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Estrongiloidíase Tricuríase e enterobíase Universidade de Brasília Faculdade de Medicina Parasitologia Prof. Rodrigo Gurgel Gonçalves Como diferenciar adultos e ovos de S. stercoralis, T. trichiura e E. vermicularis? Como é o ciclo biológico desses parasitos? Quais as manifestações clínicas da tricuríase, estrongiloidíase e enterobíase? Como essas doenças podem ser diagnosticadas e tratadas? Como deve ser realizada a profilaxia e o controle dessas helmintoses? Quais fatores influenciam a ocorrência dessas doenças? Estrongiloidíase Strongyloides fuellborni fuelleborni Strongyloides stercoralis Parasito de macacos (Humanos: casos nos continentes Africano e Asiático Strongyloides f. kellyi Parasitando crianças (Oceania) Parasito de humanos, infectando cães, gatos e macacos (30 a 100 milhões de pessoas no mundo) Brasil: prevalência de 13% da doença (Costa-Cruz 2011; Schär et al. 2014) 52 espécies do gênero Strongyloides Strongyloides venezuelensis Parasito de roedores Morfologia Esôfago Esôfago Cauda entalhada 0,05 mm -Menor dos nematóides de interesse médico (0.7 – 2.5 mm). Fases de desenvolvimento 2,5 mm 1 mm 1,2 mm (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Morfologia Larvas rabditóides (L1 e L2) Vestíbulo bucal: curto Bulbo esofágico posterior Detalhe da porção anterior (A) posterior (B) da larva A B Larvas filarióides (L3 infectante) (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Cauda entalhada Biologia Parede do intestino delgado Formas graves: porção pilórica do estômago até o intestino grosso Fêmeas partenogenéticas Fêmeas, machos de vida livre e ovos Solo: arenoso, úmido, temperatura (25 30°C) e sombreado Larvas Solo ou no trato digestivo GEO-HELMINTOS (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Biologia disseminação hiperinfecção autoinfecção CICLO DIRETO CICLO INDIRETO infecção infecção fezes 3n 2n 1n o lr lr lf fvl mvl lf fp fp: fêmea partenogenética lf: larva filarióide lr: larva rabditóide mvl: macho de vida livre fvl: fêmea de vida livre O: ovo (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Infecção Penetração ativa das L3 na pele Externa Interna Forma Disseminada Hetero ou Primoinfecção Autoinfecção Externa ou Exógena Autoinfecção Interna ou Endógena Larvas filarióides Pele Mucosas: boca esôfago Larvas filarióides Pele da região anal e perianal Larvas filarióides Mucosa intestinal Íleo Cólon (cronifica) Hiperinfecção Biologia Modos de Infecção (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Interação parasito hospedeiro e manifestações clínicas Cutânea Assintomática Sintomática Reações na pele, erupções “larva currens” Pulmonar Benigna Maligna Mal estar, febre e tosse seca Febre alta, falta de ar e expectoração mucopurulenta (Circulação sistêmica) Fase aguda da doença (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Digestiva Leve: diarreias, náuseas e vômitos. Moderada: enterite, atrofia da mucosa e edema da submucosa. Grave: diarreia persistente, síndrome da má absorção . Fase crônica da doença (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Interação parasito hospedeiro e manifestações clínicas Hiperinfecção Tosse Dispneia Broncoespasmo Dor abdominal Anorexia Náusea Vômito Diarreia Larvas migrando Ulcerações Bactérias Infecções secundárias Septicemia Diarreia intensa Pneumonia hemorrágica Insuficiência respiratória Óbito (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Interação parasito hospedeiro e manifestações clínicas Diagnóstico Sintomas semelhantes a outras helmintíases 50% dos casos são assintomáticos Baixa sensibilidade dos métodos parasitológicos Baixa e irregular liberação das larvas nas fezes Imunológico Pouco sensível Clínico Difícil (Anamnese) Laboratoriais Exame de fezes Métodos são mais sensíveis que os parasitológicos Dificuldades de ob- tenção de antígenos para padronização de testes mais sensíveis e específicos (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Diagnóstico Métodos Parasitológicos Diretos Exame parasitológico de fezes (EPF) Rugai, Mattos & Brisola Termotropismo Hidrotropismo (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Diagnóstico Métodos Parasitológicos ... e as larvas filarióides?? (Costa-Cruz 2011; Ferreira 2012) Ancilostomídeos S. stercoralis Diagnóstico Coprocultura Desenvolvimento de ciclo indireto (ovo – larva filarióide) Placa de ágar Demorados/ risco de infecção Biópsia intestinal (Sato et al. 1995; Jongwutiwes et al. 1999; Ferreira 2012) FÁRMACOS Tratamento (Costa-Cruz 2011) Critério de cura – repetição de exames 5 a 6 semanas após o tratamento Tratamento Epidemiologia (Schär et al. 2014; WHO 2014) Prevalência de infecção por Strongyloides stercoralis Universidades Serviços de Saúde Prevalência no Brasil: 13% 30-100 milhões de pessoas são infectadas * * Epidemiologia Quais seriam os fatores de risco para se adquirir a doença? Grupos de Risco -Alcoólatras - Crianças em creches - HIV/AIDS - Câncer gastrointestinal - Indivíduos de área rural - Servidores de limpeza pública - Acampados (sem terra) - Idosos - Diabéticos - Transplantes (Costa-Cruz 2011; Shär et al. 2014) Epidemiologia Alcoolismo (Zago-Gomes et al. 2002) Pergunta: Existe uma maior prevalência de infecção por nematóides em indivíduos alcoólatras? Material e métodos - Exame de fezes - 98 alcoólatras e 440 não alcoólatras, hospital de Vitória-ES Parasitas Alcoólatras Não alcoólatras Ascaris 6,8% 7,3% Trichuris 3,1% 4,6% Ancylostoma 2,2% 2,5% Strongyloides 21,7% 4,1% Resultados Epidemiologia Alcoolismo (Zago-Gomes et al. 2002) Por que a maior taxa de Strongyloides em alcoólatras? Álcool > fecundidade das fêmeas de Strongyloides stercoralis Aceleração na transformação de larvas rabditóides em filarióides corticosteróides Interfere no Hipotálamo Aumento no hormônio adrenocorticotrópico Aumento na produção de corticosteróides Interfere no metabolismo dos esteróides no fígado Diminuição da degradação de corticosteróides Epidemiologia Transplantado geralmente recebem tratamento imunossupressor com corticosteróides (FR) (Ikari & Pinto 2014) Epidemiologia Infecção por HIV foi um fator de risco associado a infecção por S. stercoralis: (OR = 3.23, 95% CI 1.43–7.29) Pathog Glob Health. 2014 Apr; 108(3): 137–140. doi: 10.1179/2047773214Y.0000000134 Prevalence and risk factors of acquiring Strongyloides stercoralis infection among patients attending a tertiary hospital in Thailand Infecção por HIV é um fator de risco associado a infecção por S. stercoralis: MORFOLOGIA Adultos: 3 a 5 cm • Região anterior: delgada, desprovida de lábios. vagina ovário útero canal deferente testículo espículo ânus cloaca duto ejaculador Fêmea Macho Ovo Trichuris trichiura *Dimorfismo sexual evidente Macho: enrolado ventralmente na porção posterior. Fêmea: maior, porção posterior reta. Trichuris trichiura Vermechicote Quantos machos e fêmeas? Detalhe do esôfago mostrando as células glandulares (esticócitos) Trichuris trichiura MORFOLOGIA secretam enzimas proteolíticas Detalhe da região posterior do macho mostrando o espículo (seta) envolto por bainha. Trichuris trichiura MORFOLOGIA Detalhe do oviduto (O) e vagina (V) da fêmea. A seta mostra a separação do esôfago e intestino. Trichuris trichiura MORFOLOGIA Trichuris trichiura MORFOLOGIA Ovos em forma de barril Resistentes com 3 membranas e 2 poros salientes Trichuris trichiura HABITAT Intestino grosso, cólon, íleo, apêndice e ceco Helminto tissular (região esofagiana penetra na camada epitelial da mucosa) Ingestão de ovos Poeira Água e alimento Mãos Prática de geofagia Quais semelhanças e diferenças podem ser apontadas entre o ciclo de Trichuris outros geo-helmintos? Trichuris trichiura CICLO DE VIDA 60-90 dias L1 Quais seriam as consequências da penetração dos vermes no intestino? Adultos na mucosa intestinal * Diferentemente de A. lumbricoides, as lesões provocados por T. trichiura estão confinadas ao intestino (não há Ciclo de Loss) Trichuris trichiura MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Trichuris trichiura PATOGENIA Adultos e larvas no intestino carga parasitária; distribuição dos helmintos; idade e estado nutricional do hospedeiro. -Lesões no epitélio- aumento na produção de muco descamação da camada epitelial infiltração de células mononucleares. Baixa parasitemia sem sintomatologia Infecções intensas pode haver colite e apendicite. Reto: processo inflamatório (edema e sangramento da mucosa local) Reação edematosa: produz um inchaço provavelmente responsável um quadro de tenesmo. PROLAPSO RETAL FEZES MUCOSANGUINOLENTAS Trichuris trichiura MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS PROLAPSO RETAL Inflamação + Tenesmo (desejo de defecar) + relaxamento do esfíncter anal Trichuris trichiura DIAGNÓSTICO Adulto Presença no prolapso Ovos Exame Parasitológico de Fezes (EPF) Exame Direto a Fresco Técnicas de Concentração Sedimentação espontânea Centrifugação FÁRMACOS Tratamento (Veronesi 2005) + = 80% de cura Trichuris trichiura Outro lado da moeda: terapia helmíntica usando Trichuris Wolff et al. Trends in Parasitology (2012) Interação leva a produção de citocinas Ativação de células T Produção de citocinas que induzem aumento de células epiteliais Produção de muco e moléculas como Relm- beta que melhora a proteção das mucosas em indivíduos com colite ulcerativa A barreira reduz a resposta inflamatória causada por bactérias da microbiota Melhoramento do sistema de defesa de mucosa devido à infecção por Trichuris suis. Possibilidade de tratamento contra doença de Crohn Adultos com cutícula branca. 2 expansões vesiculosas (asas cefálicas). Esôfago: claviforme e bulbo esofagiano. Dimorfismo sexual. Enterobius vermicularis MORFOLOGIA 1 cm Asas cefálicas Esfôfago claviforme e bulbo esofagiano Ovos Intestino Enterobius vermicularis MORFOLOGIA Região anterior (machos e fêmeas) Enterobius vermicularis MORFOLOGIA 3 camadas um dos lados achatado Em forma de D Habitat dos adultos (“lagartinhas”) Ceco e apêndice humanos Migração das fêmeas • Região anal • Machos morrem após a cópula Embrionamento dos ovos: 4-6 horas Enterobius vermicularis CICLO BIOLÓGICO Heteroinfecção Auto-infecção externa Auto-infecção interna Retroinfecção Formas de transmissão 30-40 dias Insônia, nervosismo, erotismo Consequências da presença dos vermes • Apêndice? • Região perianal? Enterobius vermicularis MANIFESRAÇÕES CLÍNICAS Coceira na região anal (prurido) Irritabilidade Infecção secundária Prurido Aspecto clínico do prurido anal. Vermes nas roupas íntima ou períneo. Enterobius vermicularis DIAGNÓSTICO Baixa frequência em exame de fezes convencional (5-10%). Como proceder? Método da fita adesiva ou método de Graham Método da fita adesiva Enterobius vermicularis DIAGNÓSTICO Análise crítica da foto Confinamento é o maior risco: altas prevalências em creches, orfanatos, enfermarias infantis, escolas e asilos. Enterobius vermicularis PARTICULARIDADES EPIDEMIOLÓGICAS Quais os fatores contribuem para a alta prevalência dessa verminose? Alta resistência e taxa de eliminação de ovos Vários mecanismos de transmissão Auto-infecção externa/interna, Retroinfecção, Heteroinfecção Maus hábitos e falta de higiene. Tratamento de todas as pessoas parasitadas e familiares. Higiene pessoal: corte rente das unhas lavar as mãos e alimentos banho ao levantar-se Limpeza do ambiente: lavagem da roupa de cama dos parasitados uso de aspiradores de pó.... Enterobius vermicularis CONTROLE FÁRMACOS Tratamento Os mesmos para A. lumbricoides (Neves 2011) Tratamento: Enterobius vermicularis Epidemiologia Prevalência de infecção por Enterobius vermicularis É uma doença de distribuição mundial - Faixa etária: 5 a 14 anos de idade - Sua transmissão é direta (pessoa a pessoa) Inquéritos epidemiológicos não utilizam a metodologia adequada para o diagnóstico dessa parasitose. (Cimerman & Cimerman, 2005) A escola é um foco: contato frequênte com crianças parasitadas • EUA e Canadá: média de 50% entre as crianças • Brasil: 60% (SP), 22% (RJ), DF (1%?) Epidemiologia Rev Patol Trop Vol. 42 (4): 425-433. 2013
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