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PROCESSOS GRUPAIS 1 Processos Grupais PROCESSOS GRUPAIS 2 Processos Grupais 1. Definição, Funcionamento e Desenvolvimento do Grupo 1.1. O Grupo e as Modalidades Grupais Nós, seres humanos, passamos grande parte das nossas vidas convivendo em grupos. Seja a nossa família, um grupo de amigos ou colegas do trabalho, estamos sempre compartilhando nosso cotidiano com outras pessoas. E, nesta medida, ao considerar que um conjunto de pessoas constitui um grupo, é possível afirmar que um conjunto de grupos e sua relação com os respectivos subgrupos constituem uma comunidade e que um conjunto interativo das comunidades configura uma sociedade. (ZIMERMAN, 2000) Mas, afinal, o que caracteriza um grupo propriamente dito? De acordo com Zimerman (2000), um grupo, seja de natureza operativa ou terapêutica, deve preencher algumas condições básicas, como as seguintes: - Um grupo não é um mero somatório de indivíduos; pelo contrário, se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos; - Todos os integrantes de um grupo estão reunidos em torno de uma tarefa e de um objetivo comum; - O tamanho do grupo não pode exceder o limite que ponha em risco a indispensável preservação da comunicação, tanto a visual quanto a auditiva, a verbal e a conceitual; - Deve haver a instituição de um enquadre (setting) e o cumprimento das combinações nele feitas. Além de ter objetivos claramente definidos, o grupo PROCESSOS GRUPAIS 3 deve levar em consideração o espaço e o tempo, entre outras regras e variáveis que delimitem e normatizem a atividade grupal proposta; - É inerente ao grupo a existência entre os seus membros de uma interação afetiva, a qual costuma ser de natureza múltipla e variada; - É inevitável a formação de um campo grupal dinâmico, em que gravitam fantasias, ansiedades, identificações, papéis etc. Modalidades Grupais De acordo com Zimerman (2000), alguns autores costumam catalogar os grupos de acordo com a técnica empregada pelo coordenador e com o tipo de vínculo que ele estabelece com os indivíduos que os integram. Os grupos costumam ser classificados da seguinte forma: - “Pelo grupo”: o grupo funciona gravitando em torno do líder, através do recurso da sugestão ou de identificação com esse líder; - “Em grupo”: os participantes estão reunidos em um grupo, porém os assinalamentos e interpretações do condutor são dirigidos separadamente a cada participante em particular. Trata-se de uma intervenção individual feita na presença dos demais; - “Do grupo”: o enfoque interpretativo do condutor está sempre dirigido ao grupo como uma totalidade, como se essa totalidade constituísse uma nova individualidade. Por exemplo, diante de um determinado conflito ou emergência de angústia, o condutor do grupo, de forma sistemática, interpreta mais ou menos assim: “o grupo está me dizendo que...”; PROCESSOS GRUPAIS 4 - “De grupo”: o interesse do condutor pelos relatos de cada um e a sua atividade interpretativa tanto privilegia as individualidades dos participantes quanto a generalidade do grupo; - “Com o grupo”: indica que os participantes do grupo devem interagir ativamente entre eles e com o condutor. É possível dividir o grupo em dois grandes ramos genéricos: operativos e terapêuticos. E cada um destes ramos se subdivide em outas ramificações, conforme apontado abaixo: Grupos Operativos Ensino-aprendizagem (através da técnica de “Grupos de Reflexão”); Institucionais (empresas, escolas, igrejas, exército, associações etc.); Comunitários (programas de saúde mental). Grupos Terapêuticos De autoajuda (na área médica em geral e na área psiquiátrica); Psicoterápicos propriamente ditos (base psicanalítica, de psicodrama, de teoria sistêmica, cognitivo-comportamental, de abordagem múltipla, entre outras). 2. As Fases de Desenvolvimento do Grupo: Inclusão, Controle e Afeto Kurt Lewin foi o grande estudioso responsável por introduzir o termo “dinâmicas de grupos” no cenário acadêmico. Em uma de suas experiências, Lewin concluiu que a produtividade de um grupo e sua eficiência estão estreitamente relacionadas não somente com a competência de seus membros, mas, PROCESSOS GRUPAIS 5 sobretudo, com a solidariedade de suas relações interpessoais. Outro estudioso da compreensão das dinâmicas de grupos foi Will Carl Schutz. Schutz foi professor da Universidade de Harvard e desenvolveu a Teoria das Necessidades Interpessoais na década de 50, na qual defendia a ideia de que a aprendizagem ocorreria melhor a partir do momento que os indivíduos se relacionassem melhor dentro do contexto de cada novo grupo e novo ambiente de estudo, e que esta interação ocorreria melhor através de atividades em grupo motivadas pelo professor como centro orientador e participativo destas interações. Schutz, apud Fritzen (1994), sinaliza em suas pesquisas a interdependência e a estreita correlação que existe nos grupos entre seu grau de integração e seu nível de criatividade. No entanto, ele vai mais além nesse fenômeno e inova com sua Teoria das Necessidades Interpessoais na formação e no desenvolvimento de um grupo. Com o conceito de “necessidades interpessoais” pretende apontar que só em grupo e pelo grupo as necessidades interpessoais podem ser satisfeita, e que estas necessidades são fundamentais porque são vivenciadas por todo ser humano em um grupo qualquer. (FRITZEN, 1994) De acordo com Shultz, apud Fritzen (1994), há três necessidades interpessoais: necessidade de inclusão, necessidade de controle e necessidade de afeto. Ao propor estas três necessidades, Shultz traça um paralelo entre a formação de um grupo e as dimensões que surgem no desenrolar do desenvolvimento infantil. Ou seja, aponta que inclusão, controle e afeto estão ligados aos aspectos interpessoais dos estágios psicossexuais apontados por Freud (oral, anal e fálico). A necessidade de inclusão se refere à necessidade do vínculo humano e tem como objetivo a sobrevivência. Está ligada ao estágio oral, que tem a boca como maior estimulação e maior necessidade para a criança. A necessidade de controle se refere ao poder e responsabilidade e está ligada ao estágio anal, período de PROCESSOS GRUPAIS 6 luta e poder em torno da higiene pessoal, período da primeira barganha e negociação com a retenção das fezes. Por fim, a necessidade de afeto faz referência aos vínculos emocionais e está ligada ao estágio fálico, justamente na situação edípica, em que esses vínculos são elaborados através dos sentimentos de amor, ciúmes e rivalidade. Para este autor, inclusão, controle e afeto caracterizam todos os níveis de organização social. Abaixo, serão abordadas brevemente as três necessidades interpessoais que compõem as fases de desenvolvimento dos grupos: Inclusão – É nesta primeira fase que observamos se fomos e por quem fomos aceitos, se somos valorizados e se estamos totalmente integrados neste novo grupo. Assim, concluímos se estamos no grupo certo ou não, e procurando afinidades com outros membros para, dessa forma, conquistarmos a confiança um do outro. Controle – Aqui, buscamos saber e estabelecer quais são nossas responsabilidades no grupo, quem o lidera e por que, e como podemos influenciar nas decisões gerais, afim de então constituirmos estruturas, atividades, objetivos, crescimento e progressos do grupo. Afeto – Considerada fundamental por Schutz,esta necessidade consiste em definir quem gosta de nós, quem mais consideramos e como podemos expressar essa amizade. Queremos provas de nossa valorização e respeito aos olhos dos demais por quem somos e não pelo que temos. PROCESSOS GRUPAIS 7 3. Grupos Operativos no Ensino O psiquiatra Pichon Rivière (1907-1977) foi um importante estudioso dos grupos. Ele desenvolveu os chamados grupos operativos. Para ele, o grupo operativo “é um conjunto de pessoas com um objetivo comum”. (BLEGER, 2011) Ou seja, é um conjunto restrito de pessoas, que, atravessadas por constantes de tempo e espaço, propõem, explícita ou implicitamente, uma tarefa, que constitui sua finalidade. Entretanto, vale ressaltar que para se intitular como grupo operativo não basta que haja um objetivo comum ou que tenha como finalidade uma tarefa, é preciso que as pessoas estabeleçam vínculo entre si. Para Pichon Rivière, vínculo é “[...] a maneira particular pela qual cada indivíduo se relaciona com outro ou outros, criando uma estrutura particular a cada caso e a cada momento”. (PICHÓN-RIVIÉRE: 1998, p. 3) Segundo apontado por Pichon-Rivière (1988), a Teoria do Vínculo compreende que sempre há figuras internalizadas presentes na relação entre duas pessoas. Ou seja, quando duas pessoas se relacionam, há uma estrutura triangular. O vínculo é bicorporal e tripessoal, isto é, em todo vínculo há uma presença sensorial corpórea dos dois, mas há um personagem que está interferindo sempre em toda relação humana, que é o terceiro. No campo do ensino, o grupo operativo prepara-se para aprender e isto só se alcança enquanto se aprende. Ou seja, um grupo operativo apresenta objetivos, problemas, recursos e conflitos que devem ser estudados e considerados pelo próprio grupo à medida que vão aparecendo. (BLEGER, 2011) E como se realizaria a aprendizagem em um grupo operativo? Talvez valha a pena esboçar esta resposta colocando em análise se o grupo é de aprendizagem ou de ensino, na medida em que ensino e aprendizagem constituem passos integrantes de um processo único e em permanente movimento. Não só pelo fato de que quando existe alguém que aprende tem de haver outro que ensina, como PROCESSOS GRUPAIS 8 também em virtude do princípio segundo o qual não se pode ensinar corretamente enquanto não se aprende durante a própria tarefa de ensinar. Segundo Bleger (2011), no ensino e na aprendizagem em grupos operativos, não se trata só de transmitir informação, mas também de conseguir que seus integrantes incorporem e manipulem os instrumentos de indagação. Ou seja, o mais importante não é o acúmulo de conhecimentos adquiridos, mas sua utilização como instrumento para indagar e atuar sobre a realidade. Assim, aprendizagem e ensino estão tão relacionados que com frequência nos grupos operativos que se ocupam deste tema cunhou-se um neologismo: “ensinagem”. Segundo Pichon-Rivière (1988), a estrutura dos grupos se compõe pela dinâmica dos 3D: o depositado, o depositário e o depositante. O depositado é algo que o grupo não pode assumir no seu conjunto e o coloca em alguém, que, por suas características, permite e aceita. Estes que recebem nossos depósitos são nossos depositários; nós que nos desembaraçamos destes conteúdos, colocando-os fora de nós, somos os depositantes. Este movimento de deposito começa na família, com o projeto inconsciente dos pais. Os componentes do grupo são cinco: líder de mudança, líder de resistência, bode expiatório, representantes do silencio e porta-voz. O líder de mudança é aquele que se encarrega de levar adiante as tarefas, enfrentando conflitos, buscando soluções e se arriscando sempre diante do novo. O líder de resistência é aquele que sempre puxa o grupo para trás, freia avanços. O líder de mudança e o líder de resistência não podem existir um sem o outro. Os dois são necessários para o equilíbrio do grupo. PROCESSOS GRUPAIS 9 O bode expiatório é quem assume as culpas do grupo. Serve-se de depositário a esses conteúdos, livrando o grupo do que lhe provoca mal-estar, medo, ansiedade etc. Os silenciosos são aqueles que assumem as dificuldades dos demais para estabelecer comunicação, fazendo com que o resto do grupo se sinta obrigado a falar. O porta-voz é quem se responsabiliza em ser a “chaminé” por onde emergem as ansiedades do grupo. Através da sensibilidade apurada do porta-voz, ele consegue expressar, verbalizar, dar forma aos sentimentos e conflitos que muitas vezes estão latentes no discurso do grupo. O porta-voz é como uma antena que capta de longe o que está por vir. 4. O Processo Vivencial da Aprendizagem A teoria da aprendizagem vivencial é concebida como um processo, e não em termos dos resultados obtidos na forma de acúmulo de conhecimentos ou respostas a estímulos. Conforme apontado por Nascimento (2008), existem duas vertentes de treinamento e desenvolvimento: a tradicional (geralmente realizada em sala de aula, com um foco mais teórico) e a vivencial (com um objetivo mais direcionado ao desenvolvimento emocional, comportamental e atitudinal). A escolha por uma vertente ou outra dependerá do objetivo específico a ser alcançado, bem como das características da organização em questão. Com relação à aprendizagem vivencial, pode-se dizer que esta é uma consequência do envolvimento das pessoas, pois a partir do momento da experimentação se cria a oportunidade de analisar criticamente o processo, PROCESSOS GRUPAIS 10 extraindo dessa análise alguma observação e aplicando-a em seu cotidiano. Gramigna (1997), que pesquisa jogos e técnicas, toma esse pressuposto da aprendizagem vivencial e afirma que um jogo bem escolhido, aplicado de forma correta e avaliado conforme a metodologia prevista, gera resultados no público, como maior autoconhecimento, conscientização das necessidades e sinalização dos rumos individuais para os aperfeiçoamentos pessoal e profissional. Para Gramigna (1997), a forma mais adequada de aprendizagem é a vivencial. Este processo de aprendizagem passa por cinco fases, a saber: a vivência propriamente dita (jogo atividade); o relato das emoções; a avaliação do desempenho e o feedback recebido; as analogias (os "insights") e o compromisso com as atitudes de mudança. Esta autora ainda relata que quando uma atividade é planejada para um determinado grupo e são respeitas essas fases, estimula-se o acionamento do hemisfério direito nas fases de vivência e relato e do hemisfério esquerdo nas fases de avaliação, análise e analogias. Com esse trabalho de equilíbrio entre os dois hemisférios, busca-se a harmonia que propicia um comportamento pautado pelo compromisso não somente de forma racional, mas também emocional. A aprendizagem vivencial pode ser compreendida como uma oportunidade dos participantes experimentarem situações diversas e analisá-las de forma crítica, trazendo o aprendizado para seu cotidiano. Gramigna (1997) apresenta o Ciclo de Aprendizagem Vivencial (CAV), que pode servir de base para a aplicação dos jogos de empresa e das técnicas vivenciais. Este ciclo pode ser divido em cinco etapas: vivência, relato, processamento, generalização e aplicação. PROCESSOS GRUPAIS 11 Estas etapas serão brevemente apresentadas a seguir: Vivência: é o fazer algo, construir (experiência individual ou em grupo). A atividade deve estar de acordo com o objetivo do programa de intervenção e ser atrativa, lúdica e interessante; Relato: é o momento de expressarsentimentos, afetos e emoções. Os relatos poderão ser individuais ou coletivos, utilizando-se de diversas estratégias, como relatos verbais, utilização de mural com registros individuais, discussão livre (intermediada pelo facilitador), utilização de figuras, símbolos ou cores para expressar sentimentos etc.; Processamento: é a hora da análise de desempenho, feita pelo grupo. Aqui, os participantes avaliam questões de liderança, organização, planejamento, comunicação e administração de conflitos. Podem-se utilizar analogia, questionários individuais, levantamento de dificuldades e facilidades com roteiros pré-estabelecidos etc. Generalização: é o momento da comparação entre o jogo e a realidade da organização. Aqui, se podem introduzir temas, informações técnicas, referenciais teóricos, entre outros, sempre levando em consideração critérios como clareza, objetividade, atratividade e delimitação do tempo. Aplicação: etapa para planejamentos. Gramigna lembra que não adianta passar por todas as etapas anteriores e não encerrar o ciclo de aprendizado com uma reflexão e comprometimento com a mudança. Nesse momento, o participante tem a oportunidade de estabelecer seu papel como corresponsável na busca de melhorias. Nesse sentido, o facilitador orienta na elaboração dos planos individuais de desenvolvimento, nas metas, no "contrato psicológico" etc. PROCESSOS GRUPAIS 12 5. A Dinâmica do Relacionamento Interpessoal As relações interpessoais desenvolvem-se em decorrência do processo de interação. Em situações compartilhadas por duas ou mais pessoas, há atividades predeterminadas a serem executadas, bem como interações e sentimentos recomendados, tais como comunicação, cooperação, respeito, amizade. Na medida em que as atividades e interações prosseguem, os sentimentos despertados podem ser diferentes dos indicados inicialmente, e então os sentimentos influenciarão as interações e as próprias atividades. Assim, sentimentos positivo de simpatia e atração provocarão aumento de interação e cooperação, repercutindo favoravelmente nas atividades e ensejando maior produtividade. Por outro lado, sentimentos negativos de antipatia e rejeição tenderão à diminuição das interações, ao afastamento e à menor comunicação, repercutindo desfavoravelmente nas atividades, com provável queda de produtividade. (MOSCOVICI, 1997) Conforme apontado por Moscovici (1997), o ciclo ‘atividades-interações- sentimentos’ não se relaciona diretamente com a competência técnica de cada pessoa. Profissionais competentes individualmente podem render muito abaixo de sua capacidade por influência do grupo e da situação de trabalho. Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, há uma base interna de diferenças que englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiência anterior, gostos, crenças, valores e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões e sentimentos em relação a cada situação compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são encaradas e tratadas determina a modalidade de relacionamento entre membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados. Por exemplo: se no grupo há respeito pela opinião do PROCESSOS GRUPAIS 13 outro, se a ideia de cada um é ouvida e discutida, estabelece-se uma modalidade de relacionamento diferente daquela em que não há respeito pela opinião do outro, quando ideias e sentimentos não são ouvidos, ignorados ou quando não há troca de informações. A maneira de lidar com diferenças individuais tem forte influência sobre toda a vida em grupo, principalmente nos processos de comunicação, no relacionamento interpessoal e na produtividade. O relacionamento interpessoal pode se tornar e se manter harmonioso e prazeroso, permitindo o trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias, conhecimentos e experiências para um produto maior que a soma das partes, ou seja, a tão buscada sinergia. Ou então tender a tornar-se muito tenso, completivo, levando à desintegração de esforços, à divisão de energias e à crescente deterioração do desempenho grupal para um estado de entropia do sistema e final dissolução do grupo. 6. Dimensões da Comunicação Para Passadori (2009), o bom comunicador é aquele que tem consciência de que está informando sem emitir sons. Ou seja, para este autor, a comunicação eficaz, está relacionada não apenas com a voz, mas com a apresentação, postura, clareza e segurança da informação que está sendo transmitida. Este autor aponta sete dimensões da comunicação verbal e sinaliza que estas dimensões podem auxiliar profissionais a construir seu próprio estilo de comunicação. As dimensões são: comunicação intrapessoal, comunicação interpessoal, comunicação vocal, comunicação corporal, comunicação técnica, comunicação intelectual e comunicação espiritual. A seguir, apresento as sete dimensões da comunicação verbal, conforme apontado por Passadori (2009): PROCESSOS GRUPAIS 14 Comunicação intrapessoal: este conceito trabalha a percepção que o profissional tem de si próprio. Ele está relacionado com a autoestima e o autoconhecimento. “Se a pessoa não se gosta, como ela vai irradiar a sua energia?”, questiona o especialista. Para ele, a comunicação deve iniciar internamente. Só assim é possível estabelecer interação com o mundo externo. Comunicação interpessoal: está relacionada ao modo como o profissional enxerga o outro. Os bons comunicadores aceitam e respeitam as outras pessoas como elas são, mesmo que sejam diferentes deles. Pode parecer simples, mas colocar a ação em prática é bem difícil; Comunicação vocal: a voz transmite o conhecimento do profissional. Neste conceito, o autor afirma que a pessoa tem de ter domínio sobre a sua fala. Para isso, é necessário estar atento à dicção, ao tom da voz e ao ritmo. A voz tem de ser assertiva, equilibrada e segura; assim as pessoas conseguirão entender a mensagem que é transmitida; Comunicação corporal: se refere ao modo como o profissional se porta em diferentes situações, trabalha a expressão do rosto e do corpo, e como movimenta as suas mãos. Neste conceito, também estão incluídos a maneira como a pessoa se veste e sua elegância. Lembre-se: seu corpo também fala; Comunicação técnica: esta dimensão trata das habilidades essenciais aos líderes que precisam realizar apresentações bem-sucedidas. A comunicação técnica está relacionada a todo o sistema de apoio necessário para realizar uma apresentação. O líder tem de fazer uso adequado destes aparelhos. Isso significa saber usá-los da maneira correta, ou seja, nem a mais e nem a menos; Comunicação intelectual: está relacionada com a capacidade de unir os próprios conhecimentos, vindos da experiência, de estudos e da percepção das outras dimensões da comunicação; PROCESSOS GRUPAIS 15 Comunicação espiritual: não pode ser aprendida por meio de técnicas, já que está relacionada diretamente aos valores dos profissionais. “O líder tem consciência que seu papel influencia a vida de outras pessoas, por isso ele é guiado por seus valores”, finaliza o especialista. 7. A Importância do Feedback nas Relações Interpessoais Feedback é um termo eletrônico que significa retroalimentação (também retroação e realimentação). É “qualquer procedimento em que parte do sinal de saída de um circuito é injetada no sinal de entradapara ampliá-lo, diminuí-lo, modificá-lo ou controlá-lo”. A expressão “feedback” pode ser usada em dois sentidos: positivo ou negativo. No processo de desenvolvimento da competência interpessoal, feedback é uma ferramenta de ajuda para a mudança de comportamento; é a comunicação verbal ou não verbal dirigida a uma pessoa ou grupo, no sentido de fornecer-lhes informações sobre como sua conduta está nos afetando. Feedback eficaz ajuda o indivíduo ou grupo a melhorar seu desempenho e, assim, alcançar seus objetivos. Para se tornar realmente um processo útil, o feedback precisa ser, tanto quanto possível: 1. Descritivo, em vez de avaliativo: quando não há julgamento, apenas o relato de um evento, reduz-se a necessidade de reagir defensivamente, e assim a pessoa pode ouvir e sentir-se à vontade para usar aquele dado como julgar conveniente; 2. Específico, em vez de geral: quando se diz a alguém que ele é “dominador”, isso tem menos significado do que indicar seu comportamento em uma PROCESSOS GRUPAIS 16 determinada situação, ou seja, especificar o momento em que demonstra tal atitude; 3. Compatível com as necessidades (motivações) de ambos: comunicador e receptor – pode ser altamente destrutivo quando satisfaz somente as necessidades do comunicador sem levar em conta as necessidades do receptor; 4. Dirigido: para comportamentos que o receptor possa modificar, pois, caso contrário, a frustração será apenas incrementada se o receptor reconhecer falhas naquilo que não está sob seu controle mudar; 5. Solicitado, em vez de imposto: será mais útil quando o receptor tiver formulado perguntas que os que o observam possam responder; 6. Oportuno: em geral, o feedback é mais eficaz se for oferecido logo após a ocorrência da conduta, dependendo naturalmente do preparo da pessoa ou do grupo; 7. Deve ser esclarecido para assegurar uma boa comunicação: um modo de proceder é pedir ao receptor que repita o feedback recebido para confirmar se corresponde ao que o comunicador quis dizer. Os insucessos frequentes na comunicação interpessoal têm indicado, entretanto, que estes requisitos, embora compreendidos e aceitos intelectualmente, não são fáceis de serem seguidos, tanto no processo de dar como de receber feedback. PROCESSOS GRUPAIS 17 8. O Feedback como um Processo de ajuda para Mudança de Comportamento Conforme discutido por Moscovici (1997), para conduzir um feedback de forma eficaz é necessário a aquisição e o aperfeiçoamento de certas habilidades de comunicação, facilitando a compreensão mútua. Estas habilidades precisam ser treinadas e praticadas constantemente para maior eficiência de resultados. Entre as principais habilidades de comunicação estão a paráfrase, a descrição de comportamento, a verificação de percepção e a descrição de sentimentos, as quais constituem recursos valiosos para o processo de feedback construtivo. A seguir, serão apresentadas as principais habilidades de comunicação: Paráfrase Consiste em dizer com suas próprias palavras aquilo que o outro disse. Você enuncia a ideia do outro com seu vocabulário usual, dá um exemplo indicando o que você pensa a respeito ou, por qualquer outra forma, mostra ao outro o significado do que você apreendeu do que ele disse. A habilidade de paráfrase envolve atenção, escuta ativa e empatia. Por exemplo: “Será isto (afirmação) a correta expressão de sua ideia?” Ou então: “Seria isto (fato específico) um exemplo do que você disse?” Da paráfrase, decorrem dois benefícios principais: um aumento de precisão da comunicação e de compreensão mútua ou compartilhada, além de o ato de paráfrase em si transmitir o seu interesse sobre o outro (sua preocupação em ver como ele vê as coisas). Entretanto, quando você usa paráfrase, você está mostrando sua compreensão do momento, e assim possibilita ao interlocutor esclarecer especificamente a PROCESSOS GRUPAIS 18 mensagem em relação à compreensão que você revelou. Antes de concordar ou discordar com uma afirmação, você deve assegurar-se de que está respondendo à mensagem que o outro enviou. A paráfrase é uma das maneiras de testar a compreensão da mensagem antes de reagir a ela. Descrição de Comportamento Consiste em relatar as ações específicas observáveis dos outros sem fazer julgamentos ou generalizar seus motivos ou traços de personalidade. É possível informar aos outros a que comportamento você está reagindo através de descrição bastante clara e específica. É importante descrever evidências visíveis, ou seja, comportamentos acessíveis à observação de qualquer pessoa presente. Exemplo: “Esta é a terceira vez que você disse concordar comigo e acrescentar ‘mas’ e, em seguida, expressar exatamente o ponto de vista oposto.” A habilidade de descrever comportamento exige o relato de ações observáveis sem: 1) Colocar-lhes um julgamento de valor como certo ou errado, bom ou mau, devido ou indevido; 2) Fazer acusações ou generalizações sobre os motivos, atitudes ou traços de personalidade da outra pessoa. PROCESSOS GRUPAIS 19 Significa, enfim, evitar descrever características pessoais e intenções ou interpretar o comportamento, restringindo-se a relatar o comportamento observável da pessoa. Para desenvolver a habilidade de descrever comportamento, você deverá aprimorar sua capacidade de observação do que realmente ocorre em seu meio. À medida que isto for acontecendo, você também poderá descobrir que muitas de suas afirmações e conclusões são menos baseadas em evidências observáveis do que em seus próprios sentimentos de irritação, afeto, insegurança, ciúme, medo ou alegria. É muito importante desenvolver esta habilidade se você desejar realizar um feedback interessante e eficaz. Verificação de Percepção Consiste em dizer sua percepção sobre o que o outro está sentindo, a fim de verificar se você está compreendendo também seus sentimentos, além do conteúdo das palavras. Exemplo: “Tenho a impressão de que você se magoou com meu comentário. É verdade?” Através da habilidade de observar e relatar percepções de sentimentos, pode-se chegar a compreender melhor as outras pessoas, pois a comunicação se realiza através de vários canais concomitantes, cujos sinais precisam ser captados para que as mensagens tenham significado total. Além disso, a comunicação passa a ser realmente compartilhada com a preocupação de entender as ideias, informações e sugestões e, ao mesmo PROCESSOS GRUPAIS 20 tempo, de como o emissor está se sentindo ao enviar as mensagens e ao perceber como estão sendo recebidas. Muitas vezes, o emissor não está consciente dos sinais não verbais que emite e que transmitem mensagens emocionais que podem facilitar, perturbar ou contradizer a mensagem verbal principal. Esta habilidade constitui um dos melhores exercícios para desenvolver a capacidade de empatia, em que observação acurada, comparação com sentimentos já experimentados e se colocar no lugar do outro se conjugam, levando à compreensão mútua e maior competência para a vida em comum. Descrição de Sentimentos Consiste em identificar ou especificar sentimentos verbalmente, seja por meio do nome do sentimento, de figuras de linguagem ou de impulso de ação. Alguns exemplos: 1) “Eu me sinto constrangido”; “Eu gosto muito de você” (identificação de sentimentos pelo seu nome); 2) “Sintovontade de abraçar todo mundo” (impulso de ação); 3) “Sinto-me um pássaro aprisionado” (figura de linguagem). Verificação de percepção e descrição de sentimentos são habilidades de comunicação que ajudam os outros a compreendê-lo como pessoa, pois você lhes transmite aquilo que fazem em termos do que afeta a você (pessoalmente ou como membro de um grupo), e, principalmente, revela aos outros, de forma clara e espontânea, aquilo que você sente. PROCESSOS GRUPAIS 21 Referências BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevistas e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 2011. FRITZEN, S. J. Relações Humanas Interpessoais. 4 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1994. GRAMIGNA, M. R. M. Jogos de empresa e técnicas vivenciais. São Paulo: Makron Books, 1997. MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. NASCIMENTO, C. T. A psicopedagogia e a aprendizagem organizacional: a importância da gestão do conhecimento na administração de recursos humanos. 2008. Disponível no URL: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=1027 PASSADORI, R. As 7 dimensões da comunicação verbal. [s./l.]: Gente, 2009. PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1988. ZIMERMAN, D. E. Fundamentos básicos das grupo terapias. Rio de Janeiro: Artes médicas, 2000.
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