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Concordancia sumiu ou evoluiu

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1 
A concordância sumiu ou evoluiu? 
Há casos em que o sujeito se divorcia do predicado, e cada um escapa para um lado 
Josué Machado 
 
Um dos enganos mais frequentes dos que tentam se comunicar segundo o código da 
norma culta ocorre no campo da concordância verbal, quando o predicado aparece 
antes do sujeito – principalmente quando estão distantes um do outro, separados 
por um “recheio” qualquer. Então, o predicado desliza para um lado, e o sujeito 
escorrega para outro em espetacular dissonância. 
 
Claro que isso é muito mais frequente na expressão oral do que na escrita, e há 
indícios de que já está incorporado à fala brasileira – mesmo da elite culta. Mas 
ocorreu no texto de um editorialista em página nobre de jornal. 
 
Sabe-se que os responsáveis por editoriais são jornalistas um tanto mais experientes 
do que a maioria dos iniciantes mal escolarizados e pouco rodados na vida e no 
jornalismo. No entanto, acontece – e pode acontecer com qualquer pessoa que 
tenha de escrever depressa – sob a urgência ou não de um “fechamento”, como se 
chama no jargão jornalístico o acabamento dado ao material antes que ele vá a 
público. Parece ter sido esse o caso registrado no seguinte trecho: 
 
“A inflação tende a seguir suave e moderadamente em direção ao centro da 
meta – mais provavelmente no início de 2013 do que no fim de 2012. Está 
fora do horizonte da equipe as pressões que possam comprometer essa 
estratégia”. 
 
“Está fora do horizonte da equipe as pressões...”, escreveu ele distraído ou 
sonolento, perturbado pelo complemento “fora do horizonte da equipe” (entre o 
predicado e o sujeito). 
 
 
 
 
2 
Distração 
 
Se a ordem fosse direta, jamais o escriba teria escorregado, dizendo que o sujeito 
“pressões” “está” fora do horizonte da equipe. O que pode ter ocorrido para tão 
distraído escorregão? 
 
Um corte de última hora para acertar o tamanho do texto, por exemplo. Talvez – 
[isso é] apenas hipótese –, ele tenha escrito, inicialmente, algo como: “Está fora do 
horizonte da equipe o temor de pressões blá-blá-blá.” Tendo de cortar algo, terá 
passado a foice no então sujeito “temor”, deixando como saldo a antológica 
discordância “pressões está fora”. 
 
[Disso resulta] a óbvia necessidade de ler e reler. De preferência, pedir a alguém que 
faça a leitura, porque, em alguns momentos, deixa-se de enxergar, com clareza, um 
ou outro detalhe do texto lido e relido. Coisas da vida. 
 
 
Falta de concordância pode ser o padrão oral brasileiro 
 
A ausência de concordância em frases curtas muito recheadas por interrupções entre 
o sujeito e o predicado é um dos pontos gramaticais que unificam a fala de 
escolarizados a analfabetos brasileiros. Na expressão oral, a maioria lança o sujeito 
em um número – plural/singular – que discorda do verbo que o complementa, 
quando ambos são separados por apostos e por outras interpolações. 
 
Essa constatação se tornou uma evidência científica desde os anos 1970, quando 
foram iniciados o projeto Norma Linguística Culta Urbana (NURC) e o Programa de 
Estudos sobre o Uso da Língua, reunindo os esforços de pesquisadores de 
universidades brasileiras. O NURC permitiu a análise de mais de 1.500 horas de 
entrevistas gravadas em cinco capitais do país e revela, entre outras coisas, que 
mesmo os brasileiros de nível universitário usam na fala variedades linguísticas em 
desacordo com o padrão do idioma. 
 
3 
 
Os mais escolarizados têm, sim, maior cuidado com a concordância ao escrever, 
constatou o estudo. Ao falar, no entanto, a elite culta – que, afinal, representaria a 
base do padrão do idioma – já não age do mesmo modo e empata com o uso 
corriqueiro das variantes populares orais. 
(Luiz Costa Pereira Junior) 
 
 
Nova regra? 
 
Cometemos crime de lesa-língua quando dizemos “Passará o céu e a terra, mas 
minhas palavras não passarão”. Exemplo clássico das gramáticas? Sírio Possenti, 
nesta Língua, já questionou a formulação de que o verbo concorde só com o mais 
próximo elemento do sujeito composto, se posposto – após o verbo: “céu”, e não 
“céu e terra”. 
 
A concordância é fenômeno sintático, lembra o linguista da UNICAMP. Só do ponto 
de vista semântico – ou pragmático – é que dizemos que o termo posposto – “céu” – 
é o sujeito. Mesmo quando o sujeito não é composto, o linguista notou a frequência 
com que se põe o sujeito posposto no plural e o verbo, no singular, como em: “Já no 
1º semestre, deverá ter início as eliminatórias...” (Folha de S. Paulo, 5/7/2002). Por 
isso, a sugestão: “Talvez se possa propor uma regra parcialmente diferente da 
[regra] das gramáticas. O verbo não concordaria com o primeiro nome do sujeito 
composto posposto. Simplesmente não concorda com nada. A razão? A posição típica 
de sujeito – antes do verbo – está vazia. É como se as orações não tivessem 
sujeito”. A formulação da regra seria: “Quando não há sujeito, o verbo vai para a 3ª 
pessoa do singular”. É o mesmo caso do verbo sem sujeito de fato: o impessoal. 
 
Exemplos 
Faz dez anos que saiu. 
Há bêbados aqui. 
 
 
4 
Se Possenti estiver certo, o uso tem regularizado a concordância: ela estaria se 
tornando a mesma quando não há sujeito e quando só parece que não – com o 
sujeito fora de sua posição típica. 
 
 
Fonte 
REVISTA Língua Portuguesa. Gramática. Publicação: fev. 2012. Disponível em: 
<http://revistalingua.com.br/textos/76/a-concordancia-sumiu-ou-evoluiu-250586-1.asp>. 
Acesso em: 21 jul. 2015.

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