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propriedades reologicas do muco

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ISSN 1413-3555
Rev. bras. fisioter. Vol. 9, No. 1 (2005), 33-39
©Revista Brasileira de Fisioterapia
ESTUDO DAS PROPRIEDADES REOLÓGICAS DO MUCO BRÔNQUICO DE
PACIENTES SUBMETIDOS A TÉCNICAS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA
Martins, A. L. P., Jamami, M. e Costa, D.
Programa de Pós-graduação em Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil
Correspondência para: Ana Lúcia Pio Martins, Rua Maestro Nicanor Vieira, 279, Centro,
CEP 37140-000, Areado, MG, e-mail: anapio@iris.ufscar.br ou ana.pio@bol.com.br
Recebido: 26/1/2004 – Aceito: 26/10/2004
RESUMO
Objetivo: Analisar amostras de muco brônquico de pacientes com hipersecreção brônquica submetidos à higiene brônquica (HB),
sendo avaliadas as propriedades reológicas, o volume expectorado e o índice de purulência (IP) do muco. Método: O protocolo
de HB constou de inalação, drenagem postural, tapotagem, aumento do fluxo expiratório e uso do aparelho Flutter®. Foi coletado
muco expectorado de 9 pacientes antes e após cada sessão de HB. O muco coletado foi conservado a –20oC. As medidas reológicas
foram realizadas no reômetro Dynamic Stress Rheometer AR1000N, com a ferramenta placa paralela, deformação constante de
0,01 Pa, na faixa de freqüência de 1 a 20 Hz, a 37oC. Foram obtidos valores de G’ (módulo elástico), G” (módulo viscoso), η’
(viscosidade dinâmica) e η* (viscosidade complexa), sendo utilizados para a análise estatística não-paramétrica (p ≤ 0,05) os valores
observados nas freqüências de 1, 2, 16 e 20 Hz. Resultados: Os parâmetros reológicos G’ e η* caíram significativamente no 2o e
no 3o dia de tratamento em relação ao pré-tratamento em todas as freqüências. O volume de muco obtido no pré-tratamento foi
significativamente menor se comparado aos outros. O IP reduziu significativamente no 3o dia e mostrou relação de dependência
com parâmetros reológicos do muco coletado no 1o e no 2o dia, sendo a mais alta a 20 Hz, com G’’ (r = 0,91). Conclusão: Considerando
os resultados obtidos, sugerimos que houve melhora no perfil reológico do muco coletado após intervenção fisioterapêutica.
Palavras-chave: muco, hipersecreção, Fisioterapia Respiratória, viscoelasticidade, reologia.
ABSTRACT
Study of the rheological properties of bronchial mucus among patients
undergoing chest physiotherapy techniques
Objective: To analyze bronchial mucus samples from patients with hypersecretion who underwent chest physical therapy (CPT), by means
of evaluations of rheological properties, expectorated mucus volume and the mucus purulence index (PI). Methods: The CPT protocol
consisted of inhalation, postural drainage, chest percussion, forced exhalation techniques and use of the Flutter VRP1® device. Mucus
samples were collected from 9 patients, before and after each CPT session. The collected mucus was conserved at –20°C. The rheological
properties of mucus were evaluated using the AR1000N Dynamic Stress Rheometer, equipped with a parallel plate. Constant strain of
0.01 Pa was applied to the sample, within a frequency range of 1 to 20 Hz, at 37°C. Values were obtained for G’ (storage modulus),
G” (loss modulus), η’ (dynamic viscosity) and η* (complex viscosity). Values observed at the frequencies of 1, 2, 16 and 20 Hz were
used in the non-parametric statistical analysis (p ≤ 0.05). Results: Compared with the values before treatment, the rheological parameters
G’ and η* decreased significantly on the 2nd and 3rd days of treatment for all frequencies. Mucus volume obtained before treatment was
significantly smaller than the other values. PI decreased significantly on the 3rd day and showed a dependence relationship with mucus
rheological parameters collected on the 1st and 2nd days. The highest was at 20 Hz, for G’’ (r = 0.91). Conclusions: Considering the results
obtained, we suggest that there was an improvement in the mucus rheological profile collected after CPT.
Key words: mucus, hypersecretion, chest physical therapy, viscoelasticity, rheology.
INTRODUÇÃO
A Fisioterapia Respiratória (FR) tem importante papel
no tratamento de pneumopatias. Terapias de higiene brônquica
(HB) em casos de hipersecreção já são utilizadas há muitas
décadas, com algumas técnicas denominadas convencionais
e outras novas.1 Todas objetivam prevenir ou reduzir as
conseqüências mecânicas da obstrução, como hiperinsuflação,
34 Martins, A. L. P., Jamami, M. e Costa, D. Rev. bras. fisioter.
má distribuição da ventilação pulmonar, entre outras,2
aumentando a clearance mucociliar da via aérea.3,4
Essas técnicas vêm sendo alvo de estudos e revisões,5,6,7,8
porém, permanecem muitas dúvidas sobre suas relações com
as propriedades reológicas do muco brônquico.
A via aérea é recoberta por uma fina camada de muco,
uma mistura complexa de produtos de grande variedade quali
e quantitativa9 que forma um filtro sobre toda a superfície
epitelial. Essa barreira mecânica e biológica protege a mucosa
epitelial de desidratação, lesões químicas e físicas de
microorganismos e agentes nocivos.10,11,12
O muco é um fluido bifásico composto por uma fase
aquosa sol (inferior) e uma fase gel (superior). A camada sol
banha os cílios que se projetam da superfície epitelial e pene-
tram na camada gel. Dessa forma, o muco pode ser propelido
pelo batimento ciliar.13,14 No entanto, em estados patológicos,
muitos fatores podem afetar esse transporte, como, por exemplo,
a maior produção de muco e possíveis alterações de suas pro-
priedades físicas ou reológicas. Outra possível alteração é
quanto ao aspecto macroscópico, que pode variar de mucóide
a purulento, sendo que a maior purulência pode estar rela-
cionada à sua conformação estrutural e, conseqüentemente,
com seu comportamento reológico. As propriedades reológicas
do muco são atribuídas, principalmente, à sua estrutura po-
limérica de glicoproteínas15 e às ligações cruzadas entre elas.10
Uma forma de investigar tais características é pela reologia,
ciência que estuda a deformação e o deslocamento, analisando
as respostas do material ante a aplicação de uma força externa.16
O muco é considerado um fluido não-newtoniano, uma
vez que seu comportamento varia de acordo com a tensão a
que está exposto.17,18 Tal afirmativa torna-se evidente nos casos
em que o muco está sob influência de altos fluxos expiratórios,
os quais geram altas forças de cisalhamento e diminuem sua
resistência ao fluxo ou à viscosidade.19 O muco também
apresenta característica de um material semi-sólido viscoelás-
tico, pois quando uma força é aplicada, ele se comporta,
simultaneamente, como líquido e como sólido.20 Como líquido,
o muco se escoa, dispendendo energia (viscosidade). Como
sólido, ele se deforma, acumulando energia (elasticidade).10,14
A tixotropia, outra propriedade reológica do muco, é a
capacidade de um material, que foi submetido à agitação
constante e sofreu tendência à fluidificação progressiva, retornar
às suas características iniciais após um período de repouso.17
O muco apresenta tixotropia parcial, uma vez que, após o
repouso, o retorno às suas características não é total.9,17,18
A avaliação das propriedades reológicas do muco é
importante para compreender sua função normal e determinar
os fatores responsáveis por sua anormalidade nas doenças.11
Os equipamentos mais utilizados para a análise reológica
do muco são viscosímetros capilares,21,22 reômetros rota-
cionais18,23,24 e microrreômetro magnético de esfera.15,25,26,27
Um dos cuidados mais relevantes em medições reoló-
gicas do muco é fazer testes em diferentes freqüências de
aplicação da força deformante por meio de testes oscilatórios
dinâmicos.28 Dessa forma, é possível observar o compor-
tamento biológico do muco diante de diferentes solicitações
funcionais, tanto de baixa (batimento ciliar normal) como
de alta freqüência (tosse), e avaliar de qual forma o muco
é mais facilmente transportado, proporcionando importantes
correlações fisiopatológicas.29A FR atua em doenças pulmonares hipersecretivas,
baseada na suposição de que é capaz de promover a clearance
do muco da via aérea em função do aumento no mecanismo
de transporte. Uma hipótese levantada como causa desse
aumento seria a alteração na propriedade viscoelástica do
muco propiciada pelas técnicas de HB.30
O comportamento reológico complexo do muco brôn-
quico ainda é um campo pouco explorado e com muitos
questionamentos. Dessa forma, justifica-se a necessidade
de estudos que visem a fundamentar cientificamente e a
ampliar a compreensão das alterações mecânicas apresentadas
pelo muco em decorrência de diversas patologias, bem como
seu comportamento mecânico, especialmente mediante
manobras de HB.
Assim, este estudo objetivou: 1. avaliar o comportamento
reológico do muco brônquico de pacientes com hipersecreção
brônquica submetidos a sessões consecutivas de HB; 2. analisar
as alterações quanto ao volume e ao aspecto macroscópico
do muco, por meio do índice de purulência (IP) proposto por
Deneuville et al.,23 no decorrer dos dias de tratamento.
MATERIAIS E MÉTODOS
Casuística
Foram avaliados 33 pacientes que apresentavam queixa
de hipersecreção brônquica, independentemente da pneu-
mopatia de base. Todos os pacientes deram seu consentimento
por meio de um termo de autorização aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da instituição, conforme estabelece a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Dos pacientes avaliados, 24 (72,7%) foram excluídos
do estudo: 12 (36,36%) por apresentarem dificuldade em
expectorar ou secreção insuficiente; 3 (9,09%) por exacerbação
do quadro, requerendo outros tipos de procedimento; 3 (9,09%)
tiveram dificuldade em comparecer às sessões; e as amostras
de 6 pacientes (18,18%) ficaram estocadas por um período
superior a 90 dias. Assim, 9 pacientes participaram efetivamente
do estudo, sendo 4 homens e 5 mulheres com idade variando
de 55 a 74 anos, todos com hipersecreção brônquica causada
por bronquiectasia ou DPOC, que se submeteram a 3 sessões
consecutivas de HB, expectorando no mínimo 1 ml de muco
após cada sessão.
Protocolo
Coleta do muco brônquico
Os pacientes foram submetidos a uma avaliação e a
três dias consecutivos de terapia de HB. No dia da avaliação
(pré-tratamento) foi coletado muco sem que o paciente fosse
Vol. 9 No. 1, 2005 Propriedades Reológicas do Muco Brônquico 35
submetido a qualquer tipo de intervenção. A FR constou do
seguinte protocolo: a) 7 minutos de inalação com soro fisio-
lógico; b) drenagem postural associada à tapotagem (DP +
TAP): 3 minutos de tapotagem em cada região torácica
correspondente às áreas pulmonares acometidas; c) Flutter®:
3 séries de 10 repetições na posição sentada; d) aumento do
fluxo expiratório (AFE) ativo; e e) 7 minutos de inalação
com soro fisiológico.
Dessa forma, foram coletadas 4 amostras de cada
paciente: uma antes do tratamento e uma após cada dia de
intervenção, totalizando 36 amostras. O volume de muco
coletado foi medido e seu aspecto macroscópico foi
visualmente analisado por meio do IP.23
Armazenamento do muco brônquico
O muco obtido na expectoração foi separado da saliva
e a porção menos aquosa foi dividida em alíquotas de 1,5
ml e colocadas em ependorfs revestidos internamente com
óleo mineral a fim de minimizar os efeitos da desidratação
causada pelo resfriamento e pelo período de armazena-
mento.22,31,32 Neste estudo foi utilizado cerca de 0,15 ml de
óleo mineral. As amostras foram armazenadas a –20oC por,
no máximo, 3 meses, para análise posterior.
Análise do muco brônquico
Para a análise da reologia do muco utilizou-se o reômetro
Dynamic Stress Rheometer AR1000N, com a ferramenta placa
paralela de aço inox, com 40 mm de diâmetro. O intervalo
entre as placas (gap) foi de 0,1 mm, para o qual foi necessário
um volume de 0,5 ml de amostra. A temperatura obtida por
meio da placa de Peltier foi fixada em 37oC. Para evitar o
ressecamento da amostra durante a mensuração, foi utilizado
um sistema de cobertura denominado solvent trap, o qual
permite a manutenção da umidade local. A deformação para
o teste foi padronizada em 0,01 Pa, realizando varredura de
freqüência de 1 a 20 Hz.
As amostras retiradas dos ependorfs receberam cerca
de 0,25 ml de éter etílico PA e foram colocadas em uma capela
por aproximadamente 5 min, até que o éter evaporasse, para
minimizar possíveis erros de mensuração decorrentes do óleo
ou de éter.
Análise Estatística
Os dados são apresentados em média e desvio-padrão.
Para a análise estatística foram realizados testes de variância
não-paramétricos de Friedman e Wilcoxon e, para analisar
correlações, o Coeficiente de Spearman. O nível de
significância adotado foi de 5%.
RESULTADOS
Os dados demográficos, antropométricos, espirométricos
e informações sobre tabagismo dos 9 pacientes que
compuseram a amostra estão apresentados na Tabela 1.
Observa-se que formaram um grupo com estreita faixa etária
e número similar de homens e mulheres. Todos os pacientes
apresentavam alteração espirométrica, sendo 7 deles com
os valores de volume expiratório forçado no primeiro segundo
(VEF
1
) abaixo de 60% do previsto. Com exceção de um
paciente que nunca fumou, todos os outros eram ex-fumantes.
Os dados referentes ao volume e ao IP do muco expec-
torado nas etapas pré-tratamento e nos dias de FR estão ilus-
trados na Figura 1. Por meio da análise estatística, observou-se
que o volume expectorado no pré-tratamento foi significa-
tivamente menor que o dos outros dias. Para cada um dos dias
de HB, o volume não foi diferente entre si. Em relação ao IP,
houve redução significativa no 3o dia de tratamento quando
comparado aos demais.
 Valor Variação 
n 9 
Idade (anos) 69 ± 6,0 55-74 
Sexo (M/F) 4/5 
Peso (kg) 67,1 ± 12,7 44,7-82,5 
Altura (cm) 158,0 ± 7,8 147-171 
Tempo de fumo (anos) 44,6 ± 22,7 0-64 
Quantidade (cig./dia) 12,3 ± 9,2 0-20 
CVF (% do previsto) 74,2 ± 19,3 45-106 
VEF1 (% do previsto) 52,0 ± 15,5 23-76 
Tiffeneau (% do previsto) 70,3 ± 17,9 51-102 
PFE (% do previsto) 55,9 ± 25,4 17-91 
CVF = capacidade vital forçada; VEF1 = volume expiratório forçado no primeiro segundo; Tiffeneau = 
relação entre VEF1 e CVF; PFE = pico de fluxo expiratório. 
Tabela 1. Dados demográficos, antropométricos, espirométricos e hábito de tabagismo dos pacientes submetidos à Fisioterapia Respiratória,
em média, desvio-padrão e variação.
36 Martins, A. L. P., Jamami, M. e Costa, D. Rev. bras. fisioter.
Na Figura 2 está representado o comportamento reológico
das amostras de muco brônquico segundo a varredura de
freqüência. Os parâmetros ilustrados são: G’ (módulo elástico),
G’’ (módulo viscoso), η’ (viscosidade dinâmica) e η*
(viscosidade complexa). É possível observar um espectro amplo
do comportamento do muco, no qual as curvas ilustram seu
comportamento tipicamente viscoelástico, com G’ e G’’ se
elevando com o aumento da freqüência enquanto η’ e η*
diminuem.
Em todas as freqüências específicas se observaram alte-
rações significativas dos parâmetros reológicos do muco
coletado no 2o e 3o dia em relação ao pré-tratamento. Na
freqüência de 1 Hz foi observada diferença significativa no
3o dia em relação ao pré-tratamento e no 1o dia para G’ e para
η*. Os parâmetros reológicos de G’ e η* caíram significa-
tivamente em todas as freqüências analisadas. Diminuição
significativa foi observada em G’’ nas freqüências de 1, 2 e
16 Hz e em η’ nas freqüências de 1 e 2 Hz (Tabela 2).
Figura 2. Comportamento das propriedades reológicas (em log) do muco brônquico coletado antes do tratamento (pré) e após cada sessão
de FR (1o, 2o e 3o dia). Todos os gráficos são plotados pela varredura de freqüência, sendo que os parâmetros observados são: A = η’ (viscosidade
dinâmica), B = η* (viscoelasticidade complexa), C = G’ (módulo elástico) e D = G’’ (módulo viscoso).
Figura 1. Volume (A) e índice de purulência(B) do muco brônquico expectorado antes do tratamento (pré) e após cada sessão (1o, 2o e 3o
dia). *Significativamente diferente segundo o teste de Wilcoxon, p ≤ 0,05.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Pré 1 diao 2 diao 3 diao
Média+DP
Média–DP
Média
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Pré 1 diao 2 diao 3 diao
Média+DP
Média–DP
Média
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0,01
0,1
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A
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s)
Freqüência (Hz)
Pré
1 diao
2 diao
3 diao
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
0,01
0,1
1
10
B
Freqüência (Hz)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
1
10
100
C
G
' (
Pa
)
Freqüência (Hz)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
1
10
100
D
Freqüência (Hz)
�
’
(P
a.
s)
G
' (
Pa
)
Pré
1 diao
2 diao
3 diao
Pré
1 diao
2 diao
3 diao
Pré
1 diao
2 diao
3 diao
Vol. 9 No. 1, 2005 Propriedades Reológicas do Muco Brônquico 37
Não houve correlação do IP do muco coletado antes
da intervenção fisioterapêutica com os dados referentes a
tempo de tabagismo, quantidade de cigarros fumados por
dia, idade e valores espirométricos de fluxo (VEF
1
 e PFE).
Houve, contudo, correlação positiva significativa entre o IP
e alguns parâmetros reológicos do muco coletado apenas no
1o e no 2o dia de tratamento, sendo a correlação mais alta (r =
0,91) a do IP com o G’’, a 20 Hz no 1o dia.
DISCUSSÃO
A análise das propriedades reológicas do muco coletado
mostrou grande variabilidade nos valores individuais, prova-
velmente pelos diversos diagnósticos apresentados. Entretanto,
como o intuito foi estudar as possíveis implicações do
tratamento de HB sobre o comportamento reológico do muco,
não houve preocupação em definir patologia específica.
A fim de minimizar efeitos que pudessem influenciar
as medidas reológicas, escolheu-se uma amostra visualmente
mais homogênea e sem saliva do muco expectorado. Essa
separação visual é viável, uma vez que o muco é
estruturalmente diferente da saliva.
Neste estudo, os parâmetros tanto relacionados à visco-
sidade (G’’, η’, η*) quanto à elasticidade (G’) mostraram
dependência com a freqüência,15 uma vez que G’ e G’’ se
elevam à medida que a freqüência aumenta, enquanto η’
e η* diminuem. Puchelle et al.33 já questionavam a relação
entre transporte e reologia do muco e reforçaram a teoria
de que a capacidade de transporte do muco respiratório seria,
em parte, dependente de suas propriedades reológicas. Chen
& Dulfano34 relatam que a faixa de viscosidade em torno
de 15 Pa.s e do módulo elástico em torno de 1 Pa seriam
as ideais para um transporte mucociliar eficiente. Em nosso
estudo foram encontrados, em freqüências baixas, valores
médios de h’ em torno de 1 Pa.s, enquanto G’ variou mais,
ficando acima de 15 Pa na maioria dos casos. A partir do
2o dia de tratamento, os valores de G’ caíram, mas não
atingiram o considerado ideal para a transportabilidade ciliar.
Assim, é possível inferir que indivíduos com muco com
esse comportamento reológico sejam mais beneficiados por
técnicas e aparelhos que possam diminuir, principalmente,
sua elasticidade.
Apesar de a transportabilidade não ter sido focada neste
estudo, valores altos de G’ foram observados em todas as
freqüências, principalmente a 20 Hz, a mesma freqüência
em que Giordano et al.25 observaram maior correlação
negativa entre G’ e a taxa de clearance. Correlações similares
foram observadas entre viscoelasticidade e índice de clearance
a 16 Hz.35 Assim, quanto maior o G’, mais lentamente o muco
é transportado.
Freq. Parâmetro Pré 1o dia 2o dia 3o dia 
G’ (Pa) 17,00 ± 10,97 11,56 ± 9,53 5,67 ± 3,66* 5,95 ± 2,77* † 
G’’ (Pa) 5,70 ± 3,09 6,01 ± 8,81 2,08 ± 1,35* 2,36 ± 1,09* 
η’ (Pa.s) 0,91 ± 0,49 0,96 ± 1,40 0,33 ± 0,22* 0,38 ± 0,17* 1 Hz 
η *(Pa.s) 2,86 ± 1,80 2,12 ± 2,00 0,96 ± 0,62* 1,02 ± 0,47* † 
G’ (Pa) 33,39 ± 19,26 20,06 ± 18,60 10,24 ± 6,10* 10,15 ± 5,28* 
G’’ (Pa) 10,55 ± 6,78 9,81 ± 15,93 3,38 ± 2,08* 3,66 ± 2,19* 
η’ (Pa.s) 0,84 ± 0,54 0,78 ± 1,27 0,27 ± 0,17* 0,29 ± 0,18* 2 Hz 
η* (Pa.s) 2,80 ± 1,62 1,82 ± 1,91 0,86 ± 0,51* 0,87 ± 0,45* 
G’ (Pa) 85,33 ± 65,24 48,50 ± 42,10 26,75 ± 18,58* 23,29 ± 15,49* 
G’’ (Pa) 29,29 ± 22,89 22,77 ± 34,46 9,57 ± 4,88* 10,13 ± 10,54* 
η’ (Pa.s) 0,29 ± 0,23 0,23 ± 0,35 0,10 ± 0,05 0,11 ± 0,10 16 Hz 
η* (Pa.s) 0,91 ± 0,69 0,55 ± 0,53 0,27 ± 0,19* 0,26 ± 0,18* 
G’ (Pa) 92,43 ± 72,80 52,58 ± 45,01 29,63 ± 20,21* 25,63 ± 16,11* 
G’’ (Pa) 31,56 ± 26,22 24,47 ± 35,89 9,10 ± 7,12 12,68 ± 10,15 
η’ (Pa.s) 0,26 ± 0,20 0,20 ± 0,29 0,07 ± 0,06 0,10 ± 0,13 20 Hz 
η* (Pa.s) 0,79 ± 0,62 0,47 ± 0,45 0,25 ± 0,17* 0,24 ± 0,16* 
*Pré-tratamento (teste de Wilcoxon, p ≤ 0,05). † 1o dia (teste de Wilcoxon, p ≤ 0,05). 
 
Tabela 2. Parâmetros reológicos do muco brônquico coletado no pré e nos dias de tratamento nas freqüências de 1, 2, 16 e 20 Hz (valores
apresentados em média e desvio-padrão).
38 Martins, A. L. P., Jamami, M. e Costa, D. Rev. bras. fisioter.
As análises reológicas foram realizadas no muco coletado
pré-tratamento e nos 3 dias consecutivos de FR e o que se
observou foi uma melhora do perfil reológico evidenciada
pela queda significativa da viscoelasticidade, demonstrada
principalmente por G’ e η* no 2o e no 3o dia em relação ao
pré-tratamento. Uma melhora do perfil reológico do muco
coletado após intervenção fisioterapêutica também foi
observada por App et al.,30 cujos pacientes com fibrose cística
foram tratados com drenagem autógena ou com Flutter®. A
terapia com Flutter® resultou em redução da viscoelasticidade
do muco, tanto em alta quanto em baixa freqüência de análise
quando comparada com o tratamento apenas com drenagem
autógena.
Ao contrário, Ramos et al.22 observaram um perfil
reológico pior no muco de pacientes bronquiectásicos após
aplicação isolada de manobras de drenagem postural,
tapotagem e técnica de expiração forçada, em relação ao
muco expectorado pela tosse ativa.
Outro fator importante apontado por diversos autores
é o aspecto macroscópico apresentado pelo muco. Analisamos
esse aspecto pelo IP,23 e o muco coletado, após 3 dias de
intervenção, obteve valor significativamente menor
comparado aos demais. Apesar dessa redução ter sido
significativa apenas no 3o dia, enquanto o padrão reológico
do muco melhorou no 2o e no 3o dia, os resultados demons-
tram que uma tendência de queda no IP pode ter influência
na melhora reológica do muco no decorrer das sessões.
Ao contrário do que esperávamos, não foi observada
dependência do IP do muco coletado antes de qualquer inter-
venção fisioterapêutica com o tempo de fumo, quantidade de
cigarros fumados por dia, idade e valores espirométricos de
VEF
1
 e PFE. No entanto, houve correlação positiva significativa
entre IP e parâmetros reológicos, sugerindo que a purulência
influencia na piora do perfil reológico. Similarmente,
Deneuville et al.23 encontraram correlação significante, porém
fraca, do IP com a viscosidade (r = 0,53) e com G’ (r = 0,52).
Um aspecto relevante observado em nossos resultados
foi o volume de muco, que se mostrou significativamente menor
antes de qualquer intervenção, quando comparado aos demais
dias, como observado também em outros estudos.22,36 O maior
volume de muco expectorado após intervenção sugere
melhora nas condições de transporte, possivelmente por
alterações reológicas causadas pelas manobras aplicadas.30
Hipersecreção e expectoração são sintomas comuns
em pacientes com pneumopatias e, apesar de controvérsias,
alguns estudos assumem que a estase do muco na via aérea
pode contribuir para sua obstrução, predispor o desenvol-
vimento de infecções pulmonares ou formar barreira contra
substâncias inaladas, como medicamentos.19
As técnicas e aparelhos utilizados para HB e a possi-
bilidade decausarem alteração na reologia do muco ainda
são pouco estudados. Alguns estudos têm utilizado a reologia
para verificar a eficácia de substâncias mucolíticas,37 a relação
entre reologia do muco e transportabilidade26 ou entre reologia
e concentração de água no muco.24 Assim, as perspectivas
levantadas neste estudo instigam a busca por maior
conhecimento na reologia do muco e na eficiência das
intervenções fisioterapêuticas em pacientes hipersecretivos.
Concluindo, a resposta do muco ante uma variação de
freqüência foi compatível com a esperada de um fluido
viscoelástico não-newtoniano, como preconizado na lite-
ratura.16,17,18 Isso indica que o equipamento e o teste utilizados
correspondem aos necessários para verificar seu comportamento
reológico. O IP apresentou correlação positiva com alguns
parâmetros reológicos, indicando que, quanto mais purulento
for o muco, pior seu perfil reológico. E, finalmente, o benefício
proporcionado pela intervenção fisioterapêutica empregada
ficou evidenciado pela redução significativa dos valores dos
parâmetros reológicos, pela maior expectoração de muco e
pela diminuição de sua purulência no decorrer das sessões,
sugerindo melhora do perfil reológico do muco após o trata-
mento.
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