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Seção 3 DE EAD SOCIOAMBIENTAL UCSAL

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Seção 3 – A Educação Ambiental no Brasil
Trajetória da Educação Ambiental
Segundo Guimarães (2008, p.7), no Brasil o saque sistemático dos recursos naturais começou exatamente em 1500. Segundo o historiador Bueno (1999) nesse ano os espanhóis teriam carregado seus navios com 21 toneladas de pau-brasil, provavelmente do nordeste brasileiro. De grande valor comercial ,essa árvore era recebida com entusiasmo no mercado europeu, o que acabou gerando uma devastação sem precedente do exemplar no Brasil. Acrescenta ainda, o mesmo autor, que no primeiro século de exploração os portugueses e contrabandistas derrubaram cerca de dois milhões de árvores, uma média de 20 mil por ano ou quase 50 por dia. Em 1558 as melhores árvores só eram encontradas a 20 km da costa.
A depredação européia não atingia apenas a flora, um único navio Francês apreendido pela coroa portuguesa em 1538 transportava 300 macacos, 600 papagaios, e 3 mil peles de onças entre outros animais. As consequências de tamanho saque intensificado pela derrubada da mata para plantio de cana, e posteriormente café, foram devastadoras: a mata atlântica que na época da chegada dos portugueses ocupava mais de um milhão de quilômetros quadrados, estendendo-se do Rio do Norte ao Rio Grande do Sul, hoje está reduzida a menos de 7% de sua área original (GUIMARÃES, 2008, p.7).
As capitanias hereditárias implantadas pelos portugueses, como tentativa de deter o assédio dos invasores, não deram certo, mas ainda que prosperassem, o principal objetivo dos donatários era o de explorar ao máximo as riquezas da nova terra. Os primeiros decretos relativos à proteção dos recursos naturais, florestais e pesqueiros surgiram nesse período e sempre com o objetivo de regular interesses econômicos imediatos, já que a economia era baseada na exploração de minérios, derrubada de florestas e plantio agrícola (GUIMARÃES, 2008, p.8).
Após a independência em 1822 a filosofia continuava a mesma: proteger setores isolados do meio ambiente para prolongar sua exploração, garantir monopólio e destinação exclusiva. Mesmo no século XX, quando a Legislação Ambiental Brasileira começa a ser consolidada, com a promulgação do primeiro Código Florestal e do Código de Águas ambos em 1934, a visão utilitarista ainda predominava. No caso do Código de Águas mais do que a proteção a esse recurso natural era privilegiado a sua exploração para geração de energia elétrica (GUIMARÃES, 2008, p.9).
A década de 60 foi marcada pelo agravamento dos problemas ambientais, nesse período a luta pela preservação  do ambiente fundiu-se à luta pelas liberdades democráticas. O governo militar brasileiro desdenhou dos problemas e persistiu com seu modelo econômico descomprometido ambiental e socialmente (GUIMARÃES, 2008, p. 11). Ainda durante o Regime Militar nas décadas de 60/70 estava restrito o debate político e as ações coletivas. A temática social não fazia parte da pauta educacional. O ambientalismo representava um obstáculo à consolidação da nova “ideologia nacional” que estava voltada para a busca incessante  do desenvolvimento econômico. Nesse contexto, a Educação Ambiental (EA) se desenvolveu sobre as marcas do naturalismo, desprovido de debate político que articulasse as questões ambientais e socioeconômicas (SALVADOR, 2006). 
Após pressão social, em 1973, o governo militar criou a Secretaria Especial de Meio Ambiente. Em 1975 alguns órgãos começaram a planejar os programas de Educação Ambiental nas escolas brasileiras, respaldados no ideal ecológico e de preservação da natureza sem levar em consideração a desigualdade social e a miséria pela qual passava a sociedade brasileira. Disponível em: http://eduambiental-com114.
Em 1977, após a Conferência Intergovernamental, o Brasil definiu sua política de implementação da Educação Ambiental nas escolas e tratava o tema dentro das ciências biológicas contrariando sugestão da Conferência de Tibilisi de que o meio ambiente devia ser estudado em todos os âmbitos: cultural, científico, tecnológico, político e ético e não apenas no ecológico. Disponível em: http://eduambiental-com114.
A Lei 9.795 de Abril de 1999 – Lei da Educação Ambiental
Na Constituição de 1988, pela primeira vez na história, um país dedicou um capitulo inteiro ao Meio ambiente, dividindo entre o governo e a sociedade a responsabilidade pela sua defesa (GUIMARÃES, 2008, p. 10). A Educação Ambiental passa a ser um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, onde fica explicito no artigo 225 que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).
Ainda em 1988, o assassinato de Chico Mendes, líder sindical dos seringueiros de Xapuri no Acre, provocou grande comoção no mundo. No Brasil, o ocorrido serviu para despertar a sociedade sobre os conflitos entre os interesses econômicos de empresas e grandes proprietários e as populações tradicionais (índios, caiçaras, ribeirinhos, quilombolas) responsáveis pela preservação dos biomas e dos recursos naturais locais. Em 1989, é criado o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). (GUIMARÃES, 2008, p. 11). O IBAMA funciona como um fiscalizador das políticas nacionais de meio ambiente, e incentivador das ações de educação ambiental.
Em 1992, após o Brasil ter sediado a Rio-92, o governo, mais uma vez pressionado, cria o Ministério do Meio Ambiente que tem como missão promover a adoção de princípios e estratégias para o conhecimento; a proteção e a recuperação do meio ambiente; o uso sustentável dos recursos naturais; a valorização dos serviços ambientais e a inserção do desenvolvimento sustentável na formulação e na implementação de políticas públicas de forma transversal e compartilhada, participativa e democrática, em todos os níveis e instâncias de governo e sociedade.
A Educação Ambiental no Brasil não seguiu um caminho linear, passou e tem passado muitos percalços para a sua implantação e desenvolvimento no ensino formal, não formal e informal. A trajetória da Educação Ambiental no Brasil parece coerente no discurso técnico, embora se apóie numa postura política do Estado mínimo e submissão da sociedade às barbáries das regras do mercado econômico (PEDRINI, 1997, p. 36).
A Educação Ambiental foi formalmente instituída no Brasil, pela lei federal de nº 6938 de agosto de 1981 que criou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e a criação de parques nacionais, reservas biológicas, áreas de proteção ambiental e demais interesse ecológico. Essa lei foi um marco histórico na Institucionalização da defesa da qualidade ambiental brasileira, tendo um dos seus princípios: “a EA deveria ser praticada não só na instancia formal (em todos os níveis de ensino) como informal (educação comunitária), objetivando capacitar a sociedade para a participação ativa na edificação de uma sociedade ideal”. Essa lei segundo Pedrini (1997, p. 37-38) não foi regulamentada.
Em 1994 foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) e teve como marco conceitual e metodológico a Conferência de EA de Tibilisi. Essa Conferência teve a incumbência de capacitar docentes, técnicos dos sistemas educacionais, educadores que atuam em órgão do meio ambiente e entidades da sociedade civil, entre outros, com objetivo de buscar levar a Educação Ambiental para toda a sociedade civil e órgãos públicos. (PEDRINI, 1997, p. 39).
Ademais, o Pronea (BRASIL, 2014) pretende promover a articulação das ações educativas voltadas às atividades de proteção, recuperação e melhoria socioambiental, e de potencializar a função da educação para as mudanças culturais  e sociais, que se insere a Educação Ambiental, tendo como linha de ação:
Gestão e planejamento da Educação Ambiental;
Formação de educadores ambientais;
Comunicação para educadores ambientais;
Formação ambiental continuada e inicial de professores;
Monitoramentoe avaliação de políticas, programas e projetos de educação ambiental.
De acordo com Pedrini (1997, p. 47), fomentar EA não é só promover debates, editar publicações institucionais centralizadas ou fomentar ações pulverizadas no país, é, antes de tudo, apresentar uma prática condizente no seu contexto, mais compatibilizada com os pressupostos pedagógicos que adota no discurso. O autor chama atenção de que na década de 90 as pesquisas apontavam que o trabalho com EA estavam restritos à conscientização e difusão nas escolas, unidades de conservação e comunidades. Não tendo como meta principal uma ação transformadora como a mudança de hábitos, postura e conduta (PEDRINI, 1997, p. 55).
Em 1998, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram aprovados pelo Conselho Nacional de Educação. Esse documento deu base para a elaboração do seu projeto educativo na escola, inserindo procedimentos, atitudes e valores no convívio escolar, bem como a necessidade de tratar alguns temas sociais urgentes, de abrangência nacional, denominados como temas transversais, sendo o meio ambiente um dos escolhidos.
Em 1999 é criada a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) - Lei nº 9.795. Bortoliero (2010) assegura que os princípios contidos nessa lei procuram reforçar a temática ambiental em práticas sociais, indicando-a como uma prática que deve ter certa abordagem integrada e processual em relação ao meio ambiente e suas relações com as atividades humanas. Destaca, ainda, que os enfoques de caráter humanista foram resguardados nesse documento, a citar: aqueles de caráter histórico, democrático, participativo, crítico, político, dentre outros, respeitando, inclusive, o pluralismo de propostas pedagógicas.
A Política Nacional de Educação Ambiental firma-se como um plano que abrange todo o país e regulamenta as instituições de ensino a partir de um conjunto de regras melhor estabelecido, facilita o desenvolvimento da educação ambiental e a implantação do PRONEA nas escolas brasileiras. (BORTOLIERO, 2010). Dessa forma, não restam dúvidas de que o Brasil estabeleceu uma estrutura mais sólida para agir com relação à Educação Ambiental em todos os âmbitos da sociedade após a criação do PRONEA a da PNEA.
Segundo Pedrini ( 1997, p. 56), percebe-se que há instrumentos legais e meios financeiros plausíveis para se estimular e realizar a EA no Brasil e acrescenta que: 
Já existem tanto na instancia ambiental como na educacional órgãos públicos federais responsáveis pela realização da EA no país. Há previsões financeiras e fundos perdidos para alocar dinheiro, apesar da pulverização das verbas. Assim, faltam apenas estímulo à capacitação dos educadores ambientais com base teórico-metodológica e reivindicação e fiscalização da população para que nossos governantes sejam eficazes! (PEDRINI 1997, p. 56)
Percebe-se que, com o passar dos anos, a sociedade brasileira está tomando consciência de que a crise ambiental está intimamente relacionada à degradação da qualidade de vida humana e a superação desta realidade encontra-se intimamente relacionada a outras questões como justiça social, distribuição de renda, educação. Assim, além da preocupação com o meio ambiente a coletividade deve buscar o exercício dos instrumentos legais para, através da Educação Ambiental, construir uma sociedade mais justa e menos desigual. 
Saiba mais
Alguns aspectos podem ser indicados como expressão de síntese da história e do atual momento da Educação Ambiental no Brasil: 
– Temos uma Educação Ambiental extremamente complexa, que permite múltiplas abordagens da questão ambiental e suas causas, constituída por abordagens similares ou não (ecopedagogia, Educação Ambiental crítica, emancipatória ou transformadora; alfabetização ecológica; educação no processo de gestão ambiental, etc.). Isso favoreceu a construção de alternativas consistentes em diferentes espaços de atuação (em unidades de conservação, no processo de licenciamento, com movimentos sociais, em escolas, em empresas e junto a órgãos governamentais) e a possibilidade de enfrentamento de qualquer tratamento reducionista do ambiente. 
– A atual estrutura do Órgão Gestor, enquanto espaço interministerial (MEC e MMA), bem como a existência da PNEA, abre para a possibilidade de consolidação da Educação Ambiental como política pública de caráter universal e democrático. 
– A ampliação do diálogo com movimentos sociais e professores, caso se efetive, tende a qualificar a capacidade da Educação Ambiental na promoção de uma sustentabilidade democrática e no enfrentamento dos graves problemas socioambientais que existem no país.
 – Em função destas características, a Educação Ambiental brasileira incorpora plenamente a discussão da indissociabilidade entre o social e o ecológico, não sendo, portanto, necessária a adoção de outras denominações recentes no cenário internacional (educação para o desenvolvimento sustentável, educação para a sustentabilidade, entre outras) que procuram superar esta lacuna observada em outros países em que esta se definiu com um sentido estritamente ou fundamentalmente biológico.

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