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Professor Luiz Figueira Pinto - UFRRJ Página 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Veterinária - Departamento de Medicina e Cirurgia Disciplina Obstetrícia Veterinária (IV-332) Professor Responsável: Luiz Figueira Pinto Estudo das Glândulas Mamárias 1. Introdução A presença das glândulas mamárias caracteriza e dá nome à classe dos Mamíferos (Classe Mammalia), que se constitui no grupo mais desenvolvido do Reino Animal. O aparelho mamário é uma estrutura adaptativa que surgiu em dado momento no processo da evolução animal e que permitiu o aleitamento materno, característica comum dos mamíferos, e que se constitui em um dos cuidados à prole, e que alcança o máximo na espécie humana. O grau de especialização funcional alcançado nos mamíferos se reflete na fragilidade de suas crias que requerem cuidados maternos especiais e que devem ser continuada no pós-parto por um tempo variável. A fase de amamentação consiste na fase oral do desenvolvimento, tão necessária para o adequado desenvolvimento imunológico, digestivo e psicológico do indivíduo, e que favorece a uma adequada adaptação ambiental e social do individuo. As glândulas mamárias se desenvolvem na gestação e alcançam o seu máximo desenvolvimento na época do parto, quando o organismo materno se prepara para a amamentação. Estes dois períodos são os de maiores exposições a distúrbios patológicos, principalmente os de natureza traumáticas ou infecciosas, sendo de interesse da obstetrícia o incremento de medidas preventivas e curativas. A vaca leiteira ocupa uma posição de destaque entre as fêmeas domésticas, pois o leite bovino é um alimento de primeira necessidade na alimentação humana, o que denota a responsabilidade da obstetrícia veterinária em procurar soluções para os problemas de saúde animal que acarretam decréscimo da reprodução animal e da produção leiteira. A casuística das patologias mamárias nos animais domésticos difere em relação a cada espécie. Enquanto que nas cadelas e gatas predominam a ocorrência de neoplasias e represamento lácteo (empedramento), nos ruminantes observa-se freqüentemente traumatismo por pisaduras, lacerações por objetos cortantes e processos infecciosos intramamário. A égua e a porca são as espécies de animais domésticos menos acometidas. 2. Desenvolvimento A glândula mamaria histologicamente é uma glândula túbulo-alveolar composta derivada embriologicamente do folheto ectodérmico. Nos grandes animais, aproximadamente por volta da 6ª semana do desenvolvimento embrionário, surgem duas cristas ectodérmicas paralelas denominadas linhas do leite, que com o desenvolvimento tornam-se descontínuas, formam aglomerações celulares, e surgem nódulos de células epidérmicas que se infiltram na derme e dão origem aos botões mamários. Ao nascimento estão presentes as cisternas da glândula e dos tetos, alem doas estruturas para formação dos condutos galactóforos. Professor Luiz Figueira Pinto - UFRRJ Página 2 Na puberdade com elevação dos níveis de estrógenos circulantes há crescimento e ramificação dos condutos galactóforos, e durante a gestação com a produção de progesterona surgem os condutos galactóforos mais finos e os alvéolos mamários. A liberação de prolactina durante a parição e amamentação provoca a secreção de leite, e a glândula alcança o seu pleno desenvolvimento. 3. Estrutura do aparelho mamário Em todos os Mamíferos, desde os Monotrematas até os Placentários, a glândula mamária possui estrutura anatômica semelhante ficando as diferenças relacionadas a sua arquitetura, no número de unidades glandulares, na posição ou distribuição ventral, e na forma anatômica. A estrutura comum da glândula mamária consiste em: 3.1 - Parênquima glandular O tecido glandular está constituído por epitélio secretor cujas células se agrupam em ácinos denominados de alvéolos. Estas células secretoras alveolares retiram do sangue os ingredientes para a síntese do leite. Os alvéolos são estruturas diminutas que variam de 100 a 300 micra de tamanho e apresentam uma forma de saculações ou de pêra, cuja parede consiste de um simples extrato de células epiteliais, e um curto capilar lactífero que se comunica com um canalículo um pouco mais calibroso denominado de dúctilo de 1ª ordem. Cada alvéolo é circundado por uma camada de células mioepiteliais estreladas e por um delicado estroma no qual repousa um fino reticulo capilar. O parênquima da glândula mamaria está constituído por um agregado de ácinos e tabiques conjuntivos. Certo número de alvéolos, em grupo de ate 200 unidades, são unidos por um duto comum e estes alvéolos são envolvidos por tecido conjuntivo mais espesso, dando origem a um lobo mamário. A secreção deste lobo mamário se da por um duto comum. Os lobos por sua vez formam a glândula. 3.2 – Vias excretoras A drenagem do leite se faz dos alvéolos para os dúctilos através do capilar lactífero. A medida que os canalículos vão se confluindo vão se formando os dúctilos de 2ª ordem, que por sua vez, se reúnem formando os de 3ª ordem, e assim sucessivamente, até os de 7ª ordem, denominados canais galactóforos ou ductos excretores. Os canais galactóforos desembocam na cisterna da glândula. Desta o leite passa para a cisterna do teto e vai ao exterior através do canal do teto. Esta saída é controlada pelo esfincter do teto. Este esfincter é mantido em constante baixa pressão por impulso do sistema nervoso autônomo e se a inervação for bloqueada neste ponto o leite da vaca tende a gotejar. Na parte superior do canal do teto fica localizada a roseta de Fürstemberg, que apresenta de 4 a 8 membranas radiais , que evitam o escapamento do leite sem a necessidade de contração dos músculos dos esfíncteres. Além disto, o canal estriado (ductos papilares) impede a saída do leite do úbere antes da ordenha e evita a entrada de bactérias e outros elementos nocivos para o interior da glândula. Professor Luiz Figueira Pinto - UFRRJ Página 3 3.3 – Mecanismo suspensor Nas vacas de alta produção, o úbere pode atingir ate mais de 40 Kg. O estroma é formado por um sistema de fibras conectivo-elásticas envolvendo os ácinos e os ductos excretores, que formam uma trama conjuntiva, sustentando de modo perfeito o sistema secretor e excretor, sem que o peso da glândula se faça sentir sobre os canalículos menores. Na vaca encontram-se os seguintes ligamentos: ligamento suspensório mediano, o qual se origina a partir dos tendões da parede abdominal (túnica flava), que separa a glândula direita da esquerda; e os ligamentos laterais superficiais e profundos, os quais se originam no tendão pré-pubico e tendão sub-púbico, ao longo da superfície ventral da pélvis óssea. Os ligamentos laterais são principalmente fibrosos e os mediais contem muitas fibras elásticas. 3. 4 – Vascularização Para a síntese do leite é necessária uma abundante irrigação sangüínea. As vacas de alta produção necessitam em torno de 500 litros de sangue circulante nos alvéolos glandulares para cada litro de leite secretado. Enquanto que nas vacas de baixa produção esta proporção chega a 1000:1. As artérias pudendas externas deixam o abdome através do canal inguinal e originam as artérias mamarias cranial e caudal, as quais se anastomosam com as artérias perineais. A artéria subcutânea abdominal é ramo da artéria mamaria. As veias são duas a três vezes mais calibrosas que as artérias e são satélites destas. 3.5 – Sistema linfático Está representado pelo linfonodo retro mamário ou supramamário, que se encontram na parte caudal entre os dois quartos mamárioscaudais. 3.6 – Inervação Existe a inervação somática e a autônoma. Os nervos espinhais L1, L2, L3 e L4 e o nervo perineal possuem fibras aferentes sensoriais provenientes da parte anterior do úbere, parede abdominal adjacente e períneo. O sistema nervoso autônomo simpático controla o fluxo de sangue e inerva os músculos lisos e os esfíncteres do teto. 4. Processo secretor do Leite A secreção do leite se faz por três tipos de secreção: tipo holócrino, resultante da desintegração total da célula epitelial que se transforma em parte da secreção; tipo apócrino, em que ocorre ruptura parcial da membrana plasmática e a saída parcial dos produtos secretados; e o tipo merócrino, em que o movimento dos produtos secretados através da membrana plasmática ocorre sem injuria desta membrana. Portanto, o leite provém da síntese e filtração de material proveniente do sangue. É um processo continuo e reversível. Esta secreção do leite é desencadeada pela liberação de prolactina durante a parição e ordenhas. Professor Luiz Figueira Pinto - UFRRJ Página 4 5. Mecanismo de ejeção do leite A ejeção do leite é provocada por reflexo neuro-hormonal em resposta à estimulação de receptores no teto ou outro estimulo associado à ordenha. Estes estímulos alcançam o hipotálamo e causam liberação de ocitocina pelo lobo posterior da hipófise. A ocitocina promove contração das células mio-epiteliais que envolvem os alvéolos forçando o leite dos alvéolos em direção aos ductos mamários. A interferência de distúrbios emocionais, como o medo e o estresse, provoca a inibição da ejeção de leite em animais em lactação devido à ativação do sistema neuro-adrenal com liberação de adrenalina. A adrenalina provoca vaso constrição local, o que impede a atuação da ocitocina e promove contração dos esfíncteres do teto.
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