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Data: 02/09/08 Aula 01 Meu nome é Fabrício Carvalho, sou Procurador do Estado, sou mestre em Direito Civil pela UERJ. Nós teremos 30 encontros de 3 horas, vamos ter 90 horas e a proposta é abranger parte geral, obrigações, contratos, reais e responsabilidade civil. O tema é bastante árduo, bastante extenso, então vamos nos dedicar com afinco. Em relação à referência bibliográfica não há um autor que resolva todos os problemas. Na verdade, no direito civil contemporâneo vamos ver que verdades absolutas são muito poucas. Então, vou indicar algumas opções. Algumas boas referências: Carlos Alberto Gonçalves, o curso de direito civil e não as sinopses. Também é boa obra a do Cristiano Chaves de Farias que escreve em parceria com o Nelson Rosenvald. Para parte geral há outra obra também interessante que é do Francisco Amaral. Dentre os clássicos, talvez o mais interessante seja o Caio Mário, até porque a atualizadora é a Maria Celina Bodin de Moraes que é uma autora que está bem atualizada com vários temas. Claro que a atualizadora acaba sofrendo algum tipo de restrição, pois não pode alterar a substância da obra, então... Enfim, dos clássicos talvez o Caio Mário. Há quem goste do Venosa e assim sucessivamente. Como segunda leitura, em uma perspectiva um pouco mais aprofundada e mais polêmica, como vamos perceber no decorrer do curso, temos o Gustavo Tepedino. Não aconselho como primeira, porque o Tepedino é muito polêmico. Nós veremos que ele tem posicionamentos extremamente minoritários, mas talvez seja o diferencial hoje no direito civil. Não dá mais para estudar direito civil sem consultarmos os enunciados do Conselho da Justiça Federal. Se colocarmos no Google “Conselho da Justiça Federal”, é o primeiro site que aparece. Claro que os objetivos aqui são múltiplos, nem todo mundo quer só concurso público, mas falando na realidade de concurso talvez se fizermos uma estatística pós código civil em vigor, 80% das questões de prova encontram resposta nesses enunciados. Mas não podemos levar esses enunciados para as provas, então quem pensa em concurso tem que ler e vamos fazer remissão aqui, acolá, fazendo colas lícitas em nossos códigos. 1Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho 1. Constitucionalização do Direito Civil Antes de começarmos especificamente a tratar do código civil, vamos fazer uma breve introdução acerca da questão da constitucionalização do direito civil. É um tema que está em voga... Na verdade percebemos que toda a tendência do direito civil é de ser interpretado à luz da Constituição. O Código Civil de 1916, o código civil revogado foi extremamente inspirado pelo Código Civil francês, pelo Código Civil Napoleônico. Toda codificação da época foram extremamente influenciados pelo Código Civil da Revolução Francesa. É a chamada codificação oitocentista... Código elaborado na época sob o influxo do Código Civil Napoleônico. Como todos seguramente já sabem, há três postulados básicos na Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Só que a perspectiva de igualdade da Revolução Francesa correspondia a idéia da igualdade meramente formal, isonomia formal e no ambiente de isonomia formal todos são tidos como efetivamente iguais. Essa questão da isonomia formal que é tão difundida no direito constitucional trouxe um reflexo decisivo para o direito civil, porque em um ambiente em que todos são tidos como efetivamente iguais, desnecessária é a intervenção do Estado nas relações privadas. Se sou tido como absolutamente igual a IBM ou qualquer outra grande empresa, é desnecessária a intervenção do Estado nessa relação jurídica porque se todos são efetivamente iguais cada um melhor tutelará os seus respectivos interesses. Então, naquele contexto era tido como desnecessária a intervenção estatal nas relações privadas. Obviamente que esse contexto de isonomia formal interessava a classe econômica dominante, a burguesia que em um ambiente em que o Estado não intervém nas relações privadas o interesse econômico sempre prepondera. Nós sabemos que esse sistema de isonomia formal caiu por terra, não resistiu a realidade dos fatos, grandes guerras, crack da Bolsa de Nova Iorque e hoje nós conhecemos o sistema de isonomia material, isonomia substancial. Então, percebam bem... O que aconteceu no direito brasileiro resumidamente? Nós tínhamos um Código Civil de 1916 extremamente apegado ao ideal da Revolução Francesa, um Código Civil que não prezava pela intervenção do Estado nas relações privadas. Por outro lado, nós tínhamos uma realidade sócio- econômica que impunha a intervenção estatal nas relações privadas de direito civil. Como foi a areação do legislador a esse descompasso entre o Código Civil e essa nova realidade social? Foi o surgimento dos chamados microssistemas. É o que a doutrina chama de movimento de descodificação, é o chamado movimento de descodificação. 2Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Poupo a pouco o Código Civil de 1916 foi perdendo a centralidade do sistema porque diversas leis extravagantes, esses chamados microssistemas começaram a cada vez mais a regulamentar determinados setores da vida privada. Nós temos hoje diversos microssistemas: estatuto da terra, locação, consumidor, meio ambiente, inúmeras situações envolvendo a questão dos microssistemas. Qual o grande cuidado que é preciso tomar? Essa expressão microssistemas ela não pode ser levada ao pé da letra, porque se interpretarmos literal mente a expressão microssistemas, o que essa expressa parece sugerir? Que nós temos diversos sistemas jurídicos, quando na verdade, por razões óbvias, o sistema jurídico é apenas um. O que garante a unidade do sistema jurídico? É a Constituição. Quer dizer, o papel preponderante da Constituição Federal é garantir a unidade do sistema jurídico. Então, claro que dentro dessa perspectiva de garantir a unidade do sistema, o direito civil necessariamente precisa ser interpretado em harmonia com os valores e princípios constitucionais. Aquela pirâmide do Kelsen me parece que ilustra bem essa perspectiva. Percebam que isto vem em harmonia inclusive com a tendência de pós positivismo. Dentro da lógica de que o direito positivo é válido, a regra escrita é válida, mas desde que interpretada e aplicada em harmonia com os valores do sistema. Não há dúvida alguma não há hierarquia entre normas e princípios constitucionais. No direito brasileiro sempre prevaleceu o chamado princípio da unidade hierárquico-normativa. O direito brasileiro nunca admitiu aquela teoria das normas constitucionais inconstitucionais. O Otto Bachof defendia a existência de hierarquia ente normas, entre princípios constitucionais, mas isso nunca valeu... Princípio da unidade hierárquico-normativa. Cá entre nós, eu costumo dizer que os constitucionalistas não nos ouçam, mas há um princípio constitucional que ganha um papel de maior realce no direito civil como veremos que é o princípio da dignidade da pessoa humana. A Maria Celina Bodin de Moraes preconiza que o princípio da dignidade da pessoa humana comporta quatro subprincípios. Nós teríamos quatro subprincípios decorrentes da dignidade da pessoa humana. Quais sejam: liberdade, igualdade, integridade psicofísica e solidariedade. Princípio constitucional da solidariedade nós utilizaremos bastante aqui no decorrer do nosso curso contemplado no artigo 3º, inciso I da CF. Lembrando que a dignidade da pessoa humana está no artigo 1º, inciso III da CF. Art. 3º da CF: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; Art. 1º da CF: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 3Módulode Direito Civil – Fabrício Carvalho III - a dignidade da pessoa humana; A grosso modo, é claro vamos precisar avançar um pouco no direito civil para percebermos os efeitos mais práticos decorrentes dessa nova perspectiva, mas é justamente por conta do que nós estamos começando a delinear que modernamente a doutrina costuma salientar a questão da despatrimonialização do direito civil. É justamente a dignidade da pessoa humana aplicada ao direito civil que gera a chamada despatrimonialização do direito civil. Para não viajarmos demais, qual é a síntese da despatrimonialização do direito civil? Quando há um conflito entre o interesse patrimonial e o interesse existencial há de preponderar o interesse existencial. Basicamente a doutrina costuma dizer o seguinte: em um ambiente anterior a preocupação central do ordenamento jurídico para o direito civil se focava no contratante e no proprietário, a preocupação central envolvia o contratante e o proprietário dentro de uma conotação patrimonial. No direito civil contemporâneo a preocupação central deixa de ser o contratante e o proprietário e passa a ser a pessoa humana. O que já dá para perceber claramente aqui? No contexto atual, ocorre uma mitigação na dicotomia direito público e direito privado. Estamos vivendo em um ambiente em que ocorre a mitigação da dicotomia direito público e direito privado. Não há um rompimento dessa dicotomia, mas há uma mitigação, uma atenuação dessa dicotomia. Há algum tempo atrás era muito fácil separarmos o direito público do direito privado. O que se dizia? Direito público, interesse público e direito privado, interesse particular. Vejam que essa afirmativa infelizmente que encontramos em alguns manuais, ela fazia todo sentido em uma época em que o Estado não intervinha nas relações privadas, naquele ambiente o direito civil era direito privado e o interesse era meramente particular, mas no contexto atual nós passamos a ter também interesse público nas relações privadas. Tem algumas expressões que às vezes ainda encontramos em alguns manuais que na verdade precisam ser revisitados. É muito comum ouvirmos o seguinte: essa norma é de direito patrimonial e, portanto disponível... Isso é um equívoco, fazia sentido em uma época em que o Estado não intervinha nas relações privadas, mas no contexto atual o fato de uma norma envolver direito patrimonial não significa necessariamente dizer que ela é uma regra disponível. Veremos no decorrer do nosso curso a boa-fé objetiva, a função social dos contratos, enfim uma série de aspectos que demonstram o interesse público nas relações privadas. Cláusulas Gerais 4Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Antes de começarmos no código especificamente, vamos nos ater a uma definição muito importante que diz respeito às chamadas cláusulas gerais, um tema bastante atual. Cláusulas Gerais. Uma das características do Código de 16, que também se espelhava no Código Napoleônico, era chamada a pretensão de concretude. O Código de 16 tinha a chamada pretensão de concretude. Como o próprio nome já sugere, o Código de 16 tinha pretensão de regulamentar casuisticamente todos os potenciais conflitos de interesses. É claro e evidente que essa pretensão é absolutamente incompatível com a dinâmica das relações privadas. É lógico que o legislador da época não era ingênuo, é óbvio que os legisladores da época já anteviam essa impossibilidade, mas percebam bem: a Revolução Francesa acabou instaurando um novo modelo, na verdade se buscava a quebra de paradigmas antes estabelecidos pelo sistema feudal e os magistrados na época da Revolução Francesa ainda se encontravam atrelados ao regime anterior, ao modelo de pensamento anterior. Então, vejam que a idéia de que o Código francês era completo tinha que objetivo? Tinha o objetivo de atribuir ao julgador a missão de resolver os conflitos de interesses como se houvesse uma mera receita de bolo. Quer dizer, o código era completo e, portanto não havia qualquer margem de liberdade para o julgador solucionar os conflitos de interesses, não havia muito espaço para que o julgador pudesse imprimir seus respectivos valores na resolução dos conflitos. Daí aquela máxima: “dá-me os fatos, que eu te darei a norma”, como se fosse muito fácil a solução de todos os conflitos. Como superar esse envelhecimento precoce da legislação? Porque, na verdade um conjunto de regras casuísticas, novos fatos surgem e esses fatos não encontram solução nesse conjunto de regras casuísticas. Daí a importância das chamadas cláusulas gerais. É justamente nesse contexto que entram as cláusulas gerais, pelo seguinte: as cláusulas gerais representam uma nova técnica legislativa. Na verdade, as clausula gerais são normas dotadas de maior vagueza, maior abstração. Por isso é comum ouvirmos que as cláusulas gerais têm uma vocação expansionista, por quê? Porque essas cláusulas gerais, justamente por serem vagas, por serem normas elásticas elas têm uma potencial aplicação em diversas situações fáticas. Isso é muito importante porque o nosso código atual usa e abusa da técnica de cláusulas gerais, é uma marcante do nosso código atual... Boa fé objetiva, função social do contrato. O artigo 11 do Código Civil, que veremos já na próxima aula, só para termos uma idéia o artigo 11 diz lado: com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis não podendo seu exercício sofrer limitação voluntária. 5Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Art. 11 do CC: Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Direitos da personalidade, cláusula geral. Quantas situações práticas nós não podemos enquadrar aqui no artigo 11 do Código Civil?! Enfim, é uma marcante do código atual. Então, o grande mérito das cláusulas gerais qual é? É viabilizar que novas situações práticas possam vir a ser dirimidas, possam vir a ser enfrentadas à luz dessas regras que tem uma maior elasticidade, uma maior capacidade de absorção. Qual é a grande crítica as cláusulas gerais? Insegurança jurídica. A grande crítica é a insegurança jurídica. Sem dúvida alguma, isso é inegável, as cláusulas gerais conferem uma maior dose de discricionariedade ao julgador. Qual é o contra argumento? Como vamos defender as cláusulas gerais diante dessa crítica? O contra argumento é o seguinte: sem dúvida alguma as cláusulas gerais conferem maior liberdade ao julgador, porém essa liberdade não é uma liberdade absoluta. O que limita a aplicação e interpretação das cláusulas gerais? Princípios constitucionais. Que dizer, os princípios e valores constitucionalmente tutelados representam uma limitação a aplicação e interpretação das cláusulas gerais. O tema é importante primeiro porque o código usa muito essa técnica como percebemos, também porque as cláusulas gerais também vêm de uma conexão com a perspectiva da constitucionalização do direito civil. 2. Personalidade Jurídica Vista essa parte mais introdutória, vamos começar com o código especificamente, começando com a idéia de personalidade jurídica. Definição tradicional, definição majoritária: é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações. Vamos seguir nessa perspectiva tradicional e depois veremos uma nova perspectiva. Então, personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações. O que a doutrina amplamente majoritária sustenta? A princípio, para ser titular de direitos e obrigações é preciso que se tenha personalidade jurídica, mas nós temos algumas exceções, são os chamados entes despersonalizados, que Pontes de Miranda chama de pessoas formais. Os exemplos aqui são os exemplos clássicos:a massa falida, o espólio, a sociedade de fato e tradicionalmente também se coloca o condomínio. Em relação ao condomínio, é preciso registrar que há uma forte tendência doutrinária no sentido de se sustentar que o condomínio edilício tem personalidade jurídica. Nesse sentido, Enunciado nº 246 combinado com o Enunciado nº 90 do Conselho da Justiça Federal. 6Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Enunciado nº 90: Art. 1.331: Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse. (Alterado pelo En. 246 – III Jornada) Enunciado nº 246: Art. 1.331: Fica alterado o Enunciado n. 90, com supressão da parte final: “nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse”. Prevalece o texto: “Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício”. Quando falamos em Enunciado do Conselho da Justiça Federal parece que são Enunciados firmados em caráter jurisprudencial, não é nada disso. Esses Enunciados foram firmados por estudiosos do direito civil. O Gustavo Tepedino, por exemplo, teve uma participação decisiva e expressiva na elaboração dos enunciados. Então, é na verdade uma interpretação trazida pelos estudiosos do tema, não há nenhum vínculo com o entendimento da jurisprudência da Justiça Federal especificamente. Além desses denunciados, nós temos a Maria Helena Diniz e o Marco Aurélio, atualmente examinador da Defensoria pública. Na verdade, o condomínio edilício celebra uma série de contratos, ele tem empregados, enfim... Há uma magnitude tal de obrigações contraídas pelo condomínio edilício que vêm fazendo com que a doutrina se incline em favor de personalidade jurídica para o condomínio edilício. Antes de mais nada, vamos ressaltar aqui o seguinte: esses entes despersonalizados eles não têm essa aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações, mas por uma razão política legislativa o ordenamento jurídico atribui a esses entes despersonalizados a possibilidade do exercício de alguns direitos e obrigações. A questão dos entes despersonalizados é uma questão de política legislativa. Na verdade, esses entes despersonalizados têm inclusive capacidade processual, o CPC prevê capacidade processual para tais entes despersonalizados. Essa é a perspectiva clássica, a perspectiva majoritária. Já criando polêmica, discorda dessa posição o Gustavo Tepedino. O Tepedino não é isolado aqui diga-se de passagem, por exemplo, a Giselda Hironaka acompanha essa posição do Tepedino. Qual é a segunda perspectiva? A segunda perspectiva vem no sentido de que a personalidade jurídica é um valor que decorre do princípio da dignidade da pessoa humana. Dentro desse contexto percebam bem: só tem personalidade jurídica a pessoa física, só pessoa física teria personalidade jurídica. O Tepedino ressalta seguinte: não podemos confundir personalidade jurídica com subjetividade. A subjetividade seria essa a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Então, na verdade a pessoa jurídica, por exemplo, não teria personalidade jurídica, ela seria dotada de subjetividade, os entes despersonalizados também teriam subjetividade. 7Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Percebam que o Tepedino ressalta que personalidade jurídica não é sinônimo de capacidade de direito. A idéia de capacidade de direito não é essa aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações? A doutrina clássica costuma afirmar que personalidade jurídica e capacidade de direito seriam sinônimos. O Tepedino diz que não é nada disso, personalidade jurídica só tem pessoa física e a capacidade de direito abrange não só pessoa física, mas também a pessoa jurídica e os entes despersonalizados. Com isso, o que o Tepedino defende é que todos os desdobramentos da dignidade da pessoa humana, toda a tutela especial envolvendo direitos da personalidade, por exemplo, são privativos da pessoa física. Vamos discutir mais adiante a questão do dano moral em favor de pessoa jurídica, a maioria da doutrina entende pelo cabimento dano moral, e isso tem até súmula do STJ que a súmula 227, e o Tepedino discorda, para ele não cabe dano moral em favor de pessoa jurídica, justamente porque o dano moral decorre da dignidade da pessoa humana, o dano moral seria privativo da pessoa física. Essa posição é minoritária. Súmula nº 227 do STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Início da Personalidade Em relação ao início da personalidade jurídica, nós temos aquelas teorias clássicas. A primeira teoria tradicional é a chamada teoria natalista. Pela teoria natalista a personalidade jurídica se inicia com o nascimento com vida, no momento da primeira respiração. Tem até um exame que se faz para aferir se houve ou não respiração, é a chamada docimasia hidrostática de galeno. Mergulha-se o pulmão na água e se verifica se há ou não ar nos pulmões. Cuidado, pois há uma posição isolada do Washington de Barros no sentido de que a personalidade jurídica se iniciaria quando do rompimento do cordão umbilical. Posição isolada. Na verdade, a teoria natalista decorre inclusive da interpretação, na verdade não é nem da interpretação e sim da letra fria do artigo 2º, primeira parte do Código Civil que diz que a personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida. Art. 2o do CC: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Nesse sentido, nós temos a maioria da doutrina, só a título de exemplificação o próprio Gustavo Tepedino que é polêmico em vários temas, ele defende a teoria natalista, o Arnaldo Rizzardo, o Venosa, o Caio Mário... A segunda posição no é a chamada teoria concepcionista, também chamada teoria conceptualista. Essa teoria defende que a personalidade jurídica se iniciaria desde a concepção e, portanto o nascituro seria dotado de personalidade jurídica. 8Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Argumentos utilizados por essa segunda perspectiva: a redação do artigo 2º, parte final do Código Civil, o mesmo artigo 2º na parte final. A parte final diz assim: mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro. Art. 2o do CC: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. O código usa a expressão “direitos do nascituro” e, na verdade, para se ter direitos é preciso personalidade jurídica. Outro argumento: o nascituro pode ser donatário, artigo 542; pode ser o herdeiro, artigo 1798; pode haver reconhecimento de paternidade do nascituro, artigo 26 parágrafo único do ECA e artigo 1609 parágrafo único do Código Civil; o nascituro tem direito a gestação saudável, realização de exames de pré-natal, artigo 7º do ECA. Art. 542 do CC: A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. Art. 1.798 do CC: Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. Art. 26, Parágrafo único do ECA: O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes. Art. 1.609, Parágrafo único do CC: O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. Art. 7º do ECA: A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Tradicionalmente são defensores dessa posição o Leoni, Francisco Amaral, Teixeira de Freitas, tem alguns clássicos defendendo a teoria concepcionista, a Silmara ??? Almeida... Essa é inclusive a perspectiva do direito francês,o direito francês segue a teoria concepcionista. O que há de novo aqui é o seguinte: essa dicotomia teoria natalista versus teoria concepcionista é uma dicotomia antiga. Agora, o que vem surgindo de novo aí é o seguinte: nós temos alguns autores defendendo que o nascituro teria personalidade jurídica para práticas de atos de natureza existencial, para o exercício de situações existenciais, ou seja, para o exercício de direitos da personalidade, mas não teria para exercício de direitos estritamente patrimoniais. Uma das autoras que inclusive defende essa posição, uma delas nós veremos que é a Maria Helena Diniz, ela costuma dizer o seguinte: o nascituro tem personalidade jurídica para o exercício dos direitos da personalidade, para situações existenciais. Ela chama essa personalidade jurídica de personalidade jurídica formal, estaria atrelado ao exercício de direitos da personalidade, mas o nascituro não teria personalidade jurídica para o exercício de direitos patrimoniais que ela chama de personalidade jurídica material. Quem acompanha essa expressão da Maria Helena Diniz é o Flávio Tartuce que também tem uma boa obra, uma coleção nova. 9Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho É dentro desse cenário, desse novo cenário trazido por vários autores é que o nascituro, por exemplo, ele tem personalidade jurídica para pleitear investigação de paternidade, estamos falando de um direito à identidade pessoal. Toda discussão envolvendo a possibilidade do nascituro pleitear alimentos, a questão dos alimentos, pois os alimentos estão atrelados a subsistência, a dignidade da pessoa humana. Questão recente decidida pelo STJ, no informativo 360 STJ, Resp 931 556 que diz respeito à questão do dano moral em favor do nascituro pelo falecimento do genitor. Depois vale a pena dar uma olhada no julgado. Informativo nº 360 do STJ – Terceira Turma ACIDENTE DE TRABALHO. PENSÃO MENSAL. NASCITURO. DANO MORAL. Prosseguindo o julgamento, a Turma decidiu ser incabível a redução da indenização por danos morais fixada em relação a nascituro filho de vítima de acidente fatal de trabalho, considerando, sobretudo, a impossibilidade de mensurar-se o sofrimento daquele que, muito mais que os outros irmãos vivos, foi privado do carinho, assim como de qualquer lembrança ou contato, ainda que remoto, de quem lhe proporcionou a vida. A dor, mesmo de nascituro, não pode ser mensurada, conforme os argumentos da ré, para diminuir o valor a pagar em relação aos irmãos vivos. REsp 931.556-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/6/2008. Houve um acidente do trabalho, o sujeito faleceu em razão do acidente do trabalho. Foi demonstrada a culpa do empregador, o falecido tinha filhos vivos e nascituro. O STJ condenou o empregador em dano moral não apenas em favor dos filhos vivos, mas também favor do nascituro e, diversamente do que ocorria anteriormente, o STJ ressaltou que o valor devido ao nascituro deveria ser o mesmo daquele devido aos outros filhos vivos. Em uma perspectiva clássica se dizia que pode até caber dano moral, esse sujeito nem conheceu o pai, então valor do dano moral seria reduzido. Só que em uma perspectiva tradicional que valoriza a dignidade da pessoa humana, se sustenta que talvez justamente o fato de não haver sequer a oportunidade do nascituro conhecer o pai, talvez o dano moral seria mais intenso do que em relação aos outros filhos vivos. Então, o STJ veio nessa perspectiva de reconhecer ser devido dano moral, inclusive um valor idêntico pela dor suportada pelo nascituro de sequer ter tido a oportunidade de conhecer o pai. Quem quiser até fazer um contraste com a perspectiva anterior, eu cheguei a ver um julgado anterior que vinha contra essa tendência e dizendo que o valor seria diferente. Resp 399028. Esse último julgado vai na perspectiva de que o valor seria diferente. Resp 399028 / SP RECURSO ESPECIAL 2001/0147319-0 DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO 10Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum. II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum. III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional. Tem a questão, por exemplo, do dano moral por deformações sofridas durante o processo gestacional por ato de terceiros, quer dizer, por falha do médico que dá o medicamento inadequado e o sujeito nasce com algum tipo de deficiência. Se discute se o nascituro teria ou não possibilidade de pleitear dano moral em face daquele que teria supostamente causado aquela deficiência. Nesse contexto, vale a pena ressaltar o Enunciado 01 do CJF que vai até um pouco além, diga-se de passagem. Enunciado nº 01 do CJF: Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura. Esse enunciado diz assim: a proteção que o código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade tais como nome, a imagem e sepultura. Mesmo o natimorto teria proteção de direitos da personalidade e aqui, na verdade, o enunciado implicitamente acaba reconhecendo a existência de direitos da personalidade em favor do nascituro. Vejam que isso vai contra a perspectiva clássica que sempre afirmou que ou o sujeito tem personalidade jurídica ou não tem. Não existe esse negócio de o sujeito ter personalidade jurídica em parte. Nessa nova perspectiva, o nascituro teria personalidade jurídica apenas para concretização de situações existenciais. Como se justifica o fato, por exemplo, de o nascituro poder ser donatário? A teoria natalista vai dizer que, na verdade, o nascituro tem um direito sujeito a condição suspensiva, é a lógica da condição suspensiva que é utilizada para refutar a idéia de personalidade jurídica do nascituro. Há uma terceira e última teoria, teoria desprestigiada no direito brasileiro sem dúvida alguma que é a chamada teoria da personalidade condicionada. Essa teoria desprestigiada defende o seguinte: o nascituro teria personalidade jurídica sujeita a condição suspensiva. Quando, na verdade, colocamos condição suspensiva a personalidade condicionada acaba se equiparando a própria teoria natalista. Quem 11Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho defende essa posição é o Washington de Barros Monteiro, Arnold Wald e Serpa Lopes. Só a título de curiosidade, no Brasil pela teoria natalista bastam nascimento com vida. Nós temos situações no direito comparado que divorciam um pouco dessa regra, por exemplo, há legislações, o Código Civil espanhol exige que haja a sobrevida com 24h, se exige a forma humana, enfim situações não exigidas no direito brasileiro. Término da Personalidade Em relação ao término da personalidade jurídica, não há muita dúvida que o término ser dá com morte. Lembrando, inclusive, que para fins de transplante o que prevalece a é a perspectiva da morte cerebral ou morte encefálica, está no artigo 3º da lei 9434/97. Art. 3º da Lei 9434: A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedidade diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. O que a doutrina é uníssona ao afirmar, não há dúvida realmente, é de que no contexto atual não mais se admite a figura da morte civil. A figura da morte civil era adotada, por exemplo, no Direito Romano em relação aos escravos, aos religiosos, aos desertores de guerra, quer dizer, no plano jurídico eles eram tidos como falecidos e, na verdade, não teriam personalidade jurídica. O Venosa e a Maria Helena Diniz defendem que há um resquício da questão da morte civil no direito brasileiro no caso da exclusão do sucessor por indignidade, haveria um resquício da morte civil no direito brasileiro em relação à exclusão dos sucessores por indignidade. Na verdade, no caso da exclusão por indignidade os descendentes do sucessor excluído ele sucedem como se tivesse falecido o excluído. E isto está no artigo 1816: são pessoais os efeitos da exclusão, os descendentes do herdeiro excluído sucedem como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. Art. 1.816 do CC: São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. O próprio artigo 1816 diz "como se morto fosse antes da abertura da sucessão", seria um mero resquício aqui obviamente. Quais são alguns dos efeitos da morte? Claro que um rol meramente e exemplificativo. Como alguns dos efeitos da morte nós teremos a transferência da propriedade, artigo 1784, prevê a teoria da saisine, inclusive é uma das exceções àquela lógica geral de que a propriedade de móveis se transfere com tradição e o imóvel com o registro, por ficção jurídica pelo simples falecimento já há a imediata 12Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho transferência da propriedade. É uma das poucas hipóteses que veremos em que o registro imobiliário tem natureza meramente declaratória. Art. 1.784 do CC: Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Outro efeito: a extinção do poder familiar, a extinção do vínculo conjugal e a extinção de contratos personalíssimos. Um aspecto que relevante é o seguinte: com a morte nós sabemos que termina a personalidade jurídica e terminando a personalidade jurídica cessam os mecanismos gerais de proteção do indivíduo, mas percebam que excepcionalmente se admite a chamada proteção post mortem de alguns direitos da personalidade. Nós veremos, inclusive, que o artigo 12 parágrafo único e artigo 20 parágrafo único do Código Civil contemplam a questão da legitimação, a questão da legitimidade, ou seja, a quem compete pleitear o dano moral pela violação ao direito a personalidade do morto. Art. 12, Parágrafo único do CC: Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Art. 20, Parágrafo único do CC: Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. O que justifica a proteção post mortem dos direitos da personalidade? Sem dúvida é uma situação excepcional, porque já está cessada a personalidade jurídica, mas o que justifica é o princípio da dignidade da pessoa humana. Os exemplos clássicos de proteção pos mortem de direitos da personalidade são: a imagem e os direitos morais do autor. O Francisco Amaral chega a defender isoladamente que haveria personalidade jurídica post mortem por conta dos direitos da personalidade, o que na verdade a doutrina afirma é que cessa a personalidade jurídica, mas excepcionalmente se confere uma proteção post mortem a direitos da personalidade em que pese o término da personalidade jurídica, seria uma situação de exceção decorrente da dignidade da pessoa humana. O código prevê a questão da morte no artigo 6º e no artigo 7º. Art. 6o do CC: A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Art. 7o do CC: Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. O artigo 6º não traz nada de novo, o artigo 6º diz lá: a existência da pessoa natural termina com a morte, presume-se esta quanto aos ausentes nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva. 13Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Quer dizer, na primeira parte o artigo 6º prevê a morte real e na segunda parte o artigo 6º prevê a morte presumida... Morte presumida que pressupõe, como o próprio código diz, os elementos necessários para abertura da sucessão definitiva do ausente. Esses elementos, façam remissão do artigo 6º parte final combinado com os artigos 37 e 38. Art. 6o do CC: A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Ver artigo 37 e artigo 38 Art. 37 do CC: Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas. Art. 38 do CC: Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele. O artigo 7º traz uma novidade. No Código de 16 só se admitia morte presumida no caso de ausência, o artigo 7º traz aí uma exceção. Diz o artigo 7º que pode ser declarada a morte presumida sem decretação de ausência e aí vem o inciso I e diz: e for extremamente improvável a morte de quem estava em perigo de vida e inciso II: se alguém desaparecido em campanha ou feito prisioneiro não foi encontrado até dois anos após o término da guerra. A maioria da doutrina diz que o código traz aí uma nova modalidade de morte presumida que independe de decretação de ausência. Aliás, diga-se de passagem, que isso não chega a ser tão novo assim porque já havia uma hipótese em que se admitia a morte presumida independentemente de ausência no artigo 88 da lei 6015/73, lei de registros públicos. Art. 88 da Lei 60615: Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. (Renumerado do art. 89 pela Lei nº 6.216, de 1975). Parágrafo único. Será também admitida a justificação no caso de desaparecimento em campanha, provados a impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do artigo 85 e os fatos que convençam da ocorrência do óbito. A lei de registros públicos prevê como premissa para essa decretação da morte presumida a observância daquele procedimento de justificação do CPC em que há, entre aspas, uma documentação da prova testemunhal. Para quem quiser registrar: artigo 861 a artigo 866 do CPC. O Cristiano Chaves de Farias, por exemplo, que escrevem em parceria com Nelson Rosenvald não gosta dessa expressão morte presumida... O Nelson Rosenvald e o Christiano Chaves não gostam dessa expressão morte presumida porque para eles a situação do artigo sétimo é absolutamente diferente da do artigo 6º, porque vejam no artigo 6º, na parte final a única certeza que há é em relação ao desaparecimento, quer dizer, a ausência apenas ressalta o desaparecimento,não há uma perspectiva de efetivo falecimento com a decretação de ausência. 14Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Já o artigo 7º pressupõe hipóteses em que a morte é extremamente provável. Eles, inclusive, ao invés de usar a expressão morte presumida do artigo 7º eles costumam usar a expressão presunção de morte. Quer dizer, no artigo 7º não haveria uma morte presumida, seria uma presunção de morte. Na verdade, o artigo 7º traria a idéia de prova indireta do falecimento, que não haveria aqui no artigo 6º. Tem uma questão que não há ainda uma resposta clara, a doutrina também não vem enfrentando, é mais um dos problemas em que nós percebemos que não há ainda uma solução clara. O que acontece no caso de reaparecimento de sujeito no caso do artigo 7º, por exemplo? Esse é um problema que o código não sistematizou, não regulamentou. Vamos primeira abordar uma questão principiológica aqui... Em uma perspectiva tradicional a tendência no caso de reaparecimento desse sujeito seria a proteção de seus respectivos interesses, então o interesse daquele que reapareceu. Só que nós veremos que um dos princípios que marca do nosso Código Civil é o princípio da boa-fé objetiva e um dos desdobramentos do princípio da boa-fé objetiva é justamente o princípio da confiança. Na verdade, uma síntese aqui: o princípio da confiança busca o quê? A proteção da legítima expectativa. O Código Civil atual, todo nosso ordenamento jurídico ele deixa de priorizar a proteção do declarante e passa a conferir maior proteção ao declaratário... A preocupação central se desloca do declarante e vai para o declaratário, ou seja, para aqueles que em tese receberiam algum tipo de proteção, algum tipo de interesse em decorrência de uma determinada declaração de vontade. Aqui no nosso caso a tendência vem no sentido de proteger a legítima expectativa de terceiros. Nós veremos que o Código Civil atual tem uma preocupação central em proteger a legítima expectativa de terceiros, justamente sobre o influxo, em homenagem ao princípio da confiança, proteção da legítima expectativa. Todo mundo lembra que a nulidade absoluta atinge interesse público. O que a doutrina clássica sempre afirmou? Se a nulidade absoluta atinge interesse público, não se protege interesse de terceiros no caso de nulidade, porque o interesse público prevalece sobre eventual interesse de terceiros. Todo mundo sabe que agora a simulação passa a ser causa de nulidade absoluta, está lá no artigo 167 e olha o que diz o §2º do artigo 167: ressalvam-se os direitos de terceiros de boa fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Art. 167 do CC: É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Quer dizer, mesmo a simulação sendo uma causa de nulidade absoluta, o artigo 67 protege os interesses de terceiros, por quê? Porque a proteção aos interesses 15Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho de terceiros passa a ser também matéria de ordem pública, porque a proteção aos interesses de terceiros decorre do princípio da confiança, boa fé objetiva, ela tem uma tendência de proteção a legítima expectativa de terceiros. É só uma síntese, vamos ver isso com mais calma, mas é uma mudança aqui na reflexão do direito privado. Como situação de morte presumida nós temos a lei 9140/95 que envolve os desaparecidos políticos a época do regime militar. Comoriência Artigo 8º do CC. Art. 8o do CC: Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Todos se lembram da comoriência: se duas ou mais pessoas falecem em um único evento, no direito brasileiro desde o Código 16, sempre houve que a presunção relativa de falecimento simultâneo. Isso de vez em quando vem em prova objetiva. Presunção relativa, nem precisamos ler o Código, porque obviamente se for possível constatar a efetiva precedência de falecimentos a gente vai se valer aí da primazia da realidade, da verdade real. Em outros ordenamentos temos alguns jogos de presunções jamais adotamos aqui, por exemplo, alguns países há presunção que as mulheres falecem antes que os homens, por ser o suposto sexo frágil, os mais velhos falecem antes dos jovens e as crianças antes dos adultos. Quer dizer, uma série de presunções que o nosso ordenamento jurídico nunca adotou. Para nós presunção relativa de simultaneidade. Aí um cuidado aqui é o seguinte, o artigo 8º diz que se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se alguns dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Falecerem na mesma ocasião. A doutrina é bastante segura aqui no sentido de afirmar que essa expressão “mesma ocasião” não deve ser interpretada restritivamente. Vamos imaginar dois atentados terroristas simultâneos em locais distintos, em ocasiões diferentes. Pela letra fria do Código, por uma interpretação restritiva seria inaplicável a comoriência, mas a doutrina é unânime em afirmar que a regra do artigo 8º se aplicaria em tal circunstância. Não é necessário que o evento seja único, o que importa é que haja a efetiva simultaneidade, a dificuldade em se apurar a efetiva precedência de falecimentos. O efeito prático disso aqui vai para o âmbito do direito sucessório, porque se há presunção de simultaneidade o efeito é a não transmissão de direitos sucessórios entre comorientes. 16Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho 3. Capacidade Vamos para a capacidade. Ela pode ser de direito ou de fato. Capacidade de direito é sinônimo de capacidade de gozo ou ainda capacidade de fruição. Capacidade de Direito Capacidade de direito seria na verdade aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações, o que leva inclusive boa parte da doutrina a afirmar que capacidade de direito seria sinônimo de personalidade jurídica. Já sabemos que aquela perspectiva do Tepedino desafia essa afirmativa porque pela visão do Tepedino apenas a pessoa física teria personalidade jurídica. Mesmo fora dessa posição do Tepedino, há quem defenda que personalidade jurídica não seria exatamente uma definição idêntica de personalidade jurídica. Para o Tepedino são institutos bastante diferentes, mas há quem defenda que, por exemplo, a personalidade jurídica ela seria ilimitada. Já a capacidade de direito comportaria determinadas restrições. O exemplo que se costuma trazer é o seguinte: pessoa jurídica, pela visão amplamente dominante, tem personalidade jurídica de maneira ilimitada. Mas a pessoa jurídica apesar de ter personalidade jurídica ela não teria capacidade de direito para a prática dos chamados atos de direito de família puros, atos puros do direito de família. Porque os chamados atos puros do direito de família seriam incompatíveis com a própria finalidade que envolve a pessoa jurídica. Por exemplo, o chamado dever de coabitação, o dever de fidelidade recíproca, são os chamados direitos de família puros porque na verdade são direitos de família que não tem qualquer repercussão patrimonial. O Tepedino traz aqui uma ponderação que parece interessante, ele diz o seguinte: por exemplo, artigo 1618: só a pessoa maior de 18 anos pode adotar. Quando o sujeito atinge os 16 ele já atinge a incapacidade relativa e, em tese, ele pode praticar os atos da vida civil através da assistência. Art. 1.618 do CC: Só a pessoa maior de dezoito anos pode adotar. Se há a incapacidade relativa de fato, a assistência supre essa incapacidade relativa de fato. Essa limitação aqui, a capacidade de adotar 18 anos, ela pode ser suprida por assistência, maior de 16 pode adotar atravésda assistência? Não. Então, o Tepedino deixa claro aqui que não estamos falando aqui de incapacidade de fato porque se fosse incapacidade de fato a assistência supriria. Na verdade, o sujeito menor de 18 anos não tem capacidade de direito para adotar, seria um equívoco falar em incapacidade de fato porque incapacidade de fato, se for relativa ela se supre através da assistência. Na verdade, não há como suprir essa limitação desse artigo 1618 através da assistência, haveria aqui um limite a capacidade de direito. 17Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Só para registro, tem uma posição que é minoritária do Arnaldo Rizzardo, no sentido de que a personalidade jurídica estaria atrelada ao exercício dos direitos da personalidade. Ele usa a expressão “direitos fundamentais”. Já a capacidade de direito estaria atrelada aos exercícios dos atos civis, dos atos da vida civil, trazendo aí portanto uma perspectiva patrimonial. Posição aí do Arnaldo Rizzardo que é isolada. Sintetizando, para ficar claro, posição de vários autores, talvez posição majoritária no sentido de que capacidade de direito seja sinônimo de personalidade jurídica. Alguns dizem na verdade é quase a mesma coisa, a diferença é que a capacidade de direito pode sofrer determinadas restrições, é possível se falar em gradação a capacidade de direito. E a posição do Tepedino que é radicalmente diversa. Para ele, personalidade jurídica é dignidade humana, capacidade de direito abrangeria pessoas físicas e entes personalizados. Capacidade de Fato Vamos para a capacidade de fato que aí sim nós temos vários aspectos, até polêmicos aqui, de modo até menos abstrato. Capacidade de fato é sinônimo de capacidade de exercício que é sinônimo de capacidade de ação. A doutrina aqui não diverge. Basicamente, a capacidade de fato representaria aptidão para pessoalmente praticar atos da vida civil. Aqui a diferença é bem clara, porque é claro que um garoto de cinco anos pode ser proprietário porque tem personalidade jurídica, tem capacidade de direito, mas ele não pode alienar sozinho um imóvel porque ele não tem capacidade de fato. A idéia de capacidade de fato está intimamente atrelada a idéia de discernimento, aqueles que não têm nenhum discernimento são qualificados como absolutamente incapazes. Como nós sabemos absolutamente incapazes tem que ser representados sob pena de nulidade absoluta, artigo 166, I. Art. 166 do CC: É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; Aqueles que têm discernimento reduzido são os relativamente incapazes, precisam ser assistidos sob pena de anulabilidade artigo 171, I do Código Civil. Art. 171 do CC: Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; Lembrando que a diferença básica entre representação e assistência é que na representação vale apenas a vontade do representante. Justamente porque o representado não tem nenhum discernimento e como ele não tem nenhum discernimento a vontade do representado é em regra, amos ver que há exceções, mas em regra ela é desimportante. 18Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Já na assistência, o assistente é um coadjuvante do assistido, quer dizer, a vontade do assistido há de ser levada em consideração porque na verdade é apenas uma redução no grau do discernimento. Metaforicamente é claro, a representação seria um pai atravessando a rua com o filho no colo e a assistência seria o pai atravessando a rua com o filho pela mão. Está claro e evidente que o objetivo da incapacidade qual é? Proteção. Isso vai ser decisivo em alguns pontos mais adiante, por exemplo, quando discutirmos se o incapaz pode usucapir? O incapaz mora lá sozinho há muito tempo, exerce a posse, preenche todos os requisitos como veremos mais adiante, a dúvida é se ele pode ou não usucapir? E vejam, se o objetivo da incapacidade é a proteção, haveria uma incoerência em privar o incapaz da usucapião. Quer dizer, seria inaplicável, em tese, a teoria geral das incapacidades para privar o incapaz da usucapião, porque nós não estaríamos protegendo o incapaz e sim punindo. Nós veremos essas e outras circunstancias em que vai ser importante essa perspectiva. Bom, o fato é que os absolutamente incapazes estão elencados no artigo 3º do Código Civil e logo no inciso I o código diz que são absolutamente incapazes os menores de 16 anos. Presunção absoluta, é o chamado critério biológico. Art. 3o do CC: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Então, por razões de segurança jurídica não adianta o garoto de 15 anos tentar provar que tem discernimento porque ele é absolutamente incapaz. Tem uma questão importante, que pela letra fria do Código todo ato praticado por um absolutamente incapaz, por um menor de 16 sem estar devidamente representado conduziria a nulidade absoluta. Só que vejam, não é muito comum um garoto de 15 anos ou até muito menos, por exemplo, celebrar um contrato de transporte sozinho e ir para a escola. Ele chega na escola e celebra um contrato de compra e venda da merenda. Enfim, nós temos alguns atos socialmente aceitos que são efetivamente praticados por menores de 16 anos sem que ninguém suscite a nulidade de tais atos. Para essas hipóteses não previstas em lei, surge a chamada teoria do ato fato. Teoria do ato fato, essa é a expressão mais usada, mas como sinônimo nós teríamos a idéia de autorização presumida e o Leoni usa expressão autonomia, seria a expressão utilizada lá no Direito alemão. No Brasil, a expressão mais utilizada seria a teoria do ato fato. 19Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Qual o objetivo básico da teoria do ato fato? A teoria do ato fato busca estabelecer critérios que venham a conferir validade a determinados atos praticados por incapazes independentemente de representação ou assistência. Eu já joguei representação e assistência porque é claro que se a teoria do ato fato se aplica aos menores de 16, com muito mais razão entre 16 e 18. Quais são os critérios? São requisitos cumulativos e não alternativos. Primeiro: atos de pouca expressão econômica. Segundo: atos que venham a atender aos interesses imediatos e cotidianos do incapaz. E por último (terceiro), que tais atos usualmente sejam praticados por recursos destinados pelo próprio representante ou assistente. A teoria do ato fato é sem dúvida uma construção doutrinária e jurisprudencial não prevista pelo Código Civil. O inciso II prevê incapacidade absoluta por deficiência mental e o inciso III, vamos fazer uma análise conjunta, o inciso III diz lá que mesmo por causa transitória não puder exprimir a sua vontade. A diferença do inciso II para o III é que no inciso III a privação do discernimento decorre de uma causa transitória. Se a deficiência mental tem o cunho de permanência, obviamente vamos aplicar o inciso II. Situações, por exemplo, de coma, de depressão profunda, hipnose, abrangeria o inciso III. Tem um exemplo extremamente polêmico do Arnaldo Rizzardo, está lá no livro dele “tensão pré-menstrual” entraria no inciso III. Uma questão aqui que agora estava resolvida no Código atual, é a seguinte: no Código de 16 os ausentes estavam no rol dos absolutamente incapazes. A doutrina já criticava muito o Código anterior por isso, porque o ausente a princípio é aquele que abandona o seu domicílio sem deixar um administrador para seus interesses e o absolutamente incapaz é aquele que não tem nenhum discernimento. Quer dizer, o fato de alguém abandonar seu domicílio semdeixar um administrador para os seus interesses não significa que o sujeito é totalmente desprovido de discernimento. Então, muitos autores, contra legem, já defendiam eu o ausente era capaz. Isso caiu uma vez em uma prova específica do MP uma questão em que o ausente na Bahia vendeu um imóvel sem estar representado ou assistido e se indagava se aquela alienação era válida ou não. A época do Código de 16 o examinador queria que se defendesse a validade da compra e venda sob esse argumento. Na verdade, não haveria uma incapacidade absoluta propriamente para o ausente diversamente do que previa o Código. Esta questão está resolvida porque o Código não mais traz o ausente no rol dos absolutamente incapazes. Quer dizer, esse aparente equívoco do Código de 16 foi corrigido pelo legislador do Código em vigor. Intervalo... 20Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Data: 02/09/08 Aula 01 – Parte 02 Que é a chamada sentença de interdição e aí tem até aquela discussão sobre a natureza jurídica da sentença de interdição, alguns defendendo que a sentença de interdição teria natureza meramente declaratória. Porque na verdade a sentença de interdição ela não cria ausência de discernimento, ela apenas reconhece uma ausência de discernimento pré-existente. Tem autores importantes aí defendendo essa posição, o próprio Carlos Roberto Gonçalves, o Paulo Nader e o Fábio Ulhoa Coelho. Essa posição, na verdade ela vem sendo revista, porque a sentença de interdição não cria ausência de discernimento, a ausência de discernimento é pré- existente. Mas na verdade a sentença de interdição cria um novo estado jurídico, ou seja, o estado jurídico de incapaz. Toda sentença constitutiva ou condenatória ela traz uma carga de declaração, ela pressupõe uma declaração, quer dizer, sentença para constituir ou condenar ela precisa declarar algo pré-existente. Então, o simples fato da sentença reconhecer a ausência de discernimento não a qualifica como sendo declaratória. Tanto é que os autores contemporâneos usam a expressão “sentença meramente declaratória”, apenas quando ela não traz efeitos constitutivos ou negativos. Então, a tendência hoje vem sendo no sentido de se entender que a sentença de interdição tem natureza constitutiva, tese inclusive defendida pelo Barbosa Moreira. Há quem defenda, acho que essa não é uma posição que ganhe repercussão no direito processual, porque na verdade essa discussão aqui ela tem natureza processual, mas há quem defenda que a sentença tem natureza híbrida. Ela seria híbrida, ela seria heterogênea porque na verdade essa sentença ela seria declaratória em relação a ausência de discernimento e constitutiva em relação ao estado de incapaz. O Leoni, por exemplo, defende essa posição que talvez não agrade os processualistas porque, como nós ressaltamos, toda sentença constitutiva pressupõe uma carga de declaração. Bom, só que há um ponto aqui muito importante que é o seguinte: se o incapaz ele pratica um ato sem está representado ou assistido, após a sentença haverá a invalidação do ato, nulidade se for absolutamente incapaz e anulabilidade se for relativamente incapaz. 21Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho A questão tormentosa é a seguinte: vamos supor que haja um reconhecimento hoje da interdição e uma semana antes aquele agora interditado praticou atos significativos de disposição patrimonial, ele vendeu imóveis, por exemplo. Percebam que nós não podemos falar em efeitos ex tunc da sentença de interdição. Quer dizer, em relação aos maiores de idade há uma presunção de capacidade, ninguém é obrigado a exigir atestado médico para ninguém quando se celebra um contrato. As relações contratuais inclusive são cada vez mais impessoais, nós celebramos hoje contrato pela internet sem nunca ter visto o outro contratante. Então, cogitar de efeitos ex tunc, abalaria a segurança jurídica. Talvez numa visão mais atual, acho que já temos que acostumar a essa nova dogmática, ao invés de falar em segurança jurídica acho que devemos começar a falar em princípio da confiança. Na verdade, o princípio da confiança busca a proteção da legítima expectativa, seria como que uma nova leitura da antiga segurança jurídica, traduzida através da boa fé objetiva. Só que ao mesmo tempo uma semana antes é claro que o sujeito era ausente, desprovido de discernimento. Para essas situações se aplica o que a doutrina chama de incapacidade natural. Para não precisarmos decorar a expressão, por que incapacidade natural? Porque haveria aqui uma suposta incapacidade no plano naturalístico, mas não reconhecida no âmbito jurídico e, por isso a expressão incapacidade natural. Pergunta do aluno. Resposta: na verdade o CPC tem uma regrinha explícita dizendo que a sentença de interdição ela produz efeitos desde a sua prolação. Agora, claro que até essa própria regra do CPC e essa afirmativa que estamos trazendo a luz do princípio da confiança acaba se inclinando em favor da natureza constitutiva da sentença. Numa perspectiva atual, sem dúvida a sentença tem natureza constitutiva. É preciso só ressaltar, porque nós temos alguns autores clássicos que ainda defendem inversamente. Quer dizer, a gente pode até fazer uma conexão aqui, os processualistas talvez não façam, mas a natureza constitutiva da sentença como decorrente do próprio princípio da confiança, decorrente da boa fé objetiva. Então, vejam bem, a incapacidade natural busca o que? Estabelecer requisitos que permitam atingir a validade de atos praticados antes da sentença de interdição. Requisitos, mais uma vez, cumulativos. Primeiro: haverá o ônus de se demonstrar a efetiva ausência de discernimento a época do ato. Esse ônus não haverá em relação a atos posteriores. Segundo: efetivo prejuízo. 22Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Terceiro: mais importante, me parece. Em uma visão clássica, o que alguns autores afirmam como terceiro e último requisito? Se exigiria a má fé do outro contratante. O Venosa, o Silvio Rodrigues, por exemplo, explicitamente usam essa expressão “má fé”, com o objetivo de resguardar a segurança jurídica. Só que vamos perceber aqui o seguinte: quando falamos em má fé, estamos falando da hipótese em que o outro contratante sabia da ausência de discernimento. Então, a idéia de má fé se contrapõe a boa fé subjetiva, porque quando se fala em má fé, o que estamos dizendo? O outro contratante sabia e a boa fé subjetiva representa justamente o desconhecimento do vício ou da ilicitude, elemento subjetivo. Só que vejam bem, o contexto atual que estamos vivendo, na verdade é primordialmente o princípio da boa fé objetiva e todo mundo sabe que uma das conseqüências da boa fé objetiva são os chamados deveres anexos. E dentre os deveres anexos, nós temos o dever anexo de cuidado, de diligência. Então, sobre o influxo da boa fé objetiva o que modernamente vem se sustentando? Que como último requisito não se exigiria necessariamente a má fé do outro contratante. O que se exige é que a ausência de discernimento fosse perceptível ao outro contratante. Então, quando se fala em perceptível o que estamos dizendo? Se o outro contratante não sabia, mas deveria saber, ele está agindo de acordo com a boa fé subjetiva, mas em desarmonia com a boa fé objetiva. Ou seja, o que se exige aqui, a bem da verdade, é a teoria da aparência, o que se exige é que a ausência de discernimento fosse aparente, fosse perceptível. Enfim, a doutrina é unânime em admitir a incapacidade natural, entendimento consolidado. O STJ já chegou a aplicar essa idéia de incapacidade natural, Resp 255271. Resp 255271 / GO RECURSO ESPECIAL 2000/0036843-1 CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FUNDAMENTAÇÃO. PROVA. INTERDIÇÃO. Somente a ausência de fundamentação, não ocorrente na espécie, é que enseja a decretaçãode nulidade da sentença com base no art. 458, II, não a fundamentação sucinta. Sendo o processo anulado por motivo não referente à prova, esta pode ser utilizada, no mesmo feito, desde que ratificada, em respeito ao princípio da economia processual. Os atos praticados pelo interditado anteriores à interdição podem ser anulados, desde que provada a existência de anomalia psíquica - causa da incapacidade - já no momento em que se praticou o ato que se quer anular. Recurso não conhecido. E a doutrina praticamente unânime aqui, a exceção da Maria Helena Diniz, vem no sentido de que a incapacidade natural deve ser reconhecida através de ação 23Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho autônoma. Quer dizer, o processo de interdição ele não se presta ao reconhecimento da incapacidade natural, toda a dilação probatória no processo de interdição busca a constatação da incapacidade a partir da prolação da sentença. Outra questão importante aqui é Enunciado nº 138 do CJF. Enunciado nº 138 do CJF: Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto. É o seguinte: nós já vimos que os menores de 16 são absolutamente incapazes e, como absolutamente incapazes, a vontade dos menores de 16 ela é desimportante, porque eles não têm nenhum discernimento. Aí, o Enunciado nº 138 diz assim: a vontade dos absolutamente incapazes na hipótese do inciso I, do artigo 3º é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes desde que demonstrem discernimento bastante para tanto. Quer dizer, o enunciado 138 diz que excepcionalmente a vontade dos menores de 16 deve ser levada em conta para situações existenciais, ou seja, situações de natureza extrapatrimonial. Isso talvez nos lembre diretamente a questão da guarda, questão da adoção. O próprio artigo 47, §5º do ECA prevê lá a necessidade da oitiva da opinião do adotando. A participação no processo educacional. Art. 47, § 5º do ECA: A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poderá determinar a modificação do prenome. Querem ver uma questão tormentosa que tem a ver com isso? Tem uma regra do Código que a gente vai ver com calma mais adiante que é o artigo 15 que diz: ninguém pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida, a tratamento médico ou intervenção cirúrgica. Art. 15 do CC: Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Pela lógica dos direitos patrimoniais é muito fácil, quem se manifesta ao representante e o representado tem que seguir, agora a dúvida é: será que o representante ele tem disponibilidade para assumir riscos em relação a própria vida do representado? Quer dizer, a lógica da representação é toda voltada para a lógica dos direitos patrimoniais. Na verdade, o Código foi omisso em relação a lógica da representação em relação a situações de natureza existencial. Então, obviamente que a lógica é totalmente diferente e, portanto nesse caso é plenamente aplicável pelo Enunciado nº 138. Isso é importante por quê? O Enunciado nº 138 traz uma sistemática peculiar a representação, no caso dos absolutamente incapazes, por conta do princípio da 24Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho dignidade da pessoa humana. Quer dizer, na verdade o princípio constitucional da pessoa humana que traz aí essa peculiaridade do Enunciado nº 138. Outra questão que a doutrina sempre ressalta é a questão dos intervalos de lucidez. Quer dizer, há uma sentença, interdição, reconhece a deficiência mental, só que a deficiência mental é intermitente, ela vai e volta. E aí a dúvida é se o sujeito pode tentar comprovar em juízo que quando da prática do ato ele estava no momento de lucidez. O direito brasileiro já admitiu, isso antes do Código de 16, quando valiam aqui as Ordenações de Portugal, as Ordenações Filipinas, Ordenações Manuelinas, Ordenações Afonsinas, elas admitiam alegações dos intervalos de lucidez. Mas desde o Código de 16, entendimento consolidado na doutrina e jurisprudência no sentido de não se admitir a alegação de intervalo de lucidez para convalidar o negócio jurídico. Tradicionalmente o que sempre se afirmou? Que essa possibilidade de alegação dos intervalos de lucidez abalaria a segurança jurídica. Modernamente fica mais interessante usarmos aqui, mais uma vez, o princípio da confiança. Outra questão importante, não confundir incapacidade com impedimento. Impedimento é sinônimo de falta de legitimação e incapacidade resulta da ausência de discernimento. Então, a incapacidade ela é genérica para os atos da vida civil. Já o impedimento é casuístico, é episódico, tecnicamente os autores afirmam o seguinte: o impedimento decorre de uma circunstancia especial que determinado indivíduo ocupa em relação a certos interesses. O exemplo mais claro é o seguinte: o tutor é capaz, mas ele é impedido de comprar bens para o tutelado, artigo 497, I. A hipótese não é de incapacidade, é de impedimento, resulta dessa natureza especial decorrente da relação entre tutor e tutelado. Art. 497 do CC: Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; Tem o artigo 496, lembram daquela história da venda de descendente para ascendente que pressupõe o consentimento dos outros descendentes e também em regra do cônjuge? Também teríamos ali uma hipótese de impedimento, de fala de legitimação. Art. 496 do CC: É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Última questão envolvendo incapacidade absoluta. O código atual não mais previu o surdo-mudo como absolutamente incapaz. Na verdade, o surdo-mudo pode tanto ser tanto capaz, quanto absolutamente incapaz, quanto relativamente incapaz. 25Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Dados os avanços, o chamado surdo-mudo hoje tem condições de expressar a sua vontade, agora se ele padece de algum tipo de deficiência mental, enfim, ou de qualquer outro tipo de situação previstas nos artigos 3º ou 4º, ele vai ser erigido ao status de incapaz. Mas a simples existência da “surdo-mudez” não conduz necessariamente a incapacidade. Bom, os relativamente incapazes estão no artigo 4º. Art. 4o do CC: São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. O inciso I já prevê: maiores de 16 e menores de 18. Para não sermos repetitivos, se aplica aqui a teoria do ato fato, tudo que vimos lá vale para cá. Vale a pena registrar o seguinte: regra geral - maior de 16 menor de 18 tem que ser assistidos, exceções: Primeira: maior de 16 e menores de 18 não dependem de assistência para ser mandatário, artigo 666. Art. 666 do CC: O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores. Segunda: pode ser testemunha, art. 228, I e ainda pode testar, art. 1858 combinado com o art. 1860,§ único. Art. 228 do CC: Não podem ser admitidos como testemunhas: I - os menores de dezesseis anos; Art. 1.858 do CC: O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo. Art. 1.869, Parágrafo único do CC: Podem testar os maioresde dezesseis anos. Vale a pena fazer algum tipo de referencia para o artigo 180 do Código Civil, é uma peculiaridade envolvendo maior de 16 e menor de 18. Art. 180 do CC: O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir- se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. Lembra aquela história do maior de 16 e menor de 18 que quando oculta a sua própria idade acaba assumindo as obrigações daí decorrentes? É uma peculiaridade também atrelada ao artigo 4º, inciso I. A doutrina costuma afirmar que o artigo 180 decorre do princípio geral de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Não está errado, está certo, mas numa 26Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho leitura atual podemos afirmar que o artigo 180 decorre da boa fé objetiva através de um tema que veremos mais adiante, que é a idéia da (24’30’’). Boa fé objetiva através da (24’35’’). Só para não ficar no ar vou falar de maneira bem resumida. Qual é a idéia básica aqui da (24’58’’)? Se eu violo uma determinada regra X, eu não posso exigir que outrem cumpra aquela mesma regra X que eu estou transgredindo. A idéia básica é essa, quer dizer, se eu descumpro uma determinada regra X eu não posso exigir que outrem cumpra a quela regra X que eu estou violando. Isso não tem a ver com exceção de contrato não cumprido, por exemplo? Enquanto não cumpro minha prestação não posso exigir o cumprimento da prestação oposta. Isso não tem a ver com o dolo recíproco do artigo 150? Se ambas as partes agem dolosamente, nenhuma delas pode alegar o dolo em face da outra. Art. 150 do CC: Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá- lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Quer dizer, o código ali no artigo 180 foi feliz ao restringir essa sistemática entre o 16 e 18 anos porque antes dos 16 o sujeito é absolutamente incapaz. A hipótese é de nulidade absoluta, ou seja, interesse público. Vamos ver com calma que não de aplica (26’11’’) em detrimento de interesse público. Aqui, o inciso II do artigo 4º, traz para o Código situações que antes eram previstas por leis extravagantes. O Código fala em ébrio, habitual, viciados em tóxicos e os que por deficiência mental tenham o discernimento reduzido. A deficiência mental ela pode conduzir tanto a incapacidade absoluta quanto a incapacidade relativa, vai depender do grau, do comprometimento do discernimento. Olha aqui um cuidado, o Código no inciso II diz “ébrio habitual”. Se o ébrio habitual for um deficiente mental e, com isso não tiver discernimento, é claro que ele vai ser absolutamente incapaz. É uma mera presunção relativa de que o ébrio habitual é relativamente incapaz. Vejam, se o sujeito quando pratica o ato, ele não tem discernimento por conta de uma embriaguez que não é constante, quer dizer, ele não é ébrio habitual, mas estava absolutamente bêbado quando celebrou o negócio jurídico, vejam que o argumento aí a ser utilizado por muitos de agora em diante, vai ser o artigo 3º, III. Quando o sujeito não tem discernimento por uma causa transitória é alegável o artigo 3º, III. Art. 3o do CC: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Então, na verdade é possível que a embriaguez não seja habitual, mas o sujeito não tenha nenhum discernimento para a prática do ato por uma circunstancia transitória e, nesse caso, pode ser aplicado o artigo 3º, III se ele quiser demonstrar efetiva ausência de discernimento. 27Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho E o inciso IV prevê aqui a questão dos pródigos como relativamente incapazes e aí basicamente o prodigo é aquele que não tem condição de administrar os seus próprios recursos. Na verdade, o pródigo em geral até tem discernimento dos atos da vida civil, o problema do pródigo envolve atos de disposição patrimonial, ele padece de falta de discernimento para atos que envolvam disposição patrimonial. Quer dizer, o pródigo seria um perdulário, justamente por isso aí a remissão é importante, o artigo 1782 prevê que a incapacidade relativa do pródigo se restringe aos atos de disposição patrimonial. Art. 1.782 do CC: A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. Há uma questão importante que é a seguinte: vamos ver mais adiante a questão da responsabilidade civil indireta, que é a questão da responsabilidade civil por fato de outrem. Lembram daquela história de que os pais respondem pelos atos dos filhos menores? O Curador também responde pelos atos do curatelado, está lá no artigo 932, II. Art. 932 do CC: São também responsáveis pela reparação civil: II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; Só que o pródigo é relativamente incapaz apenas para os atos que envolvam disposição patrimonial, nos atos que não envolvam disposição patrimonial o pródigo é capaz. Então, o que se sustenta é que o curador do pródigo só responde indiretamente pelos danos causados pelo pródigo em atos que envolvam disposição patrimonial. Se um pródigo causa um dano a outrem num ato que não envolva disposição patrimonial, para esse ato o prodigo é capaz e não há como se cogitar de responsabilidade civil indireta do curador. Acidente de trânsito, por exemplo. O pródigo causa um dano a outrem num acidente de trânsito, qual é a tese defensiva do curador do pródigo? Não há responsabilidade civil indireta porque aquele dano foi causado por um ato do pródigo que não envolvia disposição patrimonial e, portanto não envolvia responsabilidade civil indireta. Qual a remissão que eu já faria aí? Artigo 4º, IV combinado com o artigo 1782 para o artigo 932, II. Vamos lembrar o que? O pródigo é relativamente incapaz, mas só para os atos de disposição patrimonial e a responsabilidade civil indireta tem que ser interpretada à luz do artigo 1782. Art. 4o do CC: São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: IV - os pródigos. Ver art. 1.782, CC e art. 932, II, CC 28Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho Art. 1.782 do CC: A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. Ver art. 4º, IV, CC e art. 932, II, CC Art. 932 do CC: São também responsáveis pela reparação civil: II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; Ver art. 4º, IV, CC e art. 1.782, CC Outra coisa importante é o seguinte: no Código de 16 a legitimidade para suscitar a incapacidade relativa do pródigo era apenas do cônjuge, do ascendente e do descendente. Então, se o pródigo não tivesse cônjuge, ascendente e descendente pouco importava para o ordenamento jurídico que ele dilapidasse todo o seu patrimônio. Quer dizer, o objetivo da prodigalidade, o objetivo da incapacidade relativa do pródigo era a proteção do patrimônio familiar, perspectiva patrimonialista. A doutrina já vinha criticando, o CPC nos artigos 1177 e 1178 passou a atribuir legitimação ao MP para requerer a interdição do pródigo. O Código atual vem sintonia prevendo também legitimação ao MP no artigo 1767, V, artigo 1768 e artigo 1769. Art. 1.177 do CPC: A interdição pode ser promovida: III - pelo órgão do Ministério Público. Art. 1.178 do CPC: O órgão do Ministério Público só requererá a interdição: I - no caso de anomalia psíquica; II - se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas no artigo antecedente,
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