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(1) Mecânica dos Solos Volume II- Orencio Monje Vilar & Benedito de Souza Bueno- Departamento de Geotecnia- Escola de Engenharia de São Carlos 69 CAPÍTULO 14 (1) ESTABILIDADE DE TALUDES 1. INTRODUÇÃO Os maciços sob o aspecto genético podem ser agrupados em duas categorias: naturais e artificiais. Estes frequentemente exibem uma homogeneidade mais acentuada que os maciços naturais e, por isto, adequam-se melhor às teorias desenvolvidas para as análises de estabilidade. Dois outros aspectos elucidativos deste ponto merecem atenção: o primeiro refere-se ao fato de que os taludes naturais possuem uma estrutura particular que só é conhecida através de um criterioso programa de prospecção; o segundo está associado à vida geológica do maciço natural intimamente ligada ao histórico de tensões sofrido por ele - erosão, tectonismo, intemperismo, etc. São vários os fatores naturais que atuam isolada ou conjuntamente durante o processo de formação de um talude natural e que respondem pela estrutura característica destes maciços. Estes fatores podem ser agrupados em duas categorias: *Fatores Geológicos *Fatores Ambientais - Litologia - Estruturação - Geomorfologia - Clima - Topografia - Vegetação Os fatores geológicos são responsáveis pela constituição química, organização e modelagem do relevo terrestre; à ação deles, soma-se a dos fatores ambientais. Assim, a litologia, com os constituintes dos diversos tipos de rocha, a estruturação dos maciços - através dos processos tectônicos, de dobras, de falhamentos, etc, e a geomorfologia - tratando da tendência evolutiva dos relevos, apresentam um produto final que pode ser alterado pelos fatores climáticos, principalmente pela ação erosiva influenciada pelo clima, topografia e vegetação. As paisagens naturais são dinâmicas alterando-se continuamente ao longo do tempo sob a ação destes fatores. Ao lado, destas ações naturais pode surgir a ação humana que altera a geometria das paisagens e atua sobre os fatores ambientais, mudando ou destruindo a vegetação, alterando as formas topográficas e às vezes mesmo o clima; em razão disto, estes maciços diferem bastante dos aterros artificiais cujo controle de colocação das terras permite conhecê-los intimamente melhor. Na diversidade de formas geométricas em que se apresentam os maciços podem ou não, por si só, manter as suas conformações originais. Em caso negativo, será necessário estabilizá-los. Isto requer a execução de obras que vão desde uma simples mudança em sua geometria, incluindo-se, por vezes, bermas, que além de alterar a forma geométrica permitem fazer a drenagem superficial do maciço, até obras de contenção, abrangendo os muros de arrimo, as placas de ancoragem, os escoramentos, etc. Os dimensionamentos e as análises da estabilidade das estruturas de sustentação serão estudados nos capítulos seguintes. Nos projetos de estabilização o fundamental é atuar sobre os mecanismos instabilizadores. Assim, sufocando a causa com obras ou soluções de alto efeito não só se ganha em tempo como efetivamente em custo e segurança. Se a ação instabilizadora é a percolação interna no maciço, devem ser convenientes obras de drenagem profunda e/ou impermeabilização a montante do talude; os efeitos da erosão podem ser combatidos com a proteção vegetal; e, se o deslizamento ocorre por efeito das forças gravitacionais o retaludamento deve ser a primeira opção a ser pensada. Nas obras de estabilização é importante considerar também as soluções mais simples, às vezes, elas são as mais adequadas. As obras mais caras só se justificam quando o processo de instabilização não pode mais ser controlado pelas obras mais simples ou quando as condições geológicas e geotécnicas 70 obrigam a utilização de obras mais complexas.Este capítulo abordará a estabilidade dos taludes,quantificando os coeficientes de segurança contra o escorregamento. Na hipótese de não se obter o coeficiente de segurança requerido opta-se por um dos caminhos delineados no parágrafo anterior. Nos maciços artificiais, além das alternativas propostas, podem auxiliar no processo de majoração destes coeficientes, as escolhas do material constituinte, dos parâmetros de compactação, etc. Antes de iniciar o estudo das análises de estabilidade será conveniente tratar das causas que podem levar os taludes a escorregar. Estas causas são complexas pois envolvem uma infinidade de fatores que se associam e entrelaçam. O conhecimento delas permite ao engenheiro escolher com mais critério as soluções que se apresentam satisfatórias e mesmo prever o desempenho destas alternativas. 2. TIPOS E CAUSAS DOS ESCORREGAMENTOS "O movimento dos maciços de terra depende, principalmente, da sua resistência interna ao escorregamento" (Terzaghi - 1925). Os escorregamentos de taludes são causados por uma redução da resistência interna do solo que se opõe ao movimento da massa deslizante e/ou por um acréscimo das solicitações externas aplicadas ao maciço. Os movimentos de terra são separados em três categorias consoante à velocidade em que se ocorrem. Podem distinguir-se: os desmoronamentos, os escorregamentos e os rastejos. Varnes (l958) estabeleceu uma classificação destes movimentos baseada na velocidade de ocorrência, Figura 14.1. Figura 14.1- Escala de velocidade de Varnes para classificação dos deslocamentos de terra. Os desmoronamentos são movimentos rápidos, resultantes da ação da gravidade sobre a massa de solo que se destaca do restante do maciço e rola talude abaixo. Há um afastamento evidente da massa que se desloca em relação a parte fixa do maciço. Os escorregamentos procedem da separação de uma cunha de solo que se movimenta em relação ao resto do maciço, segundo uma superfície bem definida. O movimento é ainda rápido, mas não há uma separação efetiva dos corpos. Os rastejos são movimentos bastante lentos que ocorrem nas camadas superiores do maciço. Diferem dos escorregamentos, pois neles não existe uma linha separatória nítida entre a porção que se desloca e a parte remanescente, estável, do maciço. 71 Terzaghi (l950) divide ainda os rastejos em duas categorias, quais sejam, contínuos e sazonais. Estes ocorrem numa camada superficial de pequena espessura onde o solo sofre as influências das variações frequentes de umidade e temperatura. Os contínuos atingem profundidades maiores e diferem dos escorregamentos pela baixa velocidade de deslocamento e por não apresentar uma superfície de deslizamento claramente definida. O comportamento do solo no rastejo contínuo pode ser comparado ao de um corpo viscoso; o escorregamento, ao de um corpo plástico. As causas dos escorregamentos enumerados por Terzaghi são colocadas em três níveis: a) causas externas: são devidas a ações externas que alteram o estado de tensão atuante sobre o maciço. Esta alteração resulta num acréscimo das tensões cisalhantes que igualando ou superando a resistência intrínseca do solo leva o maciço à condição de ruptura, são elas: - aumento da inclinação do talude; - deposição de material ao longo da crista do talude; - efeitos sísmicos. b) causas internas: são aquelas que atuam reduzindo a resistência ao cisalhamento do solo constituinte do talude, sem ferir o seu aspecto geométrico visível, podem ser: - aumento da pressão na água intersticial; - decréscimo da coesão. c) causas intermediárias: são as que não podem ser explicitamente classificadas em uma das duas classes anteriormente definidas: - liquefação expontânea; - erosão interna; - rebaixamento do nível d'água. A Tabela 14.1 a seguir (Terzaghi, 1950), resume as causas e os agentes que provocam a instabilização dos maciços, referindo os solos que são mais susceptíveis a cada tipo de ação.Tabela 14.1 - Agentes e Fenômenos Causadores de Escorregamentos A B C D E F Nome do agente Causa inicial da ação do agente Modalidade da ação do agente Material mais susceptível de ataque Natureza física das ações significativas Efeitos sobre as condições de equilíbrio do talude Qualquer material Modifica as tensões do material no talude Aumenta as tensões de cisalhamento Agente de transporte Operações de construção ou erosão 1) Aumento da altura ou ângulo do talude Argila fissurada rija, folhelho Modifica o estado das tensões e provoca a abertura de fendas Aumenta as tensões ao cisalhamento e inicia a ação do processo 8 Tensões tectônicas Movimentos tectônicos 2) Deformação da crosta terrestre em grande escala Qualquer material Aumenta o ângulo do talude Aumento das tensões cisalhantes Tensões tectônicas ou explosões Terremotos ou deformações 3) Vibrações de alta freqüência Qualquer material Produz modificações transitórias das tensões Loess, areia pouco cimentada e pedregulho Danifica as ligações intergranulares Diminui a coesão e aumenta a tensão de cisalhamento Areia fina ou média solta em estado saturado Inicia rearranjo dos grãos. Liquefação espontânea 72 Tabela 14.1 –(Cont.) Agentes e Fenômenos Causadores de Escorregamentos 4) Movimento de rastejo do talude Argila fissurada rija, folhelho ou resíduos de escorregamentos antigos Abre juntas fechadas e produz novas juntas Reduz a coesão e acelera a ação do processo8 Peso do material do talude Fenômeno que deu origem ao talude 5) Movimento de rastejo em camada fraca abaixo do pé do talude Material rijo encima do outro, plástico 6) Deslocamento do ar nos vazios Areia úmida Aumenta a pressão da água nos poros Diminui a resistência do atrito. 7) Deslocamento do ar nas juntas abertas Rocha diaclasada, folhelho 8) Redução de pressão capilar ligado a expansão Argila fissurada rija e alguns folhelhos Dá origem a expansão Diminuição da coesão Chuvas ou águas provenientes de degelo 9) Alteração química Rocha de qualquer natureza Enfraquece as ligações entre os grãos (alteração química) 10) Expansão da água devido à formação de gelo Rocha diaclasada Alarga as juntas existentes e produz novas juntas Geada 11) Formação e degelo das camadas de gelo Silte e areia siltosa Aumenta o teor de água no solo das camadas superficiais Diminui a resistência por atrito Estiagem 12) Contração Argila Produz juntas de contração Diminui a coesão Abaixamento rápido do nível do lençol de água 13) Produz percolação de água para o pé do talude Areia fina ou média, solta, em estado saturado Produz pressão excessiva da água nos vazios Diminui a resistência por atrito Mudança rápida do nível do lençol de água 14) Inicia o rearranjo dos grãos Areia fina ou média solta, em estado saturado Aumento espontâneo da pressão da água dos vazios Liquefação espontânea Elevação do nível de água em lençol freático distante 15) Causa elevação da superfície piezométrica natural do talude Silte e camadas de areia entre ou abaixo de camadas argilosas Aumenta a pressão de água dos vazios Diminui a resistência por atrito 16) Infiltração em direção do talude Silte saturado Aumenta a pressão da água nos vazios Diminuição da resistência por atrito 17) Desloca o ar dos vazios Areia fina, úmida Elimina a tensão superficial Diminuição da coesão 18) Remove o cimento solúvel Loess Destrói a ligação intergranular Água Infiltração proveniente de reservatório ou canais 19) Erosão subterrânea Areia fina ou silte Solapa o pé do talude Aumenta a tensão de cisalhamento 73 3.FATOR DE SEGURANÇA Por fator de segurança (FS) entende-se o valor numérico da relação estabelecida entre a resistência ao cisalhamento, disponível, do solo ( )( )'' tguc φ−σ+=τ e a resistência ao cisalhamento mobilizado (τ m ) para garantir o equilíbrio do corpo deslizante, sob o efeito dos esforços atuantes. ( )[ ]'m tgucFS1 φ−σ+=τ A resistência ao cisalhamento, τ, que se desenvolve ao longo da superfície de ruptura pode ser explicitada através das forças resultantes de coesão e atrito, Rc e Rφ respectivamente, que são o produto dos parâmetros de resistência pela área (A) da superfície onde se desenvolve essa resistência. ( ) '' tgAuAcAS φ⋅⋅−σ+⋅=⋅τ= φ+= RRcS De acordo com a definição de fator de segurança propostas resistência mobilizada (τ m ) ou necessária para manter o equilíbrio do corpo potencialmente deslizante será: mmm RRcFS R FS Rc FS S φ+=φ+==τ onde: - RC, - coesão mobilizada -Rφ m - atrito mobilizado As solicitações que provocam o deslizamento dos maciços, dentre elas a força peso, serão designadas através de suas resultantes Fa. Porque certos métodos de estabilidade atestam o equilíbrio dos taludes através da somatória de forças que atuam sobre eles, resistindo (Rc + Rφ ) ou provocando seus deslizamentos (Fa), o coeficiente de segurança é definido como: atuantes forças sresistente forças Σ Σ=FS Em outros processos o fator de segurança será tomado como a razão entre os momentos devido as forças que atuam do sobre a cunha tendem a mantê-la em equilíbrio (M R ) e os momentos das forças que tendem a instabilizá-la (Ma). Estes momentos são tomados em relação a um ponto situado fora do talude: atuantes momentos sresistente momentos Σ Σ=FS Um valor de FS > l implica em estabilidade do maciço, ou seja, os esforços atuantes são melhores do que os esforços resistentes. 74 Da análise da Tabela 14.1 fica patente que o fator de segurança pode variar com o tempo e que o seu valor teria um significado maior se fosse definido em termos probabilísticos, onde se pudesse, inclusive definir os períodos de recorrência e um intervalo de confiança. Esta forma de abordagem começa agora a ser estudada. A Figura 14.2 (Terzaghi, 1950) mostra a evolução de FS ao longo do tempo para alguns taludes jovens e antigos, onde se podem notar a ação de algumas das causas listadas na Tabela 14.1. Figura 14.2 - Evolução do fator de segurança com o tempo (Terzaghi 1950). Cada curva representa um talude individual e entre parênteses aparece a modalidade de ação do agente ou agentes que resultaram na redução do Fator de Segurança. Sem analisar todos os casos, verifica-se por exemplo, que o talude C rompeu por liquefação provocada por explosões numa pedreira vizinha; no talude D, inicialmente estável (FS ≅ 1,50), a infiltração de água que veio de um canal não revestido recentemente construído provocou a ruptura. As flutuações no FS que se observam nos taludes de A e E referem-se a variações sazonais (épocas secas e úmidas). Isto posto, conclui-se que a avaliação da estabilidade de um talude não pode ser concretizada se não conhecerem os fenômenos que podem induzir situações críticas e que, além disso, é necessário quantificar as condicionantes quanto à estabilidade, o que nem sempre é fácil ou possível. 4. MÉTODOS DE ESTABILIDADE 4.1 - Introdução As análises de estabilidade, na sua maioria, foram desenvolvidas segundo a abordagem. do equilíbrio limite. O equilíbrio limite é uma ferramenta empregada pela teoria da plasticidade para análises do equilíbrio dos corpos, em que se admite como hipótese:a) existência de uma linha de escorregamento de forma conhecida: plana, circular, espiral-log ou mista, que delimita, acima dela, a porção instável do maciço. Esta massa de solo instável, sob a ação da gravidade, movimenta-se como um corpo rígido; b) respeito a um critério de resistência, normalmente utiliza-se o de Mohr-Coulomb, ao longo da linha de escorregamento. 75 As equações da Mecânica dos Sólidos são utilizadas para a verificação do equilíbrio da porção de solo situada acima desta superfície de deslizamento. As forças participantes são as causadoras do deslizamento e as resistivas. Como deficiência o equilíbrio limite ignora a relação tensão x deformação do solo. De uma forma geral, as análises de estabilidade são desenvolvidas no plano, considerando-se uma seção típica do maciço situada entre dois planos verticais e paralelos de espessura unitária. Existem algumas formas alternativas para estudar o equilíbrio tridimensional de um corpo deslizante, porém estas ainda não estão suficientemente desenvolvidas, sendo pouco usual e sua utilização. Além do método do equilíbrio limite existe a possibilidade de análise através do método da análise limite. As formulações deste método apoiam-se no conceito de plastificação do solo, associado a uma condição de fluxo plástico iminente e considera, ainda, a curva tensão-deformação do solo. O método da análise limite, apesar de sua alta potencialidade, não logrou ainda uma difusão entre os meios geotécnicos, como era de se prever, devido a que as soluções, particulares a cada geometria e tipo de solo, utilizam tratamentos matemáticos mais elaborados do que os processos tradicionais do equilíbrio limite. Apresentam-se a seguir os principais métodos de estabilidade desenvolvidos a partir dos conceitos de equilíbrio limite. 4.2 - Método do Talude Infinito Um talude é denominado infinito quando a relação entre as suas grandezas geométricas, extensão e espessura, for muito grande. Nestes taludes a linha potencial de ruptura paralela a superfície do terreno. Eles podem ser maciços homogêneos ou estratificados, neste caso, porém os estratos devem ter os planos de acamamento paralelos à superfície do talude. Quando submetidos a um regime de percolação, admitir-se-á neste trabalho, que as linhas de fluxo serão paralelas à superfície do terreno. Esta ressalva é feita pois se tem notado até mesmo fluxo vertical dirigido a estratos profundos. A análise deste problema através do método do equilíbrio limite admite que a cunha potencial de desligamento movimenta-se como um corpo rígido. Para uma análise das forças que atuam sobre um elemento de solo do interior deste corpo, considere-se a Figura 14.3, na qual se representa o caso mais genérico do talude saturado e o nível de água atingindo a superfície do terreno. Os esforços sobre uma lamela genérica ABCD estão representados na Figura 14.3 b. As tensões induzidas pelo peso da cunha ABCD sobre a face CD tem como força resultante W, que atua verticalmente no ponto médio do segmento CD . A esta força se opõe a reação do resto do maciço sobre a cunha, R, que por ser a única força vertical deve ter também o mesmo ponto de aplicação de W. As forças do empuxo, lateral Fd e Fe, em razão do exposto, devem ser iguais e ter linha de ação coincidente. Figura 14.3 - Talude Infinito - a) Geometria e rede de fluxo; b) Esforços sobre uma lamela isolada. 76 As letras maiúsculas correspondem às resultantes das tensões. Podemos então determinar as diversas solicitações. pressão neutra: icosh=uou icoshhwu 2w 2 w ⋅⋅γ⋅==γ icoshbobouU 2w ⋅⋅⋅γ=⋅= peso da lamela: hbW sat ⋅⋅γ= icosbob ⋅= i coshbicosWN sat ⋅⋅⋅γ=⋅= isen hbisenWT sat ⋅⋅⋅γ=⋅= i coshboN 2sat ⋅⋅γ==σ i cosisen hboT sat ⋅⋅⋅γ==τ O Fator de Segurança é definido como a relação entre as forças resistentes e atuantes: FS = i cosisen h tgicosh)(+c boT tgu)-(+c T bos FA FR sat 2 wsat ⋅⋅⋅γ φ⋅⋅γ−γ=φ⋅σ=⋅= FS = ⋅⋅⋅⋅γ φ⋅⋅⋅γ i cosisen h tgicosh '+c sat 2 obs.:γ ' =γ γsat − w Esta é uma expressão geral que fornece o valor de FS para a situação mais completa. As soluções particulares podem ser obtidas a partir dela fazendo nulos os termos não participantes, ou substituindo adequadamente os termos. No caso de talude não saturado: γ ' por γ nat e γ sat por γ nat EXEMPLO 14.1 Um maciço com talude infinito constituído de solo silto-arenoso rompeu após uma chuva intensa em virtude de ter ficado totalmente saturado e de ter perdido a sua parcela de resistência devida à coesão. Calcular o coeficiente de segurança que existia antes da chuva, quando o NA estava abaixo do topo da rocha, admitindo que a ruptura se deu com coeficiente de segurança unitário. Dados: antes da chuva após a chuva c = 2 tf/m3 c = 0 77 icossenih tgicosh'+cFS sat 2 ⋅⋅⋅γ φ⋅⋅⋅γ= após a chuva: FS = l Obs.: l tf = 10 kN icosisenhtgcoshc sat 2' ⋅⋅⋅γ=φ⋅⋅⋅γ+ φ⋅⋅γ=⋅γ tgicosisen 'sat 60,0 5,3 1 0,90 1,90= i tg ' tg sat =⋅⋅γ γ=φ o1,31=φ antes da chuva: 3 natsat 3 nat ' cm/tf70,1;cm/tf70,1;0u =γ→γ=γ→γ= 20,3FS 16cos16sen47,1 1,31tg16cos4,71+2 FS oo oo2 =∴⋅⋅⋅ ⋅⋅⋅= 4.3 - Método de Culmann Este método apóia-se na hipótese que considera uma superfície de ruptura plana passando pelo pé do talude. A cunha assim definida é analisada quanto a estabilidade como se fosse um corpo rígido que desliza ao longo desta superfície, como se representa na Figura 14.4. Figura 14.4 - Método de Culmann - a) geometria do talude; b)polígono de forças. Uma vez conhecida a geometria do talude e arbitrada a superfície de ruptura, temos as forças participantes do equilíbrio da cunha. - força peso: W (módulo, direção, sentido e ponto de aplicação conhecidos) - força de coesão: Cm (módulo, direção e sentido conhecidos) - força de atrito: F (sentido e direção e conhecidos) Observe que para resistir ao esforço atuante (T) é necessário mobilizar parcelas de resistência: Cm-coesão mobilizada e tgφm - coeficiente de atrito mobilizado. 78 FS ADcCm ⋅= FS tgtg m φφ Como deveremos ter FS tgN FS AD*ctgNCT mm φ+=φ⋅+= + resulta FA FR T ADs T tgNADcFS =⋅=φ⋅+⋅= Sabe-se que θ⋅= cosWN e θ⋅= senWT . O peso da cunha (W) resulta isen )-isen(ADH 2 1W θ⋅⋅⋅= Com estes dados pode-se resolver algebricamente o problema, sempre que se arbitre uma superfície de ruptura. O Fator de Segurança do talude será o menor fator obtido dentre as várias superfícies arbitradas. Da expressão mm tgNCT φ⋅+= ou substituindo os valores de N e T θ⋅θ⋅⋅⋅γ⋅=φ⋅θ⋅θ⋅⋅⋅γ⋅+⋅ sen isen )-isen(ADH 2 1tgcos isen )-isen(ADH 2 1ADmC m pode-se obter o chamado número de estabilidade (N): i cosisen )sen()-isen( H 2 1 H cmN m⋅ φ−θ⋅θ⋅⋅γ⋅=⋅γ= Assim, arbitrado θm, o plano onde ocorrerá máxima tensão cisalhante será aquele definido por um plano de inclinação o que necessitará da máxima coesão mobilizada. Diferenciando a expressão em relação a θ, o máximo ocorrera para um plano definido por θcr. ( )mcr i2 1 φ+⋅=θ A expressão se transforma nessa situação para )]cos(i-[1 cosisen 4cm =Hou i cosisen )cos(i-1 4 1 H cm m mm φ−γ φ⋅⋅ ⋅ φ−⋅=⋅γ Finalmente, se ocorrerem quaisquer outros esforços como sobrecargas ou pressões neutras, basta calcular as resultantes e incluí-las no polígono de forças. EXEMPLO 14.2 Determinar a máximaprofundidade que poderá ter um corte vertical (i = 90o) em um solo com 3m/tf80,1=γ , 2o m/tf25tg4 ⋅σ+=τ para que resulte um FS = 2. 79 2 2 4cm == om o m 1,132332,02 25 tgtg =φ→==φ = 0,2332 m6,5 )1,1390cos(180,1 1,13cos90sen24H o oo =−−⋅ ⋅⋅⋅= 4.4 - Métodos que admitem superfície de Ruptura Circular a . Método do Círculo de Atrito - Gráficos de Taylor O método do círculo de atrito pressupõe uma superfície de escorregamento circular e analisa a estabilidade do corpo rígido formado pelo solo situado acima desta superfície. As forças participantes são o peso da cunha, a força de coesão que se desenvolve ao longo da cunha e a força de atrito que se constitui no produto da componente normal da força peso pela tangente do ângulo de atrito do solo. Estas três forças, nas condições de equilíbrio ou concorrem para um ponto ou fornecem um polígono de forças fechado (neste caso particular um triângulo). A Figura 14.5 mostra esquematicamente as grandezas participantes na analise de estabilidade quando se utiliza este método. Figura 14.5- Método do círculo de atrito: esquema de abordagem. W = força peso, com direção, sentido, módulo e ponto de aplicação conhecidos; C = força resultante da coesão do solo que se desenvolve ao longo da superfície de desligamento e que se constitui do produto da coesão do solo pelo comprimento do arco AB, ou seja, C = c.L.. A resultante C tem sentido de atuação conhecido e direção da corda AB. O ponto de aplicação dista do centro 0 um valor a dado pela expressão: Lc LRa ⋅= Lc= comprimento da corda AB F = força de atrito, cuja direção faz ângulo φ com a normal à cunha e que portanto tangencia um círculo de centro em o e de raio φ⋅= senRr . O módulo de F é desconhecido. 80 Em termos práticos pode calcular-se o coeficiente de segurança através do método do circulo de atrito com no seguinte roteiro: a) arbitra-se uma superfície de escorregamento; b) determinam-se as forças W e C; c) aplica-se W no centro de gravidade da cunha e determina-se o ponto de intersecção desta com a força C; d) por este ponto de intersecção traça-se uma reta tangente ao circulo de centro 0 e raio φ⋅= senRr , esta reta é a linha de ação de F; e)a partir daí pode montar-se o polígono de forças e determinar os valores de F e de Cm, parcela da força C, mobilizada para manter o equilíbrio da cunha. mC CFS = Prossegue-se estudando novas tentativas com o propósito de localizar a superfície de escorregamento que corresponde ao menor coeficiente de segurança. Caso haja percolação de água no maciço, entrará em ação a força U, resultante das pressões neutras que atuam sobre a cunha de deslizamento cujo módulo, sentido e ponto de aplicação são conhecidos. E, como antes, monta-se o polígono de forças com as mesmas incógnitas. Gráficos de Taylor Utilizando um processo matemático de tentativas, Taylor, baseado no método do circulo de atrito, elaborou gráficos que fornecem o número de estabilidade (N). As hipóteses embutidas na solução apresentada são: talude homogêneo e sem percolação de água, superfície de ruptura cilíndrica e envoltória de resistência do solo φ⋅σ⋅+=τ tgc . As análises foram efetuadas em termos de tensões totais e a seguinte notação aparece nos gráficos: FS - fator de segurança cm - coesão mobilizada FS ccm = φm - ângulo de atrito mobilizado tgφ m = FS tgtg m φ=φ N - número de estabilidade H c N m= ou ( )m,ifN φ= - Figura 14.6 a. ( )n,i,DfN = - Figura 14.6 a.b H,i - altura e. inclinação do talude D,n - definidos nos próprios gráficos As Figuras 14.6 a e b mostram os gráficos de Taylor. Taylor divide os taludes em três classes. Para as duas primeiras apresenta o ábaco a, Figura 14.6, e para a terceira, o ábaco b Figura 14.6. Nestas figuras existem esquemas indicando qual o caso a que pertence determinado talude e quais as curvas que deverão ser utilizadas. Para melhor esclarecer: a) a primeira classe, caso A do ábaco a, corresponde aos taludes íngremes, cujo círculo de ruptura passe pelo pé do talude que é o ponto mais baixo do círculo. As linhas cheias do ábaco deverão ser utilizadas neste caso. A seqüência de cálculo será: - arbitrar FSφ 81 - mm FS tgtg φ→φ=φ φ - φm e H c Ni mγ=→ - mc cFS = - prosseguir até que FSC= FSφ b) a segunda classe, caso B do ábaco a possui três subdivisões, Bl, B2 e B3. Nesta classe o círculo crítico pode ou não passar pelo pé do talude e este já não é o ponto mais baixo do círculo. - no caso Bl em que o círculo passa pelo pé do talude deve utilizar-se as linhas cheias; quando elas não mais aparecem este caso pode ser aproximado ao caso B2; - no caso B2, o círculo crítico passa abaixo do pé do talude. Isto ocorre em taludes pouco íngremes ou quando o solo possui valores de ângulo de atrito baixos. Neste caso utilizam-se as linhas tracejadas longas; quando elas não aparecem o círculo crítico passa pelo pé do talude e então usa-se as linhas cheias; - no caso B3, o círculo crítico corta a superfície inclinada exposta, do talude. Esta situação leva o círculo cujo ponto mais baixo acha-se à mesma cota do pé do talude. Deve tomar-se as linhas tracejadas curtas do ábaco a. c) a terceira classe, casos A e B do ábaco 2, é denominada "0" =φ . Apesar do nome, isto não implica que o ângulo de atrito do solo deva ser nulo; admite-se, sim, que a resistência ao cisalhamento do solo não apresenta variações consideráveis ao longo da linha de escorregamento, ou seja, que haja uma aproximada constância desta resistência com a profundidade. Em taludes íngremes i > 54o deve se usar o ábaco a. - o caso A desta terceira classe engloba os taludes cujos círculos críticos passam além do pé dos taludes, cortando a linha de escavação a uma distancia Hn ⋅ , sendo H a altura do talude. O círculo crítico tangencia o estrato resistente situado a uma profundidade HD ⋅ . Com os valores de n, D e i e utilizando-se as linhas tracejadas curtas determina-se o número de estabilidade. - no caso B desta classe, o círculo crítico passa pelo pé do talude e o seu ponto mais baixo, situado a uma profundidade HD ⋅ da superfície do terreno, tangencia o estrato resistente; para este caso utilizam-se as linhas cheias do ábaco b. 82 Figura 14.6 - Gráficos de Estabilidade de Taylor 83 EXEMPLO 14.3 Deseja-se fazer um corte com inclinação de 60o num solo de 3 tf/m1,90=γ e 2o m/tf10tg4,1 ⋅σ+=τ . Qual poderá ser a. máxima altura desse corte para que o fator de segurança com relação a altura seja 1,6. - máxima altura → toda resistência mobilizada o m 10=φ=φ o60i = ? 140,0N = ? H c N mγ= → m26,59,1140,0 4,1H máx =⋅= 4,1cc m == H HmáxFSH = → m20,360,1 26,5H == Obs.: l tf = 10 kN EXEMPLO 14.4 Calcular o fator de segurança para um talude de inclinação 1V:3H e altura H=38m. O solo apresenta 3 tf/m2,00=γ e 2o m/tf18tg4 ⋅σ+=τ lV:3H → i ≅ 18,5o l.a tentativa 0,2FS =φ omm 5,92 tgtg ≅φ→φ=φ 04,0N = 04,3380,204,0cm =⋅⋅= 32,1 04,3 4FSC == 2.a tentativa 32,1FS =φ om 0,11≅φ ? 033,0N = 51,2380,2033,0cm =⋅⋅= 59,1 51,2 4FSC == 3.a tentativa 65,1FS =φ om 1,11≅φ → 036,0N = 43,2380,2036,0cm =⋅⋅= 65,1 43,2 4FSC == b. Métodos das Lamelas Normalmente os taludes apresentam-se compostos de vários solos com características diferentes. A determinação dos esforços atuantes sobre a superfície de ruptura torna-se complexa e para superar essa dificuldade utiliza-se o expediente de dividiro corpo potencialmente deslizante em lamelas. Assim, pode-se determinar o esforço normal sobre a superfície de ruptura, partindo da hipótese que esse esforço vem determinado basicamente pelo peso do solo situado acima daquela superfície. 84 A superfície de ruptura pode ter uma forma qualquer (Janbu, 1956), se bem que os métodos mais utilizados, como os de Fellenius e de Bishop, empreguem superfície de ruptura circular. A Figura 14.7 mostra o esquema adotado nas análises pelos métodos das lamelas, os esforços que atuam numa lamela genérica e o equilíbrio de forças nessa lamela. Figura 14. 7 - Método das Lamelas: grandezas participantes En, En+1 = resultantes das forças horizontais totais atuantes nas secções n e n + l, respectivamente; xn ,xn+1 = resultantes das forças cisalhantes que atuam nas secções n e n + 1, respectivamente; W·= peso total da lamela; N = força normal atuante na base da lamela; b = largura da lamela; h = altura da lamela; L = comprimento da corda AB; θ = ângulo da normal N com a vertical; x = distancia do centro do círculo ao centro da lamela; R = raio do círculo. Como característica dos métodos de lamelas o fator de segurança é definido como a relação entre a somatória dos momentos resistentes e os momentos atuantes: ∑ ∑= MA MRFS No Método de Fellenius, considera-se que não há iteração entre as várias lamelas, ou seja, admite-se que as resultantes das forças laterais em cada lado da lamela são colineares e de igual magnitude, o que permite eliminar o efeito dessas forças considerando o equilíbrio na direção normal a base da lamela. 85 A única iteração entre as lamelas advém da consideração de ruptura progressiva que sempre ocorre quando há ruptura de qualquer massa de solo. Este fato é considerado implicitamente nos parâmetros de resistência do solo, coesão e ângulo de atrito. Na análise que se segue, considera-se o caso mais genérico de talude com percolação de água. O valor da pressão neutra ao longo da superfície de ruptura é obtido traçando-se a rede de percolação. Em cada ponto desta superfície toma-se o valor da carga piezométrica, hw. O momento resistente será: ( )[ ] ( )[ ]∑ φ⋅+⋅⋅⋅=∑ φ⋅σ+⋅⋅=⋅= == n 1i '''n 1i ''' tgNbocboRtgcboRRSMr O equilíbrio na direção normal a lamela fornece. α⋅=+= cosWUNN ' boucosWUcosWN ' ⋅−α⋅=−α⋅= O momento atuante será: ( ) ( )∑ α⋅⋅=∑ ⋅= = n 1i senWRxWMA Fator de Segurança pelo método de Fellenius resulta: ( )[ ] ∑ ∑ = = ⋅ ⋅⋅⋅⋅ = n i n i tg FS 1 1 senW bou - cosW+boc' α φα Havendo qualquer esforço externo ao talude, (uma sobrecarga ou um berma no pé do talude, por exemplo), considera-se a sua interferência incluindo-o no somatório de momentos. No Método de Bishop leva-se em conta a iteração entre as varias lamelas. A resistência mobilizada (τm) é dada por: sm = [ ] ' tgu) - (+ c' FS 1 FS s m φ⋅σ=τ porém bo N=σ Considerando a relação entre momentos resistentes e atuantes resulta, identicamente ao método de Fellenius: ∑∑ ⋅⋅⋅⋅⋅= 'tgbo) u - (N+bo c'xW R N' φ43421FS O valor de N’ ( )bouNN' ⋅−= pode ser conhecido da somatória de forças na direção vertical: 86 FS 'tg sen+cos bo)sen FS c'+ cosu()x(x+W N 1nn ' φ⋅αα αα⋅−− = + Substituindo na expressão do FS e lembrando que α⋅= senRx e α⋅= secbbo resulta: [ ]∑ −⋅φ⋅∑ α= αM)xx+b u -(W ' tg+ b c'Wsen 1 FS 1+nn onde FStg sencosM 'φ⋅α+α=α Os valores de (xn - xn+l ) são determinados por aproximações sucessivas e devem satisfazer a condição: ∑ =+ 0) x- x( 1nn Estabelecendo-se a equação de equilíbrio para forças que agem na direção tangencial, tem-se: ( ) ( ) α−+α⋅−+= ++ cosEEsenxxWS 1nn1nn A partir desta expressão pode-se computar o valor de: ∑ + )E - E( 1nn A análise de estabilidade deve ser conduzida através de aproximações sucessivas de tal forma que se possa, no final, ter satisfeito todas as equações envolvidas. Um processo variante do método apresentado denomina-se Método de Bishop Simplificado, e considera que: ∑ =+ 0) x- x( 1nn 0)E - E( 1nn =∑ + e a expressão geral de FS será: [ ]αφ⋅α⋅= Mub) -(W ' tg+ b c'sen W 1 FS onde: Mα é o valor já definido anteriormente. As expressões de Mα, dependem de FS. As análises por qualquer um dos dois processos são feitas atribuindo-se um valor arbitrário para FS. Se os valores de FS e FSarb não são coincidentes, utiliza-se agora FSarb = FS para calcular um novo Mα , O método é convergente para a solução exata. Para uma primeira estimativa à comum tomar-se FS = FSFellenius. A Figura 14. 8 permite a rápida determinação de Mα . 87 Figura 14.8 - Gráfico para determinação de Mα . Como procedimento prático recomenda-se dividir o talude em cerca de dez lamelas; a partir deste valor há pouco ganho na precisão e um considerável aumento dos cálculos. Cada par de valores, centro e raio de um círculo hipotético, conduz a um valor de fator de segurança. O valor crítico será obtido por tentativas. Desenhado o talude em escala, determina-se uma malha de centros potenciais; em seguida, escolhe-se um centro e um raio que determinarão uma superfície de deslizamento e calcula-se o fator de segurança para essa superfície. Mantendo-se o centro do círculo, adota-se um novo raio e determina-se um novo fator de segurança. Prossegue-se variando o raio até obter-se o FS mínimo. Escolhe-se um novo centro e repetem-se os passos anteriores, até percorrer toda a malha desejada. Após a determinação dos valores mínimos de FS para cada centro, traçam-se curvas que unem os fatores se segurança iguais (como se faz com as curvas de nível da topografia com o intuito de determinar a posição do centro que fornece o menor deles). Como este processo pode ser programável, como mostra o fluxograma representado na Figura 14.9, existe atualmente uma série de programas que permitem determinar com precisão e velocidade o valor do fator de segurança. EXEMPLO 14.5 Determinar o Fator de Segurança para a encosta esquematizada na Figura 14.10, considerando um círculo de centro O e raio OX. Empregar os métodos de Fellenius e de Bishop Simplificado. O solo saturado apresenta 3m/tf05,2=γ , o28tg4 ⋅σ+=τ e o não saturado (acima da linha freática), 3m/tf80,1=γ e o30tg6 ⋅σ+=τ . ETAPAS 1. Determinar o diagrama de pressões neutras sobre a superfície de ruptura; 2. Dividir o corpo deslizante em lamelas; 3. Em cada lamela: largura (b); altura média (h); pressão neutra média (u); ângulo α comprimento da base (bo); 4. Efetuar cálculos. A Tabela 14.2 apresenta os cálculos efetuados e os fatores de segurança obtidos. 88 não sim sim não Fim Escolha de FS mínimo dos míni- mos, Escolha de R Todos os centros estudados Criação matriz FS mín FS=FSmín Cálculo de FS Divisão em lamelas, cálculo das forças e momentos Escolha do raio Escolha do centro Criação da matriz de centros hipotéticos Geometria do talude c´, φ´ Início Figura 14.9 - Fluxograma para Cálculo da Estabilidade de Taludes - Método das Lamelas. 89 Figura 14.10 - Exemplo de calculo de Estabilidade pelo Método das Lamelas. Tabela 14.2 - Cálculos das Análises de Estabilidade Mα R/Mα L. b ha hb α u W W.cosα b0 u.b0 u.b W.senα RF RB F1= 2.70 F2= 2.74 F1 F2 1 1.00 2.10 - 71 0 3.78 1.23 3.39 0 0 3.57 21.05 8.18 0.53 0.52 15.50 15.59 2 1.50 3.25 1.20 56 0.60 12.47 6.97 2.57 1.54 0.90 10.34 13.17 12.15 0.72 0.72 16.82 16.82 3 1.15 3.252.60 44 2.15 12.86 9.25 1.65 4.46 2.47 8.93 9.15 10.12 0.86 0.85 11.82 11.85 4 1.40 2.80 3.30 35.5 2.70 16.53 13.45 1.65 4.45 3.78 9.60 11.39 12.38 0.93 0.93 13.33 13.33 5 1.70 1.45 3.80 25.5 3.30 17.68 15.96 1.83 6.05 5.61 7.61 12.59 13.22 0.99 0.99 13.39 13.39 6 1.85 0.20 3.70 15 3.30 14.70 14.20 1.83 6.05 6.11 3.80 11.65 11.97 1.02 1.02 11.77 11.77 7 1.65 - 3.15 5.5 2.40 10.65 10.61 1.65 3.96 3.96 1.02 10.14 10.16 1.01 1.01 10.02 10.02 8 1.95 - 1.85 -4.5 1.50 7.40 7.37 2.02 3.02 2.93 -0.58 10.39 10.18 0.98 0.98 10.37 10.37 9 2.0 - 0.70 -18 0.30 4.16 3.96 3.02 0.91 0.87 -1.29 13.70 13.35 0.89 0.89 15.00 15.00 Σ 43.00 113.23 118.0 118.14 Fellenius ( ) φ⋅⋅−α⋅+⋅= tgbucosWbcR i0iiii0iFi ∑ α⋅∑= iiFip senWRFS 63.200.4323.113FSp == Bishop simplificado ( ) φ⋅⋅−+⋅= tgbuWbcR iiiiiBi ( ) ∑ α⋅ ∑= α ii ii B senW M/R FS 90 70.274.2 00.43 02.118FS1 ≠== 74.275.2 00.43 43.118FS1 ≅== 75.2FSB = 4.5 - Método das Cunhas Em muitas análises de estabilidade é possível delimitar o corpo potencialmente deslizante segundo alguns planos predeterminados. A presença de extratos menos resistentes no interior de um maciço ou a construção de maciços sobre camadas de baixa resistência constituem exemplos onde é possível definir de antemão a possível superfície potencial de ruptura. Existem várias outras situações onde isso pode ocorrer. A Figura 14.11 ilustra dois exemplos. Figura 14.11 - Aplicações do Método das Cunhas A divisão do copo deslizante segundo duas ou trás cunhas permite conduzir uma rápida e confiável análise de estabilidade. A Figura 14.12 mostra as cunhas do exemplo da Figura 14.11 a, conjuntamente com os esforços que nelas atuam. Figura 14-12 Esforços sobre as cunhas e polígono de forças. A cunha BDR recebe o nome de cunha ativa e a cunha ABR, passiva. 91 São desconhecidos os seguintes esforços: Fl, F2, E, α e o FS, o que torna o problema indeterminado. Assumindo-se um valor para α, porém, pode-se tornar o problema determinado. Costuma-se assumir que a direção dos esforços (E) entre as cunhas fica determinada pela resistência mobilizada ao longo da superfície de ruptura, isto é: α φ φ = = arc( tg FSm ) Outra alternativa é considerar α igual à inclinação do talude. Qualquer alternativa adotada conduz a resultados praticamente iguais. Arbitrando um Fator de Segurança inicial é possível definir as direções de Fl e F2. φ=φ→φ φ= i 1 1 m1 1 FS tg arctgm tg tg Fsi φ=φ→φ φ= i 2 2 m2 2 FS tg arctgm tg tg Fsi Pode-se ainda determinar a intensidade de Cm1: i 1 FS AB C Cm1 ⋅= A coesão mobilizada ao longo de BD serve para verificar o acerto do FS escolhido: conduz-se a análise gráfica para os valores calculados com o FS inicial e determina-se, do polígono de forças, a coesão necessária para manter o equilíbrio da cunha ativa (Figura 14.12). Assim o Fator de Segurança calculado (FS c ) é: 2 2 Cm BD C FSc ⋅= Cm2 - obtido do polígono de forças Freqüentemente resulta FSi ≠ FSc e é possível obter o Fator de Segurança (FS) procurado, por interpelação (Figura 14.12). Na construção do polígono de forças seguiu-se a seguinte ordem, começando pelo equilíbrio da cunha passiva (ABR): - peso Wl, direção vertical. - coesão mobilizada Cml, direção de AB - força de atrito mobilizada F1, direção φm1 - empuxo E, direção α (no caso 1mφ=α ) - peso W2, empuxo E - força F2, direção φm2 - coesão mobilizada Cm2, direção BD, fechando o polígono. Havendo outros esforços, como por exemplo, pressões neutras sobre algumas das superfícies, basta determinar sua resultante e incluí-la no polígono de forças. Finalizando cumpre verificar para a superfície ABD, qual posição de BR é a mais crítica. Varia-se a posição de R (BR1, BR2) de forma a determinar o menor fator de segurança. 92 EXEMPLO 14.6 Calcular o Fator de Segurança para o talude esquematizado na Figura 14.13, considerando a ruptura segundo as cunhas ABD e BCD. Admitir que sobre AB atuem pressões neutras cuja resultante corresponda a 20% do peso da cunha. Resolução: CUNHA ABD m/tf991W = ; m/tf80,19992,0W2,0U =⋅=⋅= m15AB = CUNHA BCD m/tf1352W = ; m15BC = 1a TENTATIVA 0,2FS = φm arc(tg 27 21 o o= ≅) ,14 3 α φ= =m1 o14 3, 0m 2 =φ m/tf5,37 2 15 5 FS BC CCm 2 =⋅=⋅= do polígono de forças da Figura 14.13. m/tf14Cm1 = 29,414 154 Cm C FS 1 1 cal =⋅== 2a TENTATIVA 3a TENTATIVA 0,3FS = α==φ o1 6,9m 4,2FS = α==φ o1 12m m/tf0,25Cm 2 = m/tf25,31Cm 2 = m/tf34Cm1 = m/tf25Cm1 = 76,1 34 60FScal == 4,225 60FScal == 93 Figura 14.13 - Exemplo de Cálculo de Estabilidade pelo Método das Cunhas 4.6- Outros Métodos de Estabilidade Existem vários outros métodos de estabilidade que permitem estudar diversas situações. Entretanto os princípios utilizados são basicamente os mesmos aqui já apresentados e deixa-se de apresentá-los pelo volume de gráficos que seria necessário reproduzir. Faz-se em seguida referência a alguns desses métodos. O método de Bishop e Morgenstern ("Stability Coefficients for Earth Slopes", Géotechnique, Vol. 10, pg. 129-150, 1960) fornece ábacos para análise de vários casos comuns na pratica. A análise é feita em termos de tensões efetivas, a partir do método de Bishop. A variação do fator de segurança de taludes de barragem provocada por rebaixamento rápido é apresentada em forma de ábacos por Morgenstern ("Stability Charts for Earth Slopes During Rapid Drawndown", Géotechnique, Vol. 13, pg. 121-131,1963). A análise é efetuada para taludes homogêneos, em termos de tensões efetivas. 94 Uma análise de estabilidade, considerando qualquer forma de superfície de ruptura e interação entre as lamelas, é desenvolvida matematicamente por Morgenstern e Price ("The Analysis of the Stability of General Slipe Surfaces”, Géotechnique, Vol. 15, pg. 79-93, 1965). Empregam-se os conceitos do equilíbrio limite e dado ao volume de cálculo necessário é preciso recorrer à programação eletrônica. SINOPSE 1. Os maciços podem ser naturais ou artificiais. Dada a maior homogeneidade dos maciços artificiais, estes adequam-se melhor aos métodos correntes de análise de estabilidade. 2. A instabilização de um talude pode se manifestar das mais variadas formas. Genericamente, pode-se ter desmoronamentos, nos quais uma massa de solo se desloca do maciço remanescente; rastejos, quando a massa de solo exibe movimentos lentos, semelhantes aos que ocorrem em um líquido viscoso e escorregamentos nos quais o solo se movimenta em relação ao resto do maciço, segundo uma superfície bem definida. Os escorregamentos resultam de rupturas por cisalhamento. 3. Vários são os agentes que provocam a instabilização de um talude (Tabela 14.1). Podem-se ter genericamente causas externas, internas e intermediárias. Aumentos de altura, de inclinação, bem como a ação da água situam-se entre as causas mais comuns. 4.O Fator de Segurança (FS) corresponde ao valor numérico da real ação entre a resistência ao cisalhamento disponível (S) e a mobilizada (Sm) para garantir o equilíbrio do corpo deslizante, sob o efeito dos esforços atuantes. Costuma-se calcular o FS, também, considerando a relação entre esforços resistentes e esforços atuantes (forças ou momentos). 5. Os métodos de estabilidade empregam os conceitos do equilíbrio limite, no qual se considera a rupturaincipiente quando as tensões atuantes igualam a resistência do solo, sem preocupação com as deformações envolvidas. 6. O método do talude infinito é empregado quando a relação entre extensão e espessura do talude é muito grande. Nestes casos a linha potencial de ruptura desenvolve-se paralelamente à superfície do talude. 7.O método de Culmann admite superfície ruptura plana passando pelo pé do talude. 8. Os gráficos de Taylor foram desenvolvidos a partir do método de círculo de atrito (superfície de ruptura circular) e empregam tensões totais. A sua utilização pode resultar muito útil em fases iniciais de projeto. 9. O método de Fellenius considera superfície de ruptura circular e assume que as resultantes das forças laterais sobre as lamelas são colineares e de igual intensidade. Os fatores de segurança obtidos por este método são geralmente conservadores. 10. No método de Bishop são considerados os esforços laterais sobre as lamelas. No método de Bishop simplificado despreza-se a ação da resultante dos esforços verticais sobre as faces laterais das lamelas. O processo de cálculo do Fator de Segurança é iterativo. 11. Planos ou estratos de menor resistência podem condicionar as superfícies de ruptura. Quando é possível aproximar estas superfícies por retas, a análise de estabilidade pode ser conduzida de uma forma rápida através do método das cunhas.
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