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Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará SEDUC-PA Professor Classe I - História Edital Nº 01/2018 – SEAD, 19 de Março de 2018 MR111-2018 DADOS DA OBRA Título da obra: Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará - SEDUC-PA Cargo: Professor Classe I - História (Baseado no Edital Nº 01/2018 – Sead, 19 de Março de 2018) • Conhecimentos Específicos Gestão de Conteúdos Emanuela Amaral de Souza Autora Jaqueline Lima Diagramação/ Editoração Eletrônica Elaine Cristina Igor de Oliveira Camila Lopes Thais Regis Produção Editoral Suelen Domenica Pereira Julia Antoneli Karoline Dourado Capa Joel Ferreira dos Santos APRESENTAÇÃO CURSO ONLINE PARABÉNS! ESTE É O PASSAPORTE PARA SUA APROVAÇÃO. A Nova Concursos tem um único propósito: mudar a vida das pessoas. Vamos ajudar você a alcançar o tão desejado cargo público. Nossos livros são elaborados por professores que atuam na área de Concursos Públicos. Assim a matéria é organizada de forma que otimize o tempo do candidato. 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Ex: FV054-18 PASSO 3 Pronto! Você já pode acessar os conteúdos online. SUMÁRIO Conhecimentos Específicos Aspectos metodológicos do ensino da história. ......................................................................................................................................... 01 A história como conhecimento humano. ...................................................................................................................................................... 05 Formação do espaço social brasileiro a apropriação da terra, .............................................................................................................. 07 A apropriação da América pelos Europeus, .................................................................................................................................................. 10 Formação da sociedade brasileira,.................................................................................................................................................................... 14 A organização administrativa, ............................................................................................................................................................................ 19 A organização econômica e as formas de trabalho, .................................................................................................................................. 21 A sociedade colonial, .............................................................................................................................................................................................27 Expansão territorial e das descobertas das minas, ..................................................................................................................................... 30 Influência das ideologias literais na história do Brasil e movimentos político-sociais no Final do Século XVIII,............... 33 Transformações ocorridas na Europa no início do Séc. XIX e a vinda da Corte portuguesa para o Brasil. .......................... 35 Formação do espaço social brasileiro independente: ............................................................................................................................... 41 A colonização da América ....................................................................................................................................................................................46 Sistemas coloniais e mercantilismo, ................................................................................................................................................................. 50 Movimentos da independência, ........................................................................................................................................................................ 52 A organização do Estado Brasileiro .................................................................................................................................................................. 50 Movimentos populares e agitações político-sociais nas províncias, ................................................................................................... 56 Mudanças no panorama mundial e transformações socioeconômicas no Brasil. ......................................................................... 61 O Brasil no século XX, ............................................................................................................................................................................................62 A Segunda república e a crise mundial, uma experiência democrática no Brasil .......................................................................... 65 Deposição de Vargas e a era JK, ........................................................................................................................................................................ 66 O golpe de 1964 e a abertura democrática. ................................................................................................................................................. 75 O Estado nacional brasileiro na América Latina. ......................................................................................................................................... 80 O Estado brasileiro atual, ......................................................................................................................................................................................82 Os Estados Nacionais na América Latina (semelhanças e diferenças), ............................................................................................... 87 A formação dos Estados Nacionais liberais nos séculos XVIII e XIX nas Américas. ....................................................................... 89 A modernização dos Estados Republicanos na América Latina - Brasil, Argentina, México, Paraguai, Uruguai e Chile, 91 A crise dos Estados republicanos na América Latina e suas manifestações..................................................................................... 99 As novas relações econômicas e políticas ...................................................................................................................................................101 A Globalização e o Mercosul .............................................................................................................................................................................109 As manifestações culturais na América Latina - ontem e hoje. ...........................................................................................................112 A construção do Brasil contemporâneo na ordem internacional: ......................................................................................................118Transição do Feudalismo para o Capitalismo, ............................................................................................................................................122 Potências europeias e a disputa pelas regiões produtoras de matéria prima,..............................................................................124 Consolidação do Capitalismo monopolista nos EUA e a crise mundial do liberalismo, ............................................................126 Os conflitos entre as grandes potências e a Consolidação do Capitalismo monopolista no Brasil, ....................................129 Governos militares na América e o processo de redemocratização .................................................................................................133 Desenvolvimento brasileiro na atualidade, .................................................................................................................................................135 O Brasil no contexto do mundo atual. .........................................................................................................................................................140 Questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem. ..........................................................................................................147 Ética profissional. ...................................................................................................................................................................................................151 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História Aspectos metodológicos do ensino da história. ......................................................................................................................................... 01 A história como conhecimento humano. ...................................................................................................................................................... 05 Formação do espaço social brasileiro a apropriação da terra, .............................................................................................................. 07 A apropriação da América pelos Europeus, .................................................................................................................................................. 10 Formação da sociedade brasileira,.................................................................................................................................................................... 14 A organização administrativa, ............................................................................................................................................................................ 19 A organização econômica e as formas de trabalho, .................................................................................................................................. 21 A sociedade colonial, .............................................................................................................................................................................................27 Expansão territorial e das descobertas das minas, ..................................................................................................................................... 30 Influência das ideologias literais na história do Brasil e movimentos político-sociais no Final do Século XVIII,............... 33 Transformações ocorridas na Europa no início do Séc. XIX e a vinda da Corte portuguesa para o Brasil. .......................... 35 Formação do espaço social brasileiro independente: ............................................................................................................................... 41 A colonização da América ....................................................................................................................................................................................46 Sistemas coloniais e mercantilismo, ................................................................................................................................................................. 50 Movimentos da independência, ........................................................................................................................................................................ 52 A organização do Estado Brasileiro .................................................................................................................................................................. 50 Movimentos populares e agitações político-sociais nas províncias, ................................................................................................... 56 Mudanças no panorama mundial e transformações socioeconômicas no Brasil. ......................................................................... 61 O Brasil no século XX, ............................................................................................................................................................................................62 A Segunda república e a crise mundial, uma experiência democrática no Brasil .......................................................................... 65 Deposição de Vargas e a era JK, ........................................................................................................................................................................ 66 O golpe de 1964 e a abertura democrática. ................................................................................................................................................. 75 O Estado nacional brasileiro na América Latina. ......................................................................................................................................... 80 O Estado brasileiro atual, ......................................................................................................................................................................................82 Os Estados Nacionais na América Latina (semelhanças e diferenças), ............................................................................................... 87 A formação dos Estados Nacionais liberais nos séculos XVIII e XIX nas Américas. ....................................................................... 89 A modernização dos Estados Republicanos na América Latina - Brasil, Argentina, México, Paraguai, Uruguai e Chile, 91 A crise dos Estados republicanos na América Latina e suas manifestações..................................................................................... 99 As novas relações econômicas e políticas ...................................................................................................................................................101 A Globalização e o Mercosul .............................................................................................................................................................................109 As manifestações culturais na América Latina - ontem e hoje. ...........................................................................................................112 A construção do Brasil contemporâneo na ordem internacional: ......................................................................................................118 Transição do Feudalismo para o Capitalismo, ............................................................................................................................................122 Potências europeias e a disputa pelas regiões produtoras de matéria prima,..............................................................................124 Consolidação do Capitalismo monopolista nos EUA e a crise mundial do liberalismo, ............................................................126 Os conflitos entre as grandes potências e a Consolidação do Capitalismomonopolista no Brasil, ....................................129 Governos militares na América e o processo de redemocratização .................................................................................................133 Desenvolvimento brasileiro na atualidade, .................................................................................................................................................135 O Brasil no contexto do mundo atual. .........................................................................................................................................................140 Questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem. ..........................................................................................................147 Ética profissional. ...................................................................................................................................................................................................151 1 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História ASPECTOS METODOLÓGICOS DO ENSINO DA HISTÓRIA História é um componente curricular obrigatório no ensino fundamental, porém, nem sempre desenvolvido de modo adequado, considerando sua importância para a formação dos indivíduos e de modo que possibilitem a construção de conhecimentos significativos. Em sua traje- tória histórica, esta disciplina foi negligenciada em alguns momentos como no período militar, quando as discipli- nas História e Geografia foram substituídas por Estudos Sociais, esvaziando seus conteúdos e objetivos, e ainda hoje são desconsideradas ou desenvolvidas de maneira inadequada por muitos professores, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. Essa área do conhecimento tem muito a contribuir para a formação dos indivíduos, pois ela nos permite com- preender as transformações socioeconômicas, políticas e culturais que estamos vivenciando, desenvolver valores e construir identidades. Vivemos em uma época de indivi- dualismo, consumismo, intolerância e conflitos diversos e os conhecimentos da História nos instigam ao questiona- mento e à reflexão sobre a realidade, reavaliando ações e projetando o futuro, e principalmente, nos propiciam o conhecimento de si e do outro, o que contribui para a construção de identidades, o respeito e a convivência mais solidária entre as pessoas. Paulino José Orso (2008) considera que o ensino de Língua Portuguesa e de Matemática vem assumindo o papel de primazia na educação brasileira, relegando ao ensino de História um papel secundário. Considera que segundo o senso comum ou o mundo das ideias o enten- dimento é que o fato de saberem ler e escrever, por si só, já daria condições aos alunos de conhecerem a História. Na educação tradicional o ensino de História se apresen- tava como uma sequência cronológica de fatos heroicos e destaques de personagens ilustres. Dessa forma, o ensino de História contribui para a manutenção da ordem social e do estado de exploração a que as camadas populares são submetidas pelo grande capital, e assim, o ensino de História perde seu potencial transformador na medida que a sociedade atual vive em um presente contínuo, e vivendo apenas o presente, ela tende a reproduzir a con- dição atual. Daí resulta a importância do ensino de História e do professor de História. O professor de História contribui para que a sociedade ao libertar seus alunos deste pre- sente contínuo. Essa libertação se dá mostrando-lhes as mudanças, as contradições sociais e, dessa forma, fazen- do compreender e expressar a realidade. Diante disso, os alunos poderão sentir-se responsáveis e como agentes de mudança da realidade social, ao compreender o ser humano como um ser histórico que se realiza no tempo ao produzir a sua existência. Nos últimos anos muito se discutiu sobre o ensino de História no Brasil. Os enfoques são variados e, em geral, abordam ques- tões ligadas aos aspectos teóricometodológicos, à forma- ção de professores, à história do ensino de História, ao livro didático de História e à História e cultura africana e afro- descendente. O resultado dessas discussões, em grande medida, já pode ser sentido no cotidiano escolar, frente a implantação das propostas curriculares estaduais e muni- cipais. No conjunto da produção no campo do ensino de História percebemos, em uma primeira análise, a preocu- pação em estudar questões relacionadas ao “que ensinar” e ao “como ensinar”. São preocupações justificativas, pois os estudos históricos, ao longo dos anos, vêm se tornando cada vez mais complexos em que novos objetos de estu- do se alargaram e novos métodos de abordagem histórica foram propostos. Atualmente, alguns consideram a Histó- ria como uma ciência fragmentada, com um vasto campo de atuação, como a História Econômica, a História Social e a História das Mentalidades. Essas modificações foram vislumbradas, sobretudo após 1929, com a Escola dos An- nales, precursora da História Nova, que, desde meados do século XX, vem disputando a hegemonia com outras con- cepções na produção historiográfica. Os pesquisadores da Nova História não questionavam somente os objetos de estudo, mas também as fontes e os métodos de abordagem. Os documentos, antes unanimi- dade na abordagem positivista, passaram a ser questiona- dos e interrogados com a finalidade de testar sua veraci- dade. O Paraná é uma das unidades da federação que se destaca em relação ao número de grupos de estudo de- dicados à temática do ensino de História. O mesmo autor alerta para o fato de que muito do que é produzido acaba sendo diluído em periódicos e em eventos, ou são textos não publicados pela escassez de espaços de publicação. No Brasil o ensino de História tem recebido influência dos debates acadêmicos acerca dos aspectos teórico-me- todológicos. Como já mencionado, a discussão teórica so- bre os métodos da pesquisa histórica pode ser considera- da uma importante contribuição do ensino de História. As discussões sobre os pressupostos teórico-metodológicos da ciência histórica e, consequentemente, o seu ensino na Educação Básica, em geral, se direciona à análise de ques- tões filosóficas e ou epistemológicas sobre a história, sobre o seu objeto e sobre o fazer científico do historiador. Per- cebemos que, de modo geral, essas discussões tendem a opor “idealismo” e “materialismo”, “realismo” e “ceticismo”, “racionalismo” e “irracionalismo”, “objetivismo” e “subje- tivismo”. Nesse item buscamos apresentar elementos so- bre as principais correntes ou concepções historiográficas, buscando compreender as mudanças e as permanências na escrita da história. Apresenta-se alguns elementos sobre as três principais concepções da História: o marxismo, o posi- tivismo e o presentismo. A concepção que é denominada como presentismo apresenta alguns elementos de uma concepção que outros autores costumam chamar de fenomenologia e, especifica- mente na produção do conhecimento histórico, tem sido mais comumente conhecida como Nova História ou, de acordo com Ciro Flamarion Cardoso, “paradigma pós-mo- derno”. Devido às diversas denominações para esta última 2 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História concepção e levando em consideração a complexidade das discussões sobre as mesmas, adotamos, neste texto, a terminologia “Nova História”, pois tem sido a mais uti- lizada nos estudos historiográficos. Nosso objetivo neste texto é apresentar elementos das principais concepções historiográficas, pois compreendemos que estas discus- sões têm certa influência na história que é ensinada nas escolas da educação básica. O apresentam no primeiro momento alguns elementos das concepções positivista e marxistas. Em um segundo momento apresentamos ele- mentos da Nova história. POSITIVISMO E MATERIALISMOHISTÓRICO DIALÉTICO A Nova História e o marxismo buscam a superação dos pressupostos que caracterizam o positivismo, pois “Sua maior contribuição à história foi a introdução de conceitos, métodos e modelos das ciências naturais na in- vestigação social, e a aplicação à história, conforme pare- cessem adequadas, das descobertas nas ciências naturais. O positivismo pode ser considerado como uma res- posta à filosofia estritamente idealista, como é o caso da de Kant e de Hegel. Percebemos que o positivismo se co- loca oposto à especulação pura ao fundamentar seu ob- jeto nos fatos e na experiência. Assim, nessa concepção, a experiência é a fonte e o critério de verdade, ou seja, nada pode ser considerado para além da experiência, dos fatos concretos. O objetivo do conhecimento científico é descobrir a regularidade dos fenômenos e como as leis se manifestam. Nessa concepção filosófica não há espaço para a subjetividade, ou seja, rejeita todo o conhecimen- to metafísico e recomendava a neutralidade do professor pesquisador. Por isso as pesquisas positivistas são, em geral, quantitativas, ou seja, utilizam-se largamente da matemática para estabelecer quantificação, mensuração, inferência estatística e probabilidade. A temática do debate epistemológico da produção do conhecimento histórico pode ser abordada a partir de dois grupos: o paradigma iluminista ou moderno e o paradigma pós-moderno. No paradigma iluminista ou moderno estão inseridas as abordagens marxistas e as da Escola dos Annales, no período de 1929-1969, pois o autor considera que, após esse período, a revista sofreu modificações substanciais e passou a orientar-se para os enfoques do paradigma pós-moderno, abordagens que, durante décadas, se opuseram com bastante sucesso ao historicismo e ao método estritamente hermenêutico. Os integrantes desses grupos tiveram o domínio, mas não total, nos estudos históricos entre os anos de 1950 a 1968. A produção do conhecimento histórico dessas duas vertentes se caracterizava por serem racionais e cientí- ficas, e são oriundas de tendências filosóficas do século XVIII e XIX. Trata-se de uma história analítica, estrutural e explicativa e apresenta-se como modelos macro-históri- cos e teorizantes. Passamos, neste momento, a apresen- tar alguns elementos do materialismo histórico-dialético e sua contribuição para o desenvolvimento da ciência e da história. O pensamento dialético entende o mundo como um conjunto de transformações, um processo de gênese e de desaparecimento. Na concepção dialética não há espaço para o absoluto e o sagrado. Eterno é somente o processo de surgir e de perecer. Essa dialética é compreendida como a ciência das leis gerais do movimento do mundo material e do pensamento. A partir dessa concepção, o desenvolvi- mento histórico acontece em espiral e em oposição à visão linear e mecânica do positivismo. Para a concepção dialéti- ca, a história é marcada por saltos, catástrofes, revoluções, transformações quantitativas e qualitativas. No marxismo pretende-se reunir, ao mesmo tempo, os enfoques genético e estrutural das sociedades, ou seja, ter uma visão da totalidade e da dinâmica da sociedade. Não se trata de ver a floresta e esquecer as árvores (como é constantemente acusada), pois, como demonstrou Marx no método da economia política, o real e o imediato fazem parte do mundo das aparências, e que a essência do objeto pode ser alcançada fazendo-se o dessecamento do objeto, pois este é o conjunto de múltiplos determinantes. Verifi- camos nesta concepção, o enfoque na base material, ou seja, ao se produzir conhecimento deve-se considerar que a vida não é determinada pela consciência, e sim que a vida é que determina a consciência, tal como podemos observar na clássica de Marx e Engels, em “A ideologia Alémã”: Po- de-se referir a consciência, a religião e tudo o que se quiser como distinção entre os homens e os animais; porém, esta distinção só começa a existir quando os homens iniciam a produção dos seus meios de vida, passo em frente que é consequência da sua organização corporal. Ao produzirem os seus meios de existência, os homens produzem indire- tamente a sua própria vida material. Para compreender como os homens produzem sua exis- tência é necessário compreender como transformam a natu- reza por meio do trabalho e, a partir de então, compreender como se constituem as relações sociais, como, a partir produ- ção material dos homens, acontecem mudanças na sua forma de pensar e na sua cultura. Como exprimem a sua vida, assim os indivíduos são. Aquilo que eles são coincide, portanto, com a sua produção, com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são dependentes, por- tanto, das condições materiais de sua produção. Para nos entendermos como sujeitos históricos e sociais é necessário somarmos nossas experiências individuais com a dos outros em diferentes espaços e tempos. Isso se dá com as relações que estabelecemos com as ações dos homens em di- versos tempos, seja no presente, no passado ou futuro. somos forçados a começar constatando que o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver para poder “fazer história”. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cum- prido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos. 3 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História No conhecimento baseado no MHD, a relação sujeito/ objeto é baseada num modelo diferente tanto daquele em que o sujeito do conhecimento se apresenta como passivo, limitado a refletir a realidade exterior, quanto do que limita ao sujeito o aspecto ativo no processo do conhecimento. Partindo desse pressuposto, entendemos que, no caso do ensino de História, o passado é visto como algo que não pode ser modificado, no entanto ocorrem transformações na forma como o entendemos, baseados nas condições dadas em determinado momento. Assim, a teoria marxista do conhecimento caracteriza uma vinculação epistemoló- gica dialética entre o passado e o presente. A NOVA HISTÓRIA Uma das concepções que, por ora, vem aglutinando muitos adeptos é a Nova História, considerada a concepção hegemônica do momento, influenciando inclusive na formu- lação de currículos. Sua origem está ligada à fundação dos Annales d’histoire économique et sociale, pelos historiado- res Marc Bloch e Lucien Febvre, em 1929. Em torno dessa revista se formou um movimento chamado de Escola dos Annales. A trajetória da revista geralmente é dividida em três gerações. Na primeira geração, a revista esteve sob o comando de Marc Bloch e de Lucien Febvre. Na segunda esteve sob o comando de Fernand Braudeul, autor do clás- sico Mediterrâneo. Na terceira geração, um dos principais expoentes foi o medievalista Jacques Le Goff. Esta última é considerada a mais diversificada das gerações, e se identifica como a que mais se aproxima do paradigma pós-moderno. A Nova História é uma história à francesa, assim como a Nouvelle Cuisine (Nova Cozinha) ou a Nouvelle Vague(- Nova Onda, Nova Moda), sendo um movimento que se consolidou na França e acabou influenciando pesquisado- res de vários países, inclusive do Brasil. Muito se tem discu- tido sobre esse movimento historiográfico, porém o que se tem de consenso é apenas a sua heterogeneidade. Desde as suas origens, as abordagens de temáticas e os objetivos variaram bastante. Na primeirageração o principal objetivo era fazer a contraposição à historiografia tradicional, com críticas for- tes à temática política. Com abordagens inclinadas para os temas econômicos e sociais, a primeira geração da Revista propunha a superação da história narrativa cronológica, aquela voltada para biografias e temas políticos. A inclina- ção dos Annales pela temática econômica segue a tendên- cia dos estudos nas ciências sociais, pois a década de 1920 foi dominada por “temas econômicos”. Os historiadores, ao discutirem o conceito de história, definiram-na como a ciência dos homens no tempo. As- sim, portanto, o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça”. Além de ter a humanidade como objeto de estudo, a história nesta perspectiva tem a temporalidade como uma das principais categorias de análise. A segunda geração di- recionou as pesquisas ao determinismo geográfico e eco- nômico. Seus principais representantes foram acusados de tirar o povo da história, pois concentravam sua atenção nas estruturas geográficas e nas tendências econômicas. Outra marca dessa geração foi a preocupação com os níveis de temporalidade. O estabelecimento do conceito de níveis de temporalidade inaugurado pelos Annales foi uma das suas principais marcas, que permitiu, inclusive, a aproximação e o diálogo com as ciências sociais. Sinteti- za-se assim as principais características das primeiras ge- rações como: (I) a crença no caráter científico da história; (II) debate crítico com as ciências sociais, sem reconhecer fronteiras entre elas; (III) ambição de formular uma sínte- se global do social; (IV) abandono da história centrada em fatos isolados e também abertura para aspectos coletivos; (V) ênfase menor nas fontes escritas; (VI) níveis de tempo- ralidades; (VII) preocupação com o espaço; e (VIII) história vista como ciência do passado e do presente ao mesmo tempo. A terceira geração se baseia no discurso em oposi- ção às teorias globais. Acreditam que determinadas teorias resolvem alguns problemas, mas que não podem resolver todos os males do mundo. Uma das preocupações desta geração são os procedi- mentos da pesquisa histórica, ou seja, com a forma e não como o conteúdo do conhecimento produzido. Esse movi- mento historiográfico é o resultado da trajetória individual de intelectuais da geração de 1968, que, desiludidos, aban- donaram as esperanças da transformação social global e assumiram frentes de luta ou reivindicações (como movi- mento gay, movimento feminista, movimento ambientalis- ta, movimento negro e movimento indígena). Há um dese- jo, na Nova História, de ser a porta-voz do homem comum, das ruas, das massas inarticuladas, e preferem enfocar as minorias discriminadas às maiorias exploradas. Para se entender o que é ciência não se deve olhar para as teorias ou as suas descobertas e nem para o que os seus apologistas dizem sobre elas, mas se deve ver o que os seus praticantes fazem. Consideramos que isso consti- tua a valorização da forma sobre o conteúdo. Por isso, os historiadores adeptos da Nova História são acusados de desleixo quanto às questões teórico-metodológicas. Esse movimento está unido apenas naquilo a que se opõe, e cita seis características ou elementos da história positivista que sofre a oposição da Nova História: (I) oposição aos temas estritamente políticos; (II) narração dos acontecimentos; (III) história de personagens ilustres; (IV) história baseada apenas em documentos oficiais ou escritos; (V) a limitação dos questionamentos feitos às fontes; e (VI) a objetividade da história. Como podemos perceber, existem diferenças entre as primeiras gerações dos Annales e a terceira. Es- sas diferenças podem ser mais facilmente visualizadas na discussão sobre a objetividade da história e no seu caráter cientifico. Enquanto nas primeiras gerações se tem a crença no caráter científico, a terceira geração prefere o relativis- mo e o individualismo. Outro aspecto que pode ser levado em consideração é a preocupação das primeiras gerações em escrever uma história total e, na terceira, percebemos a valorização do microscópico, do fragmentário e do par- ticular como expressão do seu ideal de história. É notó- ria a diferença de postura entre as gerações dos Annales, verificando mais semelhanças das primeiras gerações com os pressupostos marxistas do que com a terceira geração. Devemos alertar, no entanto, que essa é uma aproximação 4 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História que deve ser feita com cautela, pois são grupos que, ape- sar de terem algumas semelhanças, apresentam preocu- pações distintas, e pode ser um risco reunir num mesmo grupo concepções historiográficas com objetos e objeti- vos tão distantes. Estas correntes teórico-metodológicas estão presen- tes no cotidiano escolar do ensino da História. Não se- ria novidade encontrar no processo de educativo formal modos de ensinar ancorados nas características positivis- ta: objetividade, método e aproximação da metodologia das ciências naturais. A concepção dialética da História e modo de ensinar através da essência do materialismo histórico dialético também faz parte do cotidiano das es- colas. Há professores que se preocupam com o modo de compreensão do estudante. Porque uma vez que não se pode modificar o passado, entretanto, pode-se mudar a forma de olhar e compreender ele. Portanto, a crítica ao modelo de sociedade construída em torno capital faz parte do método do ensino da História. Por fim, a Nova História também continua a deixar suas marcas no processo de ensino da História, pois não é difícil professores de História afirmarem e reafirmarem que os alunos precisam ser autônomos para compreen- der o passado da humanidade, portanto conversas so- bre fatos históricos sem rigor científico são comuns entre aqueles que adotam esse modelo como concepção para o ensino da História. Mesmo quando levamos em consi- deração os nossos limites em relação ao domínio e à ma- turidade nas discussões teóricas sobre a história e a his- toriografia da educação, podemos apontar alguns indí- cios do debate teórico-metodológico atual. Dessa forma, percebemos que o MHD, concepção teórica que embasa muitas propostas curriculares, como é o caso do currícu- lo de Cascavel, historicamente pode ser compreendido como uma concepção contra hegemônica. Desde mea- dos do século XIX essa perspectiva vem disputando he- gemonia com outras perspectivas como os pensadores positivistas. Esse período foi caracterizado pela crença no pro- gresso, no desenvolvimento científico e nos valores libe- rais. A partir de meados do século XX, na hegemonia do debate historiográfico podemos identificar o movimen- to de renovação, e sua primazia pela forma, localização, fragmentação e especialização das pesquisas, denomina- da de Nova História. No contexto das discussões teórico- -metodológicas sobre o ensino de História, entendemos que elas são históricas, isto é, transformam-se de acor- do com a realidade econômica, política e social dada em cada momento. Por exemplo, no século XIX, na Europa, com advento da massificação da escola pública, dos mo- vimentos de laicização e de formação dos Estados nacio- nais, a história nasce como disciplina autônoma nos cur- rículos escolares, tendo como principal objeto o ideário de Estado-nação. No Brasil, o ensino de História foi um espaço privilegiado de embates entre o poder religioso e o conhecimento laico. Nesse período, coube ao ensino de História assegurar a formação dos cidadãos unidos por laços de identidade nacional com forte conotação positivista. A partir da década de 1960, a educação na chamada fase tecnicista. Segundo Cerri e Ferreira (2012), dentro dessa corrente pedagógica era perfeitamente possível formar um professorde história sem, no entanto, for- mar um historiador. O professor deveria dominar algu- mas técnicas de aprendizagem e utilizar instrumentos que tornariam as aulas mais prazerosas. Os objetivos a serem alcançados eram a memorização e a capacitação dos alunos para reconhecerem as respostas corretas. O ensino de História, nessa perspectiva, entendia o pas- sado como algo pronto e acabado, não sendo passível de interpretação ou de contestação. O professor não necessitaria conhecer os métodos de pesquisa históri- ca, nem conhecer os aspectos teórico-metodológicos da história. Desse modo, percebemos como o conhecimento histórico é essencial para a formação integral do indi- víduo, pois como afirma Moreira aprender a ser sujei- to da história, adquirir a consciência do mundo como o ser-estardo-homem-no-mundo e saber praticar esta consciência em prol da construção de um mundo cada vez mais humano, de modo que por meio de seus atos o homem o construa como um mundo cada vez mais para si mesmo, isso dá certo sobretudo quando se co- meça desde pequeno. Aprender a ser sujeito da história e adquirir cons- ciência de si e do mundo são princípios que devem nor- tear a educação como um todo, mas que têm no estu- do da História seus principais mecanismos. E é preciso que esses princípios orientem a educação em todos os níveis de ensino, ou seja, da educação infantil ao ensi- no superior, e em especial nos cursos de formação de professores, pois os conhecimentos históricos e geo- gráficos fundamentam sua identidade pessoal e pro- fissional, que para muitos teóricos são indissociáveis, possibilitam a compreensão da realidade e contribuem para o desenvolvimento de valores e atitudes como o respeito às diferenças, que é um requisito indispensável ao fazer docente. O futuro professor precisa dominar os principais conceitos de História, compreender os fundamentos teórico-metodológicos de seu ensino e desenvolver ha- bilidades relacionadas a essas áreas do conhecimento, buscando fundamentar uma ação pedagógica reflexiva e transformadora. Texto adaptado de SANTOS. C. A. D; SOUSA. M. P. D. 5 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História A HISTÓRIA COMO CONHECIMENTO HUMANO. O conhecimento humano é uma das principais ferramentas que o homem utiliza para a obtenção de meios para sua sobrevivência e interação com o seus semelhantes, o homem ao longo da história foi evoluin- do e desenvolvendo suas habilidades técnicas que foi sendo criada por meio da necessidade e por meio da duvida esses dois motivos principais fizeram o homem buscar soluções para seus problemas diários. Começando com a utilização do pouco conhecimento de que possuía no inicio da pré-história um das conquistas que este animal racional obteve foi o domínio da técni- ca de instrumentos para a caça logo descobriu meios para dominar o fogo, a criação da fala e o agrupamento desses em comunidades tribais e por fim a criação de grupos que formaram as primeiras civilizações que fez o homem evo- luir mais rapidamente com suas técnicas e com o conheci- mento acumulado por suas tentativas diárias. Com o surgimento dessas civilizações o homem obtém o co- nhecimento técnico através de duas principais premissas o desen- volvimento de novas técnicas para a sobrevivência e para a conquista de povos com o constante aperfeiçoamento de armas para a guerra. A ciência aparece não como a conhecemos, mas como algo intimamente ligada as necessidades de cada civiliza- ção, com o fim da antiguidade. O homem volta-se para a ligação com o divino na era medieval, mas a busca para a canalização da vida faz com que os nobres busquem moti- vos para a vida espiritual na conquista de Jerusalém, fazen- do renascer uma nova concepção econômica para a Europa através desses e através dos que ficava a margem da so- ciedade feudal surgindo ai a burguesia, o aparecimento do conhecimento econômico e do acumulo de riquezas. Com o fim da idade medieval surge ai um movimento que permeia e influência no conhecimento técnico cientifi- co que é o surgimento do renascimento em diversas áreas do saber humano, construindo uma nova concepção para a vida humana e para o conhecimento educacional. A idade moderna trás consigo um avanço tecnológico nunca visto antes com o surgimento da revolução industrial do aumento da produtividade de bens materiais e de consumi- dores e com o aumento de uma nova perspectiva de mundo Por fim chegamos a um mundo que se encontra em um lato nível técnico, porém com a perda de sua mora- lidade em vários setores da vida humana a velha tradicio- nalidade foi vencida após a segunda guerra mundial onde as tecnologias e o aumento do capitalismo sem escrúpulo dominou as relações sociais, levando os jovens e crianças a receber um conhecimento pronto e acabado sem motivos suficientes para um avanço de novos conhecimentos. Daí a importância de estudarmos a história: por meio da investigação e da interpretação dos acontecimentos históricos somos capazes de compreender as experiências dos povos que viveram antes do nosso tempo e espaço históricos. “Mas, afinal, para que serve a História?“ Esta pergunta, tantas vezes ouvida, lida e escrita por muitos de nós, não encerra nenhum enigma, ou mistério, mas remete-nos para uma, mais do que necessária, explicação. Muitos confundem História com Cronologia, outros deambulam à volta do tempo e do passado e poucos se con- centram na sua verdadeira dimensão social e humana. Sim, porque a verdadeira essência da ciência histórica é o social e o humano, interligados, evidentemente. Senão vejamos! Para haver ciência e a História é uma ciência tem que haver alguém que faça esse estudo, o cientista. Ora este é um Ho- mem, um ser humano. Até aqui tudo bem, portanto! O seu objeto de estudo é os homens em sociedade, não apenas o homem, pois assim outras ciências se afirma- riam como detentoras exclusivas desse desiderato, dessa grande aspiração. A Medicina estuda algo de Humano, a Psicologia também e qualquer outra ciência social tem o Homem debaixo do seu campo de estudo. Falta, portanto, à História a dimensão temporal. A di- mensão tempo surge-nos, assim, associada à ciência que o estuda, a Cronologia. Ciência dos Homens no Tempo, para simplificar. Mas será assim tão simples? A História, ou melhor, o seu conceito provém da língua grega antiga e quer dizer Inquérito, Investigação. E o que é o Historiador senão um Investigador? Do passado, do pas- sado do Homem, das sociedades humanas! Surge-nos então outra abordagem para explicar para que sirva a História. E, desta vez, teremos que dizer que ela serve para nos conhecermos. A História serve para o Autoconhecimento Humano. Como assim? É que se não tivéssemos conhecimento do passado, do que passou há pouco tempo ou do que aconteceu há muito, muito tempo, não seria possível entender lá muito bem o presente, isto é, os tempos atuais. Isto porque se o Presente é o que é, se o Presente é o que vivemos nos nossos dias, então pode- mos dizer que o que tornou possível esse tipo de Presente que hoje temos é porque o passado assim o determinou. Por outra palavra o Passado (o que já passou) permitiu o Presente que hoje temos. O Presente que é o Presente que temos e vivemos surge-nos, pois, como a continuação de um Passado. E um Passado diferente do que foi levaria, ne- cessariamente, a um Presente diferente. 6 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História Vamos dar um exemplo muito fácil de entender: a nossa existência, a nossa vida. Ela só é possível porque algo no passado permitiu que assim fosse. Se o teu pai não tivesse conhecido a tua mãe, e vice-versa, tu não estarias cá. Aquele que é o teu pai e aquela que á a tua mãe, se não se tivessem conhecido, tornaria impossível a tua existência. O Presente é construídopor vários e múltiplos intérpretes e suas ações. Se esses intérpretes não se cruzassem, por várias e múltiplas razões, o Pre- sente seria diferente daquele que é. O Passado Humano e o Presente Humano, podemos dizer, são novelos de qualquer fio. E isso implica continuidade. Então, temos que a História se faz com alguém (o His- toriador, o investigador do passado) que estuda outro al- guém (os Homens do Passado) pondo assim em evidência a dimensão humana da ciência histórica. Mas é o passado que interessa e não tanto o presente (embora este nunca possa ser ignorado pelo historiador) e a respetiva liga- ção e articulação entre ambos. Mas tudo isto não ficaria concluído se ignorássemos a importância das fontes his- tóricas, isto é, das provas materiais e não materiais, dos vestígios e dos testemunhos do passado. Daquilo a que o historiador tem que se agarrar. E para quê? Para conhecer e compreender o Passado humano e a conexão que este tem com o Presente. Tudo o que nos fale dos homens do passado interessa ao historiador: os monumentos, os objetos de uso diário dos nossos antepassados, as obras de arte, as cartas, os contos e os provérbios que passaram de geração em geração. O conhecimento histórico é registrado, como vimos anteriormente, pelo historiador. O trabalho do historia- dor é interpretar os fatos históricos ou as experiências humanas com a ajuda dos registros e vestígios que fo- ram deixados por um povo em um determinado local e tempo. Em história, há tempos de curta, média e longa du- ração. Um acontecimento de curta duração é aquele que chega imediatamente ao conhecimento das pessoas, por exemplo, um jogo de futebol, o lançamento de um livro, uma greve, a inauguração de uma obra pública. Um acontecimento de média duração não é normal- mente percebido de imediato, mas é possível ser reconheci- do pelos contemporâneos, isto é, pelas pessoas que viveram na mesma época. Por exemplo, hoje é comum ouvirmos falar da moda dos anos 80, da crise do Oriente Médio ou das últimas décadas. Já um acontecimento de longa duração só é reve- lado por meio do estudo histórico, por que não pode ser percebido pelos contemporâneos. Por exemplo: fatos ocorridos na Grécia Antiga ou no Antigo Egito. Reflexões sobre a História nas civilizações antigas No mundo ocidental europeu, a História como disci- plina do conhecimento humano desenvolveu-se desde os primeiros momentos da formação da civilização grega. Os poemas atribuídos a Homero, a Ilíada e a Odisseia, são expressões de uma perspectiva histórica dos povos gregos. Posteriormente, surgiram formas mais elaboradas de escrever a História do povo grego, principalmente com Tucídides e Heródoto. Essa perspectiva histórica foi também adotada pelos romanos para entender o pro- cesso de formação histórica de sua própria civilização. Diversos historiadores consideram ainda que o ju- daísmo, o cristianismo e o islamismo são religiões eminentemente históricas, pois fundaram seus preceitos a partir de diversos fatos do passado e na passagem do tempo, além da relação do homem com o seu deus nesse processo. Perspectiva histórica do mundo ocidental Ainda na perspectiva histórica do mundo oci- dental, formulada principalmente pelos europeus, a História foi dividida em algumas partes, tendo como marcos divisórios fatos históricos ocorridos nesse continente ou a ele muito proximamente relaciona- dos. Nesse sentido, a principal divisão ocorre entre a Pré-História e a História. A Pré-História define-se como o período da histó- ria da humanidade em que ainda não havia o conhe- cimento da escrita, sendo a História o período a partir do qual o homem desenvolveu a capacidade de se ex- pressar também nessa forma. Tal perspectiva carrega uma forma de entender o mundo a partir das próprias concepções de um povo ou de povos que comparti- lham traços sociais comuns. Essa perspectiva é denominada de etnocentris- mo e seria ela que levaria a considerar a transmis- são oral dos conhecimentos históricos como um estágio de desenvolvimento das civilizações ante- rior ao estágio em que se desenvolveu a capacida- de de se comunicar através da escrita. Divisões da História Dentro do que é considerado como História, há ainda outras divisões, e se as seguimos no Brasil, isso se deve ao fato de termos como um dos componentes de nossa formação social os europeus. As divisões da História são: Idade Antiga, ou Antiguidade; Idade Mé- dia; Idade Moderna; e Idade Contemporânea. Buscando acompanhar essa forma de divisão da História da humanidade (e algumas outras), o site Bra- sil Escola criou um espaço dedicado à História Geral, onde é oferecido a estudantes e demais leitores tex- tos que possibilitam o conhecimento dessa disciplina do conhecimento humano. Outros espaços foram criados para que um apro- fundamento histórico mais específico fosse realizado. São os casos das disciplinas de História do Brasil e de História da América, buscando contemplar a ne- cessidade de se conhecer melhor o país e o conti- nente nos quais estamos inseridos. Texto adaptado de FERREIRA. B. 7 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História FORMAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL BRASILEIRO A APROPRIAÇÃO DA TERRA, A relação do homem com a natureza é tão antiga que dificilmente conseguiríamos delimitá-la temporalmente com fiel exatidão. O que se sabe é que no início desse pro- cesso o homem tinha uma relação de dependência com a natureza. Vivia em determinadas áreas, onde pescava, ca- çava e coletava frutos até a sua escassez, quando procurava outros ambientes onde pudesse se estabelecer novamente. Viviam em grupos nômades. Tudo isso permaneceu até a chamada Revolução Neolítica, momento em que o homem começa a trabalhar a terra, sedentarizando-se e, a partir de então, inverter a lógica de outrora, isto é, o homem já não era determinado pela natureza, mas começava a reu- nir instrumentos capazes de propiciarem a interferência na natureza, adaptando-a a suas necessidades. O início da sujeição da terra pela sociedade marca o princípio do primeiro processo civilizatório, desencadeado a 10 mil anos, a princípio na Mesopotâmia e Egito. Esse processo se intensificou a medida que o trabalho humano foi sendo subsidiado pela modernização da técnica, que potencializou a capacidade da sociedade de produzir es- paço. Ressalta-se que o espaço pode ser compreendido de diversas formas, a depender do contexto no qual se insere o indivíduo que empreende o esforço para conceituá-lo. Mas nele não se pode deixar de introduzir a ação huma- na mediada pelo trabalho, quando o chamamos de espa- ço geográfico. Dessa forma, é de grande relevância que a apropriação conceitual do espaço considere a sua locali- zação espaço-temporal, pois não podemos compreendê- -lo enquanto totalidade em movimento desconsiderando a dimensão espaço-tempo. Nesse sentido, o espaço que aqui consideramos é o espaço geográfico, é um fator da evolução social, sendo, dessa forma, também o espaço so- cial, pois é produto da história humana. Nesse entendimento, o espaço vincula-se à dinâmica social, englobando em seu seio o espaço de todos os tem- pos, enquanto categoria permanente, e o espaço de nossos tempos, enquanto categoria histórica. Assim, o espaço de todos os tempos é o espaço total, e o espaço de nossos tempos é o agora, que está inserido no primeiro. Enquanto produto, o espaço também é responsável pela sua própria produção. Produz-se e reproduz-se no decorrer do pro- cesso histórico, se constituindo em uma realidade objeti- va. Para expressá-lo [o espaço] em termos mais concretos, sempre que a sociedade (a totalidade social) sofre uma mu- dança, as formas ou objetos geográficos (tanto os novos como os velhos) assumem novas funções; a totalidade da mutação cria uma nova organização espacial.Essa reflexão nos permite observar que as abordagens que tomam como objeto o campo, muitas vezes, negligenciam as interações sociais, o cotidiano, etc. em nome do aspecto produtivo. Essa questão aconteceu no passado com o fornecimento de matéria prima para a consolidação da agroindústria e acontece hoje, haja vista que a produção advinda do cam- po ainda é responsável pelos saldos positivos na balança comercial do Brasil. É nessa ótica que se percebe as trans- formações ocorridas no campo brasileiro, onde as deman- das sociais determinaram a construção e transformação do espaço rural em urbano, isto é, a influência da cidade no campo, propiciada, sobretudo, pelo modo de produção ca- pitalista, se intensifica de forma progressiva. Esse processo justifica o crescente interesse da geogra- fia em produzir análises referentes à tendência da assimila- ção do espaço rural pelo urbano no Brasil. Na verdade, as modificações ocorridas nos países centrais são percebidas hoje no espaço rural brasileiro, que tem sido estudado à luz dessas transformações. Nessa perspectiva, esse trabalho pretendeu, através de um estudo de cunho bibliográfico, explicitar de que objetivou analisar a apropriação do es- paço pela sociedade e como essa apropriação gera trans- formações no espaço rural brasileiro, já que ela a apropria- ção se apresenta em uma perspectiva homogeneizadora e imposta pela penetração do capitalismo no campo e sua crescente necessidade de qualificação profissional, pois a introdução de novas tecnologias no ambiente rural impõe uma especialização de mão de obra. A relevância do trabalho está na emergencial neces- sidade de produções reflexivas, versando sobre a atual caracterização do campo brasileiro, considerando as inte- rações sócias espaciais que se concretizam no bojo das es- pecificidades das relações de produção, que hora se apre- sentam nas imbricações entre o rural e o urbano no Brasil. Essas reflexões potencializarão estudos mais abrangentes sobre as repercussões de processos globais na conjuntura produtiva brasileira. A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO O espaço é construído a partir das demandas da so- ciedade no decorrer de sua própria história, sendo, dessa forma, uma construção social. A forma como cada socie- dade se apropria do espaço é determinada pelo modo de produção que a caracteriza, sendo, assim, um produto his- tórico. O espaço é a natureza mais a sociedade, sendo que a natureza é composta pelas coisas, objetos geográficos, naturais e artificiais. Nessa ótica, as formas espaciais são caracterizadas como processos sociais e estes se configu- ram no espaço. Assim, a produção e reprodução do espaço são ele- mentos indissociáveis, à medida que, mediante o trabalho, a sociedade produz e reproduz o espaço. Por isso, ele é di- nâmico, se consubstanciando na sobreposição dos tempos e espaços históricos. Nenhuma produção, por mais simples que seja, pode ser feita sem que se disponha de meios de trabalho. A partir dessa primeira organização social, o ho- mem se ver obrigado para todo o sempre a prosseguir uma vida em comum, uma existência organizada e “planificada”. A partir dessa ótica, a produção passa a delinear os ritmos e as formas das atividades humanas. Essa produção foi po- tencializada pelo aprofundamento da técnica e propiciou a aceleração da apropriação do meio natural, introduzindo neste a mecanização. Entende-se que “nenhuma socieda- 8 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História de agrícola é capaz de assegurar uma total transformação do espaço em um espaço agrícola radicalmente distinto do espaço natural. Essa transformação centrada no trabalho em articu- lação com a técnica, partiu de tecnologias mais simples como o arado e a enxada até as sofisticadas colheitadeiras existentes atualmente. A partir do século XV, com o surgi- mento dos pilares fundamentais do capitalismo, se define uma nova forma de apropriação do espaço pautada no aumento da produtividade, no consumo e em uma nova forma de delineamento do trabalho, que ficou denominada como divisão internacional do trabalho. A partir de então o homem, cada vez mais monetizado, se transformou em apenas instrumento enquanto mão de obra para viabilizar uma apropriação espacial mais intensa. Assim, a relação sociedade e natureza centraram-se numa visão mecani- cista do mundo, conferindo à natureza o status de fonte de recursos e meio de favorecimento do lucro. Essa visão economicista se concretiza no modo de produção capita- lista, que capitaliza todos os setores de produção, trans- formando-os em fornecedores de capitais para alimentar o sistema e produzir mais valia. Assim, o desenvolvimento das nações pauta-se, nessa ótica, na construção de uma sociedade excludente e injusta, onde impera a ideologia da liberdade e da igualdade. AS MUDANÇAS NO CAMPO Sabemos que a grande dimensão territorial do Brasil sempre fez da produção agrária um potencial vetor para ala 6 qualificada para o trabalho na indústria. O declínio desse ciclo propiciou maior diversificação na base da eco- nomia e principalmente na produção agropecuária. No entanto, o café continuou sendo o principal produto de exportação brasileira, atraindo, dessa forma, maior atenção do governo em relação a injeção de recursos. Fator esse potencializado devido ao poder de influência que as elites cafeeiras detinham junto ao governo da época. Prova disso foi o estabelecimento do Convênio de Taubaté em 1906. A crise mundial de 1929 encontrou a economia bra- sileira bastante fragilizada devido à grande dependência e vulnerabilidade externa. Com isso, ocorre o rompimento do modelo primário-exportador, que era a base da eco- nomia até então e que tinha a agropecuária como setor dinâmico. Assim, as reduções nas exportações brasileiras, já que o café era o principal produto e este entrou em crise, e as necessidades internas do país, favoreceram o desen- volvimento da industrialização. O primeiro momento desse processo de transformação em uma economia urbano-in- dustrial foi denominado de substituição de importações. No contexto da “Revolução Verde”, se desenvolveu no Bra- sil a indústria metalúrgica com vistas à produção de máqui- nas e equipamentos e a indústria química para a produção de agrotóxicos . Outro fator foi que, através da implementação do cré- dito rural, foi estabelecida uma política com o objetivo de modernizar o campo brasileiro. Dessa forma, foi a partir da década de 70 do século XX que o campo brasileiro, efetiva- mente, passou por um processo de modernização. Assim, a inserção da tecnociência no campo serviu para ampliar a produção do país e colocá-lo determinantemente no mer- cado agroexportador, tornando o campo mais dinâmico e transformando suas relações de produção. Toda essa mu- dança de cenário corroborou para a formação dos com- plexos agroindustriais (CAI) e do início da luta pela terra no Brasil, quando surge o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O CAI era um “conjunto dos pro- cessos tecno-econômicos sócio-políticos que envolvem a produção agrícola, o beneficiamento e sua transformação, a produção de bens industriais para a agricultura e os ser- viços financeiros e comerciais correspondentes. Percebe-se também que a relação campo cidade, no âmbito dessas questões, sempre foi de complementarida- de, haja vista que no caso da formação do modelo agroex- portador, era a cidade quem formava os técnicos para esse novo contexto e foi na cidade que se deram as reivindica- ções populares do MST. É importante frisar que os egressos do campo na década de 70 deram origem aos trabalhado- res denominados de bóias-frias. Nessa ótica, o processo de urbanização ultrapassou a dimensão espacial das cidades. Potencializada pela glo- balização, a urbanização penetrou no campo, mudando ocotidiano e possibilitando uma vivência similar à da ci- dade em relação ao consumo que se evidencia, tanto de forma simbólica, como também não-simbólica. Podemos, pois, vislumbrar o rural como “um continnum do urbano do ponto de vista espacial. Foi o urbano que transbordou e o rural que se industrializou. O rural e o urbano podem ser vistos, dessa forma, como um espaço homogêneo, sem distinção entre essas duas categorias, mas com modifica- ções advindas das necessidades de abastecimento de um mercado consumidor amplo e exigente. Esse processo se intensificou derivando “da necessidade de expansão de mercado e da qualificação exigida pelo mercado externo, o maior consumidor dos produtos agrícolas brasileiros”. To- das essas transformações ocorridas no campo não podem ser reduzidas apenas aos aspectos técnicos e econômicos, pois abarcam também profundas modificações na estru- tura social do campo. Estas últimas podem ser justificadas pelo que chama de renda monopolista, pois não é a terra que é comercializada, mas a mercadoria ou serviço advindo de sua produção que ganha fundamental importância, pois o processo de industrialização em sua acepção moderna pressupõe, além da disseminação da técnica, também o aumento da produção e concentração de capital. A terra-matéria perde lugar para a terra-capital, pois não basta mais apenas a propriedade da terra, mas tam- bém torna-se necessário considerar um montante de bens de capital. No bojo dessas transformações, o Estado as- sumiu um papel de agente que possibilita a sustentação e a expansão da capitalização da agricultura que se indus- trializa . Na capacidade de mudança de forma de capital total em capital em geral garantida pelo Estado e posta em prática pelas grandes organizações que operam na agri- cultura, e, nestas condições, na capacidade de acumulação de capitais e de riquezas patrimoniais na agricultura, penso que reside o mecanismo básico que permite compreender a atual forma da agricultura e sua estrutura de classes e 9 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História frações sociais. Por conseguinte, a agricultura é entendida como um espaço da dinâmica do capital industrial e finan- ceiro, visível no processo de industrialização do campo. Observa-se, nesse sentido, que o modo de produção capitalista (MPC) tendencia a atingir todos os setores da produção em seu processo de desenvolvimento, seja no campo ou na cidade. No campo o capitalismo enfrenta o obstáculo da propriedade fundiária como principal ele- mento que se coloca como limitador de sua propagação, pois a terra, não é capital, haja vista que apenas o trabalho produz capital. Assim, a terra constitui mais um instrumen- to para a produção do capital, ao mesmo tempo em que presencia a formação de dois elementos antagônicos: o capitalista e o proprietário de terra. Assim, a produção de capital sob o ponto de vista do modo de produção capi- talista se expressa através do aprofundamento do trabalho assalariado e pelo processo de generalização progressiva por todos os ramos e setores da produção. No processo de expansão do capitalismo, o trabalha- dor se torna um indivíduo livre, inclusive de qualquer pro- priedade, a não ser a sua própria força de trabalho. Então, a relação se dará entre dois indivíduos livres: o trabalhador e o capitalista que lhe compra a força de trabalho e lhe paga um salário por isso. “É uma relação de expropriação baseada numa ilusão a ilusão de não há exploração algu- ma. Dentro do exposto, se percebe que o campo brasilei- ro apresenta uma das maiores concentrações de terras do mundo, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, existe uma grande quantidade de terras devolutas 9 que poderiam amenizar as tensões existentes no país no que tange á distribuição de terras, se estas fossem incorporadas ao processo de reforma agrária. Essa constatação também foi feita por Germani (2006), quando fez uma retrospec- tiva histórica, onde relatou as condições históricas sociais responsáveis pela ocupação e regulamentação do espaço agrário brasileiro, desde o “descobrimento” até o período republicano. As terras, onde habitavam os índios eram des- tituídas de posse, eram, assim, terras livres nas quais era respeitado o regime comunal de propriedade. A ocupação efetiva ocorreu a partir de 1530, com o Regime das Sesma- rias semente do direito agrário brasileiro e a implementa- ção das capitanias hereditárias. Aí já se observou o caráter discriminatório para a doação de terras, haja vista que os menos abastados não tinham direito às doações, estes de- veriam ocupar terras livres ou se dirigirem a outras frentes. Desde esse período, o latifúndio se apresentou como tônica do campo no país. O latifúndio no Brasil nasceu e se desenvolveu ‘sob o signo da violência contra as populações nativas. A escravidão do índio e depois, dos negros vindos da África, foram a base da estrutura de produção, sendo que os africanos foram “a força de trabalho responsável pela implantação de todo o sistema: primeiro os engenhos, depois nas minas de ouro e mais tarde nas fazendas de algodão e café”. A partir de 1822 se disseminou no Brasil a ocupação das terras desocupadas, que acabava se des- dobrando na posse, respaldada, inclusive, pela constituição do Império brasileiro. Essa situação se extinguiu com a Lei de Terras em 1850, que proibia a aquisição de terras de outra forma que não fosse pela compra. A terra se transfor- mou, dessa forma, em uma mercadoria que não estava ao acesso de todos igualitariamente. Na república, onde cada estado brasileiro ficou responsável de regularizar a pos- se de suas terras, permaneceu o favorecimento dos mais abastados, aumentando a concentração de terras e dando origem a uma gama de movimentos sociais de lutas pela terra em todo o país. A colonização do Brasil juntamente com os períodos do Império e da República foram consolidando a organiza- ção da produção e da sociedade, ao mesmo tempo em que em que consolidou a ocupação do território. O fato é que o campo brasileiro, tem sofrido profundamente uma gene- ralização das relações de produção típicas do capitalismo, mediante a diferenciação interna e pela modernização dos latifúndios, que, através da implantação de novas tecnolo- gias, tornam-se empresas rurais que absorvem os campo- neses pobres como trabalhadores assalariados a serviço do capital. Outra questão é a inocuidade das políticas no que tange ao tratamento do agricultor familiar, haja vista que o sistema agropecuário brasileiro é composto por cerca de 85% de estabelecimento familiares, ou seja, as proposições políticas nessa direção acabam favorecendo âmbitos mais complexos mediante a propositura de chamadas de editais destoantes da realidade camponesa. Diante dessa conjuntura, se observa que o campo evidencia o aprofundamento da utilização da técnica ma- ximizada pelo processo da globalização e a utilização de indivíduos cada vez mais qualificados. Sabemos que a eta- pa final do processo produtivo no campo (aquela que é responsável pelo emprego de maior contingente da força de trabalho) permanece em domínios alheios ao agricultor. O processo produtivo foi fracionado em função da neces- sidade tecnológica da indústria. Esse cenário contribui ine- gavelmente para o aumento da produção, mas, por outro lado, intensifica a exploração da mão de obra, veta direito e alimenta a emergência de movimentos sociais de reivin- dicação pela posse da terra. O espaço pode ser percebido como o palco onde as manifestações históricas se apresentam, sendo que esta his- toricidade possui especificidades a depender de que forma os elementos simbólicos materiais e imateriais são conside- rados. O homem se “libertou da natureza” e passou a adap- tá-la às suas necessidades produtivas. Mediante seu traba- lho, o meio naturalé modificado e assume outro significado perante a sociedade: o de meio e não de fim, como outrora. As transformações oriundas da globalização engen- dradas a partir da expansão das fronteiras do comércio no início do século XVI, mas consolidadas com a revolução técnico-científica, possibilita uma nova concepção de vida, onde a informação torna o planeta uma “aldeia global”, onde a idéia de concepção do espaço-tempo assume ou- tros paradigmas. O espaço torna-se indispensável para o prosseguimento da história, pois neste emerge os elemen- tos produtivos e não produtivos necessários para explicar e justificar a lógica de expansão do modo de produção capi- talista. Assim, a divisão internacional do trabalho determi- nou a divisão do mundo em produtores de matéria prima e produtores de produtos industrializados, sob a lógica do pacto colonial. 10 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História É nessa conjuntura que se localiza o Brasil. Com grande extensão territorial e um considerável teor de riquezas naturais, o país se insere no cenário interna- cional como grande fornecedor de matéria prima e consumidor de produtos industrializados. Até a dé- cada de 30, tudo de moderno existente no país tinha origem nas importações. Já no século XX, o Brasil se constituía em um país emergente com uma indústria competitiva no contexto global. Claro que estas carac- terísticas também causaram mudanças sociais, econô- micas e políticas no campo brasileiro, evidenciando a forma como o modo de produção capitalista (MPC) em sua fase monopolista, que apresenta traços típicos como os grandes complexos industriais integrados à produção agropecuária, penetra no campo e sujeita a renda da terra ao capital. É importante perceber que no capitalismo brasileiro, o Estado se modificou con- forme se modificaram os interesses das classes do- minantes, pois, independente do governo ou regime, no MPC o Estado se adéqua à acumulação do capital. As mudanças no campo, possibilitadas pela in- dustrialização, que funcionou como mola propulsora, abarcam também a estrutura social, com a diminuição de trabalhadores autônomos e o aumento de assala- riados. Este último, composto por camponeses pobres que vendem seu trabalho nos complexos agroindus- triais. O que se percebe é que o espaço rural brasi- leiro vincula-se ás necessidades de uma minoria de latifundiários, que detém a posse da terra e ditam as regras do jogo. Quando se observa, por exemplo, a incorporação da região Centro-Oeste ao espaço agrá- rio brasileiro se vê que, na verdade, o Brasil precisava produzir capitais para equilibrar as contas do gover- no através das exportações, e não pela necessidade de implementação de alguma política de desenvol- vimento. Outra questão interessante é como setores mais tradicionais como a mecânica, a química e ra- ções, por dependerem diretamente de políticas cre- ditícias, operam como grupos de pressão favoráveis à modernização do campo brasileiro. Enquanto isso, os agricultores familiares carecem de atenção política para atender às suas reais necessi- dades, relegando-os apenas a uma produção de sub- sistência ou, no máximo, a uma produção marginal no cenário nacional. Em meio a tudo isso, os movimentos de luta pela terra avançam sua atuação, no sentido de pressionar o Estado e tem conseguido dinamizar as políticas concernentes ao tema, bem como ampliar as discussões sobre a reforma agrária no país. Resolver o problema da concentração fundiária no Brasil de- manda ainda muitos embates, pois os obstáculos que ora se impõem se fundamentam no poder das classes mais favorecidas e nos ditames do MPC. Texto adap- tado de SILVA. E. B. D. A APROPRIAÇÃO DA AMÉRICA PELOS EUROPEUS, , O processo de colonização da América Espanhola está imbricado ao novo momento econômico que forja o pe- ríodo moderno. Instigados pela avidez do acúmulo de ca- pital e favorecidos pelo avanço de determinadas técnicas de navegação, os europeus lançam-se aos mares em busca de terras, título e ouro. O cenário de instalação da socie- dade colonial incide sobre a América Indígena. O objetivo deste artigo, portanto, é abordar os mecanismos e com- portamentos desenvolvidos e empreendidos pelo coloni- zador espanhol no desenrolar dos processos de conquista e colonização da América que constituíram a busca pela realização de seus intentos e, por consequência, a base de sua ação colonial. Por fim, será analisado os limites de ação da conquista e colonização espanhola, numa tentativa de compreender como as sociedades indígenas se posiciona- ram durante este processo histórico. Falar em conquista e colonização não é uma tarefa sim- ples. Requer cuidado, uma vez que a relação entre o euro- peu e o indígena neste processo proporcionou um choque cultural entre sociedades estruturadas e organizadas, de valores e perspectivas diferentes. Uma relação pautada por encontros e desencontros. A tarefa de historicizar este fato torna-se mais árdua na medida em que se percebem os equívocos historiográficos que reproduziram o discurso e a visão dos espanhóis, construções que tiveram por finalida- de justificar uma dominação e acabaram por desconsiderar a ótica de outrem. Nos tempos atuais, no entanto, alguns historiado- res têm fixado como ponto de partida em seus estudos a desconstrução de alguns mitos e buscado entender o pro- cesso de conquista a partir do olhar do outro o indígena. Diversas narrativas têm se desenvolvido numa perspectiva que tende a valorizar os índios como sujeitos ativos deste processo histórico, visto que a linha de demarcação que foi imposta pela hegemonia da história dos brancos está sendo transposta. Por esta razão nos propomos a anali- sar os mecanismos e dispositivos utilizados pelos europeus no processo de conquista e colonização da América. En- tretanto, queremos também apresentar os limites da ação colonial, ressaltando aspectos da resistência indígena em diversos âmbitos. A expansão européia e a ocupação da América Do além-mar, vieram os europeus. Para se pensar acer- ca dos homens do período do século XVI que aportaram na América para ocupá-la e colonizá-la, é preciso com- preender a Europa no âmbito das transformações que dão luz à época Moderna. Uma série de acontecimentos são orquestrados na lógica deste período, como o Iluminismo relacionado às novas idéias e apreciação da razão, o Renas- cimento ligado às questões culturais, a Reforma da Igreja arrolada aos aspectos religiosos, e o Mercantilismo movi- 11 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - História mento unido às questões econômicas/metalismo, baseado na centralização daquilo que é mais precioso no território, através de relações intercontinentais. Estes eventos indubi- tavelmente têm sua repercussão nas colônias americanas. Os homens que adentraram as caravelas revelam suas po- sições ocupadas na Europa e sua sede de status e riquezas. A conquista da América é de fato uma tentativa priva- da de banqueiros, mercadores e conquistadores, salvos os casos de Colombo e Magalhães, cujas empreitadas foram custeadas pelo Estado. A Igreja, nesse sentido, esteve pre- sente conjugando interesses comuns aos da Coroa. Em seu diário de bordo, Colombo afirma: “do ouro se faz tesouro, e quem o tem faz o que quiser no mundo e até leva as almas para o Paraíso”. Além de em sua fala estar presente a propagação da fé discurso recorrente é fundamental con- siderar o discurso presente no século XVI, na qual o metal justifica a existência da América para os europeus e reforça a engrenagem do Mercantilismo e de suas práticas. Num contexto extremamente distinto do da Europa, habitavam sociedades indígenas providas de uma complexa organiza- ção política, social, econômica e cultural: a América territó- rio que sequer era chamado deste modo
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