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O ASPECTO ANTAGÔNICO DO AMOR NO POEMA AMAR

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O ASPECTO ANTAGÔNICO DO AMOR NO POEMA AMAR, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Alex Junior dos Santos Nardelli[1: Graduando em Licenciatura em Letras - UNESP – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – São José do Rio Preto;]
Bianca Cristina Sinibaldi[2: Graduanda em Licenciatura em Letras - UNESP – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – São José do Rio Preto;]
Mariah Aparecida Berto da Silva[3: Graduanda em Licenciatura em Letras - UNESP – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – São José do Rio Preto;]
Curso: Licenciatura em Letras – noturno
Disciplina: Teoria da Poesia
DELL – Departamento de Estudos Linguistico e Literários
Docente: Profº Drº Márcio Scheel
O ASPECTO ANTAGÔNICO DO AMOR NO POEMA AMAR, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE[4: Trabalho realizado na disciplina de Teoria da Poesia, ministrada na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto, pelo Prof. Dr. Márcio Scheel.]
							Alex Junior dos Santos Nardelli
							Bianca Cristina Sinibaldi
							Mariah Aparecida Berto da Silva
							
RESUMO
O presente trabalho aborda a biografia do poeta Carlos Drummond de Andrade, sua obra Claro Enigma e a análise do poema Amar, que funde o lírico da temática amorosa e uma reflexão sobre a necessidade de amor. Neste poema, Drummond afirma a liberdade linguística, o verso livre, o metro livre e a temática cotidiana, que também são características do movimento modernista.
Para solidificar os argumentos e reflexões expostos neste trabalho recorremos como apoio de leitura “O Estudo Analítico do Poema”, de Antonio Candido.
A análise inicia pela questão do uso abrangente do verbo amar. O poeta apresenta o dualismo: “construção-destruição”, “ganho-perda” e “instante-eternidade”. E por fim, apresenta o amar na ausência, negando o lirismo pueril.
Palavras-chaves: literatura, amar, desamar; ambiguidade, poesia.
 INTRODUÇÂO
O AUTOR
	Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
	Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962.
	O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias.Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
	O poeta trabalha, sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e, sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
	Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
	Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
	Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
 A OBRA
	Publicado em 1951, Claro enigma representa um momento especial na obra de Drummond. O poeta revive formas que haviam sido abandonadas pelo Modernismo (como o soneto, modalidade que fora motivo de chacota entre as novas gerações literárias), afirma seu amor pela poesia de Dante e Camões e busca uma forma mais difícil, mas sem jamais abandonar o lirismo e a agudeza de sua melhor poesia.
	Nesta obra, Drummond passa a focar temas abstratos como solidão, vida, morte e humanidade em geral. O isolamento rotineiro e tédio fazem desta obra modernista uma referência ao existencialismo. Os 41 poemas de Claro Enigma são distribuídos em seis seções:
I – “Entre Lobo e Cão” (18 poemas): na primeira parte do livro as poesias remetem à efemeridade da vida. É neste capítulo que se encontra o soneto "Oficina Irritada", tendo a primeira referência ao termo, “Claro Enigma”, com sentido de um desafio fácil.
II – “Notícias amorosas” (7 poemas): Durante a segunda parte há referência ao amor puro e apaixonado, às tristezas e memórias reunidas durante o caminho vivido.
III – “O menino e os homens” (4 poemas): Há passagem da fase infantil para a morte precoce (no sentido figurado), tendo em vista a adaptação humana e acomodação na rotina.
IV – “Selo de Minas” (4 poemas): referência à inconfidência mineira.
V – “Os lábios cerrados” (6 poemas): mais um capítulo citando solidão, tristeza e consequente fim do ser humano sem ter realmente aproveitado a vida.
VI – “A máquina do mundo” (2 poemas): Percebe-se um elo entre natureza e criações humanas.
	Drummond mostra nesta obra a facilidade em chocar e seduzir os leitores ávidos e adocicar fatos cotidianos. Demonstra a passagem do tempo e nos encanta com sua combinação de delicadeza e veracidade. Carlos Drummond de Andrade prova sua realidade aos olhos mais astutos.
	Ele sempre se colocou como o poeta da vida presente, e em Claro Enigma, ele faz referência ao mundo imediatamente posterior à guerra e à ditadura, mostrando a mesma perplexidade e o mesmo inconformismo.
 ANÁLISE DESCRITIVA ARTICULADA COM ANÁLISE INTERPRETATIVA
O poema Amar foi publicado no livro “Claro Enigma” (1951) na sessão “II - Noites amorosas”, onde estão reunidos poemas que fazem referência ao amor puro e apaixonado, às tristezas e memórias reunidas durante o caminho vivido, como dito anteriormente.
Levando em consideração o contexto histórico da época, em que ainda víamos influências dos vestígios do fim da Segunda Guerra Mundial, o país passava ainda por um contexto melancólico, com aspecto de tristeza, morte, solidão, partida etc., fazendo com que estes aspectos sejam transcritos nos poemas de vários autores da época, assim como nos poemas de Carlos Drummond de Andrade.
De início, analisaremos o título do poema; é notável o fato de o autorusar um verbo no infinitivo (Amar) e não uma palavra no substantivo (Amor). Uma primeira hipótese sobre o titulo, é que como todo verbo indica uma ação, “Amar” é bem mais significativo para o leitor, do que o substantivo “Amor”, palavra que comporta grande significado, entretanto, não aborda um significado intrínseco de ação; outra hipótese que pode ser levantada em relação ao título é o fato de que durante todo poema há uso recorrente da mesma forma verbal / entre criaturas, amar/;/amar, desamar, amar?/;/amar o que o mar traz à praia,/ dentre outras. Desta forma, concluímos que Drummond focaliza não o sentimento (Amor), mas sim o processo/ação (Amar), assim como, as formas verbais apresentadas durante o poema, remetem sempre à ação e não ao sentimento. 
A estrutura do poema é constituída por cinco estrofes contendo entre cinco e seis versos, com exceção da última que é constituída de apenas dois versos. O verboamar aparece nas três primeiras estrofes, é ausentada na quarta, onde aparece apenas o substantivoamor e, por fim,é retomada na quinta estrofe; pensamos que esta interpolação enfatiza a volta do verboamar logo no início da quinta estrofe, onde a diferenciação na quantidade de versos é importante para notarmos que esta estrofe seria como uma epígrafe colocada ao final do poema, como a conclusão de um eixo histórico que se finda, essa hipótese é notada quando o autor marca versos temporais durante o poema /amar, desamar, amar?/ e principalmente na quinta estrofe/Êste o nosso destino: amor sem conta,/.
Em relação ao sujeito-lírico do poema, notamos um ser fadado ao amor e a ação de “amar” (notamos aqui a força do verbo), um ser predestinado a amar como forma de “missão” que lhe foi designada. O verbo amar necessita por ocasião de um objeto ou de algum ser a ser amado, no poema, neste caso, o verbo amar não necessita obrigatoriamente de um objeto ou ser, uma vez que certos versos, nos mostra que o destino do sujeito-lírico é amar incondicionalmente todas as coisas que lhe aparecer / amar o que o mar traz à praia/;/ e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão vazio/; /Êste o nosso destino: amor sem conta,/;/ Amar a nossa falta mesma de amor/.
	Até agora, fizemos uma análise visual e mais abrangente de todo poema, a partir daqui, analisaremos o poema por dois eixos temáticos: eixo temporal e eixo de ação (nomenclatura nossa, para toda imagem produzida a partir das palavras dispostas no poema); faremosrelações às ações do eu-lírico (regidas pelos verbos), das palavras no poema, das classes de palavras e seus respectivos significados lexicais. 
	Os primeiros versos do poema traz a palavra amar como uma questão qualificativa de uma criatura humana despersonalizada, não há um sujeito gramatical determinado (uma criatura). Esta criatura viveem consonância com o sentimento de amor por àquilo que lhe é apresentado, o que lhe evidência em relação a um meio social (entre criaturas): /Que pode uma criatura senão,/ entre criaturas, amar?/; tal pergunta abrange um valor retórico, uma vez que consequentemente a esta há uma expressão forte presente no termo senão, ligado ao fato de que uma criatura ou todas as criaturas, amam. Em resposta ou comentário a esta pergunta, Drummond apresenta em seguida, um seguimento de versos que detém aspectos temporais da vida humana: / amar e esquecer,/ amar e malamar,/ amar, desamar, amar/; temos, portanto, um conjunto de imagens que faz referencia a épocas distintas de uma criatura que ama; / amar e esquecer,/, pode-se entender como ações continuas da vida (amores passageiros), ou então, caso queiramos aprofundar um poucos mais esse pensado, podemos classificar essa criatura que ama como um ser de idade avançada, que teve seu companheiro (a) perdido há muito tempo. Ao verso / amar e malamar,/, recorrem a dois significados contrapostos; segundo o dicionário Aurélio, amar é “Ter amor, afeição, ternura, dedicação, devoção a; querer bem; estimar, gostar, apreciar”; já malamar, é um termo que não consta no dicionário, entretanto, há dois elementos que o compõe, o termo prefixal mal-, que detém o significado de “feito de maneira errada/ incorreta; aquilo que prejudica e que fere”, que pode unir-se a outras palavras dando-lhes ideias adjetivas ou verbais (ex: maldito / maldizer / malquerer); e a palavra propriamente dita amar, portanto, malamar, possui o significado de amar de forma errada e prejudicial. O último verso dos três que evidenciamos /amar, desamar, amar?/, também remete as questões temporais e lexicais; na palavra desamar (des- amar) o prefixo des-, também é de aparato negativo, neste caso desamar acaba tendo o significado de “deixar de amar não amar mais, não gostar mais de”; este significado negativo entra em contraposição a palavra que antecede e que a que a sucede o termo “desamar”, uma vez que esta (amar) retém seu significado próprio e positivo. 
Nestes três últimos versos temos um sujeito-lírico em constante mudança sentimental, ele ama, mal ama, desama e ama novamente, tais termos nos trás uma ideia de tempo recorrente, em que temos uma criatura disposta em uma situação cronológica descrita no poema. No último verso /sempre, e até de olhos vidrados, amar?/, notamos uma resposta a todas as indagações anteriores: /sempre/, este termo vem associado a todas essas sequencias temporais de amar e mal amar ocasionadas pela criatura, assim, já é evidente que seu próprio destino é amar, por isso, a continuação do verso mostra o medo, o espanto e a insegurança de tal criatura em relação a tal sentimento (ação de amar), assim /até de olhos vidrados/, recorre a essa imagem de espanto.
	Logo no início da segunda estrofe notamos uma semelhança com o início da primeira estrofe, a mesma pergunta foi exposta, entretanto, dessa vez, a expressão “uma criatura”, foi substituída por “o ser amoroso”, / Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em relação universal, senão/rodar também, e amar?/, dessa forma a nova expressão usada, confirma algumas hipóteses levantadas anteriormente; a lexicalização da forma “ser-”, articula a relação entre um /ser animado/ vs /ser inanimado/, o que nos leva a confirmar que a criatura citada no poema é um ser animado, pois é possuidor de sentimentos, uma vez que amoroso (amor – oso) remete a um termo adjetivo pela colocação o sufixo -oso, ou seja, a criatura é qualificada não apenas como ser, mas também, como um ser que ama/ser amoroso. Na partedo verso em que diz: / sozinho, em relação universal, senão/ rodar também, e amar?/o ser amoroso (a criatura) já não se encontra em meio a outros seres (outras criatura), pelo contrário, dessa vez ele é posto sozinho em relação ao universo. Ao termo /rodar/, referimos as questões temporais e de ação;como o universo está em expansão, até então dito pela ciência como infinita pois não foi encontrado um ponto final, muito menos um inicial, o ser está destinado a rodar infinitamente ou até sua morte (eixo temporal), uma vez que rodar, pressupõe espacialmente um movimento contínuo, metaforicamente, esta frase concretiza o destino da criatura em “sempre amar constantemente todas as coisas, independente do tempo, do lugar etc.” (eixo de ação). 
	A partir do terceiro verso da segunda estrofe, o foco do poema, deixa de ser o ser amoroso (uma criatura), e passa a ser os objetos que esta criatura está predestinada a amar. Nos próximos versos, / amar o que o mar traz à praia,/o que êle sepulta, e o que, na brisa marinha,/é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?/, há um conjunto de símbolos que nos remetem a formação de imagens, pois, além do significado lexical de cada termo, há metáforas explicitas que remetem a vida. No verso / amar o que o mar traz à praia/, a palavra mar, remete a um significado metafórico, no Dicionário dos Símbolos de Chevalier &Gheerbrant, mar, aparece com a seguinte definição:
“Símbolo da dinâmica da vida. Tudo sai do mar e retorna a ele: Lugar dos nascimentos, das transformações e dos nascimentos. Águas em movimento, o mar simboliza um estado transitório entre as possibilidadesainda informes as realidades configuradas, uma situação de ambivalência, que é a de incerteza, de dúvida, de indecisão e que pode se concluir bem ou mal. Vem daí que o mar é ao mesmo tempo a imagem da vida e a imagem da morte.” (Chevalier &Gheerbrant, 1996, p.592)
Podemos, portanto, relacionar a palavra mar com vida ou morte, e praia no nosso ponto de vista, faz uma alusão a um ponto de chegada ou de partida, variando conforme a colocação do individuo; neste caso, como é explicito no poema /amar o que o mar traz à praia/, o ser é aquele que recebe tudo o que a vida (o mar) oferece de novo; a palavra praia também remete ao próprio ser do sujeito-lírico, uma vez que ele é o agente responsável por exercer a ação do verbo amar do inicio, assim podemos transcrever esse mesmo verso de outra forma: /amar o que a vida(mar) traz a você(praia)/.
	Em seguida, /o que êle sepulta, e o que, na brisa marinha,/ é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?/, ha questões evidentes que produzem imagens simbólicas, /o que êle sepulta/, por exemplo, remete a morte, ao sepultamento, pois, da mesma forma como o mar (vida) é o lugar do nascimento, ele também é o lugar da morte, uma vez que tudo o que dele pode sair (nascer) também pode retornar (morrer); o sujeito lírico coloca em dúvida nos próximos versos, a importância do amor, há uma dialética na palavra sal, pois, pode ser tanto o sal que vem da brisa marinha como forma de amargura (amor amargurado), como o sal que tempera e dá gosto à vida (amor “gostoso”), por subsequente os versos debatem a necessidade de amor (a precisão do amor) ou apenas a sua vontade (a simples ânsia).
Na terceira estrofe do poema de Drummond, contemplamos um conjunto de objetos que o ser amoroso deve amar, esse conjunto de objetos possui uma articulação através da incompatibilidade; por exemplo, em /palmas do deserto/ há um elemento preenchido (palmas) vs um elemento não-preenchido(deserto); em /peito inerte/ temos um órgão ativo (peito) vs um elemento sem-energia (inerte); /rua vista em sonho/ temos um elemento concreto (rua) vs elemento abstrato (sonho). Devemos esclarecer que as palmas do deserto são fontes de alimento para beduínos e animais daquela região, são das palmas do deserto que se retiram as tâmaras, portanto, são elementos concretos (preenchidos), enquanto o deserto, metaforicamente abordado, remete a imagem da solidão, ao abandono, ao descaso; entretanto, mesmo o ser amoroso estando vazio e sozinho (deserto), ele tem algo a oferecer, significando a entrega total, ou em outras palavras, a entrega daquilo que ele mal possui, tal hipótese é confirmada no verso que se segue, /o que é entrega ou adoração expectante,/, assim o ser amoroso se coloca à disposição de amar incondicionalmente sem receber nada em troca, pois já está situado no campo da solidão, pois, tem como destino apenas amar.
Nos versos seguinte, / e amar o inóspito, o áspero,/um vaso sem flor, um chão vazio,/e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina./; é notável a presença do verbo amar logo no início,referindo-se a ação; desta forma, o ser amoroso se vê na obrigatoriedade compulsiva de amar o que é “inóspito” (não hospitaleiro) e áspero (de superfície desigual, incômoda ao tacto), elementos posteriores ao verbo.Uma tática usada por Drummond durante os próximos versos é a abordagem de imagens literárias, que geralmente estão ligadas á aspectos amorosos, entretanto, para dar continuidade a esta situação involuntária de amar as coisas mais profanas, o poeta inverte os sentidos de tais imagens, e onde haveria lindas flores no vaso, dá espaço a, /um vaso sem flor/, o coração acelerado e palpitante dá lugar a ao /peito inerte/, demonstrando que mesmo diante de situações inóspitas, a criatura ama.
A quarta estrofe é a única que não apresenta em nenhum momento o verbo amar, entretanto, no primeiro verso, o poeta apresenta o destino do sujeito-lírico e todos seus semelhantes, /Êsteo nosso destino: amor sem conta,/,abordando também o eixo temporal do qual selecionamos para análise deste poema; o ser amoro está destinado a amar sem medida o tempo todo ou todo o tempo que lhe resta, e também, é interessante destacar que pressupomos que todas as criaturas semelhantes ao sujeito lírico/ser amoroso, também estão destinadas a amar incondicionalmente, uma vez que o poeta faz uso do pronome possessivo “nosso” (1ª pessoa do plural), assim ele não se abstém de englobar tanto a criatura amorosa (sujeito-lírico) como todos seus semelhantes.
E que este é o destino do ser amoroso, como se não houvesse outra saída se não amar e não receber amor, amar apenas o vazio /coisas pérfidas ou nulas/. Afinal, é preciso que haja o vazio para que coisas sejam construídas (a folha em branco é o ambiente de construção de um desenhista, o terreno vazio é o ambiente de construção de um engenheiro, etc.) e, para tanto, é preciso desejar.
No verso /doação ilimitada a uma completa ingratidão/, é perceptível a presença de um ser que ama sem medir esforços, a ponto de entregar-se por inteiro (doação ilimitada) ao amor, que neste caso seria de completa ingratidão, uma vez que amar é um ato difícil e rude. Nos versos que se seguem, a concha, pode ser entendida segundo Martins-Costa como: 
“[...] concha do marisco abandonada: em uma concha jogada na areia da praia, o primitivo habitante que lhe recheava o conteúdo de há muito pode ter desaparecido e gerações de outros habitantes podem ali ter encontrado a sua morada. Traços do antigo morador, todavia, permanecem escondidos em suas volutas, incrustados e disfarçados em sua madrepérola, pontuando sutilmente nossas representações.” (MARTINS-COSTA, 2013)
	Assim, a concha vazia detém o significado de solidão, de algo realmente vazio; entretanto, mesmo enfrentando o vazio do amor, o ser mantém-se na procura /medrosa, paciente, de mais e mais amor./, enfrentando todas as dificuldades e obstáculos. 
	Ao final do poema, Drummond encera com uma estrofe diferente das demais, enquanto as estrofes anteriores continham entre cinco e seis versos, esta, porém, contem apenas dois; logo no início da última estrofe, nos deparamos com a carência do ser amoroso, aquele que ama e não recebe nada em troca, que ama sem limites não obtendo recompensa alguma, / Amar a nossa falta mesma de amor/, aquele ama sem amar a si mesmo. Nos versos seguintes, as palavras / secura/,/água/,/sede/ e /infinita/, novamente retomam o mar, o horizonte que se torna infinito ao vermos o mar pela praia, e etc., assim pressupomos que a /secura/ mencionada por Drummond, remete a carência do sujeito-amoroso, sua insignificância, sua falta de amor e sua busca incessante pelo mesmo; /amar a água implícita/, detém um conceito abstrato que relacionamos também ao mar, ou seja, à vida, neste caso, o sujeito está disposto a amar “o tudo” e “o nada” ao mesmo tempo, pois quando olhamos para o mar, superficialmente, vemos apenas uma planície de águas salgadas infinita (o nada), não imaginamos a imensidão e a quantidade de águas que há por debaixo dessa planície, todos os seres que habitam esse bioma e assim por diante (o tudo); ao relacionarmos essa mesma hipótese com a vida, podemos assim, definir o seguinte; quando olhamos “o hoje” vemos apenas “o agora”, o momento que estamos vivendo, /sozinho, em relação universal/, temos “o nada”, um ser inerte, carente de amor e de sentimentos afetivos, entretanto, quando nos vermos em sociedade em uma relação universal, temos, as pessoas que caminha conosco, nossos amigos e familiares e etc., ou seja, “o tudo”. O /beijo tácito/, é a magnificação da carência do sujeito, uma vez que a palavra “tácito” significa: “O que não se pode traduzir por palavras; calado. Que está subentendido e, por isso, não precisa ser dito.”, assim, interpretamos esse trecho, e o que próximo, como o julgamento final do sujeito amoroso, seria essa a sua condenação, seu suplicio. 
Ao fim, temos o trecho /a sêde inifita/, da mesma forma como o beijo tácito é o suplicio do sujeito do poema, a sede infinita remete também aesta mesma condenação, sempre querer amar as coisas do mundo, sem receber nada em troca, sem amar a si mesmo, amar o inóspito, o rude, o áspero e assim por diante, lembrando também que este mesmo trecho /a sêde inifita/, relacionamos anteriormente com o mar, pois, “a água do mar é água, mas, não mata sede”, o sujeito se vê dentro de um infinito repleto de água, mas por sua composição química (água salgada), a mesma, não cessa a sede, assim mesmo é o amor, neste poema, o sujeito esta destinado a amar, mas, entretanto, essa procura, nunca saciará sua procura por amor.

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