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;f * af x »\.: `- '1.:. \.|¡ *.^..| ' '-;T¬'.| E äí “ ¬-ix, -zâ¬,;.¿ ._ .ua _, -¬¬à-¬.-v¬.›¬,-f¬¬_. í ¬'í"¬^"" _*«'___,_f H E 3 HJ- ¢ _ _. _... ‹‹@.›‹š~ú›a‹ _ S2fl)JUu›< 23° %> nQ{ ¶°0äã*ásNfl)í CL zmia ELEMENTÓS PARA ORIENTAR Miura E êr 4 opa --¢ í'¡¶'=¢Zb% -` *_e?.{!¿'|If ¬. H 'T 2.-W.” v.¡;, za Mv* ›› ' sâgfl ? Ãíã ' É z l \ 1 \ I Y z_i rz:|:1.t:rzgÊ12a12.n:t;} S|lv|o Antomo Colognese Nelson Dacno Tomaz: Ronaldo Baltar z-.-VISBV 8598175 33 5 E Fundamentos do Trabalho Academnco I Q IMA y En TDRA®1 ouuâÕ Áxêm ~- _..-¡.,A- --fm -.r-«_ ›-fra fg; *_ ___ ,__ _i__ - -1»-.-.--v-¬¬ mas _ *'ëF“^Fñ”*““_ :hà-* iãz;="-'11 .fPig, í E i' -R5-.Íi É, É. 1, 4-.z-egfášä' ;»,J¿¿‹ ;“.. z, 5-fã ig 1 fe* 5? FÉ `-'ÂÊÍ F1:11,; 1-.íf 75» .fi * ._ V i. . iâé'et' 1 q -i1 i E É 'i i, . ' ) z 5 Os autores da obra são doutores. com experiência de mais de -vinte anos no ensino e' na pesquisa, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Publicaram dezenas de livros e artigos científicos especializados sobre temáticas variadas das Ciências Sociais e Humanas. Atuam em universidades públicas do Paraná (Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Universidade Estadual de Londrina e Universidade Federal do Paraná). Suas longas experiências no ensino e na pesquisa consoiidaram a idéia da necessidade de repensar as concepções e materiais de apoio à formação de nível superior. O predomínio da leitura e discussão de textos como metodologia de ensino. e da elaboração escrita (resenhas. resumos, artigos, trabalhos, monografias...) na avaliação do 'desempenho acadêmico nos cursos, tornam a aquisição destas habilidades pressupostos decisivos para uma sólida formação superior. l\la sociedade atual, o conhecimento copiado e repetido cede terreno para o ELEMENTOS PARA ORIENTAR A LEITURAEA ESCRITA FUNDAMENTOS DO TRABALHO ACADÊMICO I z-š ED TOFIAfgoqäirifw-cxA E n n -- - - -z. _ 1- i i lll l Q _ ir ^\,'i . ›,~|› I ' › 1›.HH .¡,. ií 'i. i , 1 ' `r 'E ....;`.__...c$;-._._<__..;_...__, I-:_t .ill fl 'Zi-' .fi›4,. __,_.._ ¬.z Ai--‹z fz. ¿šzͧ fi; ....f¡_»_A, 4 ,iiz-'. z -_, =. -' :ll - i .a¬ -zé t i ¿_1- z l I l .=,- x; š\ ..:LúifAaii ' _' E ° . Editora Coluna do Saber Conselho Editorial Nivaldo Missio Sôtcl (Presidente) .Ademir jesus da Veiga Beatriz Helena Dal Molin Elizabeth l\/Iaria Lazarrotto Et-neldo Sclmllcnbergcr jefferson Lobo da Silva José Otacílio da Silva Nilson Rosa Fmria Pery Fmncisco Assis Shikida Rosana Katia Nazzari Silvio Antônio Colognese Valdir Gregory NELSON D. TOMAZ1 _ _ RONALDO EALTAR . s1Lv1O A. OOLOONESE - 51! ELEMENTOS PARA ORIENTAR ' A LEITURAEA ESCRITA .FUNDAMENTOS DO TRABALHO ACADÊMICO l :`.l "l`¶ ` O3 iiÊ'ii\ '_ O _ r\*,, E§.l....› - z z _ __. 4 ¬..r -_ »‹.- z ...sm-,.,-a:.,¬; -. - " '*""""_ ' " Mm” '¬ " _ “ii . ‹ 1- -1.- 'i .‹'. . i Íi ig-z i I - › -íâz. aii.sil fill›g.i .filê›,¿i~i .¿¿ li làiiii ll Wi fi, li.1 ui«is.i 1?aii li.zlif *iiit Í'êi il âzzi..-¡i Í l--l.z .iii :iii li 'l l ii› ,zz,ä_ fiz .› .V l E.,, il ,i¬ ii' z¬ ~_ l 5: 123. il' iiéí l.l- _ .._, Q.ff-1 lí;-1* i 9,1 -_‹ f.,.›]øí'; FI ir «I _ i li l | l l li ¡. Copyright @2005 dos autores Edição Editora Coluna do Saber 1 Editor Nivaldo Misslo Bôtel Projeto da Capa Gráfica Imprevel fz Ilustração/Fofo da Capa Giovana Pasquini Imagem ltalianovø. Diagramação Danielle Gemelll _ Revisão Técnica Marcos Antônio Lopes Ficha Catalográfíca Simone Fidêncio de`OHveira Machado CRB - 9 /1276 T655 "l`omazi, Nelson D. _ . l*'UND/WIENTOS DO 'FRABALI-IO ACADEMICO: i Elementos para orientar a leitura e a escriln I Nelson D. Tomazi. I Ronaldo Ballm' / Silvio A. Colognese - Cascavel : Ed. Coluna do Saber, 2005. l82p. ' l4,5 x 21 cm. ISBN 8598475-33-5 l. Educação. 2. Leitura 3. Escrita l. Titulo Il. Autor .L ¡ gt›D_«_s7p Direitos autorais reservados, não podendo ser comercializado ou impresso, sem a devida autorização escrita dos autores. (Lei-11” 5.988/ 73) EDITORA COLUNA DO SABER Rua Fagundes Varella, 1628 Fone (45) 8226-9000 CEP 8581 7~260 Cascavel - Paraná colunadosabe1@bf'lurbO.com.br P l ¡ l I _ SUMÁRIO APREsENTAçÃo;.........____.. ...... ..... ó' il. PORQUE A LEITURA E A ESCRITA NA A * UNIVERSIDADE.............................;;z...;.¿.~..~.' . .. ....'..'.Í...1'1 ' 1.1. A Leitura ie aflscrita na-EraEletrô11icaí.z;.;............. - 1.2.. '.'Eor1nar" 1Jam a Sociedade do Conhecimento......... ;.......l4 2.. A LEITURA: LER PARA ENTENDER....I............. ..... ..`.19 2.1. Ler ou Não Ler, Eis a Questão! ______________ ........I9 2.2. Ler é Um Ato clc COmunicação...........;.;..-....:......;........................2l 2.3. Saber Ler é Tambéni lfšliminâir 'Ruíclos' na Comunicação.__.._.23 2.4. Um Labirintode 2.5. Para Compreender tt Leitura............. .. ........26 2.6. Três Perspectivas de l.eituta..'............... ._ ........28 2.7. Lei: o 3. EXERCITANDO A LEITURAE A ÍNTERPRETAÇÃO: . 'TEXTOS SOBRE O ATO DE 3.1. A Importância do Ato de 3.2. Exercício de Leitura e Análise de Texto........_ A l..citura Como ........5l 3.4. Textos e Possibilidades de Leitur11................. ..:.....54 3.4.1. Texto curto com muita informação....'.f...._ . _..._...54 3.4.2. Texto de ........55 3.4.3. Texto necrológio.............................. _. ..... ..56 3.4.4. Texto nrgunientativo...................... .. ..... ..57 3.5. Ler e Escrever / Pensar e Existir.................._........ ~ \_/ 4. REGISTROS DE LEITURA....... . 4.1. _.......65 4.1.1. Como e porque surgiu o fichê11nentO.......___..__.......................66 4.1.2. Tipos de registros que devem ser feitos no fichzunento....68 4.1.3. Como testar a consistência dos registros feitos....'....___...I...._70 4.1.4. Exemplo de ficltamcnto ( Livro: O que é leitura).;._......L......_72 4.2. ......... "S3 _ _ _ _ __ ._.¬_ -_ .-¬- i- ....=....`¶ ffi;,;T_-:,=.‹›~-.~..,z.=;z;;-¿â_<=.-;-_._.zzz,_;-z¿z¿ fl‹ ‹ - ` s v 'si iI '..'E 2 11. Í Í* fl.É .Ê ¬%'¬-z_._.....¬_-=.¬-as»-.‹...1. . :iii .Iii.; à.çi -_...-, .ff i .'l' ir .gl z `¬i -'.=_ J., fl._¬ : ...fé E L_ sig filiš iiílêil; .sliiEl; if:.ivii": -ii.Ê EJ Í i ~;i:. líi 1à.š `.._¿ii :Ê."`›.-fl” H-1 l ' íllñz-iii_-gil = fiiâ,iâi ,¿ i .à ._ i -L ..;i Zzist i i i . Íf; 1;=i i › 11:* ' lã; '1If |›.». Ê i‹¬¬=`3. 'z¿=¡¿ I . .Ê F 7 - _ _ . 4.2.1. O que deve conter um rcsu1no........ .........84 4.2.2. Resumo c fichamento.................... ¡ 4.2.3. l-Exemplos de resumos......... ' 4.3. -A 4.3.1. Partes de uma rcscnha........,................. I 4.3.2. Dicas para escreve-r uma rcsenha.......... ` 4.3.3. Exemplos de 5. A ESCRITA: ESCREVER PARA SE FAZER ENTENDER..99 5.1. Prcparandwse Para 5.2. Textos dc Reilexño Sobre a "Escrita"......... .......'l04 5.2.1. A palavra escrita..... ......... ...........104:° 5.2.2. A global.i'zaçäo dos significados........ .......lCI7 5.3. Organização Produção de idéias............ 11 5.3.1. 1*"aze1'um plano para a escrita/ plancjar............. 5.5.1.1. Para quem vamos I 5.3.1.2. Qual é 0 tempo que temos para desenvolver o iexto.....1'.i3 5.3.1.3. O espaço ou quanto posso 1.8 5.3.1.4. Esiiio predozninailtc do tcxro................. .......119 5.3.2. Organi7.ai1ri‹_› as .......122 iëía 5.3.2.1. ¿\ssociag;ão livre de idéias. ..... If 1i 5.3.2.2. Cateimrizaizal-:›':às idéias c dcliêziifmldo o assunto........... ..124 ' 5.3.2.3. O te.x|:o esciim re-:êuitante da orgaiiização de idéias....... .(128ii; i A -. g 5.3.3.O.rgani:f:ação e Produç:Í‹_\ de ngm. ' 5.3.3.1. Alternativas para a rcrlaçâo da introduçiÍo.......... .......133iií 1 I= ~1:; ' Íi F :JL 1' ` 5.3.3.2. O desenvolvimentodo .......'l35 1 5.3.3.3. A construção dos parágrafos.... .......136 5.3.3.4. Dicas para a redação da conclusâo......... .......137 5.3.3.5. O sumário definitivo do texto.............. .......139 5.3.3.6. Correção e revisão do texto..... . .......140 5.3.3.7. "Da inquietação ao texto £`inal"....... .......141 6. ESCREVENDO OU ENROLANDO ( OU A ARTE DA Í ó.i. A “T¢z.zàz dz;1<zzzm1zúiviâzà@'*..................,... ........14s dv 6.2. Texto Difícil de Entender x Enro1ação.......... ..._.....153 _ _ ._ -A -__ __... _...-.5s='.'.¢?_-3;¿=ê~.~.¬-zz-<_-W ¬. _ ¡ W _ _ -¿__¬,.- 1 E | | I › I 6.3. Quando e Como Fazer Citaç‹`)es..... 6.3.1.. Quando cirar.... 0 1 6.3.2. O que c Corno cilíar.... 6.3.2.1. ']"ipo.s de citações no interior clo texto...................... .. 6.3.2.2. Ex. dc citação direta no interior do 6.3.2.3. Ex. de citação literal arravés de nota de ro‹iapc':....... 6.3.2.4. iix. de citação indireta de idéias dc autor................... 6.3.3. O que c como relacionar as "rcf‹:rôncias"...... 6.3.4. Como escrever as referências........................................... .. .................z....‹........... .-...... ..›............. ..... ................. ›......‹. 159 159 160 160 161 162 163 164 165 7. PARA NÃO CONCLUIR: AVALIE VOCÊ MESMO1!l...169 7.1. A "Teoria do Medalhão" dc Machado dc Assis................... 7.2. Illxcreicios de Analise: para não conciuiriI!l................ REFERÊNCIAS.............. .. ""¬¬¬¬_,/ . . - › › › o › o ‹ ‹ à ¢ o o o ‹ ‹ ‹ ‹ ¢ ‹ ‹ ‹ 1 ‹ ‹ ‹ u ‹ ‹ u ¢ - . o . . . . . . . ¢ H 171 180 181 \ 11, šã ii 1 i 2' ; 121.A » iii* . .2. 1* fltçwi| (5. jfê; .. li. E.=5: Izw 2:1' ii.. -1 ›.ê“ =ai¬ Ti' ig:_ 5 wiÉâ.1'*;t` z .-P‹êz1 . 5. Jfff :'12 ¡ J. .:|¬f | '. ill* al ` 'fV L E¡ I 1 :___ j. LÍ-.i;..i . , , ílšíii i'Í.;1 .içgz i:-1: ,.z~ I ti .ç- z z | ; Í i t l jjlrii -~ ir Wi l jl1 f I É › › i 1 ou ; i . 1' ' I 1 1 i u APRESENTAÇÃO Ler e escrever, escrever se ler. O que vem antes e o que vem depois? Ou ambos andam juntos? Seja um 'ato ou outro isso não importa, pois ambos vivem juntos e é muito difícil separá-los. Somente lemos porque alguém escreveu e só escrevemos para alguém ler. ` Dividimos a abordagem desta questão em duas partes: a primeira trata da questão da leitura; a segunda a da escrita. Corno você pode notar, fazemos uma divisão entre a leitura e a escrita, mas só por uma questão didática. O que apresentamos aqui não é uma discussão aprofundada destasjxlestões. É apenas uma aproximação a estes dois temas e uma introdução para alunos que estão se aprimorando nas atividades universitárias. Este trabalho é uma tentativa de colocar no papel algumas experiências que, nós professores, viemos desenvolvendo em nossas aulas. Assim, ele é fruto de algumas práticas e reflexões docentes no nível superior. Esperamos que sejam acrescentadas novas reflexões dos nossos "novos parceiros" ou "co-autores", que sao os atuais alunos, como foram os demais. Antecipadamente agradecemos a todos. Os textos presentes no livro servem para ilustrar e sao exercícios de leitura e demonstração de formas possíveis de escrita e, além disso, estão presentes neste livro porque têm algo a dizer sobre o tema r ue a obra aborda. Assim ao lê-los estarão exercitandoT I um ato de leitura, tendo uma visão da diversidade de como se pode escrever e também uma oportunidade para discutir diferentes questões que afetam estas atividades acadêmicas. Antes de entrarmos nos temas mais especíñcos a que nos propomos (Ler para entender e Escrever para se fazer entender), vamos começar com uma primeira discussão sobre a importância da leitura e da escrita na formação e na produção do conhecimento!! _. _ _ _ ._ _. z...,.....z._.§.v,¬.f..§Jvi:us.f.._ .- , V - _ .. .. , _ ¬ _ \ 1 \‹ 1.. tz « -un.-zw ri-i 1-`.i. É f.É if: Efi- ~ :Êi zâ,ii.»\;¡›.¡. ,..;.. ti~ë_; 5:§‹`¡. i 11 Í; .lt.. _¡..Í Ilê. É ‹ iiitš~1'l.`. âëijt › I.1, 'fií ..j_`t1fi ¬ii j: '. É `-1. Prt Bj . :iii:Ii .fiel1. *; ig : fi 21% ii ã 1 1:1;Í it. fil;‹ “ii- 'Ê 35” sí: . * A z. Í1¬ T ° 1 1.z I. : _ ` 1 l \ L :|'=J Ífa: z.ra; _ . air . -1;- & ;-.â .ëâffiš ' ,--.-.-.fz _\_;_ | â | 1 lã; , zw ¡ _-,.z \ Y *Í À\\ 1 \\ \ \ J I \ POR QUE A_LEITURA * E A ESCRITA NA UNIVERSIDADE Ef. 111€zg :ff fêz. hà lí E: Ê*-P, “I .-¿_ . _: 1 JH \ Á â~~-â 1 ví: R iii* ._ i__í._.. _ .. .._›._.._ _ _ _ __:__=`4,7,~fi._ ›r-T3‹«¬`.-_'-,?1›¬¡~;z. ¬V=. . - ---- ›¬ _íí.-_?›››› - - ¬ ‹ ¡'ílà\ ¡ ~I' ._¬ =! i-3 ÉH4;; I”JsaI ›: 1 É z,r '¡_ ví 1 . z 'x L â =. Iëifâë I r .| .'“-. “_ .À› ¡z._.-fV:.›¬; fz? :ig E ¡; Í ré E ~.¡|¬1 aii I 1 Í ..‹,_ F›: À 1 É í ¿_ Í.`. Í. `. `. É¡¡...1 í I 2: E-.`. É F Í: `f í í š: ` z zâz 1 5;. ã `í~ͧÍl.-2.-1:1%'..¡= .. 15'- ; i i 5 í Ç 1 '-2 ¡:f:5 ÍÍÍÊ 1 lEi¿ _ li .. A ¡'. i i Í *lr ii E , v P? É; ll¡: L.. _ z \ a ä r ! 13 1. POR QUE A LEITURA E A ESCRITA NA UNIVERSIDADE 1.1. A Leitura e a Escrita na Era Eletrônica A preocupação com a escrita (e a sua leitura e interpretação) é tão antiga quanto a sua existência. Apesar da importância das imagens e, -dos meios eletrônicos na atualidade, a palavraescrita é ainda a nossa principal ferramenta para comunicar O c0nheci.mento e para compreender o mundo. ç Com a emergência da chamada sociedade do conhecimento e a velocidade crescente na renovação do saber científico, a fixação dos chamados "conteúdos da ciência" se torna secundária em termos de ensino-aprendizagem, diante do desenvolvimento das habilidades para a compreensão do mu11do, que exigem reflexão e interpretação. Os conteúdos envclhecem e/ou podem ser superados e/ou acessados com extrema rapidez, o que torna decisiva a capacidade de pensar para se apropriar, criar e recriar conhecimentos. . A importância atual da preocupaçãocom a linguagem escrita se reflete na multiplicação de estudos, que abordam temáticas variadas em torno do tema. Neste sentido, existem autores que concentram suas preocupações em torno das práticas da leitura e do desenvolvimento de umahistória das práticas da escrita. Outros se preocupam com as relações entre a formação de nível superior e o dominio da linguagem tanto para compreender a leitura quanto para produzir textos e, outros ainda propõem a escrita como o principio da pesquisa, buscando problematizar o entendimento tradicional da escrita -como mero registro de um saber previamente desenvolvido e/ou assi/milado. . E claro que esta temática comporta também abordagens mais tradicionais no universo da ciência, como a da aquisição da leitura e da escrita nos processos de alfabetização, e do desenvolvimento da escrita em sociedades primitivas e/oude cultura oral, por exemplo. .Apesar dos diferentes temas enfocados, a abordagem desta temática e suas implicações no universo da ciência, remetem para o enfrentamento das relações entre comunicação oral e escrita, bem como entre a produção de sentido e a escrita de textos científicos e as recepções e apropriações dos textos pelos leitores. _ Neste trabalho fazemos uma reflexão em torno da mediação da linguagem escrita nos processos de formação e produção de conhecimento nos cursos de graduação e pós-graduação, especialmente da área de Ciências Humanas ciais.ea U1 O _ › . _ .. .__ . ›__.¬-_ -‹-.íf*"-'-'-'-'~ ~=i. - ¬›--- --¬ . -- › 1 lp- “'11 ' . i- fé' Í"i¡` 'IL l É.T |...xy . lv * rs 1 5. i Észi1i~`I%` z'?J'v;,.¡. i..ni,a,... F. _ if ti. itifgí ¡ :F lfíl.l . i. _, 1 v'i 1:1s_‹.~z Q .-‹t ¬e Í fig. `š . l. xl L ¡;==-;15-_-_ 5- ;!¿‹z id z g. . ;fa Éfsril ía ã ' “í ¡ ~i.¡i |, É li. . i, Ii il ,.E lz ,' E -l í lili fz.: _se li Í” z.`|I i:.-1. .- :'*. izl ifz., l = i 59% if!let l '.i£f:::`."*! ..iç-TE ` 'lã-fã.,,¿ I t.-3*l1É;; ..i?=-2; . ri i . l i › ~ i *ÍÍLC As _, . __ _____ .. .-._._.¬-, ¬,¬$.,É,:.,,p,¢$¿ä_,¬z=-.ez-z-.._....__.¬ «_ .. ..¬,.,___¬ ll I¬ ia.: i ~ E l 14 Esta preocupação se justifica diante da constatação do predomínio da leitura e discussão de textos como metodologia de ensir1o‹aprendi>zagem, e da elaboração de textos escritos (resenhas, artigos, monografias, dissertações, teses...), na avaliação do desempenho acadêmico nos cursos. Mais especificamente, busca-se discutir e apresenlzzf alternativas para o desenvolvimento dos processos de ensino- aprendizagem, em relação à aquisição das habilidades para a PWÕUÇÊO eãürítfl 6 21 recepção eapropriação dei textos científicos no meio acadêmico. O domínio destas habilidades é um dos preslsupostos para uma sólida formação, gepggíalmgntg no contexto atua. 1.2 "Formar" Para a Sociedade do Conhecimento a A Um dos traços mais marcantes da sociedade atual éia importancia estrategica crescente do conhecimento. Neste contexto, || ~ _ , - ‹ . N _ _ _ I üNao ha mais china para a repetição sem criatividade ou a repet1çao~ padrao, como se fossemos mcapazes de raciocinar”. Cada vez mais \ io ¬ _` ' ` ¡. ~ _se econhece que o conhecimento se constroi (nao se copia 5 nem 56 flfmâáflflfll ÍSt0 significa que toda apreensão de conhecimento resulta de um .processo de construção mental, que o reelabora de maneira propria. I-esta constataçao impõe uma reflexão tanto sobre o perfil do profissional a ser formado, quanto sobre as concepções e praticas de aprendizagem adequadas ao enfrentamento deste desafio. i O mercado de trabalho tradicional (para profissões e/ou cumprimento de tarefas definidas) para os graduados, está se ¬[ -I , ¬ ' . . À ,es reitando ic saturando rapidamente, o que mdma Q Qçorrencm de uma dinamica e flexibilidade crescentes no mundo das profissões Isto significa que não é pertinente priorizar na formação acadêmica a acumulação de conteúdos supostamente "prontos" da ciência nem dai '_ - -. ~ 'ec ona la para a picparaçao para o desempenho de atividades 'NISK ‹§ .- ~- .` . . . ~ . - - _ .Il R* \““ld°~ fl EUÍW 'ie C0flflll¡>ã<>- ln. (.lI¿I_*.. Os desafios da educação brasileira rw século XXI. são Paulo .~ cu.~:i;, was. p. 527 ' 15 específicas. "A rápida obsolescência do conhecimento torna os processos de aprendizagem tão ou mais relevantes que o conhecimento transferido"2 . _ _ O entendimento de que a formação se dá por um processo ,de construção do conhecimento, sugere que o perfil do aluno a ser formado esteja mais associado às capacidades de inovação, de elaboração, de formulação própria e de resolução de problemas (dc conhecimento), do que propriamente do domínio de certos conteúdos e habilidades praticas definidas previamente. neste sentido que defendemos como princípio primordial de aprendizagem o esforço reconstrutivo pessoal do aluno, um esforço que não pode ser substituído por nada, nem por instrumentos eletrônicos e nem pelo professor. _ Por outro lado, o desafio de formar pessoas/alunos que demonstrem capacidade de inovação, de elaboração e de formulação próprias, bem como de resolução de problemas de conhecimento. (portanto corn capacidade analítica e autonomia intelectual), requer uma adequação da concepção curricular _e das práticas de ensino~ aprendizagem. . Em termos de concepção curricular, este desafio implica em superar a visão tipicamente conteudista do currículo. Segundo Demo”, o currículo usual é composto de uma oferta intensa de aulas. Os percursos de formação são fracionados em matérias, em números e dimensões consideradas necessárias para preparar o aluno para o exercicio profissional. Como alternativa de superação, mas sem descuidar dos conteúdos, Demo sugere o aprimoramento metodológico, centtando o trabalho do aluno na pesquisa e na elaboração própria. isto por que as competências da autonomia intelectual e capacidade analítica, em termos de elaboração e formulação próprias, jamais podem advir de meras aulas. Não se trata de descuidar dos conteúdos, mas de reconhecer que diante da aceleração das trans formações no conhecimento e nas profissões, a necessidade de inovação constante coloca a questão de método como primordial. i *'-Mz\R(]()\'l'l`(lli, Jaques. A universidade (im)possível. Zed., São Paulo ; Futura, 1998. p. l77»l78 'Dl.'Ll\l(), Pedro. Pesquisa: principio cientifico e educativo. (ied. São Paulo : (§ottc'/., 1999 › ú ¢ ._zz-:›; . ¡rí- r›fi'ul. ll" jíti l*ii .ç if; iii 1 ii. 5ir 3 «¿, lí pi ¡=i li. lui-..¡. l i É iíf .u..úó*.'.-zzwzi. 1 .i ¡_1_ šl li fr li. li -lít.. . iii li ãl li'-*f idiz' .iiit,.1 Y. ,.¿ . É. :Í l -1! \ F E il.,,`,¿¡ 1. . ¡-. il tn I. fg. 'â .`_`¡¿ l 5 “izlll É -`=.1` 1 -ziél . ..-, Í. ill”1 ele1 |.=1 alt‹ i °lí 1 :ll ti ' .l`*”1 li`ãÍ; l-1: I. :- i-'-_-`¡' | É-var.: ; , .' FEE ' .,¡.:j¡_ ¡ :_ -ea ê i¿_ - ; ‹.¡.4.~.»›;z.'z.._';.;:¬« 1¬'~¬."'.\'-, \l'.,I-¡a ¡ l É !íl¿ - , ` EI ,ui |\. -..__ 1.7 `. , al 1 16 . Em termos das praticas de ensino-aprendizagem, este desafio implica em repensar o papel do professor e o material didático de apoio no processo de formação dos alunos; Mais que transmitir conteúdos, o papel do professor passa a se centrar na maiäutzkzíl, o que deve convertê-lo prioritariamente em orientador e avaliador permanenteido processo de aprendizagem (o seu papel não se define mais a partir do ensino ~ pelo menos na versão tradicional de ensino- mas sim do acompanhameiiito e avaliação da aprendizagem, agora centrada no aluno).¿Esta prática exige -do professor a capacidade de orientar, avaliar, acompanhar, indicar caminhos, sem qualquer apelo a fórmulas prontas ou consideradas perfeitas. Os caminhos que se descobrem ao caminhar podem ser mais difíceis, mas em compensação serão menos monótonos e estéreis. A adoção desta concepção curricular e de prática de ensino» aprendizagem pressupõe repensar os cursos e os materiais de apoio à formação, abrindo espaço entre as disciplinas para o exercício do pensamento e da elaboração própria permanente envolvendo alunos e docentes. Nisto parece consistir um dos desafios principais de formar para a sociedade do conhecimento: centrar a formação nas possibilidades do futuro, devolvendo a esperança para a caminhada nos riscos do presente. Como já dizia Rubem Alvess, ser bom em ciência, na vida profissional e no dia-a»dia, é ser capaz de inventar soluções. As soluções e respostas já dadas podem ser facilmente encontradas em Livros e receituários. As soluções novas é que abrem portas, .descortinam possibilidades e criam alternativas de viver e sobreviver. E isto exige autonomia intelectual, capacidade analítica e elaboração própria: capacidade de decodificar (leitura) e recodificar (escrita) conteúdos e conhecimentos por meio da linguagem escrita. A obra que colocamos à disposição do leitor neste momento procura responder a estes desafios. Bom proveito!! . 4 Maiêutica; Arte de levar um aluno ou interlocutor, através de um conjunto de perguntas, a descobrir conhecimentos que ele possuia sem que soubesse. 5 ALVU.S,Rul:›em. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e as suas regras. Scd., São Paulo r Brasiliense, 1983. 1 u I z q A IDADE AtRA,eENTENDER Ê I .tfj_,;,¿i1.í .zs=.,=«_-_¢l._'í-z»~‹-‹r‹›!.¬,,'à ':¡‹l zzr. Ê.Ã- .l i lnfIlll 1:lt il ., W; ,ll.l Ê,z ¡-pita .z .5 i .zi ' â:I 551 -ziu; 5,iii ã`|=§ l "šlš= 'Nf J \" H fl; fé ll-' Eli...,. â Elf,.l as,za -:z z.'l_; :fl= ¿;- I. l» "$l,. fa=_-liIlallJ, _ _ _ _ - - -- › ~~ | u- -1, t «li fill¬ É á 5 I I 1 ÍÍ .I _ z 1 _1 Ííl zi; if " M Í. ~¬¬:*-3-_... si;-'.:›1«‹,....... z.*Í.: ` |:-":› i' m| '‹ ¡_.._.,.p.V¡¡_!_,\ sš fi ‹I _._,...?._H..,.,,_¬¢..-¬--.---.¬..¬l.,....,..‹fA¬z.-¬.-._.«¬‹, .¬.~..¬.,_ ¡___.......__¬- › z O -- z l * 2. A LE1TURAz LER PARA ENTENDER 2.1. Ler ou Não Ler, Eis a Questão! Qualquer pessoa já ouviu dizer que ler É algo muito importante. A leitura é um meio simples e eficaz para que possamos trocar experiências, emoções, crenças e conhecimentos. A leitura permite que a imaginação e o nosso potencial de conhecer o mundo se amplie para além da experiência imediata. A leitura desenvolve a imaginação e a capacidade de reflexão, que tornam possível a criatividade. Imagine dois cidadãos que vivem em uma mesma cidade. Um é leitor assíduo de livros, revistas e jornais. O outro não gosta de ler. O primeiro cidadão, o leitor, certamente terá mais informações, conhecimento e terá vivido mais emoções do que o não leitor. Este segundo estará preso ao mundo que o circunda. Conhecerá e se emocionará apenas com as coisas que estão ao seu redor. O primeiro, por outro lado, tera uma vida mais rica. Através da leitura, ele terá a oportunidade de conhecer um mundo muito mais amplo que as experiências de seu cotidiano permitiriam. Poderíamos até pensar que o cidadão "não leitor" não teria tantas desvantagens porque ele assiste televisão e ouve rádio. Menos mal: alguém que procura se informar é melhor do que quem não possui acesso a nenhum meio de comunicação. Certo! Podemos considerar que os textos escritos, a televisão e o rádio são meios de comunicação, cada um com suas características próprias. Mas porque ainda poderíamos afrmar que quem lê possui vantagens em relação a quem apenas assiste TV ou ouve rádio? Primeiro motivo: livros, revistas e jornais são mais ricos em informações. Os textos da televisão e do rádio são curtos. O tempo é caro nestes veículos de informação. O volume de informações contido em um livro não cabe no tempo da televisão ou do rádio. Nestes dois meios de comunicação apenas uma pequena parte do assunto É transmitido para o telespectador ou ouvinte. Além disso, num curto espaço de tempo, é mais difícil refletir sobre os conteúdos veiculados. 1 ta | . ;tíšaãé'«H-¬‹ 1%'sllã 1:* .gw-...;;.,.. li > ` il ti 'r :']' l!É r .._\ . I |" l í . 5 ä Izíš .Q.J › ifu‹iêaê?wââ 1%Erii1'kiâís1:11.i:i ! ii ' CiE | l I l l lu l! . › ,z. l . r E .l ii | É.- :Êgl -z,: ¡.f _* š'fi ›.. , .Z É\ , _. 1* laz-4 E ¿_¬': AÍ ,,.: 1 1'?z'; iii'-É j'.›'.Í ,f-1 y w=.s¡_fi»s.-¬z_T-f-»--¬¬¬.¬---:---fz'-¬""'.-."frTrm rfp,-._ l=.-as ll'-Í 1 dz; -:".\L.`-}l`¡\f'i;í z lt; if  ¿¡l || l‹ .ml frli| j .¡ _` às ,I 1! li ljzfj...|. jrl Í* i Lt; Segundo, a informação é "filtrada". Como .apenas urna parcela pode ser informada, sempre existe alguém selecionando o que considera que pode ou não transmitir. Isto significa que, por mais idônea que seja a transmissora, a sua informação é sempre recortada sob o ponto de vista de alguem (normalmente o(s) proprietár-io(s) da empresa ou os editores profissionais). Isto vale também para os jornais e revistas impressos. Corn o livro ocorre o contrário. O leitor é quem seleciona o que vai ler e como vai interpretar o seu conteúdo. Uma vez de posse do livro, a leitura possibilita o acesso a tddas as informações que lá estão contidas, e é ele, o leitor, quem vai julgar se o que leu é essencial ou dispensável. O livro permite viajar facilmente no texto e refletir sobre o seu sentido. Mas, é preciso reconhecer que cada meio de comunicação possui as suas vantagens. O que desejamos destacar é que o ato de ler é indispensável e insubstituível. Além do mais, em se tratando de conhecimento acadêmico, a leitura se torna ainda mais indispensável. Informações veiculadas na imprensa escrita, no rádio ou na televisão são complementares a uma boa formação intelectual. Mas se estas são necessárias não chegam a ser suficientes. impossível conceber alguém aprendendo sociologia, economia, direito ou história sem ler os textos acadêmicos, que por sua maior complexidade, requerem uma atividade intelectual mais intensa. Muitas pessoas pensam que com a emergência da Internet as pessoas não precisam saber ler com atenção. Muito pelo contrário, a necessidade de saber ler com atenção e precisão é requerida e ampliada com este meio. Em terceiro lugar, outro fator que não podemos deixar de destacar É o prazer que a leitura proporciona. Somente quem ainda não descobriu a leitura pode achar que o ato de ler é uma atividade ,chata Quem já leu e entendeu 0 que leu, com certeza experimentou sensações únicas. Ler é muito diferente do tédio de quem foi obrigado a passar seguidamente os olhos sobre um monte de letrinhas sem sentido, amontoadas em páginas interrnináveis (ler não é pisotear o texto). Ler passa a ser um prazer quando se torna um momento de descobertas. Quanto mais você entender o que estiver lendo, mais gostosa será a leitura c maior será o seu envolvimento com o texto e mais satisfação poderá ter. ‹ j i jj j ‹ Vejamos então alguns procedimentos que podem nos levar a uma leitura útil e proveitosa. Ou seja, vamos tentar descobrir o prazer da leitura, que é também o prazer do conhecimento e as suas utilidades para a nossa vida. 2.2. Let é Um Ato de Comunicação O conhecimento é um ,processo de apreensão e 'leitura" do mundo. É um movimento contínuo de descobertas iniciado logo no momento em que nascemos. Ele é uma apropriação de um objeto por meio de diversas vias que interagem entre si: razão, percepção sensorial, intuição, imaginação etc. Existem muitas formas de conhecer 0 mundo e a sociedade em que vivemos. Em todas elas' há um processo complexo e dinâmico que coloca emdialogo constante o sujeito e o objeto de conhecimento. Ler é um ato importante para conhecer o mundo. Engana- se quem acredita que pode conhecer o mundos real apenas participando dos acontecimentos. Dizem estes que os livros são desnecessários: "o importante é viver a vida". Quem age desta maneira não percebe, mas está apenas vendo sombras, aparências. Conhecer o mundo não significa apenas experimentar o mundo, requer mais, requer rc flexão, interpretação! Somente assim podemos tentar explicar os fatos que nos cercam. Mais ainda, se o que queremos é mudar oimundo, então é necessário ir além dos fatos imediatos, devemos dialogar com as idéias sobre o mundo. Este diálogo é muito mais rico quando pode ser feito com o apoio da leitura. ' Vamos começar procurando entender um pouco o que é o ato de ler. Ler é mais do que passar Os olhos sobre as páginas. A leituraé um processo de comunicação. Pense nela como um diálogo. Ela não é um atoisolado, como se o leitor apenas absorvesse informações contidas nas páginas impressas. O texto escrito é como uma voz "adormecida" ou "congelada" no tempo e no espaço. É 0 leitor quem deve "acordar" ou "descongelar" o texto, para que ele volte a ter vida. Para reativa-lo a iniciativa sempre deve ser do leitor: se o leitor não pergunta, se ele não toma a iniciativa, o texto ,. â li If ¡Ei .lfj .I.'f:~“1'fi' 1:3fil..-;É."'Ç :za É fzl.__ J;-glzgç..,~ it .ii; tl .Ê ›í;¡- lifj illj-âšl pl fi=*.~â=_-1-;¬,1.; lili “elf : il bi' Í ,Ê juI ,t .i .¡.1 jf- .‹.jz.~ Hui. l iii il *l É 20 ` 2] if? L* el ' J i lí ` lp ig.. ii. li. là. if `š.:'-járt l É E;lx'lg ' : ,_.. . ;1. . EI j â. _ U. i -1 T Ê. 'if1,. ,. E t . t. lÍ Í 4.. >Í" fi.'__ " W 2 23 Ê. És fi .-1-ii fl fz liftif' `, E z.5«._` l ilší fš§= , _.. ¡z-.-.-r-fi-YA›¬~fi+:.-1:. ¬l›.l Í aí ii ~ .I':- , li não responde e permanece calado. Contudo, o texto nao responde ) i ' apenas ao que nós desejamos ou esperamos. Por isso é preciso estar ~ . . .,~H .' ~.- z. pronto para ouvir a sua "palavra", a sua "fala . As ideias que mais * atraem o leitor podem nao ser as mais importantes no conteúdo ' l do texto. Para haver entendimento entre ambos, são necessários * muitos diálogos, muitas conversas, durante as quais surgem novas l dúvidas, desconfianças, localizam~se afinidades c discordâncias, manifestam-se emoções. ' 1; ¡ _ Como em todo processo de comunica'i;ão, na leitura existe um emissor (quem escreve o texto) um meio de comunicação (o I próprio texto), uma mensagem (o conteúdo do texto) eçum E receptor (o leitor). Para que este processo de comunicaçao funcione sem problemas, alguns detalhes devem ser estabelecidos. Primeiro, o receptor deve ter acesso ao meio dc comunicação. No caso, o leitor deve ter acesso ao livro. Como toda mensagem é organizada atraves de algum código (no caso, para nós, este código seria a língua portuguesa), é necessario que tanto o emissor, quanto o receptor saibam decifrá-lo, isto é, conheçam M a língua portuguesa. Resolvidos estes detalhes, o processo de lÍ1l*LÊ comunicação pode fluir sem maiores problemas. (O emissor (escritor)-codifica (escreve) uma mensagem (texto) em um meio de comunicação (livro). O receptor (leitor) acessa (compra) o meio de comunicação (livro) e decodiflca (lê) a mensagem (texto). Se tudo áziljfli deu certo, o significado da mensagem do emissor foi entendido pelo receptor, que por sua vez pode responder com outra l mensagem, tornando-se então' um emissor. Assim, o processo de comunicação continua indefinidameiite. Parodiando um ditado Ê popular: coçar e comunicar é só começarl Para que a comunicação realmente se estabeleça, o leitor deve estar ativo diante do texto. Ele deve conversar com o autor. ç .Í Deve fazer perguntas c procurar respostas, deve refletir e responder ‹ ao autor para construir suas próprias interpretações. A leitura l , acadêmica (reflexiva) deve ser um diálogo entre o leitor e o autor e i não um monólogo. Deve ser um processo de comunicação de mão i dupla. O leitor não pode manter a mente adormecida e nem distante , ¶ 1 durante o dialogo com o texto escrito.r -fi -- -~¬-~ ¬' - --¬-----%¬--.¬¬‹›f›¬*f^1¬.'f›'*.*‹*=‹\~:'»f~f.*"*=='L"'¬¬"" “ , -› . -V ".-r= "¬ » ' -:-::z-.--¬-wT--- 2.3. Saber ler é também eliminar 'ruídosl na comunicação É comum ocorrerem "ruídos" neste processo de comunicação. O "ruído" pode começar na codificação (escrita) e decodificação (leitura) da mensagem. Tomando-se como código a língua portuguesa, se quem escreve conhece pouco a gramática c quem lê conhece menos ainda, então teremos um grande "ruído" na comunicação. Veja o texto abaixo: ' . "Os que tiveram mais votos foram os do partido do governo que apoiava o regime militar, enquanto a oposição tiveram menos porque foi quem defendeu contra o regime militar e quem teve que apoiar o regime para poder assim ter dois terços dos votos no total da votação." O autor desta mensagem, por mais boa vontade que tenha tido em expressar suas idéias, age como um torturador de mentes. Ele provoca 0 leitor com uma seqüência de erros de concordância e pontuação(ruídos), que afetam 0 entendimento da frase. Seu texto possui um estilo "sádico", pois obriga o leitor a perder tempo lendo e relendo suas frases para tentar extrair alguma conclusão deste único parágrafo. _ . _ i Com muito esforço, poderíamos tentar atribuir o seguinte significado ao texto: "políticos do partido governista apoiaram o regime militar para obter dois terços em uma tal votação". Será este o significado real? Se for isto, porque o autor deste trecho não escreveu direto, por que fez tantas voltas, onde estão as vírgulas afinal de contas? ' Conhecer a língua é tão importante para quem escreve como para quem lê. Leia com freqüência. Os livros são verdadeiros amigos, que nos aguardam com paciência e não nos abandonam. Se você se vira bem com um sintagma verbal e não se assusta com a ênclise, a próclise e muito menos com a rnesóclise, então, certamente, você deve ser do tipo que já descobriu há tempos a necessidade da gramática para o exercício de uma boa leitura. Com toda certeza, você Íá deve ‹ 1 ú ..i |.|. xSr É L .Ê (rilêl 4 É.f 1 l Ê “ ...-¡.....¬;,,,,.__-ci., ,.\ ft tá 1" t.,'i la- Í ‹'â|.. ~, 1 li 1» to ii là il' É ii1 tz ,la ,. É IE.1:' lí lÊipš 1 Í É; Ê. I11;' !;|`.' 20"-: is i as il?ii-af» Ê. iii l.' l li1;- š.:_ l. .ll-_. li- .lllš z â ¬ F š qi, z `› l i ‹ ¬ fzi Lil -Í ff.:31/. :è-1›z _~.z..i 'File ..r› ..i . É ._..,...¿\.._.c_" r-'-Mi~A _ ,.., 5 :llfã-ii; lifz l. _ ;|.il 24 ter se convencido que os livros devem fazer parte da sua vida! Se você ainda não tem muita intimidade com a gramatica, não perca tempo Ler também é um ótimo 'exercício para enriquecer seus conhecimentos sobre a estrutura e o estilo da linguagem. Outro tipo de ruído muito comum na comunicação pela le' - a falta de conhecimento dos significados das palavras, expressões e conceitos usados no texto. Este é o maior problema para a leitura acadêmica e científica. Um bom leitor, como dissemos antes deve conhecer bem as regras da línguaf Mas ISÍO t1ãO bfläfifl- E_, , fundamental para o leitor ter um vocabulário diversificatltl- QUHHÉO mais os significados dos códigos forem compartilhados entre o leitor e o objeto da leitura, mais a comunicaçao sera flueiitc C Sem ruídos. Portanto, quanto mais palavras, conceitos, teorias o leitor conhecer, mais apto ele está para compreender o significado dos textos que encontra para ler. Para ler e viver é preciso saber! Mas ler é viver para saber mais! Para ilustrar os problemas de leitura por falta de vocabulário, veja os comentários sobre um texto de Euclides da Cunha no tinal deste trabalho. Como enriquecer o vocabulário? Lendo mais e mais. Este .é um processo contínuo: quanto mais leitura, mais vocabulário e conseqüentemente mais capacidade de compreender o texto. Quanto mais se compreende o que se está lendo, mais conhecimento se 13ClH a: Px adquire e mais prazer se tem na leitura. 2.4. Um Labirinto de Idéias É importante ressaltar que estamos abordando aqui um determinado tipo de leitura: a leitura acadêmica. Obviamente a leitura de histórias em quadrinhos pode ser estimulante do ponto de vista da imaginação, mas usualmente este tipo de leitura não requer um vocabulário muito diversificado. Livros acadêmicos C muitos romances são mais difíceis do que histórias em quadrinhos porque o volume de informações escritas que eles contêm normalmente é bem maior. Além disto, a forma como 0 t€Xt0 É construído também influencia a absorção dos seus conteúdos. No livro acadêmico a narrativa do texto obedece a uma lógica de ri* o 25 exposição das idéias. Assirn, compreender as idéias ou os signiiicados das palavras é tão importante quanto a compreensão da estrutura de argumentação do autor como se o texto tivesse a sua própria arquitetura c estrutura de sustentação). Em histórias em quadrinhos (HQ) também existe uma ordem em que as idéias são apresentadas, isto é, uma estrutura de argumentação. Mas como o objetivo deste tipo de texto não é explicar coisas, como ein um texto acadêmico, normalmente a estrutura de exposição é linear. Isto quer dizer que a narrativa tem começo, meio e fim, tudo muito simples e claro. O leitor sem muito esforço seguea narrativa. Quando o autor faz uma referência ao passado, normalmente isto vem bem marcado no desenho. Por exemplo, quando um personagem de história em quadrinhos relembra o passado, normalnienííe esta cena vein desenhada em um balao em forma de nuvens (cheias de ondulações), diferente do balão da ilarrativa no tempo presente. Os eventos obedecem a uma seqüência de tempos. O texto acadêmico é diferente. ¡\ estiutuiƒa da n;|i'ri1ç;`1o não se organiza pelo tempo linear, mas por uma seqüência de ideias. Como não ha linearidade clara, não é raro o leitor se confundir c pcrdei' o fio da meada do texto. Ao se sentir perdido no meio de um texto, depois de ter passado por alguil1as|)áginas, invariavelnieiite 0 leitor é acometido de uma- sensação de desânimo. O livro passa a se parecer com uin labirinto. O leitor entrou por um caminho. e agora está perdido. Se .continuar lendo, guiado apenas pela seqüência de páginas, podera perder-se ainda mais. Vale a pena contiiiuar? Um leitor corajoso não desiste facilmente. Segue em frente com a esperança de que a saída se apresente logo. Mas a cada parágrafo ultrapassado aumenta a sensaçi`1o de que não está entendendo nada. O desânimo começa a virar desespero. 1\í vem a grandequestão existencial na cabeça do leitor - "será que eu sou um completo ignorante? Não consigo entender nada! O cara escreveu urn livro importante c eu não consigo entender! liu devo ser muito l›urro". Mais alguns parágrafos e, o desespero se transforma em tédio. Neste ponto o leitor inverte sua questao existencial - "este livro é um porre, l1einP! Tenha santa paciência, que livrinho chato! '¬ ~- - ---fe--ff-¬= f ‹ '. ' ' ' _' ' '_ '*"¬ ‹~ _.-___-. im... ,, . z -z..=-1:;-=; -*.~e.i- -.-‹~.‹L'‹'.^°'¶~‹'~==!<-‹ . _. '17' ii, <___,_,_z_;z-›'¬ 'f ' ' ' > › ,_ à 1"! Í š-É gi, iii*.- , 1:¬Ê›;=Í¿Í‹.Í..z.‹.|.‹i.z.‹.Í;Í.§Í,f›¡"": .A--zY›-z.---...--¬.`...-iz-,-¬¬- ! .....T~;;c.T;.:;::::_::;;.44¬1_..‹.;.T.z..¬-.-›_- :Ê!!Í ll?i`._. i.fl.: N.,.. ih: lili-= .gi.gq ,fiz 1,1 II 4 ¿:. íz' Ê. seIi- Lš! IEliE3; 5-: F tifz.-!fz: à E =_=l1. E ! 51-! ~J›I›.i“i É 1 › ¡... .iv . | l :tj I` Tia il I :.|| ittltt.. . -.ii JIÉÍÍ as l 5 I › l ' 1;' lÍ l ilt t..|. `|1t¡iz~¡*"|- ¡ U.. 1 pt ›=.Í ...H =* 'E l li; ti I , lili - . ' T till! ! t I . tl. 26 V Será que esse cara não tinha mais nada para fazer na vida nãol Tinha que escrever um negócio chato desse jeitoÍ'". - Acometido de tédio profundo o cérebro do leitor põe em funcionamento o seu principal mecanismo de defesa para ocasiões como esta: a distração. O leitor levanta e bebe café. Senta e olha a ianela. Pensa: "‹ vamos continuar a leitura", mas o cérebro emite um aviso: "- quero ir ao banheirol" O leitor levanta e no caminho passa pelo telefone. Lembra~se então da fcstade sexta-feira e gruda no aparelho. Três» horas de conversa e fnialqiente o leitor volta para o livro. Aí ele pensa: "- já sei... Um fundo musical é o que falta aqui". liga o aparelho de som e passa mais meia hora escolhendo o que vai ouvir. _ Quando a música começa a tocar ele finalmente encara o livro com decisão e pensa: "- vamos lá, agora eu tenho que terminar este livro chato". Mas o cérebro avisa: "~ a música está altal" O leitor levanta-se e abaixa o som. Aproveita e pega outro café. Toma o café, olha pela janela e senta. Olha sério 0 livro e quando lê a primeira palavra o cérebro emite outro aviso: "- puxa vida... Agora o som ficou baixo demais". 'Passaram-se quatro horas e nosso leitor não conseguiu sair da segunda página do livro. Depois de abaixar o som, o leitor finalmente lê um parágrafo. Aí, lhe vem uma dúvida súbita: "- acho que eu já li este parágrafo, será que niio?" O leitor se dá conta de que não sabe mais onde parou a leitura. Começa a puxar pela memória e então constata o terrivel. Ele já não se lembra mais o que leu na primeira pagiiizr. Quatro horas perdidasl O pior Õ que não se lembra nem mesmo do que estava lendo antes de levantar para tomar café. "- A/izír, .to/me que z1s.rz/nto este /iam rmƒa?". 2.5. Para Compreender a Leitura Voltando ao problema do ruido na comunicação, toda aquela dispersão na leitura começou quando o leitor perdeu 0 fio da meadn. r`\o perder o nexo de um argumento para outro, a leitura se transformou em um labirinto. Dentro do labirinto de idéias, o cérebro ativou o mecanismo de distração. Ne-sta fase, o leitor st " “ _ _ ¬ r-- = 27 começou a travar uma luta interna: uma parte do pensamento fugia do texto, outra parte tentava voltar ao livro. Normalmente durante este período o leitor mecanicamentíe passa os olhos pelo texto. Lô palavras, às vezes frases. Rabisca alguma coisa. mas não compreende nada. O seu pensamento está longe, enquanto os olhos passeiam no texto. V A p O que falta para a cotnprecnsão do texto? Vamos voltar 51 seqüência da narração. Na história em quadrinhos a seqüência é clara. Os eventos se sucedem no tempo. lfim um texto acadêmico, a seqüência é dada pela lógica da ai'gumei1taç:`io, isto é, pela sucessão de afirmações e demonstraç‹`›es sobre um determinado fenômeno ou raciocinio. Se o leitor perder um dos argumentos ná‹.› conseguirá entender o seguinte. Não entenderá também o próxinfio argumento e assim por diante. O resultado É a sensação de que não se está entendendo nada. Junto cornestía sensação vem um juízo sobre o livro! "- Ô livro chatol". Sem muito esforço, este juizo irá se cstetidcr para o professor e para a disciplina. Sc o leitor for muito exage1'ad‹› poderá até pensar: "- Ô mundo chato". f"elizm'e nte existe soluçao para este problema. Nao desanime. Acredite, a sua leitura pode ser um grande prazer. O prazer da descoberta de novos mundos, novos significados e novas emoções, novas possibilidades de viver C Viver melhor. (Íompreender um texto significa entender a mensagem que o autor quis transmitir. Para que isto ocorra, pelo menos ditas condiçoes sào necessárias. Conhecer qual o objetivo do autor ao escrever o texto e conhecer o contexto no qual ele foi escrito. preciso ativar' o nosso pensanietitol Conforme Rubem Alves, sao as dúvidas, as perguntas que dcspcrlanl o nosso pensatnento. Por isso, qualquer leitura acadêmica ou cientifica deve começar com uma pergunta. O leitor e quem deve formular uma pergunta. lscrnbre-sc, o prazer da leitura está na desc‹›l)ert.a. Para sermos capazes de descobrir algo, em primeiro lugar devemos fazer perguntas, formular dúvidas em nossa mente. A descoberta nada mais é do que a resposta a um questionameiito que antes parecia sem resposta. ¡\ descobe.r`ta e uma solução possível para a tlúvida que tinhamos em mente. Para encontrar algo Ó preciso estar atento, _ ‹ ¬1-- .--.-.- . . V `_¿__ _ \ v -ta lê -tz. El ttttt .LÉzê E 'JI. .Ê .it “it iiE.t*tlt i llt tl itrt t .it 1 l il iiiuz gt tt ›- .-ttt--t ti! it rt`¬¡ .l téli |zi IE‹` IÍÍ|. If |=›l Igl Êãl tt lát it 1' t Ê.z t `. t Ê., ti is›=' ` t" ' rlz. t tl ti;ttV. ¬h .í. , if É,. t 5 l'i,Li‹.r.‹ 'ás' *suar l -.I it .Í ç. E !1¬ p wi- ' t , I|` i ,KI i i~'-ii” i 5:*tri«t'¬: ¡ l › . ¿lilil ÍÊ JK; . ljíl, lt. `.¬r - Il. A l.i ` fz rf* 'l'. 1' . i. llí; E. . .,ti; _ ..* i I _ .¬. ' ''af .'. I . l.. ' tl l , fil . ' -- - - mí" -ii*-'¬¬ _" ' -11:* -'i ~ --'.- 28 perguntando, interrogando e principalmente, saber a que estamos procurando responder! A questão que é formulada pelo leitor deve coincidir ou se aproximar de alguns assuntos propos-tos pelo próprio autor. Isto mesmo, o autor quando escreve um texto, também esta procurando responder a determinadas perguntas. Conhecer estas questoes significa conhecer os objetivos do autor ao escrever o texto. Conhecer o que tornourelevantes aquelas perguntas fformuladas pelo autor significa conhecer o contexto da obra. Se oçleitot faz uma indagação que não se aproxima de algunia forma edm as questões do autor, então fatalmente a sua leitura será pouco proveitosa. É mais ou menos como procurar sorvete em forno quente de padarialll 2.6. 'Três Perspectivas de Leitura Partindo do que nos ensina z'-\tnaldo (Íortina", pode-se dizer que o processo de leitura tem três perspectivas: a procura da intenção do autor, a intenção da obra e a intenção do leitor. ` Conforme a primeira perspectiva "interpretar um texto corresponde a tentar descobrir exatamente aquilo que seu autor pretendeu dizer. Segundo esta perspectiva, e muito importante saber exatamente o que um determinado autor pretendeu dizer com sua obra, bem como reconhecer marcas de sua vida pessoal, de seus conflitos humanos em seus escritos. Dessa maneira, ler torna- se um exercício de investigação empírica por meio do qual o leitor se submete à autoridade máxima do..auto1'. A este último cabe determinar 0 que está certo c 0 que esta errado em relação as interpretações realizadas de seu texto, enquanto o leitor, durante seu movimento compreensivo, deve buscar sempre o acerto e ftigiir do erro. Como exemplo desta perspectiva se situam 'os esforços da Igreja Católica em ‹.let`inir a interpretação correta dos "textos sagrados", como também as inúmeras interpretações literárias consideradas como as "mais corretas", realizadas pelos críticos literários institucitJnalizados que aparecem, por exemplo, nos livi'os escolares".. " (I()l1'l`lNf'\, Arnaldo. O principe de Maquiavel e seus leitores. Uma im-'esiigaçi`u› sobre o processo de leitura. São Paulo : liditora Ul\'l"ÍHl', 2llUll. p. Í-'›5~52 _ 29 A segunda perspectiva tem por base conceitos discutidos no Círculo linguístico de Praga e as contribttiçöes de Fertlinand Saussure. Para esta visão "(...) ler um texto significa buscar' a intenção da obra, pouco importando se o autor quis dizer isso ou aquilo em seu texto. O autor é destronado e, em seu lugar, instala¬se o texto; agora é ele o todo poderoso. Segttntlo esta visao, o ato interpretativo compreende a capacidade de o indivíduo perceber como o texto ii organizado e, a partir disso, o que está pretendo dizer. Na verdade, importa mais saber como o texto di'/. 0 que diz e menos o que diz. A visão da leitura correta deixa de ser aquela que busca a intenção do autor, pois o leitor deve encontrar as respostas para suas indagações no próprio texto. Uma leitura Õ mais correta na medida em que dá conta de toda uma visao estruttn-ztl do texto em questão, sem fazer nenhuma relaçao com nenlu.un_ elemento exterior. " A terceira perspectiva t': aquela que privilegia o leitor. "Para assegurar 0 domínio do leitor, dcfcnde~se a idéia de que durante o processo de leitura deve-se levar em conta o lugar em que ele se coloca, Suas Condições físicas e psicológicas. Dessa maneira, díffirfilltcs formas de int;erpretaçào podem coexistir simultaneamente ein relação a um mesmo texto sem que se entre na questao do acerto ou do erro. Nos bancos escolares isso vai propiciar todo um questionamento sobre o fato de que cada aluno tem a 'liberdade' de apresentar 'sua' iiiterpretaçíto a respeito de um texto sem o julgamento de um professor, que é autorizado institucionalmcntc para fazê-lo. Aliado ao ideal 'democrático' que a idéia de poder interpretar um texto de acordo com suas possibilidades carrega, procurasse mostrar, mais ainda, o papel repressor da interpretaçz`1o do texto pelo texto." O livro de Cortazar ~ O jogo da amarelinha ~ foi escrito dentro desta perspectiva, pois permite que o leitor faça varias leituras no mesmo texto. Cortazar da até inclinações das várias histórias que o texto contém. Se o leitor ler o texto linearmente terá um enredo, se ler conforme um determinado ordenamento que está apontado no final de cada capitulo terá outro. Dependendo das combinações que fizer terá outras histórias. Eniiin, o leitor pode ir além das indicações do próprio autor. '_ uz ll É l l 1 I l i /. " `l ,ía ix' -.-šEzT'=-...,...,_ __.-=z.. t .....e..¬..,-_-;›â=_- -L›-›-¬=-»‹.z...-¬,,...‹ .....;f..,_;,;T.wi...,_,_,Q., i¡.'z. .H i.. lt' »........›.--š. 5. 'lzzli l. z š I. I. z¡,. az Í, á Í'sl-ti? -.i.; -i -‹~z_ H :tlsu.-M.êtif tlzu! “I \lí....".. D -..go 'B 51” -*lliliiii .- z ti 1ii 1. =l'|ftl e z'-ii.in . _ .. r-45;; É-i - ~ 1-*1.; i` Ill .|'.tai .' ¡-.* i ¡'¡ »': | li'zzz I ‹-i.-"¬' ' i-`:lL.¡¡.¡i_. .zIi|.:'i ':r_=› _ ' ' ;-,_ V __ i i‹:.Íi _ i 13 - ' ll-i` . _-¬.¡;1 VI.‹ 'Par Li llš fi' l.`ë l rtê;-.fz ¡z|'|i:=. ,, ,_ 1::.‹ _ . _‹_;';z1=;-: W), Tri.” lilt; l"i À' . ›'\_*:\v"If#17." 1, -à i = iv,,z, . ._,_.-.›zu,íif ill ii ' if- :__m_-_____¬.Y...‹_z_,__ ,,______.¡~_f.¬:-...Í z : . 30 Há também um outro tipo de texto que exemplifica esta perspectiva. São alguns poemas coneretisizas que possibilitam este tipo de leitura. Um exemplo bem característico destes poemas é o de Augusto de Campos - Po'mm'o_~ V Quis MUDAR TUDO MUDE1 TUDO AGORAPÓSTUDO EXTUDO MUDQK' I Corno se pode perceber, um livro permite várias leituras, além daquelas apontadas acima. Isto, porque dependendo da questão formulada o leitor irá obter determinadas respostas. Informações que não lhe pareçam relevantes em uma determinada leitura podem parecer relevantes em outra. isto depende da pergunta inicial feita ao livro. Normalmente, com o amadurecimento intelectual, cada leitura de um livro teórico representa uma nova descoberta. Isto porque, o leitor terá cada vez mais condições de conhecer e compreender argumentos que, da primeira vez, lhe passaram desperecbidos. um diálogo novo que se estabelece .a cada leitura, mesmo quando retornamos ao mesmo livro. Na vida comum também é assim: a cada encontro o diálogo entre as pessoas é outro, não se repete. Ein termos acadêmicos, normalmente sugerimos, no mínimo, duas leituras de um mesmo artigo ou livro. A primeira é aquela que se faz com a intenção de conhecer o texto, o estilo do autor, qual e o tema e seus desdobramentos, o método utilizado, enfim, buscafse uma visão mais geral do escrito. A segunda leitura deve ser mais precisa e aprofundada, com a perspectiva de se conhecer toda a trama dos conceitos e o desenvolvimento do raciocínio do autor, suas premissas e seus argumentos. É nessa última que faremos os registros como fichamento e resumo de que falaremos adiante. ` Ti: u ¬ 2.7. Ler o Mundo Quando um' leitor formula uma pergunta para um livro, ele, na verdade, estíi pi.'ocui.'ai1do cofl1l›inar o seu conliecimento ao coiiliecimeiito do autor. Por isso, ler um texto é sempre um ato de interpreta‹_;:`1o. r'\líra\='t':s dele procurafse aproximar o significado dos argi.1i11cntos do autor a experiência de vida do leitor. Corlfiiontani- se interpretações e significados, que são enriquecidos neste processo. Vamos começar a dar um sentido para tudo o que foi visto até agora. Vamos lei' um texto do Paulo liieire. Os parâígiafos foram numcrados para facilitar os comentarios p‹›steriores. - ' _ - - --¬*-*'--"- ----›¬››-ff=-«›;,¡¢f,_¢;<;-‹».¿z<vz;=sre\.iz:;>iz›-»z.› . f- ---i...z _ _ __.. ___ ..,.. z- _ _ ,_=_....f... _ , _ ,_ ,. 'i il ii I li ii li 1. s 5-! _ .lãi =~_i Ill ii. ÍÊ lí 1. _-..n¿mH ‹ig? Ii; .if Li lx ii-'ii _ .ir zãr- .fl 1' vi ii > »-í›:r-¬:|..ZÍ`¬-¬`.'v§.¬›«.›.. Ê. .r il! ,_ _ i_' ig iii l_"ii- i-fr É l/Í L TO E u“ AB É uMH_““___w`“_"__________H_ I __ __|___ _________________ _1,___bw"À`_š_)w_¬x_w¡`”__'_lbl__.d+`“___|V[__||_v__|_'n`_|¡,__il;|l|¡_}¡'_›__“ru`L_}h§%"›___ _”L__F____F_`›_k_`mhm_u`_h_¿_`_“l_H|H`”M_____h_`h_|h_"_`É_`A__`J__`_H__`¡`_f:HW__`_›|¡_"P_›V_A______ 1“________|¡:_|_`_k_¡¡h___!`V_`_I`_`¡Ilw_H_H`|___‹__L$_¿"¡_`_¡¡¡'_›!¡__`_|_____UIi_¡¡"!`_›___"_hH_Hm_mm1"!!L`V_!¡H*1_!¡|i¡¡+¡_`hIW‹¡,__¡`¡____|"___Jq_i¿3‹fi¿%H“_w_v_“_n“_____W›_"FHflH__|_,`___,_`II_À__fl__}_`__A_`_!_`¿š_¿¿`_Á¬\___J¿__í___``¡_l¡¿____Jd:nf mmmi E AMD_ÍOROWTAEII mv_W__m__É MwU,WWWET_ ___”'_ Hi E'mm“V_H__"h_V_ \V___¬ `1":_›› V_VI`_VÉV` _¡_`I`_'VH!"_`› "_I `I_¬|¡|›_I_›__¡VV__ _ ___`__”__§íQ_A_|V_,_i`l_`_¿¡¡šL {'_mmVH_rH_V4_!_P!L._“'W__H“_¡!_H|¶I___`_?mam1I_U_HvwWHHHm‹1£ê¬%hHp__d¿_`_Ê_}__›l{`__¡_i_¡q_|_¡¿_` 2`'liliIIIII"`¡›¡_¡__"J _i::ã_f_ i_ sf;-ff=;...- .-|| tz._..`I =:";.! :iii z z;+.l_--.;: ¬_I|!| ;..¿_]; zl. _- `\.` `. ..\ .- _+¡ . __ ,H ~¡ m glllifc i..=âas .*_ sfwz.u 1- ! fz.sim'_! _. In _É ›|.-..._z_ ;'L|*;|¡,|, -... '|¡iz ` \._ 1 .--:` 'qi 'Ê il-fiiëi ÍÍÊ i !l iÉ1'1;'\¡ !--,N1 nf ai-_' __ 'l:'*- t íš ' .I _ _" ll v. ¬i*›` ¡\. Av-‹.¬-_.-¬›_»: Í. šífií-1 Í :filig: f i=..!.if Â? Êlš " "il. .gy _; _-: ~ 1-: .-*_:¡;l.i_;¡`_¡i. \==_í'¡l ij L;âë `.!"i ¿.| o 1 i; a EXERCITANDO A LEITURA E A 1NTER1=RETAçÃoz TEXTOS SOBRE o ATO DE LER 3.1i A Importância do Ato de Ler Paulo Freire 1. Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática pedagógica, por isso política, em que me tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrar encontros ou congressos. 2. Aceitei fazê-lo agora, da maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aqui para falar um pouco da importância do ato de ler. 3. Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma Compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na descodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado ~ e até gostosamente - a "reler" momentos fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo. 4. Ao ir escrevendo este texto, ia "tomando distância" dos diferentesmomentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Priineiro, a "leitura" do mundo, do 7 Trabalho apresentado na abertura do Congresso Brasileiro de Leitura, realizado em Campinas, em nu\'eml:›ro dc 1981 c posteriormente publicado: [*'lU`¡IlIUi, Paulo. A importância du ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: liditores associados/Corte'/., I982 (lol. Polêmicas de nosso tempo. p. l1~24 ` ` " _ ' ' _ “""í'_"='-¬"“"' "* c z.1*'t;1._._.__r.___ 1 _ 1 _...‹_z-----”›*“.“'›“"."`f._":`~*_ -_. - -. .;z_,,-;f¬-'- u \ z- |;._ : A _=..:-\_="_.e;: .G .f iÊ *'_¬_-»=_*-*_-é5ê?~_=@5_â~';ÉfÊf;-=:'~:-_-_-_:f:z___ .T _ fl ..,»iz_._ ._..z.io.zzz_ ›.,-z.i às muzi-;=_'z^ lã' ill __ c Ê; ¡.z I"i__ Í z , _ ¡, lt!zi , tilfillí“? ::=l !` `."L'_.,-.'n...Í' iíi Ââ,-| šíã ii .=.'zâ áig l`*^ ipi 'iii i Ç, . Í hi l ' - â |f-ri >ʬ,,É ia:-rf ' ¬ ll, 'lvlI, ¡¡ i.vê zw ll J: ` `i ,,,.._;¡i_=x›A .' il l'z › .z|;'- i`|`-'. i É 1.*j .g. ,_ f~~cl“il'j* E-1 i lÍ §í .| 5% il 1 ,ni I `j.:‹'j.l l. i l '---. illj-~ ¬-.;1. |--‹ .. .l là; jp' :`itw- tl-' i l til : aff- .I.1 ç .i., ¡- l.. .‹ z,.` j.. llif; fi,. ., . ~‹-z.f.»z-mz-,i I. .‹'l,Íi. ‹ , 36 pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da "palavrarnundo". i ~ 5. A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de "ler" o mundo particular em que me movia - e até onde não sou traído pela memória -, me é absolutamente significativa. Neste esforço a que me vou entregando, re-crio, e re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. 1"Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós ¬ 'Ir sua sombra brincava e em seus galhos mais dóceis à minha altura eu me experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e aventuras maiores. 6. A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço - o sítiodas avencas de minha mãe <, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras. Os "textos", as "palavras", as "letras" daquele contexto ¬ em cuja percepção me experimentava e, quanto mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber - se encarnavam 11uma série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu .ia apreendendo no meu trato com eles nas minhas relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais. 7. Os "textos", as "palavras", as "letras" daquele contexto se encarnavam no canto dos passaros - o do sanhaçu, o do olha- pro-caminho-que-vem, o do bem-te-vi, o do sabia; na dança das copas das árvores sopradas por fortes ventanias que anunciavam tempestades, trovões, relâmpagos; as águas da chuva brincando de geografia: inventando lagos, ilhas, rios, riachos. Os "textos", as "palavras", "letras" daquele contexto se encarnavam também no assobio do vento, nas nuvens do céu, nas suas cores, nos seus movimentos; na cor das folhagens, na forma das folhas, no cheiro das flores « das rosas, dos jasmins -, no corpo das árvores, na casca dos frutos. Na tonalidade diferente de cores de um mesmo fruto “T¬"`z. . . ~ . _ , 37 em momentos distintos: o verde da manga-espada verde, o verde da manga-espada inchada; o amarelo csverdeado da mesma manga amadurecendo, as pintas negras da manga mais além de madura. A relação entre estas cores, o desenvolvimento do fruto, a sua resistência à nossa manipulação e o seu gosto. Foi nesse tempo, possivelmente, que eu, fazendo e vendo fazer, aprendi a significação da ação de amolegar. 8. `Daquele contexto faziam parte igualmente os animais - os gatos da família, a sua maneira manhosa de enroscar-se nas pernas da gente, o seu miado, de súplica ou de raiva; joli, o velho cachorro negro de meu pai, o seu mau humor, toda vez que um dos gatos incautamente se aproximava demasiado do lugar em que se achava comendo e que era seu ~ "estado de espírito", 0 de joli, em tais momentos, completamente diferente do de quando quase desportivamente perseguia, acuava e matava um dos muitos dmbus responsáveis pelo sumiço de gordas galinhas de minha avó. 9. Daquele contexto - o do meu mundo imediato - fazia parffi, p0.r outro lado, o universo da linguagem dos mais velhos, expressando as suas crenças, os seus gostos, os seus receios, os seus valores. Tudo isso ligado a contextos mais amplos que 0 do meu mundo imediato e de cuja existência eu não podia sequer suspeitar. , 10. No esforço de re-tomar a infância distante, a que me referi, buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia, permitamsme repelir, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. E algo que me parece importante, no contexto geral de que venho falando, emerge agora insinuando a sua presença no corpo destas reflexões. Me refiro a meu medo das almas penadas, cuja presençaentre nós era permanente objeto das conversas dos mais velhos, no tempo de minha infância. As almas penadas precisavam da escuridão ou da serni~escuridão para aparecer, das formas mais diversas - gemendo a dor de suas culpas, gargalhando zombeteiramente, pedindo orações ou indicando esconderijos de botijas. Ora, até possivelmente os meus sete anos, o bairro do Recife onde nasci era iluminado por lampiões que se perfilavam, com certa dignidade, pelas ruas. Lampiões elegantes z J 9- ¬-ÍÍ El Ê; 1 l zl l .l 'll _,¡_,_..__¬__.,_.__. zl E .lii.I» lriril li iI 1 llê -Í.. l' el'tl "'1'__ 1, j. .i ilit it ;ll i gi ,li l' fz !׋.V I . il eg -q..t“-“.r?'f='f'¬'I"'.'*.*-''*".“ . | ! ¡Í:':ii . 1?.íé` 514;: I l`,=" F1'|z ,j | ln1-- :L-¬ |:PQ* I›'*^l* iE . ¬, z :¡, I“ ..,,| l Í s.. i- sta' . ". _..»¬.-.-... z::= I.. ..l lQ, , :Ê li- `1 'l' I I' il .1 ll! 38 que, ao cair da noite, se "davam" ã vara magica de seus acendedores. Eu costumava acompanhar, do portão de -minha casa, de longe, a figura magra do "accndedor de lampiões" de minha rua, que vinha vindo, andar ritmado, vara iluminadora ao ombro, de lampião a lampião, dando luz à rua. Uma luz precária, mais precária do que a que tinhamos dentro de casa. Urna luz muito mais tomada pelas sombras do que iluminadora delas. ,- ll. Não havia melhor clima para-. peraltices das almas do que aquele. Me lembro das noites em que, envolvido no meu próprio medo, esperava que O tempo passasse, que a noite se fosse, que a madrugada semiclareada viesse chegando, trazendo com ela 0 canto dos passarinhos "manhecedores". 12. Os meus temores noturnos terminaram por me aguçar, nas manhãs abertas, a percepção de um sem¬número de ruídos que se perdiam na claridade e na algazarra dos dias e que eram misteriosamente sublinhados no silêncio fundo das noites. 13. Na medida, porém, em que me fui tornando íntimo do meu mundo, em que melhor o percebia e o entendia na "leitura" que dele ia fazendo, os meus temores iam diminuindo. 14. Mas, é importante dizer, a "leitura" do meu mundo, que me foi sempre fundamental, não fez de mim um menino antecipado em homem, um racionalista de calças curtas. A curiosidade do menino não iria distorcer-se pelo simples fato de ser exercida, no que fui mais ajudado do que desajudado por meus pais. E foi com eles, precisamente, em certo momento dessa rica experiência de compreensão do meu mundo imediato, sem que tal compreensão tivesse significado malquerenças ao que ele linha de encantadoramente misterioso, que eu comecei a ser introduzido na leitura da palavra. A decifração da palavra fluía naturalmente da "leitura" do mundo particular, Não era algo que se estivesse dando superpostamente a ele. Fui alfabetizado no chão do quintal de minha Casa, a sombra de mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus país. O chão foi o meu quadro›negro; gravetos o meu giz. .z 39 15. Por isso é que, ao chegar à escolinha particular de Eunice Vasconcelos, cujo desaparecimento recente me feriu e me doeu, e a quem-presto agoraiuma homenagem sentida, já estava alfabetizado. Eunice continuou e aprofundou o trabalho de meus pais. Com ela, a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a "leitura" do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da "palavramundo". ' 16. Há pouco tempo, com profunda emoção, visitei a casa onde nasci. Pisei o mesmo chão em que me pus de pé, andei, corri, falei e aprendi a ler. O mesmo mundo - primeiro mundo que se deu à minha compreensão pela "leitura" que dele fui fazendo. Lá, re-encontrei algumas árvores da minha infância. Reconheci-as sem dificuldade. Quase abracei os grossos 'troncos - os jovens troncos de minha infância. Então, uma saudade que eu costumo chamar de mansa ou de bem comportada, saindo do. chão, das árvores, da casa, me envolveu cuidadosamente. Deixei a casa contente, com a alegria de quem re-encontra gente querida. 17. Continuando neste esforço de "re-ler" momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retorno o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de lingua portuguesa. 18. Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples darmos conta da existência de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente "soletrada", em vez de realmente lida. Não eram aqueles momentos "lições de leitura", no sentido tradicional desta expressão. Eram momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem pro fessorjosé Pessoa. 19. Algum tempo depois, corno professor também de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a importância do ato de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com alunos das' primeiras séries do então chamado curso ginaslal. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo Jz __ ___ .__ .___ .z n ,. ú iii-z tê |'* "z ;;....,___.,¬.¬,_%_,,-f,_ lã ll:lsišt ‹ê‹'â Elii. LÊ-5 il»it:àr- fã' 51 Í2? if 1"' |,l. fil. âšfi il¿ :sl |!`! 511lxszfi ¡f¡ ei xiE..-`Lt ir fr-›› a '1 va 32;.: IÍ" .l si, Ii' i lL_›Ê z'. Tí «á ii ,_š_._š____.;~%:.::44._...._.¬...._ 1.1.»xt - l I 1 i | | l 1:' i' i"f.. | í | uz ..unz i.|lp .IMz i. «J llillvi É ll .gl g | il1 i |-,›IL «fi ll'|1 ll ll_ T › Wi .i. ill - Í 1"` rf E \ l ll ':~.l flí li 1!» l il!-¡| |. I 40 pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devesscm ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo conl1'Í1rio, era proposto 21 curiosidade dos alunos maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, corno objetos a ser desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não linham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua siguif1caçâ`u› profunda. Só apreendendo-a seriam capa'/.es de saber, por isso, de memorifiá.-la, de fixa-la. A memorização mecânica da descriçao do objeto não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso e que a leitura de um texto, tomado corno pura descrição de um objeto e feita no sentido dê memori'¡.áfla, nem é real leitura dela, portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. 20. Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes "leiam", num semestre, um sem-número de capitulos de livros, reside na compreensão errônea que às ve*/.es temos do ato de ler. Em minha andarilhagcm pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta as voltas com extensas bibliografias a ser muito mais "devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras "lições de leitura" no sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam sul)rnetidos em nome de sua formação científica e de que deviam p restar contas através do famoso controle de leitura. Em algumas vezes cheguei mesmo a ler, em relações bibliográficas, indicações em torno de que páginas deste ou daquele capítulo de tal ou qual livro deveriam ser lidas: "Da página 15 à 37". 21. A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramcnto nos textos a ser compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo,em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou nãp, com -a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As 'Tleses sobre l"euerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia... ' , . › 41 22. Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errôneado que estou afirmando, sublinhar que a minha crítica a magicização da palavra não significa, de maneira alguma, V uma posição pouco responsável da minha parte com relação à necessidade que temos educadores e educandos de ler, sempre e seriamente, de ler os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa pátria enquanto professores c estudantes. 23. Dentro ainda do momento bastante rico de minha experiência como professor de lingua portuguesa, me lembro, tão vivamente quanto se ela fosse de agora e não de um ontem bem remoto, das vezes em que me demorava na análise de textos de Gilberto Freyre, de Lins do Rego, de Graciliano Ramos, de jorge Amado. Textos que eu levava de casa e que ia lgndg com Os estudantes, sublinhando aspectos de sua sintaxe estreitarnentc ligados 210 ÍDOTII g0SfO de Sua linguagem. Àquelas análises juntava comentários em torno de necessárias diferenças entre o português dc Portugal e o português do Brasil. 24. Venho tentando deixar claro, neste trabalho em torno da importância do ato de ler ~ e não é demasiado repetir agora -, que meu esforço fundamental vem sendo o de explicitar como, em mim, aquela importância vem sendo destacada. como se eu estivesse fazendo a "arqueologia" de minha compreensão do complexo ato de ler, ao longo de minha experiência existencial. Daí que tenha falado de momentos de minha infância, de minha adolescência, dos começos de minha mocidade e termine agora re- vendo, em traços gerais, alguns dos aspectos centrais da proposta que fiz no campo da alfabetização de adultos há alguns anos.. ' «-( ) 25. Creio desnecessário alongar mais, aqui e agora, sobre o que tenho desenvolvido, em diferentes momentos, a propósito da .complexidade deste processo. A um ponto, porém, refer-ido varias vezes neste texto, gostaria de voltar, pela significação que tem para a compreensão crítica do ato de ler e, conseqüentemente, para 21 proposta de alfabetização a que me consagrei. Retiro-me a que a leitura do mundo precede. sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Na pr-Qpogm z qm; i- › ›z-- . . --- - ' -~w‹-v=‹--.›~»»; ~‹. ¬ - - _ _- _. . _ ._ _ __ s z z - Là. .. à; i I l ..z-¬¬._.z.=_z_- l`z1pf ‹! 23.=i E *il=: HTill 'A-.....-'...'...-.azxzf-,;. :-1-Á-*_¡*`-^¬“-“Ç"?““-“-'“~. ld* 5`|§~ I 3 lišz1g_ .¬7'.'I`:'..".T_ `l i' 42 % . 3;.: šfffãty :gti Ef.:lã: if.-1 ,._:..,.tz i sil: ..-.z`¡`:1.~ ro 1 ll 5- -¬ ij ¡ ›-; `f.*,. llfl" 'I l |ll|-* 1* Il.1:-.._- l ill :H 'l ,. .-| li 'pl' * i i *il i¡.l}!í;¡ l t l gr I --›-.'‹›,_-g.-z‹,-z¬-..¬.rTz r. ez. -..__¬.¬¬:-f-msm-,.a-...,z.ñ¬¬t¬=.,›¶z¡a.z-..~..,--¡-,,.sz-_.-.z,.z¬.-zf›z›¬\¬-=-f-«gv me referi acima, este movimento do mundo a palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui -do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra nao e apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma Cëftâ füffflfl dfi "esctevê-lo" ou de "reescrevê-lo", quer dizer, de t.rfl1'1Sf01'1Tlá-Í0 fltíâvés de nossa prática consciente. ,. ' 26. neste sentido que a leitura crítica da realíClHClfi› dam-l0*5° num processo de alfabetização OU nã0 fl HSSOCÃHCM fiolílfflfudo a Gemas práticas claramente políticas de mobilização fl dt? =01`gaÍÍ-1Z51.Çfl0› Pfifdc eonstituinse num instrumento para o que Gramsci chamaria de fl.Çfl0 contrwhegemônica. ~ t ç ` 27. Concluindo estas reflexões em torno da Importâfifilfl dO f , . ~ › ' * ' II . ato ler, que imphca sempre percepçao critica, interpretação e rei ¢5crita" do lido, gostaria de dizer que, depois de hesitar um pouco, resolvi adotar 0 procedimento que usei no tratamento do tema, Cm Cofisoflãficía com minha forma de ser e com o que posso fazer. ` 28. Finalmente, quero felicitar os idealizadores e os organizadores deste Congresso. Nunca, possivelmente, temos necessitado tanto de encontros como este, como agora. PAULO FREIRE 12 de novembro de 1981 1 3.2 Exercícios de Leitura e Análise de Texto P Como dissemos antes, toda leitura (acadêmica pelo menos) deve começar por uma pergunta. Esta pergunta representa uma dúvida, uma curiosidade, uma questão que você quer conhecer. Para a compreensão do texto, deve-se ainda tentar aproximar a nossa pergunta, da pergunta que o próprio autor procurou responder no texto. Lembre-se, se você chegar a conclusão de que não há nada próximo entre o que você quer saber e o que to autor se propõe a explicar, então você esteve procurando sorvete em forno de padaria. Qual a sua pergunta ao iniciar a leitura do texto do Paulo Freire? Para facilitar as coisasvamos assumir que a sua pergunta seja: "Como eu faço-para ler e entender um livro acadêmico?". P Note que esta pergunta não é exatamente a mesma que o Paulo Freire procurou responder em seu texto. Qual foi ao pergunta que ele tentou responder com este texto? Então comecemos pelo princípio! Antes de ler qualquer texto, é importante que 0 leitor tenha algumas informações básicas: a) Qual o objetivo do autor ao escrever este texto? b) Quando ele escreveu o texto? c) Ele está discutindo com alguém? ' d) Para quem ele escreve 0 texto? ~ Estas informações geralmente podem ser obtidas no título do livro, na orelha, no prefácio, na introdução e nos comentários sobre 0 texto; De volta ao texto do Paulo Freire, em primeiro lugar vamos dar uma olhada no título; "A importância do ato de ler". Podemos acrescentar uma interrogação ao final deste título e temos a pergunta chave do texto: " Qual a importância do ato de ler?" Fácil, não é?Comparando a questão do autor ("Qual a importância do ato de ler?") com a nossa questão original ("Como eu faço para let e~ entender um livro acadêmieo?"), podemos notar que não são exatamente iguais. Isto significa que não vamos achar uma resposta exata a nossa pergunta. No entanto, vamos achar respostas a problemas correlatos, como por exemplo, "por que eu tenho que aprender a ler e a entender um Iivro?". 1 t. r 1 =lÍ ll;|.:\| 1. iii n~ | F il ii 1.; :ll rt'«zé ij' 1 _1 il :ii if 44 ç ` ç H 45 .zz :Í É-i-z ;z li rz-z----» 4 z ii . Í.-‹., `i 5 fl Ari.ez”,.,__r._....i..._ -*¬-ser-‹;.i.-.› i» . É 1 li_, .,. ... *i í =[_[| lij. i v jjl Í l- ›â |`l,,. 1.i! -- '~â “tl “ill AL rj¬l'~.it -š”*.^*t*,I ` .¡É |'.~`Í lz‹.~l.--.tii ¡- » ir z K iÍ '“1, ,dl r | f Ííiáil É |¬r Wi : 'i 'L plíj .i i ..¬. i ê É'I`.l. , .. 'il |.¬`_,, .I l.: 'l` . ,.. ; .¡i ¡. lfgr .i. K! ' !`| .dll.j ¡~ fls-l== ii=--V Vamos trocaria nossa primeira .questão ("como eu faço para ler e entender um livro acadêmico?") por esta nova questão {"por que eu tenho que aprender a'ler e a entender um livroP"). Esta nova questão esta diretamente relacionada com o texto. Agora que você tem uma questão que está próxima à questão do autor, diga assim para o Paulo Freire: "-Vamos lá, convença-me que eu devo gastar tempo tentando entender uma leitura. O que é que eu vou ganhar com issoP"Í Seja mais ousado, faça um desafio, fale assim diretamente pafa ele: ' " Isto tudo para mim é perda de tempo., ler É chato e pronto. Quero ver você me convencer que ler é importante. Aliás, quero ver alguém mezconvencer que eu posso ganhar alguma coisa gastando o meu tempo
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