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Um sertão chamado Brasil, capítulo 5 O País de Jeca Tatu - Resenha

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Resenha do texto um sertão chamado Brasil, capítulo 5 (O País de Jeca Tatu) 
A autora Nísia Trindade Lima, nesse capítulo tem como objetivo apresentar o debate em torno de 
Jeca. Em um primeiro momento ela busca reconstruir as versões positivas e negativas, que 
correspondem às representações romântica e naturalista ou científica sobre os brasileiros do 
interior. Em seguida, ela fala sobre a reestruturação do caipira. Em um terceiro momento ela analisa 
a auto identificação do intelectual com a figura do Jeca. 
Os modos de representação do homem e da vida do interior variam intensamente no que se refere à 
valorização positiva ou negativa deles. Essas representações vão desde a afirmação dos elementos 
como força, autenticidade e comunhão com a natureza, enaltecidos na literatura romântica, até o 
retrato negativo e sombrio que aparece nos textos de Monteiro Lobato. Além da versão satírica 
esboçada pelo modernismo. 
Para os autores românticos, são mais valorizados os elementos como autenticidade e proximidade à 
natureza. Já nas representações naturalista e modernista, o tema da preguiça como o elemento 
principal, tendo diferentes causas para ela. 
A caracterização do caipira como indolente, imprevisível e parasita alcançou seu ponto máximo com 
a criação do personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato, no texto Urupês o caipira e tido como uma 
pessoa doente, que está sempre cansada e que apesar do que estiver acontecendo ao seu redor 
continua estático, parado em seu canto. Para Rui Barbosa, Lobato além de ter esboçado o caipira 
paulista, teria de forma consciente ou inconsciente, sintetizado a “concepção que tem de nossa 
nacionalidade os homens que a exploram”. 
Se pode situar Macunaíma no âmbito do projeto intelectual delineado por Oswald de Andrade no 
Manifesto da Poesia pau-Brasil e ver o herói sem caráter de Mario de Andrade com expressão que 
tentava amalgamar “a cultura nativa e a cultura intelectual renovada, a floresta com a escola num 
composto híbrido que ratificava a miscigenação étnica do povo brasileiro”. Porém, nesse caso não 
há qualquer compromisso em retratar de forma fiel um tipo social específico. Trata-se de uma 
alegoria sobre a identidade nacional, em que a fábula da preguiça alcança expressão positiva e 
heroica. 
A ideia de que o caboclo indolente e parasitário poderia sofrer profunda transformação e tornar-se 
um agente de mudança social e modernização passa a ser defendida por monteiro Lobato, após o 
contato com as propostas e os intelectuais que participaram da campanha em prol do saneamento 
do Brasil. 
Com isso, o diagnóstico sobre a preguiça de Jeca mudou, as doenças reveladas por Osvaldo Cruz, 
cabia a responsabilidade pela situação de miséria e indigência em que vivia o caboclo. As doenças 
apontadas como causadoras da improdutividade do trabalhador nacional, são a malária, a doença de 
chagas, a ancilostomose, a sífilis e o alcoolismo. Uma vez feito o diagnóstico dos males do Brasil, 
tornava-se necessário determinar a possibilidade de cura, o que era possível através da adoção de 
uma política sanitária. 
Jeca Tatu no texto de Oswald de Andrade, o lugar inequívoco de símbolo do povo brasileiro. O Jeca, 
que, nessa reconstituição, teria garantido a unidade nacional ao longo dos séculos, em retribuição, 
ficara como Lobato o encontrou: “verminado e molambento”. 
Na sua dimensão simbólica representativa do homem brasileiro, ou em sua feição mais concreta de 
caricatura do caipira, o Jeca não morreria nos anos seguintes a publicação de Oswald de Andrade. De 
retrato bucólico, de paciente de ações médico-sanitarista, de objeto de admiração, identidade ou 
repulsa pelos intelectuais, de personagem de filme humorístico, ele se transformaria em objeto de 
pesquisa das novas perspectivas do trabalho sociológico.

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