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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Imunonutrição EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Curso de Imunonutrição MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia consultada. 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores SUMÁRIO 1.0 Introdução ....................................................................................................................4 1.1 Pacientes críticos ........................................................................................................5 2.0 Arginina ........................................................................................................................5 2.1 Aspectos Gerais ..........................................................................................................5 2.2 Metabolismo .................................................................................................................7 2.2.1 Síntese .......................................................................................................................7 2.2.2 Catabolismo ..............................................................................................................8 2.2.3 Produtos do Catabolismo da Arginina..................................................................10 2.2.3.1 Síntese de Poliaminas .........................................................................................10 2.2.3.2 Óxido Nítrico Sintase – Produção do Óxido Nítrico .........................................11 2.3 Efeitos da Arginina na Resposta Imunológica ........................................................12 2.4 Arginina: Usos Clínicos ...........................................................................................14 3 GLUTAMINA ..................................................................................................................15 3.1 Considerações Gerais ...............................................................................................15 3.2 Metabolismo ...............................................................................................................16 3.4 Funções metabólicas da glutamina .........................................................................18 3.5 Ação intestinal e imunológica da glutamina ...........................................................19 3.6 Glutamina: Usos Clínicos .........................................................................................20 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 1.0 Introdução “A Nutrição clínica está fazendo parte de uma nova era e desta forma, não deixa dúvidas sobre o seu papel fundamental como importante auxiliadora no tratamento terapêutico dos pacientes. Um dos maiores direcionamentos aponta que é através da dieta que se atinge a atividade ótima do sistema imunológico.” (Van Buren, 1990) De fato, a relação entre doença e imunonutrição tem recebido cada vez mais atenção da ciência, devido à capacidade dos imunonutrientes de modular os processos imunológicos, metabólicos e inflamatórios, resultando em efeitos benéficos no tratamento de pacientes críticos. Pacientes cirúrgicos, sépticos ou com trauma, são os que mais se beneficiam da imunonutrição, pois encontram-se em estado de hipercatabolismo e hipermetabolismo, apresentando perda de peso, balanço nitrogenado negativo e disfunção imunológica. Estas condições facilitam o aparecimento de desnutrição aguda e complicações infecciosas e, consequentemente, há uma aumentada incidência de morbidade e mortalidade (MARQES, 2008; BASTIAN & WEIMANN, 2002). Imunonutriente é definido como um nutriente que proporciona benefícios específicos para o sistema imunológico. Aminoácidos, assim como outros fatores nutricionais têm sido demonstrados por influenciar positivamente muitas funções imunológicas e atuar em funções fisiológicas específicas, como no sistema gastrointestinal (YAMAUCHI et al., 2002). Atualmente, há grande avanço nos estudos que avaliam os diversos nutrientes imunomoduladores, como a arginina, glutamina, ácido graxo ômega 3 (n-3) e nucleotídeos em pacientes críticos. Os resultados nessa área de pesquisa mostram efeitos favoráveis para pacientes tratados com dieta imunomoduladora em relação a dieta padrão. Os benefícios englobam a melhora da barreira imunológica com a glutamina; ação anti- inflamatória com o n-3; aumento do número de linfócitos T (célula de defesa imunológica) com a arginina e nucleotídeos, dentre outros. 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Nesta unidade, serão focados os aminoácidos arginina e glutamina, com considerações a respeito do seu metabolismo, funções imunológicas e principais usos clínicos (MARQES, 2008). 1.1 Pacientes críticos Iniciaremos o estudo da nutrição voltada a pacientes críticos. Desta forma, devemos ter em mente que “doentes críticos”, representam um grupo heterogêneo, e com características metabólicas extremamente distintas. Os doentes críticos constituem um grupo francamente hipermetabólico e hipercatabólico que necessita, na sua maioria, da instituição de um suporte nutricional, na medida do possível, adequado às suas necessidades. Porém, devido à grande heterogeneidade de doenças e causas bases da internação, se torna uma tarefa muito difícil, estipular uma recomendação geral de uso de nutrientes imunomoduladores para este grupo, e por isso, é necessário o estudo detalhado do metabolismo e influência destes nutrientes nos aspectos clínicos, a fim de entendermos melhor as recomendações. 2.0 ARGININA 2.1 Aspectos Gerais A arginina (Fig. 1) é um aminoácido básico, estável em soluções aquosas e à esterelização (ZALOGA et al, 2004; WU et al., 2000). Possui quatro átomos de nitrogênio por molécula, e devido a essa característica estrutural é o principal carreador de nitrogênio em humanos e animais, apresentando importante função na síntese protéica e no metabolismo intermediário de nitrogênio pela participação no ciclo da uréia (WILMORE, 2004). É precursora da síntese de moléculas com grande importância biológica como ornitina, poliaminas, óxido nítrico, creatina, agmatina, glutamina e prolina, dentre outras (CHIARLA et al., 2005; WILMORE, 2004). 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Figura 1: Estrutura química da arginina (TAPIERO et al., 2002) Tradicionalmente é considerada não essencial para adultos e crianças, devido à capacidade do organismo em sintetizá-la(HARDY et al, 2006). No entanto, em certas condições clínicas, como trauma e sepse principalmente, ocorre aumento na sua utilização, o qual excede a capacidade de produção corporal, bem como redução da síntese do aminoácido, levando à depleção da arginina, que nestes casos é ainda agravada pela reduzida ingestão de alimentos, observada em doentes graves. Desta forma, a denominação mais adequada é aminoácido condicionalmente essencial (PAN et al., 2004; SUCHNER et al., 2002). A arginina é absorvida principalmente no jejuno e no íleo, sendo pequena a absorção no cólon. Sua absorção é estimulada pela presença de alguns aminoácidos dipolares como leucina, lisina, ornitina e cisteína. A absorção intestinal da arginina na porção da borda em escova da membrana do enterócito envolve os sistemas B0+ e b0+, específicos para aminoácidos bipolares e básicos, enquanto na porção basolateral da membrana, a arginina é transportada através do sistema Y+ formado por família de transportadores de aminoácidos catiônicos (CAT). Em casos de sepse, cirurgia e outros estados pós-traumáticos, a arginina possui importante papel na manutenção da resposta imunológica, processos inflamatórios, síntese de colágeno na cicatrização de feridas e outras adaptações fisiopatológicas, sendo que diversos estudos clínicos e experimentais comprovam seu efeito benéfico. Outros estudos ainda suportam a idéia de que a arginina poderia apresentar efeitos adversos no quadro clínico do paciente, justificados principalmente pela produção L-Arginina 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores excessiva de óxido nítrico em doentes críticos, que gera a instabilidade hemodinâmica e conseqüentemente, o choque (CHIARLA et al., 2005; SUCKHOTNIK et al., 2005). 2.2 Metabolismo 2.2.1 Síntese Os níveis plasmáticos de arginina são mantidos a partir de fontes: exógena (dieta) e endógena (degradação protéica corporal e síntese endógena pela citrulina). A síntese endógena de arginina varia de acordo com a espécie, estado nutricional e estágio de desenvolvimento (WU & MORRIS, 1998). A arginina está presente em alimentos como: carnes, leite, ovos, queijos, alho, ervilhas, grãos. A ingestão normal de arginina em uma dieta ocidental é de 5-7 gramas por dia e a produção endógena (no interior do nosso organismo), é de, em média, 15 a 20 gramas por dia. A bioquímica da arginina é complexa e envolve diversas vias metabólicas e sistemas orgânicos. A L-arginina é continuamente sintetizada no fígado a partir do Ciclo da Uréia, porém não há síntese líquida do aminoácido por este órgão devido à alta atividade da enzima arginase, que resulta em rápida hidrólise da arginina. A degradação de proteínas corporais e dietéticas gera arginina, que pode ser diretamente utilizada no ciclo da uréia no tecido hepático, ou transformada no epitélio intestinal em ornitina que, juntamente com a glutamina secretada como glutamato, será convertida em citrulina e esta em arginina no ciclo renal (FILHO & ZILBERSTEIN, 2000). A citrulina, produzida no intestino a partir de aminoácidos dietéticos (prolina, glutamina, glutamato) e glutamina circulante, é absorvida e transportada para os rins. Nos túbulos renais proximais, a citrulina é convertida em arginina pela argininosuccinato sintetase e argininosuccinato liase. Esse órgão é o principal responsável pela manutenção dos níveis plasmáticos de arginina. Outras células que expressam argininosuccinato sintetase e argininosuccinato liase também podem converter citrulina em arginina 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Desta forma, em última análise, a síntese de arginina é dependente do metabolismo intestinal, uma vez que os enterócitos sintetizam citrulina do L-glutamato, L- glutamina e L- prolina (EVANS et al., 2004; TAPIERO et al., 2002). (Fonte: FILHO & ZILBERSTEIN, 2000). 2.2.2 Catabolismo A absorção da arginina ocorre no jejuno e íleo a partir de componentes saturáveis e não saturáveis. No cólon, a absorção é reduzida (CYNOBER et al., 1995). Aproximadamente 40% da arginina dietética é degradada durante a absorção no intestino e o restante segue via circulação porta. Uma vez no interior celular, existem múltiplas vias de degradação da arginina (Fig. 3). 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Figura 3: Vias e produtos da degradação de arginina (SUCHNER et al., 2002). A arginina possui intensa ação segretagoga. Induz a liberação de somatrotopina e prolactina pela hipófise e a liberação pancreática de insulina. Também estimula a secreção de fator de crescimento semelhante à insulina (IGF) e liberação de hormônios anti-insulinêmicos como glucagon, somatostatina, polipeptídeos pancreáticos e catecolaminas (SUCHNER et al., 2002). A arginina é precursora da creatina, um importante substrato do metabolismo energético. A ingestão dietética de arginina é de aproximadamente 5g/dia em adultos, destes em média 2,3 g é utilizada para a síntese de creatina (ARGAMAN et al. 2003; EVANS et al., 2004). A arginina também é substrato na síntese proteica, podendo ser convertida em prolina, que gera colágeno e por isso, possui importante função na cicatrização, além de glutamato e glutamina, aminoácidos comuns na maioria das proteínas, com papel manutenção da integridade intestinal. Existem duas vias de degradação direta da arginina. A primeira é mediada pela arginase, liberando ornitina e uréia, enquanto a outra é catalisada pela óxido nítrico sintase e tem como produto o óxido nítrico (CYNOBER et al., 1995). L-Arginina Fonte exógena/ endógena L-Citrulina Uréia L- Ornitina • Putrescina • Espermidina • Espermina • GH • IGF • Insulina • Glucagon • Prolactina • Óxido Nítrico • Nitrato • Nitrito 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 2.2.3 Produtos do Catabolismo da Arginina 2.2.3.1 Síntese de Poliaminas A reação catalisada pela enzima arginase é responsável pela a formação de uréia, ornitina, prolina, poliaminas, glutamato e glutamina. Existem duas isoformas distintas da arginase (tipo I e tipo II). A arginase do tipo I parece ser a maior responsável pela síntese de poliaminas, enquanto a arginase do tipo II direciona a arginina para a síntese de ornitina e prolina. A prolina é convertida a hidroxiprolina e então à colágeno, um substrato necessário à cicatrização (STECHMILLER et al., 2004). Além de sua função na ureogênese hepática, a ornitina é precursora imediata da síntese de putrescina, a qual é convertida em espermidina e espermina, que são poliaminas (FLYN et al., 2002). A dieta é a principal fonte de poliaminas que são essenciais para proliferação e diferenciação celular. Como antioxidantes, protegem as células de danos oxidativos. Também são importantes reguladores da expressão gênica, transdução de sinal, função de canal iônico, síntese de DNA e proteínas e apoptose (WU & MORRIS, 1998; FLYN et al., 2002). Estão envolvidas na diferenciação de células imunológicas e regulação da reação inflamatória. A mucosa intestinal e colônica apresentam demanda especial por poliaminas,devido à sua alta taxa de proliferação. Desta forma, elas possuem importante contribuição para a manutenção da função intestinal. Sua atuação se dá na reparação de eventuais danos por dois mecanismos sucessivos: a restituição no qual a superfície lesada é recoberta por células vizinhas, e reposição das células perdidas pela divisão celular (MOINARD et al., 2005; LOSER et al., 1999). 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 2.2.3.2 Óxido Nítrico Sintase – Produção do Óxido Nítrico Quando metabolizada à citrulina, a arginina promove a formação de compostos nitrogenados como: óxido nítrico, nitritos e nitratos (figura 4). Grande parte da importância da arginina está atribuída a sua função precursora da síntese de óxido nítrico (ON), uma vez que esta se constitui no único substrato para síntese de ON e para todas as isoformas da enzima óxido nítrico sintase (NOS) nas células eucarióticas (POPOVIC, 2007). Figura 4: Síntese de óxido nítrico a partir da L-arginina (FILHO & ZILBERSTEIN, 2000). O óxido nítrico possui papel importante em diversos processos fisiológicos e patológicos, sendo responsável pelo tônus vascular e regulação da pressão e fluxo sanguíneo, funcionando como vasodilatador. É sintetizado a partir da conversão da arginina em citrulina pela NOS. A NOS combina-se com um dos nitrogênios do grupo guanidino, oxigênio molecular (O2) e elétrons do NADPH2, formando NO, citrulina e NADP+. NADPH2 e cálcio funcionam como co-fatores para a síntese de NO. A citrulina gerada pode ser utilizada na síntese de arginina em células endoteliais, macrófagos e células do sistema nervoso periférico – ciclo citrulina /ON. A enzima é encontrada em três formas diferentes. A NOS-1 ou nNOS tem origem neuronal e função de neurotransmissor não adrenérgico e não colinérgico, sendo expressa nos plexos mientéricos do intestino. A NOS-3 ou eNOS, de origem endotelial, é um potente vasodilatador que regula o fluxo sanguíneo gastrointestinal. Estas duas isoformas são dependentes de cálcio e produzem baixos níveis de ON. No entanto, a terceira isoforma indutiva NOS-2 ou iNOS é produzida em quantidades maiores e é regulada pelo estímulo inflamatório gerado por lipopolissacarídeos de membrana bacteriana, endotoxinas, citocinas pró-inflamatórias em humanos e em modelos animais de sepse (NADLER & FORD, 2000; WIEST & RATCH, 2003). 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores O ON é um potente regulador vasoativo, neuromodulador e molécula sinalizadora. Durante a inflamação, age mediando mecanismos de citotoxidade e defesa não específica do hospedeiro. É o principal fator de relaxamento derivado do endotélio, melhorando a vasoconstrição e aumentando o fluxo sanguíneo em tecidos injuriados (SAMEL et al., 2003). Quando expostas a lipopolissacarídeos presentes na parede bacteriana ou citocinas pró inflamatórias como IL-1, TNF-α e INF-γ, muitas células expressam iNOS, podendo gerar grandes quantidades de óxido nítrico. A expressão aumentada da iNOS tem sido demonstrada em desordens como: destruição da mucosa, sepse e sintomas clínicos inerentes a essa condição. No entanto, também pode contribuir para processos de recuperação (LUIKING & DEUTZ, 2003). Desta forma, existem controvérsias quanto aos efeitos do ON. ON possui potentes efeitos bactericidas contra grande variedade de microorganismos, no entanto, situações de excesso na sua produção induzidas pelo estímulo inflamatório podem ocasionar efeitos tóxicos sobre as células do hospedeiro. Uma vez que a suplementação com a arginina está associada ao estímulo a NOS e conseqüente elevação da produção de óxido nítrico, seu uso tem sido bastante controverso (HARDY et al, 2006; NADLER & FORD, 2000; DEITCH et al., 2002). 2.3 Efeitos da Arginina na Resposta Imunológica A suplementação com arginina aumenta a função imunológica em modelos humanos e animais, atuando na defesa do hospedeiro, processo inflamatório, cicatrização e uma série de adaptações fisiopatológicas (WU et al., 2000; CHIARLA et al., 2005). A contribuição da arginina se dá pelo fato do aminoácido ser metabolizado pelo sistema imunológico, sendo o seu metabolismo especialmente importante para macrófagos e linfócitos T. Operação e trauma estão associados à grande diminuição do numero de linfócitos T, principalmente linfócitos T CD4+. Pacientes nessas situações normalmente apresentam queda na síntese de IL-2, fator de crescimento para linfócitos T, e de INF-γ, citocinas 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores essas, essenciais no processo inflamatório. Pacientes que receberam dietas suplementadas com imunonutrientes, dentre eles a arginina, recuperaram a contagem de CD4+ em menores períodos de tempo do que pacientes que receberam dietas convencionais. Notou-se também maior produção de IL-2 e INF-γ (OHOA et al., 2004). A arginina pode participar da resposta inflamatória sistêmica por meio da produção de óxido nítrico via iNOS que, ocorre predominantemente em macrófagos ou pela utilização da arginina para manutenção da função normal e proliferação de linfócitos T (BANSAL & OCHOA, 2003). Assim, o aporte exógeno de arginina está acompanhado de um aumento na proliferação de monócitos e linfócitos, aumentada formação de células T-helper, ativação da citotoxidade de macrófagos, reforço na atividade de células natural-killers, aumentada fagocitose, bem como aumentada produção de citocinas. Estes efeitos incluem a arginina no conceito de fórmulas que levam ao aumento na resposta imunológica (SUCHNER et al., 2002). Macrófagos utilizam a arginina como um substrato importante para muitas de suas funções. Em repouso, os macrófagos possuem mínima utilização de arginina. Porém, quando ativados, o aminoácido é ativamente transportado para o interior celular, pois na inflamação, os macrófagos são os responsáveis primários pela expressão da iNOS. Durante a infecção severa e sepse, as citocinas pró inflamatórias T-helper 1 (TH1), tais como interleucina (IL)-1, TNF (fator de necrose tumoral)-α e interferon (IFN)-γ, que induzem a iNOS são produzidas (HARDY et al., 2006; STECHMILLER et al., 2004; JORENS et al., 1995). O óxido nítrico gerado é um importante componente da defesa não específica do hospedeiro, mostrando-se efetivo contra parasitas intra e extracelulares. Desta forma, o ON é capaz de mediar os efeitos citotóxicos dos macrófagos, atingindo as células de forma inespecífica, ou seja, com atuação sobre as células de patógenos ou do próprio hospedeiro (BANSAL & OCHOA, 2003; HARDY et al., 2006). A arginina também aumenta a fagocitose pelos neutrófilos e adesão de células polimorfonucleares, atividades que ajudam na produção de polimorfonucleares para imunomodulação (STECHMILLER et al., 2004). 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 2.4 Arginina: Usos Clínicos Estudos experimentais demonstram que a arginina e capaz de aumentar: a sobrevida em animais sépticos e em animais com câncer, o número de células T e a resposta blastogênica induzida por mitógenos de linfócitos tímicos e do sangue periférico. As recomendações internacionais ainda são tímidas, em relação aouso de arginina em pacientes críticos. As diretrizes da ESPEN (The European Society for Clinical Nutrition and Metabolism), ainda não apontam as recomendações para o uso da arginina isoladamente e sim quando incorporada à dieta imunomoduladoras, recomendando o uso em casos de cirurgia eletiva e trauma, nos quais ocorre redução da arginina plasmática, disfunção de células T e baixos níveis de óxido nítrico. Nestes casos, a arginina dietética tem sido identificada por atenuar a resposta hipermetabólica, melhorar cicatrização e a perfusão vascular dos órgãos, contribuindo para o processo de recuperação (BANSAL, 2004). Já as Orientações canadenses de práticas clínicas para suporte nutricional em pacientes críticos adultos em ventilação mecânica, baseado-se em 4 estudos nível 1 e 17 de nível 2, recomenda que a arginina não deve ser suplementada em pacientes críticos. Embora seja claro que a arginina tenha importante função imunomoduladora, seu uso é controverso em pacientes sépticos, uma vez que a sepse é caracterizada por uma aumentada produção de óxido nítrico pela iNOS, podendo gerar instabilidade hemodinâmica devido à vasodilatação excessiva e resposta inflamatória exacerbada (HARDY et al., 2006). A função do ON durante a septicemia é controvertida. Muitos autores acreditam que sua síntese faz parte de resposta adaptativa, no sentido de eliminar a infecção, isquemia, coagulação e inflamação. Endotoxinas aumentam a síntese de ON pelas células endoteliais, macrófagos, hepatócitos, células musculares lisas por meio da expressão da iNOS. Diversos estudos em animais com inibição da NOS demonstraram efeitos adversos durante septicemia. Esses efeitos incluíram aumento da mortalidade, diminuição do fluxo sanguíneo microvascular e aumento de injurias no fígado, nos rins, nos intestinos e nos 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores pulmões. A inibição da NOS também aumentou rolamento e adesão de leucócitos. Todos estes efeitos foram revertidos após a administração de arginina (ZALOGA et al., 2004). Entretanto, é possível que a produção excessiva de ON possa levar a hipotensão, depressão cardíaca (ZALOGA et al., 2004) e injúrias tissulares pela alta formação de peroxinitrito. Excesso de ON também pode ser prejudicial para a integridade do epitélio intestinal, por meio da dilatação das junções tight, alteração do citoesqueleto e inibição da síntese de ATP, resultando no aumento da permeabilidade intestinal. Por isso, não se recomenda o uso de arginina em pacientes sépticos, principalmente aqueles com escore APACHE II (que indica a gravidade da doença) > ou = a 15. 3 GLUTAMINA 3.1 Considerações Gerais Glutamina é um L-aminoácido neutro, também conhecido como ácido 2- aminoglutarâmico. Este aminoácido possui cinco átomos de carbono e dois de nitrogênio (Figura 5) constituindo 30% a 35% dos aminoácidos no sistema circulatório, com papel fundamental no transporte de nitrogênio entre os órgãos (COSTER et al., 2003). Figura 5: Estrutura química da glutamina (TAPIERO et al., 2002 É o aminoácido mais abundante no plasma dos mamíferos e é ativamente transportado e metabolizado em quase todos os tecidos. Sua fonte primária é o músculo esquelético, sendo liberado na corrente sanguínea e transportado para uma variedade de tecidos (CURI et al., 2005; XU et al., 2006). Como a glutamina pode ser sintetizada de 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores novo é classificada como aminoácido não essencial. No entanto, apesar do organismo ter grande reserva de glutamina e poder sintetizá-la em grande quantidade, estados catabólicos como trauma e sepse são caracterizados por maior taxa de consumo deste nutriente, o que excede sua produção máxima. Sendo assim, o termo aminoácido condicionalmente essencial é o mais apropriado para designar a glutamina (LABOW & SOUBA, 2000; ZIEGLER et al., 2003; OGUZ et al., 2007). Vários tecidos e células no organismo utilizam a glutamina em alta taxa. Entre eles incluem-se o intestino, os rins, o fígado, os neurônios no sistema nervoso central, as células hematopoiéticas e do sistema imunológico e células β pancreáticas (NEWSHOLME et al., 2003; IWASHITA et al., 2005). Sob condições fisiológicas e em estado pós-operatório, o intestino delgado é o principal órgão consumidor de glutamina. Metabolicamente, a mucosa do intestino delgado é caracterizada por alto consumo de glutamina, que serve como fonte metabólica para os enterócitos e é fator principal para a manutenção da função e da integridade da mucosa intestinal (PLAUTH et al., 1999; POWELL-TUCK, 2007). 3.2 Metabolismo A biossíntese de glutamina a partir do glutamato e da amônia é catalisada pela glutamina sintetase numa reação dependente do trifosfato de adenosina (ATP) (WATFORD et al., 2002). O metabolismo da glutamina pode ser modulado pela atividade de duas principais enzimas, a glutaminase e a glutamina sintetase. O fígado expressa ambas enzimas e tem papel principal na homeostase da glutamina, podendo adicionar ou remover a mesma da circulação. Músculos e pulmões são capazes de produzir quantidades significativas deste aminoácido devido à alta expressão da glutamina sintetase. Entretanto, órgãos que são ávidos por este aminoácido, como rins e pulmões, têm alta atividade da enzima glutaminase (WATFORD et al., 2002; COSTER et al., 2003). A glutamina é liberada pelos músculos e pulmões. O tecido muscular é o maior sítio de síntese de glutamina no organismo e contem mais de 90% do “pool” de glutamina 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores corporal (Figura 6). A liberação de glutamina a partir dos músculos esqueléticos é estimulada durante condições de estresse como operações e queimaduras, o mesmo ocorre nos pulmões (NEWSHOLME et al., 2003). Embora os pulmões não tenham a massa tecidual ou o conteúdo de proteína dos músculos, ainda contém concentrações equivalentes da enzima glutamina sintetase (LABOW & SOUBA, 2000). Figura 6: Cinética da glutamina corporal obtida por isótopos estáveis em condições fisiológicas. GLN: glutamina (BIOLO et al., 2005). O glutamato é sintetizado pela transaminação de aminoácidos de cadeia ramificada como leucina, isoleucina e valina, que são descarboxilados nos músculos esqueléticos (VARY & LYNCH, 2004; BIOLO et al., 2005). O glutamato é recursor da síntese de ornitina em macrófagos e monócitos, o que o conecta com o ciclo da uréia e resulta na formação de arginina, substrato para a enzima óxido nítrico sintase (NEWSHOLME et al., 2003). Após injúria, a oxidação de aminoácidos de cadeia ramificada é acelerada no músculo esquelético, ocorrendo aumento na expressão e atividade da enzima glutamina sintetase. No entanto, a taxa de liberação de glutamina excede a de síntese, resultando 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores em depleção do “pool” intracelular deste aminoácido (MOSKOVITZ et al.,1994; TAPIERO et al., 2002). O metabolismo de glutamina nos rins é essencial para o controle ácido-básico do plasma, e combate à acidose pela produção de amônia (NH3) urinária. Aamônia é obtida pela quebra da glutamina em glutamato. A NH3 é exportada do lúmen do tubo coletor e combina-se com o H+ para formar o íon amônio (NH4+) que é perdido na urina. O H+ é obtido do ácido carbônico que se dissocia e forma bicarbonato (HCO3-) e H+. O HCO3 - entra na circulação e mantém o pH sanguíneo (NEWSHOLME et al., 2003; McGIVAN & BUNGARD, 2007). No intestino a glutamina serve como substrato energético e é convertida em amônia e glutamato que são liberados na veia porta e extraídos pelo fígado antes de alcançar a circulação sistêmica (LABOW & SOUBA, 2000; NOSE et al., 2002). 3.4 Funções metabólicas da glutamina A glutamina age como carreadora de nitrogênio para vários órgãos e células. Tem papel fundamental na promoção e na manutenção da função dos rins, intestino, fígado, coração, neurônios e células do sistema imunológico (CONEJERO et al., 2002; LIMA et al., 2002). É importante como precursora da síntese de peptídeos, proteínas, nucleotídeos e ácidos nucléicos, e também é fonte de carbono para a oxidação em várias células (NEWSHOLME et al., 2003; XU et al., 2006). Atua no transporte de nitrogênio, como metabólito intermediário e como fonte de energia, exercendo função antioxidante por meio da glutationa (LABOW & SOUBA, 2000). Aproximadamente um terço do nitrogênio derivado do metabolismo da proteína é transportado na forma de glutamina, o que provê uma maneira não tóxica de transportar amônia dos tecidos periféricos para as vísceras. Após atingir o órgão alvo, a amônia pode ser regenerada para formação de uréia. O fígado tem a função principal de manter a homeostase da amônia no organismo e os rins em manter o equilíbrio ácido-base (BIOLO et al., 2005; LABOW & SOUBA, 2000). A glutamina tem importante papel na gliconeogênese, no fígado e nos rins. Embora a gliconeogênese a partir da glutamina ocorra principalmente nos rins, a conversão da alanina está limitada ao fígado. A gliconeogênese renal contribui em 20% a 25% da 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores produção de glicose total do organismo. Em estados pós-absortivos a glutamina é importante precursora de glicose e contribui na adição de um novo carbono para formar glicose, sendo, portanto, a ligação entre o metabolismo de carboidratos e de proteínas (YONG & AJAMI, 2001; TAPIERO et al., 2002; CURI et al., 2005). A função antioxidante da glutamina é exercida pela glutationa, formada por glutamina, cisteína e glicina, podendo se apresentar no estado oxidado (GSSG) ou reduzido (GSH). O conteúdo de glutationa na mucosa intestinal pode diminuir em casos de doença inflamatória do intestino ou após período de restrição protéica, ocasionando depleção da GSH na mucosa e favorecendo o estresse oxidativo (TOWNSEND et al., 2003; MELIS et al., 2004). A glutationa é capaz de contrabalançar a injúria oxidativa causada pelas espécies reativas de oxigênio (ROS), que são importantes mediadores da inflamação e responsáveis pelo aumento da permeabilidade intestinal, depleção do ATP intracelular e inibição da troca de sódio/potássio. O aumento do estresse oxidativo é a maior causa de danos teciduais e pode levar ao desenvolvimento de falência múltipla dos órgãos (WESTMAN et al., 2006; POWELL-TUCK, 2007). Após trauma cirúrgico, a concentração fisiológica de glutationa no músculo esquelético diminui, o que pode indicar estresse oxidativo com potente injúria tecidual. 3.5 Ação intestinal e imunológica da glutamina A mucosa intestinal dos mamíferos é o tecido corporal de mais rápida replicação. A renovação (turnover) das células epiteliais do intestino (proliferação, migração, diferenciação e apoptose) e dos constituintes da barreira intestinal são processos dinâmicos afetados pelo estado nutricional e, pela adequação de nutrientes específicos da dieta (ZIEGLER et al., 2003). A glutamina é reconhecida como importante componente dietético e atua como agente trófico para enterócitos, mantém a integridade da mucosa e, conseqüentemente, reduz a possibilidade de quebra da barreira intestinal (MACFIE & McNAUGHT, 2002). 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Em situações de estresse a utilização de glutamina pelas células intestinais aumenta significativamente, devido ao estresse oxidativo e à depressão das defesas imunológicas (XU et al., 2006; KUMAR et al., 2007). A suplementação de glutamina em nutrição enteral e parenteral melhora o crescimento, o reparo, a função da mucosa intestinal e o balanço nitrogenado em casos de atrofia intestinal e injúria em animais (ZIEGLER et al., 2000). Durante o estado de morbidade o intestino é o órgão alvo da injúria, que se manifesta pela alteração da função das células intestinais e aumento da permeabilidade, seguido de hipóxia, estresse oxidativo e exposição a citocinas (WISCHMEYER, 2006). A glutamina é ainda conhecida por modular a função imunológica celular e a produção de citocinas. Desta forma, deficiência de glutamina em estados críticos está associada com resposta imunológica prejudicada e aumento da susceptibilidade à infecção. Isso ocorre em função da utilização da glutamina, em altas taxas, por células isoladas do sistema imunológico como os macrófagos, os linfócitos e os neutrófilos (ANDREWS & GRIFFITHS, 2002; CURI et al., 2007). A ativação dos macrófagos, in vivo ou in vitro leva ao aumento significativo da utilização de glutamina (NEWSHOLME, 2001; GOEL & GANGOLLY, 2007). O fornecimento de glutamina exógena para animais ou humanos infectados ou estressados pode elevar a concentração plasmática ao nível fisiológico e melhorar a resposta imunológica (NEWSHOLME, 2001). 3.6 Glutamina: Usos Clínicos A partir de um estudo de metanálise que avaliou 8 estudos comparando pacientes tratados com glutamina em relação a um grupo controle, verificou-se que a glutamina enteral pode reduzir a mortalidade em queimados e complicações infecciosas em queimados e trauma. Desta forma recomenda-se o uso da glutamina enteral em pacientes queimados e em trauma (www.criticalcarenutrition.com.br).
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