Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
USOS (FUNÇÕES) DA LINGUAGEM Estão ligadas diretamente aos elementos da comunicação, segundo Roman Jakobson. A cada elemento uma função: 1) Função Emotiva (ou Expressiva): centrada no emissor, voltada para ele próprio e seus sentimentos. Caracteriza-se pelo fato de expressar emoções e ocorre com maior frequência em textos poéticos, onde o aspecto subjetivo predomina. Ex.: Um acusado, em seu depoimento, usa, geralmente, de um modo de falar marcadamente subjetivo, carregado dos pronomes eu, me, mim, minha(s), meu(s). Linguagem do advogado de defesa quando, no Júri, apela para o fato de que a condenação vai ultrapassar a pessoa do condenado e atingir outras pessoas inocentes. Linguagem do advogado ao exprimir o estado emocional do emissor da mensagem perante seu pleito. “Vi uma estrela tão alta Vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo Na minha vida vazia.” (Manuel Bandeira) Um indivíduo ao tentar martelar um prego, acerta o próprio dedo e profere um palavrão. Um locutor narrando uma partida entre Santa Cruz e Sport não a fará numa entonação sonolenta, já que sua tarefa também é passar a emoção da atuação tricolor, por exemplo. Nas frases: ‘ele saiu de casa’ e ‘o canalha abandonou o lar’, a segunda é certamente mais emotiva já que reflete um envolvimento do falante com a situação. 2) Função Conativa (ou Apelativa): centrada no receptor, procura-se atuar sobre o destinatário da mensagem levando-o a uma mudança de comportamento. E isto pode acontecer por intermédio de uma ordem, um apelo, uma sugestão, uma súplica. Serve para atrair a atenção do receptor e influenciá-lo a receber a mensagem. Ex.: Pelo amor de Deus, me ajude aqui com estes livros! Rápido! Eu não estou aguentando o peso! O nome conativa é um termo relacionado ao verbo latino conari, que significa promover, suscitar, provocar estímulos. Esse discurso apresenta duas vertentes: a exortativa e a autoritária (imperativa). A autoritária é típica do discurso jurídico, por exemplo ou mesmo da comunicação dentro de um Hospital quando deve-se obedecer a uma hierarquia; basta uma olhada no Código Penal e encontramos: “intime-se”, “afixe-se e cumpra-se”, “revogam-se as disposições em contrário”, “arquive-se”, etc. Além de comum a lei é, por igual, ‘obrigatória, imperativa’. Ela ordena e não exorta (jubeat non suadeat). Na comunicação dentro de um Hospital encontramos, por exemplo, as normas e rotinas do Serviço de Nutrição e Dietética que abusam de verbos no infinitivo indicando ordens ou atribuições a serem cumpridas: 3) Função Referencial (Informativa ou Denotativa): centrada na terceira CAPÍTULO III DAS ATRIBUIÇÕES DO PESSOAL SEÇÃO I DA COORDENAÇÃO DO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA Art. 6º - À coordenação de nutrição compete: I. Implantar e acompanhar a execução de procedimentos previstos no Manual de Boas Praticas do S.N.D. (MBP/SND); II. Colaborar com as atividades de fiscalização profissional e sanitária; III. Participar da elaboração de projetos de construção e/ou reforma da área física do S.N.D; IV. Colaborar na execução dos programas de nutrição, e de pesquisas científicas e de estágios; V. Elaborar escalas de serviço e fazer remanejamento de pessoal, de acordo com as necessidades do S.N.D.; VI. Implementar controle de plantões, como trocas, substituições, quantidades de acordo com necessidade do serviço; VII. Controlar manutenção de equipamentos e utensílios, assim como aquisição dos mesmos; VIII. Avaliar qualidade e quantidade das atividades dos servidores do S.N.D.; IX. Promover a divulgação da profissão de Nutricionista, atendendo ao Código de Ética Profissional; X. Fazer reuniões periódicas para avaliação das atividades desenvolvidas no Serviço; XI. Colaborar com os demais Serviços participando das reuniões e atividades afins; XII. Planejar, orientar e desenvolver programas e treinamentos, em parceria com os setores responsáveis, para os funcionários do S.N.D.; XIII. Participar de Processos de Padronização proposta pela Diretoria Técnica Assistencial; XIV. Apresentar à Diretoria Técnica Assistencial Relatórios periódicos de atividades e estatísticas do S.N.D.; XV. Cumprir e fazer cumprir: Ordens de Serviço, Portarias e Regulamento expedidos pelo Diretor do Hospital. Fonte: Normas e Rotinas do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital Getúlio Vargas – Teresina (PI) 2012 pessoa, faz com que a mensagem se dirija, primordialmente, para o contexto. Predomina quando há um interesse do emissor de informar sobre a realidade. Tem intenção de apenas transmitir a mensagem, de modo claro e objetivo, sem admitir mais de uma interpretação, empregando palavras no sentido denotativo. Ex.: Uma bula de remédio; Textos jornalísticos; Textos científicos, técnicos e didáticos; Documentos e correspondências oficiais. Obs. A função referencial traduz contextos que independem do valor de verdade. Exemplo: “A atual rainha da Áustria é canhota.” Aqui, envolve-se a análise de uma certa experiência mental e traz conceitos que podemos compreender graças à nossa competência de falantes, não sendo necessário que se julgue se ela é verdadeira ou falsa na realidade: A Áustria tem rainha ? e se tem, ela é canhota ? Na linguagem da nutrição faz-se uso muitas vezes da função referencial aquando da citação de protocolos, conceitos e legislação própria. Em outras palavras, a linguagem que circula no cotidiano dos locais de trabalho do profissional em nutrição é totalmente compreendida, dentro da situação vivida, pelos próprios nutricionistas que estão inseridos nesse cotidiano, mas, se retirada desse contexto, fica de difícil entendimento por se afastar de uma compreensão mais ampla. Vejamos o exemplo abaixo: A nutricionista Regina, fiscal do contrato de uma grande empresa com uma terceirizada no serviço de alimentação coletiva, ao ver o chão do refeitório sujo, exigiu da nutricionista da contratada que o mesmo fosse mopeado imediatamente. Ivo Luís, nutricionista de um determinado hospital, registrou no prontuário de um paciente que o mesmo evoluiu com a dieta, encontrando-se em condições de deambular. O chefe de cozinha Severino Rodrigues desenvolveu um fundo à base de peixe após a salga e convidou a nutricionista Ana Júlia para uma degustação, onde a mesma constatou a necessidade de uma redução. 4) Função Fática: centrada no canal da comunicação, é a função pela qual o emissor procura manter o contato com o destinatário, prolongando uma comunicação ou testando o canal. Mantém assim, uma relação com a função conativa, pois visa a uma participação do receptor. Empregamos uma linguagem para iniciar, prolongar, verificar, testar ou interromper a própria comunicação. Ex.: Veja bem; olha aqui; Alô? Quem está falando? Fórmulas de cortesia, cumprimentos e saudações. Na gravação de secretárias eletrônicas de empresas: enquanto você aguarda para ser atendido, ouve, do outro lado da linha, fala do tipo “Aguarde um instante. Sua ligação é muito importante para nós.” (Vai saber o que é ”um instante?) Boa parte da comunicação realizada por meio digital, em suportes como o MSN, o Facebook e o telefone móvel, tende apenas a travar e preservar contatos entre as pessoas. 5) Função Metalinguística: centrada no código, é a função pela qual o falante utiliza-se da linguagem não para falar das coisas mas da própria linguagem tomando-a como objeto da descrição. Ex.: Textos didáticos. Legendas. Explicações dadaspelo professor de Português sobre questões da própria língua. A linguagem contábil centrada em dicionário, nos termos do Conselho Federal e vocabulários específicos. 6) Função Poética: centrada na mensagem. As propriedades físicas e fonéticas dos significantes se privilegiam, passando a ter importância que nos enunciados referenciais se concede ao plano de significados. Ex.:“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse... O Sol, o celestial girassol, esmorece... E as cantilenas de serenos sons amenos Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos”. (Eugênio de Castro) "Auriverde pendão de minha terra que a brisa do Brasil beija e balança." (Castro Alves) “Sino de Belém, pelos que inda vêm! Sino de Belém bate bem-bem-bem. Sino da Paixão, pelos que lá vão! Sino da Paixão bate bão-bão-bão.” (Manuel Bandeira) ATIVIDADES 01. Imagine-se um situação concreta: você vai sair e precisa deixar um bilhete a seu marido (ou a sua esposa) pedindo que ele (ou ela) recolha a roupa do varal quando estiver seca. Na hora de compor o texto, é provável que você ponha mais ênfase no assunto tratado – isto é, na necessidade de recolher a roupa – do que em qualquer outro elemento da comunicação. Você pode até começar estabelecendo algum tipo de contato com o destinatário (“Bom dia, amor!”, por exemplo), mas dificilmente escreverá linhas e linhas perguntando como a pessoa está, expressando todos seu amor por ela ou, ainda, discorrendo sobre as vantagens dos bilhetes para a comunicação entre os cônjuges. Tampouco é de se esperar que dedique grande atenção à elaboração da mensagem em si – você não vai procurar palavras que rimem, por exemplo. Em resumo, sua atenção deverá estar concentrada em um dos seis elementos da comunicação, qual é? E segundo essa hipótese a linguagem exercerá qual tipo de função? (texto adaptado de: GUMARÃES, TELMA. Comunicação e Linguagem. São Paulo: Pearson, 2012. ps. 6 e 7) _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 02. Indique a função exercida pela linguagem em cada um dos fragmentos: - Tente ignorar essa vizinha fofoqueira. - Tome todo o remédio - E aí? Tudo bem? - Está dando para enxergar daí? - Professor, o que quer dizer conotação? - Sete anos de pastor Jacó servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prêmio pretendia. (Camões) - Vem pra Caixa você também! - Tomara que o professor não venha hoje, eu não fiz o trabalho e nem estudei. - À noite, vemos a Lua no céu. - Que lua maravilhosa!... - Inspira-me, ó lua! - A Lua é o satélite natural da Terra. - “... a lua era um desparrame de prata”.(Jorge Amado) - Alô, alô, astronautas na Lua, vocês conseguem me ouvir? - A Minha Filha (Vendo-a dormir) Que alma intacta e delicada! Que argila pura e mimosa! É a estrela d'alvorada Dentro dum BOTÃO DE ROSA! E, enquanto dormes tranquila, Vejo o divino esplendor Da alma a sair da argila, Da estrela a sair da flor! Anjos, no azul inocente, SOBRE o teu hálito leve Desdobram candidamente, Em pálio, as asas de neve... E eu, urze má das encostas, Eu sinto o dever sagrado De te beijar— de mãos postas! De te abençoar — ajoelhado! (Guerra Junqueiro, in 'Poesias Dispersas'- Lisboa) *Algumas frases foram retiradas de: Martins e Zilberknop. Português Instrumental. São Paulo: Atlas, 2010. 03. Interprete o que quis dizer o famoso escritor português Luís Vaz de Camões, no excerto do soneto ‘Sete Anos de Pastor’ acima. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 04. O cartaz, geralmente encontrado em hospitais, em que se representa uma mulher fazendo, com o dedo indicador levado à altura da boca, o gesto alusivo à ideia de silêncio, sugere o uso predominante da função ___________________ Mas o fato de se utilizar a imagem de uma mulher com vestes típicas de uma enfermeira, para produzir um cartaz endereçado a hospitais, sugere também as funções ________________ (as roupas brancas estão de acordo com a “etiqueta” de um hospital) e __________________ (a imagem carrega carga positiva, pois a figura da enfermeira lembra atenção cuidado, tolerância etc., para com os pacientes). 05. Leia o texto abaixo e informe qual função da linguagem predomina no mesmo: “Descasque as macaxeiras, lave-as muito bem, coloque para cozinhar até desmanchar, mantendo um pouco de água ou umidade do cozimento. Remova todos os fios e as partes duras. Coloque em uma panela a manteiga de garrafa, o sal e a pimenta-do-reino moída na hora. Misture bem. Bata no liquidificador até ficar cremosa e lisa, sem grumos. Resfrie e guarde em refrigeração.” Resposta: _______________________
Compartilhar