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1 Biossinalização 05/05/2017 Introdução A capacidade das células em receber e responder a sinais para além da membrana plasmática é fundamental à vida. As células bacterianas recebem mensagens constantes de proteínas de membrana que atuam como receptores de informação, monitorando o meio externo em reação a Ph, força osmótica, dis- ponibilidade de alimento, oxigênio e luz, e pre- sença de substâncias químicas nocivas, preda- dores ou competidores por alimentos. Essa conversão de informação em alteração quí- mica, a transdução de sinal, é uma propri- edade universal das células vivas. Características gerais da transdu- ção de sinal A especificidade é alcançada por uma complementaridade molecular precisa entre as moléculas sinalizadores e receptores, mediada pelos mesmo tipos de forças fracas (não co- valentes) que controlam as interações enzima- substrato e antígeno-anticorpo. A adrenalina altera o metabolismo do glicogênio nos hepató- citos, mas não nos adipócitos; nesse caso, os dois tipos celulares rem receptores para hormô- nio, porem, enquanto os hepatócitos contem glicogênio e a enzima que metaboliza o gli- cogênio, que é controlada pela adrenalina, os adipócitos não contem nem um nem outro. São três fatores responsáveis pela ex- traordinária sensibilidade da transdução de si- nal: a alta afinidade dos receptores para as mo- léculas sinalizadores, a cooperatividade (nem sempre) da interação ligante-receptor e à am- plificação do sinal por cascatas enzimáticas. A afinidade pode ser expressa na forma de constante de dissociação Kd, o receptor de- tecta concentrações picomolares da molécula sinalizadora. A cooperatividade nas interações receptor-ligante causa grandes alterações na ativação do receptor em resposta a peque- nas alterações na concentração do ligante, por exemplo.: efeito de cooperatividade do oxigênio com a hemoglobina. A amplificação ocorre quando uma enzima associada a um recep- tor de sinal é ativada e, por sua vez, catalisa a ativação de muitas moléculas de uma se- gunda enzima, ativando muitas moléculas de uma terceira enzima, e assim por diante, em uma cascata enzimática. Essas cascatas po- dem produzir amplificações de várias ordens de magnitude em milissegundos. A modularidade das proteínas de si- nalização permite que a célula misture e com- bine um conjunto de moléculas sinalizadoras para a criação de complexos com diferentes funções ou localizações celulares. Muitas pro- teínas sinalizadoras têm múltiplos domínios que reconhecem características especificas de outras proteínas, ou do citoesqueleto ou da membrana plasmática, e multivalência resul- tante dos módulos individuais possibilitam a montagem de uma ampla variedade de com- plexos multienzimáticos. Proteínas de ancora- gem sem atividade enzimática com afinidade por diversas enzimas que interagem em cas- cas aproximam essas proteínas, garantindo sua interação em locais celulares e momentos específicos. A sensibilidade dos sistemas recepto- res está sujeita a modificações. Quando um si- nal está presente continuamente, corre a des- sensibilização do sistema receptor, quando o estimulo diminui, ficando abaixo de certo li- mite, o sistema torna-se novamente sensível. Um exemplo é o sistema de transdução visual quando se passa de um ligar com muita luz solar para um quarto escuro ou da escuridão 2 para a luz. Integração, a capacidade de um sis- tema de receber múltiplos sinais e produzir uma resposta unificada apropriada as neces- sidades da célula ou do organismo. Diferentes rotas de sinalização se comunicam umas com as outras em diferentes níveis, gerando uma complexa “conversa cruzada” que mantem a homeostase da célula ou do organismo. Obs.: frequentemente, o resultado final de uma rota de sinalização é a fosforilação de algumas proteínas especificas na célula-alvo, que tem suas atividades alteradas e, assim, alteram as atividades da célula. Um sinal interage com o receptor; o receptor ativado interage com a maquinaria celular, produzindo um segundo sinal ou uma alteração na atividade de uma proteína celu- lar; a atividade metabólica da célula-alvo sofre uma modificação; e, finalmente, o evento de transdução termina. Existem seis tipos básicos de receptores, sendo eles: 1) Receptores associados a proteína G que ativam indiretamente (por meio de proteí- nas de ligação ao GTP, ou proteínas G) enzimas que geram segundos mensagei- ros intracelulares. 2) Receptores tiosinas-cinases, receptores da membrana plasmática que também são enzimas. Quando um desses receptores é ativado pelo seu ligante extracelular, ele catalisa a fosforilação de diversas proteí- nas citosolicas ou da membrana plasmá- tica. 3) Receptores guanilil-ciclases, que também são receptores da membrana plasmá- tica com um domínio enzimático citoplas- mático. O segundo mensageiro intracelu- lar para esses receptores, o monofosfato de guanosina cíclico (cGMP), ativa uma proteína-cinase citosolica que fosforila pro- teínas celulares, alterando suas ativida- des. 4) Canais iônicos com portões na membrana plasmática, que abre e fecham, devido a isso o termo portões, em resposta a inte- rações de ligantes químicos ou alterações no potencial transmembrana. 5) Receptores de adesão, que interagem com componentes macromoleculares da matriz extracelular (como colágeno) e transmitem instruções para o sistema do citoesqueleto sobre migração ou adesão à matriz. 6) Receptores nucleares, que interagem com ligantes específicos (como o hormônio es- trogênio) e alteram a taxa em que genes específicos são transcritos e traduzidos em proteínas celulares. Receptores associados a proteínas G e segundos mensageiros Os receptores associados a proteí- nas G, como o nome implica, são receptores associados a um membro da família de pro- teínas de ligação a nucleotídeos de guano- sina. Três componentes essenciais definem a transdução de sinalização via GPCR: um receptor na membrana, uma proteína G que alterna entre as formas ativa (ligada a GTP) e inativa (ligada a GDP), e uma enzima efe- tora (ou canal iônico) na membrana plasmática que é regulada pela proteína G ativada. A pro- teína G, estimulada pelo receptor ativado, troca o GDP ligado a ela por GTP, e, então, gera um segundo mensageiro que afeta alvos a jusante. O sistema receptor β-adrenérgico atua por meio do segundo mensageiro AMPc Os receptores adrenérgicos são de quatro tipos básicos, α1, α2,β1, β2, definidos pelas diferenças nas afinidades e respostas a um grupo de agonistas e antagonistas. Os ago- nistas são análogos estruturais que se ligam a um receptor e mimetizam o efeito norma do ligante natural; os antagonistas são análogos que se ligam ao receptor sem disparar o efeito normal e, festa forma, bloqueiam os efeitos das agonistas, incluindo o ligante biológico. Como todos os GPCR, o receptor β- adrenérgico é uma proteína integral com sete regiões hidrofóbicas helicoidais com 20 a 28 resíduos de aminoácidos, que atravessam a membrana plasmática sete vezes, assim ori- ginando o nome alternativo receptor-hepta- helicoidais para os GPCR. A ligação da adre- 3 nalina ao sitio no receptor mergulhado na mem- brana plasmática, segue as seguintes etapas: 1) Promove uma alteração conformacional no domínio intracelular do receptor que afeta sua interação com uma proteína G associada, promovendo a dissociação do GDP e a ligação do GTP; 2) Em todos os GPCR, a proteína G é hetero- trimerica, composta por três subunidades diferentes: α, β e γ. Tais proteínas G são, portanto, conhecidas como proteínas G trimericas. Neste caso, é a subunidade α que se liga ao GDP ou GTP e transmite o sinal do receptor ativado para a proteína efetora. Como está proteína G ativa o seu efetor, ela é chamada de proteína G esti- mulatoria, ou Gs. Assim como outras pro- teínas G, a Gs funciona como um “comu-tador” biológico: quando o sitio de ligação a nucleotídeos na Gs (na subunidade alfa) é ocupado por GTP, a Gs é ativada e pode ativar sua proteína efetora (neste caso a Adenil-ciclase); com GDP ligando ao sitio, a Gs é inativada. Na forma ativa, as subu- nidades β e γ da Gs dissociam-se, sob a forma de um dímero βγ, na subunidade α, e a Gsα, com o GTP ligado, move-se, no plano da membrana, do receptor a uma molécula de Adenil-ciclase próxima; 3) A Gsα é mantida na membrana pela li- gação covalente a um grupo palmitoil. A Adenil-ciclase é uma proteína integral da membrana plasmática, como o sitio ativo na face citoplasmática. A associação de Gsα ativa com a Adenil-ciclase estimula a ciclase a catalisar a síntese de AMPc a partir de ATP; 4) Elevando a [AMPc] citosolica. A intera- ção entre Gsα e Adenil-ciclase é possí- vel apenas quando Gsα está ligada a GTP. O estimulo por Gsα é auto limi- tante; Gsα tem uma atividade GTPasica intrínseca que inativa a si mesma por meio da conversão a GDP do GTP li- gado. A Gsα, agora inativa, dissocia-se d Adenil-ciclase, causando a inativação da ciclase. A Gsαreassocia-se com o dímero βγ (Gsβγ), e a Gsinativa novamente dispo- nível para interagir com um receptor ligado ao hormônio. Obs.: diversas proteínas G agem como comutadores binários em sistemas de sinaliza- ção com GPCR e em muitos processos que envolve fusão ou fissão de membranas. Obs.: o AMPc, por sua vez, ativa aloste- ricamente a proteína-cinase dependente de AMPc, também chamada de proteína-cinase A ou PKA. 1) A qual catalisa a fosforilação de resíduos de Ser ou Thr em proteínas-alvo, incluindo a cinase da glicogênio-fosforilase b. essa enzima está ativa quando fosforilada e pode iniciar o processo de mobilização do glicogênio a partir dos seus estoques no musculo e no fígado, na expectativa da necessidade de energia, como é sinali- zado pela adrenalina. A forma inativa da PKA contém duas subunidades catalíticas idênticas (C) e duas subunidades de regu- lação (R). O complexo tetramerico R2C2 é cataliticamente inativo, pois um domí- nio auto inibitória em cada subunidade R ocupa a fenda de ligação ao substrato de cada subunidade C. Quando as subunida- des R estão ligadas a AMPc, elas passam por uma alteração na conformação, que afasta o domínio auto inibitório de R do do- mínio catalítico de C, e o complexo R2C2 se dissocia, originando duas subunidades C livres e cataliticamente ativas. Obs.: o efeito líquido da cascata é a am- plificação do sinal hormonal em várias ordens de magnitude, o que justifica a necessidade de concentração muito baixas de adrenalina, ou qualquer hormônio, para a atividade hormonal. Diversos mecanismos levam ao ter- mino da resposta β-adrenérgica. Para ser funcional, um sistema de transdução de sinal deve ser desligado após o termino do estimulo pelo hormônio ou por outra molécula, e os mecanismos para a desativação do sinal são intrínsecos a todos os sinais de sinalização. Quando a concentração de adre- nalina na corrente sanguínea diminui, ficando menor que a de Kd do receptor, o hormônio se 4 dissocia do receptor e este reassuma a con- formação inativa, na qual não consegue ativar Gs. Uma segunda maneira de extinguir a resposta ao estimulo β-adrenérgico é pela hi- drolise do GTP ligado à subunidade Gα, cata- lisada pela atividade GTPasica intrínseca da proteína G. A conversão do GTP ligado em GDP favorece o retorno de Gα à conformação na qual ela liga-se as subunidades Gβγ a con- formação em que a proteína G é incapaz de interagir com a adenilil-cilcase ou estimula-la. Isso então encerra a produção de AMPc. Um terceiro mecanismo para o término da resposta é a remoção do segundo men- sageiro: a hidrolise do AMPc a 5-AMP (sem atividade como segundo mensageiro) pela fos- fodiesterase de nucleotídeo cíclico. Quando a [AMPc] diminui e a PKA retorna a forma ina- tiva, o equilíbrio entre fosforilação é deslocado na direção da desfosforilaçao por essas fosfa- tases. O receptor β-adrenérgico é dessen- sibilizado pela fosforilação e pela associa- ção com arrestina Um mecanismo diferente, a dessensibi- lizarão, suprime a reposta mesmo enquanto o sinal persiste. A dessensibilização do receptor beta-adrenérgico é mediada por uma proteína- cinase que fosforila o receptor no domínio in- tracelular, que normalmente interage com Gs. Quando o receptor é ocupado pela adrena- lina, a cinase do receptor β-adrenérgico, ou βARK, geralmente situada no citosol, a ark é recrutada à membrana plasmática pela associ- ação com as subunidades Gsβγ , estando assim posicionada para fosforilar o receptor. A fosfori- lação do receptor cria um sitio de ligação para a proteína β-arrestina ou βarr, e a ligação da β-arrestina também facilita o sequestro do receptor – a remoção das moléculas do recep- tor da membrana plasmática por endocitose em pequenas vesículas intracelulares. Nesse estado, os receptores não são acessíveis a adrenalina e são inativos. O AMP cíclico age como segundo mensageiro para muitas moléculas regula- doras O glucagon sê liga ao seu receptor na membrana plasmática dos adipócitos, ativando (via proteína Gs) a adenilil-ciclase. A PKA, es- timulada pelo resultante aumento na [AMPc], fosforila e ativa duas proteínas essenciais para a mobilização dos ácidos graxos dos depósitos de gordura. Alguns hormônios agem por meio de inibição da adenilil-ciclase, desta maneira redu- zindo a [AMPc] e suprimindo a fosforilação de proteínas. Por exemplo, a ligação da somatos- tatina ao seu receptor causa a ativação de uma proteína G inibitória, ou Gi, estruturalmente homologa a Gs,que inibe a adenilil-ciclase e diminui a [AMPc]. A somatostatina, portanto, contrabalança os efeitos do glucagon. Diacilgllicerol, inositol-trifosfato e Ca2+ tem funções relacionadas como se- gundos mensageiros Uma segunda ampla casse de GPCR se acopla por meio de uma proteína G a uma fosfolipase C (PLC) da membrana plasmática, a qual é específica para o fosfolipídio de mem- brana fosfatidil-inositol-4,5-bifosfato, ou PIP2. Quando um dos hormônios que agem por esse mecanismo liga-se ao receptor especifico na membrana plasmática, seguem as seguintes etapas: 1) O complexo receptor-hormônio catalisa a troca de GDP por GTP em uma proteína G associada, Gq; 2) Ativando-a de maneira muito semelhante a ativação de Gs pelo receptor adrenér- gico. A proteína Gq ativada ativa a PLC especifica para PIP2; 3) A qual catalisa a produção de dois po- tentes segundos mensageiros, diacilgli- cerol e inositol-1,4,5-trifosfato ou IP3. O inositol-trifosfato, composto solúvel em agua, difunde-se da membrana plasmá- tica para o reticulo endoplasmático (RE), onde se liga a canais de Ca2+ específicos controlados por IP3, abrindo-os. Quando esses canais de Ca2+ são abertos, o cál- cio flui para o citosol; 4) Então a concentração de cálcio citosolica rapidamente aumenta para aproximada- mente 10−6M. uma consequência da con- centração de cálcio elevada é a ativação 5 da proteína-cinase C (PKC). O diacilgli- cerol atua em conjunto com o Ca2+para a ativação da PKC, e, portanto, o cálcio também age como segundo mensageiro; 5) A ativação envolve o afastamento de um domínio da PKC de sua posição na região de ligação ao substrato da enzima, possi- bilitando que a enzima se ligue e fosforile as proteínas que contenham uma sequên- cia consenso da PKC; 6) Existem diversas isoenzimas da PKC, cada uma com distribuição tecidual, es- pecificidade para a proteína-alvo e função características. Seus alvos incluem proteí- nas do citoesqueleto, enzimas e proteínas nucleares que regulam a expressão ge- nica. O cálcio é um segundo mensageiro que pode ser localizado no tempo e no es- paço Nas células não estimuladas, a con- centração de cálcio citosolico é mantida muito baixa sendo menor que 10−7 por meio da ação de bombasde cálcio localizadas no reticulo en- doplasmático, na mitocôndria e na membrana plasmática. Estímulos hormonais, neurais ou outros estímulos causam o influxo de cálcio para dentro da célula por meio de canais de cálcio específicos da membrana plasmática, ou causam a liberação do cálcio sequestrado no reticulo endoplasmático ou não mitocôndria elevando, em qualquer um dos casos, a con- centração de cálcio citosolica e iniciando uma resposta celular. A atividade do segundo mensageiro cálcio, assim como a do AMPc, pode ser es- pacialmente restrita; depois que sua liberação inicia uma resposta local, o cálcio geralmente é removido antes que possa difundir-se para regiões mais distantes da célula.
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