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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação Aula 4

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Aula 4 - Émile Durkheim: Educação e Sociologia 
Introdução 
Nesta aula, você vai entender a concepção de educação formulada por Durkheim e saber o que o levou a 
estudar a educação como um fato social, talvez o principal deles. 
A Educação 
Na concepção de Durkheim, a educação tem um papel fundamental na preparação do indivíduo para a 
vida em sociedade. Por esse motivo, ele se dedicou a estudar a educação como um fato social. 
Em Educação e Sociologia, Durkheim se propõe a fazer um exame crítico das definições de educação 
formuladas por diferentes e importantes pensadores dos fenômenos sociais. Assim, ao analisar as 
concepções de John Stuart Mill, Immanuel Kant e James Mill, o autor conclui que não existe uma educação 
ideal, pois se observarmos a história, a educação varia com o tempo e com as regiões. 
Algumas das afirmações de Émile Durkheim sobre a educação: 
 
Movido pela sua convicção de que as sociedades evoluem e devem ser estudadas em determinado estágio 
de seu desenvolvimento, Durkheim utiliza como método de estudo a observação histórica para mostrar 
que os sistemas de educação têm poder coercitivo, pois, em cada momento há um tipo regulador de 
educação do qual os indivíduos não podem escapar sem resistências e que restringem os anseios daqueles 
que são discordantes. 
A Educação como produto da sociedade 
 
Ao definir mais precisamente a educação, Durkheim conclui que há algumas condições para que ela 
realmente exista, ou seja, é necessário que haja uma geração de adultos, uma geração de jovens e, que a 
primeira exerça uma ação sobre a segunda. 
O sistema educativo, em qualquer sociedade, possui duplo aspecto, ou seja, é, simultaneamente: 
 
Profissões 
“Cada profissão, com efeito, constitui um meio sui generis que reclama aptidões particulares e 
conhecimentos especiais, onde reinam certas ideias, certos usos, certas maneiras de ver as coisas; e, como 
a criança deve ser preparada tendo em vista a função que será chamada a desempenhar, a educação, a 
partir de uma certa idade não pode mais continuar a ser a mesma para todas as pessoas às quais ela se 
destina” (2001, p. 50). 
Segundo Durkheim, cada sociedade formula determinado ideal de ser humano, ou seja, é a sociedade que 
determina o que esperar do indivíduo, seja do ponto de vista intelectual, físico ou moral. Em outras 
palavras, seremos aquilo que a sociedade espera que sejamos. 
Assim, se até certo ponto esse ideal é o mesmo para todos os cidadãos, há um momento em que os 
indivíduos devem se diferenciar, segundo os meios sociais particulares em que estão inseridos. 
Para o autor, a parte básica da educação é constituída por esse ideal, ao mesmo tempo, uno e diverso, que 
tem por função suscitar na criança: 
 
É a sociedade, em seu conjunto, e cada meio social, em particular, que determinam o ideal a ser realizado. 
Durkheim ressalta que a homogeneidade é importante, pois é a base onde os sistemas de educação 
específicos se fundamentarão. A educação a perpetua e reforça, fixando na criança certas similitudes 
essenciais, exigidas pela vida coletiva. 
É a heterogeneidade que torna a cooperação possível. A educação assegura a persistência dessa 
diversidade necessária, o que permite especializações. 
Se a sociedade chegou a um grau de desenvolvimento em que as antigas divisões em castas e em classes 
não podem mais manter-se, prescreverá uma educação mais una em sua base. Se, no mesmo momento, o 
trabalho está mais diversificado, provocará nas crianças, sobre um primeiro fundo de ideias e de 
sentimentos comuns, uma mais rica diversidade de aptidões profissionais. Se vive em estado de guerra 
com as sociedades envolventes, esforça-se por formar os espíritos com base num modelo fortemente 
nacionalista; se a concorrência internacional toma uma forma mais pacífica, o tipo de educação que 
procurará realizar é mais geral e mais humano. 
A evolução das sociedades 
É necessário observar alguns temas importantes na teoria do autor, que foi fortemente influenciado pelo 
darwinismo social e, por isso, estava totalmente convencido de que, como os organismos, as sociedades 
também evoluíam. Segundo Durkheim (1893), as sociedades passariam do estágio mecânico para o estágio 
orgânico. 
 
A formação que um futuro médico recebe é diferente daquela recebida pelo futuro engenheiro, que difere 
também da dispensada ao futuro advogado. Não podemos hoje, em nossa sociedade, conceber que só se 
formem ou engenheiros, ou advogados ou médicos. Advogados precisam dos serviços dos engenheiros, 
que precisam dos cuidados dos médicos e, assim por diante. 
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma área e o fato de ser leigo nas outras faz 
com que os profissionais de um campo dependam de outros profissionais. Durkheim utiliza o exemplo da 
paixão que ocorre entre o homem e a mulher que, por serem diferentes, se complementam, formando um 
todo. 
A educação como socialização das novas gerações 
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a 
vida social. Tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, 
intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio especial ao qual está 
particularmente destinada. 
Dessa definição podemos assumir que a educação é a socialização metódica das novas gerações. Cada 
membro da sociedade possui em si dois seres: 
 
Os indivíduos agem de acordo com as necessidades sociais e a sociedade impõe aos homens uma tirania 
muito forte. Mas, segundo Durkheim, os próprios homens desejam que isso ocorra porque o ser novo, que 
a ação coletiva cria em cada um de nós por intermédio da educação, representa o que há de melhor no 
homem, o que há de propriamente humano em nós. 
Na verdade, o homem só é homem porque vive em sociedade. Para comprovar essa afirmação, Durkheim 
mostra o desenvolvimento da moral, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento da linguagem, 
coisas que só podem acontecer na vida em sociedade. 
O Estado e a educação 
O Estado é a instituição social mais importante que tem influência sobre a educação, tendo mais peso que 
a família, segundo Durkheim. Não poderia ser de outra forma, dado o caráter coercitivo atribuído pelo 
autor à educação. 
A importância do Estado cresce à medida que assume uma função coletiva e busca a educação da criança 
na sociedade em que vive. Caberia a esse órgão esclarecer os princípios essenciais, fazer com que sejam 
ensinados nas escolas, cuidar para que as crianças não os ignorem e os respeitem. 
Durkheim era taxativo e afirmava que tudo que é educação deve estar em certa medida submetido à ação 
do Estado. Ele percebia a ausência de unidade moral em sua sociedade, e a presença de muitas 
concepções divergentes, por isso se preocupava com a escola e com os professores. 
A escola não pode ser pertença de um partido, e o professor falta aos seus deveres quando usa a 
autoridade de que dispõe para arrastar os seus alunos nos trilhos de seus próprios ideais, por mais 
justificados que lhe possam parecer. 
O papel do professor 
Para a ação educativa ser bem sucedida na transformação de um ser associal, como o bebê, em uma 
personagem bem definida que desempenhe um papel útil na sociedade, o educador deve agir como um 
hipnotizador. 
A criança, como o hipnotizado, está numa situação de passividade. Como a vontade infantil ainda é 
rudimentar, ela é facilmente sugestionável e acessível aos exemplos, e propensa à imitação. 
O professor exerce sobre seus alunos uma ascendência baseada na superioridade de sua cultura e de sua 
experiência. O educador deve ter, também, serenidade. 
Se professores e pais sentissem, de uma forma mais constante, que nada se pode passar diante da criança 
sem deixar nela alguma marca, que o moldar do seu espíritoe do seu caráter depende destes milhares de 
pequenas ações insensíveis que se produzem a cada instante e aos quais não prestamos atenção por causa 
da sua insignificante aparência, como zelariam mais pela sua linguagem e pela sua conduta! Seguramente, 
a educação não pode chegar a grandes resultados quando procede por safanões bruscos e intermitentes. 
Como o objetivo da educação é formar um ser novo, constrangendo o indivíduo e subjugando o egoísmo 
individual, não é possível formar o ser social através de brincadeiras e do prazer. É preciso então que o 
educador: 
• Desperte, com sua autoridade e sua ascendência moral, o senso de dever na criança. 
• Acredite e valorize a sua missão, pois ela é a voz de uma grande pessoa moral: a sociedade.

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