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Resenha Carlos SAUTCHUK Aprendizagem como Gênese

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Resenha do texto:
SAUTCHUK, Carlos E. 2015. “Aprendizagem como gênese: prática, skill e individuação”. Horizontes Antropológicos, 21(44), p.109-39.
Warlison Cavichioli da Silva¹
O autor e seu interlocutores apresentam mútuo interesse no diálogos sobre a aprendizagem e o principal interesse para Sautchuk é a relação as atividades e práticas e construção da pessoa pescador. Já o que encantava os pescadores com esse assunto era a relação que eles tinha com o lugar e o tipo de captura praticada. Não se pode trabalhar essa situação de forma abrangente, falando sobre as características de aprendizado tradicional, oral ou não formal, pois o que o autor presencia e evidencia é que está além das relações humanas, animais e coisas tem papel importantíssimo nessa construção.
Ele ver a “aprendizagem enquanto gênese uma ontogênese ou uma tecnogênese dos pescadores” e faz críticas o estereótipo que define de forma abrangente a educação como oral, informal ou tradicional. A informação primordial sobre o aprendizado é que ele gera habilidades que por sua vez cria relações que são transcendentes que são importantes para entender o seu papel e sua dinâmica.
Na ilha de Sucuriju, estado do Amapá, existem os pescadores de fora atuam em barcos motorizados com três a seis tripulantes com espinhel de fundo com o intuito de capturar a gurijuba. E os legistas que como o nome sugere percorrem as regiões de lagos em canoas e arpões para capturar o pirarucu. E apesar de compartilharem da situação de pescadores existem diferenças entre os lacustres e os costeiros.
Os lacustres começam a desenvolver seu aprendizado a partir dos 5 a 6 anos de idade, com pessoas geralmente relacionadas a família, se vendo com os objetos técnicos como os remos e hastes podendo se apresentar em uma situação de arpoador incontáveis vezes e a relação entre arpoador e piloto e central, ainda mais quando são da mesma família. Entre os costeiros já notamos uma grande diferença, pois o processo já se inicia muito mais tardio em relação ao anterior, somente aos 15 anos e se o jovem apresentar maturidade e seu corpo aparentar forte para desenvolver as atividades a bordo. O noviço deve apresentar interesse e atenção a tudo quanto acontece e é ensinado além de seu corpo e condicionamento físico devem mostrasse satisfatório mesmo com a possibilidade de sofrer com as náuseas das primeira viagem.
Os filhos de pescadores de lagos vão aprendendo gradativamente de acordo com sua idade e suas ferramentas vão sendo transformadas em um processo de gestação. As lanças são potencialmente perigosos e os pais restringem o uso da saganha até que avalie que a criança já tenha maturidade e responsabilidade para não machucar os outros o que inclui humanos e pequenos animais que não podem ser maltratados. E com isso vai se criando uma relação com toda o meio, as coisas os homens e animais gradativamente.
Durante o processo de aprendizado a criança ocupa o lugar do meio da canoa e dificilmente o seu instrutor perde a paciência a ponto de lhe dar um castigo ou algo do tipo. Durante a prática da pesca o silêncio é imprescindível, por esse motivo se evita de levar duas crianças pequenas pois com sua interação a captura seria inviável. Com o passar do tempo ele vai sair da posição do meio e passar a ser o remador na proa da canoa e desde cedo deve se sentir uma extensão da canoa e do arpoador. A forma como se posiciona os corpos em cima da canoa em movimentos precisos é equivalente a uma ligação entre os que estão sob o lago como um único organismo trabalhando com um objetivo.
Existe uma distância pequena entre popa e proa fisicamente porém o caminho até ela é grande e só pode ser alcançado quando o jovem conseguir matar com o arpão, a partir daí entra em um “estado virtual de automação” e passa a abrir concorrência com os seus demais parentes em virtudes de condições adversas como por exemplo morte do seu pai ou velhice.
Os filhos dos pescadores costeiros, não participam ativamente e nem frequentam a beira do rio, porém seu fascínio pela vida pesqueira e evidente, pintam e fazem miniaturas dos barcos, frequentam as embarcações ancoradas. praticam pesca no entorno da vila mais não é reconhecida como uma familiarização leve e progressiva.
Aproximadamente aos 15 anos o jovem vai a sua primeira viagem para pesca. São levados em consideração para a entrada do jovem na vida pesqueira seu porte físico, sua maturação, possibilidade de seguir os estudos e condições econômicas de sua família. Os pais levam seus filhos para o encarregado e ao contrário do grupo anterior não existem parentes a bordo, inclusive se evita fazer isso. São feitos os alertas sobre o processo de adaptação da primeira viagem, os desconfortos e as náuseas, porém se sabe que muitos não suportaram e abandonaram a pesca.
Falemos agora sobre o processo de metamorfose que se passa ao ingressar nessa pesca. Primeiramente adaptação a maresia para o equilíbrio, engrossamento das mãos devido a tração dos cabos com sal, insensibilidade nos pés e o fim das nauseas. O noviço deve ser ativo a bordo e fazer tudo quanto mandam fazer, para isso envolve um processo de aprendizagem que não é narrado como um acúmulo de saberes e sim de se tornar mais ativo. “A dinâmica a bordo é a própria pedagogia, de modo que seria mais justo falar de uma imersão abrupta no serviço, seguida do esforço do noviço para se integrar o melhor possível às ações.” (p. 116)
O autor faz uma crítica a Sigaut que fala que a etnografia limita-se a apreciações genéricas. Em contrapartida a isso Sautchuk apresenta dois problemas. O primeiro é a essência da etnografia efetiva nos processos de aprendizagem e a segunda são os próprios estereótipos dos processos “tradicionais” e “modernos” como uma antítese do que se acostumou chamar de “informal” ou “transmissão oral” para definir a aprendizagem ditas “tradicionais”.
Chamoux faz críticas a essas formas de distinção do conhecimento da oralidade e da escrita e diz que a diferenciação correta a se fazer é a maneira pela qual o noviço se relaciona com cada tipo de aprendizagem. Ela dividi em dois tipos: primeira Transmissão por impregnação, se dar de acordo com as experiências cotidianas e a segunda é a transmissão por um mestre que é acompanhada de um mestre institucionalizado ou não. Claudia Strauss, já divide de uma forma mais generalizadora colocando de um lado a transmissão incidental e a transmissão intencional. Elas enviam um problema para o campo onde os diferentes sentidos devem ganhar sentido próprio ao longo da pesquisa.
Lave e Wenger se opõe-se a ideia de aquisição de cultura e a posição passiva do aprendiz dando muita mais destaque ativo criativo a ele. Mas o que Sautchuk conclui sobre mais importante seja a menção dos conceitos “comunidade de prática” que identifica o contexto de aprendizagem e “participação periférica legitimada” que indica a posição do noviço em determinada situação de aprendizado.
O autor procurou se manter longe das limitações das relações do humano com o social, já que o que a relação com a natureza constitui parte essencial com o aprendizagem dos pescadores laguistas e para apresentar a forma de aprendizagem destes Sautchuk fala sobre as skills que foram considerados a partir do ritmo e fluxo em que emergem. Desde muito novos estão inseridos na vida da pescas com seus parentes. O que acontece de forma diferente nos pescadores costeiros, pois somente a partir do momento em que se considera maduro e longe dos seus parentes e o proprio convivio com o mar e a embarcação são necessárias para que ele possa se transformar, passar pela metamorfose e se tornar parcialmente autônomo. Então para Sautchuk a gestação e a metamorfose são duas concepções para descrever a aprendizagem nos lagos e no mar.
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¹Discente do Curso de Antropologia junto a Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA sob o número de matrícula 201400384.

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