Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 3 25 Antonio Alci Barone Anna Sara Shaferman Levin Conceitos Básicos no Controle de Infecção Hospitalar 33 DEFINIÇÃO Define-se Infecção Hospitalar (IH) como aquela adqui- rida dentro do ambiente do hospital. Na prática, assume como tal as infecções que se manifestam 48 horas após a admissão do paciente no hospital. É importante observar que essas infecções podem ocor- rer não somente em pacientes mas também em funcioná- rios, isto é, os trabalhadores da área da saúde, e mesmo em visitantes. Por outro lado, infecções adquiridas na comu- nidade podem manifestar-se após a internação no hospital; por exemplo, uma criança em período de incubação de varicela pode manifestar a doença até três semanas após a internação, sem que esta seja uma IH. Por outro lado, um paciente que recebe transfusão de sangue ou derivados dentro do hospital e, seis meses após, apresenta uma hepa- tite por vírus B, está apresentando uma IH. Outro exemplo importante é o da infecção no sítio cirúrgico, que pode acontecer até 30 dias depois do ato cirúrgico, ou até um ano após a colocação de uma prótese, e que será detecta- da após a alta hospitalar, geralmente no retorno ambula- torial do paciente. Como hoje existe uma tendência ao tratamento de pa- cientes fora do ambiente hospitalar, em hospitais dia e mesmo na residência do enfermo (home care, assistência domiciliar), as infecções classicamente consideradas hos- pitalares estão ocorrendo nesses ambientes; surge a deno- minação infecção associada à assistência à saúde. Podemos classificar as IH em exógenas e endógenas, com base no modo de aquisição das mesmas. As infecções exógenas são adquiridas a partir de microrganismos exter- nos ao paciente. É o caso das infecções por instrumentos contaminados, inoculadas através de cateteres pelas mãos dos trabalhadores da saúde, lotes de medicamentos ou so- ros contaminados, etc. Geralmente ocorrem como respon- sáveis por surtos e são de controle e prevenção mais fáceis. Acredita-se que correspondem a menos de 30% das IH. Por outro lado, as infecções endógenas são causadas por mi- crorganismos que já colonizam previamente o paciente, isto é, a partir da sua própria flora. Essas IH estão associa- das à própria condição básica do paciente; geralmente são mais graves e de controle e prevenção muito difíceis. Es- tão relacionadas a própria evolução dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos e têm como principais fatores de risco a idade avançada, o tempo de internação prolon- gado, as doenças de base como diabetes e obesidade, os procedimentos invasivos, cateteres, ventilação mecânica, cirurgias, fatores imunossupressores como quimioterapia, transplante de órgãos ou tecidos, uso de antimicrobianos entre outros. Estima-se que representem 70% das IH. MODOS DE TRANSMISSÃO Consideram-se seis formas de transmissão de micror- ganismos para pacientes durante a assistência à sua saúde: • Por contato direto: ocorre pelo contato direto entre pes- soas. Um exemplo seria a transmissão direta de escabiose de um paciente para outro durante a internação. • Por contato indireto: ocorre através de objetos ou pelas mãos de profissionais de saúde, que portam microrga- nismos adquiridos de um paciente para outro. É pro- vavelmente a forma mais freqüente de transmissão de microrganismos no ambiente hospitalar, e a medida mais importante para o seu controle é a lavagem ou higienização adequada das mãos. • Por fonte comum: ocorre quando há um objeto, produ- to ou medicamento contaminado que é utilizado por um ou mais pacientes. É relativamente rara, mas é res- ponsável por surtos de infecção hospitalar. • Por gotículas: ocorre através da produção de gotículas por um paciente, que atingem outro paciente. As gotí- 26 Capítulo 3 culas têm alcance de apenas 1 metro. Assim, deve ha- ver pequenas distâncias entre pacientes para que ocor- ra esse tipo de transmissão. Como exemplo, pode-se ci- tar a transmissão de infecções respiratórias altas virais. • Por aerossóis: ocorre em três doenças conhecidas – tu- berculose, sarampo e varicela. O paciente infectado expele gotículas que, após ressecamento, se transfor- mam em núcleos de gotículas com dimensão menor que 5 µm. Esses núcleos podem percorrer longas dis- tâncias e permanecer em suspensão no ar por longos períodos, até serem inalados por outras pessoas. • Por vetores: ocorre raramente. Como exemplo pode-se citar a aquisição hospitalar de dengue. SÍNDROMES MAIS IMPORTANTES E SUA PREVENÇÃO As síndromes mais importantes envolvendo infecções de origem hospitalar, não só pela sua freqüência como também pela gravidade que envolvem, do ponto de vista de sua morbi-mortalidade, são as seguintes: • Infecções do trato urinário; • Infecções das vias respiratórias; • Infecções da corrente sangüínea; • Infecções do sítio cirúrgico; • Outras localizações de infecções hospitalares. Grande parte dessas infecções é decorrente de procedi- mentos invasivos e está relacionada com a colocação de dispositivos que põem o meio interno dos pacientes em contato direto com o meio ambiente e que impedem o fun- cionamento eficiente dos mecanismos de defesa do hospe- deiro contra as agressões representadas pela sua flora en- dógena ou pela flora ambiental. Assim, para a prevenção das infecções do trato uriná- rio, deve-se enfatizar os cuidados na instalação e na manu- tenção de cateteres uretro-vesicais, assim como levar em consideração as indicações de troca do sistema fechado, composto de cateter-tubo e saco coletor. A prevenção das infecções respiratórias depende de medidas gerais, como lavar as mãos, não usar de antibió- ticos profiláticos, evitar o refluxo e aspiração de conteú- do gástrico e aspirar as secreções acima da região glótica antes de manipulação do cuff da cânula endotraqueal. Da mesma sorte, deve-se manter os cuidados padronizados para intubação, realização de traqueostomia, uso de respi- radores, assim como os cuidados com os equipamentos de terapia respiratória e com a aspiração orotraqueal. Os cuidados para a prevenção da infecção da corrente sangüínea estão relacionados com a passagem dos catete- res, a manutenção e as indicações de troca desses disposi- tivos intravasculares. Já no que diz respeito às infecções do sítio cirúrgico, os cuidados se iniciam com a preparação pré-operatória do paciente, que deve ser internado o mais próximo possível do momento da cirurgia. A preparação do paciente envol- ve a remoção de pêlos, a desgermação e a anti-sepsia da pele dos pacientes. Levar em consideração a preparação da equipe cirúrgica, o preparo e a manutenção da sala de ci- rurgia, os princípios básicos da profilaxia antimicrobiana e os cuidados com a ferida operatória nas 24 horas após o procedimento. COMISSÕES DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR: JUSTIFICATIVA, FUNÇÕES E LEGISLAÇÃO. Há uma legislação completa sobre a implantação e fun- cionamento da Comissão, Serviço e Programa de Contro- le de Infecção Hospitalar (CIH). Está contida em uma lei e uma portaria que estão apre- sentadas na íntegra ao final deste capítulo. São: • Lei no. 9431 (06/01/1997) • Portaria 2616 (12/05/1998) Além destas, há um roteiro de inspeção para esse as- sunto, que é um instrumento de auditoria interna e exter- na dos hospitais nessa área. LEI NO. 9431: Em resumo essa lei determina que: • Todos os hospitais do País são obrigados a manter um Programa de CIH (PCIH); • PCIH é o conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente para redução máxima da incidên- cia e gravidade das IH; • Para isso, devem constituir uma Comissão de Contro- le de Infecção Hospitalar. PORTARIA 2616: Em resumo essa portaria determina que: • Deve ser constituída uma equipe que se divide em duas partes: A. Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) Trata-se do poder “Legislativo”; Faz reuniõesperiódicas; Define os rumos; portanto deve elaborar um Programa de Controle de Infecção Hospitalar para a instituição, baseado nas suas características, necessidades e priori- dades; • Tem como membros, no mínimo: – Presidente – Representante do Serviço Médico – Representante do Serviço de Enfermagem – Representante do Serviço de Farmácia – Representante do Laboratório de Microbiologia – Representante da Administração Todo hospital deve ter uma CCIH própria B. Serviço (SCIH) • Trata-se do poder “Executivo”; • É formado por uma equipe composta da seguinte forma: Capítulo 3 27 – Dois profissionais (nível superior) para cada 200 leitos ou fração. – Um desses profissionais deve ser, de preferência, uma enfermeira. – Enfermeiras devem cumprir seis horas diárias. – Outros profissionais devem cumprir quatro horas diárias. • A cada dez leitos críticos devem ser acrescidas dez horas semanais de trabalho (é considerado um leito crítico aque- le em unidade de terapia intensiva, berçário de alto risco, unidade de queimados, de transplantes, de oncologia, ou leitos de síndrome de imunodeficiência do adulto); • Em hospitais com menos de 50 leitos, podem ser fei- tos consórcios, com uma equipe prestando serviços para mais de um hospital; • Funções: – Elaborar junto com a CCIH um Programa de CIH – Implantar o Programa de CIH – Fazer vigilância das IH – Estabelecer e implantar normas e rotinas referentes aos procedimentos e atos relevantes para o contro- le e prevenção das IH – Realizar a capacitação dos profissionais da institui- ção, nas áreas relevantes para o controle e preven- ção das IH – Estabelecer um programa racional de uso de anti- microbianos, germicidas e materiais relevantes para o controle e prevenção das IH – Avaliar dados da vigilância e propor medidas de controle – Investigar e controlar surtos – Elaborar relatórios e fazer a divulgação das informa- ções relevantes para o controle e prevenção de IH, para o corpo clínico, de enfermagem e diretoria – Cooperar com órgão gestor do SUS – Notificar doenças de notificação compulsória. SAÚDE OCUPACIONAL Um dos problemas importantes no controle das infec- ções hospitalares se refere à aquisição de infecções pelos profissionais da saúde. As duas principais vias são por meio de exposição a sangue e a outros fluidos corporais e de aerossóis, como no caso da tuberculose. Estima-se que o risco de adquirir uma infecção após um acidente percutâneo com sangue contaminado seja de: 0,3% para o vírus da imunodeficiência humana (HIV); 3 a 10% para o vírus da hepatite C; e 30% ou mais para o ví- rus da hepatitie B. Acidentes perfurocortantes com material biológico en- tre profissionais de saúde não são raros. Uma tese defen- dida por Mariusa Basso em 1999 relatou os resultados de uma avaliação por questionário a 1096 profissionais no Complexo Hospital das Clínicas de São Paulo: 21,5% re- lataram acidente no último ano e 4,9% no último mês. As categorias profissionais e a proporção de aciden- tes que relataram no último mês e ano podem ser vistas na Tabela 3.1: Os tipos de acidentes relatados foram: • 80,5% pérfuro-cortantes; • 79,7% por sangue; • 83,1% nas mãos; • 74,1% por agulha; • Mais comuns: cirurgia, punção de veia. Como base a prevenção de acidentes com material bio- lógico foram elaboradas as Precauções-padrão ou Básicas. Considera-se que todos os pacientes são potenciais porta- dores de infecções transmitidas pelo sangue e outros flui- dos corporais. Assim, deve-se sempre utilizar luvas em si- tuações e exposição a esses fluidos. As luvas não devem ser estéreis e devem ser descartadas após cada uso. Em situa- ções de risco para respingos, utiliza-se avental, também não estéril, e máscara e óculos de proteção, se houver ris- co de exposição de olhos e mucosas. Outras medidas im- portantes são: • Não reencapar agulhas após o seu uso, pois essa é uma situação de grande risco de acidentes. • Descartar agulhas e outros materiais pérfuro-cortan- tes em recipiente adequado, de paredes rígidas e im- permeável. • Não desconectar agulhas das seringas. Deve-se des- cartá-las acopladas no recipiente apropriado. • Não dobrar agulhas. Ë fundamental também haver vacinação universal con- tra a hepatite B para todos os profissionais da saúde. Além disso, é necessário haver um programa para aten- dimento pós-exposição a sangue e outros fluidos corporais, uma vez que há medidas eficazes para diminuir a trans- Tabela 3.1 Porcentagem de Acidentes Perfurocortantes na Diversas Categorias Profissionais Categoria Profissional Acidente no Último Mês Acidente no Último Ano Estudantes de medicina 9,9% 55,4% Médicos residentes 12,3% 44,5% Médicos assistentes 7,1% 24% Auxilares/técnicos de enfermagem 2,7% 14,7% Pessoal de limpeza 2,5% 11,3% Técnicos de laboratório 2,6% 10,5% Enfermeiros 1,6% 10,2% Atendentes de enfermagem 0,7% 3,6% 28 Capítulo 3 missão pós-exposição de hepatite B (através de imunobio- lógicos) e HIV (através do uso de drogas anti-retrovirais), se o atendimento for precoce. Outra doença de importante transmissão hospitalar é a tuberculose. Considera-se que as formas contagiosas são a pulmonar e a laríngea. A transmissão ocorre através da inalação de aerossóis que são produtos do dessecamento de gotículas expelidas pelos pacientes. Essas partículas, menores de 5 µm, ficam em suspensão no ar por longos períodos de tempo e po- dem se disseminar por grandes distâncias, não ficando res- tritas apenas ao ambiente próximo ao paciente. Como proteção contra a disseminação da tuberculose no hospital, as seguintes medidas são importantes: • Diagnóstico precoce de casos suspeitos: considere a possibilidade de tuberculose em todo e qualquer pa- ciente que apresentar tosse por três semanas ou mais. Para todos esses pacientes deve ser solicitada a pesquisa direta de micobactérias no escarro. Assim, será possí- vel a identificação e tratamento precoce dos pacientes, que é a medida considerada mais importante no con- trole da disseminação da tubrculose. • Utilização de isolamento em quarto privativo de pa- cientes com tuberculose enquanto esses forem bacilí- feros. Esses quartos devem ter pressão negativa em re- lação às outras áreas do hospital e ter 12 trocas de ar por hora. Além disso, o ar expelido desses quartos não deve ser recirculado, e, se o for, deverá sofrer filtragem de alta eficiência (através de filtro HEPA). MÁSCARA N95 PARA A EQUIPE Os profisionais e visitantes aos pacientes bacilíferos de- verão utilizar uma máscara especial denominada N95, que filtra 95% das partículas com 0,3 µm ou mais. MÁSCARA COMUM PARA O PACIENTE O paciente, quando fora do seu quarto, como por exemplo para realizar exames, deverá utilizar uma másca- ra cirúrgica comum. O paciente deverá ser retirado do isolamento descrito antes quando apresentar três pesquisas seguidas de escar- ro negativas, colhidas em dias diferentes. CONHECIMENTO E PRÁTICA A implantação do Programa de Controle de Infecção Hospitalar apresenta um problema que merece atenção. Enquanto a Comissão e o Serviço elaboram o programa e detêm o conhecimento sobre prevenção, quem lida com o paciente é o profissional à beira do leito, que nem sempre tem o conhecimento das práticas pra a prevenção ou acre- dita na sua importância. O CIH é uma área multidisciplinar que envolve: • profissionais que atuam diretamente com os pacientes; • serviços de apoio; • laboratório; • amplo respaldo da administração. A falha de um põe em risco o trabalho de todos. Há portanto dois desafios: o de levar a informação a quem de fato lida diretamente com os pacientes, através de cursos, seminários e treinamentos; e transformar a informação adquirida pelos profissionais atuantes em atitudes. Atualmente discutem-se formas de avaliaro comporta- mento e a criação de indicadores de comportamento em IH, embora esse assunto não seja ainda bem estudado e não haja até o momento uma série bem estabelecida de indi- cadores de comportamento. Sugere-se que apresentem as seguintes características: • Simplicidade; • Factibilidade; • Comparabilidade. Os seus objetivos são: • Avaliar os problemas pontuais; • Avaliar o efeito de intervenções. Como exemplo apresentamos um avaliação realizada em 2001 numa Unidade de Terapia Intensiva, no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi aplicado um questionários para 53 profissionais de diferentes categorias: • Auxiliar de enfermagem: 23 (43%); • Enfermeira: 11 (21%); • Fisioterapeuta: 9 (17%); • Médico: 8 (15%); • Outros: 2. Esse questionário avaliou os seguintes pontos: • A lavagem das mãos deve ser feita antes e depois do contato com o paciente (51 de 53 respostas foram cor- retas, sendo 100% médicos, enfermeiros e fisioterapeu- tas e 95% dos auxiliares de enfermagem). • Não vou transmitir germes multi-resistentes se, antes e depois do contato com o paciente, eu lavar as mãos (63% foram respostas corretas, sendo 72% entre os en- fermeiros, 60% entre auxiliares, 75% entre médicos e 44% entre fisioterapeutas). • Sei que posso transmitir bactérias multi-resistentes se não lavar as mãos (88% foram respostas corretas, sen- do 100% entre os enfermeiros, médicos e fisioterapeu- tas e 83% entre auxiliares). • Mesmo se eu usar luvas, preciso lavar as mãos (94% fo- ram respostas corretas, sendo 100% entre os enfermei- ros, médicos e fisioterapeutas e 91% entre auxiliares). • Os profissionais de saúde podem portar germes multi- resistentes nas mãos (86% foram respostas corretas, sendo 100% entre os enfermeiros, médicos e fisiotera- peutas e 78% entre auxiliares). A seguir, na mesma unidade, foi realizada uma avalia- ção das práticas desses profissionais, observando 500 atos médicos ou de enfermagem com os pacientes, nos três tur- nos de trabalho (manhã, tarde e noite). A seguir listamos as situações observadas e em que proporção dos contatos com os pacientes foi realizada a lavagem das mãos antes e depois do procedimento (Tabela 3.2). Capítulo 3 29 Em resumo, foi realizada a lavagem das mãos antes de 20% dos contatos e em 30% após. Essa proporção variou de acordo com a categoria porfissional (Tabela 3.3). Uso adequado de luvas foi feito em 68,6%. Não se uti- lizou luvas quando era indicado em 11,3% e utilizou-se luvas de modo não indicado em 20,1% das ocasiões obser- vadas. Aqui ficou muito claro o bom nível de informação dos profissionais sobre a importância das mãos na transmissão de germes e da lavagem delas, porém evidencia-se uma grande dissociação entre o conhecimento teórico e a prá- tica diária. Essa questão talvez seja o maior desafio na área de Controle e Infecção Hospitalar e as estratégias para minimizá-la devem ser a base dos Programas de CIH. APÊNDICE: LEIS E PORTARIAS COMPLETAS Lei n.º 9.431 de 6 de janeiro de 1997 Dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção de pro- grama de controle de infecções hospitalares pelos hospi- tais do País. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu san- ciono a seguinte Lei: Art. 1.º Os hospitais do País são obrigados a manter Programa de Controle de Infecções Hospitalares – PCIH. § 1.° Considera-se programa de controle de infecções hospitalares, para os efeitos desta Lei, o conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente com vistas à redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções hospitalares. § 2.° Para os mesmos efeitos, entende-se por infecção hospitalar, também denominada institucional ou nosoco- mial, qualquer infecção adquirida após a internação de um paciente em hospital e que se manifeste durante a interna- ção ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a hospitalização. Art. 2.o Objetivando a adequada execução de seu pro- grama de controle de infecções hospitalares, os hospitais deverão constituir: I – Comissão de Controle de Infecções Hospitalares; II – (VETADO) Art. 3. o (VETADO) Art. 4. o (VETADO) Art. 5. o (VETADO) Art. 6. o (VETADO) Art. 7. o (VETADO) Art. 8. o (VETADO) Art. 9. o Aos que infringirem as disposições desta Lei aplicam-se as penalidades previstas na Lei n. o 6.437, de 20 de agosto de 1977. Art. 10. (VETADO) Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 6 de janeiro de 1997; 176.º da Independência e 109.º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Portaria n.º 2.616/MS/GM, de 12 de maio de 1998 O Ministro de Estado da Saúde, Interino, no uso das atri- buições que lhe confere o art. 87, inciso II da Constituição, e considerando as determinações da lei n.º 9.431, de 6 de ja- neiro de 1997, que dispõe sobre a obrigatoriedade da ma- nutenção pelos hospitais do país, de programa de con- trole de infecções hospitalares; Considerando que as infecções hospitalares consti- tuem risco significativo à saúde dos usuários dos hospitais, e sua prevenção e controle envolvem medidas de qualifi- cação de assistência hospitalar, de vigilância sanitária e outras, tomadas no âmbito do Estado, do Município e de cada hospital, atinentes ao seu funcionamento; Considerando que o Capítulo I, art. 5.º e inciso III da Lei n.º 8.080 de 19 de setembro de 1990, estabelece como ob- jetivo e atribuição do Sistema Único de Saúde (SUS), “a as- sistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da Saúde com a realização integra- da das ações assistenciais e das atividades preventivas”; Considerando que no exercício da atividade fiscaliza- dora os órgãos estaduais de saúde deverão observar, entre outros requisitos e condições, a adoção, pela instituição prestadora de serviços, de meios de proteção capazes de evitar efeitos nocivos à saúde dos agentes, clientes, pacien- tes e dos circunstantes (Decreto n.º 77.052, de 19 de janei- ro de 1976, art. 2.º, inciso IV); Considerando os avanços técnico-científicos, os resul- tados do Estudo Brasileiro da Magnitude das Infecções Hospitalares, Avaliação da Qualidade das Ações de Con- Tabela 3.2 Lavagem das Mãos antes e depois de cada Procedimento segundo o Tipo de Contato Tipo de Contato Antes Depois Breve (26%) 8% 16% Secreções (29%) 24% 32% Objetos contaminados (10%) 23% 40% Traqueostomia (6,4%) 16% 33% Coleta de exame (5,8%) 24% 38% Cateter vascular (4,4%) 40% 27% Banho (4,4%) 9% 33% Excreções (3,2%) 7% 7% Ferida ou curativo(3,2%) 32% 43% Tabela 3.3 Lavagem das Mãos antes e depois segundo as Diversas Categorias Profissionais na Área de Saúde Categoria Antes Depois Auxiliar 18% 24% Enfermeira 18% 36% Fisioterapeuta 32% 50% Médico 12% 23% Outro 8,3% 8,3% 30 Capítulo 3 trole de Infecção Hospitalar, o reconhecimento mundial destas ações como as que implementam a melhoria da qua- lidade da assistência à Saúde, reduzem esforços, proble- mas, complicações e recursos; Considerando a necessidade de informações e instru- ção oficialmente constituída para respaldar a formação técnico-profissional, resolve: Art. 1.º Expedir, na forma dos anexos I, II, III, IV e V, di- retrizes e normas para a prevenção e o controle das infec- ções hospitalares. Art. 2.º As ações mínimas necessárias, a serem desen- volvidas, deliberada e sistematicamente, com vistas à redu- ção máxima possível da incidência e da gravidade das in- fecções dos hospitais, compõem o Programa de Controle de Infecções Hospitalares. Art. 3.º A Secretaria de Políticas de Saúde, do Ministé- rio da Saúde, prestará cooperação técnica às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, a fim de orientá-las so- bre o exato cumprimento e interpretação das normas apro- vadas por estaPortaria. Art. 4.º As Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde poderão adequar as normas conforme prevê a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 5.º A inobservância ou o descumprimento das nor- mas aprovadas por esta Portaria sujeitará o infrator ao pro- cesso e às penalidades na Lei n.º 6.437, de 20 de agosto de 1977, ou outra que a substitua, com encaminhamento dos casos ou ocorrências ao Ministério Público e órgãos de defesa do consumidor para aplicação da legislação perti- nente (Lei n.º 8.078/90 ou outra que a substitua). Art. 6.º Este regulamento deve ser adotado em todo ter- ritório nacional, pelas pessoas jurídicas e físicas, de direi- to público e privado envolvidas nas atividades hospitala- res de assistência à saúde. Art. 7.º Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 8.º Fica revogada a Portaria n.º 930, de 27 de agosto de 1992. BARJAS NEGRI Programa de Controle de Infecção Hospitalar ANEXO I ORGANIZAÇÃO 1. O Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) é um conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente, com vistas à redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções hospitalares. 1. Para a adequada execução do PCIH, os hospitais de- verão contituir Comissão de Controle de Infecção Hospi- talar (CCIH), órgão de assessoria à autoridade máxima da instituição e de execução das ações de controle de infec- ção hospitalar. 1.1. A CCIH deverá ser composta por profissionais da área de saúde, de nível superior, formalmente designados. 2.2 Os membros da CCIH serão de dois tipos: consul- tores e executores. 2.2.1. O presidente ou coordenador da CCIH será qual- quer um dos membros da mesma, indicado pela direção do hospital. 2.3. Os membros consultores serão representantes, dos seguintes serviços: 2.3.1. Serviço médico; 2.3.2. Serviço de enfermagem; 2.3.3. Serviço de farmácia; 2.3.4. Laboratório de microbiologia; 2.3.5. Administração. 2.4. Os hospitais com número de leitos igual ou infe- rior a 70 (setenta) atendem os números 2.3.1. e 2.3.2. 2.5. Os membros executores da CCIH representam o Serviço de Controle de Infeção Hospitalar e, portanto, são encarregados da execução das ações programadas de con- trole de infecção hospitalar. 2.5.1. Os membros executores serão, no mínimo, 2 (dois) técnicos de nível superior da área de saúde para cada 200 (duzentos) leitos ou fração deste número com carga horária diária, mínima de 6 (seis) horas para o enfermei- ro e 4 (quatro) horas para os demais profissionais. 2.5.1.1. Um dos membros executores deve ser, prefe- rencialmente, um enfermeiro. 2.5.1.2. A carga horária diária, dos membros executo- res, deverá ser calculada na base da proporcionalidade de leitos indicados no número 2.5.1. 2.5.1.3. Nos hospitais com leitos destinados a pacien- tes críticos, a CCIH deverá ser acrescida de outros profis- sionais de nível superior da área de saúde. Os membros executores terão acrescidas 2 (duas) horas semanais de trabalho para cada 10 (dez) leitos ou fração; 2.5.1.3.1. Para fins desta Portaria, consideram-se pa- cientes críticos: 2.5.1.3.1.1. Pacientes de terapia intensiva (adulto, pe- diátrico e neonatal); 2.5.1.3.1.2. Pacientes de berçário de alto risco; 2.5.1.3.1.3. Pacientes queimados; 2.5.1.3.1.4. Pacientes submetidos a transplantes de órgãos; 2.5.1.3.1.5. Pacientes hemato-oncológicos; 2.5.1.3.1.6. Pacientes com Síndrome da Imunodeficiên- cia Adquirida. 2.5.1.4. Admite-se, no caso do número 2.5.1.3, o au- mento do número de profissionais executores na CCIH, ou a relativa adequação de carga horária de trabalho da equi- pe original expressa no número 2.5.1; 2.5.1.5. Em hospitais com regime exclusivo de interna- ção tipo paciente-dia, deve-se atender aos números 2.1, 2.2 e 2.3, e com relação ao número 2.5.1., a carga de trabalho dos profissionais será de 2 (duas) horas diárias para o en- fermeiro e 1 (uma) hora para os demais profissionais, in- dependentemente do número de leitos da instituição. 2.5.1.6. Os hospitais poderão consorciar-se no sentido da utilização recíproca de recursos técnicos, materiais e humanos, com vistas à implantação e manutenção do Pro- grama de Controle da Infecção Hospitalar. Capítulo 3 31 2.5.1.7. Os hospitais consorciados deverão constituir CCIH própria, conforme os números 2 e 2.1, com relação aos membros consultores, e prover todos os recursos ne- cessários à sua atuação. 2.5.1.8. O consórcio deve ser formalizado entre os hos- pitais componentes. Os membros executores, no consórcio, devem atender aos números 2.5.1, 2.5.1.1, 2.5.1.2, 2.5.1.3 e 2.5.1.4. COMPETÊNCIAS 3. A CCIH do hospital deverá: 3.1. Elaborar, implementar, manter e avaliar programa de controle de infecção hospitalar, adequado às caracterís- ticas e necessidades da instituição, contemplando, no mí- nimo, ações relativas a: 3.1.1. Implantação de um Sistema de Vigilância Epide- miológica das Infecções Hospitalares, de acordo com o Anexo III; 3.1.2. Adequação, implementação e supervisão das nor- mas e rotinas técnico-operacionais, visando à prevenção e controle das infecções hospitalares; 3.1.3. Capacitação do quadro de funcionário e profis- sionais da instituição, no que diz respeito à prevenção e controle das infecções hospitalares; 3.1.4. Uso racional de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares. 3.2. Avaliar, periódica e sistematicamente, as informa- ções providas pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica das infecções hospitalares e aprovar as medidas de contro- le propostas pelos membros executores da CCIH; 3.3. Realizar investigação epidemiológica de casos e surtos, sempre que indicado, e implantar medidas imedia- tas de controle; 3.4. Elaborar e divulgar, regularmente, relatórios e co- municar, periodicamente, à autoridade máxima da institui- ção e às chefias de todos os setores do hospital, a situação do controle das infecções hospitalares, promovendo seu amplo debate na comunidade hospitalar; 3.5. Elaborar, implementar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico-operacionais, visando limitar a disse- minação de agentes presentes nas infecções em curso no hos- pital, por meio de medidas de precaução e de isolamento; 3.6. Adequar, implementar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico-operacionais, visando à pre- venção e ao tratamento das infecções hospitalares; 3.7. Definir, em cooperação com a Comissão de Farmá- cia e Terapêutica, política de utilização de antimicrobia- nos, germicidas e materiais médico-hospitalares para a ins- tituição; 3.8. Cooperar com o setor de treinamento ou respon- sabilizar-se pelo treinamento, com vistas a obter capacita- ção adequada do quadro de funcionários e profissionais, no que diz respeito ao controle das infecções hospitalares; 3.9. Elaborar regimento interno para a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar; 3.10. Cooperar com a ação do órgão de gestão do SUS, bem como fornecer, prontamente, as informações epide- miológicas solicitadas pelas autoridades competentes; 3.11. Notificar, na ausência de um núcleo de epidemio- logia, ao organismo de gestão do SUS, os casos diagnosti- cados ou suspeitos de outras doenças sob vigilância epide- miológica (notificação compulsória), atendidos em qualquer dos serviços ou unidades do hospital, e atuar co- operativamente com os serviços de saúde coletiva; 3.12. Notificar ao Serviço de Vigilância Epidemiológi- ca e Sanitária do organismo de gestão do SUS, os casos e surtos diagnosticados ou suspeitos de infecções associadas à utilização e/ou produtos industrializados. 4. Caberá à autoridade máxima da instituição: 4.1. Constituir formalmente a CCIH; 4.2. Nomear os componentes da CCIH por meio de ato próprio; 4.3. Propiciar a infra-estrutura necessária à correta operacionalizaçãoda CCIH; 4.4. Aprovar e fazer respeitar o regimento interno da CCIH; 4.5. Garantir a participação do Presidente da CCIH nos órgãos colegiados deliberativos e formuladores de políti- ca da instituição, como, por exemplo, os conselhos técni- cos, independentemente da natureza da entidade mantene- dora da instituição de saúde; 4.6. Garantir o cumprimento das recomendações for- muladas pela Coordenação Municipal, Estadual/Distrital de Controle de Infecção Hospitalar; 4.7. Informar o órgão oficial municipal ou estadual quanto à composição da CCIH, e às alterações que venham a ocorrer; 4.8. Fomentar a educação e o treinamento de todo o pessoal hospitalar. 5. À Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar, do Ministério da Saúde, compete: 5.1. Definir diretrizes de ações de controle de infecção hospitalar; 5.2. Apoiar a descentralização das ações de prevenção e controle de infeção hospitalar; 5.3. Coordenar as ações nacionais de prevenção e con- trole de infecção hospitalar; 5.4. Estabelecer normas gerais para a prevenção e con- trole das infecções hospitalares; 5.5. Estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle de infecção hospitalar; 5.6. Promover a articulação com órgãos formadores, com vistas à difusão do conteúdo de conhecimentos do controle de infecção hospitalar; 5.7. Cooperar com a capacitação dos profissionais de saúde para o controle de infecção hospitalar; 5.8. Identificar serviços municipais, estaduais e hospi- talares para o estabelecimento de padrões técnicos de re- ferência nacional; 5.9. Prestar cooperação técnica, política e financeira aos Estados e aos Municípios, para aperfeiçoamento da sua atuação em prevenção e controle de infecção hospitalar; 5.10. Acompanhar e avaliar as ações implementadas, respeitadas as competências estaduais/distrital e munici- pais de atuação, na prevenção e controle das infecções hos- pitalares; 32 Capítulo 3 5.11. Estabelecer sistema nacional de informações sobre infecção hospitalar na área de vigilância epidemiológica; 5.12. Estabelecer sistema de avaliação e divulgação na- cional dos indicadores da magnitude e gravidade das infec- ções hospitalares e da qualidade das ações de seu controle; 5.13. Planejar ações estratégicas em cooperação técni- ca com os Estados, Distrito Federal e os Municípios; 5.14. Acompanhar, avaliar e divulgar os indicadores epidemiológicos de infecção hospitalar. 6. Às Coordenações Estaduais e Distrital de Controle de Infecção Hospitalar, compete: 6.1. Definir diretrizes de ação estadual/distrital, basea- das na política nacional de controle de infecção hospitalar; 6.2. Estabelecer normas, em caráter suplementar, para a prevenção e controle de infecção hospitalar; 6.3. Descentralizar as ações de prevenção e controle de infecção hospitalar dos Municípios; 6.4. Prestar apoio técnico, financeiro e político aos municípios, executando, supletivamente, ações e serviços de saúde, caso necessário; 6.5. Coordenar, acompanhar, controlar e avaliar as ações de prevenção e controle de infecção hospitalar do Estado e Distrito Federal; 6.6. Acompanhar, avaliar e divulgar os indicadores epi- demiológicos de infecção hospitalar; 6.7. Informar, sistematicamente, à Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar, do Ministério da Saúde, a partir da rede distrital, municipal e hospitalar, os indica- dores de infecção hospitalar estabelecidos. 7. Às Coordenações Municipais de Controle de Infec- ção Hospitalar, compete: 7.1. Coordenar as ações de prevenção e controle de in- fecção hospitalar na rede hospitalar do Município; 7.2. Participar do planejamento, da programação e da organização da rede regionalizada e hierarquizada do SUS, em articulação com a Coordenação Estadual de controle de infecção hospitalar; 7.3. Colaborar e acompanhar os hospitais na execução das ações de controle de infecção hospitalar; 7.4. Prestar apoio técnico à CCIH dos hospitais; 7.5. Informar, sistematicamente, à Coordenação Esta- dual de controle de infecção hospitalar do seu Estado, a partir da rede hospitalar, os indicadores de infecção hos- pitalar estabelecidos. Programa de Controle de Infecção Hospitalar ANEXO II CONCEITOS E CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DAS IN- FECÇÕES HOSPITALARES 1. Conceitos básicos. 1.1. Infecção comunitária (IC): 1.1.1. É aquela constatada ou em incubação no ato de admissão do paciente, desde que não relacionada com in- ternação anterior no mesmo hospital. 1.1.2. São também comunitárias: 1.1.2.1. A infecção que está associada com complicação ou extensão da infecção já presente na admissão, a menos que haja troca de microrganismos com sinais ou sintomas fortemente sugestivos da aquisição de nova infecção; 1.1.2.2. A infecção em recém-nascido, cuja aquisição por via transplacentária é conhecida ou foi comprovada e que se tornou evidente logo após o nascimento (exemplo: herpes simples, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, sífilis e AIDS); 1.1.2.3. As infecções de recém-nascidos associadas com bolsa rota superior a 24 (vinte e quatro) horas. 1.2. Infecção hospitalar (IH): 1.2.1. É aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou proce- dimentos hospitalares. 2. Critérios para diagnóstico de infecção hospitalar, previamente estabelecidos e descritos. 2.1. Princípios: 2.1.1. O diagnóstico das infecções hospitalares deverá valorizar informações oriundas de: 2.1.1.1. Evidência clínica, derivada da observação dire- ta do paciente ou da análise de seu prontuário; 2.1.1.2. Resultados de exames de laboratório, ressaltan- do-se os exames microbiológicos, a pesquisa de antígenos, anticorpos e métodos de visualização realizados. 2.1.1.3. evidências de estudos com métodos de imagem; 2.1.1.4. Endoscopia; 2.1.1.5. Biópsia e outros. 2.2. Critérios gerais: 2.2.1. Quando, na mesma topografia em que foi diag- nosticada infecção comunitária, for isolado um germe di- ferente, seguido do agravamento das condições clínicas do paciente, o caso deverá ser considerado como infecção hospitalar; 2.2.2. Quando se desconhecer o período de incubação do microorganismo e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação, convenciona-se infecção hospitalar toda manifestação clínca de infecção que se apresentar a partir de 72 (seten- ta e duas) horas após a admissão; 2.2.3. São também convencionadas infecções hospita- lares aquelas manifestadas antes de 72 (setenta e duas) ho- ras da internação, quando associadas a procedimentos diag- nósticos e ou terapêuticos, realizados durante este período; 2.2.4. As infecções no recém-nascido são hospitalares, com exceção das transmitidas de forma transplacentária e aquelas associadas a bolsa rota superior a 24 (vinte e qua- tro) horas; 2.2.5. Os pacientes provenientes de outro hospital que se internam com infecção são considerados portadores de infecção hospitalar do hospital de origem hospitalar. Neste caso, a Coordenação Estadual/Distrital/Municipal e/ou o hospital de origem deverão ser informados para computar o episódio como infecção hospitalar naquele hospital. 3. Classificação das cirurgias por potencial de contami- nação da incisão cirúrgica Capítulo 3 33 3.1. As infecções pós-cirúrgicas devem ser analisadas conforme o potencial de contaminação da ferida cirúrgi- ca, entendido como o número de microrganismos presen- tes no tecido a ser operado; 3.2. A classificação das cirurgias deverá ser feita no fi- nal do ato cirúrgico, pelo cirurgião, de acordo com as se- guintes indicações: 3.2.1. Cirugias Limpas – são aquelas realizadas em te- cidos estéreis ou passíveis de descontaminação, na ausên- cia de processo infeccioso e inflamatório local ou falhas técnicas grosseiras, cirurgias eletivas comcicatrização de primeira intenção e sem drenagem aberta. Cirurgias em que não ocorrem penetrações nos tratos digestivo, respira- tório ou urinário; 3.2.2. Cirurgias Potencialmente Contaminadas – são aquelas realizadas em tecidos colonizados por flora micro- biana pouco numerosa ou em tecidos de difícil desconta- minação, na ausência de processo infeccioso e inflamató- rio e com falhas técnicas discretas no transoperatório. Cirurgias com drenagem aberta enquadram-se nesta cate- goria. Ocorre penetração nos tratos digestivo, respiratório ou urinário sem contaminação significativa. 3.2.3. Cirurgias Contaminadas – são aquelas realizadas em tecidos recentemente traumatizados e abertos, coloni- zados por flora bacteriana abundante, cuja descontamina- ção seja difícil ou impossível, bem como todas aquelas em que tenham ocorrido falhas técnicas grosseiras, na ausên- cia de supuração local. Na presença de inflamação aguda na incisão e cicatrização de segunda intenção, ou grande contaminação a partir do tubo digestivo. Obstrução biliar ou urinária também se incluem nesta categoria. 3.2.4. Cirurgias Infectadas – são todas as intervenções cirúrgicas realizadas em qualquer tecido ou órgão, em pre- sença de processo infeccioso (supuração local) e/ou teci- do necrótico. ANEXO III VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS DAS INFECÇÕES HOSPITALARES. 1. Vigilância Epidemiológica das infecções hospitalares é a observação ativa, sistemática e contínua de sua ocorrên- cia e de sua distribuição entre pacientes, hospitalizados ou não, e dos eventos e condições que afetam o risco de sua ocorrência, com vistas à execução oportuna das ações de prevenção e controle. 2. A CCIH deverá escolher o método de Vigilância Epi- demiológica mais adequado às características do hospital, à estrutura de pessoal e à natureza do risco da assistência, com base em critérios de magnitude, gravidade, redutibi- lidade das taxas ou custo; 2.1. São indicados os métodos prospectivos e transver- sais, visando determinar taxas de inciência ou prevalência. 3. São recomendados os métodos de busca ativos de coleta de dados para Vigilância Epidemiológica das infec- ções hospitalares. 4. Todas as alterações de comportamento epidemioló- gico deverão ser objeto de investigação epidemiológica específica. 5. Os indicadores mais importantes a serem obtidos e analisados periodicamente no hospital e, especialmente, nos serviços de Berçário de Alto Risco, UTI (adulto/pediá- trica/neonatal) e Queimados, são: 5.1. Taxa de Infecção Hospitalar, calculada tomando como numerador o número de episódios de infecção hos- pitalar no período considerado e como denominador o to- tal de saídas (altas, óbitos e transferências) ou entradas no mesmo período; 5.2. Taxa de Pacientes com Infecção Hospitalar, calcu- lada tomando como numerador o número de doentes que apresentaram infecção hospitalar no período considerado, e como denominador o total de saídas (altas, óbitos e transferências) ou entradas no período; 5.3. Distribuição Percentual das Infecções Hospitalares por localização topográfica no paciente, calculada tendo como numerador o número de episódios de infecção hos- pitalar em cada topografia, no período considerado e como denominador o número total de episódios de infecção hos- pitalar ocorridos no período; 5.4. Taxa de Infecções Hospitalares por Procedimento, calculada tendo como numerador o número de pacientes submetidos a um procedimento de risco que desenvolve- ram infecção hospitalar e como denominador o total de pacientes submetidos a este tipo de procedimento. Exemplos: Taxa de infecção do sítio cirúrgico, de acordo com o potencial de contaminação. Taxa de infecção urinária após cateterismo vesical. Taxa de pneumonia após uso de respirador. 5.5. Recomenda-se que os indicadores epidemiológicos dos números 5.1. e 5.2. sejam calculados utilizando-se no denominador o total de pacientes/dia, no período. 5.5.1. O número de pacientes/dia é obtido somando-se os dias totais de permanência de todos os pacientes no pe- ríodo considerado. 5.6. Recomenda-se que o indicador do número 5.4 pos- sa ser calculado utilizando-se como denominador o núme- ro total de procedimentos/dia. 5.6.1. O número de pacientes/dia é obtido somando-se o total de dias de permanência do procedimento realiza- do no período considerado. 5.7. Outros procedimentos de risco poderão ser avaliados, sempre que a ocorrência respectiva o indicar, da mesma for- ma que é de utilidade o levantamento das taxas de infecção do sítio cirúrgico, por cirurgião e por especialidade. 5.8. Freqüência das Infecções Hospitalares por Micror- ganismos ou por etiologias, calculada tendo como nume- rador o número de episódios de infecção hospitalar por microrganismos e como denominador o número de episó- dios de infecções hospitalares que ocorreram no período considerado. 5.9. Coeficiente de Sensibilidade aos Antimicrobianos, calculado tendo como numerador o número de cepas bacterianas de um determinado microrganismo sensível a determinado antimicrobiano e como denominador o nú- mero total de cepas testadas do mesmo agente com anti- biograma realizado a partir das espécimes encontradas. 34 Capítulo 3 5.10. Indicadores de uso de antimicrobianos. 5.10.1. Percentual de pacientes que usaram antimicro- bianos (uso profilático ou terapêutico) no período consi- derado. Pode ser especificado por clínica de internação. É calculado tendo como numerador o total de pacientes em uso de antimicrobiano e como denominador o número to- tal de pacientes no período. 5.10.2. Freqüência com que cada antimicrobiano é empregado em relação aos demais. É calculada tendo como numerador o total de tratamentos iniciados com de- terminado antimicrobiano no período, e como denomina- dor o total de tratamentos com antimicrobianos iniciados no mesmo período. 5.11. Taxa de letalidade associada a infecção hospita- lar é calculada tendo como numerador o número de pa- cientes que desenvolveram infecção hospitalar no período. 5.12. Consideram-se obrigatórias as, informações rela- tivas aos indicadores epidemiológicos 5.1, 5.2, 5.3 e 5.11, no mínimo com relação aos serviços de Berçário de alto risco, UTI (adulto/pediátrica/neonatal) e Queimados. 6. Relatórios e Notificações 6.1. A CCIH deverá elaborar periodicamente um rela- tório com os indicadores epidemiológicos interpretados e analisados. Esse relatório deverá ser divulgado a todos os serviços e à direção, promovendo-se seu debate na comu- nidade hospitalar. 6.2. O relatório deverá conter informações sobre o ní- vel endêmico das infecções hospitalares sob vigilância e as alterações de comportamento epidemiológicos detectadas, bem como as medidas de controle adotadas e os resulta- dos obtidos. 6.3. É desejavel que cada cirurgião receba, anualmen- te, relatório com as taxas de infecção em cirurgias limpas referentes às suas atividades, e a taxa média de infecção de cirurgias limpas entre pacientes de outros cirurgiões de mesma especialidade ou equivalente. 6.4. O relatório da vigilância epidemiológica e os rela- tórios de investigações epidemiológicas deverão ser envi- ados às Coordenações Estaduais/ Distrital / Municipais e à Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar do Mi- nistério da Saúde, conforme as normas específicas das re- feridas Coordenações. Programa de Controle de Infecção Hospitalar ANEXO IV LAVAGEM DAS MÃOS 1. Lavagem das mãos é a fricção manual vigorosa de toda a superfície das mãos e punhos, utilizando-se sabão/deter- gente, seguida de enxágüe abundante em água corrente. 2. A lavagem das mãos é, isoladamente, a ação mais importante para a prevenção e controle das infecções hos- pitalares. 3. O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos antes e após contatos que envolvam mucosas, sangue ou outros fluidos corpóreos, secreções ouexcreções. 4. A lavagem das mãos deve ser realizada tantas vezes quanto necessária, durante a assistência a um único pacien- te, sempre que envolver contato com diversos sitos corpo- rais, entre cada uma das atividades. 4.1. A lavagem e anti-sepsia cirúrgica das mãos é rea- lizada sempre antes dos procedimentos cirúrgicos. 5. A decisão para a lavagem das mãos com uso de anti- séptico deve considerar o tipo de contato, o grau de con- taminação, as condições do paciente e o procedimento a ser realizado. 5.1. A lavagem das mãos com anti-séptico é reco- mendada em: realização de procedimentos invasivos; prestação de cuidados a pacientes críticos; contato di- reto com feridas e/ou dispositivos invasivos, tais como cateteres e drenos. 6. Devem ser empregadas medidas e recursos com o objetivo de incorporar a prática da lavagem das mãos em todos os níveis da assistência hospitalar. 6.1. A distribuição e a localização de unidades ou pias para lavagem das mãos, de forma a atender à necessidade nas diversas áreas hospitalares, além da presença dos pro- dutos, é fundamental para a obrigatoriedade da prática. Programa de Controle de Infecção Hospitalar ANEXO V RECOMENDAÇÕES GERAIS 1. A utilização dos anti-sépticos, desinfetantes e este- rilizantes seguirá as determinações da Portaria n.º 15, de 23 de agosto de 1988, da Secretaria de Vigilância Sanitá- ria (SVS) do Ministério da Saúde e o Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde/MS, 2.º edição, 1994, ou outras que as complementem ou substituam. 1.1. Não são recomendadas, para a finalidade de anti- sepsia, as formulações contendo mercuriais orgânicos, ace- tona, quaternário de amônio, líquido de Dakin, éter e clo- rofórmio. 2. As Normas de limpeza, desinfecção e esterilização são aquelas definidas pela publicação do Ministério da Saúde, Processamento de Artigos e Superfícies em Estabe- lecimentos de Saúde, 2.º edição, 1994 – princípios ativos liberados conforme os definidos pela Portaria n.º 15, SVS, de 23 de agosto de 1988, ou outras que as complementem ou substituam. 3. As normas de procedimentos na área de Microbio- logia são aquelas definidas pela publicação do Ministé- rio da Saúde – Manual de Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção Hos- pitalar, 1.º edição, 1991 ou outras que as complemen- tem ou substituam. 4. As normas para lavanderia são aquelas definidas pela publicação do Ministério da Saúde – Manual de Lavande- ria Hospitalar, 1.º edição, 1986, ou outras que as comple- mentem ou substituam. 5. A Farmácia Hospitalar seguirá as orientação contidas na publicação do Ministério da Saúde – Guia Básico para a Farmácia Hospitalar, 1.º edição, 1994, ou outras que as complementem ou substituam. (Of. N.º 31/98). Capítulo 3 35 BIBLIOGRAFIA 1. Amarante JMB. Prevenção das Infecções Hospitalares do Trato Respiratório. São Paulo: APECIH, 1997. 2. Andriolli ER. Precauções/Isolamento - São Paulo: APECIH, 1999. 3. Graziano KU, Manrique EI e Fernandes AT. Controle de In- fecção na Prática Odontológica. São Paulo: APECIH, 2000. 4. Grinbaum RS, Sader H, Medeiros EAS e Salomão R. Entero- coco Resistente aos Glicopeptídeos. São Paulo: APECIH, 1999. 5. Grinbaun RS. Prevenção da Infecção de Sítio Cirúrgico. 2a Edição. São Paulo: APECIH, 2001. 6. Levy CE - Manual de Microbiologia Clínica Aplicada ao Con- trole de Infecção Hospitalar. 2a edição. São Paulo: APECIH, 2004. 7. Mangini C. Prevenção de Infecção do Trato Urinário Hospi- talar. São Paulo: APECIH, 2000. 8. Manrique EI, Mangini C. Melhorando o Uso de Antimicrobia- nos em Hospitais. São Paulo: APECIH, 2002. 9. Molina E. Limpeza, Desinfecção de Artigos e Áreas Hospita- lares e Anti-Sepsia. São Paulo: APECIH, 1999. 10. Padoveze MC e Del Monte MCC. Esterilização de Artigos em Unidades de Saúde. 2a edição. São Paulo: APECIH, 2003. 11. Pereira CR. Epidemiologia Aplicada ao Controle de Infecçoes em Hospitais e Serviços Correlatos. São Paulo: APECIH, 2000. 12. Pereira CR - Orientações para o Controle de Infecções em Pes- soal da Área da Saúde. São Paulo: APECIH, 1998. 13. Pereira CR, Coutinho AP, Feijó RD. Prevenção e Controle de Infecções Associadas à Assistência Médica Extra-Hospitalar, Ambulatórios, Serviços Diagnósticos, Assistência Domiciliar e Serviços de Longa Permanência. São Paulo: APECIH, 2004. 14. Richtmann R. Diagnóstico e Prevenção de Infecçao Hospita- lar em Neonatologia. São Paulo: APECIH, 2002. 15. Richtmann R, Levin AS. Infecção Relacionada ao uso de Ca- teteres Vasculares. 2a Edição. São Paulo: APECIH, 1999. 16. Souza Dias MBG, Levin AS. Guia de Utilização de Antimicro- bianos e Recomendações para a Prevenção de Infecções Hos- pitalares. São Paulo: Hospital das Clínicas da FMUSP, 2003.
Compartilhar