Buscar

018 023 capa educacao 264

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

18 | FEVErEiro DE 2018
in
fo
g
r
á
fi
c
o
 a
n
a
 p
a
u
l
a
 c
a
m
p
o
s 
il
u
st
r
a
ç
ã
o
 a
u
g
u
st
o
 z
a
m
b
o
n
a
t
o
ampliação do acesso à educação básica foi 
acompanhada pelo aumento das diferenças 
na aprendizagem, prejudicando alunos pretos, 
pardos e de nível socioeconômico baixo
capa
Expansão 
desigual
o 
ensino fundamental no Brasil ho-
je pode ser considerado universal, 
com 99,2% das crianças de 6 a 14 
anos frequentando a escola, o que 
representa 26,5 milhões de estudan-
tes, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra 
de Domicílios Contínua: Educação (Pnad Contí-
nua), divulgada no final de dezembro pelo Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
Ao mesmo tempo, um levantamento da unidade 
brasileira da Faculdade Latino-americana de 
Ciências Sociais (Flacso), também produzido com 
base na Pnad, identificou que, em 2002, apenas 
10,7% dos jovens mais pobres do país chegavam 
ao ensino médio na idade adequada, patamar que 
hoje subiu para 39%. Sem deixar de reconhe-
cer a importância desses avanços, os números 
indicam que as desigualdades que antes se ma-
nifestavam no acesso à escola pública, agora se 
revelam dentro dela, com crescentes diferenças 
nos níveis de aprendizagem, que podem chegar 
ao equivalente a três anos de escolarização entre 
crianças da mesma idade. O Núcleo de Pesquisa 
em Desigualdades Escolares (Nupede) da Uni-
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG) fez 
a constatação a partir de análises de edições da 
christina Queiroz
Prova Brasil entre 2005 e 2013, que envolveram 
cerca de 23 milhões de alunos e 70 mil escolas 
em todos os 5.570 municípios brasileiros.
“A desigualdade de aprendizagem entre grupos 
de diferentes níveis socioeconômicos cresceu. 
Alunos submetidos a mais de uma característi-
ca associada à exclusão social têm desempenho 
muito pior do que os outros”, afirma o estatístico 
José Francisco Soares, professor titular aposenta-
do da UFMG, ex-presidente do Instituto Nacional 
de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e um 
dos autores do trabalho, que teve apoio do Con-
selho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à 
Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). Soares des-
taca que, apesar de a evolução do desempenho 
escolar médio dos alunos da escola pública ter 
apresentado variação positiva de quase 20 pontos, 
o que corresponde aos conhecimentos de cerca 
pEsQuisa fapEsp 264 | 19
fontE nupede/ uFmg
Proficiência em 
leitura
Proficiência em
matemática
a EB fc gD H
meninas 
brancas 
com nse 
baixo
meninas 
negras 
com nse 
baixo
meninos 
brancos 
com nse 
baixo
meninos 
negros 
com nse 
baixo
meninas 
brancas 
com nse 
alto
meninas 
negras 
com nse 
alto
meninos 
brancos 
com nse 
alto
meninos 
negros 
com nse 
alto
diferença entre 
os dois grupos com 
desempenho mais 
alto e mais baixo
diferença 
entre os 
grupos g e B
diferença 
entre os 
grupos E e D
n
ot
as
 m
éd
ia
s
n
ot
as
 m
éd
ia
s
5o ano 9o ano
Variações nas notas médias
características associadas à exclusão social, como raça e nível 
socioeconômico (nse) baixo, derrubam desempenho de estudantes 
17
4
,2
2005
16
3
,2
4
16
5
,2
9
15
6
,9
1
2
0
2
,1
1
16
8
,5
4
19
0
,4
7
16
2
,9
3
4
5
,2
0
a B c D E f g H
16
9
,7
2 15
9
,5
1
2
2
6
,5
3
2
0
1,
0
7
2
12
,5
3
18
8
,0
1
17
5
,2
1
16
1,
2
8
2013
6
7,
0
2
a B c D E f g H
2005
17
7,
73
16
7,
2
6
17
7,
3
3
16
8
,9
9
2
0
2
,6
17
1,
78 2
0
2
,5
2
17
3
,4
1
3
5
,2
6
a B c D E f g H
17
7,
9
5
17
7,
76
17
6
,5
8 2
3
6
,9
6
2
0
9
,8
8
2
3
8
,0
8
2
10
,8
7
18
3
,8
2013
6
0
,1
4
a B c D E f g H
2
3
1,
5
7
2
2
4
,4
8
2
3
8
,2
4
2
3
1,
16
2
6
2
,1
5
2
3
9
,9
2
6
4
,6
4
2
4
2
,5
3
2005
4
0
,1
6
a B c D E f g H
2013
2
2
5
,9 2
2
2
,0
4
2
3
1,
3
7
2
2
9
,0
8
2
6
2
,4
6
2
4
1,
9
5
2
6
3
,8
0
2
4
1,
5
4
4
1,
76
a B c D E f g H
2013
2
2
9
,5
5
2
2
6
,6
3
2
15
,9
0 2
14
,4
2
2
6
7,
0
7
2
4
7,
9
9
2
4
7,
4
9
2
2
6
,7
4
5
2
,6
5
a B c D E f g H
2
17
,6
9
2
10
,9
1
2
5
1,
9
8
2
3
2
,7
7
2
3
6
,5
9
2
2
0
,4
1
2
2
3
,1
4
2
15
,3
0
2005
4
1,
0
7
a B c D E f g H
E D
g B
500 
nota 
máxima
500 
nota 
máxima
5o ano 9o ano
500 
nota 
máxima
500 
nota 
máxima
20 | FEVErEiro DE 2018
de um ano escolar, a distância de aprendizagem 
entre alguns grupos pode chegar a três anos de 
escolarização. É o caso de meninos brancos com 
nível socioeconômico (NSE) alto e meninas ne-
gras com NSE baixo quando tiveram avaliados 
seus conhecimentos em matemática (ver gráficos 
na página 19). Os resultados da pesquisa foram 
divulgados no artigo “Desigualdades educacio-
nais no ensino fundamental de 2005 a 2013: Hiato 
entre grupos sociais”, publicado na Revista Bra-
sileira de Sociologia em 2016. 
A Prova Brasil – antigo Sistema de Avaliação 
da Educação Básica (Saeb) – é uma avaliação 
educacional realizada bianualmente pelo Inep. 
Composta por testes de matemática e língua por-
tuguesa, afere notas de zero a 500 para alunos do 
5º e 9º anos do ensino fundamental e é um dos 
componentes usados para calcular o Índice de 
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que 
avalia a qualidade da educação básica no Brasil. 
Para classificar os alunos das escolas em que a 
prova foi feita, os pesquisadores do núcleo utiliza-
ram um indicador de NSE que relaciona critérios 
como escolaridade e ocupação dos pais, posse 
de itens, contratação de empregados domésti-
cos e renda familiar. No estudo, as divergências 
de aprendizagem são avaliadas separadamente 
conforme o NSE, raça e gênero dos alunos e tam-
bém por meio de recortes que relacionam os três 
itens, formando diversos subgrupos.
“Os problemas de aprendizado no ensino fun-
damental constituem uma barreira para o acesso 
a níveis mais altos de ensino. Proficiência menor 
de alunos pretos e pardos ou com NSE baixo os 
coloca em situação desvantajosa para seguir a 
trajetória escolar”, considera Maria Teresa Gon-
zaga Alves, professora do Departamento de Ciên-
cias Aplicadas à Educação (Decae) da UFMG e 
coordenadora do Nupede. A pesquisadora ex-
plica que, ao analisar os dados de cinco edições 
da Prova Brasil, foram identificados avanços na 
proficiência dos anos iniciais do ensino funda-
mental. Porém, os grupos sociais mais favorecidos 
foram os que progrediram. Maria Teresa escla-
rece que, com a expansão do ensino básico, as 
desigualdades que antes afetavam mais acentua-
damente o acesso e a progressão escolar vêm se 
revelando, agora, pelas desigualdades crescentes 
de aprendizado. 
Ao avaliar as diferenças de aprendizagem se-
gundo o sexo dos alunos, a pesquisa identificou 
que, em leitura, tanto no 5º quanto no 9º ano, 
as médias melhoraram. No entanto, as meninas 
atingiram proficiências melhores e as diferenças 
aumentaram em relação aos níveis dos meninos. 
Distância de 
aprendizagem 
entre alguns 
grupos de 
alunos pode 
chegar a três 
anos de 
escolarização 
escolas Reverendo 
urbano (no alto), em 
são miguel paulista, e 
Fernão dias paes, em 
pinheiros (acima), 
são paulo: alunos 
tendem a ter médiaspiores em regiões 
mais pobres
Em matemática, as médias também se elevaram, 
mas, nesse caso, os meninos aprenderam mais. 
Em relação às diferenças de raça, o estudo ava-
liou que os estudantes autodeclarados pretos 
melhoraram a proficiência. Entretanto, apresen-
taram pior desempenho se comparados aos alu-
nos brancos ou pardos. Além disso, a diferença 
de aprendizagem entre pardos e pretos é menor 
em relação às divergências entre brancos e pretos. 
A pesquisa mostra ainda que estudantes pretos, 
mesmo frequentando a mesma série de alunos 
brancos, aprenderam o equivalente a um ano a 
menos de educação formal. 
As maiores disparidades foram identificadas 
em relação ao NSE. A média geral de aprendi-
zagem aumentou, mas os alunos de perfil so-
cioeconômico baixo não apresentaram variações 
expressivas em suas notas. Nesse contexto, um 
dos dados mais significativos pode ser observa-
do em 2013 no 5º ano, tanto nas provas de leitura 
quanto nas de matemática. Nessa etapa, os alu-
nos com NSE baixo apresentaram desvantagem 
equivalente a mais de dois anos de aprendizado, 
se comparados a estudantes com NSE alto. 
Ao cruzar os três critérios (gênero, raça e NSE), 
o estudo identificou os grupos em que as diferen-
ças são mais aparentes. No gráfico que mede os 
resultados em leitura, a grande diferença apare-
ce entre meninas brancas com NSE alto (5º gru-
po) e meninos pretos com NSE baixo (1º grupo). 
Observa-se que, no 5º ano, a distância entre esses 
dois grupos extremos cresceu de 2005 a 2013. 
No gráfico que mostra a aprendizagem em ma-
temática (página 19), a diferença maior emerge 
entre meninos brancos com NSE alto e meninas 
pretas com NSE baixo. A pesquisa identificou 
que alunos matriculados na mesma série, mas 
diferentes em relação ao sexo, à cor e ao NSE, 
podem apresentar diferenças de aprendizagem 
superiores a três anos. 
DifErEnças municipais
O estudo da UFMG também procurou mensurar 
a equidade entre grupos sociais nas escolas con-
forme os municípios. Maria Teresa, da UFMG, 
esclarece que, em uma situação de equidade edu-
cacional, os efeitos de características associadas 
à exclusão social, como perfil socioeconômico 
baixo, sexo feminino e cor preta, deveriam ser 
iguais ou próximos de zero nos níveis de apren-
dizagem. “Para a proficiência em matemática, 
não encontramos municípios em que os alunos 
de cor preta e os de cor branca têm resultados 
médios equitativos”, destaca Maria Teresa. De 
acordo com ela, em Salvador, o efeito da cor na 
aprendizagem é menos desigual. Porém, as mé-
dias gerais dos alunos são baixas, o que significa 
que a equidade existe em uma situação de apren-
dizagem insatisfatória para todos os grupos. 
Sobre essa segunda parte da pesquisa, Jo-
sé Francisco Soares conta que os níveis de apren-
dizagem das cidades foram classificados em bá-
sico, adequado e avançado e que em Teresina 
(PI) as diferenças de aprendizagem são menores, 
porém o nível dos alunos fica abaixo do básico. 
Em Florianópolis a média geral subiu, mas os 
negros aprenderam menos. “As desigualdades 
educacionais são diferentes em cada parte do fot
o
s 
lé
o
 R
a
m
o
s 
c
h
a
v
e
s 
il
u
st
r
a
ç
ã
o
 a
u
g
u
st
o
 z
a
m
b
o
n
a
t
o
fontE nupede /uFmg
prova Brasil mede evolução do desempenho 
média geral dos alunos subiu 20 pontos, o que equivale ao aprendizado de cerca de um ano escolar
lEitura 
5o ano
matEmática 
5o ano
lEitura 
9o ano
matEmática 
9o ano
nota 
máxima
500
250
0
17
3
,3
3 2
2
4
,1
1
17
3
,7
0 2
2
8
,8
9
18
1,
3
5 2
3
8
,0
3
18
7,
3
7 2
3
8
,8
8
19
1,
6
4
2
3
9
,3
7
18
0
,5
9 2
3
9
,5
1
19
1,
16 2
4
0
,4
6
2
0
1,
5
3
2
4
1,
2
0
2
0
6
,3
0
2
4
5
,1
9
2
0
7,
2
5
2
4
3
,8
7
2
0
0
5
2
0
0
7
2
0
0
9
2
0
11
2
0
13
2
0
0
5
2
0
0
7
2
0
0
9
2
0
11
2
0
13
2
0
0
5
2
0
0
7
2
0
0
9
2
0
11
2
0
13
pEsQuisa fapEsp 264 | 21
2
0
0
5
2
0
0
7
2
0
0
9
2
0
11
2
0
13
Ed
iç
õe
s 
da
 p
ro
va
 B
ra
si
l (
an
o)
22 | FEVErEiro DE 2018
país. Um tipo especialmente perverso é a dis-
paridade observada em cidades cuja média de 
desempenho é alta, mas determinados grupos 
aprendem menos”, observa. 
Arnaldo Mont’Alvão, pesquisador do Instituto 
de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj) e da Univer-
sidade do Estado de Iowa, nos Estados Unidos, 
sugere algumas justificativas para explicar esse 
panorama. Segundo ele, à medida que os sistemas 
educacionais se expandem, as desigualdades se 
deslocam vertical e horizontalmente. Quando o 
acesso à educação primária se torna universal, as 
desigualdades se deslocam para o nível imedia-
tamente superior, o secundário, criando garga-
los que impedem a passagem de diversos jovens 
para esse nível escolar. O pesquisador explica 
que no Brasil isso acontece porque, enquanto a 
educação fundamental está quase universalizada, 
no ensino médio as vagas são mais escassas, de 
maneira que ocorre uma competição por ocupar 
os lugares disponíveis, processo que privilegia 
alunos com melhores desempenhos. “Usamos o 
conceito de estratificação vertical para discutir a 
forma como as desigualdades afetam as sucessivas 
transições entre pontos do sistema educacional”, 
diz Mont’Alvão. 
A segunda explicação apresentada se relacio-
na ao fato de que, conforme determinado nível 
escolar atinge a universalidade, novos caminhos 
se abrem para assegurar que alguns estudantes 
continuem com vantagens na competição pelas 
melhores vagas. “Famílias dos estratos socioe-
conômicos mais altos procuram resguardar para 
seus filhos os caminhos do sistema educacional 
que trarão maiores retornos social e econômico”, 
diz o pesquisador, lembrando que esse fenômeno 
é conhecido por estratificação horizontal. 
No artigo “A dimensão vertical e horizontal da 
estratificação educacional”, publicado em 2016 
na Revista Teoria e Cultura, do Instituto de Ciên-
cias Humanas da Universidade Federal de Juiz 
de Fora, Mont’Alvão recorda que os estudantes 
que completam o ensino médio e avançam para 
o superior precisam escolher o tipo de institui-
ção e a área educacional que pretendem cursar. 
De acordo com ele, essas escolhas são condicio-
nadas socialmente, de modo que estudantes dos 
estratos socioeconômicos mais altos têm vanta-
gens de acesso às instituições mais prestigiadas 
e a campos educacionais com maior retorno so-
cioeconômico. Mont’Alvão identifica uma dinâ-
mica similar na educação básica, quando algumas 
famílias com melhores níveis socioeconômicos 
buscam garantir vagas para seus filhos nas escolas 
mais bem conceituadas nas avaliações do MEC. 
Amélia Cristina Abreu Artes, pesquisadora do 
Departamento de Pesquisas Educacionais da Fun-
dação Carlos Chagas (FCC), de São Paulo, afirma 
que, ao universalizar a educação pública, o Brasil 
passou a atender estudantes negros e de camadas 
populares que possuem menos familiaridade com 
uma cultura valorizada pela escola, motivo que 
pode explicar parcialmente o aumento das desi-
gualdades de aprendizagem. “A escola pública não 
está preparada para lidar com a diversidade de 
alunos e considerar as diferentes bagagens inte-
lectuais e culturais que crianças e jovens trazem 
ao chegar ao ambiente escolar”, avalia.
EstuDo DE caso 
O trabalho desenvolvido pelos professores da 
UFMG se insere em um campo metodológico 
de pesquisas educacionais que procura avaliar 
as desigualdades escolares quantitativamente, 
baseando-se nas respostas de questionáriosque 
medem o desempenho de grupos de estudantes e 
escolas. Outra metodologia utilizada na área tem 
caráter qualitativo e utiliza entrevistas, observa-
ção participante e outras técnicas para entender 
significados e redes de relações que permeiam 
o processo escolar. Por meio do conhecimento 
de contextos específicos, esses estudos buscam 
entender a realidade global do sistema educa-
cional brasileiro.
Entre 2011 e 2013, uma pesquisa procurou ava-
liar como os níveis de vulnerabilidade social dos 
territórios afetam a distribuição de oportunidades 
educacionais, com a finalidade de explicar par-
te das dinâmicas que se refletem em avaliações 
amplas como a Prova Brasil. Para isso, se ateve a 
escolas na subprefeitura de São Miguel Paulista, 
alunos em 
laboratório da 
e. m. tancredo 
neves, em ubatuba 
(sp): em escolas 
com espaços 
educacionais 
adequados, o risco 
de exclusão diminui
pEsQuisa fapEsp 264 | 23
distrito da região leste do município de São Paulo 
que abriga cerca de 250 mil habitantes. Por meio 
de mapas georreferenciados que mostravam a 
localização das instituições e os índices de po-
breza da área, o estudo “Educação em territórios 
de alta vulnerabilidade social” identificou que 
nas regiões mais pobres do bairro os resultados 
globais das escolas eram os mais baixos. Para en-
tender os motivos dessa dinâmica, os pesquisa-
dores percorreram cinco escolas localizadas em 
áreas centrais e periféricas do bairro. O estudo 
foi financiado pela Fundação Tide Setubal e pe-
la FAPESP, com coordenação técnica do Centro 
de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e 
Ação Comunitária (Cenpec) e apoio da Fundação 
Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para 
a Infância (Unicef ).
Mauricio Ernica, professor do Departamento 
de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte 
(Delart) da Faculdade de Educação da Universi-
dade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesqui-
sador da equipe, conta que uma das conclusões 
do estudo é que escolas em regiões vulneráveis 
estão mais isoladas de outros serviços públicos e 
com frequência funcionam como a única presen-
ça do estado na região. Segundo exemplo dado 
pelo pesquisador, nessas áreas, as mães levam os 
filhos para a escola não apenas para estudar, mas 
para ter outras demandas sociais atendidas, co-
mo acesso aos serviços de saúde. “Um conjunto 
de problemas deságua nessas instituições. Nelas, 
sempre há um funcionário deslocado, fazendo 
encaminhamento de crianças para outros servi-
ços. Assim, a instituição passa a ter seu funcio-
namento afetado”, analisa Ernica. 
O economista e demógrafo Haroldo Torres, 
membro do Conselho Consultivo da Fundação 
Tide Setubal, desenvolveu uma pesquisa no Cen-
tro de Estudos da Metrópole (CEM) entre 2006 
e 2009 e identificou que professores com melhor 
formação e mais experiência trabalhavam em es-
colas centrais da cidade de São Paulo, enquanto 
instituições na periferia costumavam abrigar do-
centes temporários ou substitutos. “Muitos des-
ses profissionais, nos anos seguintes, solicitavam 
mudança de escola, o que desfavorece o desen-
volvimento de um projeto pedagógico”, relata. 
Boas práticas na Escola
Maria Teresa, da UFMG, afirma que os dados da 
Prova Brasil sugerem que escolas nas quais ques-
tões de liderança administrativa e pedagógica 
estão mais bem resolvidas, em que professores, 
alunos e famílias participam de processos de to-
mada de decisões, que possuem menos problemas 
de recursos humanos, onde os espaços educacio-
nais são adequados, com recursos audiovisuais e 
de informática, os alunos têm menor risco de ex-
clusão e mais chance de estar no nível adequado 
de ensino. A pesquisadora chegou às conclusões 
a partir de um estudo realizado em 2016 com fi-
nanciamento da Organização das Nações Unidas 
para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
 Outras práticas que permitiriam reduzir 
a desigualdade na educação básica, segundo 
Mont’Alvão, seriam investir no desenvolvimen-
to de escolas de tempo integral com atividades 
diversificadas. “Mais integração da escola com 
equipes de saúde, além de políticas contra a dis-
criminação racial, também seria eficaz”, analisa. 
Alessio Costa Lima, presi-
dente da União Nacional dos 
Dirigentes da Educação Públi-
ca Municipal (Undime) e diri-
gente municipal em Alto Santo, 
no Ceará, lembra que em 1997 
mais de 40% dos alunos que 
concluíam o ensino fundamen-
tal no estado não sabiam ler e 
escrever. Para reverter a situa-
ção, foram colocadas em prática 
políticas públicas duradouras 
que envolveram a formação de 
professores, o desenvolvimento 
de material didático centrado 
nas dificuldades de alfabetização 
dos estudantes, os investimentos 
em educação infantil e a cria-
ção de recursos para controlar 
a frequência dos alunos. Além disso, o estado 
passou a identificar as 150 escolas com melho-
res e piores desempenhos. As instituições com 
melhores resultados apadrinham aquelas com 
performances negativas para ajudá-las a sanar 
problemas de ensino e, no ano seguinte, recebem 
uma premiação em dinheiro caso as piores esco-
las melhorem seus indicadores. “Instituições em 
cidades distantes dos centros urbanos tendem 
a apresentar maiores dificuldades e com esse 
sistema fazemos com que escolas privilegiadas 
sejam corresponsáveis por melhorar a educação 
no estado”, relata. Como resultado das ações, 
Lima afirma que hoje 80% dos alunos do estado 
aprendem a ler e escrever já no segundo ano do 
ensino fundamental. n
projeto
educação em territórios de alta vulnerabilidade social de grandes 
centros urbanos (nº 10/20245-0); Modalidade auxílio à pesquisa 
– Regular; Pesquisadora responsável maria alice setubal (cenpec); 
Investimento R$ 43.806,95.
artigos científicos 
alves, m. t. g. et al. desigualdades educacionais no ensino funda-
mental de 2005 a 2013: hiato entre grupos sociais. revista Brasileira 
de sociologia. v. 4, p. 49-81. 2016. 
mont´alvÃo, a. a dimensão vertical e horizontal da estratificação 
educacional. revista teoria e cultura. p. 13-20. 2016. 
éRnIca, m. e batIsta, a. a. g. a escola, a metrópole e a vizinhança 
vulnerável. outros temas. v. 42, n. 146, p. 640-66. mai./ago. 2012. lé
o
 R
a
m
o
s 
c
h
a
v
e
s
atividades 
pedagógicas 
diversificadas 
permitem 
melhorar os 
níveis de 
aprendizagem

Outros materiais