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Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 1 UFRRJ / IV - Departamento de Medicina e Cirurgia Disciplina: Obstetrícia Veterinária (IV-332) Professor Responsável: Luiz Figueira Pinto Distocias 1. Considerações gerais O termo distocia é a designação para um nascimento difícil ou problemas com o prosseguimento do parto. O seu diagnóstico e tratamento constituem uma parte extensa e importante da obstetrícia. Em termos didáticos a distocia pode ser de origem fetal ou de origem materna. No entanto, o problema deve ser considerado em relação aos defeitos nos três componentes do processo de nascimento: as forcas expulsivas, o canal do nascimento e o feto. Por exemplo, ocorrerão dificuldades ao nascimento quando as forcas expulsivas forem insuficientes, quando o canal do nascimento estiver estreitado ou quando o diâmetro do feto for extraordinariamente grande. O conhecimento da fisiologia do parto é essencial para o reconhecimento de distocias e a intervenção do médico veterinário deve ser precisa e adequada a fim de se procurar preservar tanto a vida da parturiente quanto a do(s) feto(s). Além disto, o profissional deve se preocupar em prevenir a ocorrência de distocias nas criações animais e procurar detectar causas hereditárias, tais como a alta incidência de inércia uterina na raça canina Terrier escocês, a existência de abertura pélvica pequena nas cadelas braquicefálicas e a tendência de certos touros produzirem novilhas pequenas. As causas ambientais podem também ser de grande importância em algumas situações, como as falhas no manejo nutritivo e o pequeno número de filhotes nas multíparas, dentre outras ocorrências. 2. Incidência A incidência de distocias é maior nos bovinos do que nas outras espécies animais. A seguir vem os pequenos ruminantes, a cadela, a gata, a égua e a porca. A distocia fetal é mais freqüente na vaca, na ovelha e na égua, enquanto que a distocia materna é mais freqüente na cadela, gata e porca. Considerando-se as uníparas, a presença do feto macho, a prenhez precoce ou prolongada e o parto gemelar trazem complicações na hora do parto, pois o útero toma parte importante na extensão dos membros do feto e defeitos de postura são mais comuns em gêmeos e prematuros quando há certo grau de inércia uterina. E, na prenhez prolongada o feto se apresenta mais desenvolvido. Nas multíparas com ninhada anormalmente pequena em numero há uma predisposição a formação de grandes fetos, o que gera dificuldades na hora do parto. As distocias são mais comuns nas primíparas que nas multíparas, além de que a subnutrição ou cobertura muito precoce nas primeiras se constituem em fatores deletérios que causam desenvolvimento esquelético retardado. Por outro lado, o estrito confinamento e a superalimentação materna contribuem para problemas na hora do parto. Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 2 3. Tipos de Distocias dentro das espécies animais a. Vaca: i. Tamanho fetal exagerado relativo ou absoluto ii. Irregularidades na postura da cabeça e dos membros iii. Casos teratológicos: esquistossomo reflexo, perossomus elumbis, fetos retorcidos e celossômicos, bezerros acondroplásicos. iv. Inércia uterina v. Torção uterina vi. Dilatação incompleta da cérvix. b. Égua: i. Irregularidades na apresentação, posição e postura do feto, como a apresentação transversa, a posição ventral ou lateral ou todas as formas de posturas irregulares. ii. Torção uterina: consiste em 5% das distocias eqüinas e são de grande gravidade. c. Cabra e ovelhas: semelhante às vacas d. Porca: i. Inércia uterina ii. Obstrução do canal do nascimento iii. Desvio para baixo do útero iv. Apresentação simultânea v. Desvio da cabeça vi. Grande tamanho fetal vii. Casos teratológicos: xifópagos, esquistossomo reflexo, perossomus elumbis, hidrocefalias. e. Cadelas e Gatas i. Inércia uterina ii. Desproporção materna fetal iii. Irregularidades de postura dos membros são de pouca importância quando os filhotes são de tamanho normal iv. Irregularidades de postura da cabeça são comuns: apresentação de vértice, desvio lateral da cabeça v. Anormalidades de posição são comuns: posição ventral ou lateral vi. Apresentação transversa é rara e quando ocorre a cadela geralmente esta prenha e com feto único em gestação bicórnea. Em geral é acompanhada de inércia uterina. vii. Hidrocefalia fetal e anasarca são encontradas ocasionalmente. Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 3 4. Distocia Fetal a) Introdução Os problemas relativos ao parto podem ser causados pelo feto, o que é denominado de distocia fetal. O feto se torna causa de distocias quando ocorre hipertrofia fetal, morte fetal ou disposição fetal anômala. b) Hipertrofia fetal O feto pode se apresentar em dimensões avantajadas para a sua espécie ou raça na presença de uma pélvis materna de dimensões normais, o que se denomina de hipertrofia fetal absoluta. Neste caso, diz-se que o diâmetro ou peso do feto está além da capacidade da pélvis materna. Porém, quando o feto apresenta tamanho compatível com a sua raça e a parturiente possui uma pélvis diminuta diz-se que se trata de uma hipertrofia fetal relativa. Em todos estes casos há uma desproporção materno-fetal. Nos bovinos a raça mais afetada é a Holandesa e a menos afetada é a Jersey. Nos primatas relacionam-se as dimensões da cabeça fetal com as dimensões da pélvis e quando há uma relação desfavorável denomina-se de desproporção céfalo-pélvica. c) Morte Fetal O feto a termo participa ativamente do processo dinâmico do parto. Quando ocorre a morte fetal durante a gestação não ocorre o desencadeamento do parto e pode se desenvolver uma gestação prolongada. Diversas causas podem estar implicadas, tais como processos infecciosos, traumatismos, intoxicações ou iatrogenias farmacológicas. A resolução desta situação poderá ocorrer por indução do parto, fetotomia ou tomotocia. d) Disposição fetal anômala O modo como o feto se dispõe no interior do útero materno é denominado de estática fetal e o seu estudo é de grande importância nas fêmeas uníparas. A maneira como o feto se apresenta no terço final da gestação é extremamente variável e pode modificar-se em poucos segundos. No momento do parto, em um curso normal, ele adota uma posição adequada. Na descrição da estática fetal utilizam-se referências inerentes à mãe e/ou ao feto. Na resenha da estática fetal descreve-se a apresentação, a posição e a postura fetal. e) Manobras obstétricas: são manobras praticadas sobre o feto nas manipulações obstétricas e consistem em: a. Retropulsão: significa pressionar o feto do canal do nascimento para dentro do útero. É empregada para retificação de qualquer disposição fetal anômala. Tanto quanto possível a força de repulsão deve ser Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 4 exercida nos intervalos entre os esforços expulsivos, podendo ser manual ou com forquilha. b. Extensão: refere-se à extensão das articulações fletidas quando estão presentes defeitos de postura. Recomenda-se a aplicação da força exercida pelas mãos ou falhando estas por cordas ou ganchos. c. Rotação: é a alteração da posição do feto pelo movimento rotacional ao redor do seu eixo longitudinal. Esta manobra é empregada na retificação da posição ventral para a posição dorsal. d. Versão: significa a alteração da apresentação transversa ou vertical para a apresentação longitudinal por movimento binário do feto. Esta manobra é extremamente arriscada e de difícil execução.e. Tração: significa a aplicação de força às partes presentes do feto com o objetivo de suplementar ou em alguns casos de substituir as forças maternas. Esta manobra visa extrair o feto do canal do nascimento e pode se aplicada manualmente ou por meio de cordas ou ganchos. f) Resenha da Estática fetal e sua correção a. Apresentação Fetal: É a relação existente entre a coluna vertebral do feto e a coluna vertebral da mãe. É denominada de apresentação longitudinal quando as colunas vertebrais do feto e da mãe estão paralelas. Recebe a denominação de longitudinal anterior quando o feto insinuar primeiro os membros anteriores, e longitudinal posterior quando insinuar primeiro os membros posteriores. Quando a coluna vertebral do feto se dispõe transversalmente à coluna vertebral da mãe tem-se a apresentação transversa, o que acarreta em distocias fetais graves. As forças naturais que produzem as alterações na polaridade do feto não estão totalmente compreendidas. Contudo, é presumível que ocorram movimentos fetais reflexos devido às contrações uterinas, às contrações abdominais e aos movimentos das vísceras abdominais adjacentes. O centro de gravidade do feto mais próximo à cabeça, nas idades gestacionais iniciais permite uma apresentação posterior. Com o desenvolvimento do sistema nervoso do feto e conseqüente percepção da gravidade o feto iniciaria a execução de reflexos lineares que tenderiam a levantar a cabeça fetal da porção pendente do útero. Se isto for real, a apresentação posterior em vez de ser considerado como um acidente obstétrico poderia então ser causado tanto por um retardo no desenvolvimento do feto quando comparado à sua idade gestacional, como também por um útero cujo tônus seja deficiente. Nas grandes fêmeas domésticas cerca de 95% dos fetos assumem uma apresentação longitudinal anterior entre a metade do sexto mês até a metade do oitavo mês da idade gestacional. Nas fêmeas multíparas cerca de 30% a 40% dos fetos nascem em apresentação longitudinal posterior, acarretando problemas somente aqueles que apresentam membros flexionados. Todas as distocias que surgem dos defeitos de apresentação são sérias e na maioria dos casos somente é resolvida por meio de intervenção cirúrgica. A correção por meio de manobras Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 5 obstétricas em todos os casos é realizar a versão do feto de modo que uma apresentação vertical ou transversa seja convertida em uma apresentação longitudinal. Tipos de apresentação defeituosa: i. Apresentação longitudinal posterior ii. Apresentação dorso-vertical obliqua iii. Apresentação ventro-vertical obliqua iv. Apresentação dorso-transversa v. Apresentação ventro-transversa b. Posição Fetal É conceituada como sendo a relação existente entre partes bem definidas do feto, como o dorso, o lombo e a cabeça, e partes bem caracterizadas da mãe, como o ílio, o ísquio, o púbis e o sacro. A tendência natural do feto e de se dispor com o seu dorso contra a curvatura maior do útero. Desta forma, o feto eqüino dispõe-se no útero em decúbito dorsal com as patas para cima e o feto bovino assume uma posição vertical durante a gestação adiantada. O feto bovino mantém esta posição durante o nascimento, porém na égua o feto altera a sua disposição de ventral para uma posição dorsal durante o trabalho de parto. Conforme poderia ser esperado as posições ventral e lateral são mais comuns nos eqüinos. c. Tipos de defeitos de posição fetal e sua correção i. Posição lateral ou dorso-iliaca direita ou esquerda ii. Posição ventral ou dorso-pubiana • Correção: nestas posições provoca-se uma resposta convulsiva reflexa do feto pressionando-se os globos oculares seguido por rotação do feto na direção apropriada. Nos fetos indiferentes pode-se empregar a rotação mecânica com a forquilha de Cämmerer ou de Kuhn. Após estas manobras se efetiva a extração fetal por tração manual. iii. Posição lateral ou lombo-ilíaca direita ou esquerda iv. Posição lateral ou lombo-pubiana • Correção: nestas posições há graves riscos de lesões na vagina, reto e períneo. As manobras que podem ser empregadas são retropulsão seguida de tentativas de rotação do feto. A tração será exercida após correção da posição. Com o feto vivo geralmente é indicada a cesariana. 5. Postura Fetal É a relação existente entre partes moveis do feto e seu próprio corpo. A sua nomenclatura é dada de acordo com cada estrutura móvel. A disposição anátomo- fisiológica do feto no final da gestação corresponde a apresentação longitudinal anterior, posição dorso-sacral ou dorso-pubiana (eqüino) com flexão de todas as articulações dos apêndices moveis. Esta disposição postural de flexão universal proporciona o máximo de economia de espaço. Na hora do parto ocorre a extensão dos membros devido aos reflexos fetais estimulados pelas contrações do miométrio e queda na concentração de Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 6 progesterona. Todos os defeitos posturais nos grandes animais são facilmente retificados por manipulação obstétrica, desde que o tratamento se processe no inicio da terceira fase do trabalho de parto. a. Postura de flexão de carpo Pode estar afetado um ou ambos os membros anteriores. No caso unilateral o carpo flexionado está engastado na abertura pélvica e a outra pata anterior pode ser vista na vulva. A correção de faz iniciando-se por uma retropulsão, apoiando-se na cabeça ou no ombro fetal e a seguir a pata retida é segura e se executa um movimento em arco, para cima e para trás. E à medida que o carpo é puxado para cima o casco é trazido para frente e se promove a extensão do membro. O casco do feto deve sempre ser trazido para a borda pélvica sob a mão do obstetra. E, numa manobra final, se promove a tração do feto. b. Postura de flexão do ombro ou retenção completa do(s) membro(s) anterior(es) Pode ser uni ou bilateral. Quando ocorre retenção completa dos membros anteriores o diagnóstico pode ser dado pela inspeção ao se constatar a presença da cabeça fetal parcial ou completamente nascida sem sinal de casco. Na flexão carpal a cabeça não pode avançar tanto. A correção desta disposição fetal se efetiva em dois estágios. Primeiro se provoca a retropulsão e ao se apoiar a mão no membro se desloca o mesmo por um movimento em arco para cima e para trás, transformando a flexão de ombro em flexão de carpo e o segundo estagio de correção se procede como no caso anterior. c. Desvio lateral da cabeça Disposição fetal anômala muito comum nos bovinos, sendo mais grave nos eqüinos devido a maior extenso do pescoço e da cabeça. A correção se inicia pela retropulsão em que o feto é repelido por pressão aplicada na base do pescoço. A mão do operador é então rapidamente transferida para o focinho do animal e em casos mais inacessíveis o focinho do animal pode ser alcançado após tração preliminar na comissura bucal. A mandíbula é laçada e a correção se faz por movimentos combinado de retropulsão e extensão da cabeça. Depois de instalada a disposição correta da cabeça promove-se a tração do feto. d. Deslocamento inferior da cabeça (postura em vértice) Nesta disposição a narina do feto se prende a borda pélvica e a testa é introduzida na pélvis. Promove-se uma retropulsão suficiente e a extensão da cabeça seguida por tração. e. Postura de flexão de jarrete Esta disposição anômala geralmente é bilateral. A correção se processa por uma retropulsão aplicando-se uma força no períneo fetal e o jarrete é firmemente seguro e se flexiona numa trajetória arqueada para cima e para trás o quadril. Com o casco na mão Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz FigueiraPinto 7 este é elevado sobre a borda pélvica e estendido para dentro da vagina seguido pela tração do feto. f. Postura de flexão do quadril (apresentação de nádegas) Geralmente é bilateral. A correção é difícil sendo variável o grau de impactação do feto na pélvis materna. O objetivo é converter a condição em postura de flexão do jarrete, procedendo então de acordo com esta. O procedimento manipulativo consiste em promover a retropulsão do feto, repelindo o períneo fetal para frente e para cima, visando tornar os membros acessíveis. A tração no membro converte esta em postura de flexão do jarrete e então se prossegue como no caso anterior. 6. Considerações finais A distocia fetal será mais simples quando ela ficar a nível de postura e complexa quando for a nível de apresentação. E as mais complexas quando forem combinadas. A resenha se faz na seqüência apresentação, posição e postura, enquanto a correção se faz do mais fácil para o mais difícil na seqüência postura, posição e apresentação. Os defeitos em apresentação posterior e transversa são os de correção mais dificultosa e na grande maioria dos casos só ocorre correção através de cirurgia ou fetotomia. Nas manobras obstétricas é de grande importância a anestesia epidural, a suplementação de líquidos fetais, a retropulsão e a execução de tração adequada após lubrificação do canal vaginal. O cuidado e a delicadeza são de grande valor, pois há um constante perigo de perfuração acidental do útero. Distocia Materna 1. Introdução Os problemas na hora do parto podem ocorrer devido a modificações anatômicas do canal do nascimento ou a disfunção fisiológica ou hormonal dos órgãos ou glândulas reprodutivas femininas. É quando então se considera a existência de uma distocia materna. O seu estudo se reverte de grande importância, pois orienta no sentido da correção terapêutica a ser empregada e o momento mais adequado para ser efetivado. 2. Distocias por vícios pélvicos a. Conceito São alterações que ocorrem na via fetal dura. Isto é, nos ossos da pélvis, o que ocasiona uma angustia de seu conduto. É frequentemente observado na mulher, na novilha e em cães acondroplásicos. Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 8 b. Classificação Os vícios pélvicos segundo suas origens podem ser classificados em: • Pélvis juvenil: é a pélvis que não alcança o seu pleno desenvolvimento. Como ocorre nas novilhas cobertas precocemente. • Pélvis estreita: é a pélvis de determinadas raças de cães miniaturas, de alguns suínos e caprinos. • Estreitamento secundário da via fetal dura: observa-se em inúmeras enfermidades que interferem na formação, estrutura e desenvolvimento ósseo, tais como, osteoporose, osteomalácea, fraturas e calos ósseos. c. Tratamento dos vícios pélvicos O ideal é instituir medidas preventivas na criação e exploração animal. Uma vez identificado o problema a extração do feto pode ser efetivada por meio de tração, quando houver possibilidade. E quando não for possível a tração pelo canal vaginal executa-se a fetotomia na presença de feto morto e se o feto estiver vivo se pratica a cesariana. A parturiente deve ser descartada da reprodução. 3. Distocias das vias genitais a. Conceito São anomalias diversas que ocorrem na via fetal mole, isto é, ao nível da vulva, vagina e útero. A via fetal mole apresenta três pontos críticos à passagem do feto na hora do nascimento: a vulva, o anel himenal e a cérvix. Estas estruturas podem constituir obstáculos a passagem do feto, separadamente ou conjuntamente por dilatação insuficiente. b. Distocias causadas pela vulva e pela vagina • Adquiridas: fibroses, estenoses oclusivas, tumores, edemas, bridas, reversos vaginais e prolapsos. • Congênitas: vulva infantil, persistência da prega himenal ou do tabique dorso- ventral e das estruturas remanescentes dos ductos de Muller. • Tratamento: nas formas consideradas leves pode ser tentadoextração cuidadosa do feto sob lubrificação e proteção do períneo. A episiotomia dorso-lateral deve ser praticada sempre que a vulva se constituir em obstáculo. A cesariana ou a fetotomia fica reservada para os casos específicos. Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 9 c. Distocias causadas pelo útero 4. Torção uterina (torsio uteri) É a rotação do órgão sobre seu eixo longitudinal. É uma complicação do final da fase de dilatação ou do inicio da fase expulsiva do parto. A espécie mais afetada é a bovina provavelmente devido à instabilidade do seu útero, pois nesta espécie a curvatura maior do útero situa-se dorsalmente e o órgão se dispõe anteriormente a sua sustentação sub-ileal promovida pelos ligamentos largos do útero. Outros elementos contribuem para o seu aparecimento, tais como os movimentos desordenados do feto, o peso fetal excessivo, a idade avançada da vaca, o abdome dilatado e a aplicação equivocada de ocitocina quando não há passagem. a. Classificação: as torções uterinas são classificadas em três graus: • Torção de primeiro grau: é uma torção de até 90 graus, sendo considerada uma torção simples ou moderada. • Torção de segundo grau: é uma torção de até 180 graus, sendo denominada de torção media. A sintomatologia presente já denota certo grau de gravidade e urgência do caso. • Torção de terceiro grau: é uma torção que pode se estender até 360 graus. É uma torção de grande gravidade clinica, podendo acarretar em choque hemorrágico. b. Diagnóstico É dado por meio da palpação da porção anterior da vagina que se encontra estenosada e cujas paredes estão, em geral, dispostas em espiral obliqua os quais indicam a direção da rotação uterina. Segundo a literatura, 75% das torções uterinas são no sentido anti-horário. A palpação retal pode indicar se a torção é pré-cervical ou pós- cervical. c. Tratamento • Distorção direta do útero por via vaginal: consiste em promover a rotação do feto pela vagina aplicando-se uma força rotacional ao útero através do feto. A eficácia depende da dilatação cervical e se o feto está vivo. • Distorção indireta com rolamento da parturiente: consiste em promover a rotação do corpo da vaca pela ação de rolar. Procura-se rolar rapidamente o corpo da vaca na direção da torção enquanto o útero permanece relativamente fixo. Utiliza-se uma prancha de madeira, de três a quatro metros de comprimento, por 20 a 30 centímetros de largura, apoiada no flanco da vaca em decúbito lateral. Enquanto um assistente sobe na prancha, a vaca é criteriosamente girada através das cordas nos membros. Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 10 • Correção cirúrgica: pratica-se a cesariana nos casos de torção irreversível, nas emergências, nas éguas, nas cadelas e nas porcas. 5. Inércia Uterina (Parto Vagaroso) a. Conceito e classificação É quando há ausência ou deficiência de contrações uterinas durante o parto. O número e a energia das contrações uterinas são menores que as observadas durante um parto normal, caracterizando uma extensão da fase de repouso do ciclo contráctil do miométrio. Pode ser classificadas em: • Inércia uterina primária: é aquela em que desde o inicio do trabalho de parto não houve contração uterina devido há uma deficiência original no potencial contráctil do miométrio. Não há tônus muscular. É menos comum que a inércia uterina secundaria e ocorre na cadela, na porca e ocasionalmente na vaca. As causas implicadas estão relacionadas à deficiência neuro-hormonal, como por exemplo, uma relação estrogênio-progesteronaalterada, deficiência de ocitocina, de íons cálcio e/ou magnésio. A senilidade, degeneração tóxica ou infecções bacterianas, como a erisipela na porca, e o estiramento uterino demasiado, feto excessivamente grande, hidro-alantóide, parto gemelar, etc., podem ser causas responsáveis pela inércia uterina. • Inércia uterina secundaria: neste caso o animal apresenta contrações, mas estas desaparecem. Ocorrem por exaustão uterina. É de ocorrência mais freqüente que a inércia uterina primaria. Pode ser causada por feto relativamente ou absolutamente grande, monstros fetais, torção uterina, defeitos na estática fetal, etc. b. Diagnóstico É baseado no quadro sintomático particularmente na ausência de contrações da musculatura abdominal e relaxamento do miométrio, apesar da dilatação da via fetal mole. Geralmente o canal cervical se apresenta dilatado ou parcialmente dilatado na forma secundaria. c. Tratamento Na forma primaria pode ser utilizado o estrogênio, ocitocina, gluconato de cálcio e solução de glicose. Porém devem ser avaliadas as condições fetais a fim de se praticar outras medidas de solução mais rápida. Na forma secundaria as medidas praticadas consistem em manobras obstétricas ou cesariana. Após o parto podem se instalar complicações como retenção de placenta, metrite ou piometra que devem ser prevenidas. Obstetrícia Veterinária – (IV-332) Prof. Luiz Figueira Pinto 11 6. Excesso de contrações uterinas (parto tumultuoso) a. Conceito e causas É um aumento exagerado das contrações uterinas de maneira desordenada e arrítmica. Ocorre principalmente na égua e nas cadelas de pequeno porte, de raças nervosas, como o Pequinês e o Puro Sangue Inglês, que fazem muita força antes do tempo e passam para a fase de expulsão antes de completar a fase de dilatação. Fêmeas que são agitadas durante a parição, como prender a gata na caixa e a cadela no banheiro, trocar a água de pasto ou estábulo, etc. podem culminar em parto tumultuoso. b. Tratamento e complicações Consiste em tranqüilizar a parturiente com tranqüilizantes ou sedativos e controlar as dores do parto com o emprego de anti-espasmódico. Comumente se efetiva a cesariana enquanto o feto está vivo. As complicações mais freqüentes são prolapso uterino, torção e inércia uterinas, espasmo de colo uterino, ruptura de períneo, morte fetal e choque hemorrágico da parturiente. 7. Espasmo de colo uterino É uma anomalia funcional onde ocorre impossibilidade de dilatação da cérvix uterina sem que ocorra qualquer alteração anatômica. Pode ocorrer por inércia uterina primaria, excesso de contrações uterinas ou por deficiência da estrutura funcional da cérvix que não obedece aos estímulos hormonais. No tratamento estão indicados o emprego de estrogênio, anti-espasmódico, dilatação manual e cesariana. 8. Versão e flexão de útero Nas espécies que apresentam posição horizontal da coluna vertebral considera-se fisiológico a inclinação ventral do útero durante a gestação. Porém, se houver uma acentuação desta inclinação ventral do útero, de modo que este se torne perpendicular ao eixo longitudinal da fêmea gestante, instala-se uma condição patológica denominada de versão ventral do útero. Se esta se acentuar origina a flexão ventral do útero. A ruptura ventral da musculatura abdominal e o abdome frouxo de fêmeas velhas ou desnutridas predispõem a esta patologia. Na vaca pode ocorrer a versão ou flexão lateral situando-se o útero à esquerda do rúmen. 9. Ruptura do útero Pode ser produzido por um parto tumultuoso, distúrbios das vias pélvicas, emprego errôneo de ocitocina ou instrumentos ou manobras obstétricas. Estas rupturas são graves porque levam ao choque hemorrágico ou peritonite, principalmente na égua. A correção pode ser antieconômica em certos casos. A ráfia por via vaginal pode ser tentada em algumas situações. A laparotomia deve ser efetivada rapidamente quando se resolve intervir.
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