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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Cristiane Rodrigues de Oliveira © Copyright 2017 da Dtcom. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada pela Dtcom. Bibliotecária – Andrea Aguiar Rita CRB) O48c Oliveira, Cristiane Rodrigues de Comunicação e Expressão/ Cristiana Rodrigues de Oliveira. – 1. ed.– Curitiba: Dtcom, 2017. 152 p. ISBN: 978-85-93685-00-2 1. Comunicação. 2.Processo de Comunicação. 3. Comunicação Empresarial CDD 653.314 Reitor Prof. Celso Niskier Pro-Reitor Acadêmico Maximiliano Pinto Damas Pro-Reitor Administrativo e de Operações Antonio Alberto Bittencourt Coordenação do Núcleo de Educação a Distância Viviana Gondim de Carvalho Redação Dtcom Análise educacional Dtcom Autoria da Disciplina Cristiane Rodrigues de Oliveira Validação da Disciplina Marcio Mori Designer instrucional Milena Rettondini Noboa Banco de Imagens Shutterstock.com Produção do Material Didático-Pedagógico Dtcom Sumário 01 O processo de comunicação: a linguagem oral ................................................................. 7 02 O processo de comunicação: a linguagem escrita ..........................................................14 03 Funções de linguagem ..........................................................................................................21 04 Coerência .................................................................................................................................28 05 Coesão e elementos coesivos .............................................................................................35 06 Frase, período e oração .........................................................................................................42 07 Ortografia e o atual Acordo Ortográfico .............................................................................49 08 Uso dos pronomes .................................................................................................................57 09 Estudo dos verbos ..................................................................................................................64 10 Pontuação ................................................................................................................................72 11 Acentuação ..............................................................................................................................79 12 A estrutura do parágrafo .....................................................................................................86 13 Tipos textuais ........................................................................................................................93 14 Gêneros textuais .................................................................................................................. 100 15 Concordância nominal ....................................................................................................... 106 16 Concordância verbal ........................................................................................................... 114 17 Regência verbal .................................................................................................................... 121 18 Texto acadêmico ................................................................................................................. 129 19 A Produção Textual e o Uso de Paráfrase ...................................................................... 136 20 Leitura e compreensão textual ......................................................................................... 143 O processo de comunicação: a linguagem oral Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução A humanidade aprendeu a falar há mais de 100 mil anos e, graças a esta habilidade, somos capazes de estabelecer comunicação, transmitindo mensagens por diferentes canais. Neste contexto, precisamos entender que este processo, especialmente a comunicação oral, cujo propósito de interação é imediato, possui estratégias que possibilitam usufruirmos da maior habilidade que nos foi legada: a linguagem (NICOLA, 2014, p. 117). Objetivos de Aprendizagem Ao final desta aula, você deverá reconhecer: • a importância do domínio da oralidade; • criar estratégias de comunicação oral. 1 O processo de comunicação “Quem não se comunica se trumbica”. Certamente, você já ouviu esta frase eternizada pelo grande apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha. Abe- lardo Barbosa, como um bom comunicador de rádio e tevê, tinha a noção real da importância da comunicação para a vida. A palavra comunicação é oriunda do latim communicare, que tinha um caráter semântico de partilhar um conhecimento. Porém, de acordo com o dicionário da Academia Brasileira de Letras (ABL, 2008), a palavra comunicação tem sentido mais amplo, sendo o ato de transmitir e receber mensagens e a capacidade de dialogar a partir de um entendimento recíproco. SAIBA MAIS! A obra Curso de Linguística Geral, de Ferdinand Saussure, que explora a relação do significante e do significado dos signos, no caso específico da palavra, elucida e auxilia no entendimento do processo comunicativo humano. Desta forma, podemos dizer que a comunicação é interação social, cultural, ideológica e psi- cológica, e que envolve compartilhamento de mensagens, independentemente de seu conteúdo (AZEREDO, 2008, p. 53). – 7 – TEMA 1 Figura 1 - Compartilhamento de informações Fonte: Deepadesigns/Shutterstock.com Agora que entendemos o que é comunicação, conheceremos, no item a seguir, os elementos que compõem o seu processo. 1.1 Elementos que compõe o processo da comunicação O processo de comunicação humana é amplo. Saber quais são as suas principais caracterís- ticas é importante, uma vez que quem não se comunica com eficiência pode enfrentar dificuldades nas suas relações sociais e no mercado de trabalho. FIQUE ATENTO! Ao distinguir a oralidade da escrita, verificaremos a importância da oralidade na comunicação. Assim, é fundamental conhecermos como se estabelece o ato comunicativo, quando na fala e/ou na escrita. De acordo com Nicola (2014), os elementos abaixo são essenciais no ato comunicativo: • emissor (ou falante): cria e codifica a mensagem. O emissor é quem manipula o código; • receptor (ou interlocutor): é o participante da comunicação, ou seja, quem recebe a mensagem e/ou a quem se destina a mensagem; • mensagem: conteúdo que está sendo transmitido ou que se deseja transmitir. É a parte mais importante do ato comunicativo; • canal: meio pelo qual a mensagem é transmitida; • código: sistema no qual a mensagem será transmitida; • referente: tema que se transmite na mensagem. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 8 – Dentre estes recursos há, ainda, o contexto situacional, ou seja, o ambiente externo aos par- ticipantes do ato comunicativo, no qual se desenvolve o processo e a intenção do falante, que é o que se deseja, de fato, com a mensagem transmitida (NICOLA, 2014). EXEMPLO Quando um professor opta por dar uma aula expositiva para crianças de 5 anos com linguagem erudita, não há uma adequação da comunicação oral ao contexto situacional. Veja que, no mínimo, a situação comunicativa não se estabelecerá, já que os receptores da mensagem não estão preparados para receber informações numa linguagem própria para adultos. Figura 2 – O ato comunicativo Fonte: Monkey Business Images/Shutterstock.com Vimos que os elementos que compõem o processoda comunicação são indispensáveis ao nosso estudo, uma vez que sem eles não há o ato comunicativo. No item a seguir, trataremos da comunica- ção por meio da linguagem oral, compreendendo que ela está diretamente ligada a estes elementos. 1.2 O processo de comunicação por meio da linguagem oral Conhecer os recursos da linguagem, em especial os que envolvem a linguagem oral, é funda- mental para que a comunicação entre emissor e receptor seja eficaz e eficiente, e esteja adequada ao contexto em que está inserida (NICOLA, 2014). Lembre-se que comunicar é também ouvir o outro – respeitando o seu conhecimento prévio de entendimento para que a mensagem suscite, ainda, a resposta esperada dentro do contexto situacional. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 9 – A linguagem é a capacidade do homem de articular significados coletivos e compartilhá-los (TERRA, 1997). A linguagem se adequa à situação comunicativa e permite a socialização das pes- soas, porque se não houver uma interação entre o falante e o receptor, não haverá possibilidade de compreensão da mensagem, objetivo da comunicação. Assim, podemos dizer que linguagem é uma forma de transmissão de conhecimento (AZE- REDO, 2008), que pode ser tanto na forma verbal quanto não verbal. FIQUE ATENTO! A linguagem verbal é aquela que é falada ou escrita; e a linguagem não verbal é aquela que acontece por meio de símbolos, sinais, tanto os visuais quanto os sonoros. No ambiente escolar, de maneira geral, a ênfase é dada à escrita pois, tradicionalmente, não é costume ressaltar a aprendizagem e aplicação da fala aos diferentes contextos, dado que a gramá- tica normativa é, ainda, a variante de maior prestígio da língua. Porém há, neste sentido, um equí- voco, visto que a primeira manifestação da linguagem é a fala e não a escrita (MARCUSCHI, 2001). Assim, é fundamental reconhecer a importância da oralidade e, mais do que isso, dominar os recursos que são intrínsecos a ela, para que a comunicação atinja os objetivos desejados pelo emissor da mensagem. FIQUE ATENTO! A oralidade tem o mesmo valor de outras formas de comunicação (ou até mais) nos fins comunicativos, já que ela é impactante, acontece de modo imediato e rea- liza desde a comunicação informal até a formal. Na comunicação oral existem recursos que não são passíveis de utilização na linguagem ver- bal escrita. Não é possível, por exemplo, reproduzir com exatidão o sentimento, ou seja, o contexto psicológico em que se desenvolve uma conversação. Quando a linguagem oral é utilizada como meio de comunicação, ela tem um propósito bem definido: manter relações sociais. Figura 3 – A comunicação oral Fonte: Ollyy/Shutterstock.com COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 10 – SAIBA MAIS! Para saber mais sobre as diferenças entre a língua falada e a escrita, leia A Língua de Eulália: Uma Novela Sociolinguística, de Marcos Bagno. A obra encontra-se disponível para download, acesse: <ola.coop.br/articles/oceb/0042/9878/marcos bagno-alnguadeeullia1_ano_literatura.pdf>. Deste modo, recorremos comumente às conversações na forma de expressão oral, uma vez que é nesta manifestação que somos mais espontâneos e utilizamos expressões mais rápidas e diretas. Além disso, as trocas de temas também costumam ser frequentes e nem sempre ocasio- nam problemas de entendimento (na linguagem verbal escrita, certamente, ocasionaria). Nesta modalidade, costumamos enunciar frases inacabadas, ou até mesmo soltas. Porém, contamos com o apoio de expressões gestuais, de efeito, que complementam a comunicação, permitindo um entendimento claro por parte do interlocutor. Vimos, então, a importância da comunicação oral para a manutenção das nossas relações sociais. A seguir, entenderemos que algumas estratégias devem ser adotadas para que a comuni- cação oral se faça de modo eficaz. 1.3 Criando estratégias de comunicação oral Já entendemos a importância de empregar, em cada contexto, a linguagem oral adequada. Este conhecimento se aplica, por exemplo, em uma reunião de negócios, em que utilizamos uma linguagem oral mais formal, e em uma conversação familiar, ou entre amigos, em que usamos uma linguagem informal, que nos permite liberdade no uso de expressões (NICOLA, 2014). EXEMPLO Entrevistas para vaga de trabalho são consideradas situações formais. Logo, é adequado usar linguagem leve, polida, clara e objetiva, permitindo ao interlocutor conhecer a personalidade do falante e, assim, entender que ele sabe adequar a sua linguagem ao contexto situacional. Note que, na comunicação oral, o receptor recebe a mensagem ao mesmo tempo em que o emissor a transmite. Isto faz com que ela seja efêmera, ou seja, não se conserva; mesmo nos dias atuais, em que gravações com gadgets e/ou aplicativos permitem tamanha interação. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 11 – Figura 4 – Estratégias na comunicação oral Fonte: Dean Drobot/Shutterstock.com Porém, a mensagem oral, muitas vezes, precisa ser repetida para chegar no receptor. Neste caso, ela requer estratégias para que as intencionalidades comunicativas sejam cumpridas. Cada mensagem possui uma intenção, seja ela dar uma ordem, emitir um recado ou dar uma instrução. De acordo com Moraes (2008), toda a prática comunicativa oral requer estratégias, a saber: • evitar interferências de sons externos; • evitar ruídos fisiológicos – uma simples dor de cabeça pode interferir na propaga- ção da mensagem, já que gestos também interferem em como o receptor receberá a mensagem; • evitar divagar ao longo da enunciação – refletir demais, pausar durante a transmissão da mensagem; • evitar termos técnicos ou terminologias que o receptor desconhece. Estas estratégias mostram que, além de compreender a oralidade, deve-se criar técnicas de uso nas mais diferentes situações. Na linguagem oral, apesar de ser rápida e direta, há repetições de frases e, por vezes, de ideias, por isso é preciso utilizar as ferramentas necessárias para que ela se torne eficaz, com a mensagem entendida em sua plenitude. Fechamento Nesta aula, compreendemos o processo de comunicação, especialmente no que se refere à linguagem oral. Além disso, reconhecemos a importância do falante ter o domínio da oralidade durante os processos comunicativos. Vimos, também, que algumas estratégias podem ser cria- das para que a comunicação oral aconteça de maneira eficaz, objetiva e clara. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 12 – Nesta aula, você teve a oportunidade de: • aprender o que é comunicação e o que ela representa para o homem no contexto social; • distinguir comunicação e o ato comunicativo; • identificar os elementos que compõem o ato comunicativo; • compreender a diferença entre a oralidade e a escrita; • conhecer a importância da oralidade e entender a necessidade de se adequar ao ato comunicativo; • reconhecer a importância do domínio da oralidade; • aprender a criar estratégias para a comunicação oral. Referências ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS.Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008. BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália: Uma Novela Sociolinguística. 15. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2001. MORAES, Augusta Magalhães Carvalho. et al. Enciclopédia do Estudante: redação e comunica- ção; técnicas de pesquisa, expressão oral, e escrita. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2008. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003. NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. 1. ed. São Paulo: Scipione, 2014. NÓBREGA, Maria Helena da. Orientação bibliográfica para conhecer a atuação do profissional de letras. Universidade de São Paulo, 2015. Disponível em: <fflch.usp.br/sites/fflch.usp.br/files/Atua%C3%A7%C3%A3o%20Profissional%20em%20Letras.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2016. SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2012. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 13 – O processo de comunicação: a linguagem escrita Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução Nesta aula, entenderemos qual a relação que se estabelece entre a comunicação e a lingua- gem escrita, compreendendo a sua necessidade como uma das formas utilizadas para expressar e transmitir mensagens duradouras (MORAES, 2008). Você sabia que é por meio da escrita que conseguimos registrar a nossa história? E que a primeira grande utilidade da escrita foi gravar informações de interesses governamentais entre as cidades? No decorrer deste texto, faremos um trajeto para compreender a escrita como um legado e veremos que nem todas as línguas que existem no mundo apresentam esta modalidade como meio de comunicação. Objetivos de Aprendizagem Ao final da aula, você estará apto a: • entender que a escrita é a representação gráfica da fala; • compreender a escrita como função social. 1 A linguagem escrita A linguagem é composta por elementos distintos, sendo que o mais marcante, e imediato, é a fala. Porém, devemos nos atentar a outro elemento, que está igualmente presente em nossa comunicação: a escrita. FIQUE ATENTO! A primeira questão que devemos entender sobre a escrita é que ela é uma modalida- de arbitrária, ou seja, é uma criação humana, um sistema que foi convencionado a partir da fala, logo, a sua representação é gráfica. Não confunda língua com escrita. Em certo momento da história da humanidade, houve a necessidade da criação de um sis- tema que representasse as ideias e as palavras e, deste modo, permitisse a preservação das infor- mações trocadas, de modo não tão aleatório (TERRA, 1997). – 14 – TEMA 2 SAIBA MAIS! A língua, como vimos, é viva e muda conforme os tempos. Este processo também acontece na escrita. Para se aprofundar no assunto, leia “A linguagem escrita na era da tecnologia: Investigando a informalidade nas comunicações on line”, acesse: <http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/A-LINGUAGEM- ESCRITA-NA-ERA-DA-TECNOLOGIA-neilane.pdf>. Figura 1 – Dos símbolos à representação gráfica dos sons das palavras Fonte: In Green/Shutterstock.com EXEMPLO Imagine uma sociedade que comercializa seus produtos apenas de forma verbal, de uma pessoa para outra. Como fazer valer os acordos se eles não forem escritos? A escrita possibilita um registro permanente tanto para quem se compromete a vender quanto a pagar. Evolutivamente, os primeiros a criarem um sistema gráfico de representação da fala foram os mesopotâmicos, há mais de 5 mil anos. Em seguida, vieram os famosos hieróglifos egípcios e, na sequência, os fenícios, que desenvolveram o que há de mais próximo ao nosso alfabeto. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 15 – Figura 2– A escrita é a representação gráfica da fala Fonte: Kalomirael/Shutterstock.com Como você pôde observar até aqui, a escrita se consolidou aos poucos, atendendo às neces- sidades de cada povo, em diferentes contextos e tempos. A escrita foi sendo adaptada conforme a “fala” local, por isso, os idiomas costumam possuir influências de diferentes ramificações – como o português, que tem influências notórias do idioma árabe, posto que este povo circulava pela região do Lácio, onde era falado o Latim, precursor das línguas românicas. Esse processo era realizado a partir das necessidades linguísticas e, por consequência, passou por certas normatiza- ções. Dessa forma, ao passo que as primeiras representações gráficas da língua foram surgindo, apareciam também as primeiras gramáticas. No próximo item, vamos entender como se desenvolve a representação gráfica da língua e a sua relação com o signo linguístico. 1.1 O signo linguístico e a representação gráfica da língua Ao utilizarmos a linguagem, percebemos que um dos elementos fundamentais para a efe- tivação do propósito comunicativo é a palavra, cuja representação se dá por meio do signo linguístico (TERRA, 1997). EXEMPLO Imagine um quadro contendo a imagem de um gato, animal quadrúpede, perten- cente à família dos felinos. O que se vê é um signo e não um gato, ou seja, olhamos a imagem. Assim, o signo passa a ter duas unidades distintas, ligadas de maneira arbitrária pelo seu significado e significante. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 16 – O signo linguístico, conceito que irá auxiliar em nossa compreensão sobre a linguagem escrita, é a representação gráfica e sonora, concretizada com a ajuda de fonemas e letras do alfa- beto, ou seja, realizada a partir dos principais elementos da escrita (TERRA, 1997). Temos, então, que distinguir que a língua falada se faz por meio de uma representação sonora que, de maneira convencionada, concretizou-se por meio da escrita dos símbolos organizados a que chamamos de letras do alfabeto. Observe: GATO = Significado - imagem / representação psíquica Significante - G-A-T-O / sonoro e gráfico FIQUE ATENTO! Os signos linguísticos são visuais, isto é, possibilitam a expressão de uma ideia. Além de serem componentes básicos dos códigos, eles são arbitrários, convencio- nados, como já vimos. Da composição do signo linguístico, o nosso maior interesse é o significante, ou seja, a representação gráfica da palavra. Figura 3 – Signo: representação sonora e gráfica Fonte: Undrey/Shutterstock.com Como vimos, há uma relação de sentido entre o significado e o significante. Não podemos escrever “banana” quando queremos expressar a ideia de um meio de transporte, por exemplo. O mesmo se dá quando pensamos no significado da palavra “cadeira”, que, convencionada pelo homem, mantém relação significativa direta com a sua função, que é, a princípio, a de “acomodar as cadeiras; a região dos quadris”. Alguns signos são universais. Veja que ao fazermos um aceno de mão, ele será entendido universalmente. O que muda é o significante, de acordo com a língua pelo qual ele é representado. Os signos ainda podem ser classificados como ícone (guardam semelhança com o que represen- tam, como as fotografias), índice (mantém relação contínua com o que representam, como as marcas de pegadas, ou as nuvens negras sinalizando tempestades) e símbolo (marcas, logotipos, COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 17 – símbolos matemáticos, por exemplo). O símbolo é o que se fundamenta de maneira social, ou seja, há uma relação de sentido entre significante e significado (TERRA, 1997). Aqui, ainda, é importante reforçar que os aspectos não verbais (ou paralinguísticos) que constituem os signos, acompanhando a comunicação verbal, também devem ser diferencia- dos da linguagem escrita. SAIBA MAIS! Na obra De onde vêm as palavras, de Deonísio da Silva, encontramos uma verdadeira viagem pela Língua Portuguesa, além de curiosidades sobre como certas palavras e expressões foram grafadas e, assim, ganharam outros significados. Agora que já compreendemos que o signo linguístico é arbitrário, convencionado pelo homem, e que na linguagem escrita o que mais nos interessa é o seu significante, vamos entender como ele se manifesta socialmente na linguagem escrita. 1.2 A importância social da linguagem escrita A escrita é a modalidade que representa a fala, mas diferente desta, ela é rígida e não conta com os recursos e elementos que auxiliam na comunicação oral. Em geral, ambas são confundidas em seus respectivos usos pelos falantes, o que acaba sempre comprometendo a comunicação. Em outros termos, oralidade e escrita não se misturam, pois não escrevemos como falamos, uma vez que a linguagem escrita possui regras rígidas e definidas (MORAES, 2008). Assim, fala e escrita se distinguem justamente no momento em quefazemos o uso das duas modalidades linguísticas. Figura 4 – A linguagem escrita e suas regras Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock.com COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 18 – FIQUE ATENTO! A escrita necessita de regras as quais devem ser seguidas – sujeito, verbo e com- plementos, ou, em termos textuais, introdução, desenvolvimento e conclusão – para que o leitor da mensagem, não ouvinte, consiga identificar com exatidão e clareza o que se pretende com aquele ato comunicativo (MORAES, 2008). Sem dominar as articulações da linguagem escrita é muito difícil expressarmos com clareza, objetividade, eficiência e, principalmente, conseguirmos alcançar as intencionalidades que são propostas e planejadas durante a produção da comunicação escrita. Deste modo, devemos compreender que a escrita apresenta uma função social. Adequar a linguagem escrita a contextos, como em uma proposta de trabalho, carta de amor, e-mail, entre outros, é fundamental para a comunicação humana. Sem esta adequação, as mensagens trans- mitidas e a relação entre emissor e receptor ficam comprometidas. Vale lembrar que não há certo ou errado em linguagem, mas o que está adequado ou inadequado ao contexto (TERRA, 1997). No processo comunicativo escrito há outro fator que promove interferência, tanto na clareza das mensagens emitidas quanto na recepção e entendimento delas: a intertextualidade. Pois, ao dominar as articulações da escrita, podemos “colocar um texto dentro do outro”, reescrevendo-os, reinventando-os, de modo que a própria escrita vai ganhando novos contornos e significações. Vimos, então, que a escrita é objetiva, possui articulações arbitrárias, mas que convém domi- ná-las, uma vez que este é o meio de linguagem que possui maior prestígio social. Fechamento Com a compreensão do que é a linguagem escrita, concluímos o estudo relativo ao processo de comunicação. Agora, você já entende que a escrita é a representação gráfica da fala e, certa- mente, compreende que a escrita possui uma função social. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer a história do surgimento da escrita; • aprender que o signo linguístico é arbitrário e se forma a partir de um significado e significante; • identificar que o significante do signo é a representação gráfica da fala; • compreender que a escrita se distingue da fala, embora tenha surgido dela; • entender que a escrita estrutura-se de maneira rígida; • aprender que a linguagem escrita possui uma função social. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 19 – Referências MORAES, Augusta Magalhães Carvalho et al. Enciclopedia do Estudante: redação e comunicação; técnicas de pesquisa, expressão oral, e escrita. São Paulo: Moderna, 2008. TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997. HORCADES, Carlos Martins. A evolução da escrita: uma história ilustrada. São Paulo: SENAC, 2004. SILVA, Deonísio. De onde vêm as palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Mandarim, 1997. VIANA, Neilane de Souza. A linguagem escrita na era da tecnologia: Investigando a informalidade nas comunicações on line. Revistas Vozes dos Vales: Universidade Federal dos Vales dos Jequitinhonha e Mucuri. n. 02. Ano 1. out. 2012. Disponível em: <site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/ A-LINGUAGEM-ESCRITA-NA-ERA-DA-TECNOLOGIA-neilane.pdf>. Acesso em: 19 jul 2016. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 20 – Funções de linguagem Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução Você sabia que a transmissão de uma mensagem está centrada na intenção do falante em relação à mensagem que se deseja transmitir? A comunicação verbal se vale das funções da lin- guagem para alcançar o receptor da mensagem em sua totalidade. Nesta aula, vamos conhecer quais são as funções de linguagem e em quais situacionalidades elas são aplicadas. Objetivos de Aprendizagem Ao final deste estudo, você será capaz de: • compreender que é necessário adaptarmos a linguagem para cada situação de comunica- ção, uma vez que ela pode variar dependendo do receptor, contexto ou da intencionalidade; • entender as funções da linguagem e o seu desdobramento na fala e na escrita. 1 O que são funções de linguagem? As funções de linguagem são formas de transmitir uma mensagem de modo que ela seja compreendida em sua totalidade e alcance as intenções do emissor para com o receptor. Assim, as funções não são maneiras de escrever aleatórias, ou apenas regras gramaticais que devem ser aplicadas ao ato comunicativo. Para Nicola (2014,) as funções de linguagem são recursos que atuam na mensagem de acordo com as intenções do emissor. Segundo o linguista Roman Jakobson (1896-1992), há seis funções de linguagem, dentro das quais são privilegiados os elementos do ato da comunicação, ou seja, o emissor, receptor, men- sagem, canal, código e referente. As seis funções de linguagem são: referencial, fática, conativa, emotiva, poética e metalinguística (JAKOBSON, 1973). Nos próximos itens, entenderemos quais são as características destas funções de lingua- gem e as aplicações em seus respectivos elementos do ato comunicativo. 1.1 A mensagem centrada no referente Partimos da função referencial (também conhecida como denotativa), que tem por finali- dade produzir sentido informativo, ou seja, a intenção é a de transmitir dados da realidade de maneira direta, fazendo uso de palavras empregadas em sentido estrito, nos quais prevalece o uso da terceira pessoa do discurso. Além disso, emprega-se a ordem direta, como observamos em – 21 – TEMA 3 textos didáticos, jornalísticos e científicos. Nesta função, o texto estará centrado no referente, isto é, na informação (NICOLA, 2014). EXEMPLO Você certamente lê notícias, quer sejam impressas quer sejam on-line, correto? Nas notícias, a linguagem é direta, clara, objetiva e centrada na terceira pessoa. Isto acontece porque a intenção do emissor da mensagem é a de informar algo sobre os fatos. Atente-se, ainda, para este texto que você está lendo agora. Aqui, a função de linguagem predominante é a referencial, pois o nosso objetivo é o de informar a você sobre importantes recursos da linguagem. Figura 1 – As intencionalidades de uma mensagem por meio das funções de linguagem Fonte: lassedesignen/Shutterstock.com Se, por um lado, a função referencial costuma ser a mais objetiva e direta, centrada no refe- rente, por outro, há a função que é centrada no interlocutor, ou seja, no próprio destinatário da mensagem. Trata-se da função conativa, ou apelativa, que veremos a seguir. 1.2 A função centrada em quem recebe a mensagem A função conativa é aquela em que o foco predomina no receptor, o alvo da mensagem é o receptor. O emissor, neste caso, está apelando (por isso, é também chamada de função apelativa), no sentido de seduzir, influenciar, persuadir e estimular o receptor a adotar o comportamento pre- tendido por ele (NICOLA, 2014). Esta é a função característica dos textos publicitários, discursos políticos, textos instrucio- nais, horóscopos, entre outros. Na função conativa, os verbos são utilizados no imperativo e na COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 22 – segunda pessoa do discurso (tu/vós). Além disso, outros elementos comuns são os vocativos, pronomes de tratamento e o emprego da ambiguidade. EXEMPLO Um texto que traga dicas de etiqueta para enviar e receber e-mail é um bom exemplo de uso da função apelativa ou conativa da linguagem. Nele, todas as frases serão cen- tradas no interlocutor, já que a intenção é a de interferir no seu comportamento. Além disso, os verbos utilizados para compor a mensagem estarão sempre no imperativo. Há sempre uma luz para guiá-lo na escuridão da noite. Disque TAXI 0200 100 100 Figura 2 – Nas propagandas predomina a função conativa da linguagemFonte: donatas1205/Golden Sikorka/Shutterstock.com (Adaptado). FIQUE ATENTO! Mesmo em uma mensagem em que haja o predomínio de uma determinada fun- ção, poderá haver outras. No caso das propagandas, por exemplo, é possível per- ceber a função poética, já que esta possui particularidades que atuam diretamente nas construções de frases e palavras. Agora, vamos conhecer como se aplica a função poética. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 23 – 1.3 A função centrada na estética do texto Em alguns textos, a linguagem costuma ser mais trabalhada que em outros. É o caso daque- les que apresentam o que Nicola (2014, p. 178) chama de “combinação de palavras, em que se coloca em evidência o lado palpável, material dos signos”, com vistas ao estético. Nesta situação, o falante da língua procura obter elementos como o ritmo, a sonoridade e o belo (a partir de ima- gens), exercitando a função poética da linguagem. A função poética privilegia a construção e a forma como a mensagem será organizada. Entenda que, aqui, o foco não está no que ela transmite, mas sim na sua própria construção, e, por esta razão, destacamos a seleção das palavras na organização dos parágrafos (NICOLA, 2014). Figura 3 – A função poética trabalha com a estética do texto Fonte: Gajus/Shutterstock.com SAIBA MAIS! O trabalho estético com a linguagem é a premissa para qualquer artista que trabalha com as palavras. O filme “O carteiro e o poeta” (1994) retrata a amizade entre o poeta Pablo Neruda e o seu carteiro pessoal, que deseja aprender como trabalhar as palavras e a arte poética. Assista ao filme! Agora, trataremos da função que atua sobre o canal de comunicação. 1.4 A função centrada no canal de comunicação A função fática da linguagem apresenta uma preocupação do falante em manter o contato com o seu interlocutor, uma vez que foca no canal de comunicação (NICOLA, 2014). Nela, o emis- sor procura testar a eficiência deste canal, prolongando ou não o contato com o receptor. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 24 – Note que a função fática possui o mesmo efeito de um aceno de mão ou de um cumpri- mento com um movimento da cabeça. Nesta função, predominam frases como “Oi, você está me ouvindo?”, ou “Então?”, ou ainda “Veja bem”. FIQUE ATENTO! Quando tratamos da teoria da comunicação, o canal é o suporte material ou senso- rial por meio do qual se faz a comunicação. Podemos dizer, ainda, que se trata do meio utilizado para enviar um sinal do emissor para o receptor. A seguir, veremos duas outras importantes funções, que objetivam trabalhar a expressividade e a própria linguagem. 1.5 A função centrada na expressividade O uso de interjeições e da primeira pessoa do discurso são indicadores da função emo- tiva (ou expressiva) da linguagem. Sinais de pontuação como reticências, pontos de exclamação, assim como a presença das interjeições, marcam esta função. Para entender, leia o trecho a seguir, extraído do romance “São Bernardo”, de Graciliano Ramos. [...] ‘É horrível’ Se aparecer alguém... Estão todos dormindo. Se ao menos a criança choras- se... Nem sequer tenho amizade a meu filho. Que miséria! Casimiro Lopes está dormindo. Marciano está dormindo. Patifes! (RAMOS, 1996, p. 191). O autor, ao descrever a cena para o leitor, posiciona-se em relação ao tema que está tratando por meio do uso de algumas interjeições, como “Que miséria!”. Isto quer dizer que, de maneira sub- jetiva, ele expressa os seus sentimentos e emoções. Figura 4 – As interjeições são recursos da função emotiva Fonte: Sangoiri/Shutterstock.com COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 25 – FIQUE ATENTO! Interjeições são palavras invariáveis da língua, cuja função é justamente a de expri- mir emoções, estados da alma, procurando agir sobre o interlocutor. Agora, conheceremos a última função de linguagem: a metalinguagem. 1.6 A função centrada na linguagem Para compreendermos a função metalinguagem, primeiro, devemos saber que o termo “palavra” significa “a linguagem que é utilizada para descrever ou formalizar outra linguagem” (ABL, 2008, p. 853). Visto isso, podemos entender que quando a metalinguagem é utilizada, há uma preocupação do falante voltada para o próprio código, em outras palavras, o tema da mensagem é utilizado para explicar a própria linguagem. SAIBA MAIS! As funções de linguagem estão presentes em todos os tipos de textos, inclusive os de caráter acadêmico. Para entender melhor o uso das funções em textos científicos, leia o artigo “A prevalência de uma função de linguagem no texto acadêmico”, de Maria Lucia Moutinho Ribeiro (UNIRIO). Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xcnlf/3/03.htm>. Lembre-se de que nos textos verbais, o código é a língua. Então, quando usamos a língua para explicar a própria língua, estamos fazendo uso da metalinguagem. Fechamento Nesta aula, vimos que as funções de linguagem são: a referencial; emotiva; conativa; meta- linguística; poética; e fática. Além disso, entendemos que elas são fundamentais no momento em que estabelecemos a comunicação de modo eficiente. Com este conteúdo, você teve a oportunidade de: • compreender que é necessário adaptar a linguagem para cada situacionalidade de comunicação; • entender que a linguagem pode variar conforme o receptor, contexto, ou intencionalidade; • conhecer as seis funções de linguagem, assim como os seus usos; • perceber quais são os desdobramentos das funções de linguagem em diferentes textos e situações comunicativas. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 26 – Referências ABL. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de Letras. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1973. NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo, Scipione, 2014. O CARTEIRO e o poeta. Direção de Michael Radford. Itália, Miramax Films, 1994. RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 35. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. RIBEIRO, Lucia Maria Moutinho. A prevalência de uma função da linguagem no texto acadêmico. Cadernos do X Congresso Nacional da Linguística e Filologia, Rio de Janeiro, ago. 2006. Disponível em: <www.filologia.org.br/xcnlf/3/03.htm>. Acesso em: 21 jul. 2016. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 27 – Coerência Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução Certamente, você já deve ter ouvido a seguinte frase “este texto está incoerente” ou ainda “falta coerência nas ideias”. Mas será que você sabe o que é coerência? Sabe de fato como ela atua na prática? Nesta aula, iremos compreender o conceito de coerência e reconhecer os tipos de coerência textual. Além disso, perceberemos que a coerência é imprescindível, tanto para o processo de lei- tura e interpretação de textos quanto para a produção de textos. Objetivos de aprendizagem Ao final deste estudo, você estará apto a: • compreender o conceito de coerência; • reconhecer os tipos de coerência textual. 1 O que é coerência? Há muitas discussões sobre a conceituação do que é coerência. No entanto, em última aná- lise, podemos afirmar que a coerência é a relação lógica entre ideias e fatos, entre discurso e ação, que irá acarretar em uma congruência, em uma coesão, de sentido único (ABL, 2008). Em outras palavras, coerência é dar sentido lógico a um texto, formando um todo compreensível aos leitores, que possa ser assimilado dentro do princípio de interpretabilidade do receptor em uma situação comunicativa (KOCH, 2015). FIQUE ATENTO! Para termos coerência em um texto, não podemos escrever um amontoado de pa- lavras de maneira aleatória, ou seja, que não constituam uma informação lógica, que faça sentido para o receptor durante o ato comunicativo. Nestes termos, a coerência é um princípio que deve ser global em um texto, já que ele forma um todo.Assim, as informações que estiverem elencadas nos diferentes textos podem estabelecer um sentido unitário global em uma forma de organização superior, relacionando elementos entre si. – 28 – TEMA 4 EXEMPLO Na situação comunicativa, “Mariana tinha feito a comida quando chegamos e ainda estava fazendo” não é possível estabelecer um todo de sentido unitário, porque o trecho não foi construído dentro de uma linha de raciocínio lógica e, portanto, apon- ta incoerência entre as ações enunciadas. Figura 1 – A coerência atribui sentido ao texto Fonte: iDesign/Shuttersctock.com Agora, para trabalharmos efetivamente o tema da aula, precisamos conhecer quais os tipos de coerência que podem estar presentes em um texto. 2 Os tipos de coerência Para evitarmos a incoerência nos textos, temos que ficar atentos às construções textuais e combinações linguísticas. Desta forma, podemos elencar dois tipos de coerência que devem ser empregadas no momento de realizarmos as produções textuais: a coerência global, que diz respeito ao texto em sua totalidade; e a coerência local, referente a uma parte do texto, ou frases sequenciais dentro de um texto. Segundo Kock (2015), a coerência global é aquela que advém do próprio texto em sentido uni- tário, geral. Já a coerência local provém da combinação dos elementos da língua em sequências menores, para expressar sentidos que possibilitem a realização de uma intenção comunicativa. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 29 – Figura 2- A coerência textual pode ser local ou global Fonte: sergingn/Shutterstock.com Dentro destes dois tipos de coerência, ainda podemos elencar quatro formas de se realizar a coerência textual. Segundo Koch (2015), estas formas são: • coerência semântica: realiza-se a partir da relação entre os significados das palavras, componentes de frases, em sequência, em um texto e/ou entre os elementos como um todo; • coerência sintática: refere-se diretamente aos recursos gramaticais utilizados para expressar coerência semântica, como os conectivos, os pronomes e os sintagmas nominais definidos e os indefinidos; • coerência estilística: refere-se aos elementos linguísticos pertencentes ao mesmo estilo ou registro da língua (no caso de usar a norma culta, ou marcas de oralidade em um texto); • coerência pragmática: está diretamente relacionada à sequência de atos de fala, que podem ser apropriadas ou não à situação comunicativa. FIQUE ATENTO! A relação de sentidos das palavras selecionadas para compor um texto costuma ser um dos problemas mais graves de coerência, ao lado da incoerência sintática. Muitas vezes, na produção de textos, há problemas com a questão do mal uso de conectivos, conjunções, preposições e até mesmo pontuação, além do uso de pala- vras, cujos sentidos não se aplicam ao contexto. Vimos que a coerência textual se dá por meio das combinações de vários elementos, quer sejam palavras e ou expressões, quer sejam recursos gramaticais específicos. Agora, vamos tratar da relação existente entre a coerência e o texto. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 30 – 3 A coerência e o texto O processo de coerência é “subjacente, reticulada, portanto, totalmente linear com as estrutu- ras articuladas em um texto” (KOCH, 2015, p. 47). Isto significa dizer que a coerência se relaciona diretamente com a coesão textual. Por coesão, devemos entender a ligação, a relação, ou seja, as conexões que se estabelecem diretamente por meio de marcas linguísticas constituintes da tes- situra textual (conjunções, preposições, pontuação), visto que estas se manifestam integralmente na composição sequencial do texto. Esta relação existe porque tais marcas são ‘pistas’ fornecidas ao longo da produção textual. EXEMPLO No enunciado “João foi à festa, todavia não tinha sido convidado”, não há coerência entre a primeira oração que compõe a afirmação em relação à segunda. A incoerên- cia no trecho se deve ao fato de que a conjunção “todavia” pressupõe uma ideia de continuidade, que não aconteceu, ou seja, não está presente no texto. Lembre-se de que as conjunções, mecanismos de coesão, atribuem coerência ou incoerência ao conjunto de ideias elencadas em um texto. Figura 3 – A relação entre a coerência e o texto Fonte: Atstock Productions/Shutterstock.com No entanto, cabe aqui ressalvar que apenas a coesão (o uso dos elementos linguísticos ade- quadamente) não irá garantir a coerência em um texto. Para que isto seja possível é necessário utilizar outros recursos exteriores ao texto, como conhecimento de mundo, conhecimentos acerca dos interlocutores, da situação e da aceitabilidade, sobre os quais trataremos adiante. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 31 – 4 A coerência e o sentido do texto A coerência de um texto é decorrente de uma série de fatores que nem sempre estão ligados diretamente aos elementos linguísticos e que são elencados no momento da produção textual. O conhecimento de mundo é um dos primeiros fatores extralinguísticos da coerência. Este conhecimento deve ser observado com elevado grau de importância (NICOLA, 2014). Observe que, ao lermos um texto que trata de um assunto totalmente desconhecido, ele nos parecerá completa- mente incoerente, pois estará destituído de sentido. O conhecimento de mundo é adquirido à medida que vamos experenciando vários fatores e, ao armazená-los na memória, ganham significação. SAIBA MAIS! Para compreender com mais profundidade o mecanismo existente entre o texto e a coerência, leia “O texto e a construção dos sentidos”, de Ingedore Villaça Koch. No livro, em uma linguagem acessível, a autora aborda os procedimentos que envolvem a produção textual, dando o enfoque na coerência. À medida que vamos adquirindo conhecimento de mundo, vamos também armazenando informações. Ainda assim, é impossível que duas pessoas tenham experiências que sejam exata- mente simultâneas. Isto acontece porque, em uma mensagem, há uma interligação entre emissor e receptor, ou seja, eles irão compartilhar conhecimentos comuns, mas ao marcar a intencionali- dade de um texto, o emissor deve considerar o quanto o receptor conhece sobre tal assunto. FIQUE ATENTO! Quando se pensa em conhecimento de mundo e conhecimento compartilhado, quanto maior for a parcela de conhecimentos comum, menor será a necessidade de explicitude do texto, pois, em caso de haver lacunas na compreensão, inferên- cias poderão ser realizadas (KOCH, 2015). A inferência é outro recurso extralinguístico que permite a coerência em um texto. Mas ela não acontece aleatoriamente, pois deve estar diretamente ligada às questões de conhecimento de mundo e conhecimento compartilhado. Realizar a inferência é tentar compreender e interpretar o texto, ou ainda, buscar segmentos presentes nele, partindo apenas do conhecimento prévio que temos sobre o assunto. Veja que os textos que lemos exigem, quase o tempo todo, que façamos algum tipo de inferência. SAIBA MAIS! O processo de coerência textual é um assunto largamente explorado, devido à necessidade de entendimento de sua aplicação nas produções de diferentes tipos e gêneros. Para saber mais sobre o tema, leia o artigo “A construção do texto; coesão e coerência textuais; conceito de tópico”, de Maria Lúcia Mexias Simon. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/revista/40suple/a_construcao_de_texto.pdf>. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 32 – Também existem os fatores de contextualização, os quais auxiliam na decodificação das mensagens. Todos os textos trazem algum tipo de informação sobre o tipo de texto (como carta, crônica, entre outros) ou sobre o próprio assunto que será abordado. Ao lado dos fatores, temos também a situacionalidade, que se refere à situação comunicativa que é estabelecida pelo texto. Não podemos deixar de abordar a questão da intertextualidade, que serefere ao conheci- mento prévio de outros textos. Na coerência, por meio da intertextualidade, é fundamental que haja, por parte de quem decodifica a mensagem, um conhecimento de outros textos que abordem o mesmo tema de formas distintas entre si. A intencionalidade e a aceitabilidade são, necessariamente, dois mecanismos para esta- belecer coerência textual. A intencionalidade refere-se diretamente à forma como os emissores usam os textos para conseguir atingir os seus objetivos comunicativos. Assim, a aceitabilidade acaba sendo parte constituinte da intencionalidade, visto que “é um postulado básico que rege a comunicação humana, de cooperação, quando duas pessoas interagem por meio de linguagem, uma vez que elas se esforçam para compreender o sentido do texto” (KOCH, 2015, p. 98). Figura 4 – Fatores de Coerência são a chave para elaboração de um texto Fonte: Maksim Kabakou/Shutterstock.com Conhecer os tipos de coerência textuais é fundamental para compreender e transmitir men- sagens com eficiência, visto que esta compreensão garante a comunicação entre as partes envol- vidas em um ato comunicativo. Fechamento Concluímos a aula relativa à coerência. Agora, você compreende que a coerência é a relação lógica entre as ideias concatenadas em um texto, formando um todo que possui significação. Com esta aula, você teve a oportunidade de: COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 33 – • compreender o conceito de coerência; • aprender que, em um texto, há a coerência global e local; • identificar que um texto pode ser incoerente, caso os recursos linguísticos não estejam construídos de maneira adequada; • conhecer que existe a coerência semântica, sintática, estilística e pragmática; • entender que é a coerência o princípio de construção de um texto; • conhecer os tipos coerência que geram a textualidade. Referências KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2014. ______. TRAVALLIA, Luis Carlos. A coerência textual. 18. ed. São Paulo: Contexto, 2015. NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo, Scipione, 2014. SIMON, Maria Lucia Mexias. A construção do texto; Coesão e coerência textuais; Conceito de tópico. I Simpósio de Estudos Filológicos e Linguísticos, Universidade estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. mar. 2008. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/revista/40suple/a_construcao_de_ texto.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2016. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 34 – Coesão e elementos coesivos Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução Você sabe o que é coesão? Sabe de fato como identificar e empregar corretamente elemen- tos coesivos em uma produção textual? Nesta aula, iremos compreender o conceito de coesão e identificar os elementos coesivos em uma produção textual. Além disso, compreenderemos que a coesão é imprescindível, tanto para o processo de escrita quanto para construir coerência dentro do próprio texto. Objetivos de aprendizagem Ao final deste estudo, você será capaz de: • compreender o conceito de coesão; • identificar e empregar corretamente os elementos coesivos na produção textual. Vamos lá! 1 O que é coesão textual? Certamente, você já deve ter ouvido que “um texto não está coeso”, ou que “está faltando coesão entre as partes que constituem o enunciado”. Isto acontece quando não encontramos as ligações que são efetuadas entre as várias partes de um texto, ou seja, não há coesão textual. A coesão textual é, portanto, quem forma a tessitura, isto é, o próprio texto, que ganha sentido, uni- dade e coerência (NICOLA, 2014). A tal tessitura, que permite a unidade textual, é a articulação das relações semânticas (uso adequado dos sentidos das palavras na composição do texto), assim como a articulação dos elementos linguísticos (uso de determinados elementos gramaticais, como as conjunções), que devem estar em consonância, ao longo do texto. Veja que, em um enunciado, se não efetuarmos as duas combinações, não haverá susten- tação das informações dadas, ou seja, não ocorrerá a efetiva transmissão da mensagem de uma forma plena e adequada (NICOLA, 2014). EXEMPLO Observe que na sentença “Joãozinho ficou doente, e fez a prova”, não há uma rela- ção de sentido entre o que é informado na segunda oração, com relação à primeira. O uso da conjunção aditiva “e”, embora “ligue as duas orações”, não oferece o sen- tido exato da mensagem, causando incoerência entre o que é informado ao leitor. – 35 – TEMA 5 Figura 1- A coesão é o processo que liga palavras acrescentando sentido ao texto Fonte: alphaspirit/Shuttersctock.com FIQUE ATENTO! A coesão bem empregada evita repetições desnecessárias de termos (palavras) ao longo de um texto. Estas repetições contrariam o princípio da coesão e da coerên- cia, que é justamente uma das atribuições dos textos de qualidade (NICOLA, 2014). A coesão textual ocorre quando a compreensão de algum elemento no discurso é depen- dente de outro. Deste modo, a coesão pode ser entendida como um elemento que pressupõe o outro, e a sua ausência, ou o uso inadequado de alguma parte, decorre em problemas diretamente relacionados à construção do texto. Agora que já compreendemos o conceito de coesão textual, vamos identificar as coesões lexicais e aprender a empregá-las de modo adequado nas produções textuais. 2 Os principais mecanismos de coesão lexical Segundo Koch (2014, p. 16), “a coesão é uma relação semântica entre um elemento do texto e outro” que tenha muita relevância, para que haja o estabelecimento da compreensão da mensa- gem. Assim, ela está ligada à maneira como as palavras e as frases que compõem um texto (os chamados componentes da superfície textual) se conectam entre eles, em uma sequência linear, por meio de dependências de ordem gramatical. FIQUE ATENTO! Campo lexical e campo semântico referem-se diretamente às palavras que cons- tituem um texto. Quando falamos em estabelecer sentido por meio de relação se- mântica e lexical, enfatizamos que a palavra que virá depois deve estar ligada à que veio antes, com o propósito de criar um “elo” entre as informações. As palavras que pertencem a um mesmo campo lexical estão ligadas pela ideia entre elas; já as palavras que pertencem a um mesmo campo semântico, estão conectadas pelo universo que elas representam. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 36 – Há vários mecanismos de coesão lexical. Em destaque, temos os mecanismos de repetição e o da substituição, também conhecido como coesão referencial. Além disso, há a sinonímia, a hiperonímia, hiponímia e o campo semântico (NICOLA, 2014). • Coesão por repetição A coesão por repetição, ou por reiteração, consiste em reiterar, repetir, em um texto, um termo ou termos da mesma família lexical. Para compreender o tema, atente para o exemplo: “Na ecologia, trata-se do meio ambiente, da natureza, com respeito. Aplicar os cuidados com a natureza é papel do ambientalista”. As palavras “ecologia”, “ambiente”, “natureza” e “ambientalista” pertencem ao mesmo campo lexical. Figura 2- Há diferentes mecanismos de coesão lexical Fonte: pathdoc/Shuttersctock.com • Coesão por substituição A coesão por substituição é o mecanismo que permite, ao longo da construção textual, a substituição de um termo por outro, evitando, entre outros problemas, o da repetição desnecessária, que é uma das questões mais graves na produção de textos. Veja: “Pedro comprou um carro novo e José também”. Neste exemplo, as palavras “e” e “também” substituíram os termos anteriores, evitando repetições. SAIBA MAIS! Para entender mais sobre os elementos de coesão e como articulá-los na produção de textos científicos, leia o artigo “A coesão textual em artigos científicos”, de Claudiene Diniz da Silva (UFMG) e Lidiany Pereira dos Santos (UFPI). Neste trabalho,as autoras baseiam-se em diferentes pressupostos teóricos para demonstrar a importância do domínio do mecanismo de coesão no momento de produzir trabalhos científicos. Acesse: <http://revista.uft.edu.br/index.php/entreletras/article/ viewFile/1328/8140>. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 37 – • Sinonímia A sinonímia se baseia na substituição de um termo por outro, ou até mesmo por uma expressão que tenha a mesma equivalência de significado. No enunciado a seguir, os termos em destaque são exemplos de coesão por substituição: “A nave espacial subiu mais de 80 km, mas para conquistar o posto de melhor aeronave, o veículo espacial ainda precisa subir mais 200 km”. FIQUE ATENTO! Quando voltamos a uma informação já mencionada no discurso, há uma coesão recorrencial. Este tipo de coesão se caracteriza pela repetição estabelecida com algum elemento dito anteriormente. Esta repetição não funciona como na coesão referencial, quando fazemos referência, pois trata-se de um resgate de algo que já foi dito, de modo associativo. • Hiperonímia e hiponímia Já o mecanismo de coesão por meio de hiperonímia e hiponímia são, para Nicola (2014, p. 190), “dois polos de uma mesma relação”. Isto porque hiperonímia significa uma pala- vra que designa toda uma classe ou conjunto; e a hiponímia, por sua vez, designa um elemento pertencente a uma classe ou conjunto. Observe o exemplo: “A Orquestra de cordas H.A – a big band – vale-se de instrumentos de cordas – violoncelo, violino, violão – para revisitar o universo de Mozart”. Aqui, o termo instrumento é hiperônimo, que engloba o hipônimo “cordas”, que por sua vez, também é hiperônimo dos hipônimos “violoncelo, violino, violão”. • Campo semântico Este mecanismo de coesão se dá por meio do uso do campo semântico, ou seja, explo- ram-se sinônimos de uma mesma palavra para não haver repetições. Assim, retomamos uma ideia apresentada, por meio de outra palavra que faça parte do mesmo universo. EXEMPLO Leia: “Como todos os anos, milhares de vestibulandos brasileiros concorrem às vagas disputadíssimas dos principais vestibulares do país. O curso para medicina, por exem- plo, em uma média geral, traz mais de 33 candidatos por vaga, nas universidades federais. Esta, sem dúvida, ainda é a carreira mais concorrida”. No trecho, os termos destacados designam termos relacionados a um mesmo universo, o do vestibular. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 38 – Figura 3 – A coesão é o quebra-cabeças do texto Fonte: 3DDock/Shuttersctock.com Vimos, portanto, que os mecanismos de coesão lexical referem-se ao universo das próprias palavras, que vão recuperando seus sinônimos, à medida que estão formando elos ao longo do texto. Agora, vamos entender como se elencam os mecanismos de coesão gramatical. 3 Os principais mecanismos de coesão gramatical Os mecanismos de coesão gramatical, ou de coesão sequencial, são os meios pelos quais o texto progride sem a retomada de termos que já foram explicitados. Então, a coesão gramatical é a aplicação sequencial do que chamamos de operadores gramaticais, como artigos, pronomes, adjetivos, tempos verbais, advérbios e conjunções adverbiais, todos exercendo algum tipo de fun- ção em relação aos substantivos e auxiliando na composição da unidade de um texto. Aqui, damos destaque para o uso dos conectivos (conjunções e pronomes), advérbios, e ao processo de elipse (supressão de uma palavra já apresentada no trecho e substituída por meio de uma vírgula) (NICOLA, 2014). A construção do mecanismo de coesão por meio da elipse é uma das formas mais usadas, visto que produz um texto mais suave e limpo. Veja: “Leve o frango ao forno já preaquecido a 180ºC, quando estiver bem assado, sirva-o”. Note que, na segunda oração, o termo “frango” foi omitido, ou seja, houve uma elipse, facilmente reconhecível no contexto. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 39 – Figura 4 – A coesão está ligada à coerência do texto Fonte: pixeldreams.eu/Shuttersctock.com SAIBA MAIS! Para saber mais sobre coesão e seus mecanismos aplicados ao texto, leia “Coesão e Coerência Textuais”, de Leonor Lopes Fávero. O livro é uma tentativa de reunir explicações sobre os mais importantes elementos da construção textual, com ênfase na coesão e na coerência. Até aqui, vimos quais são os principais mecanismos de coesão que se referem ao uso de princípios gramaticais. Lembre-se de que a coesão é o que garantirá a coerência em um texto e que saber aplicar tais recursos na produção garantirá a comunicação clara, objetiva e precisa entre os envolvidos no ato comunicativo. Fechamento Concluímos a aula relativa à coesão e os elementos coesivos. Agora, você já conhece que a coesão é o mecanismo que amarra as palavras em um texto, conferindo-lhe unidade e significação. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender o que é a coesão textual; • conhecer a coesão por repetição; • distinguir a coesão por substituição; • entender as diferenças entre os mecanismos de coesão envolvendo uso de sinonímia, hiperonímia e hiponímia e campo semântico; • identificar os principais mecanismos de coesão gramatical. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 40 – Referências KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2014. NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo: Scipione, 2014. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 41 – Frase, período e oração Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução Nesta aula, entenderemos as especificidades dos conceitos de frase, oração e período. Para isso, identificaremos cada um destes elementos em diferentes textos, para que, depois, tanto a leitura como as produções textuais fiquem mais eficientes, claras e estruturadas. Objetivos de aprendizagem Ao final deste conteúdo, você será capaz de: • diferenciar os conceitos de frase, oração, período e suas especificidades; • identificar frases, orações e períodos em um texto. Vamos lá e bons estudos! 1 O que frase? Para conhecermos a definição de frase, é importante esclarecermos o que é um enunciado, uma vez que estes dois conceitos estão interligados. Enunciado é, em última análise, o que se enuncia, ou expressa-se, por uma ou mais pessoas do discurso. Linguisticamente, o enunciado pode ser definido como a parte de um discurso, tanto escrito quanto oral, ou a parte de um con- texto, em um processo comunicativo (ABL, 2008). Assim, diante de um contexto comunicativo, temos a definição de frase como todo enun- ciado que transmite informatividade, estabelecendo comunicação. A frase é, portanto, a menor unidade linguística que realiza um discurso, podendo ser oral ou escrita (AZEREDO, 2008). Em outras palavras, frase é a menor estrutura constituinte de um texto, ou de situação de fala. Há alguns tipos de frases, as quais podem expressar juízo de valor, uma ordem, uma ação, estado, fenômeno da natureza, transmitir apelos, ou até mesmo exteriorizar emoções. É impor- tante ressaltar que a frase pode estar organizada ou não por meio de um verbo. EXEMPLO Quando dizemos, ou escrevemos, “Oi”, transmitimos informatividade e estabelece- mos comunicação. Assim, podemos compreender que o enunciado “Oi” é uma frase. O mesmo acontece em “Pedro comprou um computador novo”. Vale ressaltar que a frase somente ganha significação, quando aplicada ao contexto em que está inserta. – 42 – TEMA 6 Figura 1 – Frase é a base para o enunciado Fonte: Stockdonkey/Shuttersctock.com Agora que já compreendemos o conceito de frase, vamos identificar quais são os tipos e aprender como empregá-las de modo adequado, tanto na oralidade quanto nas produções textuais. FIQUE ATENTO! Algumas frases são carentes de organização sintática, porque sua organização acontece com uma única palavra. Assim, é importante perceber que haverá diferen-tes tipos de frases nas composições dos enunciados. 1.1 Os tipos de frases Basicamente, elencamos dois tipos de frases: as frases nominais, construídas sem a pre- sença do verbo; e as verbais, construídas e organizadas por meio de um verbo. No enunciado “Olá, tudo bem?”, temos uma mensagem que é transmitida por meio de pala- vras que estão organizadas sem um núcleo verbal. Logo, trata-se de uma frase do tipo nominal. Já em “Fomos todos ao cinema”, temos uma enunciação organizada por meio do verbo “fomos”, caracterizando a frase como do tipo verbal (GARCIA, 1983). FIQUE ATENTO! A liberdade de construir uma frase está ligada a um mínimo de gramaticidade, ou seja, é necessário que as palavras estejam encadeadas em um raciocínio lógico, mesmo quando não estão elencadas por meio de um verbo. Frases soltas, sem o mínimo de inteligibilidade, ainda que aplicadas a um contexto, não irão constituir uma enunciação efetiva (GARCIA, 1983). COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 43 – É importante enfatizar que, de acordo com a entonação (na fala) ou dependendo do uso da pontuação (na escrita), as frases podem assumir classificações. De acordo com Garcia (1983), as frases são classificadas em: • declarativas: declaram um fato, um acontecimento. Podem ser afirmativas (ex.: João ama Maria) ou negativas (ex.: Mariana não quer casar-se com Tobias); • interrogativas: constroem-se por meio de uma pergunta feita pelo emissor. A inter- rogação pode ser construída de modo direto, ou seja, quando há o uso do ponto de interrogação (ex.: Por que você não veio ao trabalho ontem?), ou indireto, quando a pergunta fica subentendida no contexto (ex.: Gostaria de saber por que você não veio ao trabalho ontem); • imperativas: expressam ordem, desejos, conselhos e pedidos. Podem ser afirmativas (ex.: Faça a lição de casa, agora!), ou negativas (ex.: Não mexa neste pacote!); • exclamativas: há a exteriorização afetiva por meio das frases. Na fala, a entona- ção é mais prolongada; na escrita, sempre apresentam ponto de exclamação (!). Ex.: “Como eu amo você!”. • optativas: expressam algum tipo de desejo, por meio de construções (já em largo uso na língua). Ex.: “Deus te acompanhe!”; “Deus te guie”; “Vá em paz”; e “Boa sorte”. Estes tipos de frases, classificadas de acordo com as suas entonações, ou até mesmo pelo uso da pontuação, são essenciais para o ato comunicativo. Por isso, é bastante importante aten- tar-se a estes detalhes. Figura 2– As frases exteriorizam as mensagens pela entonação ou pela pontuação Fonte: Iassedesignem/Shutterstock.com COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 44 – FIQUE ATENTO! É importante perceber que o uso da pontuação adequada fará toda a diferença no momento de redigir uma frase. Na fala, a entonação ajuda a dar o tom da mensa- gem, mas na escrita, o uso inadequado ou ausência de pontuação pode comprome- ter totalmente o que se deseja enunciar. Agora, que já conceituamos frase e conhecemos os tipos que podem ser utilizados nos pro- cessos de comunicação oral e na escrita, vamos conhecer o conceito de oração. 2 O que é oração? A oração é um enunciado que estabelece comunicação, traz informatividade ao recep- tor da mensagem, e, obrigatoriamente, é organizada por meio de um verbo e/ou locução verbal. Perceba que a oração é também uma frase, porém, nem todas as frases podem ser classificadas como oração, posto que nelas, nem sempre, há um núcleo constituinte verbal (PATROCÍNIO, 2011). EXEMPLO Quando enunciamos “Maria é bonita”, “Choveu muito ontem à tarde”, e “Tivemos uma tarde deliciosa” temos orações. A oração é sempre organizada pelo constituin- te nuclear verbal. Além disso, em uma oração, há outros especificadores. É preciso compô-la conside- rando o sujeito (assunto sobre o qual se trata na oração) e o predicado (todas as informações que são dadas sobre o sujeito). Nem todas as orações apresentam um sujeito, uma vez que ele pode estar implícito ou ainda ser inexistente (quando temos verbos que exprimem fenô- menos da natureza, ideia de tempo transcorrido, como “ser”, “fazer”, e “haver” no sentido de existir) (PATROCÍNIO, 2011). SAIBA MAIS! Para saber mais sobre questões que envolvem construção de frases e outros processos sintáticos de construção de enunciados, leia “Língua Portuguesa IV - Sintaxe: frase, oração e período”, da autora Mariangela Rios de Oliveira. O livro traz um estudo que aborda a geração e o processo combinatório de frases da língua portuguesa, bem como analisa suas estruturas internas e externas. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 45 – Figura 3 – O enunciado oracional se organiza pelo verbo Fonte: Nonwarit/Shuttersctock.com Até aqui, vimos que as orações também devem ser entendidas como parte constituinte de um enunciado. A seguir, conheceremos o conceito de período, assim como a sua aplicação. 3 O que é período? O Período é um enunciado que transmite informatividade, podendo ser organizado por meio de uma frase, uma oração, ou várias orações. Assim, temos que o período pode ser simples (constituído por uma só oração), ou composto (formado por mais de uma frase e/ ou oração) (PATROCÍNIO, 2011). Portanto, o período é organizado por meio de várias frases e orações, as quais irão construir um texto. Observe os trechos a seguir: • “As meninas foram ao cinema”. Aqui, temos uma frase, que por sua vez é uma oração e também constitui um período simples. • “As meninas foram ao cinema, mas perderam o início da sessão”. Neste caso, temos duas orações, ou seja, dois núcleos significativos verbais repletos de sig- nificação. Assim, temos um período composto por duas orações que são independentes. • “É preciso que você estude mais este conteúdo”. Agora, temos um período composto, formado por duas orações dependentes entre si, visto que não apresentam significação completa quando são enunciadas separadamente (PATROCÍNIO, 2008). COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 46 – Figura 4 – São os períodos organizados que constituem o texto Fonte: racorn/Shuttersctock.com SAIBA MAIS! Um dos grandes obstáculos enfrentados na hora de estudar os processos de comunicação e escrita são as nomenclaturas, ou terminologias, utilizadas em livros didáticos que, muitas vezes, são bem complexas. Para entender melhor sobre o assunto, leia o artigo “Sinonímia nos termos básicos da sintaxe”, de Alexandre Melo de Souza (UFAC). Acesse: <http://www.filologia.org.br/revista/35/11.htm>. Vimos até aqui os conceitos de frase, oração e período e como eles são construídos. Lembre- se de que diferenciar tais conceitos e conhecer os seus especificadores é muito importante para a construção de um texto. Fechamento Concluímos a aula relativa ao tema “frase, oração e período”. Agora, você já conhece estes importantes conceitos que nos auxiliam no ato comunicativo, quer seja oral, quer seja escrito. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer que a frase é um enunciado organizado ou não por um verbo; • entender que há tipos de frases diferentes; • compreender que a oração deve ser organizada por meio de um verbo; • distinguir que nem toda frase é uma oração; • entender o que é um período; • perceber que período pode ser simples ou composto. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 47 – Referências ABL. Dicionário Escola da Academia Brasileira de Letras. São Paulo: Editora Companhia Nacional, 2008. AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Publi- folha, 2008. GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 11. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1983. NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo: Scipione, 2014. PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Aprender e praticar gramática. São Paulo: FTD, 2011. SOUZA, Alexandre Melo de. Sinonímia nos termos básicos da sintaxe. s.d. Disponívelem: <www.filologia.org.br/revista/35/11.htm>. Acesso em: 04 ago. 2016. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 48 – Ortografia e o atual Acordo Ortográfico Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução Nesta aula, aprofundaremos nosso conhecimento sobre a ortografia. Para isso, entende- remos a necessidade da uniformização da ortografia nos países falantes da língua portuguesa. Assim, conheceremos o atual Acordo Ortográfico e as principais mudanças que ocorrem no por- tuguês do Brasil. Por fim, iremos reconhecer alguns desvios que comprometem o processo de comunicação. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer as principais mudanças na ortografia da língua portuguesa; • reconhecer que os desvios das normas comprometem a interpretação dos textos e sua qualidade. 1 A normatização ortográfica entre os países falantes da língua portuguesa A ortografia é um conjunto de normas criadas na intenção de auxiliar o falante da língua a escrever corretamente as palavras e utilizar de modo adequado os sinais de acentuação e pontu- ação (ABL, 2008). Para o processo comunicativo, em especial na escrita, a ortografia é essencial, uma vez que fornece orientações para que não cometamos nenhum desvio. Figura 1 – Ortografia é a grafia correta das palavras. Fonte: Stokkete/Shuttersctock.com – 49 – TEMA 7 EXEMPLO Imagine enunciados cujas palavras são grafadas sem quaisquer acentos. Um caso bem simples é a dupla “pais/país”: se retirarmos o sinal indicativo de acento de “país”, a interpretação, portanto o reconhecimento da palavra, será alterada, com- prometendo o entendimento da mensagem que se pretenda transmitir. A ortografia nem sempre existiu, tampouco fora unânime. No português, o projeto para que isto se tornasse próximo de acontecer demorou bastante. Desde o século XX, por uma determina- ção de Portugal, houve um estabelecimento de um modelo ortográfico de referência para todas as publicações oficiais e também para o ensino do idioma. No entanto, num primeiro momento, as normas não foram adotadas por todos os países falantes da língua, incluindo o Brasil. Em 1943, existiu uma tentativa, fracassada, de estabelecer o que seria um acordo unificador da ortografia. Isto promoveu uma duplicidade, já que passou a existir dois sistemas ortográficos, um adotado pelos países africanos e pelo Timor Leste, outro, pelo Brasil (FARACO, 2012). FIQUE ATENTO! As diferenças existentes entre os países que falam o português eram marcantes, mas entre Brasil e Portugal não eram substanciais. No entanto, elas impediam a compreensão dos textos produzidos entre todos os países, e isto acabava dificul- tando a tramitação de documentos diplomáticos e, principalmente, a promoção cultural. Assim, tornou-se urgente a unificação ortográfica. Entre a idealização das regras, a padronização e a implementação do acordo que viesse elen- car necessidades diplomáticas, comerciais e a difusão cultural entre os países lusófonos foi um longo caminho. Anos depois, num esforço de todos os países membros da Comunidade Lusófona (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), conseguiu-se consolidar a unificação do Acordo Ortográfico, que, final- mente, foi assinado em 1990 (FARACO, 2012). Figura 2 – A unificação da ortografia auxiliou na tramitação diplomática de documentos entre os países lusófonos. Fonte: ruskpp/Shutterstock.com COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 50 – FIQUE ATENTO! O Acordo Ortográfico teve como objetivo principal a difusão cultural e cooperação internacional entre os países membros. Até hoje, alguns anos após a implementação do Acordo Ortográfico, não há uma unanimidade completa em torno de algumas mudanças na ortografia da língua portuguesa, como veremos a seguir. 2 As principais mudanças na ortografia da língua portuguesa As mudanças na ortografia da língua portuguesa escrita no Brasil são bem pequenas, corres- pondendo menos de um por cento em sua totalidade. Veja as mudanças significativas, de acordo com Faraco (2012). 2.1 Acentos A primeira mudança para a qual devemos atentar é em relação à supressão de alguns acentos. • Não utilizamos mais o trema (¨) nas palavras da língua portuguesa, como “linguiça”, “sequestro” e “sequência”. No entanto, em nomes próprios, de origem estrangeira, como Müller (e seus derivados, mülleriano), ainda encontramos o sinal. • Não utilizamos mais o acento agudo (´) para marcar os chamados ditongos abertos (“oi” e “ei”) em palavras paroxítonas (cuja sílaba tônica recai sobre a segunda), como em “paranoia” e “ideia”. • Não acentuamos mais as duplas “oo” e “ee”, como em “voo”, “creem”, deem, “leem”, “veem”. • Não recebem mais acentos diferenciais: “para” (preposição) e “para” (verbo); “pera” (fruta) e “pera” (preposição); “polo” (localização geográfica) e “polo” (tipo de ave); “pelo” (cabelo), “pelo/pela” (do verbo pelar) e/ou “pela” (tipo de jogo). • As palavras que contêm ditongo seguido de hiato, como “baiuca” e “feiura”, não são mais acentuadas. Lembre-se de que o acento servia para fazer uma marcação de toni- cidade nestas palavras. • Não acentuamos mais o “u” tônico de palavras como “averigue” e “apazigue”. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 51 – Agora, considere as situações em que os acentos foram mantidos. • Em “por” (preposição) e “pôr” (verbo), continuamos fazendo o uso do acento circunflexo (^), uma vez que ele faz a distinção das duas palavras. O mesmo acontece em “pôde” (pretérito perfeito) e “pode” (presente do indicativo). • Foram mantidos os acentos circunflexos: no plural do presente do indicativo dos verbos “ter” e “vir” (eles têm, eles vêm); e no “porquê” na condição de substantivo (em oposição ao “porque”, que atua como conjunção). • O acento diferencial da palavra “forma” (objeto) passou a ser opcional, ou seja, pode ou não ser grafado com o acento circunflexo. Estas mudanças são válidas e devem ser aplicadas na comunicação escrita para não com- prometer a interpretação e a qualidade de um texto. Porém, é importante lembrar que os acentos não foram eliminados de todas as palavras da língua portuguesa. FIQUE ATENTO! As mudanças gráficas não implicam mudanças na pronúncia das palavras, nem mesmo em uma “unificação do idioma”, elas apenas unificam a ortografia. Logo, a pronúncia de palavras com o antigo trema continua a mesma. A seguir, trataremos de três questões: o uso do hífen; a inclusão oficial de três letras em nosso alfabeto; e o uso de letras maiúsculas. 2.2 O uso do hífen nas palavras compostas Uma das grandes discussões geradas pelo atual Acordo Ortográfico é a hifenação, ou uso do hífen (-), nas palavras compostas. Cabe aqui ressaltar que muitas das palavras compostas amplamente empregadas em nosso dia a dia não são grafadas com hífen, como “pontapé”, “aguar- dente”, “alviverde”, “pontiaguda”, “outrora”, “passatempo”, entre outras. A regra aplica-se, portanto, às palavras compostas por hífen que, por questões de unificações, deixaram de levar o sinal em suas grafias (PATROCÍNIO, 2011). De acordo com Faraco (2012), há desacordos entre os gramáticos quanto ao emprego ou não em alguns casos, mas de modo geral, as regras que devem ser levadas em consideração são as seguintes: • em palavras formadas por prefixação, o hífen só será utilizado quando o segundo ele- mento das palavras começar com “h”, como em “super-homem”. Porém, fique atento quanto à grafia de palavras como “desumano”, “inábil” e “inumano”, que perderam o “h”; • em palavras cujos prefixos terminarem em vogal e o segundo elemento iniciar com a mesma vogal, utiliza-se o hífen. Ex.: “contra-almirante”; “auto-observação”; “micro-on- COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – 52 – das”. Mas aqui também há uma exceção:
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