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FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência) § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. O que tutela o crime? Busca impedir que aquelas pessoas (testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete) prejudiquem a busca da verdade no processo judicial ou administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral, omitindo ou falseando-a, de forma a prejudicar a realização da justiça. Tutela-se, assim, a regularidade da Administração da Justiça. Quais são as ações típicas? - Fazer afirmação falsa: Segundo a doutrina, cuida-se aqui da falsidade positiva, pois o agente declara a ocorrência de fato inverídico. - Negar a verdade: Essa modalidade constitui a chamada falsidade negativa, pois o agente tem ciência da verdade, mas nega o que sabe. Exemplo: testemunha de acusação que nega falsamente que a vítima do homicídio tenha anteriormente tentado estuprar a filha do acusado. - Calar a verdade (se omitir): É, segundo a doutrina, a chamada reticência. Aqui há o silêncio a respeito do que se sabe ou a recusa em manifestar a ciência que se tem dos fatos. Há, assim, resistência por parte do agente em declarar a verdade. Não há, ao contrário das demais modalidades, qualquer afirmação falsa ou negativa. Exemplo: perito que omite dados relevantes ao elaborar o laudo pericial, de forma a criar prova benéfica ao acusado. No tocante a falsidade, o Código Penal adotou qual teoria? A teoria subjetiva em detrimento da objetiva, uma vez que esta se contenta com a mera divergência entre o fato narrado e a realidade dos fatos. Para a teoria objetiva, quanto àquele que depusesse acerca de um fato que não viu, ouviu ou sentiu, mas cuja narração estivesse de acordo com o que efetivamente ocorreu, não haveria a configuração do falso testemunho, pois, no caso, não haveria a distorção exigida entre o fato narrado e o fato realmente sucedido. Não haveria, portanto, falso testemunho. As ações nucleares devem ser realizadas onde? - Processo judicial (cível ou penal, contencioso ou voluntário) ou administrativo (incluído aí o inquérito civil público instaurado e presidido pelo Ministério Público). - Inquérito policial; ou, Em juízo arbitral (arts. 851 a 853 do novo Código Civil). Como fica o falso praticado perante a Comissão Parlamentar de Inquérito? Deverá o agente responder pelo delito previsto no art. 4º, II, da Lei n. 1.579/1952 (dispõe sobre as comissões parlamentares de inquérito), o qual dispõe constituir crime “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor ou intérprete, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito.” O depoimento prestado perante autoridade incompetente exclui o crime em tela? Não. De qualquer forma, ela se encontra no exercício da função pública, não podendo a testemunha esquivar-se do dever de falar a verdade. Segundo a doutrina, para que se configure o crime em tela, é imprescindível que a falsidade verse sobre fato juridicamente relevante? Sim, sendo apta a influir de algum modo na decisão final da causa; do contrário, se o falso recair sobre fatos secundários, não haverá falar nesse crime. É necessário, portanto, que a falsidade tenha potencialidade lesiva, isto é, seja apta a prejudicar a busca da verdade no processo, de modo a interferir no futuro julgamento da causa. Ressalve-se que para a configuração do crime não é necessário que a falsidade interfira efetivamente na decisão final, pois basta somente a potencialidade para lesar os interesses da Administração da Justiça. Como fica a situação se a testemunha se recusar a responder perguntas que impliquem sua autoincriminação ou faz afirmação falsa com o intuito de evitar a descoberta de fatos que a incriminem? Está configurada a inexigibilidade de conduta diversa. Com efeito, já decidiu o STF: “A condição de testemunha não afasta a garantia constitucional do direito ao silêncio (art. 5º, LXIII da CF: o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado). Sujeito ativo? Crime de mão própria (de atuação pessoal ou de conduta infungível). Somente pode ser cometido pelo sujeito em pessoa. São sujeitos ativos desse delito: A testemunha, o perito, o tradutor ou o intérprete. Sujeito passivo? - Estado. - Ofendido, de forma imediata, ou seja, aquele que venha a ser prejudicado pelo falso testemunho ou a falsa perícia. Elemento subjetivo? Dolo. Consumação? Consuma-se com o encerramento do depoimento. Consoante artigo 216 do CPP, o depoimento da testemunha será reduzido a termo, assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Findo este momento não é mais possível retificar o depoimento. Em tese, o crime se consuma no momento em que é proferido o falso; contudo, como o depoimento pode retificar o que foi declarado até o encerramento de depoimento, entende-se consumado o crime nesse exato instante. Não é necessário que o falso influa na decisão da causa, basta sua potencialidade lesiva. É crime formal. Tentativa? A questão não é pacífica. Sustenta Noronha que a tentativa inadmissível; Hungria e Damásio admitem conatus no falso testemunho, citando o último autor a hipótese em que o depoimento, por qualquer circunstância, não se encerra. Cezar Roberto Bittencourt afirma que, regra geral, não é possível a tentativa, salvo na hipótese de testemunho prestado por escrito (art. 221, § 1º do CPP), pois nesse caso o crime é plurissubsistente. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
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