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Penal Parte Especial 01

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NOÇÕES DE 
DIREITO PENAL 
PARTE ESPECIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Sujeitos do crime: 
-Sujeito ativo: vide concurso de pessoas. 
-Sujeito passivo: é a pessoa ou entidade que sofre os 
efeitos do delito (a vítima do crime). 
-Objeto jurídico ou objetividade jurídica: é o bem jurídico 
tutelado. 
-Objeto material: é a coisa sobre a qual recai a conduta 
delituosa. 
 
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
 
1 – dos crimes contra a pessoa. 
O Título I da Parte Especial do Código Penal abrange os 
crimes contra a pessoa. Dentro deste Título há a 
subdivisão em seis capítulos, que são: 
I – dos crimes contra a vida, 
II - lesões corporais, 
III - da periclitação da vida e da saúde, 
IV – da rixa, 
V – dos crimes contra a honra e 
VI – crimes contra a liberdade individual. 
1.1 – DOS CRIMES CONTRA A VIDA. 
 
Obs.: os crimes contra a vida compreendem os artigos 121 
até 128 do Código Penal. Tais crimes são julgados pelo 
tribunal do júri. O único crime previsto no capítulo “dos 
crimes contra a vida” que não é julgado pelo tribunal do 
júri é o homicídio culposo, pois os demais são dolosos 
contra a vida. 
 
Obs.2: são garantias constitucionais do tribunal do júri as 
seguintes: 
 
I.Plenitude de defesa; 
II.Sigilo das votações; 
III.Soberania dos vereditos; e 
IV.Competência mínima para julgar os crimes dolosos 
contra a vida. 
 
Homicídio simples 
Art 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
 
a) Divisão topográfica do homicídio: 
 
Art. 121, caput, CP – homicídio simples; 
Art. 121, § 1º, CP – homicídio privilegiado; 
Art. 121, § 2º, CP – homicídio qualificado; 
Art. 121, § 3º, CP – homicídio culposo; 
Art. 121, § 4º, CP – homicídio majorado; 
Art. 121, § 5º, CP – perdão judicial; 
Art. 121, § 6º, CP – homicídio por milícia privada e grupo 
de extermínio. 
 
b) Sujeitos da infração: 
Sujeito ativo – trata-se de crime comum, pois o delito de 
homicídio pode ser qualquer pessoa. 
Sujeito passivo – qualquer pessoa. 
 
c) Objeto material: 
É a pessoa contra a qual recai a conduta praticada pelo 
agente. 
 
d) Objeto jurídico: 
É a vida e, num sentido mais amplo, a pessoa. A vida 
humana, direito fundamental assegurado pelo art. 5º, 
caput, da Constituição Federal. É irrelevante a viabilidade 
do ser nascente, bastando o nascimento com vida. 
 
e) Exame de corpo de delito: 
Por ser um crime que deixa vestígios, é necessária a 
realização do exame de corpo de delito direto ou indireto, 
conforme determina os arts. 158 e 167 do CPP. 
 
f) Elemento subjetivo: 
É o dolo – a vontade livre e consciente de matar alguém. O 
agente atua com o chamado animus necandi, ou seja, é 
dirigida finalisticamente a causar a morte de um homem. 
O dolo pode ser direto, de primeiro ou segundo grau, bem 
como eventual. 
 
g) Modalidade comissiva e omissiva: 
Trata-se de crime comissivo. Pode ocorrer na forma 
comissiva por omissão quando o agente possuir a posição 
de garantidor. 
 
h) Meios de execução: 
O homicídio é crime de ação livre, ou seja, aquele que 
admite inúmeros meios de execução. Podem ser diretos, 
como o disparo de uma arma, indiretos, como o ataque de 
um cão instigado pelo dono, materiais, como o uso de 
veneno ou morais, como um susto. 
Se houver intenção de matar, a prática de relação sexual 
forçada e dirigida à transmissão do vírus da AIDS 
caracteriza o crime de homicídio tentado ou consumado. O 
vírus da AIDS, dessa forma, quando inoculado importa em 
doença letal e ainda incurável. O entendimento majoritário 
nesse caso é de que o agente deve responder por tentativa 
de homicídio ou homicídio consumado, conforme o 
resultado atingido. 
 
Jurisprudência: “Moléstia grave. Transmissão. HIV. Crime 
doloso contra a vida versus o de transmitir doença grave. 
Descabe, ante previsão expressa quanto ao tipo penal, 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
partir-se para o enquadramento de ato relativo à 
transmissão de doença grave como a configurar crime 
doloso contra a vida” (STF: HC 98.712/SP, rel. Min. Marco 
Aurélio, 1.ª Turma, j. 05.10.2010, noticiado no Informativo 
603). 
 
i) Consumação e tentativa: 
A consumação ocorre com o resultado morte. Admite-se a 
tentativa na modalidade dolosa, pois a tentativa é 
composta pelos seguintes elementos: 
 
• Início da execução; 
• Não consumação por circunstâncias alheias à vontade 
do agente; e 
• Dolo de consumação. 
 
j) Homicídio privilegiado: 
Caso de diminuição de pena (homicídio privilegiado) 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de 
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de 
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
 
Obs.1: A natureza jurídica do homicídio privilegiado é caso 
de diminuição de pena. Crime privilegiado é aquele no qual 
o legislador diminui, em abstrato, os limites mínimo e 
máximo da pena. Traz o Código Penal em seu art. 121, §1°, 
que o juiz partirá da pena de homicídio simples, diminuída 
de um sexto a um terço. Por ser uma causa especial de 
diminuição de pena e, sendo direito subjetivo do agente, 
caso ele se enquadre nas hipóteses previstas, o juiz é 
obrigado a aplicar a redução de um sexto a um terço da 
pena. 
Obs.2: Destarte, é obrigatória a redução da pena pelo juiz 
quando do reconhecimento pelo conselho de sentença da 
prática de um homicídio privilegiado, tendo em vista 
tratar-se de uma causa especial de redução de pena. 
Obs.3: Uma das circunstâncias do homicídio privilegiado é 
estar o agente sob violenta emoção, logo em seguida à 
injusta provocação da vítima. Esta emoção deve ser 
absorvente, plena, fazendo com que o agente perca sua 
capacidade de autocontrole, ou seja, dominado pela 
violenta emoção e não sob influência. E a expressão logo 
em seguida aponta um elemento temporal, devendo ser 
quase que imediatamente após injusta agressão. 
 
k) Homicídio qualificado: 
Homicídio qualificado 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por 
outro motivo torpe; 
II - por motivo fútil; 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, 
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que 
possa resultar perigo comum; 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação 
ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a 
defesa do ofendido; 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a 
impunidade ou vantagem de outro crime: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
 
Obs.1: são circunstâncias subjetivas as constantes dos 
incisos I, II e V, pois se referem ao agente, ou seja, são de 
caráter pessoal (motivação). 
 
Obs.2: são circunstâncias objetivas as constantes dos 
incisos III e IV, pois se referem, respectivamente, ao meio 
e ao modo de praticar o homicídio. 
 
Motivo torpe – O motivo torpe, que qualifica o homicídio, 
é aquele motivo abjeto, indigno, desprezível, que provoca 
acentuada repulsa. 
Entendimento dos Tribunais Superiores, o ciúme, por si só, 
sem outras circunstâncias, não caracteriza o motivo torpe. 
Este é caracterizado pelo homicídio praticado por um 
sentimento vil, repugnante, que ofende a moralidade 
média ou sentimento ético social comum. O ciúme, 
embora muitas vezes excessivo e doentio ao ponto de 
afetar o equilíbrio emocional do agente, ainda assim, não 
pode ser enquadrado no conceito de torpeza. 
O homicídio qualificado mediante paga ou promessa derecompensa é um crime bilateral. Crime bilateral é aquele 
que, por sua própria natureza, exige o encontro de dois 
agentes, sem o qual o mesmo não seria possível. No 
homicídio praticado mediante paga ou promessa de 
recompensa, também conhecido como mercenário, há a 
figura do mandante e a do executor. 
Motivo fútil – Fútil é o motivo insignificante, que faz com 
que o comportamento do agente seja desproporcional. A 
futilidade para qualificar o homicídio deve ser apreciada 
objetivamente, ou seja, não pode ser examinada 
subjetivamente (pela opinião do sujeito ativo). 
Meio insidioso – é o meio utilizado pelo agente sem a 
vítima dele tome conhecimento. 
Meio cruel – é aquele que causa em sofrimento excessivo, 
desnecessário à vítima enquanto viva, obviamente, pois a 
crueldade praticada após a sua morte não qualifica o 
delito. 
Meio que resulte perigo comum – é aquele que abrange 
um número indeterminado de pessoas. 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
Traição – é a ação que colhe a vítima por trás, 
desprevenida, sem ter esta qualquer visualização do 
ataque. 
Emboscada – o agente se coloca escondido, de tocaia, 
aguardando a vítima passar, para que o ataque tenha 
sucesso. 
Dissimulação – tem o significado de ocultar a intenção 
homicida, fazendo-se passar por amigo, conselheiro, 
enfim, dando falsas mostras de amizade, a fim de facilitar 
o cometimento do delito. 
Conexão teleológica – quando se leva em consideração o 
fim em virtude do qual é praticado o homicídio. Exemplo: 
assegurar a execução de outro crime. 
Conexão consequencial – o homicídio é cometido para 
assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro 
crime. Na teleológica, o homicídio ocorre antes do crime 
conexo, enquanto na consequencial, o homicídio ocorre 
depois do crime conexo. 
Obs.3: a premeditação não é considerada qualificadora do 
crime de homicídio, mas pode ser analisada na fixação da 
pena base ao se analisar as circunstâncias judiciais 
previstas no art. 59 do CP. Sendo assim, a premeditação, 
apesar de não ser considerada qualificadora do delito de 
homicídio, pode ser levada em consideração para agravar 
a pena, funcionando como circunstância judicial. 
 
Obs.4: É entendimento pacífico nos Tribunais Superiores 
que não existe impedimento na aplicação das 
qualificadoras de homicídio no caso de ter ocorrido dolo 
eventual. A justificativa é que a valoração dos motivos é 
feita objetivamente da mesma forma que os meios e os 
modos. Portanto, motivos, meios e modos estão cobertos 
também pelo dolo eventual. 
 
Obs.5: há a possibilidade de o homicídio ser ao mesmo 
tempo qualificado e privilegiado, quando as circunstâncias 
qualificadoras forem de natureza objetivas, pois o 
privilégio sempre será subjetivo. 
Ex.: no caso da possibilidade da coexistência entre o 
homicídio praticado por motivo de relevante valor moral e 
o homicídio praticado com emprego de veneno. 
 
Obs.5: embora haja a possibilidade de coexistência entre 
um homicídio qualificado-privilegiado, ele não poderá ser 
considerado hediondo. 
 
l) Homicídio culposo 
Homicídio culposo 
§ 3º Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
 
Obs.1: trata-se de tipo penal aberto, pois cabe ao juiz 
decidir, no caso concreto, se o comportamento é 
imprudente, negligente ou imperito. 
Obs.2: O sujeito realiza uma conduta voluntária, com 
violação do dever objetivo de cuidado a todos imposto, por 
imprudência, negligência ou imperícia, e assim produz um 
resultado naturalístico (morte) involuntário, não previsto 
nem querido, mas objetivamente previsível, que podia com 
a devida atenção ter evitado. A imprudência (culpa 
positiva) consiste na prática de um ato perigoso. 
Negligência (culpa negativa) é deixar de fazer aquilo que a 
cautela recomenda. A imperícia (culpa profissional) é a 
falta de aptidão para o exercício de arte, profissão ou ofício 
para a qual o agente, em que pese autorizado a exercê-la, 
não possui conhecimentos teóricos ou práticos para tanto. 
O crime culposo (ressalvada a culpa imprópria) é 
incompatível com a tentativa. O homicídio culposo 
praticado na direção de veículo automotor é delito 
definido pelo art. 302 da Lei 9.503/1997 – Código de 
Trânsito Brasileiro (princípio da especialidade). 
Obs.3: são elementos do fato típico culposo: 
• Conduta humana voluntária; 
• Inobservância do dever objetivo de cuidado por 
o Imprudência; 
o Negligência; e 
o Imperícia. 
• Resultado naturalístico involuntário; 
• Nexo causal entre o comportamento que viola o dever 
de cuidado e o resultado. 
• Previsibilidade objetiva; 
• Ausência de previsão; e 
• Tipicidade. 
 
m) Causas de aumento de pena 
Aumento de pena 
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um 
terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica 
de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar 
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em 
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada 
de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa 
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
 
Obs.: no caso de homicídio culposo, a pena será 
aumentada de um terço se o agente deixa de prestar 
imediato socorro à vítima. A intenção do legislador é fazer 
com que a vítima não fique desamparada após ter sua 
integridade física lesionada. Não cabe a simples 
imaginação do agente quanto à morte da vítima para 
afastar a majorante. Assim, se o autor do crime imagina 
que a vítima já está morta e por isso não lhe presta socorro, 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
responde pela causa de aumento de pena decorrente da 
omissão de socorro. 
 
n) Perdão judicial 
Perdão judicial 
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá 
deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração 
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a 
sanção penal se torne desnecessária. 
Obs.: a natureza jurídica da sentença concessiva do perdão 
judicial, no homicídio culposo, segundo orientação 
sumulada do Superior Tribunal de Justiça, é declaratória, 
não subsistindo efeitos secundários. 
 
Homicídio por milícia privada ou grupo de extermínio 
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade 
se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto 
de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de 
extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) 
 
o) Participação no suicídio 
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou 
prestar-lhe auxílio para que o faça: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se 
consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa 
de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
 
Sujeitos da infração penal: trata-se de crime comum, pois 
o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo 
também pode ser qualquer pessoa, desde que tenha 
capacidade de discernimento, de autodeterminação, pois, 
caso contrário, o crime será o de homicídio. 
Objeto material e jurídico: o bem juridicamente tutelado é 
a vida. Já o objeto material é a pessoa contra a qual recai a 
conduta do agente. 
Elemento subjetivo: é o dolo, seja direto ou eventual, não 
havendo modalidade culposa. 
Roleta-russa e duelo americano: Aos sobreviventes será 
imputado o crime de participação em suicídio. Se um dos 
envolvidos, que não sabia se a arma de fogo estava ou não 
apta a efetuar o disparo, aciona seu gatilho, apontando-a 
na direção de outrem,provocando sua morte, o crime será 
de homicídio com dolo eventual. 
Comissão e omissão: as condutas são comissivas, mas o 
agente, se tiver a posição de garantidor, poderá responder 
na modalidade de omissão imprópria. 
Meios de execução: se o agente, de qualquer forma, 
pratica algum ato dirigido a causar a morte da vítima, 
deverá ser responsabilizado pelo homicídio e não pelo 
delito do art. 122 do CP. 
Consumação e tentativa: o crime de induzimento, 
instigação ou auxílio ao suicídio é um crime material, e 
consuma-se com o resultado morte ou lesão corporal 
grave. Apesar de haver divergência doutrinária, não é 
possível a tentativa por se trata de crime condicionado (só 
ocorrerá a consumação se houver morte ou lesão grave), 
pois, se não houver qualquer um desses resultados, o 
agente não responderá por nada. 
 
Pacto de morte: No pacto de morte ou suicídio a dois 
podem ocorrer as seguintes situações: a) se o sobrevivente 
praticou atos de execução da morte do outro, a ele será 
imputado o crime de homicídio; b) se o sobrevivente 
somente auxiliou o outro a suicidar-se, responderá pelo 
crime de participação em suicídio; c) se ambos praticaram 
atos de execução, um contra o outro, e ambos 
sobreviveram, responderão os dois por tentativa de 
homicídio; d) se ambos se auxiliaram mutuamente e ambos 
sobreviveram, a eles será atribuído o crime de participação 
em suicídio, desde que resultem lesões corporais de 
natureza grave; e) se um deles praticou atos de execução 
da morte de ambos, mas ambos sobreviveram, aquele 
responderá por tentativa de homicídio, e este por 
participação em suicídio, desde que o executor, em razão 
da tentativa, sofra lesão corporal de natureza grave. 
 
Parágrafo único - A pena é duplicada: 
Aumento de pena 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer 
causa, a capacidade de resistência. 
 
Obs.1: O parágrafo único enuncia as hipóteses de aumento 
de pena, dentre as quais o motivo egoístico, aquele torpe, 
mesquinho, no qual o agente quer alcançar algum 
proveito, e.g., receber herança, adquirir vaga em concurso 
público. 
Obs.2: O caso de aumento de pena do crime de 
induzimento se dá quando a vítima tiver diminuída sua 
capacidade da resistência. Se a vítima apresentar a 
capacidade de discernimento suprimida pelos problemas 
mentais, não ensejará o crime do art. 122 e sim homicídio, 
consumado ou tentado, na condição de autoria mediata. 
Obs.3: se a vítima for menor de 14 anos, o agente também 
responderá por homicídio na condição de autor mediato. 
 
p) Infanticídio 
Infanticídio 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o 
próprio filho, durante o parto ou logo após: 
Pena - detenção, de dois a seis anos. 
 
O infanticídio é uma forma privilegiada de homicídio em 
que o legislador previu uma pena menor pelo fato de ser 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
praticado pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-
nascido, durante o parto ou logo após, influenciada pelo 
estado puerperal. Possui iguais elementares do crime de 
homicídio, mas também elementos especializantes 
atinentes aos sujeitos, ao tempo e à motivação do crime. 
Não se exige qualquer finalidade especial para favorecer a 
mãe com a figura típica privilegiada, bastando esteja ela 
influenciada pelo estado puerperal. É preciso identificar o 
momento em que o feto passa a ser considerado nascente, 
a fim de diferenciar o infanticídio durante o parto do crime 
de aborto. Assim, o parto tem início com a dilatação, 
seguida da expulsão e terminando com a expulsão da 
placenta. A morte do ofendido, em qualquer dessas fases, 
tipifica o crime de infanticídio. 
 
Obs.1: O infanticídio é um homicídio cometido pela mãe 
contra seu filho, nascente ou neonato. É um crime próprio, 
ou seja, só pode ser cometido pela genitora que se 
encontra sob a influência do estado puerperal. O legislador 
optou por eleger este tipo de homicídio a um delito 
autônomo, com peculiaridades próprias, não incidindo 
assim a agravante prevista na parte geral do CP, que é 
matar descendente. 
 
Obs.2: são requisitos do crime de infanticídio: 
• Que o delito seja cometido sob influência do estado 
puerperal; 
• Que tenha como objeto o próprio filho da parturiente; 
• Que seja cometido durante o parto ou, pelo menos, 
logo após. 
 
Estado puerperal é o conjunto de alterações físicas e 
psíquicas que acometem a mulher em decorrência das 
circunstâncias relacionadas ao parto e que afetam sua 
saúde mental. Não é imprescindível a perícia para sua 
constatação (é efeito normal e inerente ao parto – 
presunção iuris tantum). Exige-se relação de causalidade 
subjetiva entre a morte do nascente ou recém-nascido e o 
estado puerperal, pois a conduta deve ser criminosa sob 
sua influência. Não se confunde com a inimputabilidade 
penal ou com a semi-imputabilidade – ainda que em 
estado puerperal, a mulher é imputável. 
A expressão “logo após o parto” será interpretada no caso 
concreto. Enquanto subsistirem os sinais indicativos do 
estado puerperal, bem como sua influência no tocante ao 
modo de agir da mulher, será possível a concretização do 
delito. 
Se a mãe, sob a influência do estado puerperal, praticar 
alguma conduta visando a morte o filho, nascente ou 
recém-nascido, acometido de anencefalia, estará 
caracterizado crime impossível, em razão da 
impropriedade absoluta do objeto material, nos termos do 
art. 17 do Código Penal. Com efeito, não há vida apta a 
justificar a intervenção penal, em sintonia com a decisão 
lançada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da 
ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental nº 54/DF. 
 
Obs.3: erro sobre a pessoa – na hipótese, e.g., em que a 
parturiente almejava causar a morte de seu próprio filho e, 
por erro, acaba matando o filho de sua colega de quarto, 
aplica-se a regra correspondente ao erro sobre a pessoa, 
devendo ser responsabilizada por infanticídio. 
 
Obs.4: concurso de pessoas – quando parturiente causa a 
morte do recém-nascido com a participação de terceiro 
que, por exemplo, a auxiliar materialmente, fornecendo-
lhe o instrumento do crime, ou orientando-a a como 
utilizá-lo, ambos, da mesma forma, responderão pelo 
infanticídio, já que a parturiente atuava influenciada pelo 
estado puerperal e o terceiro que a auxiliou conhecia essa 
particular condição, concorrendo, portanto, para o sucesso 
do infanticídio. 
 
q) Aborto criminoso 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que 
outrem lho provoque: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
 
Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 - Provocar aborto, SEM o consentimento da 
gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
 
Art. 126 - Provocar aborto COM o consentimento da 
gestante: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
 
Aborto ou abortamento é a interrupção da gravidez, da 
qual resulta a morte do produto da concepção. É com a 
fecundação que se inicia a gravidez – a partir de então já 
existe uma nova vida em desenvolvimento, merecedora da 
tutela do Direito Penal. Há aborto qualquer que seja o 
momento da evolução fetal – a proteção penal ocorre 
desde a constituição do ovo ou zigoto até a fase em que se 
inicia o processo de parto, pois a partir de então o crime 
será de homicídio ou infanticídio. 
 
Obs.: no delito de aborto, quando a gestante recebe auxílio 
de terceiros, o terceiro que executa o aborto responde 
pelo crime de aborto consensual, art. 126do CP, e a 
gestante responderá pelo crime de aborto consentido, art. 
124, segunda parte. Nesse caso, de forma excepcional, o 
Código Penal adota a teoria pluralista do concurso de 
pessoas, no qual existem dois tipos penais diversos para 
agentes que procuram o mesmo resultado. 
 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
Obs.2: O crime está tipificado no art. 125 do Código Penal, 
prática de aborto sem o consentimento da gestante, não 
importando a causa da gravidez nem se foi realizado por 
médico. É um crime de elevado potencial ofensivo, pois 
possui dupla subjetividade passiva, a gestante e o feto. 
 
Obs.3: O crime de aborto, arts. 124 a 128 do CP, não possui 
previsão para a modalidade culposa. A gestante que, por 
culpa, provocar o aborto em si mesma, não responderá por 
nada. 
 
Parágrafo único. (qualificadora do art. 126 do CP – 
aborto provocado com o consentimento da gestante) 
Aplica-se a apena do artigo anterior (reclusão, de três 
a dez anos), se a gestante: 
a) não é maior de quatorze anos, ou 
b) é alienada ou débil mental, ou 
c) se o consentimento é obtido mediante fraude, 
grave ameaça ou violência. 
 
Forma qualificada (na verdade, trata-se de causa de 
aumento de pena) 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos 
anteriores (art. 125 e 126 do CP) são aumentadas de 
um terço, se, em consequência do aborto ou dos 
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre 
lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, 
por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
 
Obs.4: as hipóteses elencadas caracterizam causas de 
aumento de pena e são aplicáveis ao aborto praticado por 
terceiro, sem ou com o consentimento da gestante (arts. 
125 e 126), por expressa disposição legal. São hipóteses de 
crimes qualificados pelo resultado, de natureza 
preterdolosa (aborto doloso e lesão corporal ou morte 
culposos). Aplica-se o art. 19 do Código Penal: “Pelo 
resultado que agrava especialmente a pena, só responde o 
agente que o houver causado ao menos culposamente”. Se 
em consequência do aborto ou dos meios empregados 
para provocá-lo a gestante sofre lesão corporal de 
natureza leve, o terceiro responde somente pelo aborto 
simples, sem ou com o seu consentimento, restando 
absorvida a lesão corporal. Se, no entanto, o terceiro tinha 
dolo (direto ou eventual) no tocante a ambos os crimes, 
responde por aborto e por lesão corporal de natureza 
grave ou homicídio, em concurso (material ou formal 
imperfeito). Aquele que mata dolosamente uma mulher, 
ciente da sua gravidez, e assim provoca a morte do feto, 
responde por homicídio doloso e também por aborto, 
ainda que ausente a intenção de provocar a morte do feto 
(quando se mata uma mulher grávida há pelo menos dolo 
eventual quanto ao aborto). Se o terceiro ignorava a 
gravidez será responsabilizado por homicídio doloso, sob 
risco de caracterização da responsabilidade penal objetiva. 
Incide o aumento quando o aborto não se consuma, mas a 
gestante sofre lesão corporal de natureza grave ou morre. 
É imprescindível a prova da gravidez. 
 
r) Aborto legal 
Aborto Legal 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
Aborto necessário 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é 
precedido de consentimento da gestante ou, quando 
incapaz, de seu representante legal. 
 
Obs.1: No Brasil só há duas espécies de abortamento legal: 
o aborto necessário ou terapêutico ou ainda profilático, 
que é aquele feito para salvar a vida da gestante e o aborto 
humanitário, sentimental ou ético, realizado na hipótese 
de estupro. 
 
Obs.2: Em consonância com o preceito legal, art. 128, II, do 
Código Penal, o aborto legal, conhecido como aborto 
humanitário ou sentimental, é uma regra permissiva. Não 
se exige autorização judicial para o feito, bastando o 
consentimento da gestante e que seja praticado por 
médico. 
 
Obs.3: O aborto eugênico ou eugenésico, feito para 
impedir a continuação da gravidez de fetos ou embriões 
com graves deformidades físicas ou psíquicas, não é 
permitido no ordenamento jurídico vigente, constituindo 
crime. 
 
Obs.4: Aborto de anencéfalo – Após dois dias de debate, 
o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu na quinta-feira 
(12 de abril de 2012) que grávidas de fetos sem cérebro 
poderão optar por interromper a gestação com assistência 
médica. Por 8 votos a 2, os ministros definiram que o 
aborto em caso de anencefalia não é crime. 
“Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida em 
potencial. No caso do anencéfalo, não existe vida possível. 
O feto anencéfalo é biologicamente vivo, por ser formado 
por células vivas, e juridicamente morto, não gozando de 
proteção estatal. [...] O anencéfalo jamais se tornará uma 
pessoa. Em síntese, não se cuida de vida em potencial, mas 
de morte segura. Anencefalia é incompatível com a vida”, 
afirmou o relator da ação, ministro Marco Aurélio Mello. 
“[O aborto do feto anencéfalo] é um direito que tem a 
mulher de interromper uma gravidez que trai até mesmo a 
ideia-força que exprime a locução ‘dar à luz’. Dar à luz é dar 
à vida e não dar à morte. É como se fosse uma gravidez que 
impedisse o rio de ser corrente”, afirmou o ministro Ayres 
Britto. 
Celso de Melo destacou que a gravidez de anencéfalo "não 
pode ser taxada de aborto". "O crime de aborto pressupõe 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
gravidez em curso e que o feto esteja vivo. E mais, a morte 
do feto vivo tem que ser resultado direto e imediato das 
manobras abortivas. [...] A interrupção da gravidez em 
decorrência da anencefalia não satisfaz esses elementos." 
 
DAS LESÕES CORPORAIS 
 
Lesão corporal é a ofensa humana direcionada à 
integridade corporal ou à saúde de outra pessoa. Depende 
da produção de algum dano no corpo da vítima, interno ou 
externo, englobando qualquer alteração prejudicial à sua 
saúde, inclusive problemas psíquicos. É prescindível a 
produção de dores ou a irradiação de sangue do organismo 
do ofendido. A dor, por si só, não caracteriza lesão 
corporal. O crime pode ser cometido com emprego de 
grave ameaça ou mediante ato sexual consentido. Não é 
necessário seja a vítima portadora de saúde perfeita. São 
exemplos de ofensa à integridade física as fraturas, 
fissuras, escoriações, queimaduras e luxações, a equimose 
e o hematoma. 
Os eritemas não ingressam no conceito do delito. O corte 
de cabelo ou da barba sem autorização da vítima pode 
configurar, dependendo da motivação do agente, lesão 
corporal ou injúria real, se presente a intenção de humilhar 
a vítima. A pluralidade de lesões contra a mesma vítima e 
no mesmo contexto temporal caracteriza crime único. 
A ofensa à saúde, por seu turno, compreende as 
perturbações fisiológicas (desarranjo no funcionamento de 
algum órgão do corpo humano) ou mentais (alteração 
prejudicial da atividade cerebral). 
 
a) Divisão topográfica: 
 
Art. 129, caput, CP – lesões corporais de natureza leve; 
Art. 129, §1º, CP – lesões corporais de natureza grave; 
Art. 129, §2º, CP – lesões corporais de natureza gravíssima; 
Art. 129, §3º, CP – lesões corporais seguida de morte; 
Art. 129, §4º, CP – causa de diminuição de pena; 
Art. 129, §5º, CP – substituição da pena; 
Art. 129, §6º, CP – lesões corporais culposas; 
Art. 129, §7º, CP – causa de aumento de pena; 
Art. 129, §8º, CP – perdão judicial; 
Art. 129, §9º, CP – violência doméstica; 
Art. 129, §§10 e 11, CP – causas de aumento de pena da 
violência doméstica. 
 
b) Sujeitos: 
 
Sujeito ativo– trata-se de crime comum, pois pode ser 
praticado por qualquer pessoa. 
 
Sujeito passivo – qualquer pessoa, mas no caso das lesões 
com resultado aceleração de parto e aborto art. 129, §§1º, 
IV, e 2º, V, do CP, o sujeito passivo só pode ser a gestante 
e, no caso da violência doméstica, as pessoas referidas no 
art. 129, §9º, do CP. 
 
c) Objetividade jurídica: 
É a integridade corporal e a saúde do ser humano. 
 
d) Objeto material: 
É a pessoa humana, mesmo que com vida intrauterina, 
sobre a qual recai a conduta do agente no sentido de lhe 
ofender a integridade corporal ou a saúde. 
 
e) Elemento subjetivo: 
O elemento subjetivo do caput, ou seja, da lesão leve é o 
dolo, que pode ser direto ou eventual. A expressão latina 
usada para se referir ao dolo de lesão é animus laedendi. 
 
f) Ação Penal: Na lesão corporal dolosa de natureza leve 
e na lesão corporal culposa a ação penal pública é 
condicionada à representação do ofendido (Lei 
9.099/1995, art. 88). As demais espécies de lesões 
corporais dolosas são crimes de ação penal pública 
incondicionada. 
 
g) Consumação e tentativa: 
Consuma-se o delito com a efetiva produção da ofensa à 
integridade corporal ou à saúde da vítima, incluindo-se, 
também, os resultados qualificadores. 
 
É possível a tentativa para o caso de lesões leves. Já nos 
casos qualificados pelo resultado culposo (preterdolosos), 
tais como perigo de vida, aceleração de parto, aborto e 
morte, não se admite a tentativa. 
 
Lesão corporal (de natureza leve) 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de 
outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
Lesão corporal leve ou simples (art. 129, caput): toda e 
qualquer lesão corporal dolosa que não seja grave, 
gravíssima ou praticada com violência doméstica e familiar 
contra a mulher. A prova da materialidade é feita com o 
exame de corpo de delito. Para o oferecimento da 
denúncia é suficiente o boletim médico ou prova 
equivalente (art. 77, § 1º, Lei 9.099/1995). Para a 
condenação exige-se a perícia, sob pena de nulidade (CPP, 
art. 564, III, b). Se os vestígios houverem desaparecido será 
aceito o exame de corpo de delito indireto (CPP, art. 167). 
 
Obs.1: por ter pena máxima cominada de 1 ano, consiste 
em infração de menor potencial ofensivo e, por ter a pena 
mínima de 3 meses, admite-se a suspensão condicional do 
processo. 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
 
Obs.2: de acordo com o artigo 89 da Lei 9.099/95, a lesão 
leve e a lesão culposa processam-se mediante ação penal 
pública condicionada à representação. 
 
Obs.3: Lesão corporal e consentimento do ofendido: Nas 
lesões corporais dolosas de natureza leve o consentimento 
do ofendido caracterizará causa supralegal de exclusão da 
ilicitude, desde que seja: (a) expresso, pouco importando 
sua forma; (b) livre de coação, mediante violência à pessoa 
ou grave ameaça; (c) moral e respeite os bons costumes; 
(d) anterior à consumação da infração penal; e (e) 
manifestado por pessoa capaz. É irrelevante o 
consentimento do ofendido nos crimes de lesão corporal 
grave, gravíssima e seguida de morte, em face da 
indisponibilidade do bem jurídico protegido. 
 
Obs.4: Lesões corporais e cirurgias emergenciais: Não há 
crime nas situações em que o médico atua sem o 
consentimento do operado ou de seus representantes 
legais nas cirurgias de emergência, dotadas de risco 
concreto de morte do paciente, pois se encontra amparado 
pelo estado de necessidade de terceiro. Ausente a situação 
de emergência, deverá haver prévia anuência para afastar 
o crime pelo exercício regular do direito. 
 
Obs.5: Cirurgia de mudança de sexo: Não há crime por 
ausência do dolo de lesionar a integridade corporal ou a 
saúde do paciente. O médico que a realiza não pratica 
crime por estar acobertado pela excludente da ilicitude do 
exercício regular de direito (Portaria do Ministério da 
Saúde 1.707, de 19.08.2008). 
 
Lesão corporal de natureza grave 
§ 1º Se resulta (lesão corporal de natureza grave): 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 
trinta dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV - aceleração de parto: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
Obs.1: Na lesão corporal grave, da qual resulte 
incapacidade para as ocupações habituais por mais de 
trinta dias, é necessário, primeiramente, a realização do 
exame de corpo de delito no qual o médico perito faz um 
diagnóstico. Decorridos 30 dias, é realizado um exame 
complementar, a fim de que se verifique a qualificadora 
prevista no art. 129, §1°, I. 
 
Obs.2: por ter a pena mínima cominada de 1 ano, admite-
se suspensão condicional do processo. 
 
Lesão corporal de natureza gravíssima 
§ 2° Se resulta (lesão corporal de natureza gravíssima): 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; 
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V - aborto: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
Lesão corporal seguida de morte (trata-se de crime 
preterdolosos) 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o 
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de 
produzi-lo: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
Diminuição de pena 
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de 
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de 
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
 
Substituição da pena 
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda 
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos 
mil réis a dois contos de réis: 
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
II - se as lesões são recíprocas. 
 
Lesão corporal culposa 
§ 6° Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
Obs.: na lesão corporal culposa, independente da lesão 
sofrida, não há classificação em leve, grave ou gravíssima. 
 
Lesão corporal culposa (art. 129, § 6º): É a conduta típica 
descrita pelo caput, quando praticada mediante culpa. 
Trata-se de tipo penal aberto, devendo o intérprete utilizar 
um juízo de valor para, com base no critério do homem 
médio, constatar se quando da conduta, cometida com 
imprudência, negligência ou imperícia, era possível ao 
agente prever objetivamente a produção do resultado 
naturalístico. A modalidade de culpa deve ser 
motivadamente descrita na inicial acusatória, sob pena de 
inépcia. Não há distinção com base na gravidade dos 
ferimentos. A gravidade da lesão, por se tratar de 
circunstância judicial desfavorável, deve ser sopesada pelo 
juiz na dosimetria da pena-base (CP, art. 59, caput). Trata-
se de infração penal de menor potencial ofensivo, 
compatível com os benefícios contidos na Lei 9.099/1995. 
 
Se cometida na direção de veículo automotor, estará 
tipificado o crime previsto no art. 303 da Lei 9.503/1997 – 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
CTB. Resolve-se o conflito aparente de normas pelo 
princípio da especialidade. 
 
Aumento de pena 
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer 
qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste 
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012) 
 
Obs.1: no caso de lesões culposas: 
 
• se o crime resulta de inobservância de regra técnica de 
profissão, arte ou ofício, ou 
• se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, 
• não procura diminuir as consequências do seu ato,ou 
• foge para evitar prisão em flagrante. 
 
Obs.2: no caso de lesões dolosas: 
 
• se a vítima é menor de 14 anos; 
• se a vítima é maior de 60 anos; 
• se o crime é praticado por milícia privada, sob o 
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou 
• se é praticado por grupo de extermínio. 
 
Perdão judicial 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 
121. 
Obs: O perdão judicial para a lesão corporal culposa veio 
previsto de maneira idêntica ao delito de homicídio 
culposo. Assim, se as consequências da lesão atingirem o 
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se 
torne desnecessária, o juiz poderá deixar de aplicar a pena. 
 
Violência Doméstica 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com 
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-
se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de 
hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
 
Lesão corporal e violência doméstica (art. 129, § 9º): Trata-
se de forma qualificada de lesão corporal que leva em 
conta o contexto em que é praticada. A pena prevista ao 
caso, em razão da sua quantidade, somente deve ser 
aplicada na hipótese de lesão corporal leve. Se a lesão 
corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte, aplicar-
se-á o art. 129 do CP. Pode ser praticada: a) contra 
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou 
companheiro: o parentesco pode ser civil ou natural (o art. 
227, § 6º, da CF proíbe qualquer discriminação entre os 
filhos havidos ou não do casamento). Não ingressam as 
relações decorrentes do parentesco por afinidade. Exige-se 
prova documental da relação de parentesco ou do vínculo 
matrimonial. A união estável pode ser comprovada por 
testemunhas ou outros meios de prova que não 
exclusivamente os documentos; b) com quem conviva ou 
tenha convivido: tais expressões devem ser interpretadas 
restritivamente. Quanto ao trecho “tenha convivido”, 
exige-se tenha sido a lesão corporal praticada em 
decorrência da convivência passada entre o autor e a 
vítima. c) prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Relações 
domésticas são as criadas entre os membros de uma 
família, podendo ou não existir ligações de parentesco. 
Coabitação é a moradia sob o mesmo teto, ainda que por 
breve período – deve ser lícita e conhecida dos 
coabitantes. Hospitalidade é a recepção eventual, durante 
a estadia provisória na residência de alguém, sem 
necessidade de pernoite. Em todos os casos, a relação 
doméstica, a coabitação ou a hospitalidade devem existir 
ao tempo do crime, pouco importando tenha sido o delito 
praticado fora do âmbito da relação doméstica, ou do local 
que ensejou a coabitação ou a hospitalidade. 
 
Aumento de pena da violência doméstica 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as 
circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, 
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será 
aumentada de um terço se o crime for cometido contra 
pessoa portadora de deficiência. 
 
A pena da lesão corporal leve cometida com violência 
doméstica será aumentada de 1/3 (um terço) quando a 
vítima for pessoa portadora de deficiência. Esse dispositivo 
foi acrescentado pela Lei 11.340/2006 (Lei Maria da 
Penha). Deve tratar-se de pessoa portadora de deficiência 
e ligada ao autor do crime pelos laços de violência 
doméstica indicados pelo § 9º do art. 129 do CP. Pessoa 
portadora de deficiência é aquela que, em consequência 
de alguma enfermidade, permanente ou transitória, 
enfrenta debilidade em sua capacidade física ou mental. 
 
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
 
O Código Penal trata nesse capítulo, que compreende os 
arts. 130 a 136, dos crimes de perigo. Contrariamente ao 
que fez nos artigos anteriores (arts. 121 a 129 – crimes de 
dano), não se exige para a consumação do delito a efetiva 
lesão ao bem jurídico penalmente tutelado. Prescinde-se 
do dano. É suficiente a exposição do bem jurídico a uma 
probabilidade de dano. Essa bipartição dos crimes – de 
dano e de perigo – relaciona-se com o grau de intensidade 
do resultado almejado pelo agente como consequência da 
conduta. Com efeito, crimes de dano ou de lesão são 
aqueles em que somente se produz a consumação com a 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
efetiva lesão do bem jurídico. São exemplos o homicídio e 
as lesões corporais (CP, arts. 121 e 129, respectivamente). 
 
Perigo de contágio venéreo 
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou 
qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de 
que sabe ou deve saber que está contaminado: 
 Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
 § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: 
 Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 § 2º - Somente se procede mediante representação. 
 
 O art. 130 do CP prevê duas espécies de crime de perigo 
de contágio venéreo, diferenciadas pelo elemento 
subjetivo: no caput encontra-se a modalidade fundamental 
ou crime simples. Trata-se de infração penal de menor 
potencial ofensivo. No § 1º encontra-se a figura derivada 
ou crime qualificado (crime de médio potencial ofensivo, 
pois autoriza a suspensão condicional do processo, desde 
que presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da 
Lei 9.099/1995). 
 
No caput, o crime se consuma com a prática da relação 
sexual ou do ato libidinoso. A contaminação da vítima 
caracteriza simples exaurimento, indiferente no plano da 
tipicidade, mas que deve ser sopesado na dosimetria da 
pena-base (CP, art. 59, caput – “consequências do crime”). 
Na figura qualificada definida pelo § 1º, o crime também se 
consuma com a prática da relação sexual ou do ato 
libidinoso. Se a vítima for contaminada, quatro situações 
distintas podem ocorrer: a) se resultar lesão corporal leve, 
o sujeito responderá apenas pelo crime de perigo, por ser 
sua pena superior em abstrato à reprimenda prevista no 
art. 129, caput, do Código Penal; b) se resultar lesão 
corporal grave ou gravíssima, responderá pelo crime 
tipificado no art. 129, § 1º ou § 2º do CP, que absorve o 
crime de perigo; c) se resultar lesão corporal seguida de 
morte, responderá pelo crime definido pelo art. 129, § 3º, 
do CP, que absorve o crime de perigo; e d) se resultar a 
morte da vítima (com dolo direto ou eventual), o sujeito 
responderá por homicídio doloso, simples ou qualificado, 
se estiver presente alguma das circunstâncias elencadas 
pelo art. 121, § 2º, I a V, do CP. 
 
Perigo de contágio de moléstia grave 
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem 
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de 
produzir o contágio: 
 Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
Perigo para a vida ou saúde de outrem 
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto 
e iminente: 
 Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não 
constitui crime mais grave. 
 Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a 
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a 
perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação 
de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em 
desacordo com as normas legais. 
 
 A pena será aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um 
terço) se a exposição da vida ou da saúde de outrem a 
perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação 
de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, 
em desacordocom as normas legais. Trata-se de causa de 
aumento de pena inerente à segurança viária, ou seja, é 
crime de trânsito localizado no Código Penal. Sua principal 
finalidade é punir mais severamente o transporte de 
“boias-frias” sem as cautelas necessárias. Nada obstante, o 
transporte pode ser efetuado para empresas, públicas ou 
privadas, ou propriedades de qualquer natureza (sítios ou 
fazendas, fábricas, lojas, empresas em geral etc.). 
 
Quando a vítima for pessoa idosa e a conduta encontrar 
correspondência no art. 99 da Lei 10.741/2003, restará 
afastado o art. 132 do Código Penal (princípio da 
especialidade). 
 
Abandono de incapaz 
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, 
guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, 
incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: 
 Pena - detenção, de seis meses a três anos. 
 § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de 
natureza grave: 
 Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 § 2º - Se resulta a morte: 
 Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 Aumento de pena 
 § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se 
de um terço: 
 I - se o abandono ocorre em lugar ermo; 
 II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, 
irmão, tutor ou curador da vítima. 
 III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos 
 
 O caput define a modalidade simples do abandono de 
incapaz. Cuidase de crime de médio potencial ofensivo. Os 
§§ 1º e 2º elencam qualificadoras, em virtude da 
superveniência de um resultado agravador: lesão corporal 
grave ou morte. Na primeira espécie – abandono de 
incapaz qualificado pela lesão corporal grave –, e somente 
nela, também é possível a suspensão condicional do 
processo (art. 89 da Lei 9.099/1995). Finalmente, o § 3º 
elenca causas de aumento da pena. 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
Núcleo do tipo: “Abandonar” traduz a ideia de desamparar, 
descuidar. O abandono é físico, no sentido de deixar o 
incapaz sozinho, sem a devida assistência. O abandono 
deve ser real: depende de separação física, distanciamento 
entre o responsável e o incapaz. Em qualquer caso (ação 
ou omissão), há de ser provado o perigo efetivo para a 
vítima em decorrência da conduta criminosa. Inexiste 
crime quando o incapaz é quem abandona seu protetor. Se 
a finalidade do abandono do incapaz for ocultar desonra 
própria, e tratando-se a vítima de recém-nascido, o crime 
será o de exposição ou abandono de recém-nascido (CP, 
art. 134). 
 
Sujeito ativo: É somente a pessoa que possui o dever de 
zelar pela vida, pela saúde ou pela segurança da vítima. 
Cuida-se de crime próprio, pois apenas pode ser praticado 
por aquele que tem o incapaz sob seu cuidado, guarda, 
vigilância ou autoridade. Destarte, é imprescindível a 
especial vinculação entre os sujeitos do delito, 
caracterizada pela relação jurídica estabelecida entre o 
agente e a vítima. Cuidado é a assistência eventual. Guarda 
é a assistência duradoura. Vigilância é a assistência 
acauteladora. Envolve pessoas normalmente capazes, mas 
que não podem se defender em razão de situações 
excepcionais. Autoridade é a relação de superioridade, de 
direito público ou de direito privado, para emitir ordens em 
face de outra pessoa. 
 
Sujeito passivo: É o incapaz de defender-se dos riscos 
resultantes do abandono e que estava sob a guarda, 
cuidado, vigilância ou autoridade do sujeito ativo. 
 
Causas de aumento de pena: O § 3º elenca três causas que 
aumentam a pena em 1/3 (um terço): a) se o abandono 
ocorre em lugar ermo: Local habitual ou eventualmente 
solitário. Justifica-se o aumento pela maior dificuldade 
proporcionada ao incapaz para encontrar socorro (inciso I); 
b) se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, 
irmão, tutor ou curador da vítima: fundamenta-se o 
aumento na maior reprovabilidade da conduta praticada 
quando presentes laços de parentesco ou de maior 
proximidade entre o autor e a vítima, os quais devem ser 
provados, e jamais presumidos (inciso II); c) se a vítima é 
maior de 60 (sessenta) anos: Essa causa de aumento de 
pena foi inserida no CP pela Lei 10.741/2003 – Estatuto do 
Idoso, em razão do número cada vez maior de pessoas 
idosas abandonadas por parentes na fase de suas vidas em 
que mais necessitam de cuidado e proteção. 
 
Exposição ou abandono de recém-nascido 
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar 
desonra própria: 
 Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
 § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza 
grave: 
 Pena - detenção, de um a três anos. 
 § 2º - Se resulta a morte: 
 Pena - detenção, de dois a seis anos. 
 
Esse delito representa uma figura privilegiada do 
abandono de incapaz (CP, art. 133) cometido por motivo 
de honra. Nada obstante estejam definidos por tipos 
penais autônomos, o abandono de incapaz é o crime 
fundamental, do qual deriva o tipo da exposição ou 
abandono de recém-nascido. 
 
Elemento normativo: O crime há de ser praticado “para 
ocultar desonra própria”. A honra aqui tratada é a de 
natureza sexual, a boa fama e a reputação que desfruta o 
autor ou a autora pelo seu comportamento decente e 
pelos bons costumes. O tipo penal pressupõe que o 
nascimento da criança deve ter sido sigiloso, no sentido de 
não ter chegado ao conhecimento de estranhos. A 
repetição do fato impede o reconhecimento do privilégio. 
Uma ação penal anterior por exposição de recém-nascido 
acarreta a impossibilidade de sustentar, quanto ao 
segundo crime, a ocultação de uma honra que a pessoa não 
mais possui. 
 
Abandono de recém-nascido é um crime próprio, que só 
pode ser cometido pela mãe da criança, com o fim de 
ocultar desonra própria. O sujeito passivo é o recém-
nascido abandonado. 
 
Figuras qualificadas: A expressão lesão corporal de 
natureza grave (§ 1º) foi utilizada em sentido amplo, para 
abranger tanto as lesões corporais graves (CP, art. 129, § 
1º) como as lesões corporais gravíssimas (CP, art. 129, § 
2º). São crimes qualificados pelo resultado e estritamente 
preterdolosos. Se o sujeito agiu com dolo de dano (animus 
laedendi para as lesões corporais, animus necandi ou 
occidendi para a morte), a ele deve ser imputado o crime 
mais grave: lesão corporal grave ou gravíssima, infanticídio 
(se presente o estado puerperal) ou homicídio. A lesão 
corporal leve fica absorvida pelo abandono de incapaz, por 
se tratar de crime de dano com pena inferior à do crime de 
perigo. 
 
Omissão de socorro 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível 
fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou 
extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo 
ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, 
o socorro da autoridade pública: 
 Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
 Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se 
da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e 
triplicada, se resulta a morte. 
 
Núcleos do tipo: “Deixar de prestar assistência” significa 
não socorrer quem se encontra em perigo. “Não pedir”, 
por sua vez, equivale a deixar de solicitar auxílio da 
autoridade pública para socorrer quem está em perigo. O 
agente, inicialmente, se puder fazê-lo sem risco pessoal, 
deve prestar socorro à vítima. Somente e quando não tiver 
condições de prestar diretamente o socorro, em face e 
risco pessoal, deve pedir o auxílio da autoridade pública. 
Cuida-sede típica hipótese de crime omissivo próprio ou 
puro, pois a omissão está descrita diretamente no tipo 
penal. 
 
Elemento normativo do tipo: É representado pela 
expressão “quando possível fazê-lo sem risco pessoal”. 
Não poderia a lei impor a alguém a prestação de socorro 
mediante a criação de risco fundado para sua integridade 
corporal. Quando presente o risco pessoal, o sujeito deve 
pedir socorro à autoridade pública, porque esta tem o 
dever legal de enfrentar o perigo (CP, art. 13, § 2º, a, e art. 
24, § 1º). Em face desse critério hierárquico, o crime de 
omissão de socorro pode ser cometido de duas maneiras 
diversas: 1ª Falta de assistência imediata: o agente pode 
prestar socorro, sem risco pessoal, mas deliberadamente 
não o faz. 2ª Falta de assistência mediata: o sujeito não 
pode prestar pessoalmente o socorro, mas também não 
solicita o auxílio da autoridade pública. 
 
Sujeito ativo: Pode ser cometido por qualquer pessoa, 
mesmo que não tenha o dever de prestar assistência. Se 
várias pessoas negam a assistência, todas respondem pelo 
crime. 
 
Omissão médica: O crime de omissão de socorro pode ser 
praticado por um médico ao deixar de atender uma vítima 
necessitada. Igual raciocínio se aplica à enfermeira e a 
secretária do hospital que recusa o pronto atendimento 
médico. 
 
Sujeito passivo: São elas: criança abandonada, criança 
extraviada, pessoa inválida e ao desamparo, pessoa ferida 
e ao desamparo, e pessoa em grave e iminente perigo. 
Vejamos: 
 
a) Criança abandonada: é a pessoa com idade inferior a 
12 anos (Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do 
Adolescente, art. 2º) que foi intencionalmente 
deixada em algum lugar por quem devia exercer sua 
vigilância, e por esse motivo não pode prover sua 
própria subsistência. 
 
b) Criança extraviada: é a pessoa com idade inferior a 12 
anos que está perdida, isto é, não sabe retornar por 
conta própria ao local em que reside ou possa 
encontrar resguardo e proteção. 
 
c) Pessoa inválida e ao desamparo: invalidez é a 
característica inerente à pessoa que não pode, por 
conta própria, praticar os atos cotidianos de um ser 
humano. Pode advir de problema físico u mental. 
Mas não basta a invalidez. Exige-se ainda esteja a 
pessoa ao desamparo, isto é, incapacitada para se 
livrar por si só da situação de perigo. 
 
d) Pessoa ferida e ao desamparo: é aquela que sofreu 
lesão corporal, não necessariamente grave, 
acidentalmente ou provocada por terceira pessoa. É 
imprescindível que também se encontre ao 
desamparo, ou seja, impossibilitada de afastar o 
perigo por suas próprias forças. 
 
e) Pessoa em grave e iminente perigo: o perigo deve ser 
sério e fundado, apto a causar um mal relevante em 
curto espaço de tempo. Não é necessário seja a 
vítima inválida, nem que esteja ferida. 
 
Obs.1: Omissão de socorro e vítima idosa: Em caso de 
omissão de socorro envolvendo vítima idosa, é dizer, 
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, 
incide o crime tipificado pelo art. 97 da Lei 10.741/2003 – 
Estatuto do Idoso. 
 
Obs.2: Omissão de socorro e Código de Trânsito Brasileiro: 
O art. 304 da Lei 9.503/1997 faz menção ao condutor do 
veículo que, na ocasião do acidente, deixa de prestar 
imediato socorro à vítima. Esse dispositivo será aplicável 
unicamente ao condutor de veículo que, agindo sem culpa, 
se envolva em acidente e não socorra imediatamente a 
vítima. Por sua vez, o crime de omissão de socorro 
tipificado pelo art. 135 do Código Penal será aplicável aos 
condutores de veículos automotores não envolvidos no 
acidente, bem como a qualquer outra pessoa que deixar de 
prestar socorro à vítima que se encontrar em alguma das 
situações por ele indicadas. Note-se também que o crime 
delineado pelo art. 304 da Lei 9.503/1997 é expressamente 
subsidiário. 
 
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar 
emergencial 
(Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012). 
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou 
qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de 
formulários administrativos, como condição para o 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
atendimento médico-hospitalar emergencial: (Incluído 
pela Lei nº 12.653, de 2012). 
 Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e 
multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012). 
 Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se 
da negativa de atendimento resulta lesão corporal de 
natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído 
pela Lei nº 12.653, de 2012). 
 
na esfera penal, as situações descritas no art. 135-A do 
Código Penal sempre caracterizaram o crime de omissão 
de socorro (CP, art. 135), pois a pessoa a quem se 
condiciona o atendimento médico-hospitalar ao 
fornecimento de garantia ou ao preenchimento prévio de 
formulários administrativos indubitavelmente encontra-se 
“ferida” ou “em grave e iminente perigo”, e o sujeito ativo 
deixa de prestar-lhe assistência, quando possível fazê-lo 
sem risco pessoal. Esta problemática, portanto, possui 
arcabouço jurídico para ser combatida pelo Poder Público 
e pelas pessoas em geral. Nesse cenário, se o Estado não 
desempenha a contento sua fiscalização sobre os 
estabelecimentos hospitalares, e se muitos particulares 
não reivindicam seus direitos perante a Administração 
Pública e o Poder Judiciário, não será o Direito Penal o 
salvador dos interesses em conflito. 
 
–Cheque-caução ou “cheque em garantia”: Cuida-se de 
título de crédito, normalmente preenchido em valor 
excessivo, com a finalidade de assegurar, no crime em 
análise, o pagamento de despesa médica, evitando-se o 
risco de inadimplemento da obrigação pelo paciente, ou 
ainda pela falta de cobertura pelo seu plano de saúde. 
 –Nota promissória: Também é um título de crédito, 
representado pela promessa de pagamento do valor nela 
indicado. 
 –“Qualquer garantia”: A fórmula utilizada deriva do 
emprego da interpretação analógica (ou intra legem), e 
abrange todas as situações diversas do cheque-caução e da 
nota promissória, mas que também colocam a entidade 
hospitalar em situação favorável, em prejuízo de quem 
necessita do atendimento médico-hospitalar emergencial, 
acarretando em risco efetivo à sua vida ou à sua saúde, a 
exemplo dos instrumentos particulares de confissão de 
dívida, do depósito em conta bancária, da entrega de bens 
(tais como joias e relógios), do endosso de outros títulos de 
crédito etc. 
Sujeito ativo: Pode ser qualquer funcionário ou 
administrador do estabelecimento de saúde que realize 
atendimento médico-hospitalar emergencial, e também o 
médico que se recusa a atender um paciente sem o 
fornecimento de garantia ou o preenchimento prévio de 
formulário administrativo (crime comum ou geral). É 
perfeitamente cabível o concurso de pessoas, nas 
modalidades coautoria e participação, a exemplo da 
situação em que o proprietário do hospital ordena ao 
atendente a exigência de cheque-caução como condição 
para o atendimento médico-hospitalar. Nessa seara, dois 
pontos merecem destaque: (a) o delito somente pode ser 
cometido no âmbito de hospitais particulares, pois nos 
estabelecimentos da rede pública de saúde é vedada a 
cobrança de qualquer valor para o atendimento médico. Se 
o funcionário público fizer esta exigência indevida, estará 
caracterizado o crime de concussão (CP, art. 316), sem 
prejuízo da responsabilidade pelo resultado decorrente da 
omissão frente ao atendimento médico, nos moldes do art. 
13, § 2º, “a”, do Código Penal (dever legal); e (b) o crime 
não pode ser praticadopela pessoa jurídica (hospital), em 
face da ausência de previsão constitucional e legal nesse 
sentido. 
 
 –O dever de agir para evitar o resultado: Se o sujeito 
possuir o dever de agir para evitar o resultado, e omitir-se 
em decorrência do não recebimento de garantia ou do não 
preenchimento de formulários administrativos, daí 
resultando lesão corporal de natureza grave (ou 
gravíssima) ou a morte da vítima, a ele será imputado o 
crime derivado da sua inércia. 
 
Causas de aumento da pena (art. 135-A, parágrafo único): 
A superveniência da lesão corporal de natureza grave (ou 
gravíssima) ou da morte da pessoa necessitada do 
atendimento médico-hospitalar emergencial funciona 
como causa de aumento da pena, incidente na terceira e 
derradeira fase da aplicação da pena privativa de 
liberdade. A majoração é obrigatória, reservando-se 
discricionariedade ao juiz para elevar a reprimenda até o 
dobro (lesão corporal grave em sentido amplo) ou até o 
triplo (morte). Como a lei não indicou o percentual mínimo, 
conclui-se que nos dois casos a exasperação será de 1/6 
(um sexto) até o dobro ou até o triplo, pois tal montante é 
o menor admitido pelo Código Penal no tocante às causas 
de aumento da pena. As figuras agravadas são 
necessariamente preterdolosas, conclusão facilmente 
extraída das penas cominadas pelo legislador. Há dolo na 
exigência indevida de garantia ou do preenchimento 
prévio de formulários administrativos, e culpa no tocante 
ao resultado gravador (lesão corporal grave em sentido 
amplo ou morte). Nesses casos, ao contrário da 
modalidade fundamental contida no caput do art. 135-A, 
os crimes são materiais ou causais, pois a consumação 
reclama a concretização de qualquer dos resultados 
naturalísticos. 
 
Estatuto do Idoso: A Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso 
contempla, em seu art. 103,5 uma figura semelhante ao 
crime definido no art. 135-A do Código Penal: “Art. 103. 
Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como 
abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
entidade de atendimento: Pena – detenção de 6 (seis) 
meses a 1 (um) ano e multa.” Vale destacar, em relação ao 
idoso, a inexistência de situação apta a exigir o 
atendimento médico-hospitalar emergencial. Não se trata 
de clínica médica ou hospital. Basta a negativa de 
acolhimento ou permanência da pessoa com idade igual ou 
superior a 60 anos em abrigo, diante da sua recusa em 
fornecer procuração à entidade de atendimento para 
administrar seus interesses. 
 
Maus-tratos 
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob 
sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de 
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-
a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer 
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer 
abusando de meios de correção ou disciplina: 
 Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. 
 § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza 
grave: 
 Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
 § 2º - Se resulta a morte: 
 Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é 
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) 
anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990) 
 
Núcleo do tipo: “Expor” significa colocar alguém em perigo. 
Cuida-se de crime de forma vinculada, pois a conduta de 
“expor a perigo a vida ou a saúde da pessoa” somente 
admite os modos de execução expressamente previstos 
em lei, quais sejam: a) Privação de alimentos ou cuidados 
indispensáveis: “Privar” equivale a destituir, retirar, tolher 
alguém de um bem ou objeto determinado. O crime, nessa 
hipótese, é omissivo próprio ou puro. Cuidados 
indispensáveis são os imprescindíveis à preservação da 
vida e da saúde de quem está sendo educado, tratado ou 
custodiado por alguém. b) Sujeição a trabalho excessivo ou 
inadequado: Trabalho excessivo é o capaz de prejudicar a 
vida ou a saúde de alguém, em razão de produzir anormal 
cansaço como decorrência do seu elevado volume. Deve 
ser aferido no caso concreto, levando-se em consideração 
os aspectos físicos da vítima. Trabalho inadequado é o 
impróprio para uma determinada pessoa, e por esse 
motivo apto a proporcionar perigo à vida ou à saúde de 
quem o realiza. c) Abuso dos meios de correção ou 
disciplina: Correção é o meio destinado a tornar certo o 
que está errado. Disciplina é o expediente utilizado para 
preservar a normalidade, isto é, manter certo aquilo que já 
está certo. Em ambas as situações o crime é comissivo. 
Surge o delito de maus-tratos, porém, quando o titular do 
direito de correção ou de disciplina dele abusa. Em outras 
palavras, o exercício do direito transmuda-se de regular 
para “irregular”. 
 
Sujeito ativo: O tipo penal reclama uma vinculação especial 
entre o autor e a vítima dos maus-tratos (crime próprio). O 
ofendido deve estar sob a autoridade, guarda ou vigilância 
do agente, para fim de educação, ensino, tratamento ou 
custódia, mas pouco importa o grau de instrução ou a 
classe social do responsável pela conduta criminosa. 
 
Art. 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente x maus-
tratos: Tratando-se de criança ou adolescente sujeita à 
autoridade, guarda ou vigilância de alguém e submetida a 
vexame ou de constrangimento, aplica-se o art. 232 da Lei 
8.069/1990. Note-se que a vida ou a saúde da criança ou 
do adolescente não é exposta a perigo. Limita-se o sujeito 
a constrangê-la ou humilhá-la, tal como quando a reprime 
abusivamente em local público e na presença de outras 
pessoas. 
 
Distinção entre os crimes de tortura e maus-tratos: A 
distinção entre os crimes de tortura e de maus-tratos deve 
ser feita no caso concreto: aquela depende de intenso 
sofrimento físico ou mental, enquanto para este é 
suficiente a exposição a perigo da vida ou da saúde da 
pessoa. Ademais, o delito de maus-tratos é de perigo (dolo 
de perigo), e o de tortura, de dano (dolo de dano). 
Portanto, a diferenciação se baseia no elemento subjetivo. 
Se o fato é praticado por alguém para fim de educação, 
ensino, tratamento ou custódia, mas com imoderação, o 
crime é de maus-tratos. Sem essa finalidade, ou seja, 
realizado o fato apenas para submeter a vítima a intenso 
sofrimento físico ou mental, o delito é de tortura. 
 
DA RIXA 
 
Rixa 
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os 
contendores: 
 Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. 
Rixa qualificada 
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de 
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, 
a pena de detenção, de seis meses a dois anos. 
 
Obs.1: O crime de rixa é uma luta desordenada, um 
tumulto, envolvendo troca de agressões entre três ou mais 
pessoas. É um crime instantâneo, ocorrendo sua 
consumação com as agressões recíprocas, pois é nesse 
momento que ocorre o perigo à vida ou à saúde da pessoa 
humana. Os participantes da rixa devem responder pelos 
atos de violência, momento em que há a produção do 
resultado, independente das consequências. 
 
Obs.2: A rixa é um crime plurissubjetivo ou de concurso 
necessário. O tipo penal reclama a participação de, no 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
mínimo, três pessoas, bastando um imputável para a 
configuração do crime. Não importa se os outros eram 
inimputáveis ou desconhecidos. O importante é a 
comprovação do número de pessoas participantes. É de se 
ressaltar que aquele que ingressa na contenda para 
separar os rixosos não poderá fazerparte do número 
exigido pela norma incriminadora, conforme art. 137 do 
CP. 
 
Obs.3: o crime se consuma com a prática de vias de fato ou 
violências recíprocas. 
 
Obs.4: Rixa qualificada: Também chamada de rixa 
complexa, está prevista no parágrafo único deste artigo. 
Permite a conclusão de que todos os rixosos, pelo fato da 
participação na rixa, suportarão a qualificadora quando 
ocorre lesão corporal de natureza grave ou morte, pouco 
importando qual deles foi o responsável pela produção do 
resultado agravador. É indiferente que a morte ou a lesão 
corporal de natureza grave tenha sido produzida em um 
dos rixosos ou em um terceiro, alheio à rixa, apaziguador 
ou mero transeunte. De igual modo, também há rixa 
qualificada quando um estranho mata um dos rixosos 
quando de sua intervenção destinada a conter o tumulto. 
Basta, em qualquer dos casos, a relação de causalidade 
entre a rixa e o resultado naturalístico. A pena da rixa 
qualificada é a mesma, tanto se resultar lesão corporal de 
natureza grave como se resultar morte. O resultado 
agravador (lesão corporal de natureza grave ou morte) 
pode ser doloso ou culposo. Não se cuida de crime 
essencialmente preterdoloso. As lesões leves e a tentativa 
de homicídio não qualificam a rixa. 
 
Rixa e homicídio: “Não tendo sido apurado o autor do tiro 
causador do homicídio, não é admissível que por ele 
respondam todos os participantes da rixa, que pressupõe 
grupos opostos” (STF: AP 196/PB, Rel. Min. Aliomar 
Baleeiro, Tribunal Pleno, j. 10.06.1970). 
 
DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
 
Honra é o conjunto das qualidades físicas, morais e 
intelectuais de um ser humano, que o fazem merecedor de 
respeito no meio social e promovem sua autoestima. É um 
sentimento natural, inerente a todo homem e cuja ofensa 
produz uma dor psíquica, um abalo moral, acompanhados 
de atos de repulsão ao ofensor. Representa o valor social 
do indivíduo, pois está ligada à sua aceitação ou aversão 
dentro de um dos círculos sociais em que vive, integrando 
seu patrimônio. Trata-se de patrimônio moral que 
encontra proteção como direito fundamental do homem 
no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal (fundamento 
constitucional dos crimes contra a honra). 
 
Bem jurídico: Os crimes de calúnia e difamação ofendem a 
honra objetiva da vítima, ou seja, sua reputação social. Já 
o crime de injúria ofende a honra subjetiva da vítima, em 
outras palavras, sua estima própria. Estes crimes fazem 
parte do capítulo dos crimes contra a honra, englobados 
no título dos crimes contra a pessoa. 
 
Calúnia 
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato 
definido como crime: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a 
imputação, a propala ou divulga. 
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. 
Exceção da verdade 
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: 
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, 
o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; 
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas 
no nº I do art. 141; 
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o 
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. 
 
Núcleo do tipo: É “caluniar”. O legislador foi redundante. 
Com efeito, caluniar é imputar, razão pela qual não era 
necessário dizer: “caluniar alguém, imputando-lhe...”. A 
conduta consiste em atribuir a alguém a prática de 
determinado fato. Esse fato, entretanto, deve ser previsto 
em lei como criminoso. Imputação falsa de contravenção 
penal atinge a honra, configurando crime de difamação, 
mas não calúnia. O fato deve ser também verossímil, pois 
em caso contrário não há calúnia. Se não bastasse, é 
fundamental seja a ofensa dirigida contra pessoa certa e 
determinada. 
Requisitos da calúnia: 
 
• a imputação de um fato; 
• esse fato imputado à vítima deve, obrigatoriamente, 
ser falso; 
• além de falso, o fato deve ser definido como crime. 
 
Consumação: No crime de calúnia, delineado no art. 138 
do CP, há a ofensa da honra objetiva da vítima, ou seja, sua 
credibilidade no seu meio social. Sua consumação 
acontece quando terceiros tomam conhecimento do fato 
calunioso. 
É possível a tentativa, quando a ofensa é escrita e o autor 
intercepta, impedindo que chegue nas mãos de terceiros. 
 
Difamação 
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à 
sua reputação: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
Exceção da verdade 
Direito Penal – Parte Especial 
 
 
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite 
se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao 
exercício de suas funções. 
 
Trata-se de crime que ofende a honra objetiva e, da mesma 
forma que na calúnia, depende da imputação de algum 
fato a alguém. Esse fato, todavia, não precisa ser 
criminoso. Basta tenha capacidade para macular a 
reputação da vítima, isto é, o bom conceito que ela 
desfruta na coletividade, pouco importando se verdadeiro 
ou falso. A imputação de fato definido como contravenção 
penal tipifica o crime de difamação, pois a calúnia depende 
da imputação falsa de crime. 
 
Requisitos da difamação: 
• imputação de fato; 
• verdadeiro ou falso; 
• ofensivo à reputação. 
 
Consumação: tem-se por consumada a infração penal 
quando terceiro, que não a vítima, toma conhecimento dos 
fatos ofensivos à reputação desta. É possível a tentativa. 
 
Obs.1: o crime de calúnia, definindo ser aquele no qual a 
pessoa atribui a outra falsamente fato definido como 
crime. Há de ser uma acusação falsa, definida como crime, 
manchando a reputação da pessoa em seu meio social. É 
um ataque à honra objetiva do sujeito passivo. É com 
precisão o caso da questão em tela. Diferentemente, a 
difamação é a imputação de um fato ofensivo à reputação 
da pessoa. Este fato não é definido como crime nem 
necessita ser falso. 
 
Obs.2: O enunciado do art. 138 do Código Penal explicita 
ser calúnia a imputação falsa de fato definido como crime. 
A atribuição de uma contravenção em vez de crime 
caracteriza uma difamação e não calúnia, em respeito ao 
princípio da legalidade. 
 
Obs.3: O crime de difamação, tratado no art. 139 do CP, é 
expresso quanto à admissão da exceção da verdade. Ela só 
será possível quando o ofendido for funcionário público e 
a ofensa for relativa ao exercício de suas funções. O 
fundamento reside no princípio da moralidade 
administrativa. Nos demais casos não há que se falar em 
exceção da verdade no crime de difamação. 
 
Injúria 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o 
decoro: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
 
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou 
diretamente a injúria; 
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra 
injúria. 
 
Caracteriza-se o delito com a simples ofensa à dignidade 
ou ao decoro da vítima, mediante xingamento ou 
atribuição de qualidade negativa. 
 
Consumação e bem jurídico: aquele que ofende a 
dignidade ou decoro de outrem comete injúria. É um 
insulto, uma qualidade negativa, que macula a honra 
subjetiva da vítima, ou seja, o que a pessoa pensa de si 
mesma, sua autoestima. Não há necessidade, para 
consumação do delito, de conhecimento do fato injurioso 
por terceiros. 
 
Obs.: O instituto da exceção da verdade não é cabível para 
a injúria. Ela é admitida para a calúnia e na difamação, de 
acordo com o art. 138, §3° e art. 139, parágrafo único, 
respectivamente.

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