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Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba Trabalho de Filosofia do Direito O ILUMINISMO (Parte II) Áurea Marina Teixeira Machado Arnaldo Alves da Silva Júnior Carlos Maicon da Silva Barcelos Laraciana de Sousa Melo Marisa Piauilino Silva Jean Francisco de Melo Oliveira Professor: Esdras Belleza Teresina, 30 de Abril de 2018 1 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba Índice Introdução…………………………………………………………………………………………………………03 O empirismo……………………………………………………………………………………………………...04 Hugo Crócio,John Locke….………………………………………………………………………………...05 O sensacionismo ……………………………………………………………………………………………….06 George Berkeley………………………………………………………………………………………………..06 David Hume……...………………………………………………………………………………………………07 Samuel Pufendorf……………………………………………………………………………………………...07 O Jansenismo……………………………………………………………………………………………………08 Jean Domat…………….……………………………………………………………………………………….08 Blaise Pascal…………………………………………………………………………………………………….09 Uma reflexão acerca dos códigos……………………………………………………………………….09 Códigos Napoleônicos……………………………………………………………………………………….10 Código Civil Alemão………………………………………………………………………………………….10 A escola Histórica do Direito……………………………………………………………………………..11 Savigny…………………………………………………………………………………………………………..11 Escola Histórica e Jurisprudência dos interesses……………………………………….11 Rudolf Lhering e o direito………………………………………………………………….12 Conclusão…………………………………………………………………………………...14 Bibliografia…………………………………………………………………………………..15 2 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba Introdução O Iluminismo, foi um movimento que surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade. Os pensadores que defendiam estes ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. Século das Luzes O apogeu deste movimento foi atingido no século XVIII, e, este, passou a ser conhecido como o Século das Luzes. O Iluminismo foi mais intenso na França, onde influenciou a Revolução Francesa através de seu lema: Liberdade, igualdade e fraternidade. Também teve influência em outros movimentos sociais como na independência das colônias inglesas na América do Norte e na Inconfidência Mineira, ocorrida no Brasil. Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios dados a nobreza e ao clero.Os burgueses foram os principais interessados nesta filosofia, pois, apesar do dinheiro que possuíam, eles não tinham poder em questões políticas devido a sua forma participação limitada. Naquele período, o Antigo Regime ainda vigorava na França, e, nesta forma de governo, o rei detinha todos os poderes. Outra forma de impedimento aos burgueses eram as práticas mercantilistas, onde, o governo interferia ainda nas questões econômicas. No Antigo Regime, a sociedade era dividida da seguinte forma: Em primeiro lugar vinha o clero, em segundo a nobreza, em terceiro a burguesia e os trabalhadores da cidade e do campo. Com o fim deste poder, os burgueses tiveram liberdade comercial para ampliar significativamente seus negócios, uma vez que, com o fim do absolutismo, foram tirados não só os privilégios de poucos (clero e nobreza), como também, as práticas mercantilistas que impediam a expansão comercial para a classe burguesa. 3 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba O termo iluminismo representa um dos mais importantes períodos da história cultural e intelectual do ocidente. Os ideais daí decorrentes constituíram, sem dúvida, um marco para o Direito moderno. Embora não haja total consenso entre os estudiosos, estabelece- se como seu marco inaugural o início do século XVIII (por isso denominado século das luzes), tendo se encerrado apenas no início do século XIX , com o advento das guerras napoleônicas. Um de seus mais importantes expoentes, Immanuel Kant, diria, mais tarde, que o iluminismo teria sido o único caminho para que o homem saísse da minoridade em que ele mesmo se havia colocado. Em um pequeno texto, denominado O que é o iluminismo? o pensador esclarece as bases desse novo movimento, conclamando a todos a sair de sua posição de passividade e submissão e a “fazer uso da própria razão, independente da direção de outrem”.Os iluministas eram, portanto, de todas as formas, contrários aos ideais defendidos pela igreja. E, com toda essa atitude de negação das concepções religiosas, era natural que o homem se inclinasse para a ciência como ferramenta de desenvolvimento. Por tal razão, entram em cena os cientistas como Isaac Newton, pesquisadores como Descartes, bem como artistas do porte de Leonardo da Vinci e Michelangelo. Cada um na sua área de conhecimento, tentando entender, com a razão mais do que com a fé, o funcionamento do mundo. No âmbito jurídico, o iluminismo teve importante contribuição. Justamente em razão do posicionamento do homem como centro da filosofia, surgiram no direito os jusnaturalistas pós-Idade Média. O empirismo Embora o empirismo tenha sido iniciado por Francis Bacon, no final do século XVI,sem dúvida seu doutrinador m ais importante viria a ser o filósofo britânico John Locke, quase u m século depois. A doutrina do empirismo, de que todo conhecimento só é adquirido pela experiência, por meio do método da tentativa , erro e acerto, era clara oposição ao racionalismo então em voga Com efeito, o racionalismo apregoava que o homem nascia com as suas principais ideias já prontas; essas ideias ficariam latentes em algum lugar da mente e, à medida que o homem se desenvolvia, emergiam para a consciência. Portanto, para os racionalistas, a verdade não dependia dos sentidos. Locke não concordava com essa doutrina e seguiu o caminho oposto, afirmando que os sentidos e a experiência eram os reais instrumentos do conhecimento. No entanto, admitia a existência de algo inexplicável, intangíve l pelos sentidos, relacionado coma substância. O empirismo, que defende o método da experimentação, tornou-se importante base filosófica da ciência moderna, em bora recomendasse m ais a indução que a dedução. Foi sob o reinado de Elizabeth I, em plena Renascença, que despontou o talento de Francis Bacon, o iniciador do empirismo, teoria filosófica que estabelece que o conhecimento deve advir da experiência. Dizia ele que o hábito é o principal juiz da vida de um homem. O pensamento de Francis Bacon influenciaria toda uma geração de filósofos britânicos, ao longo de todo 4 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba o século seguinte, o século X V II. O representante mais renomado desse movimento foi John Locke, mas é preciso lembrar que o empirismo já era uma característica do pensamento de Aristóteles, que Santo Tomás de Aqui no aperfeiçoou. Francis Bacon nasceu de família nobre inglesa, em 1561. Foi educado em Cambridge e em Paris. Foi eleito para o parlamento. Exerceu cargos de alto nível na corte de Elizabeth I e,mais tarde, na corte de James I, tendo recebido, deste, dois títulos de nobreza, de barão e de visconde. No entanto,acusado de abuso de confiança, teve que renunciar aos cargos. Foi perdoadopelo rei, mas teve que se retirar para sua propriedade, onde permaneceu dedicado aos estudos até morrer, em 1626. Hugo Crócio O holandês Hugo Grócio (Huig de Groot) nasceu em 1583, filho de pai protestante e mãe católica. talvez o fato de viver entre duas doutrinas religiosas contrastantes, em casa, o tenha levado a defender a natureza como elemento fundamental do direito, e não a lei de Deus. Isso era basicamente o conceito do livre -arbítrio . Com isso, opunha-se a Calvino com quem também teve desavenças no campo da política. Chegou a ser preso por causa de suas ideias. Hugo Grócio dizia, em sua teoria do direito natural, que as coisas são boas ou más por sua própria natureza, e não porque Deus lhes atribuísse qualidade. Sua obra considerada mais importante é “De Mare Liberum” (Sobre a Liberdade dos Mares), em que contesta o direito que Inglaterra, Espanha e Portugal teriam, nessa época (1609), de dominar os mares. Grócio defendia que a Holanda também tinha direito de navegar até o ponto conhecido então como índias Ocidentais. No campo do direito, escreveu não só sobre a guerra mas também sobre a paz, definindo maneiras de procurar soluções pacíficas para os conflitos. John Locke O filósofo britânico John Locke é, certamente, o maior nome do empirismo (ou a Escola da Epistemologia).Recuperando Francis Bacon e Hugo Grócio, sua teoria pregava, em síntese, que abusca do conhecimento deveria ocorrer por meio de experiências, e não por deduções ou especulações. Esse empirismo filosófico refutava explicações baseadas na fé e, por isso mesmo, apregoava ser necessário separar a Igreja do Estado. Não é preciso dizer, portanto, que a teoria fez com que seu autor fosse alvo de feroz oposição da Igreja católica. Não chegou, no entanto, a sofrer maiores retaliações porque era aristocrata e chegou a exercer a função de ministro do comércio do rei Guilherme III de Orange.John Locke estudou em Oxford, onde depois lecionou. Tinha ideias políticas avançadas para a época. Questionava o poder divino dos governantes, formulado por Thomas Hobbes. Dizia que era necessário haver três Poderes: o Executivo, o Judiciário e o Legislativo este último mais importante, porque representava o povo. Foi justamente dentro dessa linha de pensamento que, em 1689, escreveu o seu “Dois tratados sobre o governo”, descrevendo os contratos que deviam existir entre governantes e governados e da autonomia entre os poderes de Estado, ainda hoje consideradas pontos básicos da 5 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba liberdade humana. Como o conhecimento depende da percepção, segundo Locke, o empirismo tem caráter individual: o entendimento de cada coisa depende da percepção de cada indivíduo. Para os empiristas, o que importava não era a coisa, nem a ideia que temos sobre essa coisa,mas o processo pelo qual essa coisa chega ao entendimento da mente pelos sentidos. Esse conceito teve repercussão no desenvolvimento da corrente psicológica do behaviorismo. Em 1690, foi publicada a sua principal obra, denominada Ensaio sobre o entendimento Humano. Foi aqui que Locke desenvolveu a sua teoria das ideias simples e complexas. Dentro da lógica do empirismo, afirmava o autor que a origem de todas as ideias são os sentidos. Em um primeiro momento, por meio da utilização deles, o homem abstrai suas primeiras impressões da situação ou objeto experimentados. A essas primeiras e evidentes impressões, Locke dava o nome de ideias simples. Para o autor, tais ideias seriam o substrato de todo o nosso conhecimento. Dizia,quanto a elas, que “a mente não pode formá-las, nem destruí-las”. As únicas vias capazes de sugeri-las ou fornecê-las à mente seriam a sensação e a reflexão. O sensacionismo Étienne Bonnot, abade de Condillac, foi o expoente de uma variante radical do empirismo que ficou conhecida como sensacionismo. Enquanto o empirismo de John Locke rejeitava a existência apenas de princípios e ideias inatos, Condillac foi além e rejeitou também as habilidades inatas. Segundo ele, a experiência obtida por meio de cada um dos órgãos dos sentidos nos dá não só as ideias, que são a matéria prima do conhecimento, mas também nos ensina a trabalhar com atenção, imaginação, abstração, julgamento e razão. A firma que a experiência forma os nossos desejos e conduz o nosso querer; a experiência nos apresenta material que nossa mente transformará em crenças a respeito do mundo que nos cerca. Ficou célebre um desafio que lançou: um a pessoa que nasceu cega e depois obteve a visão seria capaz de identificar espacialmente, à primeira vista, uma esfera ou um cubo, sem tocá-lo? Condillac afirmava que a percepção, a consciência e atenção eram diferentes aspectos de uma mesma operação mental derivada da sensação. Nasceu em 1914 e morreu em 1780 ,chegou a ser considerado intelectualmente pobre, depois conseguiu estudar em um seminário, pertenceu a academia Prussiana de ciências e academia Francesa. Suas duas obras são: “ Ensaio sobre a origem do conhecimento do homem”; e “ Tratado das sensações”. George Berkeley 6 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba Dentro do empirismo, uma voz se levantou para combater as discussões da época quando o bispo irlandês George Berkeley publicou, em 1710, o livro “Tratado sobre os princípios do conhecimento”. Contestando John Locke em relação ao conceito das ideias complexas, afirmava que todas as ideias são simples. George Berkeley viveu entre 1685 e 1753. Foi aluno do célebre escritor Jonathan Swift (o autor de “As viagens de Gulliver”). Desenvolveu um pensamento empírico muito particular, pregando que o conhecimento tinha mais relação com o espírito do que com os sentidos. Segundo ele, quando fechamos os olhos, o mundo desaparece, inexiste; ao abrirmos os olhos de novo, é como se o mundo fosse reconstruído, dentro de nossa mente. Segundo Berkeley, é o temor que o homem tem de Deus que o afasta do mal e o leva a ser virtuoso. Foi considerado um filósofo realista porque censurava os filósofos que defendiam a existência de ideias abstratas. Afirmava que a única base que pode justificar nossas crenças sobre as coisas comuns é a consciência direta. David Hume Seguidor de Locke, David Hume discordou de muitas de suas ideias, especialmente no que diz respeito ao conceito de ideias complexas.Assim como George Berkeley, afirmava que todas as ideias existentes são simples; o homem faz associação entre elas e supõe determinados resultados, que não necessariamente estão conectados por uma relação de causa e efeito - ou pelo menos tal reação não pode ser demonstrada objetivamente. O caráter habitual dos eventos naturais pode nos levara crer que tudo sempre se repete da mesma f orma, mas Hume não concorda com isso, porque os caminhos da natureza podem ser alterados. Outra discussão está relacionada com a noção de substância, que, para ele, não provém dos sentidos. Não aceitou a inexistência material de Berkeley, nem a existência de uma substância impossível de ser captada pelos sentidos de Locke. Para ele, as duas hipóteses não valem. O que existiria são dois níveis de percepção: as impressões, vívidas e nítidas, captadas pelos sentidos, e as ideias, estas apenas cópias mentais, e de menor força, das impressões. As ideias, portanto, são apenas representações do que o homem experimentou e que, processadas pela mente, produzem as suposições, as fantasias e os sonhos. Portanto, não há impressões complexas, mas apenas a associação entre impressões simples. Samuel Pufendorf o eclético Discípulo de Hugo Grócio, o alemão Samuel Pufendorf foi professor de Direito Natural na famosa Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Aderiu desde logo ao método matemático e utilizava tanto a dedução quanto a indução para a filosofia e tambémpara o direito. Em relação ao posicionamento religioso, contestava a doutrina cristã da contra- reforma e, ao mesmo tempo, a doutrina luterana da revelação pela fé, por isso acabou 7 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba chegando a uma teoria em que não constava a presença de Deus. O governante, portanto, não recebe o poder de Deus, que apenas define que há os que mandam e há os que obedecem; o governante, portanto, exerce o poder porque a sua característica individual o leva a isso e porque os outros homens precisam ser liderados. Essa teoria o fez defender, na política, a necessidade social de um governante despótico, mas de boas intenções, que atuasse dentro de um sistema jurídico estruturado como um a engrenagem mecânica. Os cidadãos ficavam ligados ao governante por meio de contratos implícitos, porque era lógico que assim fosse,já que o homem tem natureza social. O direito natural de Pufendorf não coloca a natureza nem Deus como referência de todas as coisas, mas, sim, o processo originado da razão humana. O jansenismo O jansenismo foi uma variante do calvinismo que teve origem nas pregações de Cornelius Jansen, bispo da cidade de Yprès, na Bélgica, no século X V II. 0 movimentoteve grande importância, principalmente na Bélgica e na França, durante o século XVIII e abalou profundamente a igreja católica. Propunha a retomada do pensamento de Santo Agostinho, em clara rejeição à escolástica de Santo Tomás de Aquino. Os jansenistas achavam que a escolástica era exageradamente racional e queriam que a igreja retornasse à disciplina e à moral religiosa do início do cristianismo, defendendo a predestinação e opondo-se o livre-arbítrio. Condenavam o culto aos santos e a realização das missas em latim, exigindo que fosse utilizado o idioma local. Além disso, defendiam a eleição dos bispos e dos padres, ideal que os levou a apoiara Revolução Francesa. Um dos dogmas jansenistas dizia respeito ao pecado original, que figuraria como o retrato da corrupção do homem, que nasce com vocação para o mal. Além disso, na moral jansenista, a ignorância não é desculpa para o pecado, ao contrário do que ensinavam os jesuítas. Jean Domat Vulto importante para o direito moderno, o jansenista francês Jean Domat procurou sistematizar o direito comum de seu tempo. Para tanto, desenvolveu um trabalho que ficou organizado no livro “As leis civis na sua ordem natural”, publicado em 1689.O trabalho fora encomendado por Luís XIV , que lhe pagou uma pensão de 2.000 francos, até que terminasse. Justamente por esse motivo é que o livro tem como objetivo principal apoiar o rei e a monarquia absolutista. Para atingir tal escopo, utilizou-se de elementos metafísicos, como Deus e as leis da natureza, pontos importantes para o povo da época. Entretanto, a despeito dos seus motivos, esse sumário legal dos preceitos contidos no código de Justiniano (que ele traduziu do latim ) é considerado um dos mais importantes da ciência do direito realizados na França. Jean Domat foi amigo íntimo do filósofo Blaise Pascal,tendo lhe confiado, ao morrer, muitos documentos confidenciais. Domat nasceu em 1625, mas publicou seu primeiro trabalho apenas em 1689, em três volumes (um quarto, sobre direito público, foi editado em 1697, depois da sua morte).Foi o primeiro a 8 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba promover a separação das leis civis e das leis públicas, em um trabalho que facilitaria a elaboração dos Códigos de Napoleão (Código Civil, de 1804, Código Comercial, de 1808, e Código Penal, de 1810). Nos primeiros séculos da Idade Moderna, a França aplicava diferentes normas jurídicas em diferentes espaços do seu território. Os juíze s do sul usavam leis escritas, que interpretavam conforme a situação, e os juízes do norte preferiam aplicar as regras do direito consuetudinário, baseado exclusivamente nos costumes. Após a separação das leis promovida por Jean Domat, foi o trabalho do juiz Robert Joseph Pothier que permitiu a uniformização da legislação civil francesa, servindo como base, mais tarde, para a elaboração dos Códigos Napoleônicos. Robert Joseph Pothier foi juiz e professor de direito francês em Orleans, cidade onde nasceu e onde sempre viveu. Nas suas atividades judiciárias, percebeu a dificuldade de julgar assuntos civis por causa da profusão de diferentes instrumentos de interpretação das situações. Por isso, aplicou-se em sistematizar o direito dentro de uma perspectiva Racionalista. Escreveu, em 1748, uma obra chamada “As Pandectas de Justiniano dispostas em uma nova ordem”, reorganizando o direito romano. Nesses estudos desenvolveu teses que se converteram em princípios fundamentais do próprio direito francês, reunidas no livro “Tratado das obrigações”, publicado entre 1761 e 1764. Um a delas foi a regra que limita a recuperação em caso de má execução de uma obrigação contratual para danos previsíveis. Na tangência da Filosofia Blaise Pascoal Embora também tivesse sido filósofo, Blaise Pascal ficou mais conhecido como matemático. Curiosamente, seu pai, mesmo percebendo seu grande interesse pela matemática, quis que Blaise tivesse uma infância normal e chegou a esconder todos os ivros que tratavam do assunto. Mas o menino, antes dos doze anos (1635), estudou Geometria sozinho e descobriu que a soma dos ângulos de um triângulo era igual a dois ângulos retos - ou seja, havia chegado por si mesmo à 32a proposição do matemático grego Euclides. Pascal daria ainda muitas contribuições à ciência. Aos 19 anos inventou uma calculadora mecânica, para ajudar no trabalho do pai, coletor de impostos. Estudou os trabalhos do físico Torricelli sobre a pressão atmosférica e iniciou uma série de experiências que o levaram a comprovar a existência do vácuo. Em um período de sua juventude teve participação importante no movimento religioso conhecido como jansenismo. Foi amigo de Jean Domat. Blaise Pascal fez outras descobertas, o cálculo de probabilidades chamado Geometria Aleatória. Desenvolveu também uma tabela numérica que leva o seu nome: Triângulo de Pascal. Um trabalho importante para a física foi o livro “0 Tratado do Equilíbrio dos Líquidos”, publicado em 1653.Escreveu também o “Tratado sobre as Potências Numéricas”, tratando dos objetos infinitamente pequenos. Suas pesquisas inspirariam, posteriormente, Leibniz e Isaac Newton. Sua contribuição para a filosofia foi com o livro “Pensamentos”. Umas de suas frases mais famosas é esta: “ O coração tem razões que a própria razão desconhece”. 9 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba Uma reflexão acerca dos Códigos O absolutismo teve o seu papel histórico porque foi graças ao poder central do rei que se conseguiu criar estados nacionais - a França foi o primeiro estado nacional moderno. Mas, no absolutismo, imperava a segregação social. A Revolução Francesa derrubou privilégios de classe, e mais do que isso, influenciou a atualização dos sistemas jurídicos desses estados nacionais, com ideais de humanização dos direitos e de liberdade, inclusive sobre a propriedade que no absolutismo estava concentrada nas mãos dos senhores feudais e nos representantes do clero.0 passo seguinte, necessário, era a elaboração de um compêndio jurídico que registrasse valores sociais permanentes. Desse modo, iria perdurar, pela aplicação continuada, o espírito da Revolução Francesa, bem como se garantiria a segurança jurídica aos cidadãos. Com efeito, a partir da separação dos Poderes, proposta por Montesquieu, os juízes deixaram de legislar; a função passava a ser atribuída aos legisladores. Os magistrados, por sua vez, passaram a se ocupar estritamente do cumprimentode leis gerais, cuja elaboração cuidadosa deveria deixar pouca margem a interpretações. Essa decisão ocasionou a neutralização política do judiciário , o que levou a uma especialização dos funcionários encarregados da execução das leis. Algumas tentativas de elaboração de códigos já tinham sido realizadas em Atenas, no século de Péricles, e em Roma, como o Pandectos e o Codex - textos, aliás, que o papa Gregório V II procurou resgatar na Idade Média, como inspiração para o Ius Comune, como se chamava em latim o direito natural. Essa mescla do direito romano com o direito canônico formou a base jurídica da idade Média. A superação desse patamar viria apenas com o iluminismo e sua valorização do indivíduo . Os modernos códigos foram inspirados nessa corrente filosófica, mas motivados por um a nova doutrina econômica, o capitalismo. Código Napoleônicos Os líderes da Revolução Francesa fizeram incluir na primeira constituição daquele país, datada de 1791, a promessa de produzir um código com todas as leis civis existentes. Quatro juízes renomados foram encarregados do trabalho: Tronchei,Portalis,Bgot- Prémeneu e Malleville . O próprio Napoleão Bonaparte presidiu várias das sessões realizadas para a discussão dos temas. Foi necessário aprovar 36 leis para permitira promulgação do Código Civil, em 1804. Era composto de três livros, o primeiro tratando de pessoas, o segundo, de bens e o terceiro, da propriedade. Código civil francês privilegia o direito privado em suas relações com o direito público. Recebeu muitas críticas por ter sido considerado excessivamente burguês. 10 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba Um segundo passo para a codificação do direito foi dado, em 1900, pelo Código Civil alemão (Burgçrlich Gesetzbuch, BGB), que influenciou grande parte da Europa, representando a evolução do Código Civil francês. Tratou-se de um a decisão política Código Civil Alemão Para apoiar a fundação do chamado segundo império alemão (segundo Reich), em 1871. No processo liderado pelo primeiro-ministro, Otto Von Bismarck, a uniformização do ordenamento jurídico, contribuiria para agrupar todos os estados germânicos em um só país, a Alemanha. Até aquele momento, o sistema jurídico dominante era ainda o direito romano, o Ius Comune. Dois filósofos alemães iniciaram uma polêmica pública sobre a sobre a necessidade de um código que sistematizasse em um só diploma legal o direito civil de todos os estados alemães. O Código Civil alemão de 1900 dividia-se em duas partes. A primeira parte era geral,abrangendo o direito das pessoas, dos bens e os negócios jurídicos, servindo como preceitos de direito civil. A segunda parte, especial, estava disposta em quatro livros: direito das obrigações, direitos reais, direito de família e direito das sucessões. Dois países profundamente influenciados pelo Código Civil alemão foram o Japão que editou seu código em 1898 - e China - que editaria o seu Código em 1930.O Código Civil brasileiro entrou em vigor em 1916. E teve vida longa - sendo substituído somente em 2002. Escola Histórica do Direito Foi um movimento que não se restringiu à filosofia, mas atingiu escala de movimento Cultural. Teve grande repercussão na França, com a publicação dos treze volumes do “Repertório de Jurisprudência”, de M erlin de Douai, em 1815, obra que analisava o Código de Napoleão, comparando-o com o antigo direito francês. Entretanto, foi na Alemanha que a Escola Histórica do Direito floresceu, com os trabalhos de Gustav von Hugo, posteriormente desenvolvidos por Savigny e Puchta. O pressuposto da Escola Histórica do Direito era reconhecer a importância à tradição jurídica - ou seja, os costumes e a história - no estudo dos fatos jurídicos e sociais. Sua base de estudos era o direito romano, recompilado pelo imperador Justiniano no ano de 533 e publicado, em cinquenta volumes, sob o título de Pandectas ou Digesto. A intenção era recuperar o propósito da lei no momento em que havia sido criada. Isso porque, pensavam os filósofos dessa escola, a lei não surge apenas da razão do legislador mas também das circunstâncias históricas nas quais foi redigida. Considera-se como o ponto alto da Escola Histórica do Direito a já citada antológica disputa intelectual entre Savigny e Thibaut sobre a necessidade de criação de um Código Civil para a Alemanha. Friedrieh Savigny 11 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba Friedrieh Cari von Savigny foi professor de Direito em várias universidades alemãs, entre seus alunos estiveram, por exemplo, os irmãos Grimm, famosos pela coletânia de narrativas infantis do folclore alemão. É considerado o principal representante da Escola Histórica de juristas, fundada por Gustav von Hugo, jurista alemão que viveu entre 1764 e 1844. A obra de Gustav von Hugo sobre o método de ensino do direito romano resume a intenção de revisar o racionalismo, que não usava a história como forma de apreensão e estudo das normas. Savigny, no in ício de sua carreira, assim como Gustav von Hugo, era radicalmente contrário ao direito natural. Para eles, o direito não era fruto da razão, mas resultado e consequência de eventos históricos. Era, portanto, uma ciência que variava no tempo e no espaço. Por isso defendia que só um estudo histórico do direito positivo permitiria o entendimento do Direito como ciência. Recuaria, mais tarde, dessa posição. Para Savigny, o importante, para o direito, era o sentimento,e não a razão. A fonte original do direito não devia ser a lei, mas a convicção jurídica do povo, traduzida na sua forma de conduta. Em suma, defendia que a sociedade devia ter primazia sobre o Estado. Era o que chamava de “espírito do povo”. Escola Histórica Foi discípulo de Savigny e um dos representantes da Escola Histórica. É considerado, ao lado de Gustav von Hugo e Friedrich Cari von Savigny, precursor do positivismo jurídico. Especialista em Direito Romano, foi professor dessa disciplina na Universidade de Munique durante muitos anos. Seu trabalho mais importante foi o livro “Manual das Pandectas", publicado cm 1838. Pandectas (ou Digesto), como já vimos neste livro, é a recopilação de leis feita pelo imperador romano Justiniano . O pandectismo (ou jurisprudência dos conceitos) foi um movimento surgido na A le m a n h a no século X IX a partir do livro de Puchta, mas que ganhou força com a publicação do “Tratado das Pandectas“, de Bernhard Windscheid. Georg Friedrich Puchta entendia o direito como um a ciência positiva, um sistema que devia ser visto como expressão sociocultural da experiência histórica de determinada sociedade - aproximando-se muito daquilo que Savigny denominava “espírito do povo”. Por essa razão, considerava que o Direito, a Filosofia do Direito e Jurisprudência deviam ser ciências distintas. Elaborou a afamada jurisprudência dos conceitos corrente de pensamento jusfilosófico que apresentou a ideia de Direito como um sistema conceituai, hierarquizado, em forma de pirâmide. Rudolf von Ihering Rudolf von Ihering e a luta pelo direito Foi um dos principais críticos da obra de Savigny, embora reconhecesse nela muitos pontos válidos. Rudolf von Ihering trouxe grande contribuição para a filosofia do direito ao considerar o Direito um produto social. Nele, vê- se a importância histórica para a compreensão das normas jurídicas, porque, apoiada na visão dialética de Hegel, o homem cria ou recria o seu destino pela via da luta incansável contra as injustiças. Essa luta é validada pela ética: segundo Ihering, é cabível a luta por um direito individual violado, porque a violação agride o direito como conjunto da 12 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba sociedade. “Negar o direito subjetivoé negar o direito como um todo”, são as suas palavras a esse respeito. Defende, portanto, que o indivíduo tem o dever ético, para consigo mesmo e para com a sociedade, de lutar por seus próprios direitos. Rudolf von Ihering foi discípulo de Georg Friedrich Puchta. O conjunto do seu pensamento, na fase mais madura de seu trabalho, ficou conhecido como Jurisprudência de Interesses e era uma crítica à Jurisprudência dos Conceitos desenvolvida por seu mestre. O ponto alto de sua crítica foi uma carta satírica, publicada 1884, sob o título“O que é sério e não sério na Jurisprudência”. Lhering e o Direito Para Rudolf lherin g, a liberdade deve estar condicionada às leis. Ele afirma que o objetivo do direito é a paz, mas que a paz de que usufruímos no presente é resultado de guerras passadas. Sua principal contribuição para o direito foi a teoria objetiva da posse. Concebida como alternativa para a teoria subjetiva da posse de Savigny, influenciou grande parte da legislação contemporânea. Como vim o s em Savigny, a posse tem dois elementos constituintes, o corpus e o animus. O primeiro, conhecido como elemento material, representa o poder de dispor fisicamente da coisa e inclusive de defendê-la de qualquer tentativa de agressão; é também chamado de fato exterior. Já o segundo, chamado fato interior, representa a intenção de um a pessoa de ter a coisa como sua. São esses os dois elementos que, conjugados, constituem a diferença entre a posse e a mera detenção - conforme estivesse presente ou não o animus. É justamente por causa desse elemento que a teoria de Savigny é denominada subjetiva . Já Lhering passou a defender a ausência de im portância da intenção – elemento subjetivo - na relação entre a pessoa e a propriedade. Considera que, no corpus, já está implícita a noção de animus - portanto, afirma que a posse é o exercício de um dos poderes inerentes à propriedade. Mais ainda, contribuiu, o autor, para a identificação de que a posse não trata necessariamente da disposição física da coisa, mas abrangeria diversos outros tipos de relações fáticas ou jurídica s - que um sujeito poderia ter com a coisa em si. Assim , para Llhering , a posse não é apenas um fato mas também um direito. Conclusão O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo",O Iluminismo exerceu vasta influência sobre a vida política e intelectual da maior parte dos países ocidentais. A época do Iluminismo foi marcada por transformações políticas tais como a criação e 13 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba consolidação de estados nação, a expansão de direitos civis e a redução da influência de instituições hierárquicas como a nobreza e a igreja. Muitos autores associam ao ideário iluminista o surgimento das principais correntes de pensamento que caracterizariam o século XIX, a saber, liberalismo, socialismo, e social- democracia. John Locke (1632 - 1704), filósofo inglês. Ele negava a ideia de que Deus determinava o destino dos homens e afirmava que era a sociedade que os moldava para o bem ou para o mal Montesquieu (Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu) (1689-1755), filósofo francês. Defendia a ideia de que o governo deveria ser exercido por três poderes independentes (Legislativo, Executivo e Judiciario). Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suiço. Era favorável à participação do povo na vida pública, por meio da eleição de seus representantes políticos. Defendia a necessidade de reformas sociais, e criticava a nobreza e a burguesia. Isaac Newton (1643-1727). foi influenciado pela política e acabou não se ordenando clérigo, mas permaneceu fiel à sua crença no Universo “ O FIM DO DIREITO É A PAZ, o meio de que se serve para consegui-lo é a luta. Enquanto o direito estiver sujeito às ameaças da injustiça - e isso perdurará enquanto o mundo for mundo ele não poderá prescindir da luta. A vida do direito é a luta: a luta dos povos, dos governos,das classes sociais, dos indivíduos.” (Rudolf lhering) 14 Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba BIBLIOGRAFIA Filosofia do Direito, Ricardo Castilho 4ª Edição, páginas 101 á 120. Pesquisa sobre o Iluminismo, Jus.com.br. Introdução página 03 Breves Palavras Acerca do Iluminismo e o Direito Plínio Melgaré Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas (Universidade de Coimbra) e Professor de Filosofia do Direito e História do Pensamento Jurídico (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Páginas 01 á 03. 15
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