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Fraude Contra Credores e Ação Pauliana

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jusbrasil.com.br
16 de Março de 2018
Fraude Contra Credores e Ação Pauliana
FRAUDE CONTRA CREDORES - AÇÃO PAULIANA
Elaborado por: Flávia Luísa Ablas
1. Introdução
O devedor, nas civilizações mais antigas, respondia com o
próprio corpo pelas obrigações assumidas, sendo que, o não
cumprimento dessas obrigações, colocava-o em uma situação
análoga à dos escravos, ocorrendo, portanto, uma execução
corporal. Essa situação em que ficava o devedor permitia que
o credor detivesse, em suas mãos, a liberdade e, até, a própria
vida ao devedor impontual. Desde a antiguidade oriental, com
o surgimento das primeiras civilizações humanas, no antigo
Egito, temos a figura do escravo originário da escravidão por
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dívidas, o qual perdia sua liberdade em mãos do credor, que o
utilizava como quisesse. A própria Lei da doze tábuas, na
tábua terceira já previa uma execução pessoal, estatuindo, no
seu inciso 9, o seguinte: "se são muitos os credores, é
permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir o corpo do
devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores não
importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem,
poderão vender o devedor a um estrangeiro, além do Tibre".
Esse tipo de procedimento adotado para que o credor
conseguisse receber seu crédito, onde, se quisesse, o detentor
ativo da dívida, poderia matar (executar) o devedor, deu a
origem que acabou por denominar o processo de execução
atual, onde o credor executa (judicialmente) seu direito. Com
o surgimento, em Roma, da Lex Poetelia Papiria, a execução
transferiu-se do corpo do devedor para o seu patrimônio, daí
então o devedor não mais poderia ser escravizado ou sofrer
qualquer tipo de penalidade que atingisse sua integridade
física, ficando o credor, apenas, com o direito de executar seu
crédito sobre o patrimônio do devedor. O direito, atualmente,
não permite mais a execução física do devedor; somente nos
casos excepcionais da pensão alimentícia e do depositário
infiel, previstos, inclusive, em nossa atual Constituição
Federal. Em Roma antes mesmo do surgimento da Lex
Poetelia Papiria, já existiam pactos que não eram assegurados
por ação em juízo, mas que já inovavam as formas de
transferências de obrigações, as quais eram impossíveis de
serem realizadas ante a coexistência da execução pessoal do
devedor. A Ação Pauliana foi criada em Roma, pela atividade
do Pretor Paulo "A princípio tinha caráter penal e era dirigida
contra o terceiro que se houvesse prestado às manobras
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fraudulentas do devedor; depois veio a ser contra o donatário
que tivesse tirado proveito do delito cometido pelo devedor.
No início o réu era condenado a uma pena pecuniária, cuja
execução se não cumpria se o bem indevidamente desviado
fosse restituído ao patrimônio do devedor e mais tarde, não
obstante sua natureza pessoal, a Ação Pauliana apresentava-se
como uma actio in rem, tendo por objeto a nulidade do ato
fraudulento e a recuperação da coisa para o patrimônio do
devedor". No direito canônico, além de condenarem a má fé
do devedor insolvente, os canonistas consagraram o princípio
de par condictio creditorum, sendo notável a tendência no
sentido de proteger os credores contra os meios fraudulentos
de que se servisse o devedor.
2. Ação Pauliana
Podem-se anular os negócios jurídicos fraudulentos (CC, art.
171, II) por meio de ação revocatória ou pauliana (CC, art.
161), assim denominada como referência a Paulo, pretor
romano que a introduziu nos textos legais. A ação revocatória
visa tornar ineficaz o ato praticado em fraude contra credores.
E uma ação pessoal, dirigida contra os que participam do
negócio jurídico fraudulento, e ainda terceiros adquirentes de
má-fé (CC, art. 161). Seu objetivo é conservar o patrimônio do
devedor insolvente, mantendo-o como garantia dos demais
credores. Não é, na realidade, caso de anulabilidade. Não
obstante, textualmente lhe confere esse caráter o art. 171, II,
do CC, ao declarar anulável o negócio jurídico quando
praticado com fraude.
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A ação revocatória só pode ser proposta por quem já era
credor ao tempo dos atos fraudulentos, e credor quirografário
(CC, art. 158).
O credor com garantia real não tem interesse, pois seu crédito
está assegurado, salvo se insuficiente a garantia. Devem ser
réus nessa ação o devedor insolvente, a pessoa que com ele
celebrou o negócio jurídico fraudulento e terceiros
adquirentes de má-fé, dc-vendo-se citar todas as pessoas
intervenientes no ato, integrantes de um litisconsórcio
necessário.
A má-fé, o elemento subjetivo (consilium fraudis) da ação,
consiste no conhecimento que o adquirente tem do estado de
insolvência do devedor. É presumida no caso dos negócios
onerosos, quando a insolvência for notória ou quando houver
motivo para ser conhecida pelo adquirente (CC, art. 159). É
notória quando pública, como no caso de já haver contra o
devedor protesto de títulos, ajuizamento de ações de execução,
protestos judiciais etc. Presume-se também que seja
conhecida no caso de certas circunstâncias, como, por
exemplo, a clandestinidade do ato, a continuação dos bens
alienados na posse de devedor, quando deveriam estar com
terceiro, a falta de causa do negócio, o parentesco entre
devedor e terceiro adquirente, o preço vil, a alienação de todos
os bens etc.
Tratando-se de transmissão gratuita de bens, ou de remissão
de dívida (CC, art. 158), dispensa-se a má-fé, bastando o
elemento objetivo, o eventus damni, exigindo-se apenas na
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prova de insolvência. Pode, entretanto, o adquirente evitar a
propositura da ação pauliana, ou extingui-la, se, ainda não
pago o preço e este for aproximadamente o corrente no
mercado, depositá-lo em juízo requerendo a citação por edital
de todos os interessados. Se inferior esse valor ao preço do
mercado, o que faz supor a malícia do adquirente, podem os
credores reclamar a devolução da coisa vendida ou o
respectivo preço real do tempo da alienação. O credor
quirografário que eventualmente receba de devedor insolvente
o pagamento de dívida ainda não vencida, fica obrigado a
repor o recebido (CC, art. 162) em favor do acervo sobre que
tenha de se efetuar o concurso de credores (CC, arts. 955 a
965).
As garantias reais que o devedor insolvente tiver dado a
qualquer credor reputam-se fraudatórias (CC, art. 163), tendo-
se em vista a vantagem do credor beneficiado, e a consequente
quebra do princípio da igualdade dos credores. Valem tais
garantias, porém, se constituídas antes da insolvência do
devedor.
Presumem-se, todavia, praticados de boa-fé, e por isso
válidos, os negócios ordinários, indispensáveis à manutenção
de estabelecimento mercantil, agrícola ou industrial do
devedor (CC, art. 164), inclusive a constituição de garantias
reais.
Anulados os atos fraudulentos a vantagem resultante reverte
em proveito do acervo que será objeto de concurso de
credores. E no caso dos atos revogados terem por único
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objetivo atribuir direitos preferenciais, mediante a
constituição de hipoteca, anticrese ou penhor, sua nulidade
importará somente na anulação da preferência ajustada (CC,
art. 165 e par. Único), restabelecendo-se a igualdade entre os
credores. Em matéria comercial encontramos o mesmo
instituto disciplinado pela lei de falencias, de modo mais
rigoroso, visando aos atosde disposição ou comprometimento
patrimonial praticados pelo falido durante o período suspeito
da falência. A fraude contra credores, defeito do negócio
jurídico, não se confunde com a fraude de execução, que é
incidente do processo judicial.
2.1 Comparações do Código Civil de 1916 e 2002
Compare-se, a luz dos ensinamentos de WASHINGTON DE
BARROS MONTEIRO[1], com as hipóteses consagradas pelo
Código de 1916: atos de transmissão gratuita de bens (art.
106); remissão de dividas (art. 106); contratos onerosos (art.
107) — desde que a insolvência do devedor seja notória ou
presumida; antecipação de pagamentos (art. 110); outorga de
direitos preferenciais a um dos credores (art. 111).
O credor quirografário preexistente (que já o era antes do ato
fraudulento que tornou o devedor insolvente) tem
legitimidade ativa para ajuizar a ação revocatória (arts. 106
do CC-16 e 158 do CC-02) a qual, por ter natureza pessoal,
independe de outorga uxória ou autorização marital.
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O credor com garantia, em principio, por ja deter um bem ou
um patrimônio vinculado a satisfação da divida, careceria de
interesse processual. Todavia, caso se tome insuficiente a
mencionada garantia, poderá manejar a referida actio,
consoante se depreende da analise do § l.º'do art. 158 do CC-
02, sem similar no Código de 1916.
O devedor insolvente, por sua vez, devera figurar no polo
passivo da ação, juntamente com a pessoa com quem ele
celebrou o ato e o terceiro que haja atuado de má-fé (art. 109
do CC-16 e art : 161 do CC-02), incidindo tai regra apenas nas
ações propostas com fundamento nos arts. 158 e 159 do Novo
Código Civil (negócios fraudulentos de transmissão
gratuidade bens, remissão de dividas e contratos onerosos
fraudulentos, desde que a insolvência ao devedor seja notória
ou haja motivo para ser presumida).
CARVALHO SANTOS[2] no sentido de que a legitimidade
passiva ao terceiro, espécie de subadquirente diz que existe
quando haja adquirido o bemde má-fé e a titulo oneroso, ou,
esteja o não de má-fé, quando a aquisição se der a titulo
gratuito.
Seguindo diretriz do Código de 1916 (art. 112), o Novo Código,
em seu art. 164, firmou regra no sentido de considerar de
boa-fé os negócios ordinários indispensáveis a manutenção
de estabelecimento mercantil, rural industrial, ou a
subsistência do devedor e de sua família.
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A esse respeito, observa, com propriedade, MARIA HELENA
DINIZ:
“funcionamento do seu estabelecimento mercantil, agrícola
ou industrial, evitando a paralisação de suas atividades e
consequentemente a piora de seu estado de insolvência e o
aumento do prejuízo aos seus credores, o negocio por ele
contraído será valido, ante a presunção em favor da boa-fé".
[3]
Anulado o negócio fraudulento, a vantagem resultante
revertera em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar
o concurso de credores. Se o negocio fraudulento tinha o único
objetivo de atribuir direito real de garantia, a anulação
atingirá apenas a preferência ajustada (art. 165 do CC-02 e art.
113, parágrafo único, do CC-16).
Observe que a lei ao referir-se a consequência do
reconhecimento do vicio, consigna a seguinte expressão:
“Anulados os negócios fraudulentos...”
Mas será que a ação pauliana resultaria na prolação de urna
sentença anulatória propriamente dita?
A doutrina tradicional sustenta tratar-se de sentença
anulatória de ato jurídico, desconstitutiva do ato impugnado.
Esse é o pensamento difundido desde CLOVIS BEVILAQUA:
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“esse remédio e a ação pauliana, revocatória ou rescisória,
pela qual o credor obtém a anulação do ato que diminui a
soma dos bens de seu devedor, para neles fazer execução,
quando outros não existam em quantidade suficiente para a
satisfação do debito.”[4]
Pablo Stelze e Rodolfo Pamplona acreditam que a decisão final
na ação pauliana e, simplesmente, declaratória da ineficácia
do ato praticado em fraude contra credores. Vale dizer, -a
ação visa adeclarar ineficaz o ato apenas em face dos credores
prejudicados, e não propriamenteanula-lo ou desconstituí-lo.
Os princípios gerais da teoria das nulidades nãodevem se
aplicar aqui.
Nesse sentido, e a lição do Prof. YUSSEF SAID CAHALI,
citando NELSON HANADA: “desde que, no ato praticado em
fraude de credores, a simples declaração de ineficácia, isto é
a declaração de que o negocio jurídico não prejudica aos
credores anteriores ao ato, por ineficaz em relação a eles,
porque a esse ponto não entrou no mundo jurídico, e
bastante para satisfazer o interesse dos credores, porquanto
isso e suficiente para que os bens possam ser abrangidos pela
execução como se ainda se encontrassem no patrimônio do
executado...”. E em outro ponto de sua obra conduz o mesmo
autor: “parece-nos, porem, que o efeito da sentença pauliana
resulta do objetivo a que colima a ação: declaração de
ineficácia jurídica do negocio fraudulento”.
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Indiscutível a razoabilidade desse pensamento, inclusive em
se considerando que se o devedor conseguir numerário
suficiente para saldar as suas dividas, o ato de alienação
subsistira, não mais se podendo defender a sua anulabilidade.
A despeito desses lúcidos argumentos, o Novo Código Civil
preferiu seguir a teoria tradicional, considerando de natureza
anulatória o provimento jurisdicional final na ação pauliana
(art. 165 do CC-02 e art. 113 do CC-16), como regra genérica.
Nesse sentido, pontifica o ilustre Min. MOREIRA ALVES:
“O último dos defeitos de cuja disciplina trata o Projeto e a
fraude contra credores, como sucede no Código Civil atual.
Igualmente, manteve o projeto a anulabilidade como
consequência da fraude contra credores, embora reproduza,
no art. 160 a regra do art. 110R do Código, na qual Pontes de
Miranda identifica hipótese de ineficácia relativa”.
Vale lembrar, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça, a
despeito das controvérsias existentes, editou a Súmula 195; no
sentido de não admitir a anulação por fraude contra
credores em sede de embargos de terceiro. Salienta-se, com
isso, a importância que se atribui a natureza anulatória da
ação pauliana. Se reconhecesse a tese da ineficácia, ficaria
mais fácil admitir o deslinde da questão em embargos de
terceiro, desde que fossem citados todos os interessados.
2.2 Fundamentos da Ação Pauliana
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Os fundamentos da referida ação, que são as causas de pedido,
de acordo com atual Código Civil, são as seguintes:
a) negócios de transmissão gratuita de bens;
b) remissão de dividas;
c) contratos onerosos do devedor insolvente;
d) antecipação de pagamento feita a um dos credores
quirografários, em detrimento dos demais;
e) outorga de garantia de divida dada a um dos credores, em
detrimento dos demais.
Atos de transmissão gratuita e de remissão de
dívidas— A lei permite que se anulem os atos de transmissão
gratuita de bens, quando os pratique o devedor insolvente, ou
que por eles fique reduzido à insolvência (CC, art. 158).
Na hipótese não cogita a lei de saber se houve entre doador e
donatário o ajuste fraudulento. Presume irrefragavelmente a
existência do propósito de fraude.
Em rigor, poder-se-ia justificar o dispositivo por outras
considerações. Com efeito, se o doador é insolvente, isto é, se
deve mais do que efetivamente possui, e faz doação de parte
do seu reduzido patrimônio,na realidade está abrindo mão
daquilo que indiretamente pertence a seus credores.
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A lei considera irrelevante estar o donatário ciente ou não da
insolvência do doador. Despreza a circunstância de serem as
partes cúmplices na fraude. O ato é anulável porque o
devedor, na verdade, está doando coisa que indiretamente
pertence a seus credores. Aliás, na hipótese de uma doação
efetuada pelo devedor insolvente, encontram-se em choque
dois interesses diversos.
De um lado, o interesse dos credores porventura burlados, que
procuram evitar um prejuízo, qui certant de damno vitando;
de outro, o interesse do donatário, que procura assegurar um
lucro, qui certat de lucro captando. Cada vez que essa
situação se propõe e o legislador tem de escolher entre um
desses dois tipos de interesse, ele prefere acolher a pretensão
de quem busca evitar um prejuízo, porque tal solução se lhe
afigura mais justa.
A mesma solução é aplicável à remissão de dívida, porque tal
ato representa uma liberalidade. As dívidas ativas do devedor
constituem parte de seu patrimônio; se ele as perdoa, tal
patrimônio, que é garantia dos credores, se reduz
proporcionalmente. Portanto, seus credores têm legítimo
interesse em pleitear a declaração de ineficácia do perdão,
para que os créditos remetidos se reincorporem no ativo do
devedor.
A ação pauliana com fundamento em liberalidade só exige
prova da insolvência do alienante-devedor. Todavia tal prova é
indispensável, porque se o devedor for solvável, seu ato, ao
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invés de defeituoso, será perfeitamente legal, não se
configurando, por conseguinte, o interesse do credor para
propor a revocatória.
Atos de transmissão onerosa— Se os atos de alienação de
bens levados a efeito pelo devedor insolvente o foram a título
oneroso, muda-se o panorama, porque agora entram em
conflito dois interesses igualmente respeitáveis: o dos
credores do alienante e o do adquirente de boa-fé. Com efeito.
Se de um lado o ordenamento jurídico quer garantir
aos credores o recebimento de seus créditos, de outro, quer
assegurar a firmeza das relações negociais, não permitindo
que pessoas que a título oneroso adquirirem bens do
insolvente, sem conhecer ou poder descobrir tal circunstância,
possam ser burladas na sua boa-fé e ludibriadas na justa
expectativa de que o negócio, por elas aceito, revestia- se de
toda a legalidade e segurança.
Entre esses dois interesses é o do adquirente de boa-fé o que
vai ser preferido pelo legislador. Se o adquirente ignorava a
insolvência do vendedor, nem podia, com diligência ordinária,
descobri-la, vale o negócio efetuado. Verdade que em tal
hipótese os credores sofrem prejuízo, o que representa uma
injustiça e um inconveniente, que são menores do que os que
resultam da atribuição da perda ao adquirente de boa-fé.
Aliás, note-se que, dada a boa-fé do adquirente, falta, no caso,
o consilium fraudis, pois o propósito fraudulento só existe no
espírito do devedor alienante. Entretanto, se o adquirente
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estava de má-fé e ingressou no negócio sabendo da insolvência
do alienante, cessa a consideração que merecia da lei, e esta o
presume, de maneira irrefragável, cúmplice no negócio
fraudulento, que, por conseguinte, pode ser revogado. A má-fé
se caracteriza pela mera ciência, por parte do adquirente, do
estado de insolvência do devedor. Sabendo dessa
circunstância e não ignorando que o patrimônio do devedor
responde por suas dívidas, o adquirente revela seu propósito
de pactuar com a fraude e assume o risco pelo prejuízo
eventual, decorrente da anulação do negócio jurídico.
A lei presume o adquirente sabedor da insolvência do
alienante quando esta for notória ou quando houver motivo
para ser conhecida do primeiro (CC, art. 159). A notoriedade
da insolvência se revela por atos externos, tais como o
protesto de títulos, o ajuizamento de ações executivas, os
protestos judiciais formulados pelos credores etc.
Por vezes, entretanto, embora não seja notória a insolvência
do devedor, tem o outro contratante razões para conhecê-la.
Jorge Americano refere-se a algumas presunções que
decorrem das circunstâncias que envolvem o negócio. Assim,
os contratos se presumem fraudulentos: a) pela
clandestinidade do ato; b) pela continuação dos bens
alienados na posse do devedor quando, segundo a natureza do
ato, deviam passar para o terceiro; c) pela falta de causa; d)
pelo parentesco ou afinidade entre o devedor e o terceiro; e)
pelo preço vil;/) pela
alienação de todos os bens.
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A fraude ainda não ultimada— O Código Civil contempla
a hipótese da fraude ainda não ultimada em seu art. 160, que
diz: Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente
ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o
corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a
citação de todos os interessados.
Aqui mister se faz ressaltar a importância de um requisito, isto
é, o fato de o preço ser justo, pois, como observa Beviláqua, se
o preço da aquisição não for o corrente, e sim outro inferior,
há motivo para supor que o adquirente seja culpado de
malícia, tendo os credores, consequentemente, razão para
reclamar contra o prejuízo que experimentam. Se o preço for o
corrente e se o comprador que ainda não o pagou deposita-o
em juízo, cessa o interesse dos credores, que, por conseguinte,
perdem a legitimação ativa para propor a ação pauliana.
O pagamento antecipado de dívidas — O ordenamento
jurídico pretende estabelecer no concurso creditório a maior
igualdade possível entre os credores quirografários. O
patrimônio do devedor é garantia comum de todos, portanto,
todos devem ser aquinhoados proporcionalmente. O devedor
que no vencimento paga dívida já vencida procede licitamente,
de maneira que seu ato é válido. Entretanto, se salda débitos
vincendos, comporta-se de maneira anormal, o que por si só
revela seu propósito fraudulento.
Aliás, o pagamento antecipado de dívida frustra aquela
igualdade, acima aludida, entre os quirografários, igualdade
essa que o legislador quer preservar. Daí a lei conferir, aos
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demais credores, ação para tornar sem efeito tal pagamento,
determinando que o beneficiado deve repor, em proveito do
acervo, aquilo que recebeu (CC, art. 162).
Outorga fraudulenta de garantias— Esse mesmo anseio
de igualdade inspirou o legislador ao editar a regra do art. 163
da lei civil, que prescreve: Art. 163. Presumem-se
fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
Nas dívidas garantidas por penhor, hipoteca ou anticrese, a
coisa dada em garantia fica sujeita, por vínculo real, ao
cumprimento da obrigação. De maneira que, estabelecido um
direito real de garantia, tal como a hipoteca ou o penhor,
surge para o beneficiário um direito de preferência em face
dos co-credores; preferência essa que consiste na prerrogativa
de destinar todo valor da coisa ao exclusivo pagamento de seu
crédito. Consequentemente, aberto o concurso, os bens assim
onerados se destinam ao pagamento dos credores preferentes,
e somente as sobras, se houver, irão compor o acervo
concursal.
A concessão de garantia feita pelo devedor insolvente a um
dos seus credores representa, portanto, ameaça ao direito dos
outros, porque a coisa dada em garantiade certo modo sai
parcialmente do seu patrimônio, para assegurar a liquidação
do crédito hipotecário ou pignoratício. Os demais credores
certamente receberão menos, para que o beneficiário da
garantia receba mais. E tal desigualdade que a lei quer evitar,
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e por essa razão, presumindo fraudulento o procedimento do
devedor, concede ação anulatória aos prejudicados, para que
tornem sem efeito a garantia concedida.
Note-se que, no caso presente, o que perde eficácia é tão
somente a preferência concedida a um dos credores, e não o
crédito do qual é ele titular. De quirografário que era, tal
credor passou a ser preferencial com a concessão da garantia;
anulada esta, por se presumir fraudulenta, volta seu
beneficiário à primitiva condição de quirografário
(CC, art. 165, parágrafo único).
Neste, como nos demais casos acima apontados, a lei presume
o intuito fraudulento, pois são atos anormais, discordantes do
comportamento ordinário e que, por conseguinte, não se
podem explicar a não ser pelo propósito de ludibriar os
credores do insolvente. Tanto isso é verdade que, se tais atos
forem de caráter ordinário e indispensáveis à manutenção do
estabelecimento agrícola, mercantil ou industrial do devedor,
a lei não impede que este último atue amplamente na órbita
do direito, alienando e onerando bens. Assim, embora
insolvente, se o devedor concede um penhor agrícola
onerando sua safra, tal penhor não pode ser anulado, porque
constitui um procedimento ordinário, indispensável à
manutenção da exploração rural.
Legitimação ativa e passiva para a ação pauliana—
Capitulando a fraude contra credores como defeito do ato
jurídico, o legislador o declara anulável, se portador de tal
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vício (CC, art. 171, II). Trata-se da ação revocatória, também
chamada pauliana, de origem inegavelmente romana310. No
direito romano, o processo de execução sofre nítida evolução
quando, por meio de longas etapas, o devedor deixa de
responder fisicamente por seu débito, passando seu
patrimônio, e apenas ele, a garantir suas dívidas.
Atingida tal etapa surge, contemporaneamente, como é óbvio,
a possibilidade de o devedor, mediante fraude, tornar-se
insolvente, pela deliberada alienação ou oneração de seus
bens, feita em detrimento de seus credores. Viu-se então o
pretor na necessidade de estabelecer um remédio que tomasse
ineficaz referido comportamento, de resto incensurável
perante o jus civile. Foi o que fez concedendo aos prejudicados
a ação pauliana.
Como se vê de sua origem, a ação revocatória se inspira no
princípio geral de repúdio à fraude e no propósito de evitar
que o devedor burle, usando de malícia, a fé do contrato,
frustrando sua execução, ao procurar, deliberadamente, a
insolvência.
Só têm legitimação ativa nesta demanda os credores
quirografários que já o eram ao tempo em que os atos
malsinados se celebraram. Os credores posteriores a tais atos
já encontraram o patrimônio do devedor desfalcado, não
podendo, por conseguinte, reclamar contra uma situação deles
conhecida, ou que só desconheciam dada sua própria
negligência. A fraude, se fraude houve, não os prejudicou, não
tendo, portanto, interesse para alegá-la.
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Os credores com garantia real não podem tampouco intentar a
ação pauliana, reservada, como diz o art. 158 do Código Civil,
apenas aos quirografários. Isso porque aqueles credores
encontram, nos bens que garantem especificamente seus
créditos, acervos com que se pagarem. Se tais bens forem
alienados, o direito de sequela, conferido ao titular do crédito,
possibilita a penhora dos bens dados em garantia, nas mãos
de quem quer que os detenha. De modo que também aos
credores com garantia real falta interesse para propor ação
revocatória.
O art. 161 do Código Civil cuida da legitimação passiva na ação
pauliana, dizendo que podem ser réus na demanda: a) o
devedor insolvente; b) a pessoa que com ele celebrou a
estipulação fraudulenta; c) os terceiros adquirentes que hajam
procedido de má-fé.
3. Conclusão
Os negócios jurídicos fraudulentos, aqueles previstos no artigo
171, II, do Código Civil, podem ser anulados por meio da ação
pauliana ou revocatória.
Em primeiro lugar, pontua-se as espécies de negócios
jurídicos fraudulentos: são aqueles realizados mediante erro,
dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra credores.
A ação revocatória tem o escopo de tornar ineficaz o ato
praticado em fraude contra credores, foco deste trabalho.
Além do mais, trata-se de uma ação pessoa, dirigindo aos que
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participam do negócio fraudulento e terceiros adquirentes de
má-fé. Tem como maior objetivo conservar o patrimônio do
devedor insolvente, mantendo-o como garantia dos demais
credores.
As causas de pedir da ação pauliana descritas no atual Código
Civil são: a) negócios de transmissão gratuita de bens; b)
remissão de dividas; c) contratos onerosos do devedor
insolvente; d) antecipação de pagamento feita a um dos
credores quirografários, em detrimento dos demais; e)
outorga de garantia de divida dada a um dos credores, em
detrimento dos demais.
Assim como já foi dito, a ação pauliana existe na historia da
humanidade há muito tempo, e desde então nunca perdeu sua
eficácia, ao contrário, somente se aprimorou para beneficio
dos credores. Esse dispositivo revoga a disposição de bens do
devedor, possibilitando ao credor bens para penhora suprindo
a divida. Ou seja, sua principal função tem sido evitar que o
credor seja lesado mediante ação fraudulenta oriunda do
devedor.
4. Referências Bibliográficas
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Renovar. 5ª edição, 2003
BRASIL, Código civil, 1916. Código civil. Disponível em:
Acesso em 18 de out. De 2013.
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BRASIL, Código civil, 2002. Código civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.ht
m> Acesso em 18 de out. De 2013.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, vol. 1
Teoria Geral do Direito Civil – 24ª edição, 2007.
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo
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vol. 1 – 16ª edição, 2012.
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Saraiva. 34ª edição, São Paulo, 2007.
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Página 21 de 22
[1] GAGLIANO, 2001 apud Washington de Barros Monteiro,
2000, p. 227.
[2] GAGLIANO, 2001 apud Carvalho Santos, 1955, p. 440.
[3] GAGLIANO, 2001 apud Maria Helena Diniz, 2001, p.131.
[4] GAGLIANO, 2001 apud Clovis Bevilaqua, 2012, p.425.
Disponível em:
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