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Aula 14 – Farmacologia – Anestésicos Gerais Caso clínico: mulher 55 anos, cirurgia de hérnia, pergunta qual gás anestésico será utilizado, pois há dois anos atrás fez uma cirurgia de histerectomia e teve uma reação com hepatotoxicidade. Anestesia na espinha, qual anestésico? Quais as desvantagens? Como surgiu o uso dos anestésicos? Os anestésicos gerais surgiram ao acaso (éter, clorofórmio eram utilizados em festas como motivo de divertimento e euforia), antigamente, a cirurgia era relacionada à dor e começaram a ser utilizados. O clorofórmio foi utilizado no parto do sétimo filho da Rainha Vitória. Atualmente, os anestésicos que causam a euforia não são muito utilizados, mas estão presentes em pouca quantidade nos anestésicos, sendo que o efeito da euforia dura poucos segundos. O quê deseja-‐se em um anestésico: Inconsciência, perda da nocicepção e de reflexos, amnésia. Há uma dificuldade de mapear essas respostas no SNC, especialmente para gases. Anestesia no geral: analgesia com ausência de consciência (aspecto cognitivos) e movimentos (aspecto motor), reflexos autonômicos , relaxamento muscular, redução de secreção, perda de memória e recuperação rápida. Os anestésicos são utilizados para cirurgias de todos os portes, o grau de anestesia varia de acordo com o porte do procedimento. A maioria dos anestésicos não é utilizada sozinha, a anestesia é balanceada (uso de uma gama de medicamentos para atingir o objetivo, por exemplo, opióides (ausência de dor), benzodiazepínico (sonolência), usar um anestésico volátil e um injetável ao mesmo tempo para obter o efeito desejado). Perda momentânea da consciência: não há como saber se a pessoa teve ou não, devido à ausência de reflexos. Fases da anestesia geral: -‐ Indução: início da indução do estado de anestesia; -‐ Manutenção: depende da duração do procedimento, consiste em fazer sempre o monitoramento, especialmente das funções cardiovasculares e respiratórias (ventilação mecânica em anestesia profunda, além do balanço osmótico) -‐ Recuperação: retomada das funções do SNC, extubação, recuperação da função mecânica. Estágios da anestesia: -‐ analgesia: ausência de dor, consciente por um breve momento -‐ excitação: euforia, vômito, incontinência, respiração irregular – ideal que não ocorra -‐ estágio dos 4 planos: o 1o plano: anestesia leve (reflexos presentes), o 2o plano: perda dos reflexos e regularização da respiração (momento oportuno para a maioria dos procedimentos cirúrgicos), o 3o plano: anestesia profunda com respiração curta e possível ventilação mecânica – abertura de cavidades, cirurgia exploratória e etc – melhor plano o 4o plano: ventilação mecânica, pode haver comprometimento cardiovascular. -‐ crise anestésica: centro respiratório completamente deprimido, paciente deixa de responder e pode morrer. Anestesia geral: pode ser feita através de gases inalatórios (seguro, gera ansiedade, utilizado em pacientes pediátricos, a maioria dos agentes são irritantes e causam tosses, por exemplo) ou IV (segura, rápida e não gera ansiedade), pode ser local, regional ou espinhal (bloqueia só os estímulos da medula – raquianestesia e peridural). A via intra-‐muscular é mais rara, utilizada em pacientes que não cooperam muito. Os compostos da anestesia devem pertencer a diferentes classes, não é interessante ser via oral (demora para ser absorvida, metabolismo, modo de distribuição – depende da perfusão dos órgãos e se o composto é muito lipofílico). É possível começar uma sedação via oral, por meio de benzodiazepínicos, porém, ele não chega na anestesia total, é apenas uma indução. Problema da anestesia: controle minuto a minuto do paciente e de suas funções vitais, o ajuste pode ser rápido e imediato, o que nos permite de acordar o paciente no final do procedimento. Grau de anestesia: acompanhamento dos estágios e dos planos; a maioria gera hipotensão, exceto a Cetamina que gera hipertensão e taquicardia. Não ha como monitorar o estado de consciência. Nível de sedação: leva em consideração a resposta, as vias aéreas, a ventilação, a função cardiovascular. Sedação mínima (resposta normal do paciente, utilizada para procedimentos locais)/moderada (a resposta do paciente é mantida, mas diminui)/profunda (sedação e analgesia) e geral – variam com o procedimento. Como fazer a seleção da droga? A primeira coisa é buscar a anestesia mais segura para o paciente dependendo de seus problemas (hepatopatia, anemia e etc). Depois deve-‐se olhar a duração apropriada, indução i.v. em bolus para procedimentos curtos, escolher uma droga que permita e facilite o procedimento cirúrgico, que seja melhor aceita pelos pacientes (Geral vs. regional) e os custos. Anestesia geral: anestesia balanceada com o uso de diferentes medicamentos para obter as diferentes respostas: • INALATÓRIOS : Halotano, enflurano, isoflurano, sevoflurano, desflurano – classe dos floranos -‐ e óxido nitroso. • VENOSOS : Barbitúricos (tiopental – caindoem desuso), benzodiazepínicos (diazepam/ midazolam – mais utilizados/lorazepam), opióides (morfina/ meperidina/ fentanil/ sufentanil/ alfentanil/ remifentanil), Ketamina, Etomidato, Propofol, Droperidol. • ADJUVANTES DA ANESTESIA GERAL : Bloqueadores neuromusculares, anticolinérgicos, inibidores da colinesterase, agonistas e antagonistas adrenérgicos, agentes anti-‐hipertensivos e anestésicos locais. Ex: Atropina e esmolol. -‐ Como esses anestésicos funcionam? -‐ Teoria da Solubilidade Lipídica – Overton-‐ Meyer: Dois cientistas propuseram a ideia de que os anestésicos funcionavam por solubilidade lipídica, foi observado que quanto menor fosse o coeficiente de partição óleo-‐água, maior seria a potência. – Modo de ação dos anestésicos seria por sua atução, de maneira desconhecida, nas membranas lipídicas das células – Hipótese foi formulada após observação experimental que demonstrou que a potência dos anestésicos é diretamente proporcional à sua lipofilicidade (e inversamente proporcial ao seu coeficiente de partição óleo: água. CAM: concentração mínima alveolar – a menor quantidade que deve estar presente no alvéolo para ter efeito em 50% dos pacientes. Na prática, é a medida da potência inalativa do medicamento. Ajuda a ver em quanto tempo é necessário para ter o efeito e quanto tempo é necessário para o paciente recuperar. 50% dos pacientes = 1 CAM 99% dos pacientes = 1.3 CAM (relação logarítmica) O ciclo circadiano pode alterar o CAM. -‐ Teoria do Agonista Promíscuo para Receptores (Teoria protéica) – Anestésicos podem atuar em receptores GABA, NMDA (glutamato), e outros(canal de K) – Observação de que diferentes isômeros possuem atividades e potências distintas (apesar de terem o mesmo coeficiente óleo: gás dão suporte a essa teoria). – Por essa teoria, os anestésico podem atuar • Diretamente sobre os canais iônicos • Em bolsões hidrofóbicos das proteínas associadas aos receptores • Por interação alostérica que alteraria a afinidade do ligante: receptor GABA-‐A: Todos os anestésicos potencializam a ação de GABA (exceto: ciclopropano, cetamina e xenônio) Diferentes anestésicos parecem se ligar a sítios distintos de GABA-‐A – Anestésicos voláteis se ligam a uma interface das subunidades alfa e beta (possivelmente, o mesmo sítios de GABA) – Anestésicos intravenosos se ligam à subunidade beta ** Complexidade de ação se torna maior porque cada subunidade pode ainda ter subtipos propofol: atua principalmente na subunidade beta midazolam: atua principalmente na subunidade alfa NMDA: Receptor para glutamato (possui 3 receptores diferentes) que tem função estimulatória/excitatótria. • Possível alvo da cetamina (antagonista) ANESTÉSICOS INJETÁVEIS: tiopental, etomidato, propofol, cetamina, midazolam -‐> atuam no gaba, exceto a cetamina. -‐ Tiopental: Único bartbitúrico ainda em uso como anestésico Potencializa a ação de GABA Altamente lipossolúvel (início rápido e ação transitória) Ácido livre insolúvel em água (uso na forma de sal sódico para injeção) Anestésico tem meia vida curta, e primeiro se difunde para órgãos de grande vascularização (cérebro, rim, fígado); depois, acumula-‐se no tecido adiposo, pela afinidade e por ser este um tecido pouco vascularizado. Acúmulo lento e gradual no tecido adiposo à grande efeito de ressaca -‐ Retorno do paciente pode ser bastante retardado (historicamente, até 4 dias!) -‐ Taxa de degradação se torna mais lenta à medida que a concentração sanguínea diminui -‐ Por esses motivos, não pode ser utilizado para manutenção Baixo índice terapêutico – pequena margem de segurança Liga-‐se à albumina plasmática (85%) – taxa que se encontra diminuída nos casos de má nutrição, doença hepática ou renal – alerta. Injeção acidental em tecidos pode gerar dor e necrose tecidual, pelo grau de alcalinidade da mesma (nesse caso, reverter com aplicação imediata de procaína) Reduz a pressão intracraniana Pode precipitar um ataque de porfiria em indivíduos susceptíveis -‐ Propofol: Introduzido em 1983 e substitui o tiopental Potente Distribuição rápida e inicio de ação rápido (<1min) Não é analgésico, geralmente se usa um opióide junto. Rapidamente metabolizado Sem efeito cumulativo Recuperação rápida (útil para cirurgias e procedimentos de alta no mesmo dia) Risco de bradicardia, hipotensão e apneia Depressão respiratória e dor com a injeção Sentimento de bem estar – pode gerar vício Anteriormente, formulado em lecitina derivada de ovos à reações anafilactóides contra o ovo – atual: óleo de soja e glicerol, causa dor na hora de injetar. Pode ser usado para anutenção da anestesia, sem necessidade de agente inalatório Síndrome de infusão do propofol (grave acidose metabólica, com rabdomiólise), hipercalemia, lipemia, hepatoegalia, falêcia renal, arritmia e colapso cardiovascular) – desencadeada por doses altas prolongadas de propofol – mais frequentemente observada em pacientes internados, sobretudo em crianças Caso clínico: Michael Jackson Sexta-‐feira, 26 de Junho de 2009, 10h00. Autópsiado caso 2009-‐04415, cujo dossier está resumido em poucas linhas: "O defunto é um homem negro de 50 anos que sofreu uma paragem respiratória quando estava em casa a ser assistido pelo seu médico. No dia da sua morte, o defunto queixou-‐se de desidratação e de não conseguir dormir. Algumas horas mais tarde, deixou de respirar e não foi possível reanimá-‐lo. Os serviços de emergência levaram-‐no para o centro médico UCLA, onde a sua morte foi constatada. O defunto tomava vários medicamentos sujeitos a receita médica, incluindo clonazepam, trazodone, diazepam, lorazepam [sedativos], e flomax [tratamento do adenoma da próstata]. Não sabemos se tomava estes medicamentos regularmente. O defunto sofria de vitiligo [doença não-‐contagiosa em que ocorre a perda da pigmentação natural da pele] e não tinha antecedentes de problemas cardíacos. A morte deveu-‐se a uma intoxicação aguda com propofol, um produto anestésico. Foi um homicídio. -‐ Etomidato: Insolúvel em água (solução em propileno glicol à dor durante a injeção) Preferido ao tiopental por diversas razões Metabolismo mais rápido à menor efeito ressaca Maior janela entre a dose anestésica e o efeito de depressão cárdio-‐respiratória Preferido para pacientes com doenças cardiovasculares Mais propenso a causar movimentos de contração involuntária Na infusão prolongada à suprime produção de esteróides na hipófise, inibibe sobretudo a síntese de colesterol Embora inicialmente tenha sido recomendado para pacientes internados em UTIs e com doenças graves, estudos (grupo escocês, 1984) mostraram que o etomidato aumenta de 28 para 47% o número de mortes nesses pacientes. Incialmente utilizado para sepse, hoje, contraindicado nesses casos. -‐ Cetamina: Anestésico de características diversas dos demais Acredita-‐se que iniba receptores NMDA de glutamato Assemelha-‐se quimicamente à droga de abuso fenilciclinida (PCP ou “pó-‐de-‐anjo”) à anestesia e analgesia, com menos euforia que PCP Por via intravenosa, demora um pouco mais para ter efeito (1-‐2min) Estimula o sistema simpático Diferentemente dos outros anestésicos, aumenta PA e induz taquicardia; não afeta respiração em dose anestésicas, pode ser utilizada junto à Clonidina (antihipertensivo, agonista alfa2) Aumenta pressão intracraniana à contraindicada para pacientes com pressão intracraniana elevada ou com risco de isquemia Síndrome dissociativa: perda sensorial acentuada, analgesia e amnésia, porém sem perda da consciência Dimunui o limiar de convulsão Durante a indução e recuperação, podem ocorrem movimentos involuntários e experiências sensoriais Durante a recuperação, podem ocorrer alucinações e delírios, com comportamento irracional à sensações/sonhos realistas de experiências extra-‐corporais, euforia -‐ Midazolam: pode estar em forma de comprimido também Benzodiazepínicos – GABA-‐A Solúvel em água (sem dor durante a injeção) Rapidamente distribuído, porém de metabolismo mais lentoà Início e término de ação mais lentos Indução da anestesia, na forma oral, sobretudo em crianças (efeito ansiolítico) Não é analgésico à pode ser utilizado sozinho em procedimentos não doloridos, como cateterização cardíaca. Indução da anestesia em procedimentos diagnósticos como colonoscopia, endoscopia Neuroleptanalgesia: produção de sedação profunda e analgesia. Antagonista da dopamina (droperidol – sedativo) + analgésico opióide (fentanila) Produção de sedação profunda e analgesia Droperidol possui forte efeito antiemético, por atuar na zona de gatilho quimiorreceptora Paciente é capaz de responder a questões e comandos simples, porém não retém memória do procedimento, nem sente dor Endoscopia, colonoscopia Possibilidade de efeitos extrapiramidais Midazolam tem sido preferido pela ação mais curta Sedação consciente: basicamente a mesma coisa, a ideia é manter o paciente consciente, colocar os anestésicos aos poucos, verificando os reflexos, estímulos e sinais. Procedimento que somente deve ser feito por profissional que tem conhecimento dos efeitos esperados e das possíveis complicações decorrentes do usos desses medicamentos (preferencialmente, uso hospitalar). Exemplo de complicação: apnéa/depressão respiratória profunda O erro mais comum é o excesso de sedação. O método mais seguro é o uso de pequenas doses, com intervalos de tempo suficientes que permitam que seus efeitos ocorram. ANESTÉSICOS INALATÓRIOS: São aplicados por meio de “máscaras”, o que pode aumentar a ansiedade do paciente. Por outro lado, pode facilitar que o paciente pediátrico se “desprenda” dos pais para ir para cirurgia Maioria está em estado liquido à temperatura ambiente e é aplicado com uma máquina que regula o fluxo: Óxido nitroso** Halotano Xenônio** Isoflurano Desflurano Sevoflurano Enflurano Éter ** Em estado gasoso à temperatura ambiente Risco ocupacional associado: Centros cirúrgicos e/ou salas onde são aplicados os anestésicos inalatóiros devem ter sistema de exaustão apropriado para minimizar a exposição ocupacional da equipe clínica. Mutagenicidade e carcinogenicidade não foram observadas comanestésicos inalatórios Incidência de abortos comprovadamente maior na equipe cirúrgica Hemotoxicidade (apenas com óxido nitroso) – inibe a metionina sintetase, o que leva à anemia megaloblástica -‐ Óxido nitroso: Inodoro e não-‐inflamável Dentre os inalatórios, possivelmente um dos mais seguros Provoca menor aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode ser usado em cirurgias de pacientes com traumatismo craniano) Pouco efeito sobre a musculatura uterina Função de broncodilatadores, porém com depressão da função mucociliar (acumula muco) Ao término do uso, paciente deve receber oxigênio puro (e não ar) porque óxido nitroso tende a se difundir de volta dos tecidos para alvéolos, o que poderia causar hipóxia (o paciente deve receber oxigênio puro). -‐ Fluranos: halotano, isoflurano, enflurano, desflurano Halotano: protrótipo da classe (todas as comparações são feitas em relação a ele). Pode causar hepatotoxicidade grave, inclusive resultando na necessidade de transplante de figado à outros fluranos não apresentam essa propriedade. Em doses baixas, todos os fluranos tem efeito similar sobre o fluxo sanguíneo cerebral. Em doses elevadas, o enflurano e o isoflurano aumentam menos o fluxo cerebral que o halotano. Halotano, isoflurano e enflurano exercem efeitos semelhantes no EEG, porém doses altas de enflurano podem alterar EEG. Todos são potentes relaxantes do músculo uterino à útil para manipulação intra-‐uterna do feto ou retirada manual da placenta. Nefrotoxicidade: devido à metabolização de enflurano sevoflurano com formação de fluoretos, houve preocupação com a nefrotoxicidade, somnte confirmada para expoxição prolongada com enfluorano. Desflurano e enflurano parecem ter maior poder irritante das vias aéreas, bem como inibição das funções mucociliares à acúmulo de muco. Todos são broncodilatadores Hipertermia Maligna: todos os anestésicos inalatórios podem causá-‐la, relacionada à liberação de cálcio sarcoplasmático no ME. Parece ser herança autossômica dominante Fenômeno observado com uso de anestésicos inalatórios e relaxantes musculares Caracterizada por: aumento de temperatura, rigidez muscular intensa, hipercalemia, desequilíbiro ácido-‐base com acidose Liberação excessiva e descontrolada de Ca+2 por reticulo sarcoplasmático de células do músculo esquelético Tratamento com dantroleno (bloqueia liberação de cálcio) + antitérmico + restabebelecimento do equilíbrio ácido-‐base
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