Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1/5 Dos contratos em geral Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. A “função social do contrato” acentua a diretriz de “sociedade de direito” e por identificação dialética guarda intimidade com o princípio da “função social da propriedade”, prevista na Constituição. A concepção social do contrato apresenta-se, modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. A moldura limitante do contrato tem o escopo de acautelar as desigualdades substanciais entre os contratantes, valendo, como exemplo, os contratos de adesão. Por sua função social, o contrato é submetido a novos elementos integradores de relevância à sua formação, existência e execução, superando a esfera consensual; o contrato fica em condições de prestar relevantes serviços ao progresso social, desde que sobre as vontades individuais em confronto, se ausente o interesse coletivo, através das regras de ordem pública, inafastável pelo querer de ambos ou de qualquer dos contratantes, com o propósito menor de evitar o predomínio do economicamente forte sobre o economicamente fraco. Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. O dispositivo acompanha a doutrina do direito alemão: a proposta é uma declaração unilateral de vontade, produzindo, desde logo, os seus efeitos jurídicos entre o proponente e o preposto. A proposta assume, em princípio, caráter de obrigatoriedade, salvo cláusula expressa, e não poderá retirá-la nos termos e prazos definidos, sob pena de sujeitar-se a perdas e danos pelo importuno arrependimento do proponente – alteração da própria vontade – que venha a causar prejuízo ao destinatário da oferta – Artigo 389 do Código Civil[2][1]. A proposta não adquire a qualidade obrigatória em duas hipóteses: a) se formulada sem a necessária intenção vinculativa ao ato obrigacional da oferta, resumindo-a a uma simples tratativa de negociação (convite a contratar), em face dos próprios termos em que foi apresentada. b) quando a natureza do negócio ou as circunstâncias do caso proposto evidenciarem a falta da obrigatoriedade. 2/5 A proposta, segundo a Lei 8078, CDC, face dos contratos de consumo, tem relevo jurídico mais abrangente diante do disposto no Artigo 351 do diploma consumerista. O dever de prestação traz como consequência a execução específica, restando cabível a conversão da obrigação em perdas e danos somente por opção do credor ou por impossibilidade da tutela específica ou da obtenção do resultado prático – Artigo 84, §1º, CDC2. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. O dispositivo enumera os casos excludentes da obrigatoriedade da proposta, considerando determinadas circunstâncias em que esta se operou, com ou sem prazo. Nas propostas sem prazo, entre presentes, a não aceitação imediata conduz a não obrigatoriedade da oferta, desobrigando o proponente. Entre ausentes, o elemento da desoneração situa-se no tempo hábil para que a proposta seja recebida pelo oblato3, por ele respondida e recepcionada pelo proponente. A suficiência do tempo é juridicamente indeterminada para ser apurada a imediatividade da aceitação. Nas respostas com prazo, cessa a obrigatoriedade findo o prazo 1 Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. 2 Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. 3 Aceitante de uma oferta de contrato. 3/5 assinado. Entre ausentes, tem-se atendido o prazo quando a resposta é expedida dentro do período de tempo fixado. Outra circunstância impeditiva da obrigatoriedade ocorre quando a convergência volitiva não é alcançada por retratação oportuna do proponente, ou seja, quando a proposta é desfeita a tempo, implicando o arrependimento daquele à inexistência jurídica da oferta. Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. O novo código civil reconhece a relevância jurídica da oferta ao público ou oferta “ad incertam personam” para os efeitos da formação do contrato, tendo em conta a moderna sociedade de consumo e, no particular, o impacto das técnicas de comunicação mercadológica. Entretanto, ao estabelecer a equivalência, não avançou satisfatoriamente ao alcance do tratamento dado pelo Código de Defesa do Consumidor – Artigo 304, por exigir os requisitos essenciais ao contrato, inerentes à oferta clássica, ou seja, a oferta somente equivale à proposta quando o seu conteúdo oferece elementos essenciais à contratação, de modo a criar o vínculo obrigacional. O dispositivo não adota o princípio da suficiência precisa da informação consagrada pelo Código de Defesa do Consumidor. Por esse princípio, a oferta de massa torna-se vinculante, obrigando o proponente, quando suficientemente precisa a informação ou a publicidade, a tornar eficiente a realidade negocial. Nesse sentido, a publicidade, nos termos do Artigo 30 do CDC, constitui fonte de obrigação para o fornecedor, com os mesmos efeitos jurídicos de uma oferta, integrando o contrato futuro. Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunica-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. A recepção tardia pelo proponente da oportuna aceitação da oferta acarreta perda da obrigatoriedade da proposta, uma vez findo o prazo nela contido ou concluído o tempo suficiente para resposta. A circunstância imprevista e superior às forças do aceitante, decisiva ao retardamento, exigirá, todavia, por parte do proponente, imediata comunicação ao aceitante acerca do atraso verificado, sob pena daquele responder por perdas e danos. É que a manifestação extemporânea 4 Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.4/5 diz respeito apenas ao momento da ciência pelo proponente, quando o aceitante a supõe válida para a conclusão do contrato, tornando imperativo vir o proponente, mediante comunicado de conhecimento do fato, afirmar-se desobrigado à proposta, em face da demanda, para o devido efeito liberatório. Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. A hipótese do artigo é a aceitação tardia ou, ainda, daquelas aditivas, restritivas ou modificativas, importando, daí, em contrapartida por parte do solicitado à aceitação. As mudanças sugeridas pela pretendida aceitação a tornam condicionada e refletem, por isso mesmo, uma não-aceitação integral dos termos da proposição inicial, representando, por consequência, uma nova proposta. Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa. A norma institui presunção legal de aceitação tácita, dispensando, para conclusão do contrato, formalidades expressas, seja em razão da natureza do negócio em face ao próprio costume, seja em virtude da dispensa pelo proponente da aceitação expressa. A recusa tardia implicará ao recusante a sua vinculação ao negócio havido por concluído, com sujeição aos efeitos jurídicos decorrentes e respondendo por perdas e danos. Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante. O dispositivo cuida da retratação do aceitante em contraponto ao inciso IV do Artigo 428, CC, que, por sua vez, trata da retratação do proponente. Ambos versam sobre a perda da validação positiva, ou arrependimento eficaz, diante de retratação oportuna, não alcançando, para a conclusão do contrato, a convergência de interesses. Assim, se a retratação é recepcionada ou simultaneamente com esta, ter-se-á por inexistente a aceitação. A retratação do aceitante feita a destempo o mantém vinculado ao contrato. Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado. 5/5 A hipótese é a do contrato entre ausentes, tendo-se este por concluído quando expedida a aceitação (sistema da declaração ou ignição). As exceções comportam as hipóteses de inexistência da aceitação decorrente de retratação hábil, (I) quando o proponente se compromete a aguardar a resposta (II), ou quando a resposta não é recebida no prazo assinalado (III). Em se tratando de proposta entre ausentes, de prazo certo, somente ter-se-á por atendido o prazo quando a resposta é expedida dentro do período de tempo fixado no Artigo 428, CC: Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; Esse dispositivo cogita apenas da expedição da resposta para o efeito da obrigatoriedade da proposta não tornando o ato complexo, de modo a exigir um mesmo prazo à recepção da resposta, ou seja, aclama o sistema da declaração ou ignição, ou mais precisamente da expedição da aceitação, dispensando que a resposta chegue ao proponente para aperfeiçoar o contrato. Entretanto, o inciso III do artigo em comento elege o sistema da informação ou cognição, tornando obrigatória a ciência da resposta pelo proponente para efetivar o contrato. Nessa última hipótese, a exceção decorre de condição imposta pelo proponente. Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. A doutrina tem assentado a determinação do lugar onde é celebrado o contrato pelo local de sua conclusão entre presentes. Quanto às pessoas ausentes, define-se principalmente o lugar da expedição da proposta. A definição do local da celebração do contrato tem igual relevância para o Direito Internacional Privado, nos termos da Lei de Introdução ao Código Civil – Artigo 9º, §2º e Artigo 135. 5 Art. 9 o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituirem. § 2 o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente. Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
Compartilhar