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NPJ-I-Direito Constitucional Espelho Secao 2

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Direito Constitucional
SEÇÃO 2
ESPELHO DE CORREÇÃO
Seção 2
Direito Constitucional
Vamos à resolução comentada do nosso caso prático? Lembre-
se de que o servidor público de Goiânia conta com sua ajuda 
para elaborar a sua defesa administrativa. Veja que ele procurou 
você, exímio advogado constitucionalista que presta serviços 
à Associação Nacional dos Servidores Públicos da Federação 
(Assebrasp), para encontrar o caminho processual correto para 
a solução da demanda administrativa. 
Você deverá elaborar uma defesa, no exercício de seu direito 
constitucional fundamental de petição, insculpido na Constituição 
da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), artigo 5.º, 
inciso XXXIV, alínea “a”, que assegura o uso desse instrumento 
a qualquer cidadão para o acesso aos poderes públicos – no 
nosso caso, a administração pública municipal. 
Dentre os argumentos jurídicos, saliente que o direito de greve do 
servidor público está previsto constitucionalmente na CRFB/88, 
artigo 37, inciso VII e que por não ter sido ainda regulamentado 
(o Congresso Nacional está em mora legislativa nesse ponto), 
adota-se a corrente concretista geral no Mandado de Injunção 
em tais casos, assim, cabe ao Poder Judiciário disciplinar o 
direito de greve, restando decisão pelo Pretório Excelso que a 
Lei de Greve da iniciativa privada seja aplicada analogicamente. 
No mesmo esteio, argumente que o entendimento atual 
do Supremo Tribunal Federal (STF), exposto no Recurso 
Na prática!
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NPJ - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
 DIREITO CONSTITUCIONAL - ESPELHO DE CORREÇÃO - SEÇÃO 2
Extraordinário (RE) 693456, julgado em 24 de outubro de 
2016, tema 531 de repercussão geral relacionado ao direito 
de greve do servidor público civil, prima que nos casos como 
o presente, em que a administração pública descumpre 
acordo com os grevistas, não é lícito que seja feito o corte 
dos dias parados. Opta-se, nesse caso, por uma corrente 
intermediária em que se dá oportunidade de compensação 
dos dias parados até mesmo para que o caráter alimentar dos 
vencimentos do servidor não seja brutalmente atacado e se 
pondere a indisponibilidade do interesse público.
A petição deverá ser dirigida à autoridade pública que instaurou 
o procedimento administrativo, que no caso é o chefe do Poder 
Executivo Municipal de Goiânia.
Pugne, ao fi nal, pela improcedência do procedimento 
administrativo e seu arquivamento regular. 
Defesa administrativa
Excelentíssimo Senhor Prefeito do Município de Goiânia,
Cumprimentando-o cordialmente, venho à presença de Vossa 
Excelência, no exercício do direito de petição assegurado na 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), 
artigo 5.º, inciso XXXIV, alínea “a”, informar e requerer o que segue. 
Do regular exercício do direito de greve pelo servidor
A CRFB/88 prevê em seu artigo 9.º ser assegurado o direito de 
greve aos trabalhadores em geral: 
Questão de ordem!
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 Direito Constitucional - Espelho de Correção - Seção 2NPJ 
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo 
aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de 
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio 
dele defender.
 § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais 
e disporá sobre o atendimento das necessidades 
inadiáveis da comunidade.
 § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às 
penas da lei. [BRASIL. Constituição (1988). Disponível 
em: < >. Acesso em: 2 set. 2016]. 
A norma em questão é de eficácia contida, pois muito embora o 
direito fundamental tenha eficácia plena, é permitida uma constrição 
pelo legislador, que está nos parágrafos 1.º e 2.º do artigo 9.º. 
O servidor público também pode exercer o direito de greve 
conforme o artigo 37, inciso VII, que prevê que ele será exercido 
em termos e limites previstos em lei específica, conforme Emenda 
Constitucional 19, de 1998 (EC 19/98). A redação original do 
nosso texto, de 1988, dizia que o direito de greve do servidor 
público seria definido em lei complementar. Com a EC 19/98, a 
palavra “complementar” foi retirada para constar em seu lugar “a 
lei específica”. Assim, o hoje considerado direito fundamental de 
greve é norma de eficácia limitada para o servidor público que 
depende de regulamentação por lei ordinária específica:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de 
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de 
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência e, também, ao seguinte: 
[...]
VII - o direito de greve será exercido nos termos e 
nos limites definidos em lei específica [...]. [BRASIL. 
Constituição (1988). Emenda constitucional nº 19, de 
4 de junho de 1998. Disponível em: <https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc19.htm#art3>. Acesso em: 2 set. 2016].
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 Direito Constitucional - Espelho de Correção - Seção 2NPJ 
Suspensão do contrato de trabalho
A Lei de Greve (Lei 7.783/89) diz no artigo 7.º que se está diante 
de suspensão do contrato de trabalho e, portanto, de não 
pagamento. Essa suspensão, ou seja, o não pagamento, tem 
sido reconhecida pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em 
algumas decisões, porém, admite que a sentença normativa pode 
dispor sobre pagamento – no caso de o acordo, a negociação ou 
a sentença reconhecer que o empregador estava dando causa 
àquela situação. O TST entende que os dias parados devem ser 
considerados como não pagos, exceto se o empregador contribui 
com sua conduta recriminável ou se há acordo entre as partes. 
No cenário do direito internacional, temos duas normas 
diretamente relacionadas ao direito de greve e que foram inseridas 
no ordenamento jurídico interno pelo Decreto 7.944, de 6 de março 
de 2013, que promulgou a Convenção 151 e a Recomendação 159, 
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de 1978, sobre as 
relações de trabalho na administração pública. 
Tese firmada
Assim, o STF no Recurso Extraordinário (RE) 693456, julgado em 
24 de outubro de 2016, apreciou o tema 531 de repercussão geral 
relacionado ao direito de greve do servidor público civil.
O voto-vista do ministro Luis Roberto Barroso é de essencial 
análise para a compreensão da construção que o STF realizou 
para obter uma solução intermediária do impasse entre o 
princípio da indisponibilidade do interesse público e o respeito ao 
direito fundamental de greve dos servidores públicos. O ministro 
entende que se a greve é superior a 30 (trinta) dias, em greves 
longas dessa natureza, haveria a possibilidade de uma decisão 
intermediária de corte parcial ou compensação parcial dos dias 
parados, o mesmo ocorrendo em caso de recusa de negociação 
por parte do empregador. Diz ele que o desconto integral é lesivo 
até mesmo socialmente ao trabalhador. O que temos hoje é que 
na inciativa privada a greve é uma situação clara de suspensão do 
contrato de trabalho, como vimos, assim, o desconto do tempo 
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 Direito Constitucional - Espelho de Correção - Seção 2NPJ 
parado é a regra, a não ser que haja abusividade reconhecida, 
situações que justifiquem a greve ou, ainda, a ponderação com 
base no entendimento do TST no caso de a greve ser muito 
longa. O pedido de vista do ministro Barroso suspendeu em 2 
de novembro de 2016 o julgamento pelo plenário do STF do RE 
em questão, porém, restou firmada por maioria (6 a 4), em 2 de 
novembro de 2016, a seguinte tese: 
A administração pública deve proceder ao desconto 
dos dias de paralisação decorrentes do exercício do 
direito de greve pelos servidores públicos, em virtude 
da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, 
permitida a compensação em caso de acordo. O 
desconto será, contudo, incabível se ficar demonstradoque a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder 
Público. (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Dias parados 
por greve de servidor devem ser descontados, exceto 
se houver acordo de compensação. Brasília, 27 out. 
2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/
cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=328294>. 
Acesso em: 2 nov. 2016).
Condutas ilícitas do poder público são aquelas em que se verifica 
o descumprimento de um acordo previamente firmado entre o 
movimento grevista, como ocorreu no presente caso.
Assim, reque-se a improcedência do procedimento administrativo 
e seu posterior arquivamento, dada a sua ilegalidade e 
descompasso com a jurisprudência em repercussão geral do STF.
Goiânia, data.
Servidor público
Nome do advogado (opcional)
Número de inscrição na OAB/subseção (opcional)
Endereço profissional
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1. Qual é a correlação entre o direito de greve e as normas 
internacionais que tratam da greve na administração pública? 
Elas corroboram para a tese 531, fi rmada pelo STF?
2. Cite alguns casos que estão sobrestados pela análise do tema 
531 em repercussão geral pelo STF.
3. Quais são as atividades essenciais consideradas pela Lei de Greve?
4. O serviço público é sempre considerado uma atividade essencial?
5. Qual é o impacto da tese fi rmada pelo STF nos movimentos 
grevistas do funcionalismo público?
Resolução comentada
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