Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Rayra Alcure Silva HEMATOLOGIA MIELOMA MÚLTIPLO Prof.ª Andréa Soares Definição: 2ª doença oncológica mais freqüente em hematologia; Faz parte do grupo de doenças chamado de “discrasia de células plasmáticas”, sendo o principal representante deste. Há ainda o plasmocitose, amiloidose, etc. Doença neoplásica, caracterizada por uma proliferação clonal de plasmócitos (último estágio de diferenciação do linfócito B); Doença de Kahler: primeiro médico a descrever a doença; O que acontece com os ossos no MM? Há uma destruição óssea porque o plasmócito prolifera dentro dos ossos, por um mecanismo de homing, com moléculas de adesão, citocinas, etc. e, assim, ele fica dentro da medula. Há uma alteração de toda absorção e reabsorção óssea, e o osso fica vazio e vulnerável a fraturas, patológicas ou não; Epidemiologia: !% das neoplasias em geral; 13% das neoplasias hematológicas (só perde para o LNH); Mediana de idade no diagnóstico: 70 anos. Costumava ser referido como uma “doença de idoso”, mas há casos recentes em pacientes com pouca idade; 5,5 casos/100.000 habitantes; Em pacientes com menos de 60 anos, em 10 anos só há 30% de sobrevida. Em pacientes mais velhos a sobrevida é ainda pior; Não tem cura até hoje! Patogenia: Célula de origem: plasmócito (célula roxa, grande, com citoplasma basofílico e uma mancha branca, que corresponde ao complexo de Golgi, núcleo geralmente excêntrico); Papel do microambiente da medula óssea em permitir que o plasmócito se multuplique lá dentro; Papel das citocinas; Em cada fase de diferenciação há um grupo de doenças hematológicas previstas. Na diferenciação dos linfócitos, há uma fase antígeno-dependente e outra antígeno-independente. Na fase inicial se originam as leucemias de precursor B, depois os linfomas e por fim os mielomas, em níveis progressivos de diferenciação da célula neoplásica; No Mieloma Múltiplo consegue-se identificar uma evolução dentro do quadro: a doença geralmente começa, mas geralmente não se pega isso na prática clínica, como uma doença que é chamada de Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado (MGUS: monoclonal gammopathy of undetermined significance), cuja prevalência é de 3% da população nos maiores de 70 anos. Isso pode evoluir para um mieloma intra-medular (aumento dos plasmócitos sem repercussão sistêmica), ou para um mieloma extra-medular (não significa que o plasmócito saiu da medula, apenas que há repercussão a nível sistêmico), ou ainda para o último estágio, que seria a leucemia de células plasmáticas (corresponde ao momento em que o plasmócito sai da medula e começa a circular). Essa evolução clínica é associada a uma evolução citogenética e a uma evolução molecular; há também um aumento da angiogênese (drogas que inibem a angiogênese têm um papel importante no tratamento do mieloma, pois inibem a proliferação do tumor. Como exemplo podemos citar a talidomida, extensivamente utilizada na prática clínica) e da reabsorção óssea. Geralmente o diagnóstico se dá no estágio de MM intra-medular. Com a progressão da doença, as células vão adquirindo características de malignidade: ela passa de um plasmócito com uma cara de plasmablasto (imaturo) e vão ocorrendo translocações secundárias com o tempo, sendo uma evolução citogenética. A célula plasmática é apenas um aspecto da neoplasia, pois o estroma da MO, os osteoclastos e osteoblastos, as citocinas e especialmente a IL-6 têm um papel importante em permitir o mecanismo de homing da célula, ou seja, que ela fique ali em um ambiente propício para começar a se multiplicar. Critérios diagnósticos: Proteína monoclonal no sangue ou urina: as células são todas iguais e produzem a mesma imunoglobulina, de modo que o aumento é monoclonal; OBS.: Eletroforese de proteínas, feito no sangue: em um exame normal, pelo menos 50% deve ser albumina (que normalmente é maior que a globulina). Quando há inversão desse gráfico, deve-se pesquisar a causa subjacente: uma infecção, uma neoplasia, etc. As globulinas se dividem em alfa1, alfa2, beta e gama na corrida eletroforética, com predominância de aproximadamente 5, 10, 15 e 20%, respectivamente. Quando há um aumento monoclonal, uma delas dispara e as outras diminuem. Quando todas elas disparam, geralmente corresponde a um aumento policlonal. Imunofixação ou imunoeletroforese: nesse exame, mais sensível, consegue-se identificar também as cadeias leves (kapa ou lambda) e pesadas (GAMDE – 25% dos mielomas são por IgA!). Isso é importante, pois o mieloma lambda leva mais a doença renal que o kapa (“lambda lambe os rins”). E há também mielomas que só produzem cadeia leve (antigamente era conhecido por mieloma não-secretor, pois via-se os efeitos do mieloma, mas não se conseguia dosar as cadeias leves). Plasmocitose medular: é preciso que haja mais de 10% de plasmócitos na medula. Qual é o significado clínico disso? Isso significa que a hematopoiese é suscessivamente substituída apenas pela produção de plasmócitos, causando depleção das outras células sanguíneas no sangue periférico. Ou seja, o paciente pode apresentar anemia, leucopenias, etc. Lesão de órgão-alvo: CRAB (uma basta!) Calcium: hipercalcemia > 1mg/dL acima do normal ou > 11mg/dL: devido à destruição óssea; Renal: creatinina > 2mg/dL: devido à desregulação de íons e cátions; Anemia: Hb 2g/dL abaixo do normal ou Hb < 10mg/dL; Bone: lesão lítica ou osteoporose com fraturas; Classificação OMS – 2008: Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado: Proteína M no soro e/ou urina aumentada em mais 3g/dL e Plasmócitos menores que 10% na medula óssea Sem lesão de órgão-alvo; Mieloma Assintomático (Smoldering) / intramedular: Proteína M no soro > 3g/dL e/ou Plasmócitos maiores ou iguais a 10% na medula óssea Sem lesão de órgão-alvo; É muito raro se diagnostica um mieloma nesta fase, pois ela é muito breve. Certamente ela progredirá para o Mieloma Sintomático, onde existe tratamento. OBS.: Não se tratam esses dois estágios iniciais! Para se iniciar o tratamento, o quadro deve OBRIGATORIEDADE constar com os três critérios abaixo. Não se trata uma gamopatia monoclonal, pois existem outras causas para tal, como uma paraneoplasia (secreta IL6 e faz gamopatia monoclonal); Mieloma Múltiplo Sintomático: Proteína M no soro e/ou urina Plasmócitos clonais na medula óssea ou plasmocitoma Com lesão de órgão-alvo; Quadro clínico: Infiltração da medula óssea pelos plasmócitos: substituição da hematopoiese; Produção de proteína monoclonal: efeito sistêmico; Deficiência imune: devido à depleção das demais imunoglobulinas, que não estão se multiplicando descontroladamente; Lesões ósseas – dor óssea: 2/3 dos pacientes ao diagnóstico; Locais mais comuns: dorso e tórax (arcos costais); Agravada com movimento; Redução da altura da vértebra por colapso; Osteoporose; Fratura patológica; A doença óssea é melhor avaliada por radiografia do esqueleto; O exame da caixa craniana é muito interessante: lesões líticas e, como é um osso chato, é fácil de ver. Diagnóstico diferencial com CA de próstata metastatizada. Podem haver lesões líticas insuflantes (causando uma dor terrível quando desprende o periósteo); Além disso, pode haver, com o colapso vertebral, acometimento da medula, levando a déficits neurológicos e muita dor. Insuficiência renal – “rim do mieloma”: Cilindros nos túbulos coletores e distais; Dilatação e atrofia; Néfron não-funcionante; Cadeia leve (lambda) – Proteína de Bence-Jones; Fatores precipitantes para a doença renal (nem todo paciente com MM tem IR): - desidratação; - contraste; - hipercalcemia; Outras causas de Insuficiência Renal: Hiperuricemia; Uso inadvertido de AINEs; Medicamentos nefrotóxicos; Infusão rápida de bifosfonatos: medicamentos usados para melhorar a doença óssea dos pacientes, diminuindo a reabsorção óssea. Eles podem causar IR, contudo, e, se utilizados excessivamente, podem causar um quadro importante de necrose da mandíbula. São utilizados por 2 anosapós o diagnóstico, infusões 1x por mês, garantindo uma ótima estabilidade óssea ao paciente. Hipercalcemia: 30 a 40% dos pacientes; Associado a carga tumoral (quanto maior o cálcio, maior a carga tumoral e maior a lesão óssea); Poliúria, polidipsia e letargia; Constipação, náuseas e vômitos; Medida do cálcio iônico na correção com albumina (uma conta padronizada); Alterações neurológicas Sintomas neurológicos: Compressão por plasmocitoma ou fragmento ósseo para dentro do canal medular, ou compressão do nervo; Melhor exame: RM de coluna vertebral; Compressão medular: EMERGÊNCIA (se nos primeiros 7 dias, pode ser reversível); Dor, parestesias, paresias, incontinência urinária; Medicamentos; Hiperviscosidade: Rara no MM: menos de 10%/ MMIgA ou IgG3 – polímeros; Problemas circulatórios: cerebrais, pulmonares, renais e sangramentos; Diagnóstico: medida da viscosidade sérica e exame de fundo de olho (engurgitamento e tortuosidade dos vasos; hemorragia;); Tratamento: plasmaférese: passa por uma máquina de aférese e é filtrado, de modo que as hemácias voltam para o paciente e o plasma é substituído; Infecções: Uma das maiores causas de mortalidade; Aumento de suscetibilidade a infecções; - hipogamaglobulinemia funcional; - defeitos em células T/NK e monócitos; Vacinação para Influenza; Avaliação laboratorial: Hemograma completo: anemia (critério do CRAB para lesão de órgão-alvo), pancitopenia; Avaliação do sangue periférico: fenômeno de Rouleaux (hemácias formam fila); VHS; Bioquímica: - avaliação da função renal; - cálcio, ácido úrico, proteínas séricas, LDH; Eletroforese com imunofixação de proteínas séricas e urinárias; Dosagem de imunoglobulinas; Beta2 microglobulina; Proteína C reativa; Dosagem de cadeia leve livre: recente; Radiografias de esqueleto; - RM (se houver suspeita de lesão na coluna vertebral) e PET; Aspirado e/ou biópsia de medula óssea; - Morfologia e quantificação; - Avaliação de citogenética e FISH (hibridização in situ por imunofluorescência); ISS: International Staging System: leva 2 fatores em consideração: a beta2microglobulina (quanto maior, mais grave é a doença) e a albumina (quanto menor, mais doença); Modelo de prognóstico molecular: leva em consideração as translocações e as alterações moleculares; Princípios do tratamento: Medidas gerais e de suporte: Tratamento de hipercalcemia: hidratação venosa, corticóide e bifosfonato; Estabilização de lesões ósseas: conservadoras, cirúrgicas e radioterapia; Tratamento das infecções; Eritropoietina/transfusão/analgesia (prescrever morfina sem medo para pacientes da terceira idade); Hemodiálise/Plasmaférese; Se a doença está controlada, o paciente não tem dor! A decisão atual para o MM, a partir do momento em que o paciente foi diagnosticado, é se ele é elegível ou não para transplante de medula óssea. O transplante faz parte do tratamento inicial do paciente com MM, se ele tiver menos de 70 anos (o SUS paga até 65 anos). Se o transplante não for uma opção, o que resta é o tratamento conservador, geralmente com comprimidos (QT oral) e permanecer em casa a maior parte do tempo – você não pode matar o doente com o seu tratamento, ele já vai morrer de mieloma. Para aqueles que vão ser submetidos ao transplante, o tratamento deve ser pesado desde o início, com QT venosa e todo o mais, de modo que se diminua a doença ao máximo antes do transplante propriamente dito, para contar as células-tronco da pessoa (marcador CD34). O paciente é submetido a uma QT fortíssima, que suplanta toda a sua hematopoiese. Assim, ele só sobrevive com a reinfusão de suas próprias células-tronco, que foram separadas e congeladas e, pelo mecanismo de homing, se alojam na medula óssea, repovoando o sangue. É o chamado transplante autólogo, procedimento simples e de alta sobrevida. As células-tronco podem ser da medula óssea (pouco usado devido à pouca praticidade) ou de sangue periférico (mais usado em adultos), ou mesmo de cordão umbilical (possibilidade para crianças). Existe um mínimo de células necessárias para a reinfusão: mais de 2x106 células/kg. Elas são levadas congeladas e são descongeladas à beira do leito. Conlusão: MM é ainda uma doença incurável; Houve prolongamento da sobrevida; Um dos objetivos do tratamento é melhorar a qualidade de vida dos pacientes; Efeitos tardios: neurotoxicidade e mielodisplasia; Novas drogas em estudo com novos alvos terapêuticos;
Compartilhar