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Caso Rainer

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Caso Rainer
Nasceu em 1921. Formou-se como Inspetor da Fazenda. Procede de acampamento de serviço alemão do Trabalho no sul da França, e ingressa em 27.01.44.
Apresentava grave delírio de referência. Investigação difícil, pois pensava que todos liam seus pensamentos. Extremamente desconfiado, falsos reconhecimentos, estado de agitação (dias na ala dos agitados). Lentamente melhorou seu estado. Oito semanas depois iniciou seu relato.
Foi um menino são. Estudou regularmente. Em 1939 obteve certificado sem que realmente tivesse pensado alguma vez em sair de casa. Não obstante, já tinha a impressão que seus pais o reprovavam por terem que mantê-lo por tanto tempo. Atualmente, duvida que se tratasse verdadeiramente de uma reprovação, talvez fosse apenas um estímulo. Porque seu pai nunca lhe disse nada sobre isso, porém, de algum modo o pressionava.
Além disso, o pai lhe havia chamado a atenção sobre a carreira na Fazenda como uma possibilidade na qual não se exigia o bacharelado. Assim, pois, logo se decidiu a enviar a Leipzig uma solicitação para ingressar na carreira da Fazenda. Não queria mais ter a consciência de ser sustentado por seus pais.
Foi admitido, mas logo se arrependeu, porque seu melhor amigo de escola terminou seu bacharelado dois anos mais tarde e agora podia tornar-se cadete, caminho este que a ele estava vedado por não possuir o bacharelado.
Tornou-se Inspetor da Fazenda em 1940. Em outubro foi chamado e enviado com sua companhia, à França. Foram alojados em um campo de aviação, onde construíram casas e plantaram árvores.
Era o mais velho de sua companhia. Desde que chegou teve a impressão de que esperavam dele rendimentos especiais. Encontrava-se sob tensão. Falou-se muito de ascensão. Ele mesmo havia seguido com muito gosto a carreira militar. Porém, como lhe faltava o bacharelado, tinha que tirar essa ideia da cabeça.
Durante muito tempo pareceu-lhe que havia algo no ambiente, mas não podia dizer do que se tratava, talvez fosse um ataque eminente. Pouco a pouco foram se materializando os rumores de que ele iria ser o chefe da Companhia e, além disso, como único chefe do acampamento. Isto “se dizia”, “era dito” em torno dele. Não se mencionava nenhum nome, mas estava claro que se referiam a ele.
Por isso começou a sentir que lhe tinham inimizade. As pessoas são sempre invejosas. Pouco a pouco tudo se tornou hostil a ele.
Em um dia, os sacos de pão estavam fora de ordem. O capitão disse: “Ponha-os em ordem. Faço a você o responsável”. Isso era uma alusão a sua ascensão, alusão semelhante às que ouvia constantemente.
Não falava disso com ninguém porque temia a inveja. 
Logo começou a ouvir a conversa de que à noite iriam dar-lhe “uma passada”. Talvez o levassem ao campo e atando-o- a uma árvore iriam marca-lo de algum modo. Talvez fossem queima-lo com um ferro ardente, com a forma da cruz e do martelo. Fizeram certas insinuações a esse respeito. Decidiu permanecer acordado para defender-se.
Naquela noite, no dormitório, tudo estava muito suspeito. Ouvia claramente, no estalido do solo ou das camas, que o cercavam. Saltou da cama e aproximou-se da estufa com o objetivo de reconhecer seus inimigos ao alvorecer. Viu também como um ponto incandescente oscilava e tinha a forma da cruz e do martelo. Certamente atentavam contra ele. Ao tentar agarrar seu inimigo a aparição esfumaçou-se. Atrás da estufa havia um lugar certo para alguém se esconder. Olhou várias vezes. Ouviu passos de botas várias vezes. Uma vez chamaram a porta. Ouviu o tilintar do sabre. Disso, deduziu que lá fora estavam todos informados. Mas, assim que se levantava da cama, o silencio voltava. Ao deitar-se novamente começava o "cerco" e ele tinha que levantar-se para se proteger. Acendeu a luz do quarto e não viu nada. Talvez tenha acendido a luz por muito pouco tempo ou então não havia luminosidade suficiente. Veio o guarda e ele observou que ele também estava informado. Ele havia passado outras vezes para ver se as luzes estavam apagadas, mas desta vez foi diferente. Quando o viram de pé, mais de uma vez, ordenaram-lhe que se vestisse. O levaram para a sala de guarda. Ali era evidente que todos sabiam de "tudo". Quando voltou ao acampamento na manhã seguinte, todos sabiam e reinava uma atmosfera de inimizade. Todos se desviavam dele, era evidente que queriam ver como reagia. Agora ele sabe que tudo era uma ameaça. A época do serviço do trabalho foi de prova: prova para ver se ele servia para a carreira de oficial. Era preciso tomar uma decisão porque se aproximava a data de seu retorno para a Alemanha. 
No dia seguinte não falou com ninguém. Colocavam um obstáculo atrás do outro para ele. Quando foi se lavar, desapareceu o jarro d'agua; se queria ir a algum lugar, lhe obstruíam o caminho, faziam gestos e diziam coisas. Por todos os lados, pequenas grosserias. Um agitava a árvore para que a neve caísse sobre ele. Ao serrar, seu companheiro não fazia esforço. Inclusive seus melhores amigos o abandonaram. Sentiu-se sozinho. 
Levaram-no para a enfermaria. O tenente conversava com ele. Nesse momento teve a sensação de que haviam feito um plano para que deixasse de pensar em sua ascensão. A ascensão que pensava teria que vir do comandante. Si ele encontra-se comprometido publicamente, teria que renunciar a isso. Foi internado. Levaram-lhe de carro para outro lugar.
À medida que andava no carro pelas ruas, via grupos de soldados. O movimento que faziam com os fuzis na praça significava que ele devia preparar-se.
Quando chegou, teve uma sensação de esperança. O enfermeiro que lhe deu o uniforme vestia uma roupa verde, e a ficha que lhe deram era também verde; queriam infundir-lhe esperança. 
 O médico tinha o mesmo aspecto que seu tio. Essa semelhança o paralisava. Tinha também a mesma voz que seu tio. Começou a perder a noção das coisas. Tudo lhe parecia sobrenatural. Teve que deitar em uma maca e teve a certeza que iam lhe matar, porque viu a seringa no bolso do médico. Quando tiraram seu sangue, pensou que havia chegado a hora. Ouviu um ruído lá fora e percebeu que, por hipnose, iriam transforma-lo em um animal. 
Então percebeu, por transmissão de pensamento, que se encontrava sob hipnose. Todos queriam conhecer seu pensamento. Quando pensava algo, os demais lhe davam a entender que conheciam seus pensamentos. 
Passadas algumas semanas o paciente gradualmente foi voltando ao seu estado anterior. Na rua nada mais está “posto”. Não lhe perseguem mais. Porém relata para o médico que algo mudou dentro dele. Nunca mais poderá acreditar nos homens. Prefere ler apenas novelas baratas, que antes desprezava. Já não é capaz de assimilar o grande e o belo, só pode concentrar-se no impessoal. Não é mais despreocupado, mas inquieto e oprimido. Já não se sente seguro e não tem confiança no que empreende.

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