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Anofelinos e epidemiologia da Malária Prof. Rodrigo Gurgel Gonçalves Universidade de Brasília Faculdade de Medicina Área de Patologia Aula 1: perguntas já respondidas Quais são os agentes etiológicos da Malária? Como a Malária é transmitida? Quais são as fases de desenvolvimento do parasito? Como é o ciclo de vida nos hospedeiros? Quais são os sintomas da Malária? Como a Malária pode ser diagnosticada? O tratamento é eficiente? Existe vacina? Aula 2: novas perguntas O que são anofelinos? Como diferenciar os anofelinos de outros mosquitos? Como é o ciclo de vida desse vetor? Quais são os principais criadouros? Quais comportamentos influenciam a transmissão? Como a Malária está distribuída no Mundo? Quais foram as grandes epidemias da Malária no Brasil? Qual a prevalência atual? Quais fatores influenciam a distribuição da Malária? Quais são as estratégias de controle da Malária? Quais são as principais medidas profiláticas? Os anofelinos são mosquitos, insetos da ordem Diptera Culicidae (Halterata) (150 mil espécies descritas) Pape et al. (2009) Psychodidae Diptera: mosquitos, flebotomíneos, moscas, borrachudos Culicidae: Taxonomia Latim culex = mosquitos Mosquitos Abdome digestório respiratório excretor reprodutor Morfologia - Adultos • 3-6 mm (maioria) •15 ou 16 antenômeros • Revestimento: cerdas/escamas •Pernas longas •Nomes populares: Pernilongos, muriçocas, mossorongos, carapanãs Cabeça Tórax Mosquitos •Fase larval: 4 instares •1 fase de pupa Morfologia –larva e pupa Mosquitos: detalhes da morfologia e dimorfismo sexual ♂ ♀ Antena plumosa, alimento=açúcares Antena pilosa, alimento=sangue Antena capta vibrações das asas das fêmeas + amplificação no pedicelo (Johnston) Morfologia – diferenças entre Anophelinae e Culicinae •Asas nos adultos Morfologia – asa de Anofelinos Morfologia – diferenças entre Anophelinae e Culicinae • Larvas com sifão desenvolvido ou ausente Culicidae: diferenças entre os três principais gêneros Ovos unidos em jangada Ovos Ovos flutuantes Sifão longo Sifão curto Sem sifão, paralelas a superfície Trompa: forma de funil Trompa cilíndrica Perpendiculares a superfície Paralelo ao apoio Perpendicular ao apoio Ovos isolados Aedes aegypti Anopheles darlingi Hábitos crepusculares e noturnos Principal transmissor do protozoário da MALARIA no Brasil Culex quinquefasciatus Transmissor do nematóide Wuchereria bancrofti (FILARIOSE LINFÁTICA) Hábitos noturnos, voraz e com zumbido desagradável Principal transmissor do vírus da FEBRE AMARELA, DENGUE, ZIKA E CHIKUNGUNYA Hábitos diurnos Culicidae: diferenças entre os três principais gêneros Culicidae: diferenças entre os três principais gêneros Anopheles Culex Aedes O gênero Anopheles Anopheles darlingi Anopheles aquasalis Anopheles cruzii Anopheles albitarsis ~ 460 espécies (60 no Brasil): poucas tem importância para a epidemiologia da malária: mosquito-prego Principal vetor no Brasil antropofílico doméstico suscetível Malária Costeira Malária Sul Malária Nordeste Biologia (holometábolos) Anopheles spp. Fêmeas – Repasto sanguíneo – 2- 3 dias, postura 70-90 ovos/fêmea Ovos – 1-3 dias Larvas – 7-9 dias Pupas – 24 h Alados – Machos ~ 15 dias - Fêmeas ~ 40 - 50 Vídeo ilustrativo da vida de um mosquito Criadouros Naturais Grandes lagos ou lagoas, remansos de rios e córregos, represas artificiais, valas de irrigação, alagados, manguezais, pântanos e bromélias Águas com baixo teor de matéria orgânica. Raros em águas poluídas Criadouros artificiais Hábitos hematofágicos • Espécies zoófilas • Espécies antropófilas • Espécies endofílicas • Espécies exofílicas Quanto ao hábito, podemos classificar as diversas espécies anofélicas em: Quais teriam maior importância epidemiológica? Anofelinos são mais atraídos por humanos infectados por Plasmodium? Interações entre mosquitos, patógenos e humanos Desenho do olfatômetro: experimentos com crianças não infectadas x infectadas na fase assexuada x gametocítica: deslocamento dos mosquitos Os mosquitos foram 2 x mais atraídos por crianças na fase gametocítica: aumento da probabilidade de Plasmodium ser transmitido ao mosquito Distribuição geográfica dos vetores da malária nos continentes: concentração na faixa tropical Epidemiologia da Malária Epidemiologia da Malária - 2 bilhões de pessoas (40% da população mundial) sob o risco de infecção - 300-500 milhões infectados - Óbitos anuais: 1,5 – 2,7 milhões crianças, África - América Latina: maioria dos casos na Amazônia Brasileira As 4 grandes epidemias de malária no Brasil 1 - ocorreu na região Amazônica no final do século XIX e coincidiu com o fluxo de migrantes de estados do nordeste que foram trabalhar na extração da borracha. As 4 grandes epidemias de malária no Brasil 2- durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré (1907-1912), em Rondônia, e foi ocasionada pelo fluxo de imigrantes vindos do Caribe. As 4 grandes epidemias de malária no Brasil 3- aconteceu na década de 1930 e início da década de 1940, como consequência da introdução de anofelinos africanos nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. As 4 grandes epidemias de malária no Brasil No início da década de 1940s: estimativa de cerca de 6 milhões de casos de malaria por ano (Oliveira-Ferreira et al. 2010). Aproximadamente 20% da população brasileira infectada por ano As 4 grandes epidemias de malária no Brasil 4 – ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial devido ao fluxo migratório intenso de populações do NE para a Amazônia com o objetivo de trabalhar na extração da borracha. Esses trabalhadores ficaram conhecidos como “Soldados da Borracha”. O que essas epidemias têm em comum? Cenário atual da transmissão da malária no Brasil Malária (principalmente por Anopheles darlingi) 99% dos casos ocorrem na Amazônica legal 2011: 263.323 casos (SVS, 2012) A distribuição não é homogênea: 80% dos casos estão concentrados em 57 dos 807 municípios amazônicos; principalmente em 3 municípios (Manaus-AM, Porto Velho-RO e Cruzeiro do Sul-AC) (Oliveira-Ferreira et al., 2010) Número de casos na Região Amazônica: 1960 a 2009 Programas de colonização 1999: Plano de intensificação do controle: diagnóstico e tratamento rápido: 2x+lab; 20x+agentes Por que maior impacto no controle de P. falciparum? 2003-05: mudanças climáticas, desmatamento, fluxos migratórios, tanques de pesca (Manaus) Nova mobilização nacional Impacto do diagnóstico e tratamento rápido da Malária Período de transmissibilidade de Plasmodium spp. P. falciparum P. vivax Período que o homem permanece como fonte de infecção (sem tratamento) 7-12 dias Se o diagnóstico e tratamento são feitos em poucos dias, a transmissão de P. falciparum é controlada (não dá tempo para os gametócitos desenvolverem) Poucas horas Até 1 ano Até 3 anos Por que a malária é um grave problema de Saúde Pública na Amazônia? Condições ambientais T (20-30º), UR (>60%),chuva abundantes – proliferação do mosquito e ciclo esporogônico Habitações precárias que facilitam a atividade vetorial - Falta de paredes nas casas e dormir sem proteção Larga dispersão e antropofilia do principal vetor Exposição: garimpo, atividades extrativistas (Cadernos de Saúde Pública., 2005) Anopheles em Brasília Há presença do vetor. E o parasito? DF: 26 casos confirmados em 2012, nenhum autóctone Na região extra-amazônica a transmissão ocorre por anofelíneos associados a bromélias. Como explicar esses casos? Malária na região extra-amazônica N de casos de malária na região extra-amazônica. O pico em 2002 foi atribuído a um surto no CE transmitido por Anopheles associados a bromélias Hipóteses Focos autóctones mantidos por variantes de P. vivax ou Plasmodium spp. de primatas (reservatórios naturais explicando os casos) Focos iniciados por viajantes provenientes da Amazônia (humanos assintomáticos) Medidas de proteção individual - uso de roupas claras e com manga longa, durante atividades de exposição elevada; - evitar horários de atividade: amanhecer e entardecer - uso de repelente à base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida); consumo de alimentos que produzem odores repelentes (alho) Exposis possui uma concentração de 50% de DEET. Ainda, o Autan e o Exposis também tem um apresentação sem DEET, mas sim com Icaridina (Beyrepel), com proteção acima de 8 horas (alta eficácia) (5hs > 30ºC). Eficientes para populações ribeirinhas da Amazônia? Epidemiologia da Malária - Mosquiteiros recomendados pela OMS; Medidas de proteção individual Proteção contra a picada do mosquito Mosquiteiros impregnados de longa duração http://www.who.int/whopes Barreira física: proteção individual Barreira química: Excito-repelência reduzindo o contato homem-vetor Mosquitos que entram em contato com o MILD morrem reduzindo a população de vetores Projeto de distribuição de mosquiteiros na Amazônia + Educação Quimioprofilaxia - Custo benefício: risco de adoecer de malária grave por P. falciparum x risco de eventos adversos graves, relacionados a quimioprofilaxia. Recomendada para viajantes que visitarão regiões de alto risco de transmissão de P. falciparum na Amazônia Legal, que permanecerão na região por menos de 2 meses e em locais cujo acesso ao diagnóstico e tratamento de malária estejam distantes mais de 24 horas. -mefloquina (250 mg semanalmente) -1 semana antes da ida e 4 semanas depois da volta -Informar sobre os efeitos colaterais -Baixa terapêutica e proteção - O controle de mosquitos adultos é feito, atualmente, por meio de borrifação intradomiciliar; - Nebulização: somente em situações de alta transmissão (surtos e epidemias) para retirar fêmeas infectadas da população de mosquitos. Medidas de proteção coletivas Controle físico dos mosquitos Controle químico dos mosquitos Combate ao adulto: Estratégia aplicada em último caso para bloqueio de transmissão Combate a larva: estratégia fundamental Termonebulizador UBV (compressor) Epidemiologia da Malária No Brasil Baixa densidade demográfica e dispersão populacional: elevados custos para o programa Acesso difícil ao grande número de localidades: Ciclo de borrifações depende de cheias e secas de rios Infecções assintomáticas (Coura et al. 2006): já detectada em mineradores (MT), ribeirinhos (RO e AM). Dificuldades no controle da Malária Epidemiologia da Malária Na Amazônia Fluxos migratórios P. falciparum resistente à cloroquina Atividade exofílica dos vetores Resistência ao uso de mosquiteiros Indivíduos não adequadamente tratados podem ser fonte de infecção por mais de 3 anos (P. malariae) Malária como uma zoonose: P. knowlesi Dificuldades no controle da Malária Referências Básica MARCONDES, CB. Entomologia médica e veterinária. São Paulo: Atheneu, 2001. CONSOLI AGB & DE OLIVEIRA RL. Principais mosquitos de importância sanitária no Brasil. Rio de Janeiro, Fiocruz, 1998. Complementar KOELLA JC, SORENSEN FL, ANDERSON R. The Malaria parasite Plasmodium falciparum increases the frequency of multiple feeding of its mosquito vector Anopheles gambiae. Proccedings of the Royal Society of London Sen B 265:763-8,1998. KOELLA JC, RIEU L, PAUL REL. Stage specific manipulation of a mosquito’s host-seeking behaviour by the malaria parasite Plasmodium gallinaceum. Behavioral Ecology 13:816-20,2002 LARANJA, AT; MANZATO, AJ; BICUDO, HEMC. Effects of caffeine and used coffee grounds on biological features of Aedes aegypti (Diptera, Culicidae) and their possible use in alternative control. Genetics and Molecular Biology, 26: 419-429, 2003. VEZZANI, D; VELÁZQUEZ, SM; SOTO, S; SCHWEIGMANN NJ. Environmental Characteristics of the Cemeteries of Buenos Aires City (Argentina) and Infestation Levels of Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 96: 467-471, 2001
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