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ITEM 3 – MÉTODOS A avaliação pressupõe a existência de um método de avaliação a ser utilizado. Mas isto nem sempre ocorre; o processo de avaliação pode ser feito a partir de métodos não formalizados. Um avaliador pode entrar numa loja e partir do número de clientes no estabelecimento, da quantidade de estoques, da qualidade do atendimento, entre outras variáveis, determinar o valor da loja. O pressuposto é que o avaliador tem experiência passada suficiente para, a partir dos sinais externos, chegar a uma conclusão sobre o valor da empresa. Com respeito aos métodos formais, a literatura apresenta diversas divisões sobre a classificação dos mesmos. Utiliza-se aqui dividir os métodos em custo, excesso de lucro, abordagem do lucro (fluxo de caixa descontado), de mercado e outras abordagens. ABORDAGEM DO CUSTO Esta abordagem também recebe o nome de abordagem de ativo. O valor é aqui mensurado determinando o custo de reposição da capacidade do serviço de cada ativo da entidade. O valor da entidade corresponde a soma do resultado obtido para cada ativo. Em razão de suas características, a abordagem do custo é usada para avaliar empresas em liquidação. Outro setor onde é possível aplicar esta abordagem é em imobiliárias e em pequenas empresas onde o goodwill é reduzido em relação ao valor total. A abordagem do custo não considera as sinergias entre os ativos. O uso da abordagem do custo pode ser interessante quando se deseja determinar o valor mínimo a ser cobrado numa transação de aquisição de uma empresa. Para isto, o primeiro passo da abordagem é obter as informações contábeis. Para cada item do ativo é feita uma nova avaliação. É possível também fazer avaliação dos itens que não estão no balanço, somando o resultado obtido aos demais. Caso a finalidade seja obter o valor do capital próprio, os passos anteriores também devem ser aplicados ao passivo. Ou seja, para cada passivo existente é feita uma avaliação. E para os passivos que não estão apresentados no balanço também se calcula seu valor. Com estas Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce informações, pode-se construir um novo balanço, com os resultados obtidos. A base de sustentação do método é que os ativos (e passivos) existentes podem ser substituídos e cada item possui um valor. Esta abordagem possui algumas vantagens interessantes. Em primeiro lugar, os resultados estão expressos em termos de um balanço patrimonial tradicional, sendo familiar para quem conhece um pouco de contabilidade. Segundo, o método permite determinar qual a origem do valor da empresa em termos do seu ativo. Terceiro, é interessante para a compra e venda de negócios, permitindo facilitar a venda parcial de alguns ativos de uma entidade. Também pode ser útil quando a venda é concluída, permitindo identificar a origem do ágio ou deságio pago. Quinto, a abordagem do custo pode ser útil em casos de litígio, já que identifica o valor de cada ativo. Sexto, sua utilização pode ajudar na construção de regras de avaliação para certos tipos de ativo. Finalmente, a qualidade da avaliação pode ser melhorada, já que a análise é feita em termos individuais, de cada ativo envolvido. Mas o método também possui limitações. A mais relevante é o fato de que este método talvez não seja abrangente o suficiente. Assim, o uso desta técnica pode deixar de lado ativos relevantes, geralmente vinculados ao goodwill. Outro problema está relacionado com a obsolescência, que será discutido mais adiante. Também existem divergência com respeito ao tratamento de impostos e lucro por parte desta técnica. Nas empresas com muitos ativos, a escolha deste método pode atrasar na determinação do seu valor, já que é necessário avaliar ativo por ativo. Obsolescência Um conceito relevante da avaliação pela abordagem do custo é o da obsolescência. Esta pode ser física, funcional ou econômica. Pode também ser classificada como sanável ou insanável. A obsolescência física é quando o ativo não possui mais condições físicas de execução do trabalho. Um cais pode sofrer obsolescência física se sua capacidade de receber navios impede que novas embarcações, de grande calado, atraquem. A obsolescência funcional é quando o ativo não está mais apto para desempenhar a função original, levando em consideração a mudança tecnológica. Um aparelho de televisão analógica pode sofrer obsolescência funcional quando a transmissão passa a ser exclusivamente digital. A obsolescência econômica é quando o ativo pode ser usado, mas não é rentável; ocorre aqui uma redução na habilidade do ativo em gerar lucro. Uma mina pode ser fechada quando o preço do minério caiu, tornando inviável sua exploração em razão dos custos. A obsolescência pode ser sanável quando uma ação da empresa faz com que os benefícios sejam superiores aos custos. Este é o caso da mina, onde um aumento no preço do minério pode torna-la viável novamente. Já a televisão analógica é um caso de obsolescência insanável, já que o aparelho não comporta a transmissão digital. Alguns aspectos sobre a Abordagem do Custo Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce O custo de criar um ativo e o preço de comprar um ativo similar pode não ser igual em razão da lucratividade e o custo de capital. Quando se produz um ativo internamente considera os custos diretos e indiretos, mas não aloca o custo de capital e o lucro. Já quando se compra um ativo estão considerados os custos diretos, indiretos, além da margem. Ou seja, a diferença entre o custo de criar um ativo e o preço de compra é o lucro e o custo de oportunidade. Obviamente que no processo de avaliação isto deve ser considerado. O custo de capital a ser considerado para fins desta abordagem é o custo médio (WACC). Entretanto, é possível determinar o custo de capital específico de cada ativo. Um terreno que foi adquirido através de um financiamento terá como custo de capital a taxa de juros deste financiamento. Nos ativos onde isto não é possível, deve-se levar em consideração o custo ponderado, mas retirando desta taxa os financiamentos para determinados ativos. Mas mesmo o custo de financiamento, que está claramente associado a um ativo, refere-se ao custo contratual; para outras formas de financiamento é possível utilizar o custo atual destas fontes. Cabe uma discussão se deve ou não usar o custo passado. Também é passível de discussão se deve considerar no custo do financiamento a economia dos impostos. O mais adequado é que o custo médio seja líquido de impostos. Nesta abordagem existe uma diferença entre o custo de reposição e o custo de reprodução. O custo de reposição representa o custo de construir, a preços atuais da data de análise, um ativo, com utilidade equivalente, usando materiais modernos e métodos de produção de hoje. Isto é diferente do custo de reprodução, que diz respeito ao custo de criar uma réplica exata, em unidades monetárias de hoje. Um exemplo é um museu histórico localizado num forte que foi destruído pelo fogo. O custo de reposição irá contemplar as modernas tecnologias; o custo de reprodução tentará criar o museu da forma que existia anteriormente, inclusive com suas imperfeições. Assim, o custo de reprodução menos a obsolescência é igual ao custo de reposição. Isto mostra que observar a obsolescência é relevante. ABORDAGEM EXCESSO DE LUCRO Este método é muito usado em casos judiciais, incluindo situação de divórcio para empresas familiares. Sua principal preocupação é tentar mensurar o goodwill de certos ativos. Sua fundamentação está no conceito de “tudo incluído” (all inclusive) das demonstrações contábeis. Temsua origem em autores clássicos da contabilidade, como Edwards & Bell e Gabriel Preinreich. O excesso de lucro corresponde, de certa forma, ao conceito de lucro supranormal da economia ou de lucro econômico ou valor econômico agregado. O excesso de lucro é o valor que é obtido por um conjunto de ativos além da taxa de retorno normal. Os passos para aplicação desta abordagem podem divergir conforme o avaliador. Em geral são os seguintes: (1) estimativa do ativo tangível de um negócio ou de um ativo. Neste grupo de ativo tangível pode, eventualmente, incluir também os ativos intangíveis identificáveis, como patentes. O mais comum é restringir somente aos tangíveis. Isto inclui bancos, terrenos, máquinas etc.; (2) estimativa do lucro que será obtido para o ativo ou grupo de ativo; Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Custo de Reposição = Custo de Reprodução - Obsolescência Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce (3) estimativa de uma taxa de retorno “justa” para os ativos; (4) a taxa estimada no passo anterior será multiplicada pelo valor dos ativos calculados no passo (1) para obter o lucro econômico referente aos ativos tangíveis; (5) o valor obtido será confrontado com o lucro estimado no passo (2). A diferença corresponde ao excesso de lucro, ou seja, o lucro acima do retorno “justo” dos ativos tangíveis da entidade; (6) a partir de uma taxa de desconto, obter o valor presente do excesso de lucro obtido no passo anterior; (7) adicionar o valor encontrado no item (4) ao valor obtido no item (1). Um exemplo numérico esclarece a aplicação do método, seguindo os mesmos passos apresentados acima. Estimou-se o valor de um ativo como sendo igual a R$10 mil. O lucro esperado pelo ativo é de R$3 mil e a taxa de retorno estimada é de 10%. A remuneração do ativo é de R$1 mil ou 10%, que é a taxa de desconto, vezes R$10 mil. Assim, o excesso de lucro é de R$2 mil. Trazendo a valor presente (usando a mesma taxa de 10% e supondo perpetuidade), tem-se um valor presente de excesso de lucro de R$20 mil. Assim, o valor do ativo é de R$30 mil, que corresponde a soma de R$20 mil mais R$10 mil. Na aparência é um método simples. Além disto, como o valor do ativo faz parte da determinação do valor da empresa, a incerteza quanto a estimativa estaria restrita ao valor presente do excesso de lucro. Uma situação que pode ocorrer na aplicação deste método é o valor presente do excesso de lucro apresentar sinal negativo. Caso o método esteja sendo aplicado a um ativo específico, isto indicaria que o valor em uso é inferior ao valor de mercado; sendo aplicado a uma empresa, o valor negativo do excesso de lucro indica que não existe agregação de valor para os acionistas. Alguns aspectos sobre a abordagem do Excesso de Lucro Este método possui alguns problemas que podem ser solucionados a posteriori na decisão. Pelo fato de não considerar, explicitamente, fatores como prêmios por liquidez e pelo controle, estes aspectos devem ser considerados após o último passo. Outra questão é a taxa de desconto a ser utilizada: deve ser a mesma para obter o excesso de lucro e para obter o valor presente?; como os impostos devem ser considerados?; como devem ser tratados os ativos não operacionais?; deve ser considerado no lucro os resultados não recorrentes e não operacionais?; e os ativos adquiridos através de financiamentos específicos? É importante notar que estas questões podem estar presentes em algumas das abordagens tratadas aqui. É o caso dos ativos não operacionais, que não são considerados no fluxo de caixa descontado; geralmente são tratados em separados dos métodos, usando o valor de mercado. Obviamente que isto não resolve o caso dos ativos não operacionais sem valor de mercado. Ou os ativos adquiridos através de financiamentos específicos; neste caso, a taxa usada no método poderá ser a taxa de juros praticada na operação de financiamento. Carlos.Alves Nota Ativo: R$ 10.000;nullLucro esperado = R$ 3.000,00;nullTaxa de Retorno = 10%;nullnullRemuneração do ativo = Ativo x Taxa de Retorno :: 10.000,00 x 0,1 :: R$ 1.000,00;nullnullExcesso de Lucro = Lucro esperado - Remuneração do ativo :: 3.000,00 - 1.000,00 :: R$ 2.000,00;nullnullTrazendo a valor presente com uma taxa de 10%, supondo perpetuidade, o valor é de R$ 20.000,00, que somado a R$ 10.000,00 (ativo), tem-se o valor estimado do ativo em R$ 30.000,00.null Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Um aspecto importante desta abordagem é que a mesma pode ser usada com o lucro operacional e com o lucro líquido. O que altera é a taxa de desconto. Se for utilizado o lucro operacional a taxa de desconto deve refletir o custo de todas as fontes de financiamento; em termos práticos, isto significa utilizar o custo médio ponderado de capital ou WACC. Caso o método seja aplicado com o lucro líquido, a taxa de desconto a ser usada é o custo do capital próprio. A observância deste aspecto irá fazer com que o resultado seja coerente, conforme será demonstrado mais adiante. ABORDAGEM DO FLUXO DE CAIXA DESCONTADO (OU ABORDAGEM DO LUCRO) A abordagem recebe a denominação de abordagem do lucro na literatura estrangeira, apesar de usar o fluxo de caixa, calculando seu valor presente. Trata-se de um conjunto de técnicas, que inclui o modelo de opções, onde o valor do ativo ou da empresa é obtido pelo seu valor presente. Sua utilização é bastante ampla, mas em razão da relação custo-benefício da informação é mais usada em grandes empresas e em ativos de maior valor. Para a determinação do valor é necessário conhecimento em finanças e nos conceitos de matemática financeira. A abordagem começa com a determinação do fluxo de caixa esperado para o período da previsão. Calcula-se os parâmetros necessários, que inclui a taxa de desconto no método do fluxo de caixa descontado ou a taxa de juros sem risco, a volatilidade esperada e o tempo para término da opção, no modelo Black-Scholes. Por fim, aplica- se os parâmetros na expressão do modelo. A grande vantagem deste método é o fato de ser amplamente defendido na literatura e nas normas legais que aplicam a avaliação. Em outras palavras, é um método defensável numa avaliação. Sua utilização permite uma análise mais sofisticada, levando em consideração diferentes situações como descontinuidade ou controle. Ao escolher este método dificilmente o avaliador será questionado da escolha desta abordagem, ao contrário que pode ocorrer nos demais. Além disto, a avaliação pode ser feita por partes, sendo o resultado final a soma dos valores obtidos nas etapas preliminares. Isto é conhecido como princípio da aditividade, onde a soma das partes é igual ao valor total. Em diversas situações práticas é mais fácil fazer a avaliação fatiada, para cada uma das partes, e depois proceder a soma. Isto significa dizer que a abordagem pode ser usada para ativos específicos. A utilização desta abordagem pode variar de um modelo simplista até uma situação de grande sofisticação. Assumir que o fluxo de caixa e a taxa de desconto são constantes no tempo é uma grande simplificação. Já supor vários cenários, utilizando distribuições de probabilidades para cada uma das variáveis, é uma forma complexa desta abordagem. Para obtenção do valor de um grupo específico de ativos, usa-se o MPEEM (multiperiod excess earning method), que é uma variação do fluxo de caixa descontado. Este método separa o fluxo de caixa atribuído a um ativo deduzido a contribuição de todos os outros ativos para o fluxo de caixa da entidade. Também pode ser encontrado na literatura como Excess Cash Flow Method (ECF). Alguns aspectos da Abordagem Carlos.AlvesRealce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce Esta abordagem é usada supondo um ambiente de certeza. Entretanto, a incerteza pode ser incorporada ao modelo de diversas formas: ajustando a taxa de desconto ou usando simulações. Por depender da previsão do fluxo de caixa que irá ocorrer no futuro, geralmente utiliza dados históricos na estimativa. O analista deve, entretanto, levar em consideração a necessidade de fazer ajustes nas informações, incluindo os efeitos do controle, os valores não recorrentes, as sinergias, entre outros aspectos. A qualidade do resultado depende substancialmente da qualidade da previsão. Um grande problema é a existência de diversas “armadilhas” neste método. Isto pode até provocar erros de estimativas, conforme a limitação teórica do avaliador. Um exemplo já foi comentado anteriormente: a utilização da taxa de desconto real em fluxos de caixa nominais. Muitas vezes estes erros conceituais não influenciam decisivamente no resultado, mas sua existência pode levantar dúvidas sobre a qualidade do avaliador. Além dos erros conceituais, o método está sujeito a muitas suposições no seu cálculo: inflação, participação no mercado, crescimento, alíquota do imposto de renda entre outras tantas. ABORDAGEM DE MERCADO Também conhecida como abordagem relativa. Aqui a mensuração do valor de uma entidade ou de um ativo é feita a partir de transações reais de empresas ou similares. É um método útil para situações onde existem e são conhecidas as transações passadas. O método pressupõe a escolha de um parâmetro que será fundamental na determinação do índice relativo. Em alguns casos este parâmetro pode ser influenciado por transações extremas, o outlier ou valor extremo. Este valor extremo costuma influenciar a média das transações passadas e o relativo construído. Nestes casos, ou elimina o valor extremo ou se utiliza a mediana dos valores, que reduz os efeitos do valor extremo. Com base nas negociações ocorridas para determinados tipos de empresas, descobre um parâmetro a ser usado. Em alguns setores esta informação é de conhecimento das pessoas. A seguir os dados devem ser relativizados, ou seja, dividido por uma variável qualquer como receita ou número de empregados. Como existe uma base de dados para diversas empresas é possível verificar a existência de valor extremo e, se for o caso, eliminar da amostra ou então usar a mediana. Após obtido o índice relativo, aplica-se o índice na empresa que se pretende avaliar, fazendo os ajustes necessários. Em alguns países os múltiplos são produzidos por empresas especializadas. A partir da informação, basta fazer a aplicação em cada caso. Mesmo para ativos específicos existem empresas que fazem esta estimativa (Royalty Source, para royalties ou Consor, para propriedades intelectuais). No Brasil, para alguns ativos bastante comercializados, é possível construir múltiplos baseados no mercado; este é o caso de automóveis, geralmente baseado no modelo e ano de fabricação ou imóveis, baseado no metro quadrado. Em alguns casos são necessários ajustes em decorrência de características peculiares. A avaliação de uma empresa que é dominante no mercado deve ter seu índice Carlos.Alves Realce Carlos.Alves Realce ajustado para refletir esta posição de destaque. Outro ajuste é a existência de um prêmio pelo controle ou um deságio pela aquisição de parcela minoritária. A grande vantagem desta abordagem é a simplicidade. Uma vez obtido o múltiplo, a sua aplicação é intuitiva. Sua grande dificuldade é a obtenção de empresas similares. Por usar dados reais, de transações reais, a determinação do valor não depende substancialmente de estimativas e projeções futuras. Assim, a abordagem do mercado ou múltiplo pode ser usada sem a necessidade de fazer previsões. A exemplo da abordagem do fluxo de caixa descontado, também pode ser usado para ativos específicos, desde que tenham transações anteriores. Para certos tipos de ativos isto não é problema, já que existe um número razoavelmente grande para compor a amostra que irá determinar o parâmetro. Algumas destas informações são públicas, como é o caso de transações envolvendo empresas de capital aberto; e outras são de conhecimento através de notícias de jornal, base de dados de empresas particulares, informações judiciais, entre outros. Ativos Similares O ponto central na abordagem de mercado ou múltiplo é a existência de ativos similares que já foram comercializados no passado. Para alguns ativos e para certos tipos de empresas isto é fácil de ser obtido. Infelizmente nem todos os ativos e nem todas as empresas são passiveis de uso desta abordagem. A principal razão, obviamente, é a existência de transações passadas que possam servir de base para construção do múltiplo. Em decorrência, a utilização para avaliar ativos com pouca negociação, intangíveis, empresas diversificadas, com crescimento acima do normal do setor, ativos raros, setores com pouca negociação de empresas e ativos específicos não é recomendável. Um dos problemas é que a taxa de crescimento estimada para operações no passado pode ser diferente para a situação atual. Neste caso, pode-se usar uma expressão ajustada do valor de mercado dada por Hitchner (p. 226): onde ma = parâmetro de mercado ajustado, mo = parâmetro de mercado original; go = taxa de crescimento original e ga = taxa de crescimento ajustada. Assim, se o múltiplo original for 15, mas foi calculado num momento que o crescimento da economia era de 6% e a projeção para os próximos anos é de 2%, o múltiplo ajustado será de: ABORDAGEM DE MERCADO VERSUS FLUXO DE CAIXA DESCONTADO Apesar da existência de diferentes métodos na literatura, conforme apresentado anteriormente, o grande debate concentra-se no confronto entre a abordagem de mercado ou múltiplo e o fluxo de caixa. O múltiplo é a forma mais usual para avaliar pequenos negócios, onde a aplicação do fluxo de caixa descontado esbarra na sua complexidade. Mas entre estas duas abordagens, o múltiplo talvez seja a técnica que menos recebe atenção da literatura. Ao contrário que afirmam alguns autores, a técnica do múltiplo é a mais usada no mundo dos negócios. Estes autores acreditam que o fluxo de caixa descontado seja mais frequente. Mas nenhuma pequena empresa é negociada com a complexidade das estimativas e cálculos e sim por regras simples dos múltiplos. Enquanto nos Estados Unidos existem livros escritos sobre o assunto (por exemplo, Business Valuation for Dummies, de Holton e Bates; The Small business Valuation Book, de Tuller ou The Complet Idiot´s guide, de Paulson) e sítios sobre o assunto (BVR ou bizbuysell). Assim regras são estabelecidas como, por exemplo: vendas de peças de automóveis (40% das vendas anuais e estoques). No Brasil, parece que as pessoas têm vergonha em usar os múltiplos. Mas usam. Sabemos que uma farmácia é vendida por três vendas mensais mais estoques; ou que loja de móveis, cujo valor é dado por metade das vendas anuais. O que torna o método válido é o processo de compra e venda de empresas. Considere uma farmácia, cuja negociação foi estabelecida como cinco vezes o faturamento mensal. Mas o comprador poderá perceber que esta regra faz com que o valor esteja muito acima do adequado. Se em outra negociação o valor estabelecido for duas vezes o faturamento, o valor está subestimado. Diante de vários processos de compra e venda de uma farmácia, a negociação através de múltiplos tende a estabelecer uma regra justa, tanto para o comprador quanto para o vendedor. Assim, apesar da dificuldade de explicar a regra de múltiplo, sua validade está assentada no próprio mercado. Mas mesmograndes empresas são avaliadas por esta técnica. Utiliza-se muito a relação entre valor e número de clientes nas empresas de comunicações. Estabelecendo, por exemplo, um valor de R$150 por cliente, basta verificar quantos clientes a empresa que está sendo negociada possui e fazer o cálculo do seu valor. A principal atratividade do índice é sua simplicidade. Conhecendo seu valor, basta proceder a uma operação aritmética. Assim, uma farmácia é comercializada como três vezes a receita, mais estoques, menos dívidas. O que o comprador tem que fazer é verificar o valor da receita, contar os estoques e acertar que todas as dívidas anteriores à data de negociação sejam de responsabilidade do vendedor. O índice de cada setor surge dos "usos e costumes". Geralmente o volume de negócios de compra e venda de empresa faz com que se estabeleça este índice. Assim, o índice de três vezes a receita para uma farmácia é decorrente de uma prática estabelecida no setor. Multiplicar pela receita permite que o valor do ponto comercial seja considerado na mensuração da empresa. O outro grande ativo da farmácia, os seus estoques, também são considerados, líquidos das dívidas com os fornecedores. Devemos aqui lembrar que uma regra prática, estabelecida pelo tempo, passou pelo teste do mercado. Se a regra dos três vezes a receita não fosse adequada, ela seria ajustada. Com efeito, logo após o Plano Collor, quando poucas pessoas possuíam dinheiro vivo para comprar pequenos negócios, a regra sofreu alterações, permitindo que o comprador parcelasse o valor da compra ou reduzindo o multiplicador para 2,5. O atrativo da simplicidade e o teste do tempo (ou do mercado) não impede que o índice possua problemas. O primeiro deles é estabelecer este índice. Nem sempre um setor possui um índice tradicionalmente aceito. Geralmente os pequenos comércios possuem esta regra simples; mas grandes empresas ou setores com características específicas (oligopólios, por exemplo) provavelmente não deve ter este índice. Outro problema é sua suposição. A simplicidade reduz um processo complexo de avaliação em poucas contas - o que é bom; mas deixa de fora variáveis que pode ser relevante. Voltemos ao caso da farmácia. Usar a regra estabelecida deixa de contemplar a importância do dono em atrair a freguesia, por exemplo. O mesmo ocorre quando usamos o P/L para comprar ações - e este é um exemplo de índice usado no processo de avaliação. Um terceiro problema dos índices diz respeito à reversão a média. Este conceito diz que o desempenho de uma empresa irá voltar a sua média histórica depois de um período de baixa ou de alta. Se o valor do P/L histórico é de 10 e hoje seu valor é de 8, isto significa que a ação está com preço baixo. Mas se isto for verdade, o mercado como um todo reconheceria. Assim, usar a avaliação por índice pode conduzir a um problema de lógica. Damodaran resume a diferença entre os dois métodos: A diferença entre o fluxo de caixa descontado e a avaliação relativa decorre da visão diferente sobre a eficiência do mercado ou ineficiência. No FCD, nós assumimos que os mercados cometem erros e esses erros são corrigidos no tempo e que os erros podem ocorrer nos setores ou no mercado como um todo. Na avaliação relativa, assumimos que os mercados cometem erros em ações individuais, que são corrigidos pela média. Em outras palavras, quando nós avaliamos uma nova empresa de software, assumimos que o mercado tem precificado estas empresas corretamente, na média, mesmo que tenha ocorrido erros no preço de cada ação individualmente. (2011) Perigo da avaliação relativa Um dos problemas da avaliação relativa é depender substancialmente de um número. Isto naturalmente cria a tentação, por parte da empresa avaliada, de manipular este número. De certa forma é o que ocorreu com a Tim no Brasil em 2012. Notícias divulgadas na imprensa comentavam que o ex-presidente da empresa no país estava sendo acusado de manipular o número de clientes. Este executivo já estava sendo investigado na Itália por adotar esta prática, ao manter na base de assinantes clientes que já não trabalhavam com a empresa. Estes clientes eram considerados como "ativos", melhorando a participação de mercado da empresa. Além disto, a avaliação relativa para empresa de telecomunicações é realizada usando o número de clientes. Anunciando um maior número de clientes do que realmente contava a empresa, isto tenderia a influenciar os avaliadores que acreditam fielmente na avaliação relativa.
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