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Tema de redação FUVEST 2006 + Questões de português

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Prévia do material em texto

OOOOBBBBJJJJEEEETTTTIIIIVVVVOOOO
PPPPOOOORRRRTTTTUUUUGGGGUUUUÊÊÊÊSSSS
Atribuir ao doente a culpa dos males que o afligem
é procedimento tradicional na história da humanidade.
A obesidade não foge à regra.
Na Idade Média, a sociedade considerava a
hanseníase um castigo de Deus para punir os ímpios.
No século 19, quando proliferaram os aglomerados
urbanos e a tuberculose adquiriu características
epidêmicas, dizia-se que a enfermidade acometia
pessoas enfraquecidas pela vida devassa que levavam.
Com a epidemia de Aids, a mesma história: apenas os
promíscuos adquiririam o HIV. 
Coube à ciência demonstrar que são bactérias os
agentes causadores de tuberculose e da hanseníase,
que a Aids é transmitida por um vírus e que esses
microorganismos são alheios às virtudes e fraquezas
humanas: infectam crianças, mulheres ou homens, não
para puni-los ou vê-los sofrer, mas porque pretendem
crescer e multiplicar-se como todos os seres vivos.
Tanto se lhes dá se o organismo que lhes oferece
condições de sobrevivência pertence à vestal ou ao
pecador contumaz.
(...)
Drauzio Varella, Folha de S. Paulo, 12/11/2005.
1
a) Crie uma frase com a palavra “obesidade” que possa
ser acrescentada ao final do 2º parágrafo sem quebra
de coerência.
b) Fazendo as adaptações necessárias e respeitando a
equivalência de sentido que a expressão “Tanto se
lhes dá (...)” tem no texto, proponha uma frase,
substituindo o pronome lhes pelo seu referente.
Resolução
a) Nos nossos dias, é comum atribuir às pessoas
obesas a culpa por sua obesidade, como se sua
condição fosse apenas resultado de seu descome-
dimento ao comer. – A frase deve encaixar-se na
série de exemplos contida no segundo parágrafo.
Tais exemplos ilustram a primeira afirmação do texto:
"Atribuir ao doente a culpa dos males que o afligem
é procedimento tradicional na história da
humanidade." O caso da obesidade seria a ilustração
da afirmação complementar do parágrafo inicial: "A
obesidade não foge à regra."
b) Pouco importa a esses microorganismos se o orga-
nismo que lhes oferece condições de sobrevivência
pertence à vestal ou ao pecador contumaz. – A
formulação deste quesito não é inteiramente precisa,
pois não se esclarece se o pronome lhes deve ser
substituído por seu referente em suas duas
ocorrências na frase ou, o que parece mais razoável,
apenas na primeira, na expressão cujo sentido se
questiona. Outro defeito na formulação deste
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OOOOBBBBJJJJEEEETTTTIIIIVVVVOOOO
quesito se encontra no trecho "respeitando a
equivalência de sentido que a expressão 'Tanto se
lhes dá (...)' tem no texto". Esse trecho deveria ser
substituído por uma redação mais simples, direta e
precisa: mantendo-se o sentido que a expressão
"Tanto se lhes dá" tem no texto", pois não é a
"equivalência de sentido que a expressão... tem no
texto" que se quer respeitada.
2
Em um piano distante, alguém estuda uma lição
lenta, em notas graves. (...) Esses sons soltos,
indecisos, teimosos e tristes, de uma lição elementar
qualquer, têm uma grave monotonia. Deus sabe por
que acordei hoje com tendência a filosofia de bairro;
mas agora me ocorre que a vida de muita gente parece
um pouco essa lição de piano. Nunca chega a formar a
linha de uma certa melodia. Começa a esboçar, com os
pontos soltos de alguns sons, a curva de uma frase
musical; mas logo se detém, e volta, e se perde numa
incoerência monótona. Não tem ritmo nem cadência
sensíveis. 
Rubem Braga, O homem rouco.
a) O autor estabelece uma associação poética entre a
vida de muita gente e uma lição de piano. Esclareça
o sentido que ganha, no contexto dessa associação,
a frase “Nunca chega a formar a linha de uma certa
melodia”.
b) “Deus sabe por que acordei hoje com tendência a
filosofia de bairro.” 
Reescreva a frase acima, substituindo a expressão
sublinhada por outra de sentido equivalente.
Resolução
a) A frase, no contexto, significa que muitas pessoas
não concluem aquilo a que se propõem ou não
chegam a viver experiências que se integrem num
conjunto articulado, como as palavras ou as notas
musicais se integram no conjunto de uma frase
lingüística ou melódica, fazendo sentido ou
compondo uma estrutura coerente.
b) Deus sabe por que acordei hoje com vontade de
refletir sobre assuntos triviais (ou fatos prosaicos).
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3
O Brasil já está à beira do abismo. Mas ainda vai ser
preciso um grande esforço de todo mundo pra
colocarmos ele novamente lá em cima. 
Millôr Fernandes.
a) Em seu sentido usual, a expressão sublinhada
significa “às vésperas de uma catástrofe”. Tal
significado se confirma no texto? Justifique sua
resposta.
b) Sem alterar o seu sentido, reescreva o texto em um
único período, iniciando com “Embora o Brasil (...)” e
substituindo a forma “pra” por “para que”. Faça as
demais transformações que são necessárias para
adequar o texto à norma escrita padrão.
Resolução
a) Não, o significado da expressão, no texto, é outro. A
locução "à beira de..." é tomada em seu sentido
próprio: "perto do limite extremo de", "à margem de",
"na beirada de". O efeito humorístico se deve ao fato
de o texto implicar o sentido de o país estar já imerso
no abismo, no limite extremo dele, ou seja, na
beirada do abismo, sendo, por isso, necessário muito
esforço para que ele seja colocado de novo fora dele.
b) Embora o Brasil já esteja à beira do abismo, ainda vai
ser preciso um grande esforço de todo o mundo para
que o coloquemos novamente lá em cima.
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4
Crianças perguntam... Einstein responde!
O professor da 5ª série de uma escola americana
notou que seus alunos ficavam chocados ao aprender
que os seres humanos são classificados no reino
animal. Então sugeriu que escrevessem para grandes
cientistas e intelectuais e pedissem a opinião deles
sobre isto. Albert Einstein respondeu:
“Queridas crianças. Nós não devemos perguntar ‘O
que é um animal?’, mas sim, ‘Que coisa chamamos de
animal?’ Bem, chamamos de animal quando essa coisa
tem certas características: alimenta-se, descende de
pais semelhantes a ela, cresce sozinha e morre quando
seu tempo se esgotou. É por isso que chamamos
minhoca, a galinha, o cachorro e o macaco de animais.
‘E nós, humanos?’ Pensem nisto da maneira que eu
propus anteriormente e então decidam por vocês
mesmas se é uma coisa natural nós nos considerarmos
animais”.
Ciência Hoje – Crianças.
a) Em sua resposta às crianças, Albert Einstein propõe
a substituição da pergunta “O que é um animal?” por
“Que coisa chamamos de animal?”.
Explique por que essa substituição já revela uma
atitude científica.
b) Fazendo as adaptações necessárias e conservando o
seu sentido original, reconstrua o último período do
texto (“... Pensem nisto da maneira que eu ...
animais.”), começando com
“(...) Decidam por vocês mesmas ... animais”.
Resolução
a) Na formulação que Einstein propõe para ela, a
questão não se refere mais à "essência" do animal (o
que ele é), mas sim à razão de atribuirmos essa
denominação a um grupo muito grande e variado de
"coisas" ou seres. Portanto, o cientista substitui uma
questão abstrata, que visa a uma definição de essência
– uma questão de sentido metafísico, cuja resposta
dependerá da admissão de um pressuposto (de que os
animais têm uma essência definível) –, por uma
questão concreta, que visa a estabelecer as razões de
uma denominação e, por implicação, um princípio de
classificação (por que classificamos essas coisas
diferentes comoanimais?). A atitude científica está em
formular uma pergunta que não implica nenhum
pressuposto e que postula uma resposta cujos termos
devem ser verificáveis. 
b) Decidam por vocês mesmas se é uma coisa natural
nós nos considerarmos animais, pensando antes nesta
questão da maneira que eu propus anteriormente.
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5
(...)
Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
(...).
“Vai passar”, Chico Buarque e Francis Hime.
a) É correto afirmar que o verbo “dormia” tem uma
conotação positiva, tendo em vista o contexto em
que ele ocorre? Justifique sua resposta.
b) Identifique, nos três últimos versos, um recurso
expressivo sonoro e indique o efeito de sentido que
ele produz. (Não considere a rima
“distraída”/“subtraída”.)
Resolução
a) Não. Do contexto depreende-se que a pátria
encontrava-se em uma situação letárgica diante das
“substrações” ou “tenebrosas transações” de que
era vítima.
b) O “recurso expressivo sonoro” está na passagem
“tenebrosas transações”. A aliteração da consoante
linguodental surda t dá relevo à expressão e reforça
a sugestão de soturnidade que a reveste.
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6
Há certas expressões significativas: “Contra fato
não há argumento”. Elas querem dizer que, diante da
evidência do real, não cabem as argumentações em
contrário, o que em princípio parece estar certo. Mas,
na verdade, significam também coisas como “o que
vale é a força” ou “idéia não resolve”. Assim, pregam
o reconhecimento do fato consumado, a capitulação
diante do que se impôs no terreno “prático”, negando
o direito de discutir, de argumentar para mudar a
realidade. E então se tornam sinistras.
Antonio Candido, Recortes.
Entre as “expressões significativas”, a que se refere o
autor do texto, podem-se incluir certos provérbios,
como, por exemplo,
Cada macaco no seu galho.
Indique o sentido que esse provérbio assume,
a) se for entendido como uma afirmação aceitável, que
em princípio parece estar certa.
b) se for entendido como uma afirmação autoritária,
que impõe um fato consumado.
Resolução
a) Em sentido positivo, o provérbio deve ser entendido
como indicação de que cada pessoa deve reconhe-
cer suas limitações e agir de acordo com elas, sem
cometer exageros ou extrapolações deletérias. Ou-
tro entendimento positivo do provérbio implica a
idéia de que cada um se limite à sua competência. 
b) Como afirmação autoritária, o provérbio implica a
idéia de que cada pessoa deve restringir-se ao
âmbito de ação que lhe foi atribuído, numa divisão
que pode ser injusta ou arbitrária, mas que não se
quer discutir. Ou seja, o sentido autoritário é o de
que cada um tem seu lugar e deve nele permanecer,
não se questionando o princípio de tal atribuição.
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7
POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no 
[morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu 
[afogado.
Manuel Bandeira, Libertinagem.
a) Relacione o título do poema à corrente estética da
qual o texto participa.
b) O poema adota o procedimento de relatar os
acontecimentos sem comentá-los ou interpretá-los
diretamente.
Que atitude esse procedimento pede ao leitor?
Explique brevemente.
Resolução
a) O que há de Modernismo no título é a incorporação
poética do cotidiano, já enunciada na intenção de
extrair “de uma notícia de jornal” a matéria-prima do
lirismo e da poeticidade. É modernista, também, a
atitude, já no título provocativa, de buscar poesia
onde a tradição e as convenções viam “antipoesia”,
informação e notícia.
b) O despojamento com que Bandeira narra o episódio,
reproduzindo a linguagem de uma hipotética notícia
de jornal, sem qualquer metaforização, sem um
adjetivo sequer, deixa inteiramente ao leitor a
possibilidade de sentir (ou não) o drama humano do
suicida “que se mata sem explicação”. Cabe à
sensibilidade do leitor a percepção da dimensão
trágica do cotidiano, o lirismo que se esconde no
fato, na vida, estampados nas páginas dos jornais.
Esta é uma das grandes qualidades de Bandeira: a
poesia desentranhada do cotidiano, das situações
banais da vida, despojada, anti-retórica, por vezes
áspera e dissonante, outras, terna e delicada, que
surpreende e comove exatamente pelo que
contidamente revela.
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8
a) Referindo-se a suas intenções ao escrever o livro
Macunaíma, Mário de Andrade afirmou:
“Um dos meus interesses foi desrespeitar
lendariamente a geografia e a fauna e flora
geográficas”.
No livro, esse “interesse” é alcançado? Justifique
brevemente.
b) Sobre a personagem Macunaíma, Mário de Andrade
afirmou:
“É fácil de provar que estabeleci bem dentro de todo
o livro que Macunaíma é uma contradição de si
mesmo”.
A afirmação sublinhada se justifica? Explique
sucintamente.
Resolução
a) Tanto neste quesito como no seguinte as respostas
que se impõem são cabalmente afirmativas. Em a,
com efeito, Mário de Andrade opera uma “des-
geografização” e uma “desregionalização” da fauna,
da flora e do folclore nacionais. Peixes, pássaros e
mitos amazônicos nadam no Tietê, sobrevoam
bairros de São Paulo e se projetam na aventura
paulistana de Macunaíma. Lendas gaúchas são
invocadas no Uraricoera amazônico. O Wenceslau
Pietro de Pietra é a um só tempo o regatão vene-
zuelano, o imigrante italiano e o gigante Piaimã, o de-
vorador de gente das lendas indígenas. A rapsódia
marioandradiana constitui-se como um caleidoscópio
do Brasil, como uma colagem na qual o tempo e o
espaço são reorganizados para comporem uma
síntese representativa de todo o país.
b) Macunaíma, o “herói da nossa gente”, “o herói sem
nenhum caráter” compõe uma síntese represen-
tativa de um presumido modo de ser brasileiro, de
um povo mestiço, em formação. O epíteto “herói
sem nenhum caráter” contempla exatamente o ca-
ráter polimorfo do protagonista: índio, negro e bran-
co, corpo de adulto e “carinha enjoativa de piá”, he-
rói e anti-herói, vitorioso e derrotado, esperto e ludi-
briado.
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9
Capítulo LXVIII / O Vergalho
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por
aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa.
Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que
vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a
fugir; gemia somente estas únicas palavras: — “Não,
perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o
primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia
com uma vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão,
bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do
vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio,
— o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-
me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção; perguntei-
lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim, nhonhô.
— Fez-te alguma cousa?
— É um vadioe um bêbado muito grande. Ainda
hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo
na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda
beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede.
Entra para casa, bêbado!
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
a) Este trecho remete a episódio anterior, da mesma
obra, no qual interagem Brás Cubas e Prudêncio,
então crianças. Compare sucintamente os papéis
que as personagens desempenham nesses
episódios.
b) Neste trecho, a variedade lingüística utilizada pelas
personagens contribui para caracterizá-las? Explique
brevemente.
Resolução
a) O trecho apresentado (Capítulo LXVIII – O Vergalho)
faz referência ao Capítulo XI – “O Menino é o Pai do
Homem”, em que Brás Cubas, ao relatar sua
infância, conta-nos que humilhava o então escravo
Prudêncio, fazendo-o de montaria. No primeiro epi-
sódio, o narrador era o opressor, enquanto Prudêncio
era o oprimido. Já liberto, este compra um escravo,
tornando-se agora o opressor, pois passa a “des-
contar” no infeliz tudo o que havia sofrido quando
criança. Curiosamente, chega até a usar a mesma
frase – “Cala a boca, besta!” – que havia ouvido na
sua época de cativeiro. Dessa forma, nota-se que
Prudêncio, vítima de um sistema escravista, acaba
fortalecendo-o ao reproduzir as injustiças a que fora
submetido.
b) As variedades lingüísticas empregadas conseguem
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de fato caracterizar o nível social das personagens.
Brás Cubas demonstra pertencer à classe alta quando
utiliza a norma culta, bem percebida pela ênclise em
“Fez-te” e “Perdoa-lhe”. Prudêncio demonstra per-
tencer à classe baixa ao empregar a variante coloquial,
captada por vocábulos como “nhonhô”; pelo
emprego do pronome pessoal ele em “deixei ele na
quitanda”, quando o padrão gramatical pede “deixei-o
na quitanda”; pela utilização da preposição em como
regime do verbo ir (“para ir na venda”), quando a
norma culta exige a (“para ir à venda”). 
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10
Havia cinco anos que D. Felicidade o amava. (...) Acácio
tornara-se a sua mania: admirava a sua figura e a sua
gravidade, arregalava grandes olhos para a sua
eloqüência, achava-o numa “linda posição”. O
Conselheiro era a sua ambição e o seu vício! Havia
sobretudo nele uma beleza, cuja contemplação
demorada a estonteava como um vinho forte; era a
calva. Sempre tivera o gosto perverso de certas
mulheres pela calva dos homens, e aquele apetite
insatisfeito inflamara-se com a idade. Quando se punha
a olhar para a calva do Conselheiro, larga, redonda,
polida, brilhante às luzes, uma transpiração ansiosa
umedecia-lhe as costas, os olhos dardejavam-lhe, tinha
uma vontade absurda, ávida de lhe deitar as mãos,
palpá-la, sentir-lhe as formas, amassá-la, penetrar-se
dela! Mas disfarçava, punha-se a falar alto com um
sorriso parvo, abanava-se convulsivamente, e o suor
gotejava-lhe nas roscas anafadas* do pescoço. Ia para
casa rezar estações, impunha-se penitências de muitas
coroas à Virgem; mas apenas as orações findavam,
começava o temperamento a latejar. E a boa, a pobre D.
Felicidade tinha agora pesadelos lascivos e as
melancolias do histerismo velho.
Eça de Queirós, O primo Basílio.
* anafadas = gordas
a) Qual é a escola literária cujas características mais se
fazem sentir neste trecho? Justifique brevemente
sua resposta.
b) Considere a seguinte afirmação:
“Em Eça de Queirós, a sátira e a caricatura tornam-
se, com freqüência, cruéis e sombrias, por isso
mesmo incompatíveis com o riso e o humor”.
Essa afirmação aplica-se ao trecho acima reprodu-
zido? Justifique sucintamente sua resposta.
Resolução
a) O trecho evidencia o Realismo-Naturalismo em
quase todos os seus aspectos. Estão presentes: a
descrição objetiva e minuciosa; a desidealização do
ser humano, captado em seus aspectos ridículos e
grotescos; o “determinismo biológico”, na prevalên-
cia do instinto e da sexualidade (“os pesadelos
lascivos”, “as melancolias do histerismo velho”); a
crítica social na retração da hipocrisia moral de quem
dissimulava no ritualismo das rezas e penitências a
sexualidade mal resolvida; a ironia que beira o
sarcasmo; o cuidado estilístico.
b) A maneira como Eça de Queirós articula a
caracterização de D. Felicidade e de sua paixão
serôdia e não-correspondida pelo Conselheiro Acácio
pode, efetivamente, esconder um “drama humano”
e uma “tragédia” existencial. Nada tem de alegre a
condição de quem, condicionada por valores sociais
equivocados, reprimiu dolorosamente um impulso
essencial à vida. Contudo, não é este o viés pelo qual
o narrador pretende conduzir o leitor. Seria negar uma
das virtudes do estilo queirosiano – fazer rir, mesmo
quando sob o riso se escondem as misérias da
condição humana. Não deixa de ser risível, no trecho,
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a caracterização da velhota a tentar sufocar com a
“beatice parva” as “melancolias do histerismo
velho”, os “pesadelos lascivos” ressuscitados na
“calva” afrodisíaca do Conselheiro Acácio,
“ambição”, “vício” e “mania” de D. Felicidade.
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RRRREEEEDDDDAAAAÇÇÇÇÃÃÃÃOOOO
Texto 1
O trabalho não é uma essência atemporal do
homem. Ele é uma invenção histórica e, como tal, pode
ser transformado e mesmo desaparecer.
Adaptado de A.Simões
Texto 2
Há algumas décadas, pensava-se que o progresso
técnico e o aumento da capacidade de produção
permitiriam que o trabalho ficasse razoavelmente fora
de moda e a humanidade tivesse mais tempo para si
mesma. Na verdade, o que se passa hoje é que uma
parte da humanidade está se matando de tanto
trabalhar, enquanto a outra parte está morrendo por
falta de emprego.
M.A. Marques
Texto 3
O trabalho de arte é um processo. Resulta de uma
vida. Em 1501, Michelangelo retorna de viagem a
Florença e concentra seu trabalho artístico em um
grande bloco de mármore abandonado. Quatro anos
mais tarde fica pronta a escultura “David”.
Adaptado de site da Internet
INSTRUÇÃO: Os três textos acima apresentam
diferentes visões de trabalho. O primeiro procura
conceituar essa atividade e prever seu futuro. O
segundo trata de suas condições no mundo
contemporâneo e o último, ilustrado pela famosa
escultura de Michelangelo, refere-se ao trabalho de
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artista. Relacione esses três textos e com base nas
idéias neles contidas, além de outras que julgue
relevantes, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA,
argumentando sobre o que leu acima e também sobre
os outros pontos que você tenha considerado
pertinentes.
Comentário à proposta de Redação
O trabalho, apresentado sob três diferentes óticas,
foi o tema sobre o qual o candidato deveria dissertar,
"argumentando sobre o que leu e também sobre outros
pontos que tenha considerado pertinentes".
O primeiro texto, que define o trabalho como uma
"invenção histórica" – passível, portanto, de sofrer
transformações e até mesmo desaparecer –, poderia
ser utilizado pelo candidato como ponto de partida de
sua dissertação. Caberia, nesse caso, reconhecer o
surgimento do trabalho como forma de sobrevivência,
que vem se diversificando à medida que a humanidade
tem evoluído. A automação,desenvolvida para
substituir o trabalho braçal por máquinas e robôs,
concedendo mais tempo livre ao homem, poderia ser
usada como ilustração de uma expectativa que não se
realizou.
Na seqüência dessas considerações, o segundo
texto poderia ser usado para demonstrar a frustração da
humanidade, que, longe de ter conseguido "mais
tempo para si mesma", hoje se divide entre uma parte
que "está se matando de trabalhar" e outra que "está
morrendo por falta de emprego". Esse paradoxo poderia
ser analisado pelo candidato como resultado de um
processo perverso gerado pela globalização, que
produziu uma profunda reestruturação do mundo do
trabalho, em grande parte baseada na exploração da
mão-de-obra barata dos países do Terceiro Mundo.
Em meio às preocupações decorrentes dessa
situação, – extensivas inclusive a jovens vestibulandos
cujas carreiras foram escolhidas em função do mercado
de trabalho – caberia ainda considerar o terceiro texto,
que, acompanhado da escultura "David", de
Michelangelo, define o trabalho de arte como "um
processo", algo que "resulta de uma vida". Uma
possível forma de relacionar essa visão às anteriores
seria pela comparação entre o trabalho artístico e o
trabalho imposto pelas necessidades da vida – ou, em
termos mais gerais, entre o trabalho criador e o trabalho
de natureza puramente repetitiva. 
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OOOOBBBBJJJJEEEETTTTIIIIVVVVOOOO
Comentário da Prova
Prova bem elaborada, exigente e inteligente, com
equilibrada distribuição das questões de compreensão
e interpretação de textos, língua e literatura. Lamente-
se o pequeno deslize que apontamos na formulação de
um dos quesitos (1 b) e louve-se a inteligência com que
foram elaboradas diversas questões, especialmente o
quesito b da última.
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