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O liame entre o estrito cumprimento do dever legal e o abuso de 
autoridade 
 
Josafá Souza Nogueira
2
, Luiz Henrique B. de Azevedo Silva
3
 
 
1. Trabalho realizado na Faculdade Montes Belos (FMB) 
2. Discente do Curso de Direito da FMB 
3. Prof. orientador da FMB 
 
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo estudar os limites entre a excludente de ilicitude do 
Estrito cumprimento do Dever Legal, que esta elencada no artigo 23, inciso III do código penal 
brasileiro, saber quem está amparado por esta excludente e seu limite com o crime de “Abuso de 
Autoridade”, que pode ocorrer nos casos de excessos. A legislação permite a algumas 
autoridades a limitação dos direitos e garantias individuais de quem viola a ordem pública, sem 
cometer inflação a lei, em benefício a segurança e a paz social da coletividade. 
 
Palavras chaves: Abuso de autoridade. Estrito cumprimento do dever legal. Uso da 
força. Preservação da ordem pública. 
 
The link between strict compliance with the statutory duty and abuse of authority 
 
Abstract: This research aims to study the boundary between any unlawful act of strict 
compliance with legal obligations, which are summarized in Article 23, paragraph III of 
the Brazilian penal code, to know who this is supported by exclusive and its limits with 
the crime of “Abuse of Authority,” which can occur in cases of excess. The legislation 
allows the authorities to some limitation of rights and guarantees individual who 
violates the order, without making inflation the law to benefit the security and social 
peace of the community. 
 
Key words: Abuse of authority. Strict compliance with legal obligations. Use of force. 
Preservation of public order. 
 
1.0 Introdução 
 
Abordando um conceito geral 
das excludentes de ilicitude e as suas 
finalidades, será apresentado em 
especial o estrito cumprimento do dever 
legal e a sua linha demarcatória com o 
abuso de autoridade. 
As excludentes de ilicitude 
surgiram como uma proposta para 
solucionar o problema de conflito e a 
permanência das normas, evitando-se, 
assim, que as autoridades ou seus 
agentes cumprissem a obrigação e o 
dever legal de agir e ao mesmo tempo 
1d1s – los por aquilo que lhe era 
ordenado. 
Trata-se de uma pesquisa 
teórica, tomando por base uma 
metodologia dialética na discussão da 
aplicação da excludente de ilicitude do 
estrito cumprimento do dever legal, em 
confronto com o abuso de autoridade. 
No primeiro capítulo será abordada a 
origem das excludentes de ilicitude, 
verificar de uma forma bem sucinta, o seu 
surgimento. Saber como elas nasceram e a 
abrangência de sua existência. 
No segundo capítulo foi mencionada 
a conceituação de excludentes de ilicitude 
definida na legislação e no direito penal, 
trazendo ênfase às atitudes permissivas de 
cada uma existentes em nosso ordenamento 
jurídico. Caracterizando e mencionando a 
importância das excludentes nas ações 
realizadas de forma legal. Ainda neste 
mesmo capítulo, definirá a conceituação do 
estrito cumprimento do dever legal, os 
sujeitos, as suas excludentes, o dever legal e 
seu estrito cumprimento, esclarecendo 
também os modos de repreensão ao 
contraventor da lei, sem que essa ação 
caracterize, contudo o crime previsto na lei 
4.898/65, “abuso de autoridade”. 
Será relatada no terceiro capítulo 
à definição de abuso de autoridade, 
quem são consideradas autoridades e 
quais atentados caracteriza esse delito. 
Será relatado também a sua origem, 
qual o motivo de seu surgimento os 
limites que separam a ação da 
excludente de ilicitude estrito 
cumprimento do dever legal do crime de 
abuso de autoridade. 
. 
2.0 Origens das ecludentes de ilicitude 
 
Com o passar dos tempos e com a 
evolução humana, passaram – se à fase da 
vingança privada, onde o castigo era 
proporcional ao delito, tendo como seu 
precursor Talião. Antes de Talião, a 
punição ficava a cargo do ofendido que 
poderia matar escravizar ou banir o 
2d2seqüênci. A pena ultrapassava de longe 
a pessoa do seu infrator para recair sobre 
seus familiares ou inteiramente sobre sua 
tribo (RANGEL, 2007). 
O Direito repressivo não se mostrou 
estático, e com maior organização social, 
chegou-se a fase da vingança pública, que 
protegia o príncipe, aplicando penas 
bastante severas. Mais adiante, retirou-se da 
pena o seu caráter religioso, transportando a 
responsabilidade para o grupo social. 
A fase medieval do Direito Penal 
teve grande influência do Direito Romano, 
Canônico e Bárbaro. Cominava pena de 
morte tais como fogueira, afogamento, 
soterramento, enforcamento etc. Desse 
sentimento de repúdio a desigualdade surge 
o iluminismo, movimento mundial iniciado 
na França após sua revolução, surgindo o 
Período Humanitário do Direito Penal que 
apregoa a humanização das leis e da 
administração da justiça penal (Rangel, 
2007). 
As sociedades, até então cansadas 
de viverem num regime jurídico que não 
lhes proporcionavam segurança, entregaram 
ao Estado uma parcela de sua liberdade, 
todavia, era impossível que o Estado 
pudesse estar presente em todos os 
momentos de conflito para salvaguardar a 
todos os seus tutelados. 
Para tentar salvaguardar esses 
direitos o Estado prescreveu sanções e 
demais medidas visando prevenir e reprimir 
o desencadeamento de fatos atentatórios aos 
bens jurídicos dos cidadãos. A arma que se 
valia o Direito Penal como meio de ação era 
a pena, que imprimia ao autor da conduta 
repudiada pela norma jurídica um mal que 
correspondia em gravidade ao dano por ele 
causado. 
O Estado não podendo tutelar todos 
os conflitos de interesses que por ventura 
pudessem surgir, deu-se a oportunidade ao 
particular de se proteger dos injustos 
dirigidos a sua pessoa, não podendo exigir 
o Estado o sacrifício do direito do agredido, 
que nesse momento, agia como se Estado 
fosse, sendo considerado justo seu impulso 
de defesa. 
No Código Penal de 1.830 não 
previa claramente as causas de excludentes 
de ilicitude, más em seu artigo 14, mostrava 
indícios de preocupação nesse sentido: 
 
Dos crimes justificáveis 
Art. 14. Será o crime 3d3seqüência, e não 
terá lugar a punição delle: 
1º Quando 3d3 feito pelo 3d3seqüênci para 
evitar mal maior. 
2º Quando 3d3 feito em defeza da 3d3seqü 
pessoa, ou de seus direitos. 
3º Quando 3d3 feito em defeza da 3d3seqü 
do 3d3seqüênci. 
4º Quando 3d3 feito em defeza da pessoa de 
um terceiro. 
5º Quando 3d3 feito em 3d3seqüênci á 
execução de ordens illegaes, não se 
excedendo os meios 3d3seqüênci para 
impedil-a. 
6º Quando o mal consistir no castigo 
moderado, que os pais derem a seus filhos, 
os senhores a seus escravos, e os mestres a 
seus 3d3seqüênc; ou desse castigo resultar, 
uma vez que a qualidade delle, não seja 
contraria ás Leis em vigor. 
 
Em 1.890, o General Manoel 
Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo 
Provisório da Republica dos Estados 
Unidos do Brasil, edita outro código 
penal, ao qual cita: 
Art. 32. Não serão também criminosos: 
§ 1º Os que praticarem o crime para evitar 
mal maior; 
§ 2º Os que o praticarem em defesa 
legitima, 3d3seqü ou de outrem. 
A legitima defesa não é limitada 
unicamente á protecção da vida; 3d3s 
comprehende todos os direitos que podem 
ser lesados. 
. 
O Decreto Lei nº 2.848, de 07 de 
dezembro de 1.940, traziam as excludentes 
de ilicitude, com previsão no artigo 19 e era 
denominada exclusão de criminalidade. 
A substituição do Código Penal foi 
tentada pelo Decreto-lei n° 1.004, de 21 
de outubrode 1969, sêm exito, pois as 
críticas foram tão grandes que ele foi 
modificado substancialmente pela Lei 
n° 6.016, de 31 de dezembro de 1973. 
Apesar de vários adiamentos para o 
começo de sua vigência, a referida lei 
tambem foi alterada por outra lei, a de 
n° 6.578, de 11 de outubro de 1978, 
alterando finalmente o Código de 1.969, 
baseado no posicionamento de que o 
código penal de 1.940 era mais 
atualizado que o vacante. 
Em 11 de julho de 1984, ocorreu 
outra reforma na Parte Geral do Código 
Penal, passando então a denominação 
exclusão da criminalidade para excludente 
de ilicitude, passando também, do artigo 19 
para o artigo 23. Nessa reforma, não houve 
alterações no conteúdo do referido artigo. 
As excludentes eram previstas no 
Decreto – Lei nº 2.848, de 07 de dezembro 
de 1940 da seguinte forma: 
 
Exclusão de criminalidade 
 
Art. 19. Não há crime quando o agente 
pratica o fato: 
I – em caso de necessidade; 
II – em legítima defesa; 
III – em estrito cumprimento de dever legal 
ou no exercício regular de direito. 
 
Passou – se então, com as 
alterações do Decreto – Lei nº 7.209, de 11 
de julho de 1984 a ter a seguinte 
denominação: 
 
Exclusão de ilicitude 
 
Art. 23 – Não há crime quando o agente 
pratica o fato: 
I – em estado de necessidade; 
II – em legítima defesa; 
III – em estrito cumprimento de dever 
legal ou no exercício regular de direito. 
 
Portanto, nem toda violação das 
normas jurídicas atribuem a conduta a 
qualidade de ilícita, e consequentemente 
não permite a responsabilização criminal e 
a aplicação da pena. No entanto, em 
situações excepcionais, a lesão ao bem 
jurídico pode ser justificada e a conduta 
violadora da norma não adquire a qualidade 
de ilícita. 
Por isso, é legalmente permitida 
uma ação ao particular como se fosse o 
próprio Estado para defender seus 
interesses jurídicos legítimos ou de 
terceiros, desde que preenchidos os 
requisitos objetivos e subjetivos da 
justificante. Os requisitos objetivos são os 
limites traçados pela lei material, onde é 
permitido ao agente reagir. O requisito 
subjetivo é a consciência da ilicitude ou da 
antijuridicidade, usadas no direito pátrio 
como expressões sinônimas. 
Para que não haja punição para essa 
conduta, é necessário que ela seja 
moderada, sem exageros, no limite da 
fronteira imposta pela lei, devendo cada 
caso ser analisado separadamente, para que 
a autoridade não venha a sofrer sanções 
injustificadas. 
 
3.0 Definições de excludentes de ilicitude. 
 
Visto que as excludentes de 
ilicitude surgiram no ordenamento jurídico 
brasileiro no ano de 1.940, com a 
denominação exclusão de criminalidade, é 
preciso definir o que vem a ser tal instituto 
jurídico. 
O direito prevê causas que excluem 
a antijuridicidade do fato típico, significa 
dizer que são normas permissivas, também 
chamadas tipos permissivos, que excluem a 
antijuridicidade por permitirem a prática de 
um fato típico (MIRABETE, FABRINI, 
2011). 
Rocha (2007) define que a exclusão 
da ilicitude dá-se por preceitos permissivos, 
e não por normas. A norma jurídica 
materializa um comando que impõe 
observância obrigatória a todos. 
As excludentes de ilicitude 
legitimam a prática de um fato típico, não 
lhe atribuindo ilicitude, fator essencial para 
a caracterização do ilícito penal, desde que 
seja o único meio plausível de ação e capaz 
de afastar o perigo que circunda o agredido. 
Ressalta ainda: 
 
Objetivamente, a causa justificante define 
situação fática excepcional que retrata um 
conflito de interesses juridicamente 
tutelados. Subjetivamente, a causa de 
justificação exige que o autor da violação á 
norma típica tenha se orientado por 
finalidade compatível com a preservação de 
um dos interesses envolvidos na situação de 
conflito (ROCHA, 2007, P. 286). 
 
Dentre estas excludentes, será 
priorizado neste trabalho o estrito 
cumprimento do dever legal. Também serão 
mostrados os limites desta com o crime de 
abuso de autoridade. 
 
4.0 .Estrito Cumprimento do Dever 
Legal 
 
Há casos em que a lei expressa não 
ser ilícita uma conduta, embora típica. O 
estrito cumprimento do dever legal e o 
exercício regular do direito são causas 
lógicas de exclusão contida no inciso III do 
artigo 23 do Código Penal: “Não há crime 
quando o agente pratica o fato: (...) III- Em 
estrito cumprimento de dever legal ou no 
exercício regular do direito”. 
O conceito de estrito 
cumprimento do dever legal é definido 
como a causa de exclusão da ilicitude 
que consiste na realização de um fato 
típico, por força do desempenho de uma 
obrigação imposta por lei, nos exatos 
limites dessa obrigação (CAPEZ, 2011). 
Para Nucci (2010, p.284) o 
estrito cumprimento do dever legal é 
“uma ação praticada em cumprimento 
de um dever imposto por lei, penal ou 
extrapenal, mesmo que cause lesão à 
bem jurídico de terceiro”. 
Prado (2007.), define esta 
excludente como o ato que pratica o 
agente público em estrito cumprimento 
de um dever legal, cumprindo 
exatamente o determinado pelo 
ordenamento jurídico na realização de 
uma conduta lícita (5d5se, executio non 
habet injuriam). Em outras palavras, a 
lei não pode punir quem cumpre um 
dever que ela impõe. 
Por ser um dever imposto por 
lei, àquele que age em seu 
cumprimento, não pode estar praticando 
um fato contrário à lei. Porém para que 
não houvesse exageros, foi assinalado 
no código penal com o adjetivo estrito, 
restringindo aos casos em que o agente 
está realmente dentro do seu dever 
legal. 
 A excludente só ocorre 
quando há um dever imposto pelo 
direito objetivo e pode ser imposto por 
qualquer lei, não necessariamente lei 
penal. O dever pode estar contido em 
regulamento decreto ou qualquer ato 
emanado do poder público, desde que 
tenha caráter geral. Outro caráter 
(religioso, moral, social), não autoriza a 
pratica de um fato típico sob o abrigo 
dessa justificativa. 
O dever de agir tem previsão 
legal nas alíneas “a, b e c do parágrafo 
2º, artigo 13 do código penal: 
Relação de causalidade: 
 
Artigo 13: O resultado, de que depende 
a existência do crime, somente é 
imputável a quem lhe deu causa. 
Considera – se causa a ação ou omissão 
sem a qual o resultado não teria 
ocorrido. 
Superveniência de causa independente 
§ 1º A superveniência de causa 
relativamente independente exclui a 
imputação quando, por si só, produziu 
os resultados, os fatos anteriores, 
entretanto, imputam – se a quem os 
praticou. 
Relevância da omissão 
§ 2º A omissão é penalmente relevante 
quando o omitente devia e podia agir. O 
dever de agir incumbe a quem: 
 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, 
proteção ou vigilância; 
b) de outra forma assumiu a 
responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com o seu comportamento anterior, 
criou o risco da ocorrência do 
resultado. 
 
A conceituação de estrito 
cumprimento de dever legal não foi 
colocada no Código Penal, porém foi 
definida como uma ação praticada em 
cumprimento de um dever imposto por 
lei, penal ou extrapenal, mesmo que 
cause lesão à bem jurídico de terceiro. 
O Cumprimento deve ser 
estritamente dentro da lei. Exige que o 
agente se contenha dentro dos rígidos 
limites de seu dever, fora dos quais 
desaparece a excludente. Assim, somente os 
atos rigorosamente necessários e que 
decorram de exigência legal se amparam na 
causa de justificação em estudo.Os 
excessos cometidos pelos agentes poderão 
constituir crime de abuso de autoridade, ou 
delitos previstos no código penal, não sendo 
este funcionário público. 
 
O dever legal que permite a justificação não 
é somente dirigido aos funcionários 
públicos, para o desempenho de suas 
funções, más também aos particulares, 
quando designados para exercerem alguns 
cargos ou função pública (ROCHA, 2007, 
p.315). 
 
 
Ressalta Rocha (2007) que “A 
permissão para a realização da conduta esta 
vinculada aos estritos limites da lei que 
institui o dever, e qualquer inobservância 
desses limites importa na ilicitude da 
conduta”. 
Para que o funcionário público se 
beneficie dessa excludente, faz se 
necessário que ele tenha conhecimento de 
estar agindo amparado por ela. Ou seja, não 
é admitido à justificativa nos delitos 
culposos porque o dever legal exige que a 
pessoa tenha o conhecimento de que esta 
praticando um fato imposto pela lei, pois 
ela não obriga á imprudência, negligência 
ou imperícia. Essa excludente, como as 
demais, também exige o elemento 
subjetivo, ou seja, o sujeito deve ter 
conhecimento de que está praticando um 
fato em face de um dever imposto pela lei, 
do contrário, estaremos diante de um ilícito. 
 
Como todas as causas excludentes de 
ilicitude, o estrito cumprimento do dever 
legal exige que a conduta que se pretende 
justificar tenha sido orientada por vontade 
compatível com a realização objetiva do 
fato justificado. No caso a justificação 
exige, além da objetiva realização de uma 
conduta obrigada, que o autor tenha se 
motivado pela vontade de cumprir 
fielmente e sem abusos, o dever que lhe 
cabia. (ROCHA, 2007, P.318). 
 
O estrito cumprimento do dever 
legal se refere somente a funcionário 
público, podendo o cidadão se beneficiar 
dessa excludente exclusivamente como co – 
autor ou partícipe. 
A conceituação de funcionário 
público para fins penais encontra-se no 
artigo 327 do Código Penal. 
Funcionário Público 
Artigo 327. Considera – se funcionário 
público, para os efeitos penais, quem, 
embora transitoriamente, ou sem 
remuneração, exerce cargo, emprego ou 
função pública. 
&1º Equipara – se a funcionário público 
quem exerce cargo, emprego ou função em 
entidade paraestatal, e quem trabalha para 
empresa prestadora de serviço contratada 
ou conveniada para a execução de atividade 
típica da administração Pública. 
& 2º A pena será aumentada da terça parte 
quando os autores dos crimes previsto neste 
capítulo forem ocupantes de cargos em 
comissão ou de função de direção ou 
assessoramento de órgão da Administração 
direta, sociedade de economia mista, 
empresa pública ou fundação instituída pelo 
poder público. 
 
4.1 Os sujeitos e suas excludentes 
 
A conduta típica pode ser 
praticada uma sob a proteção da causa 
excludente de ilicitude do estrito 
cumprimento de dever legal. 
A – como autores da conduta: 
funcionários públicos (lato sensu) e 
particulares que exercem função pública 
(jurado, perito, mesário da Justiça 
Eleitoral, etc), pois agem em 
conformidade com o ordenamento legal. 
B – como co-autores ou 
partícipes: Nessa modalidade, qualquer 
pessoa pratica, inclusive particulares, 
desde que atue em conjunto com um 
funcionário público e que seja 
reconhecida a excludente para este e 
que tenha consciência de que também 
está agindo sob o albergue da causa de 
justificação – o fato não pode ser 
objetivamente lícito para uns e ilícito 
para outros. 
Vale ressaltar que, se o particular 
encontra determinado indivíduo na rua, 
e este é seu desafeto e, sem perceber 
que o mesmo estava sendo perseguido 
pela polícia, o agride, para vingar-se de 
fatos pretéritos, deverá, nesse caso, ser 
responsabilizado pelas lesões que 
vierem a causar, não pode se beneficiar 
da excludente, porque, mesmo tendo 
agido como co-autor da conduta dos 
policiais, não agiu com a intenção de 
auxiliar o autor da conduta no 
cumprimento de dever legal nem tinha 
consciência de que existia, no contexto 
fático, aquela situação justificante. 
 
4.2 Dever legal e seu estrito 
cumprimento 
 
 Dentro dessa conceituação, é 
muito importante atentar para essas 
duas expressões: o dever legal e o 
estrito cumprimento. 
O que vem a ser dever legal? Como 
a própria denominação sugere, é uma 
obrigação imposta por lei, significando que 
o agente, ao atuar tipicamente, não faz nada 
mais do que cumprir uma obrigação. Mas 
para que esta conduta, embora típica, seja 
lícita, é necessário que esse dever derive 
direto ou indiretamente de lei, ou seja, 
preceito de caráter geral, originário de 
poder público competente. O dever que dá 
suporte a uma conduta que se pretende 
justificar somente poderá ser oriunda de 
norma legal. 
O dever legal é definido como 
sendo toda e qualquer obrigação direta 
ou indiretamente derivada de lei 
(CAPEZ, 2011). 
Não é necessário, também, que 
esta obrigação esteja imposta 
textualmente no corpo de uma lei estrito 
sensu, pode constar de decreto, 
regulamento ou qualquer ato 
administrativo infralegal, desde que 
originários de lei. O mesmo se diga em 
relação a decisões judiciais, que nada 
mais são do que determinações 
emanadas do Poder Judiciário em 
cumprimento da lei e esta na lei ou dela 
derive. 
Em algumas situações, são 
constituídos casos típicos de cumprimento 
de dever legal, como a execução de pena de 
morte feita pelo carrasco, quando o sistema 
jurídico admitir (no Brasil, somente em 
época de guerra, diante de pelotão de 
fuzilamento); a morte do inimigo no campo 
de batalha produzida pelo soldado em 
tempo de guerra; a prisão em flagrante 
delito executada pelos agentes policiais; a 
prisão militar de insubmisso ou desertor; a 
violação de domicilio pela polícia ou 
servidor do judiciário para cumprir 
mandado judicial e outros. 
A permissão para realização do 
dever legal está vinculada aos estritos 
limites da lei que instituiu o dever, e 
qualquer desatenção desses limites 
ultrapassa o dever legal e incorre na 
ilicitude da conduta. 
Os limites do dever legal devem ser 
observados com a necessária conciliação 
entre os diversos deveres que consiste ao 
autor da conduta. A observação dos limites 
estabelecidos pelos deveres se pressupõe ao 
cumprimento fiel de um dever legal. 
E o cumprimento estrito (CAPEZ, 
2011), define – se que quando a lei impõe 
determinada obrigação, existem limites, 
parâmetros, para que tal obrigação seja 
cumprida, isto é, a lei só obriga ou impõe 
dever até certo ponto, e o agente obrigado 
só dever proceder até esse exato limite 
imposto pela lei. Dessa forma, exige-se que 
o agente tenha atuado dentro dos rígidos 
limites do que obriga a lei ou determina a 
ordem que procura executar o comando 
legal. 
 
 
5.0 Abuso de autoridade 
 
Abuso de Autoridade é “o ato ou 
efeito de impor a vontade de um sobre a de 
outro, tendo por base o exercício do poder, 
sem considerar as leis vigentes” (CAPEZ, 
2008). 
Pode se claramente ser definida 
como qualquer conduta que possa vir a 
atentar contra a liberdade de locomoção, a 
inviolabilidade do domicílio, o sigilo da 
correspondência, contra a liberdade de 
consciência e de crença, ao livre exercício 
de culto religioso, á liberdade de 
associação, aos direitos e garantias legais 
assegurados ao exercício do voto, ao direito 
de reunião, a incolumidade física do 
indivíduo e aos direitos e garantias legais 
assegurados ao exercício profissional.A conduta excessiva pode ocorrer 
em qualquer das causas de excludentes de 
ilicitude, porém o nosso ordenamento 
jurídico não permite, com base nas causas 
de justificação, ofensas desnecessárias a 
bens juridicamente tutelados. Portanto, 
havendo excessos, os danos por ele 
produzidos não são justificados e o autor da 
conduta responde conforme seu elemento 
subjetivo. 
Qualquer pessoa que se sentir 
lesada em seus direitos, por qualquer ato 
praticado por autoridade pode requerer 
junto as autoridades competentes a 
representação para que seja instaurado o 
processo e apurar as responsabilidades 
civis, penais e administrativas contra essa 
autoridade que cometeu abuso no exercício 
de suas funções. 
 
5.1 Histórico Legislativo da criação 
da lei do Abuso de Autoridade 
 
Cumpre lembrar o momento 
histórico que atravessava o País quando esta 
Lei foi promulgada. Surgiu com a queda de 
Getúlio Vargas e com a realização das 
eleições para a Assembleia Constituinte e 
para presidente. Esse período, que se 
estendeu de 1945 até o golpe militar em 
1964, caracterizou se pela expansão da 
industrialização nacional, pela consolidação 
do populismo nacionalista como uma 
derivação do regime autoritário criado por 
Vargas, pelo fortalecimento dos partidos 
políticos de caráter nacional e por grande 
efervescência social, gerando graves 
conflitos sociais, envolvendo civis e 
militares, quase sempre desembocando em 
situações de grande violência (NUCCI, 
2009). 
Em 09 de dezembro de 1965, foi 
editada a Lei nº 4.898, que definiu como 
crime o abuso de autoridade, cuja ação é 
pública incondicionada, com pena máxima 
prevista de seis meses de detenção, além de 
multa, perda do cargo e inabilitação para o 
exercício de qualquer outra função pública 
por prazo de até três anos (CAPEZ, 2008). 
 A Constituição Federal de 
1988 consagrou direitos e garantias 
individuais que devem ser respeitados por 
todos, inclusive pelos detentores do poder 
estatal. A lei de Abuso de 
Autoridade regula o direito de 
representação e o processo de 
responsabilidade administrativa, civil e 
penal (CAPEZ, 2008). 
 O objetivo maior da lei é 
proteger os cidadãos dos abusos praticados 
pelas autoridades públicas ou por seus 
agentes, que possam comprometer direitos e 
garantias constitucionais como a liberdade 
de locomoção, o sigilo das 
correspondências, inviolabilidade 
domiciliar, incolumidade física, etc. 
 
5.2 As autoridades. 
 
Conforme especifica a referida lei 
4.898/65, em seu artigo 5º, “autoridade é 
qualquer pessoa que exerça função pública, 
cargo ou emprego, de natureza civil ou 
militar, ainda que transitoriamente e sem 
remuneração”. Portanto, esses delitos são 
considerados crimes próprios, pois só 
podem ser praticados por autoridades. 
Conforme descreve o artigo 5º 
desta lei, é considerada autoridade qualquer 
pessoa que exerça função pública, ainda 
que transitoriamente e sem remuneração 
(SILVA, LAVORENTI e GENOFRE, 
2002). 
 São exemplos de 
Autoridades: 
 
Os titulares de cargos públicos criados por 
lei, os contratados sob regime diverso do 
direito público, para exercício de funções 
de natureza pública, os mensalistas, os 
diaristas, tarefeiros e qualquer outro 
nomeado a título precário, desde que 
exerçam função pública, qualquer outra 
pessoa, ainda que transitória, precária e 
gratuitamente, exerça função pública, os 
serventuários da justiça, o comissário de 
menores, o funcionário de Autarquias, o 
Vereador, o advogado encarregado da 
cobrança da dívida ativa do Estado, o 
Guarda Municipal, etc. (CAPEZ, 2008, 
p.31). 
 
 Portanto, os sujeitos ativos 
dos crimes em estudo devem exercer 
necessariamente uma função pública, pouco 
importando a sua transitoriedade e se recebe 
remuneração dos cofres públicos. O que é 
importante ressaltar é a natureza da função 
exercida pelo agente, não importando a 
forma de investidura na Administração 
pública. 
 Alguns agentes não são 
considerados autoridades; como exemplo os 
tutores e curadores dativos, os 
inventariantes judiciais, o administrador de 
massa falida, o depositário judicial e os 
diretores de sindicatos (CAPEZ, 2008). 
 
5.3 A prática do Abuso de Autoridade 
fora do exercício da Função Pública 
 
É muito questionado se a 
autoridade, mesmo estando fora do 
exercício de suas funções, pratica o crime 
de abuso. Capez (2008) preconiza que 
ocorre a prática de abuso de autoridade fora 
do exercício da função, cita: 
 
Segundo decidiu o Plenário do Tribunal de 
Justiça do Estado de São Paulo, parece fora 
de dúvida que o acusado agiu como 
autoridade, seja perante as vítimas, seja 
perante o Dr Delegado de Polícia e não 
como cidadão. Dissociar-se a autoridade do 
cidadão, depois que ele se identifica, é mero 
artifício. A partir do momento em que se 
identificou como Promotor de Justiça 
passou a exercer o poder inerente ao seu 
cargo, agindo além da medida legal 
(CAPEZ, 2008, p.31). 
 
Se o abuso praticado pela 
autoridade não tiver qualquer conexão com 
a atividade por ela exercida, retira a 
configuração do crime, pois nesse caso, o 
funcionário não abusou de sua função. 
 
 
5.4 Fatores que configuram o abuso 
de Autoridade previsto no artigo 
3º da Lei 4.898/65. 
 
As condutas que configuram crime 
de abuso de autoridade estão arroladas no 
art. 3º da Lei nº 4.898/1965. São 
classificados como crimes de atentados ao 
qual o autor Gabriel Habib trouxe a 
seguinte definição: 
 
São aqueles que já trazem a figura da 
tentativa como elemento do tipo. Se a 
tentativa já esgota a figura típica na conduta 
do agente o delito já está consumado. Seria 
correto, portanto, afirmar que, nesses 
crimes, o tentar já é consumar. Dessa 
forma, o delito não admite a figura da 
tentativa (HABIB e GABRIEL, 2009, p. 
20). 
 
Os crimes previstos no artigo 3º da 
lei 4.898/65 são os atentados contra: 
 
Art. 3º Constitui abuso de autoridade 
qualquer atentado: 
 
a) À liberdade de locomoção; 
b) À inviolabilidade de domicílio; 
c) Ao sigilo da correspondência; 
d) À liberdade de consciência e de crença; 
e) Ao livre exercício do culto religioso; 
f) À liberdade de associação; 
g) Aos direitos e garantias legais 
assegurados ao exercício do voto; 
h) Ao direito de reunião; 
i) Aos direitos e garantias legais 
assegurados ao exercício profissional 
(SILVA, GENOFRE e LAVORENTI, 
2002, p.353). 
 
 O maior objetivo dessa lei é 
proteger os cidadãos dos abusos praticados 
pelas autoridades públicas ou pelos seus 
agentes, quando venha a comprometer 
algum direito ou garantia constitucional. 
Também caracteriza o abuso de 
autoridade a prática dos atos 
especificados no artigo 4º da lei 4.898/65: 
 
a - Ordenar ou executar medida privativa da 
liberdade individual, sem as formalidades 
legais ou com abuso de poder; 
a- Submeter pessoa sob sua guarda ou 
custódia a vexame ou a constrangimento 
não autorizado em lei; 
a- Deixar de comunicar, imediatamente, ao 
juiz competente a prisão ou detenção de 
qualquer pessoa; 
a- Deixar o Juiz de ordenar o relaxamento 
de prisão ou detenção ilegal que lhe seja 
comunicada; 
a- Levar à prisão e nela deter quem quer 
que se proponha a prestar fiança, permitida 
em lei; 
a- Cobrar o carcereiro ou agente de 
autoridade policial carceragem, custas, 
emolumentos ou qualquer outra despesa, 
desde que a cobrança não tenha apoio em 
lei, quer quanto à espécie quer quanto ao 
seu valor;a- Recusar o carcereiro ou agente de 
autoridade policial recibo de importância 
recebida a título de carceragem, custas, 
emolumentos ou de qualquer outra despesa 
(SILVA, 2002, P.353 e 354). 
 
 
Tanto no artigo 3º como no 4º da 
referida lei, o elemento subjetivo é o dolo, 
que consiste na vontade de abusar do poder 
que o agente detém em nome do Estado, 
portanto, pode ocorrer de a pessoa ficar 
aguardando por horas para ser ouvido como 
testemunha e um foro ou em uma delegacia 
(tendo impedido a sua liberdade de 
locomoção) e não configurar abuso, sem 
que o agente público tenha a vontade 
específica de usar mal a autoridade estatal, 
não existindo o dolo. 
A responsabilidade administrativa é 
apurada por meio de procedimento 
administrativo próprio (sindicância ou 
processo), conforme rege os estatutos ou 
leis orgânicas a que for subordinada tal 
funcionário que praticou o abuso. 
 
6. Limites entre o estrito cumprimento 
do dever legal e abuso de autoridade 
 
 A linha demarcatória que separa as 
excludentes de ilicitude do abuso de 
autoridade se caracteriza pela não 
observância das normas permissivas e pelo 
dolo consciente de praticar determinado ato 
ilícito. 
È necessário que a autoridade 
restrinja, sem nenhum respaldo legal e com 
a intenção de abusar do poder, a liberdade 
do indivíduo, não sendo necessário 
consumar – se a privação dessa liberdade 
(configurando a figura típica descrita no 
artigo 4º, alínea “a” da lei 4.898/65), sendo 
necessária somente a turbação do direito de 
se locomover como de 11d11seqüênc 
algum local público (NUCCI, 2008). 
Algumas situações que serão 
citadas darão maior clareza nos liames das 
excludentes de ilicitude com o abuso de 
autoridade. Vejamos o Artigo 3º da lei 
4.898/65 e suas alíneas, a qual será 
especificada as situações em que se 
caracteriza ou não o abuso: 
 
6.1. A liberdade de locomoção 
 
 Inicialmente, cumpre conceituar a 
restrição à liberdade de locomoção, citada 
na lei 4.898/65, em seus artigos 3º, alínea 
“a”, e no artigo 4º, alíneas “a, b, c, d, é, e 
também a alínea “i”, é definida como 
qualquer conduta que impeça, sem motivo 
legal, o direito de ir e vir garantido pela 
Constituição Federal ao cidadão (CAPEZ, 
2008). 
No artigo 5º, inciso LXI, da 
Constituição Federal, Prevê ainda que 
“Ninguém será preso, senão em flagrante 
delito ou por ordem judicial escrita e 
fundamentada de autoridade judiciária 
competente, salvo nos casos de transgressão 
militar ou crime propriamente militar 
definido em lei” (CAPEZ, 2008). 
O artigo 4º, alínea “a”, da lei 
4.898/65, descreve que “ordenar ou” 
executar medida privativa da liberdade 
individual, sem as formalidades legais ou 
com abuso de poder também constitui 
atentado á liberdade de locomoção prevista 
no artigo 3º, no entanto, prevalece a figura 
criminosa do artigo 4º, em face do princípio 
da especialidade (CAPEZ, 2008). 
No artigo 4º, da lei de abuso de 
autoridade, faz referências diretas a 
violação ao direito de locomoção do 
cidadão, conforme relata o artigo 3. 
Existem situações em que a lei 
permite a restrição da liberdade: 
 
O artigo 139 da CRFB/1988 prevê que, na 
vigência do Estado de Sítio, seja decretada, 
com fundamento no artigo 137, I, que as 
pessoas poderão ser obrigadas a permanecer 
em localidade determinada ou poderão ser 
detidas em edifícios não destinados a 
acusados ou condenados por crimes comuns 
(CAPEZ, 2008, p.10). 
 
 
Vale ressaltar que essa liberdade de 
locomoção não é totalmente absoluta, como 
não são todos os direitos e as garantias 
fundamentais, pois todo e qualquer direito 
fundamental são relativos, podendo ceder 
em face do estrito cumprimento de dever 
legal ou do exercício regular do direito, sem 
a devida configuração do abuso. 
 
6.2 Violação de domicílio 
 
O cidadão tem esse direito 
resguardado, pois tal conduta viola o direito 
fundamental previsto na CRFB/88, que 
dispõe que a casa é asilo inviolável do 
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar 
sem consentimento do morador, salvo em 
caso de flagrante delito ou desastre, ou para 
prestar socorro, ou, durante o dia, por 
determinação judicial (HABIB, 2009). 
A denominação casa se refere a 
“qualquer compartimento habitado”, 
“aposento ocupado de habitação coletiva” e 
“compartimento não aberto ao público, 
onde alguém exerce profissão ou 
atividade”. Desde a mais moderna 
construção de alto luxo até o 
compartimento mais humilde feito de papel 
ou outro recipiente qualquer. Independe de 
classe social, podendo a pessoa lesada 
pertencer a alta classe social ou a um 
humilde local de habitação (NUCCI, 2009). 
 Estão excluídos desta 
proteção legal os bares, os restaurantes, as 
lanchonetes, lojas, bingos, casas lotéricas, 
cujo acesso é liberado ao público. 
Caso a autoridade ingresse na 
residência de alguém autorizada pela norma 
legal ou constitucional, não há que se falar 
em abuso, está amparada por uma das 
exceções previstas no artigo 5º, inciso XI da 
CRFB, porém, ocorrendo algum desvio ou 
excesso, responderá pelo crime de abuso, se 
for autoridade, e não sendo, responderá pelo 
crime previsto no artigo 150 do código 
penal, (Violação de domicilio). 
 
6.2 Sigilo de correspondências 
 
Ao sigilo da correspondência 
compreendendo como o ato de violar 
correspondência alheia, sem permissão do 
destinatário, seja comunicação por carta 
telegráfica ou telefônica. 
 Existem algumas situações em que são 
permitidas sem que configure abuso: 
 
O código de processo penal, em seu artigo 
240, $1º,f, prevê: proceder – se busca 
domiciliar, quando fundadas razões a 
autorizarem para: aprender cartas, abertas 
ou não, destinadas ao acusado ou em seu 
poder, quando haja suspeita de que o 
conhecimento do seu conteúdo possa ser 
útil à elucidação do fato (CAPEZ, 2008, 
p.13). 
 
Ressalta ainda: 
A antiga lei de falências (Dec. Lei n. 
7.661/45) autorizava a abertura e a leitura 
da correspondência do falido pelo síndico 
da massa (art. 63, II). Atualmente o art. 22, 
III, d, da lei n. 11.101, de 09 de fevereiro de 
2005, prevê também a possibilidade do 
administrador judicial, sob a fiscalização do 
Juiz e do comitê, na falência, receber e abrir 
a correspondência dirigida ao devedor, 
entregando a ele o que não for assunto de 
interesse da massa (CAPEZ, 2008, p.13). 
 
A prática deste delito é considerada 
especial porque se um particular violar o 
sigilo das correspondências de alguém, 
pratica o delito previsto no artigo 40 da lei 
nº 6.538/78, (lei de Serviços Postais). 
Contudo, se o autor da violação for uma 
autoridade pública, pratica o delito previsto 
no artigo 3º da lei nº 4.898. 
 
6.5. Liberdade de crença, religião ou 
culto religioso. 
 
À liberdade de consciência e de 
crença o livre exercício do culto religioso 
está prevista na Constituição Federal em 
seu art. 5º, VI e VII da CRFB/88. 
 Sobre a liberdade prevista, 
veremos: 
 
É inviolável a liberdade de consciência e de 
crença, sendo assegurado o livre exercício 
dos cultos e as suas liturgias e ninguém será 
privado de direitos por motivos de crença 
religiosa ou de convicção filosófica ou 
política, salvo se as invocar para eximir se 
de obrigação legal a todos imposta e recusar 
se a cumprir prestação alternativa, fixada 
em lei (HABIB, 2009, p.24). 
 
Esta liberdade não é ilimitada, a 
autoridade pode impedir a realização de 
cultos que atentem contra a moral, quepratique a realização de oferendas com 
animais ou ponha em risco a ordem pública. 
Nessa modalidade, o sujeito ativo é 
sempre a autoridade, e o sujeito passivo 
será sempre o Estado ou qualquer pessoa 
atingida pelo abuso, podendo até ser pessoa 
jurídica. 
 
6.6. Liberdade de associação. 
 
Habib (2009) define como conceito 
uma reunião permanente e estável de várias 
pessoas com um fim lícito e comum. 
Sobre a liberdade de associação, 
somente é considerada abuso a atitude da 
autoridade que tente impedir ou dificultar 
que o cidadão associe-se ou mantenha-se 
associado a qualquer agremiação, 
legalmente constituída. Pode haver o 
impedimento da formação ou continuidade 
de uma associação que tenha fins ilícitos, 
sem a configuração do abuso, simplesmente 
pelo estrito cumprimento do dever de agir. 
Cumpre ressaltar o conceito de 
associação como sendo uma reunião estável 
e permanente de várias pessoas para a 
consecução de um fim determinado ou para 
o desempenho de certa atividade. 
 
6.7 Aos direitos e garantias legais 
assegurados 14d exercício do voto: 
 
 
 Depreende-se que constitui 
abuso de autoridade qualquer ato da 
autoridade que impeça ou dificulte o 
cidadão de exercer o seu direito de votar 
(CRFB, 1988, art.14). 
Ressalta-se ainda que o voto tenha 
algumas características peculiares, pois é 
secreto, é livre, pessoal, direto e também 
obrigatório. Qualquer atentado, físico ou 
moral praticado por autoridade contra 
aquele que exerce o voto poderá configurar 
o crime de abuso de autoridade. 
 
6.8 O direito de reunião. 
 
É definido como o agrupamento 
voluntário de pessoas, sem caráter de 
permanência ou estabilidade, em um 
determinando lugar, no qual se discute um 
assunto qualquer e após o qual grupo se 
dissolve. 
Para que uma reunião possa ser 
impedida ou dissolvida por qualquer 
autoridade no exercício de suas funções 
precípuas, é necessário que esta reunião 
tenha fins ilícitos ou que esteja sendo 
realizada em local proibido ou sem prévia 
permissão. 
 
6.9 Á incolumidade física do indivíduo. 
 
A Constituição Federal, no artigo 
5º, incisos X e XLIX, nos fala que são 
invioláveis a intimidade, a vida privada, a 
honra e a imagem das pessoas, assegurado o 
direito a indenização pelo dano material ou 
moral decorrente de sua violação. 
Significa que será considerado 
abuso, quando a autoridade causar lesão 
física ao cidadão sem motivo 
justificadamente legal. Esse crime engloba 
toda a ofensa praticada por autoridade, seja 
violência física seja moral. 
Porém, é possível que a autoridade 
pública utilize violência e atente contra a 
incolumidade física de alguém, más por um 
motivo justificado. Como exemplo a 
hipótese da força física utilizada de forma 
estritamente necessária para efetuar a prisão 
em flagrante de alguém que resista à prisão 
(HABIB, 2009,). 
Caso a autoridade pública venha a 
abusar de sua autoridade, atentando contra a 
integridade física da vítima, torturando – a 
para dela obter confissão, declaração ou 
informação, responderá pelo crime de 
tortura, tipificado no art. 1º, I, da lei 
9455/97 (HABIB, 2009). 
 
6.10 Aos direitos e garantias legais 
assegurados ao exercício profissional. 
 
É garantido o livre exercício de 
qualquer trabalho, ofício ou profissão, 
atendido as qualificações profissionais que 
a lei estabelecer (CF, 1988). A lei de abuso 
de autoridade considera crime qualquer 
atentado aos direitos e garantias legais 
assegurados ao exercício profissional. 
Porém, não caracteriza abuso o 
atentado ao comércio irregular, ou lugares 
onde o comércio não é autorizado. O 
combatente a essa atividade age dentro da 
legalidade das excludentes, não cometendo 
nessa situação o abuso. 
 
7.0 Considerações gerais 
 
O objetivo deste artigo é 
demonstrar o quanto é importante analisar o 
estrito cumprimento do dever legal e o que 
o separa do abuso de autoridade, pois existe 
um limite que demarca onde termina a 
excludente e onde se inicia o abuso de 
autoridade. 
Não basta a conexão condicional 
entre a excludente, têm se a obrigação de 
praticar os atos nos limites da legalidade. 
Esses crimes somente são 
praticados por sujeito qualificado (crime 
próprio), e não depende da ocorrência 
de efetivo prejuízo naturalístico para a 
vítima (crime formal). Ocorrendo o 
excesso no cumprimento de suas 
obrigações sem prévia justificação, 
estará esta autoridade cometendo o 
crime de abuso. 
Se o agente estatal faz a retenção 
de alguém para verificar, por exemplo, 
se é pessoa procurada pela justiça, ou 
autora de algum delito, pode se 
configurar o crime de abuso ou 
simplesmente o exercício do poder de 
polícia legítimo do Estado. O fator 
fundamental para distinguir o estrito 
cumprimento do dever legal e o 
exercício regular do direito do abuso de 
autoridade é a análise do elemento 
subjetivo específico que é a vontade 
daquela autoridade de abusar do poder 
que o Estado lhe proporciona. 
Porém é corriqueiro e natural 
que a polícia possa deter elementos que 
estejam embriagados ou em atitudes 
escandalosas, e também pessoas com 
distúrbios mentais ou vândalos que 
estiverem destruindo coisas públicas ou 
privadas. Porém se o fizerem com o 
objetivo de simplesmente fazer cessar a 
devida situação, pelo tempo necessário 
para o retorno a sequência, configura a 
perfeita aplicação do poder estatal. 
O direito penal privilegia da 
intervenção mínima, não sendo 
considerado abuso de autoridade. Se, 
por outro lado, o agente policial, em 
busca de um criminoso, exige – lhe os 
documentos pessoais para atestar de que 
se trate de uma pessoa procurada pela 
justiça ou não, por algum tempo a 
pessoa abordada há de ficar lesada em 
seu direito de locomoção, e em se 
havendo o bom senso e a ausência da 
vontade de abusar do poder, configura 
se o estrito cumprimento do dever legal, 
por outro lado, se o agente permanecer 
por horas em determinado local, sem 
poder se retirar do local, mesmo após se 
identificar, há a configuração do abuso 
de poder. 
 Ao preceituar o código 
sobre o estrito cumprimento do dever 
legal e o exercício regular de direito, 
restou definido que o agente deve 
obedecer religiosamente aos requisitos 
objetivos descritos pelo poder público. 
Se deles se desviar, estará cometendo 
um crime, seja o de omissão ou de 
abuso de autoridade. 
No presente estudo ficou 
bastante claro, tanto na excludente 
denominada estrito cumprimento do 
dever legal como no abuso de 
autoridade, que somente as autoridades 
podem atuar no 16d16s ativo da 
situação, pois somente elas se 
beneficiam dessa excludente. 
Portanto, cabe à autoridade ter o 
discernimento rigoroso de que esta 
agindo nos limites da legalidade e 
também à sociedade ter conhecimento 
de até onde vai seus direitos para que 
possa exigi-los em eventuais desvios de 
condutas por parte dessas autoridades. 
 
 
Referências bibliográficas 
 
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