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Os argonautas da cidadania Cap. 2 - Liszt Vieira

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Os argonautas da cidadania
Liszt Vieira
Capítulo 2 Modelos de espaço público
O conceito de espaço público possui diversas dimensões na vida social, contudo o autor se concentra no plano da teoria política. Segunde ele, existem três principais correntes do pensamento política ocidental, cada qual, com sua concepção própria de espaço público.
1. tradição republicana representada pela visão agonística de espaço público, desenvolvida por Hannah Arendt.
2. Tradição liberal, de matriz kantiana. Preocupa-se com a questão de uma ordem justa e estável, fornecendo um modelo chamado de legalista. [O autor utiliza-se do modelo de Bruce Ackerman, nesse ponto].
3. Modelo de espaço público discursivo, desenvolvido por Jürgen Habermas. (VIEIRA, 2001, p. 51).
O modelo agonístico
Segundo Hannah Arendt, entre os tesouros perdidos da nossa tradição política encontra-se principalmente a perda do espaço público nas condições da modernidade (p.52). 
Arendt destaca a diferenciação institucional das sociedades modernas em esfera política stricto sensu, de um lado, e economia de mercado e família, de outro. A ascensão social de Hannah Arendt (já chamada de sistema de necessidades por Hegel) é o processo segundo o qual “o domínio de uma atividade econômica governada pelo intercâmbio de bens e persecução do interesse econômico individual, que acarretou no desaparecimento do universal, da preocupação geral com associação política e com a res publica” (p. 52).
Arendt vê neste processo de oclusão do político pelo social uma transformação do espaço público: indivíduos não mais agem, apenas se comportam (como produtores, consumidores e moradores urbanos). Esta conotação negativa que empresta à ascensão do social está no núcleo do que é identificável como antimodernismo da autora alemã.
Ela faz apologia do espaço público agonístico da pólis grega. Traz enorme incômodo aos modernos a sua visão altamente idealizada da pólis, bem como sua negligência com a exclusão, no espaço político da pólis grega, de numerosos grupos de seres humanos (mulheres, escravos, estrangeiro), que possibilitavam, com seu trabalho, o lazer da política. (p. 52).
[...] o pensamento de Hannah Arendt é muitas vezes influenciado por uma Ursprungsphilosophie que coloca um estado original ou um ponto temporal como fonte privilegiada onde devemos buscar os verdadeiros sentidos dos fenômenos. Ao invés da ruptura e do deslocamento, esta visão enfatiza a continuidade entre a origem no passado e a condição presente e busca descobrir, na origem, a essência perdida dos fenômenos. (p. 53).
Segundo Seyla Henhabib há dois caminhos no pensamento arendtiano:
1. Um correspondente ao método da historiografia fragmentária, inspirado em Walter Benjamin.
2. Outro inspirado na fenomenologia (Husserl e Heidegger), segundo a qual memória é uma recordação das origens perdidas. (p. 53)
O termo espaço público, na sua teoria sobre o totalitarismo, é apresentado com uma conotação diferente da exposta em seu livro A condição humana. Os termos espaço público e espaço associativo denotam com clareza esse contrates. O primeiro represente um espaço de competição por reconhecimento, prudência e aclamação. Valorizam-se o heroísmo, a grandeza e a preeminência. Em última análise, é uma espaço onde se busca a garantia contra a futilidade e a fugacidade das coisas humanas, a relativa permanência, senão imortalidade, do mortais (p. 54).
O segundo emerge sempre que homens agem em conjunto. É o espaço da liberdade. Não deve ser entendido no sentido topográfico ou institucional: nessa visão associativa, qualquer lugar pode se tornar espaço público quando se torna espaço de poder, de ação comum coordenada por meio do discurso e da persuasão. Assim, uma prefeitura ou uma praça pública não são espaço público se não existir ação concertada, enquanto uma sala de jantar ou uma floresta podem ser espaço público se nesta ou sobre esta floresta existir discussão política. (p. 54)
A oposição entre a concepção agonística e a associativa de espaço público corresponde à distinção entre a experiência grega e a experiência moderna de política. O espaço agonístico da pólis tornou-se possível pelo caráter exclusivo, moralmente homogêneo e politicamente igualitário da sociedade, com sua falta de anonimato e excelência entre pares. Para os modernos, no entanto, o espaço público é essencialmente poroso. Não pode ter seu acesso nem sua agenda de debate predefinidos por critérios de homogeneidade moral e política. (p. 54-55)
Hannah Arendt, no entanto, relega certos tipos de atividade como trabalho e labor (e, por extensão, todas as questões de economia e tecnologia) à esfera privada, ignorando sua possibilidade de, por serem relações de poder, se tornarem objeto de disputa política (p. 55).
A vantagem do conceito de modelo liberal de espaço público sobre o de Hannah Arendt é fazer uma ligação mais explícita entre poder, legitimidade e argumentação pública. Entretanto, a visão liberal é mais estéril que o primeiro modelo, por conceber a política demasiadamente vinculada às relações jurídicas, perdendo a espontaneidade, imaginação e participação que Hannah Arendt vislumbrou como sendo marca verdadeira da política. (p. 56)
2. O modelo liberal
O autor se baseia no pensamento de Bruce Ackerman sobre o modelo liberal, que se assemelha em partes com as ideias de John Rawls e Ronald Dworkin. Segundo as ideais do liberalista, o Estado liberal é aquele onde a questão da legitimidade é central. Sempre que alguém questiona a legitimidade do poder de outrem, o detentor do poder deve responder não suprimindo quem questiona, mas dando uma razão que explique por que ele seria mais capacitado a detê-lo do que o contestador. 
Ackerman entende que o liberalismo como uma maneira de discutir sobre poder em uma cultura de diálogo público, baseado em certos tipos de constrangimentos discursivos. O mais significativo constrangimento é a da neutralidade. Não pode haver, no debate público, nenhuma pressuposição de que o detentor de poder é superior aos demais em função de sua concepção individual acerca do bem e da vida digna. (p. 56-57)
Este modelo pressupõe que os grupos primários já saibam de antemão quais são os seus desacordos mais profundos antes de iniciarem o diálogo; tais grupos parecem saber se um problema constitui questão moral, religiosa ou estética em oposição a uma questão de justiça distributiva ou política pública. Para os liberais, podemos discutir legitimamente os segundos, mas devemos abstrair os primeiros. 57
É justamente o procedimento de diálogo público livre de restrições que vai decidir a natureza dos temas eu se debatem. Tudo o que os participantes de um discurso prático concordarem não ser possível de universalização e positivação legal é assunto relativo à concepção de vida digna, o resto é concernente à questão de justiça.
Uma delimitação adicional do modelo liberal de espaço público é que, nele, as relações políticas são demasiadamente vinculadas às relações jurídicas. 
A neutralidade é uma das bases dp sistema legal moderno, estabelece o espaço dentro do qual indivíduos autônomos podem perseguir sua concepção de vida digna, mas é demasiado restritiva e paralisante para ser aplicada às disputas de poder no processo político real. (p. 57) A neutralidade além de afastar o a dimensão agonística da política, diminuiria e muita a pauta do diálogo público, lesando os interesses de grupos oprimidos. 
O modelo discursivo de Habermas, tenta superar os principais defeitos dos dois modelos até aqui analisados. Comparado com o modelo agonístico, não restringe o acesso ao espaço público nem determina a agenda do debate. Comparado ao princípio da neutralidade, apreende o aspecto dinâmico e renegociável de distinções como a estabelecida entre o certo e o bom.
3. O modelo discursivo
A defesa da modernidade à luz da participação pública é um aspecto essencial na obra de Habermas. Ele enfatiza que modernidade não significa apenas diferenciação, individuação e bifurcação; a emergência de umaesfera pública autônoma de argumenta~]ao e debate também é central para o projeto de modernidade. No campo institucional, a geração consensual de normas gerais de ação através do discurso prático adquire relevância. No âmbito da formação de personalidade, o desenvolvimento de identidade individual torna-se cada vez mais dependente da reflexão e crítica dos indivíduos ao construírem juntos uma vida coerente, além dos papéis e definições de gênero convencionais. (p. 58)
Segundo o modelo discurso o espaço público não é visto mais como um espaço de disputa, para alcançar um tipo de imortalidade política. Mas passa a ser visto democraticamente, como criação de procedimentos que garantam que os afetados pelas normas sociais e decisões políticas possam participar da sua elaboração e adoção. 
Esse modelo também difere do liberal. Habermas e os liberais compartilham a ideia de que a legitimidade deriva do debate público, mas este debate, no modelo habermasiano, não pressupõe o constrangimento da neutralidade, pois é julgado por critérios representados pelo modelo de um ‘discurso prático’. Surge uma esfera pública quando e onde todos os afetados por uma norma social ou política de ação empreendem um discurso prático, avaliando sua validade.[1: Habermas entende por discurso prático o diálogo voltado para o consenso e livre de violência entre todos os sujeitos capazes de argumentação.]
Cumpre assinalar que o modelo discursivo desenvolvido em sua teoria é radicalmente procedimental. Vislumbra o diálogo normativo como argumentação e justificação que ocorrem em uma ‘situação ideal de fala’, que, por sua vez, expressa uma reciprocidade igualitária: todos os participantes têm chances iguais de iniciar e continuar a comunicação, de fazer comentários, recomendações, explanações e de expressar desejos e sentimentos. Devem ser livres ara tematizar as relações de poder que, em contextos ordinários normais, constrangeria a articulação de opiniões e posições. 
As teorias normativas morais e políticas contemporâneas têm sido neutras com relação às questões de gênero. A crítica que o movimento feminista tem feito com relação à tais teorias é que elas não conseguem fugir no modelo binário entre público e privado (masculino e feminino). Contudo as críticas ao modelo discursivo é mais contundente, visto que, por partir de normas fundamentais de reciprocidade igualitária e pretende a democratização de todas as normas sociais, não pode impedir a democratização de normas familiares e de normas da divisão do trabalho por gênero. P. 62
Em suma, o modelo agonístico de Hannah Arendt não dá conta da realidade sociológica da modernidade nem das lutas políticas modernas por justiça. O modelo liberal transforma rapidamente o diálogo político sobre o poder num discurso jurídico sobre o direio. O modelo discursivo é o único compatível com as inclinações sociais gerais de nossas sociedades e com as aspirações emancipatórias dos novos movimentos sociais, como, por exemplo, o movimento de mulheres. O procedimento radical deste modelo constitui poderoso critério para desmitificar os discursos de poder e suas agendas implícitas. 
4. A esfera pública segundo Habermas
A esfera pública é o local de disputa entre os princípios divergentes de organização da sociabilidade. Os movimentos sociais constituem os atores que regem a burocratização, propondo a defesa das formas de solidariedade ameaçadas pela racionalização sistêmica. Eles disputam com o Estado e com o mercado a preservação de um espaço autônomo e democrático de organização, reprodução da cultura e formação de identidade e solidariedade. P. 63
O conceito de esfera política em Habermas é o ponto central de sua teoria, visto que é nela se que forma a vontade coletiva. É o espaço de debate público, do embate dos diversos atores da sociedade. 
Espaço público autônomo com uma dupla dimensão:
1. desenvolve processos de formação democrática de opinião pública e da vontade política coletiva, 
2. vincula-se a um projeto de práxis democrática radical, em que a sociedade civil se torna uma instância deliberativa e legitimadora do poder político, em eu os cidadãos são capazes de exercer seus direitos subjetivos públicos.
Reconstrução do espaço público – acontece dentre de uma perspectiva emancipatória, contemplando procedimentos racionais, discursivos, participativos e pluralistas, que permita, aos atores da sociedade civil um consenso comunicativo e uma autorregulação, fonte de legitimidade das leis. 
Vieira defende que o modelo discursivo é adequado às sociedades modernas, pois, c0k 0 9ngresso de novos grupos na esfera pública e a expansão dos direitos de cidadania na modernidade, não é mais possível imaginar um espaço público homogêneo e politicamente igualitário. O modelo habermasiano amplia o âmbito da atividade política, fertilizando-a com influxos comunicativos provenientes da sociedade civil. P. 65
5. Uma visão norte-americana: a esfera pública segundo Janoski
 O autor ainda aborda o conceito de esfera pública de Janoski, que divide a sociedade em quatro componentes interativos: a esfera estatal, a esfera pública, a esfera do mercado e a esfera privada. Ele afirma que, ao invés do que a teoria habermasiana defende, há uma justaposição entre as esferas.
Esfera estatal: executivo, judiciário e legislativo.
Esfera privada: vida familiar, redes de amizade. Contudo o as esferas estatal e do mercado invadem a esfera privada, no que Habermas chama de ‘colonização do mundo da vida’. Regulação do Estado se dá por meio do divórcio, vedação ao abuso infantil, perda do pátrio poder, etc. Já o mercado interage com o espaço público por meio das organizações privadas. 
A esfera de mercado, é constituída pelas organizações privadas (bem como pelas públicas, quando inserida nesse meio) que visam a obtenção de lucro. Vincula-se com a esfera estatal por meio da regulação da economia.
A esfera pública é a mais difícil de identificação, pois possui um extenso leque se organizações, que podem basicamente se classificadas em 5 tipos
1. Partidos políticos
2. Grupos de interesse
3. Associações de bem-estar social
4. Movimentos sociais
5. Grupos religiosos
O público e o privado são diferentemente distribuídos entre as quatro esferas. A esfera privada não constitui unicamente a esfera da privacidade. Com efeito, o público e o privado, embora se dividam estão o tempo todo invadindo, colaborando e transformando o espaço do outro. O principal aspecto dessa relação refere-se ao cheques and balances, entre as quatro esferas. A sociedade civil, e especialmente a esfera pública, passa a dispor de um maior controle em face do poder estatal. 
Capítulo 3 A sociedade Civil no Espaço Público
1. O resgaste da cidadania republicana
Vieira (2004) defende que o liberalismo contribuiu significativamente para formulação da ideia de uma cidadania universal, beseada na concepção de que todos os indivíduos nascem livres e iguais. Contudo, foi responsável também por reduzir o conceito de cidadania, a um mero status legal, estabelecendo os direitos que os indivíduos possuem contra o Estado. 
Por sua vez, a visão republicana cívica enfatiza a participação política e atribui papel central à inserção do indivíduo em uma comunidade política. O problema, contudo é conseguir conciliar esse modelo de comunidade política na sociedade moderna complexa.
O autor defende então, que o resgate da visão republicana é possível afirmando que a liberdade individual e a participação política podem ser reconciliadas. Atualmente, a política é tida como uma profissão, na qual o agente representa uma comunidade tão ampla, que ele se sente mais encorajado a beneficiar a si próprio ou as empresas e partidos que o financiam, do que a coletividade. 
Contudo o aurot afirma que a democracia completa é um projeto inalcançável. O que ele sugere é utilizar recursos da tradição democrática liberal em conjunto com a republicana, combinando assim o ideal de direitos e pluralismo com as ideias de espírito públicos e preocupação ético-política.Com efeito, defende a reativação da esfera pública, em que indivíduos podem agir coletivamente e se empenhar em deliberações comuns sobre todos os assuntos que afetam a comunidade política. A cidadania participativa, nesse sentido, também é essencial para obtenção da ação política efetiva, desde que habilite cada indivíduo para ter algum impacto nas decisões que afetam o bem-estar da comunidade.
2. Novo associativismo e redes
O autor fala que atualmente está ocorrendo uma alteração das teorias da transição democrática, que subestimaram a organização nas associações civis, centrando-se no institucional. Para uma outra perspectiva, de caráter culturalista, segundo a qual os estudos da democratização deve, acompanhar os processos culturais.
Nessa perspectiva, a democratização passa a ser compreendida como um processo permanente de ajuste entre legalidade e legitimidade, e entre moral e lei. As associações civis e os movimentos sociais, possuem papel relevante nesse processo, ampliando as discussões políticas e levando à agenda política temas sociais relevantes, contribuindo, assim, na construção do espaço público. 
Com efeito, o autor afirma haver três tipos de associações com desenhos e formas distintas:
1. associações não-conflitivas: [...] que por sua natureza não tematizam problemas, não estabelecendo, assim um campo ético-cultural.
2. associações conflitivas com o campo sistêmico: [...] que se institucionalizaram em campos predefinidos de ação, burocratizando-se com temas fixos do passado.
3. novo associativismo, com desenhos solidários [...] configurando um campo ético-político cultural que aponta para uma esfera pública democrática. (p. 74)
Uma questão de grande interesse diz respeito às redes, como formas recentes de organização da luta social, por parte das associações e movimentos. Tratar-se-ia de uma organização social de novo tipo, heterogênea e fragmentada, muito diferente do centralismo democrático das organizações tradicionais. As redes trazem importantes mudanças na sociabilidade e na espacialidade, criando novos territórios de ação coletiva, um novo imaginário social, uma comunidade virtual. Entretanto, se ampliam a possibilidade de comunicação, também têm um aspecto de exclusão, pois nem todos dispõem de acesso à comunicação. 
O autor fala que uma das principais implicações dessa tendência ao Estado policêntrico e às múltiplas redes associativas é que a redistribuição e participação não serão obra de alguma liderança popular central, o que dificulta a proteção destas às influências da política neoliberal. Talvez é o que vemos atualmente no Brasil, especialmente a partir das manifestações populares de 2015, em que haviam diversas demandas pulverizadas e que abaram sendo influenciadas pelos mais diversos interesses políticos e financeiros.
3. Democracia e esfera pública não-estatal
O autor afirma que ocorreu uma mudança significativa na forma de ação coletiva e de ocupação do espaço público por um conjunto diversificado de atores e associações, criando um polo distinto da sociedade política para satisfação de necessidades e constituição de novas identidades. 
Com efeito a ocupação plural do espaço público pode, segundo Vieira, gerar um desequilíbrio na relação entre os atores sociais e o sistema político, com o predomínio da sociedade políticas, que passa a selecionar a inserção das associações civis no Estado, conferindo-lhes um status semipúblico. 
É fundamental conceber os conceitos de sociedade civil e movimento social em relação um ao outro. Os movimentos sociais são percebimento como elemento dinâmico no processo que pode realizar os potenciais positivos das sociedades civis modernas. 
É possível, assim, articular o conceito de movimento social como virtualidade ou potencialidade histórica com o estudo empírico das organizações da sociedade civil, restabelecendo uma articulação entre o plano sincrônico (sociedade civil como organizações institucionalizadas) e diacrônico (movimento social como elemento dinâmico) entre desenvolvimento e estrutura. 
4. O público não-estatal como setor produtivo
O setor público não-estatal também pode ser chamado de terceiro setor, setor social, organizações da sociedade civil ou organizações sem fins lucrativos. Ele distingue-se do setor público pela sua atuação descentralizada, desburocratizada, apresentando maior eficiência em seus objetivos, por estar mais perto do público alvo. 
O autor afirma que o Estado centralizador, burocrático e autoritário foi superado com o advento do Estado neoliberal, afinado com a agenda econômica mundial do processo de globalização. Como o neoliberalismo transfere para o mercado questões sociais antes assumidas pelo Estado, e como o mercado, por sua própria natureza, volta-se para a produção econômica de mercadorias visando lucro e não à redistribuição de rende ou prestação de serviços sociais, recai nas mãos da sociedade civil, do setor público não estatal, a tarefa de equacionar o encaminhamento e a solução de tais problemas. 
O autor defende que, ao harmonizar o interesse público com a eficácia administrativa, a produção de bens e serviços no setor não-estatal torna-se mais eficiente. Contudo, a transferência de atividades sociais do Estado para o setor público não-estatal, especialmente com auxílio deste, pode engessar as organizações diante dos diversos requisitos e condições para concessão de benefícios estatais. 
5. Organizações sociais: não-estatais ou paraestatais?
Virei defende que o Estado pode, basicamente ser analisado a partir de três perspectivas básicas:
1. Uma posição estadocêntrica, que entende ser função intransferível do Estado assegurar o bem-estar social, formuar e aplicar políticas sociais [...]
2. Uma posição mercadocêntrica, segundo a qual o Estado deve priorizar funções que podem ser assumidas pelo mercado com maior eficiência e otimização de recursos, pois é o mercado que produz riquezas e fornece emprego aos trabalhadores [...].
3. Uma posição sociocêntrica, sustentando que o papel do Estado deve ser redefinido em função da dinâmica dos atores da sociedade civil presentes na esfera pública, a partir de uma perspectiva societária: o que importa é garantir o interesse público e não o fato de a propriedade ser estatal, privada ou mesmo pública não-estatal, devendo a nova relação Estado-sociedade abrir caminho para o aprofundamento da democratização não só política, mas também social e econômica. (p. 84).
A transferência da gestão de atividades estatais para organizações sociais dificilmente se enquadra nas modalidades acima descritas, conforme o autor. Defende ele que, na realidade, as organizações sociais que celebram contrato de gestão com o Estado não seriam organizações privadas, nem estatais, nem, talvez, não-estatais: poderiam ser consideradas paraestatais, tendo em vista que se constituem ou funcionam em torno do Estado. 
6. Espaço público e democratização do Estado

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