prazo prescricional de 05 anos, onde já decorreram 03 anos. Prazo Interrompido Interrompido, o prazo fluirá por mais 05 anos; inicia-se novamente, mas por apenas uma vez mais. Quem pode promover a interrupção da prescrição? Nos termos do art. 203, CC, a interrupção da prescrição poderá ser promovida pelo próprio titular do direito e também por aqueles que tenham algum interesse jurídico (ainda que não sejam credores diretos). Assim, têm legitimidade para o ato: O próprio titular do direito. Quem legalmente o represente (ex.: assistentes dos relativamente incapazes, mandatários, representantes da pessoa jurídica, etc.). Terceiros que tenham legítimo interesse (ex.: credor, herdeiro, fiador ou avalista da pessoa que tem crédito a receber e que está em via de prescrição, etc.). CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 28 Reflexos da interrupção da prescrição (art. 204, CC) Eis outro dispositivo que os examinadores gostam para complicar um pouco... Em princípio a interrupção da prescrição beneficia apenas quem a promove. Assim, em regra, no caso de pluralidade de credores, o fato de um credor promover a interrupção, tal fato beneficiará apenas quem alegou a interrupção, não se estendendo aos demais credores. Da mesma forma, como regra, se houver a pluralidade de devedores e o credor interrompeu a prescrição em relação a apenas um deles, este fato prejudicial não será estendido aos demais devedores. No entanto há exceções: Se for obrigação solidária (passiva ou ativa) a interrupção efetuada contra um devedor atingirá (prejudicando) os demais; e a interrupção aberta por um dos credores atingirá (beneficiando) os demais. Isto porque na solidariedade os vários credores são considerados com um só credor e, da mesma forma, todos os devedores são considerados como um só devedor. A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudicará os outros herdeiros, a menos quando se tratar de obrigação indivisível (ex.: entrega de um cavalo). Isto porque a solidariedade não se transmite aos herdeiros, salvo se a obrigação for indivisível. Finalmente, se um credor interrompe a prescrição contra o devedor de uma obrigação principal (ex.: locação), interrompe-se, também, eventual prazo prescricional contra o devedor da obrigação acessória (ex.: fiança). Lembrem- se mais uma vez da regra: “o acessório segue o principal”. PRAZOS PRESCRICIONAIS Prazo prescricional é o espaço de tempo que decorre entre seu termo inicial e final. O art. 205, CC optou por um critério simplificado de 10 anos para o prazo prescricional geral, tanto para as ações pessoais como para as reais, salvo quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. Assim, para sabermos em quanto tempo prescreve uma determinada ação, devemos proceder da seguinte forma: primeiramente verificamos se a ação que desejamos propor está prevista em algum dos parágrafos do art. 206, CC. Se encontrarmos a situação prevista em algum dispositivo, o prazo é o nele determinado expressamente. Porém, se analisamos todas as situações legais e não encontramos a ação que desejamos propor aplica-se a regra geral de 10 anos do art. 205, CC. Assim, temos duas espécies de prazo: Ordinário (ou comum): 10 (dez) anos em ações pessoais (ex.: uma ação de cobrança que envolve duas pessoas: credor e devedor) ou reais (ex.: uma ação que envolve posse, propriedade, hipoteca, etc.), alusivas ao patrimônio do titular da pretensão. Art. 205, CC: “A prescrição corre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 04: FATOS JURÍDICOS (1ª Parte) = PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 29 Especial: são prazos mais exíguos (de um a cinco anos), pois há uma presunção de que é conveniente reduzir o prazo geral para possibilitar o exercício de certos direitos de forma a evitar que acontecimentos do passado remoto possam ainda ser questionados. Estão previstos no art. 206 e todos os seus parágrafos do CC. A diferença dos prazos repousa em uma valoração feita pelo legislador, bem como em condições pessoais dos titulares das pretensões. Não se discute se eles são longos ou curtos; são fixados pela lei, que é a única fonte deles em nosso sistema. Destacamos como mais importantes (somente pelo fato de que há maior incidência em concursos públicos): 02 (dois) anos: pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. É a única hipótese que prescreve em dois anos. Observação Importante: É interessante deixar claro que o direito aos alimentos é imprescritível (a fome reclama urgência!). O direito não cessa pelo seu não exercício. A qualquer tempo, surgindo a necessidade, eles poderão ser pleiteados. O que se opera é a prescrição em relação aos valores dos alimentos vencidos, ou seja, as prestações alimentares fixadas judicialmente e não pagas e nem exigidas no prazo legal. Lembrando, também, que o não pagamento da pensão alimentícia fixada em sentença judicial
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