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Habitação, arquitetura e contemporaneidade RESUMO

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Habitação, Arquitetura e Contemporaneidade
O pensamento Pós-Moderno
A partir da segunda metade do século 20, percebemos a decadência do tão debatido “ideal moderno”. A propagação de ideias objetivas, banaliza novas descobertas, confrontando assim, a ideia de um “passado perdido”, isso ocorreu devido a rápida transformação da “era industrial”, cedendo um espaço a um conceito que interfere de modo direto e indireto no pensamento humano: “pós-modernismo”.
O termo é de difícil definição, assim como evidencia Mike Featherstone: “Se o ‘moderno’ e o ‘pós-moderno’ são termos genéricos, é imediatamente visível que o prefixo ‘pós’ significa algo que vem depois, uma quebra ou ruptura com o moderno. O termo ‘pós-moderno’ apoia-se mais vigorosamente numa negação do moderno, percebido das características decisivas do moderno. Isso torna o pós-moderno um termo relativamente indefinido”.
A expressão “pós-moderno” abrange posturas comuns e até mesmo distintas, se moldando facilmente as várias questões que acontecem em nosso cotidiano, circunstâncias que nos levam a uma análise mais criteriosa, evitando conclusões totalizadoras.
Podemos considerar à chamada “cultura pós-moderna”, onde sua conduta difere da busca “racionalista”, destacando os valores que restringem uma frágil condição sistêmica e subjetiva em seus argumentos.
Portanto, nota-se a rejeição ao legado iluminista manifestado por um forte conceito filosófico (pós-marxista e pós-estruturalista), ignorando a opressão das “verdades” filosóficas, vinda de um processo “racional”, cuja fundação era a busca da libertação do homem pelas conquistas tecnologia, ciência e razão. Esse esquema novo integrava a forma “pós-moderna” de conhecimento, hoje utilizado e respeitado pelas “ciências humanas”, “ciências biológicas”, “ciências exatas” e tecnológicas. A alteração de um espaço que cresce nos meios acadêmicos, se une as diferentes manifestações ligadas ao tema pós-moderno.
Tradição, Vanguarda, Fragmentos e caos 
A chamada conduta pós-moderna, no aspecto mais interessante é a revalorização da busca pelo novo, diferente do historicismo, de acordo com Jean- François Lyotard, sua ideia apresenta a visão do pós-modernismo, a produção cultural contemporânea, como uma certeza de ideias legítimos do movimento moderno.
O grupo cultural da sociedade pós-moderna é chamada de “desconstrucionismo”, ganhando espaço nos debates ideológicos contemporâneos, manifestando de modo forte nos últimos tempos. Com início no final dos anos 60, essas teorias, também foram definidas como pós-estruturalistas, retomando o conflito sobre a natureza da linguagem e da comunicação – desdobrando-se em um vigoroso estímulo para os rumos do pensamento pós-moderno.
O sentido pós-moderno do “desconstrucionismo”, enfraquece a relação entre a intenção do discurso e a maneira como ele é apreendido, possibilitando assim, intercessões capazes de descaracterizar a ideia germinal a outra totalmente adversa. A ideia do “novo”, está inteiramente ligada a fuga intencional e “planejada”. 
A compreensão da arquitetura contemporânea, esses são pontos fundamentais.
Arquitetura após os modernos 
“O modernismo se constituiu através de uma estratégia consciente de exclusão, uma ansiedade contra a contaminação por seu “outro”: uma cultura de massa cada vez mais consumista e envolvente. Tanto a força quanto a fraqueza do modernismo como cultura de oposição derivam deste fato.”
A questão sobre a pós-modernidade na arquitetura caracterizou-se como grande entrave ideológico, presente nos últimos 30 anos, nos meios acadêmicos. Posicionando-se predominantemente antimoderno, a arquitetura dita como pós-moderna, primeiramente caracteriza-se por um subproduto estilístico e vulgar da sociedade de consumo. Aos poucos, sua direção se torna difusa a ponto de, atualmente, segmentar-se de difícil definição.
Para que possamos compreender certas posições da arquitetura contemporânea, no Brasil e no mundo, se faz necessário o confronto com o tema.
Para o autor do Livro The Language of post-modern architecture, Charles Jencks, a passagem do fim do modernismo para o pós-modernismo, data no dia 15 de julho de 1972, quando o projeto de desenvolvimento da habitação Pruitt-Igoe, de St. Louis, foi demolido por ser considerado inabitável. Destruindo-se um dos últimos recursos conceituais que sustentavam o projeto moderno como um produto o qual se tornava cada vez mais estilístico: sua ideologia perante uma realidade social – tão exaltada pelo modernismo. Apesar de sua opinião ser simbólica, pode-se perceber o processo de revalorização da cultura e estética “popular”, repleta de historicismo e simbolismo, tido como fundamentais para a “reconciliação” da arquitetura com a sociedade.
Defendida e divulgada por arquitetos/teóricos como R. Venturi, M. Graves, C. Moore, P. Portoghesi, K. Kikutake, essa “nova arquitetura” (pós-modernista), para críticos como Charles Jencks, tinha a ambiciosa tarefa de – por sua “linguagem de dupla codificação” (referências linguísticas de apelo historicista e submissão ao popularesco).
Apesar de suas metas grandiosas e supostamente democráticas, é possível que essa facção conceitual da pós-modernidade se contentou apenas com a articulação de signos linguísticos frívolos, de fácil aceitação e pouco conteúdo – revelando um lado comercial e mercadológico, em geral, comumente associado a esse “tipo” de arquitetura. 
No entanto, por contestar, e até mesmo ironizar, uma certa “tirania” modernista – cujo conteúdo ideológico se dissolvia em um evidente anacronismo – essa face da pós-modernidade contribuiu para a possibilidade do desenvolvimento de, pelo menos, outros conceitos: novas formas de pensar o espaço e o papel da arquitetura e do urbanismo nas sociedades emergentes do capitalismo pós-industrial. A intenção, mais uma vez, seria restabelecer o vínculo perdido entre arquitetura e coletividade, defendendo, por assim dizer, a estrutura da cidade tradicional – com sua história, cultura e forma. Intenção cuja sustentabilidade se resguarda, basicamente, no conceito de tipologia e na extensivamente difundida ideologia do “lugar” – caracterizando uma arquitetura que se intensifica em sua capacidade de transformar as cidades. Essa arquitetura, por vezes também chamada de Contextualista, segue em oposição ao movimento moderno; porém, dessa vez defendida por teóricos e arquitetos de representativa credibilidade, se destacando no conflituoso cenário dos anos 60 e 70.
Apesar de respeitada, inclusive, nos mais conceituados círculos acadêmicos, a “arquitetura do lugar” também gerou seus excessos. Ao supervalorizar o padrão tipológico da cidade e sua história, em muitos casos difunde-se como um novo formalismo. Por outro lado, o respeito ao “lugar”, ao entorno e ao contexto da cidade muitas vezes representou um anacronismo latente – principalmente em territórios e culturas degradadas em que a própria ideia de “lugar” se mostra bastante questionável. Nas sociedades contemporâneas, ligadas ao capitalismo avançado pós-industrial, essas questões se tornam mais evidentes – com os efeitos das novas tecnologias comunicacionais e da globalização.
 
Consciente dessas questões e ainda crítico em relação ao modernismo, uma “nova” forma de pensar a arquitetura, que também buscaria interpretar e corresponder aos conflitos da sociedade pós-industrial, disseminar-se-ia por universidades e pela “grande mídia” com o nome de “desconstrutivismo”. Impulsionada pelo conceito de differance, do filósofo Jacques Derrida, mas também com forte apego às teorias da “nova ciência”, a arquitetura da desconstrução buscaria na “não-significação” seu maior resguardo ideológico.
Ainda que originária de um complexo discurso acadêmico, intimamente ligado às vertentes mais difundidas do pós-estruturalismo francês, a arquitetura desconstrutivista não deixou de, em parte, tornar-se um “estilo”, e, como tal, reproduzível e banalizado por “distorções” gratuitas – meramente formais. Não obstante, o desconstrutivismo, de fato, seria difundido,em parte, como uma estética ligada a uma cultura do caos e da fragmentação.
O desconstrutivismo restaurou ao discurso arquitetônico a capacidade de dialogar, pela abstração de uma forma “não-ficcional”, com uma dinâmica espacial adversa a “origens” preconcebidas, sendo, portanto, capaz de corresponder – por sua capacidade e liberdade inventiva – à parte das demandas crescentes da sociedade pós-industrial.
Ainda que, na prática, as obras que, de fato, representam a chamada arquitetura da desconstrução apresentem um discutível valor funcional (muitas vezes proposital) e uma complexa disponibilidade pragmática (por exemplo, a inoperabilidade de seus orçamentos), sua contribuição é inegável aos mais significativos exemplos da arquitetura contemporânea. Uma arquitetura, acima de tudo, capaz de atender às transformações constantes de valores os quais, tão intensamente, caracterizam a sociedade pós-industrial; e, ao mesmo tempo, involuntariamente, tendem a corresponder às demandas do capitalismo avançado.
O Habitat Pós-Moderno
Voltando ao simbolismo da demolição do projeto habitacional Pruitt-Igoe, é fato que, independente de uma certa “excessiva emotividade” desenvolvida na crítica contra o projeto habitacional moderno, tornou-se inegável, a partir das discussões sobre a pós-modernidade, uma reestruturação dos valores vigentes no desenvolvimento de novas habitações coletivas. Não foram poucos os projetos habitacionais do período capazes de superarem-se como ideologia e introduzir novos valores arquitetônicos os quais, por sua eficiência produtiva e qualitativa, podem ser considerados um incontestável legado conceitual, tipológico e artístico à arquitetura deste século.
É importante ressaltar que Pruitt-Igoe representa um extremo da ideologia habitacional moderna já intensivamente questionada, mesmo antes das aclamadas transformações. Valores como a história, a cultura, as necessidades psicológicas e sensitivas de seus habitantes – tão difundidos por parte dos “pós-modernos” – já se demonstravam vigentes em muitos desses experimentos do segundo pós-guerra e, de fato, seriam recorrentes diversificadas propostas ainda hoje representativas e paradigmáticas.
O pós-modernismo, seja em sua vertente mais populista, seja mais culturalista, indubitavelmente, transformou o cenário das construções habitacionais coletivas (para as classes de maior e menor poder econômico). Nos disseminados frontões, ornamentos, cores, luminosos kitsch, ou mesmo em referências historicistas, culturalistas, na compreensão de uma ideia de “lugar” como fundamental a um ético posicionamento urbano, acredito não existir, nessas vertentes da chamada arquitetura pós-moderna, uma transformação na forma de benefício real ao espaço habitacional.
Mesmo a vertente mais “inventiva” da cultura pós-moderna – na arquitetura manifesta pelo rótulo de desconstrutivista – ainda que partidária ao espírito do “novo” comum às vanguardas, por outro lado, soma-se também a inegável dificuldade do “desconstrutivismo” em estabelecer um real elo comunicacional perante o usuário/habitante.
Nos dias de hoje, nos deparamos, ao menos no setor habitacional, com uma arquitetura em que a busca madura por novas formas de habitar se faz presente exemplarmente em diversas propostas dos anos 90. Infelizmente, quase todas distantes do Brasil e seus problemas. Cabemos agora, de forma intensa e urgente, a pesquisa sobre novos modelos habitacionais brasileiros – nem modernos, nem pós-modernos – mas contemporâneos, como deve ser a arquitetura.

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