Buscar

Uso do Partograma na Assistência ao Parto

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

REVISANDO O USO DO PARTOGRAMA E SEU PAPEL NAS INDICAÇÕES 
DE CESARIANA INTRAPARTO 
Belo Horizonte 
17 de março de 2015 
2 
TRR80/2015 
NOTA TÉCNICA DE REVISÃO RÁPIDA 
Tema: Revisando o uso do partograma e seu papel nas indicações de cesariana intraparto 
Data: 17/03/2015 
Solicitante: GEAS - Gestão de Atenção à Saúde.
Solicitação: Não se aplica 
Análise: GATS - Grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde.
 
 
3 
 Aspectos epidemiológicos, demográficos e sociais (contexto) 
O modelo de assistência ao nascimento predominante, nas últimas décadas, caracteriza-se pelo uso rotineiro 
de práticas obstétricas que, muitas vezes, são iatrogênicas1. Isso ocorre por não haver benefício clínico 
enquanto se oferecerem riscos adicionais, incluindo, nessa definição, o uso indiscriminado de ocitocina 
sintética durante o trabalho de parto2, a manobra de Kristeller no período expulsivo3, a episiotomia de 
rotina4, a posição de litotomia5e as cesarianas eletivas desnecessárias6–8. 
A preocupação com a adequação do uso da tecnologia na assistência obstétrica é uma tendência mundial 
que se contrapõe a esse modelo. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem recomendado, 
de forma reiterada, a utilização do partograma para o acompanhamento do trabalho de parto.1 
O partograma pode ser visto também como uma ferramenta de incentivo à documentação adequada do 
trabalho de parto, que pode auxiliar na tomada de decisões e reduzir a taxa de intervenções e cirurgias 
desnecessárias, que estão alcançando taxas alarmantes no Brasil, onde mais de 50% dos nascimentos 
ocorrem por via cirúrgica. No setor da Saúde Suplementar, a situação é ainda mais preocupante, pois as 
cesarianas são a via de quase 90% dos nascimentos, e cerca de 80% dessas cirurgias são realizadas de forma 
eletiva, fora do trabalho de parto.9 É sabido que a maior parte dessas cirurgias não tem qualquer indicação 
obstétrica10, nem mesmo relativa, e são, dessa maneira, procedimentos que oferecem riscos desnecessários 
ao binômio materno-fetal.6–8 Por isso, diversas medidas têm sido tomadas para mudar esse cenário, com o 
objetivo de incentivar e promover as boas práticas obstétricas, respaldadas pelas evidências científicas mais 
robustas, o que resultará em aumento da conduta expectante para permitir o início do trabalho de parto, 
especialmente o espontâneo, e em redução das taxas de cesariana, especialmente as eletivas. 
Na assistência ao trabalho de parto, o uso correto do partograma é uma prática que requer treinamento de 
baixa complexidade e tem muito baixo custo, sendo assim uma ferramenta simples e barata, mas que pode 
ter um grande impacto benéfico, especialmente nessa transição de modelos de assistência obstétrica. 
É importante ressaltar que, naturalmente, a assistência obstétrica baseada em evidências não se resume ao 
uso do partograma e inclui uma série de boas práticas que evitam a assistência violenta ou iatrogênica ao 
parto. Nesse contexto, as boas práticas na assistência ao parto requerem um grau maior de treinamento e 
atualização, por meio da educação continuada. De forma essencial, a autonomia do paciente (no caso, da 
parturiente) deve ser respeitada como o sustentáculo primordial, o pilar bioético central, da humanização da 
assistência à saúde e ao parto.11 
 Descrição da tecnologia a ser avaliada 
O partograma é uma representação gráfica do trabalho de parto que permite acompanhar sua evolução, 
documentar e diagnosticar alterações e indicar a necessidade de condutas apropriadas para a correção de 
desvios da normalidade, ajudando ainda a evitar intervenções desnecessárias.12 
 
 
4 
Friedman13 estabeleceu, desde a década de 1950, uma correspondência entre os períodos clássicos, 
especificamente entre os períodos de dilatação e o expulsivo, e as assim denominadas "divisões funcionais" 
do parto. Considerou o período de dilatação subdividido em duas fases - a preparatória e a de dilatação 
propriamente dita. O período expulsivo passou a ser considerado por esse autor como período pélvico, ou 
seja, período em que se processam os fenômenos mecânicos do parto.12 
Com base nessas observações, de nulíparas em trabalho de parto hospitalar, foram construídas curvas de 
médias (FIG. 1 e 2) para os períodos do trabalho de parto e, baseados nessas curvas de “normalidade”, foram 
propostos diversos partogramas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O partograma atualmente utilizado pela OMS, baseado no modelo de Philpott & Castle14,15, está ilustrado a 
seguir na figura 3, e, na figura 4, está ilustrada uma ficha completa de acompanhamento de trabalho de 
parto. Nessa ficha consta, além do partograma, informações como frequência cardíaca fetal, as 
características das contrações uterinas, as condições da bolsa das águas e líquido amniótico, a infusão de 
líquidos e as especificações da analgesia.12 
Figura 1: Curva média de dilatação para o 
parto em nulíparas. (De E. A. Friedman, 
Labor: Clinical Evaluation and Management 
[2ª ed.]. New York: Appleton-Century-
Crofts, 1978). 
Figura 2: Inter-relações entre a descida da 
apresentação (linha sólida) e o padrão de 
desenvolvimento da dilatação concomitante 
(linha tracejada) em nulíparas (De E. A. 
Friedman, Labor: ClinicalEvaluationand 
Management [2ª ed.]. New York: Appleton-
Century-Crofts, 1978; retirado do site: 
http://www.glowm.com/section_view/headi
ng/Normal%20Labor%20and%20Delivery/it
em/127) 
5 
Figura 3: Partograma recomendado pelo Ministério da 
Saúde e pela OMS, baseados no modelo de Philpott&Castle, 
de 1972. 
Figura 4: Modelo de ficha preenchida, com partograma e 
outros registros de interesse no acompanhamento do 
trabalho de parto. 
 
 
6 
O partograma, isoladamente, não é um definidor absoluto de condutas, uma vez que o trabalho de parto não 
evolui da mesma maneira em todas as mulheres. Como o trabalho de parto é um evento fisiológico, variações 
da normalidade entre indivíduos são esperadas. Variações de acordo com a paridade também são esperadas. 
Por isso, atualmente, tem sido discutida a validade das curvas de Friedman como padrão de normalidade, 
uma vez que se refere a um contexto específico de assistência ao parto. Sabe-se, por exemplo, que a posição 
(se vertical ou horizontal) da parturiente e a condição da bolsa (se rota ou não) influenciam na evolução do 
trabalho de parto16. Há também as informações valiosas das curvas de Zhang et al.17, ilustradas nas figuras 5 
e 6 a seguir, como referência auxiliar para a interpretação correta dos partogramas. 
As curvas de Zhang foram baseadas em percentis, construídos a partir de um estudo recente de coorte, 
multicêntrico, nos EUA, com mais de 60.000 parturientes que tiveram parto hospitalar vaginal, de início 
espontâneo, de feto único e a termo, com desfecho neonatal normal. As curvas contemporâneas, baseadas 
nesse trabalho, ampliam as janelas de tempo entre as fases, de acordo com a paridade e o momento da 
internação da parturiente, e podem evitar diagnósticos equivocados de parada de progressão, especialmente 
quando o preenchimento do partograma é iniciado de forma inadequada. 
 
 
 
 
 
 
Os valores das curvas de Zhang têm sido considerados valores pragmáticos (ou de “mundo real”), pois, nesse 
estudo, em torno de 45% das mulheres receberam ocitocina sintética e quase 80% receberam analgesia 
epidural. Dessa maneira, mais uma vez, é importante salientar que a duração do trabalho de parto, em 
especial a duração do parto sem intervenções, pode não corresponder às curvas de referência. 
 
Figura 5: Curvas médias de acordo com 
paridade, em gravidez de feto único, de termo, 
com início espontâneo de trabalho de parto,com 
desfechos neonatais normais. [Capture a 
atenção do leitor com uma ótima citação do 
documento ou use este espaço para enfatizar um 
ponto-chave. Para colocar essa caixa de texto 
em qualquer lugar na página, basta arrastá-la.] 
Retirado Revista Eletrônica UpToDate (Overview 
of normal labor andprotractionandarrest 
disorders), acessado em março de 2015. 
Figura 6: Percentis 95 da duração cumulativa do 
trabalho de parto desde a admissão, para 
nulíparas com gestação a termo de feto único, 
com início espontâneo de trabalho de parto 
vaginal, com desfechos neonatais normais. As 
cores representam a dilatação do colo à 
admissão: verde (5 cm), amarelo (4 cm), azul (3 
cm) e vermelho (2 cm). Retirado Revista 
Eletrônica UpToDate (capítulo: Overview of 
normal labor and protraction and arrest 
disorders). 
 
 
7 
 Busca da evidência 
 Base de dados Medline via Pubmed 
www.pubmed.gov 
 Revista Eletrônica Uptodate 
www.uptodate.com 
 Base de dados Lilacs via Bireme 
www.bireme.br 
 Bib. Cochrane via Bireme 
http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php?lang=pt 
 Busca Manual 
 Resultados 
A metanálise recente da Biblioteca Cochrane conclui que há poucos estudos de qualidade que permitam 
elaborar uma recomendação definitiva sobre o uso do partograma, ou afirmar benefícios em desfechos 
duros, como redução das taxas de cesariana ou de mortalidade materna e neonatal. No entanto, pelo fato 
do uso do partograma ser muito difundido e, geralmente, bem aceito, parece razoável que a recomendação 
de uso seja localmente definida.18 
Alguns estudos demonstram benefícios consistentes de seu uso, incluindo um dos primeiros estudos 
prospectivos, conduzido em 199419, no qual o uso do partograma reduziu a taxa de trabalho de parto 
prolongado, de partos com ocitocina, de cesariana de emergência e de natimortos. Um estudo nacional 
demonstrou que a ausência do partograma, quando ajustado para possíveis fatores de confusão, é um fator 
isolado de risco para morte perinatal.20 
Portanto, diretrizes de obstetrícia, como a canadense21 e a brasileira12, recomendam fortemente a utilização 
do partograma. A seguir, estão ilustradas as distócias que podem ser diagnosticadas, com base nas linhas de 
ação do partograma: 
 Distócias no período de dilatação: 
1. Fase ativa prolongada 
2. Parada secundária da dilatação 
3. Parto precipitado 
 Distócias no período pélvico: 
4. Período pélvico prolongado 
5. Parada secundária da descida 
 
 
8 
Na fase ativa prolongada ou distócia funcional, a dilatação do colo uterino ocorre lentamente, numa 
velocidade menor que 1cm/hora. A curva da dilatação ultrapassa a linha de alerta e, ás vezes, a linha de ação. 
Essa distócia geralmente decorre de contrações uterinas não eficientes. Não é uma indicação imediata de 
cesariana, uma vez que a correção pode ser feita com o emprego de técnicas humanizadas de estímulo ao 
parto normal, por exemplo, estimulando-se a deambulação e, se necessário, posteriormente procedendo à 
administração de ocitocina ou à rotura artificial da bolsa. 
 
Figura 7: Ficha com partograma e exemplo de fase ativa 
prolongada (fonte: Parto, Aborto e Puerpério - Assistência 
Humanizada à Mulher. Ministério da Saúde. 2001). 
A parada secundária da dilatação é diagnosticada por dois toques sucessivos, com intervalo de 2 horas ou 
mais, estando a mulher em trabalho de parto ativo. Nesse tipo de distócia, a dilatação cervical permanece a 
mesma durante duas horas ou mais, ultrapassa a linha de alerta e, por vezes, a linha de ação. Há risco de 
sofrimento fetal, agravando o prognóstico perinatal. A causa principal é a desproporção céfalo-pélvica (DCP) 
relativa ou absoluta. DCP absoluta traduz tamanho do polo cefálico maior que a bacia (feto macrossômico) 
ou feto de tamanho normal e bacia obstétrica pequena. Na vigência de DCP absoluta, a resolução é feita por 
cesárea. Considera-se DCP relativa quando existe defeito de posição da apresentação: deflexão ou 
variedades de posição transversas ou posteriores. Nessas condições, a deambulação, a rotura artificial da 
bolsa das águas ou a analgesia peridural podem favorecer a evolução normal do parto. Nos casos de 
membranas rotas, a deambulação só deve ser recomendada com o polo cefálico completamente apoiado na 
bacia materna, para evitar o prolapso de cordão umbilical. A resolução por cesárea deverá ser indicada 
quando esses procedimentos não forem eficientes para corrigir a evolução anormal da cérvico-dilatação 
observada no partograma. 
 
 
9 
 
Figura 8: Ficha com partograma e exemplo de parada 
secundária de progressão (fonte: Parto, Aborto e Puerpério - 
Assistência Humanizada à Mulher. Ministério da Saúde. 
2001). 
O parto precipitado ou taquitócico é diagnosticado quando a dilatação cervical e a descida e expulsão do feto 
ocorrem num período de 4 horas ou menos. O padrão da contratilidade uterina é de taquissistolia e 
hipersistolia e, caso a placenta esteja no limite de sua função, pode ocorrer o sofrimento fetal. Lacerações 
do trajeto também são mais frequentes nesse tipo de parto, pois não há tempo para acomodação dos tecidos 
pélvicos, ocorrendo descida e expulsão do feto de modo abrupto. O parto taquitócico pode ser espontâneo 
em multíparas, sendo mais raro em primíparas. Geralmente, está associado à administração excessiva de 
ocitocina. Nesse caso, deve-se suspender a infusão de ocitocina até o retorno a um padrão contratural 
normal. Orienta-se atenção à vitalidade fetal no período de dilatação cervical e revisão detalhada do canal 
de parto após a dequitação. 
 
 
10 
 
Figura 9: Ficha com partograma e exemplo de parto 
taquitócito (fonte: Parto, Aborto e Puerpério - Assistência 
Humanizada à Mulher. Ministério da Saúde. 2001). 
O período pélvico prolongado manifesta-se no partograma com a descida progressiva da apresentação, mas 
excessivamente lenta. Nota-se dilatação completa do colo uterino e demora na descida e na expulsão do 
feto. Essa distócia geralmente está relacionada à contratilidade uterina deficiente, e sua correção pode ser 
obtida pela administração de ocitocina, rotura artificial da bolsa das águas e, ainda, pela utilização do fórcipe, 
desde que preenchidos os pré-requisitos para sua aplicação. Também é recomendada a posição verticalizada 
para favorecer a descida da apresentação. 
11 
Figura 10: Ficha com partograma e exemplo de período 
pélvico prolongado (fonte: Parto, Aborto e Puerpério - 
Assistência Humanizada à Mulher. Ministério da Saúde. 
2001). 
A parada secundária da descida é diagnosticada por dois toques sucessivos, com intervalo de 1 hora ou mais, 
desde que a dilatação do colo uterino esteja completa. Considera-se que há parada secundária da progressão 
da apresentação quando ocorre cessação da descida por pelo menos 1 hora após o seu início. Deve ter pronta 
correção. Há necessidade de se reavaliarem as relações feto-pélvicas, pois a causa mais frequente desse tipo 
de distócia é, novamente, a DCP relativa ou absoluta. A presença de desproporção absoluta leva à indicação 
de cesárea. Na vigência de desproporção relativa, com polo cefálico profundamente insinuado e cérvico-
dilatação completa, é válida a tentativa de fórcipe de tração ou rotação, dependendo da variedade de 
posição. 
 
 
12 
 
Figura 11: Ficha com partograma e exemplo de parada 
secundária da descida (fonte: Parto, Aborto e Puerpério - 
Assistência Humanizada à Mulher. Ministério da Saúde. 
2001). 
Para o acompanhamento do trabalho de parto e o diagnóstico de qualquer distócia, é importante ressaltar 
que a fase ou a divisão funcional de interesse na aplicação do partograma é a de dilatação (FRIEDMAN, 1978)ou fase ativa (SCHWARCZ et al., 1996). As recomendações brasileiras atuais definem a fase ativa pela 
velocidade de dilatação cervical em torno de 1cm/hora. A abertura do partograma na fase latente ou no 
início da dilatação (menor que 4 cm) implicaria intervenções não só desnecessárias, mas também 
iatrogênicas.12 Portanto, a recomendação é para se iniciar o registro gráfico quando a parturiente estiver na 
fase ativa do trabalho de parto (duas a três contrações eficientes em 10 minutos, dilatação cervical mínima 
de 3 cm). Em caso de dúvida, sugere-se aguardar cerca de 1 hora e realizar novo toque: detectada a 
velocidade de dilatação de 1cm/hora, verificada em dois toques sucessivos, confirma-se o diagnóstico de fase 
ativa do trabalho de parto. 
Porém, é essencial estar atento ao fato de que, em muitas mulheres, a fase ativa pode não ocorrer antes dos 
5-6 cm de dilatação, assim como a velocidade de dilatação não chegar a 1cm/hora, não sendo essas condições 
patológicas, mas variações fisiológicas do normal.22 Assim, é sempre necessária a avaliação cuidadosa das 
condições individuais da parturiente para não se proceder a diagnósticos equivocados e terapêuticas 
desnecessárias e, portanto, iatrogênicas. Nesse sentido, o partograma baseado no trabalho de Schwarcz et 
al.23, apesar de menos simples que o de Philpott&Castle, permite individualizar melhor as condutas, uma vez 
que, nesse modelo, a linha de alerta é traçada de acordo com o perfil da parturiente.16 
13 
 Discussão
O contexto socioeconômico, o modelo de assistência obstétrica e os recursos do sistema de saúde envolvidos 
são muito importantes para se avaliar o impacto do partograma na assistência ao trabalho de parto. Como 
exemplo, em local com recursos escassos, o partograma é uma ferramenta útil para se avaliar a necessidade 
de transferência da parturiente para centros de maior complexidade em momento oportuno. Por outro lado, 
em contextos com recursos financeiros e tecnológicos adequados, de um modelo centrado no ambiente 
hospitalar e na figura do médico, em que o risco de intervenções desnecessárias é maior, o uso do 
partograma é útil justamente para reduzir esse risco. 
Dentro de limites de segurança apropriadamente definidos, os melhores desfechos do nascimento ocorrem 
quando o trabalho de parto começa e progride espontaneamente.22 Nesse contexto, o registro gráfico do 
trabalho de parto é uma ferramenta simples e útil para acompanhar e registrar sua evolução, permitindo, de 
forma segura, reservar as intervenções somente para os casos em que a evolução, comprovadamente 
anormal, possa oferecer risco aumentado de desfechos adversos ao binômio materno-fetal. 
Há diversos modelos de partograma.17,22–24 Os modelos podem se complementar, e é mais importante que 
se faça o uso correto dessas ferramentas do que do modelo escolhido. 
Portanto, deve-se atentar para o diagnóstico correto da fase ativa, para se evitarem internações precoces e 
prolongadas das parturientes, que podem levar a diagnósticos equivocados de distócias e terapêuticas 
desnecessárias. Como exemplo, há dados de que cerca de 50% das cesáreas intraparto por distócia, em 
mulheres nulíparas, ocorrem quando elas ainda estão com ≤ 5 cm de dilatação cervical, levantando a 
preocupação de que muitos diagnósticos de distócia podem estar sendo realizados inadequadamente, antes 
da fase ativa do parto.22 Segundo as diretrizes nacionais e internacionais, a conduta de cesárea intraparto 
por falha de progressão não deve ser feita antes da fase ativa do parto e somente após medidas adequadas 
de correção.25, 26 
É também essencial que se admitam e se conheçam as variações fisiológicas do normal, para permitir a 
evolução espontânea do trabalho de parto, usando o partograma como referência e não como limite rígido 
de tempo para o parto. O uso do partograma, associado aos métodos de analgesia não farmacológica, ao 
suporte emocional contínuo, ao incentivo à deambulação e ao encorajamento, reassegurando a parturiente 
da sua capacidade de parir e da segurança do processo, faz parte das boas práticas de assistência ao trabalho 
de parto. 
 Conclusão
O partograma é uma ferramenta simples que permite o registro e o acompanhamento atento do trabalho de 
parto fisiológico, assim como permite o diagnóstico de evoluções anormais e a avaliação da resposta às 
condutas de correção. 
14 
O uso correto do partograma permitirá melhorar a assistência ao trabalho de parto, no reconhecimento 
correto de seu padrão, e reduzir as condutas iatrogênicas, em especial no contexto nacional, em que os níveis 
alarmantes de cesarianas, especialmente as eletivas, têm acarretado riscos desnecessários ao binômio 
materno-fetal. 
É necessário treinamento, de baixa complexidade, para seu uso correto e não há relatos de eventos adversos 
associados a essa prática. 
 Recomendação
O Grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde (GATS) recomenda o uso do partograma como parte 
das boas práticas obstétricas, baseadas em evidências, da assistência ao parto. 
 Referências 
1. Rocha IM da S, Oliveira SMJV de, Schneck CA, Riesco MLG, Costa A de SC da. O Partograma como
instrumento de análise da assistência ao parto. Rev da Esc Enferm da USP. 2009;43(4):880-888. doi:
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-.
2. Wei S, Wo BL, Xu H, Luo ZC, Roy C, Fraser WD. Early amniotomy and early oxytocin for prevention of, or
therapy for, delay in first stage spontaneous labour compared with routine care. Cochrane Database Syst
Rev. 2009. doi:10.1002/14651858.CD006794.pub2.
3. Verheijen EC, Raven JH, Hofmeyr GJ. Fundal pressure during the second stage of labour. Cochrane
Database Syst Rev. 2009. doi:10.1002/14651858.CD006067.pub2.
4. Hartmann K, Viswanathan M, Palmieri R, Gartlehner G, Thorp J, Lohr KN. Outcomes of routine episiotomy:
a systematic review. JAMA. 2005;293:2141-2148. doi:10.1001/jama.293.17.2141.
5. Priddis H, Dahlen H, Schmied V. What are the facilitators, inhibitors, and implications of birth positioning?
A review of the literature. Women and Birth. 2012;25:100-106. doi:10.1016/j.wombi.2011.05.001.
6. MacDorman MF, Declercq E, Menacker F, Malloy MH. Neonatal mortality for primary cesarean and vaginal
births to low-risk women: Application of an “intention-to-treat” model. Birth. 2008;35:3-8. doi:10.1111/
j.1523-536X.2007.00205.x.
7. Liu S, Liston RM, Joseph KS, Heaman M, Sauve R, Kramer MS. Maternal mortality and severe morbidity
associated with low-risk planned cesarean delivery versus planned vaginal delivery at term. CMAJ. 2007;
176:455-460. doi:10.1503/cmaj.060870.
15 
8. Declercq E, Barger M, Cabral HJ, et al. Maternal outcomes associated with planned primary cesarean
births compared with planned vaginal births. Obstet Gynecol. 2007;109:669-677. doi:10.1097/01.aoa.
0000288249.47243.53. 
9. Domingues RMSM, Dias MAB, Nakamura-Pereira M, et al. Processo de decisão pelo tipo de parto no Brasil:
da preferência inicial das mulheres à via de parto final. Cad Saude Publica. 2014;30:S101-S116.
doi:10.1590/0102-311X00105113.
10. Barros AJD, Santos IS, Matijasevich A, et al. Patterns of deliveries in a Brazilian birth cohort: Almost
universal cesarean sections for the better-off. Rev Saude Publica. 2011;45:635-643. doi:10.1590/S0034-
89102011005000039. 
11. Rocha JA, Novaes PB. Uma reflexão após 23 anos das recomendações da Organização Mundial da Saúde
para parto normal. FEMINA. 2010;38(3).
12. Ministério da Saúde, FEBRASGO, ABENFO. Parto, Aborto e Puerpério - Assistência Humanizada à Mulher.
Ministério da Saúde. 2001. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf.
13. Friedman EA. Evolution of graphic analysis of labor. Am J Obstet Gynecol. 1978;132:824-827.
doi:10.1111/j.1542-2011.1959.tb00531.x.
14. Philpott RH, CastleWM. Cervicographs in the management of labour in primigravidae. I. The alert line for
detecting abnormal labour. J Obstet Gynaecol Br Commonw. 1972;79(7):592-598.
15. Philpott RH, Castle WM. Cervicographs in the management of labour in primigravidae. II. The action line
and treatment of abnormal labour. J Obstet Gynaecol Br Commonw. 1972;79(7):599-602.
16. Hospital Sofia Feldman - Guia de Práticas Assistenciais. ASSISTÊNCIA AO PARTO E NASCIMENTO -
Celebrando a vida e o amor. 2007.
17. Zhang J, Landy HJ, Branch DW, et al. Contemporary patterns of spontaneous labor with normal neonatal
outcomes. Obstet Gynecol. 2010;116:1281-1287. doi:10.1097/OGX.0b013e31821685d0.
18. Lavender T, Hart A, Smyth R. Effect of partogram use on outcomes for women in spontaneous labour at
term. Cochrane Database Syst Rev. 2015;(2).
19. Walsh D. Management of progress in the first stage of labour. Midwives Chron. 1994;107(1274):84-88.
20. Lansky S, França E, César C, Neto Monteiro L, Leal M. Mortes perinatais e avaliação da assistência ao parto
em maternidades do Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 1999. Cad Saúde
Pública. 2006;22(1):117-130.
16 
21. Cargill YM, MacKinnon CJ, Arsenault M-Y, et al. Guidelines for operative vaginal birth. J Obstet Gynaecol
Can. 2004;26(8):747-761. doi:10.1007/s12032-011-9901-4.
22. Neal JL, Lowe NK. Physiologic partograph to improve birth safety and outcomes among low-risk,
nulliparous women with spontaneous labor onset. Med Hypotheses. 2012;78(2):319-326. doi:10.1016/
j.mehy.2011.11.012.
23. SCHWARCZ R, DIAZ AG, FESCINA R, MUCIO B de. Atención prenatal y del parto de bajo riesgo. In:
Publicacion Científica CLAP 1321.01. CLAP/OPAS/OMS; 1996. http://www.clap.ops-oms.org/web_2005
/BOLETINES Y NOVEDADES/EDICIONES DEL CLAP/CLAP 1321.pdf.
24. Ministério da Saúde, FEBRASGO, ABENFO, Ministério da Saúde. Parto, Aborto e Puerpério - Assistência
Humanizada à Mulher. Ministério da Saúde. 2001. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
cd04_13.pdf.
25. ACOG Practice Bulletin Number 49, December 2003: Dystocia and Augmentation of Labor. Obstet
Gynecol. 2003;102(6):1445-1454. doi:10.1016/j.obstetgynecol.2003.10.011.
26. Amorim MMR, Souza ASR, Porto AMF. Evidence-based cesarean section indications: part I. Femina.
2010;38(8):415-422.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes