Buscar

14 Raiva

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Capítulo 14 143
 Jussara Marcondes-Machado
Alexandre Naime Barbosa
Raiva 1414
INTRODUÇÃO
A raiva é uma zoonose de origem viral que se manifesta
como encefalite aguda. Se houver desenvolvimento de sin-
tomas a raiva é fatal, tanto no homem quanto nos animais.
O agente etiológico pertence à família Rhabdoviridae, gêne-
ro Lyssavirus, tendo aspecto de cilindro em forma de pro-
jétil, com uma terminação arredondada e a outra, achata-
da. Mede 180 por 80 mm. No interior do nucleocapsídeo
tubular, com simetria helicoidal, encontra-se o genoma
com RNA de cadeia única e uma transcriptase. O vírus é
dotado de envelope lipídico. Deste envelope, e recobrindo
toda a superfície viral, menos a extremidade achatada, saem
espículas ou espinhos, estruturas protéicas glicosiladas,
que constituem o principal antígeno viral, responsável
pela indução de anticorpos neutralizantes e pela proteção
imune contra infecção (Fig. 14.1).
São descritos dois tipos de vírus: o de rua e o fixo. O
primeiro corresponde à forma natural do vírus de animais,
tendo afinidade por células nervosas, pelo epitélio respi-
ratório e por tecido glandular seromucoso. É isolado de
animais infectados em ciclos de transmissão natural, tan-
to em área urbana como silvestre, e induz, no cérebro, o
corpúsculo de Negri. O vírus fixo, derivado do anterior, é
uma variante laboratorial, obtida mediante passagens
intracerebrais seriadas que exaltam sua virulência. Têm
período de incubação mais curto e relativamente estável,
entre quatro e sete dias. Não produz corpúsculo de Negri
e perde a capacidade de invadir células salivares.
Após ser inoculado, o vírus pode levar dias a semanas
para atingir o sistema nervoso central (SNC), o que torna
possível a profilaxia pós-exposição. Acredita-se que haja
multiplicação viral inicial nas células musculares que cir-
cundam a ferida, o que ocasiona ampliação do inóculo. O
vírus passa, então, em algum momento, a progredir do sítio de
inoculação para a medula espinhal, sendo transportado de
maneira retrógrada pelo axônio, numa velocidade de 12 a
24 mm/dia. Os vírus da raiva são demonstrados nos gânglios
dorsais, levando a edema das raízes dorsais, ocasião em que
pode haver referência pelo paciente de dor ou parestesia no
local da inoculação do vírus. A partir daí, ascende rapida-
mente para o cérebro, instalando-se em muitas estruturas da
base e disseminando-se. As manifestações clínicas, então, são
decorrentes da região cerebral comprometida: quando se
trata do sistema límbico, há perda dos mecanismos de con-
trole comportamental, principalmente dos de ordem se-
xual; se for o tronco cerebral, há perda do controle da
temperatura corporal e alteração do padrão respiratório,
chegando à parada respiratória. Do cérebro, o vírus volta, de
maneira centrífuga, para a periferia, situando-se, então, em
glândulas salivares, córnea, coração, rins, pulmões e trato
gastrointestinal. É por isso que o transplante corneano é uma
via de transmissão viral. As alterações patológicas encontra-
das na raiva são menos intensas do que se poderia esperar
em uma doença com quadro clínico tão expressivo e mui-
to semelhante às de outras encefalites virais.
Os mamíferos são responsáveis pela manutenção e
transmissão do vírus em todo o mundo. Muitos animais
reservatórios são espécies terrestres, principalmente os
carnívoros selvagens. Na maioria dos países da África, Ásia
e América Latina, os cães continuam a ser os principais
hospedeiros e são responsáveis pela maioria das mortes
por raiva relatadas no mundo. Muitas outras espécies de
animais são vítimas, transmitindo o vírus raramente, como
é o caso do gado bovino e do eqüino, dos veados. Mas, ou-
tras espécies de mamíferos são hospedeiros, transmissores
e vítimas da raiva, como os morcegos, responsáveis pelo
desenvolvimento da doença nos Estados Unidos, em alguns
países da América Latina e da Europa, partes da África e,
mais recentemente, Austrália.
144 Capítulo 14
Dados confiáveis sobre a raiva são escassos em muitas
áreas do mundo, o que torna difícil compreender seu im-
pacto real na saúde humana e animal. Estima-se que o nú-
mero de mortes por ano em todo o mundo, determinado
pela raiva, esteja entre 40.000 e 70.000, este último valor
nos países densamente povoados da África e Ásia, onde a
doença é endêmica. Nessas regiões, 30% a 50% dos casos
de raiva são em crianças com menos de 15 anos de idade.
O número estimado de indivíduos que recebem profilaxia
anti-rábica, a cada ano, após exposição a animais suspei-
tos de terem a infecção, é de 10 milhões.
A raiva está presente em todos os continentes. Na Ásia,
calcula-se a ocorrência de 35.000 a 55.000 casos por ano,
com aproximadamente sete milhões de tratamentos va-
cinais. Na África, estimam-se 5.000 a 15.000 de mortes
por ano e cerca de 500.000 pessoas são vacinadas contra
a doença. Na América Latina, o número de casos de rai-
va está limitado a menos de 100 por ano, com 500.000
tratamentos anti-rábicos realizados. Na América do Norte
e Europa, há menos de 50 casos humanos por ano, e
100.000 pessoas recebem profilaxia por exposição. Ape-
nas um número pequeno de países, na realidade 45 em
145, era declarado livre da raiva até 1999. Muitos deles
são ilhas do mundo desenvolvido, como Japão e Nova
Zelândia, e do mundo em desenvolvimento: Barbados,
Fidji, Maldivas e Seychelles. Regiões do norte e sul da
Europa Continental, como Grécia, Portugal e países da
Escandinávia, e da América Latina, como Chile e Uruguai,
também estão livres da raiva.
No Brasil, a raiva é notificada em 22 estados, na maio-
ria dos quais existe o mapeamento das áreas com epizoo-
tia, sem, no entanto, que isso signifique maior vigilância
epidemiológica. No ano 2000, foram notificados 18 casos,
sendo 38,6% no Maranhão, 16,4% em Rondônia, 11% no
Acre e aparecendo Pernambuco, Pará, Ceará, Bahia, Mato
Grosso e Goiás com 5,5% das notificações daquele ano.
Nesse período, o cão foi responsável pela transmissão de
73,1% dos casos, seguido pelo morcego, com 10,3% e pelo
gato, 4,6%. De 1995 a 1999, 44,1% dos casos eram da re-
gião Nordeste, 31,6% da região Norte, 12,5% do Centro-
Oeste e 11,8% do Sudeste. A região Sul não registra casos
desde 1987. No estado de São Paulo, o perfil epidemioló-
gico da raiva está se alterando, com queda de casos nos ani-
mais de estimação (cão e gato), aumento crescente da doen-
ça em herbívoros e encontro cada dia mais freqüente do
vírus em morcegos, hematófagos ou não. Até 2000, foram di-
agnosticados mais de cem casos em locais freqüentados por
pessoas que tinham conhecimento do envolvimento deste
animal na cadeia de transmissões da raiva.
As coberturas vacinais no país têm sido superiores
a 80% nos últimos cinco anos, atingindo 88,13% em
1999. Apenas nas regiões Norte e Nordeste alguns es-
tados não atingiram a meta nos últimos anos. Em 1999,
foram vacinados, nas áreas de foco, 183.302 cães cap-
turados e eliminados 12.571.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
INFECÇÃO
Ocorre após a penetração do vírus pelas mucosas, so-
lução de continuidade da pele ou trato respiratório. A ve-
locidade de migração para o SNC dependerá da proximi-
dade e do número de terminações nervosas no local, cor-
respondendo ao período de incubação. Todos os esforços
da profilaxia são para evitar que o vírus atinja essas termi-
nações e progrida protegido pela bainha de mielina.
DOENÇA
O período de incubação é variável, com extremos de
menos de uma semana até 19 anos, mas 50% dos pacien-
tes adoecem entre 30 e 90 dias após a exposição. Uma vez
o vírus presente nos nervos periféricos, as condutas atuais
não interrompem a subseqüente disseminação e evolução
para as manifestações clínicas, que se dividem em Perío-
do Prodrômico e Doença Neurológica.
Período Prodrômico
Febre, anorexia, náuseas, vômitos, cefaléia e mal-estar
são os primeiros sintomas a surgirem. Podem ocorrer si-
multaneamente dore parestesia no local da exposição, que
perdura até o óbito. Esta fase tem duração de dois a dez dias.
Doença Neurológica
Raiva furiosa: faceta da doença presente em cerca de 2/3
dos casos, os sintomas são de hiperatividade, cursando
com alterações de comportamento, ansiedade, alucina-
ções, salivação, sudorese, hidrofobia, convulsões, hiperven-
tilação, diabetes insipidus, arritmias cardíacas, priapismo,
ejaculação espontânea, midríase e anisocoria. A evolução
para o coma ocorre entre uma e duas semanas e o óbito é
inevitável, geralmente causado por arritmias. Cuidados de
terapia intensiva podem aumentar a sobrevida, mas não
alteram o prognóstico.
Raiva paralítica: em cerca de 1/3 dos pacientes o quadro
clínico se inicia por uma paralisia ascendente progressiva,
sendo mais evidente na região da exposição. Apesar da se-
melhança com a síndrome de Guillain-Barré há preservação
de sensibilidade. Sinais de irritação meníngea podem ocor-
rer, mas com manutenção do estado de consciência. A pro-
gressão leva a confusão mental e coma. As terapias de supor-
te também são ineficazes na alteração do prognóstico.
DIAGNÓSTICO D IFERENCIAL
Os achados do período prodrômico são inespecíficos
e semelhantes aos de muitas viroses, como a gripe. Na rai-
va furiosa, faz-se necessário excluir outras encefalites vi-
rais, principalmente quando a hidrofobia e a hiperativida-
de não são muito pronunciadas. A encefalite herpética tem
alterações semelhantes de líquor e eletroencefalograma,
situação que não ocorre no tétano que, eventualmente, é
confundido com a raiva pela presença de opistótono. Hi-
drofobia é distinguível de comportamentos histéricos de
recusa à ingestão de água e pelos espasmos faríngeos pre-
sentes no ato de beber. Encefalite por arborvírus amazôni-
co e por outros rabdovírus, como Mokola, tem descrições
de quadros clínicos compatíveis.
A raiva paralítica faz diagnóstico diferencial principal-
mente com polineuropatia progressiva inflamatória aguda
Capítulo 14 145
(síndrome de Guillain-Barré) e com mielite transversa; a
investigação deve contar com estudos eletromiográficos e
de imagem, que são normais nos pacientes com raiva. A
poliomielite merece ser lembrada em regiões com baixa
cobertura vacinal.
ASPECTOS CLÍNICOS EM ANIMAIS
Os cães mais novos são susceptíveis, iniciando o perío-
do prodrômico com alterações sutis de comportamento,
como anorexia e desatenção ao dono. Após cerca de três
dias, o animal polariza, a exemplo da raiva humana, para
as formas furiosa ou paralítica. Na primeira há inquietu-
de, excitação, tendência à agressão, alterações do latido (la-
tido rouco), dificuldade de deglutição, sialorréia, evoluin-
do para coma e morte. Na última, estão presentes fotofobia
e sintomas predominantemente paralíticos, que se iniciam
pelos músculos da cabeça e pescoço, paralisia dos mem-
bros posteriores, estendendo-se por todo o corpo do ani-
mal, dificuldade de deglutição, sialorréia, coma e morte.
O curso da doença dura, em média, dez dias e o cão pode
estar eliminando vírus na saliva desde o 5.º dia antes de
apresentar os primeiros sintomas.
Os gatos tendem a apresentar a forma furiosa e suas
arranhaduras devem ser consideradas meio de transmissão,
visto o hábito de lamber as garras. O morcego pode albergar
o vírus rábico em sua saliva e ser infectante antes de adoecer
por períodos maiores que os de outras espécies, devendo-se
evitar a manipulação de animais doentes ou mortos.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Durante o período de incubação, não há nenhum en-
saio laboratorial eficiente no diagnóstico, sendo este então
basicamente epidemiológico; a exposição a um animal
potencialmente rábico deve ser rapidamente identificada,
para que a profilaxia seja iniciada.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL EM ANIMAIS
Em animais com suspeita clínica, não passíveis de ob-
servação ou já mortos, deve-se proceder à realização da
imunofluorescência direta (IFD) em cérebro, exame rápi-
do, bem padronizado, disponível e com sensibilidade pró-
xima a 100%, que revela em poucas horas a presença ou
não de antígenos rábicos (Fig. 14.2).
O exame histopatológico de tecido cerebral e menin-
ges revela um padrão de encefalomielite com infiltração
mononuclear, linfócitos e polimorfonucleares em região
perivascular, pequenos nódulos de células gliais e os cor-
púsculos de Negri (Fig. 14.3). Essas estruturas são inclu-
sões citoplasmáticas perinucleares, onde ocorre a replica-
ção viral, porém o achado não é sensível o bastante (70 a
90%) e nem específico, já que tecidos não rábicos podem
apresentar estruturas indistinguíveis.
A imuno-histoquímica, assim como a IFD, tem boa
sensibilidade e especificidade e utiliza anticorpos para a
detecção do vírus; é mais usada para estudar os subtipos
virais, por meio de anticorpos monoclonais (Fig. 14.4).
A ultra-estrutura do vírus pode ser visualizada através
de microscopia eletrônica, revelando seu formato de bala
de revólver. Em situações em que a amostra a ser pesqui-
sada é pequena e há dificuldade na identificação antigêni-
ca, pode-se amplificar a quantidade viral em cultura em
células nervosas de camundongo, ou em rim de hamster,
ou, ainda, utilizar-se de amplificação por reação de cadeia
da polimerase (PCR), após transformar o RNA viral em
DNA pela transcriptase reversa (RT-PCR).
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL EM HUMANOS
Após o início dos sintomas, exames empregados na in-
vestigação rotineira de uma encefalite não são específicos
para determinar a etiologia; o líquor pode apresentar dis-
creta pleiocitose (5 a 30 células/mm3) e aumento de pro-
teinorraquia (até 100 mg/mL) e níveis de glicose normais.
Exames de imagem são normais, na sua maioria.
A IFD é o exame de escolha, sendo que, em vida, a
biópsia deve ser colhida na nuca, região da linha dos ca-
belos, pois o vírus tende a se localizar nos folículos capi-
lares. Saliva e líquor podem ser materiais para pesquisa
através de RT-PCR.
O ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay),
inicialmente utilizado para detectar anticorpos neutra-
lizantes, foi otimizado para detectar anticorpos dos
nucleocapsídeos, denominado de rapid rabies enzyme
immu-nodiagnosis (RREID). Apesar de uma boa correla-
ção, tem sensibilidade menor que o IFD, não devendo
substituí-lo em laboratórios que disponham deste último.
Por ser simples e relativamente de baixo custo, é mais
usado em inquéritos epidemiológicos ou em lugares que
não disponham do IFD.
TRATAMENTO (PROFILAXIA)
A potencial exposição ao vírus da raiva deve ser iden-
tificada o mais rápido possível, sendo que a situação ideal
ocorre quando ações preventivas são capazes de minimi-
zar os riscos. Quando a prevenção falha e ocorre o aciden-
te, é imprescindível que uma completa anamnese seja
colhida com informações sobre a história vacinal pregressa,
data, localidade, tratamento prévio e natureza da agres-
são, assim como o tipo e estado de saúde do animal, no mo-
mento do acidente e sua evolução após.
Como depois da instalação dos sintomas não há, atual-
mente, conduta terapêutica que altere o prognóstico, as
medidas a serem tomadas são exclusivamente profiláticas.
PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO
O ferimento deve ser lavado exaustivamente com água
corrente e sabão ou outros detergentes, o mais rápido pos-
sível, sendo que, após, recomenda-se o uso de anti-sépticos
(álcool iodado). Se houver riscos funcionais, estéticos ou de
infecções, a sutura pode ser realizada, porém existe a pos-
sibilidade de infiltração mecânica do vírus nas terminações
nervosas. A infiltração local com soro ou imunoglobulina
anti-rábica ajuda a prevenir essa possibilidade. Não esque-
cer de avaliar a necessidade de profilaxia para tétano.
São consideradas lesões leves: mordedura, arranhadura
ou lambedura de ferimento de pele em tronco, membros,
excetuando mãos e pés, se único, superficial ou pequeno.
146 Capítulo 14
Fig. 14.5 B – Acidentecom cão ou gato.
Fig. 14.5 A – Acidente com cão ou gato.
Condição
do animal Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
Área de raiva controlada
Quando, de forma rotineira e durante alguns anos, são enviados materiais para diagnóstico
laboratorial da raiva das espécies canina e felina, não ocorrendo casos positivos da doença
nesses animais (variante de cão do vírus da raiva).
Área de raiva não controlada
Quando existe caso positivo de raiva em cão ou gato (área produtiva), ou, quando a situação
epidemiológica da circulação do vírus rábico é desconhecida (área silenciosa).
Área de raiva
controlada
Área de raiva
não
controlada
Leve
Grave
Observar o animal
durante 10 dias, a
partir da exposição
Sadio
Doente
Morto
Encerrar o caso
Ver item B
Ver item C
Iniciar esquema
de vacinação
A
Sadio
Condição
do animal
Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
Grave
Leve
Grave
Leve
Positivo
Negativo
Com condições
para diagnóstico
laboratorial
Sem condições
para diagnóstico
laboratorial
Enviar material para
diagnóstico laboratorial
Início de vacinação ou
esquema de reexposição
Início de soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Vacinação ou esquema
de reexposição
Soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Positivo
Negativo
Grave
Leve
Soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Vacinação ou esquema
de reexposição
Encerrar o caso
Enviar material para
diagnóstico laboratorial
Com condições
para diagnóstico
laboratorial
Sem condições
para diagnóstico
laboratorial
Completar o tratamento
Interromper o tratamento
B
Com sinais
ou sintomas
sugestivos
de raiva
C
Morto sem
sinais ou
sintomas
de raiva
Capítulo 14 147
São consideradas lesões graves: mordedura, arra-
nhadura ou lambedura de ferimento de pele em seg-
mento cefálico, pescoço, pés ou mãos e também feri-
mento múltiplo, extenso ou profundo em qualquer
parte do corpo.
Os esquemas profiláticos que se seguem são os propos-
tos atualmente pelo Instituto Pasteur de São Paulo.
As modalidades de esquema de proteção pós-exposição
em uso são as que seguem:
• Vacina Fuenzalida-Palacios modificada: dose de 1,0
mL, por via intramuscular, em região deltóide. A perio-
dicidade de aplicação das doses de vacina é indicada
pelo tipo de exposição:
– observação do animal: dias 0, 2, 4;
Figs. 14.5 C – Acidente com cão ou gato.
Figs. 14.5 D – Acidente com herbívoro.
Positivo
Negativo
Soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Vacinação ou esquema
de reexposição
Encerrar o caso
Condição
do animal
Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
Enviar material para
diagnóstico laboratorial
• Quando o animal apresentar sintomatologia sugestiva de raiva,
preferencialmente esperar o óbito. Somente quando houver muito sofrimento do
animal, proceder a eutanásia.
• No animal para descarte, errante ou cujo responsável autorize a eutanásia, este
procedimento deve ser realizado após o 10o dia da agressão.
Grave
Leve
D
Desaparecido
E
Para descarte
Grave
Leve
Enviar material para
diagnóstico laboratorial
Soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Vacinação ou esquema
de reexposição
Encerrar o caso
Positivo
Negativo
Sem condições
para diagnóstico
laboratorial
Com condições
para diagnóstico
laboratorial
Condição
do animal
Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
F
Sadio
G
Morto
148 Capítulo 14
– vacinação: diariamente, por sete dias consecutivos,
duas doses de reforço dez e 20 dias após a 7.ª dose;
– soro-vacinações: diariamente, por dez dias conse-
cutivos, três doses de reforço dez, 20 e 30 dias após
a 10.ª dose;
– reexposição: considerar o tempo decorrido e o nú-
mero de doses já aplicadas. Após 90 dias, três do-
ses com dois a três dias de intervalo;
• Vacina de cultivo celular: doses de 0,5 ou 1,0 mL,
dependendo do fabricante, por via intramuscular
na região deltóide. A periodicidade de aplicação
das doses de vacina é indicada pelo tipo de expo-
sição:
– observação do animal: dias 0, 3, 7;
– vacinação: dias 0, 3, 7, 14, 28;
– sorovacinação: dias 0, 3, 7, 14, 28;
Fig. 14.5 E – Acidente com herbívoro.
Fig. 14.5 F – Acidente com animal silvestre.
Condição
do animal
Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
Sem condições
para diagnóstico
laboratorial
Com condições
para diagnóstico
laboratorial
Grave
Leve
Grave
Leve
Positivo
Negativo
Enviar material para
diagnóstico laboratorial
Soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Vacinação ou esquema
de reexposição
Início de vacinação ou
esquema de reexposição
Início de soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Completar o tratamento
Interromper o tratamento
Animais
silvestres
(exceto
morcegos)
Condição
do animal
Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
Sem condições
para diagnóstico
laboratorial
Com condições
para diagnóstico
laboratorial
Grave
Leve
Grave
Leve
Positivo
Negativo
Enviar material para
diagnóstico laboratorial
Soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Vacinação ou esquema
de reexposição
Início de vacinação ou
esquema de reexposição
Início de soro-vacinação ou
esquema de reexposição
Completar o tratamento
Interromper o tratamento
H
Com sinais
ou sintomas
sugestivos
de raiva
Capítulo 14 149
– reexposição: considerar tempo decorrido, tipo de
vacina e número de doses. Após 90 dias, aplicar nos
dias 0 e 3.
A sorovacinação consiste em aplicar as doses de vacina
previstas associadas ao soro ou imunoglobulina anti-rábicos;
infiltrar em torno da ferida produzida pelo animal, de modo
a cobrir toda sua extensão e profundidade. Se necessário, a
dose indicada deve ser diluída, a fim de haver quantidade su-
ficiente de material para os casos de lesões múltiplas e exten-
sas. Se houver sobras, essas devem ser aplicadas, profunda-
mente, na região glútea. As doses são as seguintes:
– soro (heterólogo) anti-rábico (SAR): 40 UI/kg;
– imunoglobulina humana anti-rábica (HRIG): 20 UI/kg.
A profilaxia deve ter início imediatamente, mesmo
quando há demora na procura por assistência médica. Po-
dem-se aguardar até 48 horas pelo exame diagnóstico em
animais, desde que eles não estejam demonstrando sinto-
matologia sugestiva de raiva no momento da agressão.
Gravidez não é contra-indicação de profilaxia. Toda vez
que possível, indivíduos sob utilização de corticosteróides
devem ter essa medicação suspensa, durante a aplicação da
profilaxia pós-exposição indicada.
PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO
Indicada para indivíduos com mais chance de exposi-
ções de risco, como veterinários, vacinadores, laçadores e
domadores de cães, profissionais que trabalham com o ví-
rus no laboratório, espeleólogos e outros. Após a adminis-
tração do esquema, é imprescindível a dosagem de anticor-
pos neutralizantes para confirmar o efeito da imunização.
Após o 10.º dia, o título deve estar igual a ou acima de 0,5
UI/mL; a verificação deve ser anual ou, mesmo, semestral,
se o risco for intenso. Utilizam-se os seguintes esquemas:
• Vacina Fuenzalida-Palacios modificada: doses de 1,0
mL, por via intramuscular em região deltóide. Aplicar
nos dias 0, 2, 4, 28;
• Vacina de cultivo celular: doses de 0,5 a 1,0 mL, depen-
dendo das especificações do fabricante, pela via intra-
muscular, em região deltóide.
CONDUTAS NO PACIENTEDOENTE
POR RAIVA
Muitos tratamentos já foram estudados em casos de rai-
va; vacinas, imunoglobulina, interferon, ribavirina não ob-
tiveram sucesso terapêutico. Os poucos pacientes que não
evoluíram para o óbito tinham recebido algum tipo de pro-
filaxia anterior, ou não eram casos de raiva confirmados.
Todos os cuidados então devem convergir para dimi-
nuir o sofrimento do doente e de seus familiares, além de
promover o suporte básico de vida em Unidades de Tera-
pia Intensiva.
Fig. 14.5 H – Acidente com roedor e lagomorfo.
Fig. 14.5 G – Acidente com morcego.
Condição
do animal
Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
Soro-vacinação ou
esquema de reexposição
L
Morcegos
(espécies de
alto risco)
Condição
do animal
Natureza
da lesão
Conduta
em relação
ao animal
Resultado
laboratorial
Conduta
profilática
humana
Considerar individualmente
Em geral, dispensar o
tratamento profilático, salvo
em condições excepcionais,
como áreas epizoóticas
M
Roedores ou
lagomorfos
(urbanos ou
de criação)
150 Capítulo 14
BIBLIOGRAFIA
1. Araújo FAA. A situação da raiva no Brasil. Disponível em:
http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/informacoes/anais/
seminario_internacional/resumo_2_2.htm. [Acessado em: 4
de fev de 2004].
2. Belotto AJ. Situação da raiva no mundo e perspectivas de eli-
minação da raiva transmitida pelo cão na América Latina. Dis-
ponível em: http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/informacoes/
anais/seminario_internacional/resumo_21.htm. [Acessado
em: 4 de fev de 2004].
3. Bleck TP, Rupprecht CE. Rabies Virus. Mandell D, and
Benett´s Principles and Practice of Infectious Diseases.
Churchill Livingstone, 5th ed. 2000.
4. Centers for Disease Control. The Rabies: Diagnosis. Disponí-
vel em http://www.cdc.gov/ncidod/dvrd/rabies/diagnosis/
diagnosi.htm
5. Costa WA. Profilaxia da raiva humana. Instituto Pasteur,
Manuais Técnicos 2000. São Paulo, Brasil. Disponível em:
http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/.
6. Fishbein DB. Rabies in humans. In: Baer GM, ed. The Natural
History of Rabies. 2nd ed. Boca Raton, Florida: CRC Press
1991; 519-549.
7. Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Raiva. In: Guia de
Vigilância Epidemiológica. Disponível em: http://www.funasa.
gov.br. [Acessado em: 9 de fev de 2004].
8. Takaoka NY. Alteração no perfil epidemiológico da raiva no
estado de São Paulo. Disponível em: http://www.pasteur.
saude.sp.gov.br/informacoes/anais/seminario_internacional/
resumo_2_3.htm. [Acessado em: 4 de fev de 2004].
9. Takaoka NY. Aspectos epidemiológicos e profiláticos da raiva
humana. In: Anais de XXXVIII Congresso da Sociedade Bra-
sileira de Medicina Tropical – 2002 – Foz do Iguaçu, Paraná.
Disponível em: http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/
informacoes/informacoes_apresentacoes.htm.
10. Warrel DA. The clinical picture of rabies in man. Trans R Soc
Trop Med Hyg 1976; 701:188-195.
11. Whitley RJ. Rabies. In: Scheld WM; Whitley RJ & Durack DT.
Infections of the Central Nervous System. 2nd ed.
Philadelphia: Lippincott-Raven 1997; p. 181-198.
12. World Health Organization. Epidemiology. Geneva, 2004 [ci-
tado em 4 de fev de 2004]. Disponível em URL: http://
www.who.int/rabies/epidemiology/en/.
13. World Health Organization. Human and animal rabies.
Geneva 2004 [citado em 4 de fev de 2004]. Disponível em
URL: http://www.who.int/rabies/en/.
14. World Health Organization. Human rabies. Geneva, 2004 [ci-
tado em 4 de fev de 2004]. Disponível em URL: http://
www.who.int/rabies/human/em/.
15. World Health Organization. Rabies. [citado em 4 de fev de
2004]. Disponível em URL: http://www.who.int/inf-fs/en/
fact099.html.

Outros materiais