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Capítulo 14 143 Jussara Marcondes-Machado Alexandre Naime Barbosa Raiva 1414 INTRODUÇÃO A raiva é uma zoonose de origem viral que se manifesta como encefalite aguda. Se houver desenvolvimento de sin- tomas a raiva é fatal, tanto no homem quanto nos animais. O agente etiológico pertence à família Rhabdoviridae, gêne- ro Lyssavirus, tendo aspecto de cilindro em forma de pro- jétil, com uma terminação arredondada e a outra, achata- da. Mede 180 por 80 mm. No interior do nucleocapsídeo tubular, com simetria helicoidal, encontra-se o genoma com RNA de cadeia única e uma transcriptase. O vírus é dotado de envelope lipídico. Deste envelope, e recobrindo toda a superfície viral, menos a extremidade achatada, saem espículas ou espinhos, estruturas protéicas glicosiladas, que constituem o principal antígeno viral, responsável pela indução de anticorpos neutralizantes e pela proteção imune contra infecção (Fig. 14.1). São descritos dois tipos de vírus: o de rua e o fixo. O primeiro corresponde à forma natural do vírus de animais, tendo afinidade por células nervosas, pelo epitélio respi- ratório e por tecido glandular seromucoso. É isolado de animais infectados em ciclos de transmissão natural, tan- to em área urbana como silvestre, e induz, no cérebro, o corpúsculo de Negri. O vírus fixo, derivado do anterior, é uma variante laboratorial, obtida mediante passagens intracerebrais seriadas que exaltam sua virulência. Têm período de incubação mais curto e relativamente estável, entre quatro e sete dias. Não produz corpúsculo de Negri e perde a capacidade de invadir células salivares. Após ser inoculado, o vírus pode levar dias a semanas para atingir o sistema nervoso central (SNC), o que torna possível a profilaxia pós-exposição. Acredita-se que haja multiplicação viral inicial nas células musculares que cir- cundam a ferida, o que ocasiona ampliação do inóculo. O vírus passa, então, em algum momento, a progredir do sítio de inoculação para a medula espinhal, sendo transportado de maneira retrógrada pelo axônio, numa velocidade de 12 a 24 mm/dia. Os vírus da raiva são demonstrados nos gânglios dorsais, levando a edema das raízes dorsais, ocasião em que pode haver referência pelo paciente de dor ou parestesia no local da inoculação do vírus. A partir daí, ascende rapida- mente para o cérebro, instalando-se em muitas estruturas da base e disseminando-se. As manifestações clínicas, então, são decorrentes da região cerebral comprometida: quando se trata do sistema límbico, há perda dos mecanismos de con- trole comportamental, principalmente dos de ordem se- xual; se for o tronco cerebral, há perda do controle da temperatura corporal e alteração do padrão respiratório, chegando à parada respiratória. Do cérebro, o vírus volta, de maneira centrífuga, para a periferia, situando-se, então, em glândulas salivares, córnea, coração, rins, pulmões e trato gastrointestinal. É por isso que o transplante corneano é uma via de transmissão viral. As alterações patológicas encontra- das na raiva são menos intensas do que se poderia esperar em uma doença com quadro clínico tão expressivo e mui- to semelhante às de outras encefalites virais. Os mamíferos são responsáveis pela manutenção e transmissão do vírus em todo o mundo. Muitos animais reservatórios são espécies terrestres, principalmente os carnívoros selvagens. Na maioria dos países da África, Ásia e América Latina, os cães continuam a ser os principais hospedeiros e são responsáveis pela maioria das mortes por raiva relatadas no mundo. Muitas outras espécies de animais são vítimas, transmitindo o vírus raramente, como é o caso do gado bovino e do eqüino, dos veados. Mas, ou- tras espécies de mamíferos são hospedeiros, transmissores e vítimas da raiva, como os morcegos, responsáveis pelo desenvolvimento da doença nos Estados Unidos, em alguns países da América Latina e da Europa, partes da África e, mais recentemente, Austrália. 144 Capítulo 14 Dados confiáveis sobre a raiva são escassos em muitas áreas do mundo, o que torna difícil compreender seu im- pacto real na saúde humana e animal. Estima-se que o nú- mero de mortes por ano em todo o mundo, determinado pela raiva, esteja entre 40.000 e 70.000, este último valor nos países densamente povoados da África e Ásia, onde a doença é endêmica. Nessas regiões, 30% a 50% dos casos de raiva são em crianças com menos de 15 anos de idade. O número estimado de indivíduos que recebem profilaxia anti-rábica, a cada ano, após exposição a animais suspei- tos de terem a infecção, é de 10 milhões. A raiva está presente em todos os continentes. Na Ásia, calcula-se a ocorrência de 35.000 a 55.000 casos por ano, com aproximadamente sete milhões de tratamentos va- cinais. Na África, estimam-se 5.000 a 15.000 de mortes por ano e cerca de 500.000 pessoas são vacinadas contra a doença. Na América Latina, o número de casos de rai- va está limitado a menos de 100 por ano, com 500.000 tratamentos anti-rábicos realizados. Na América do Norte e Europa, há menos de 50 casos humanos por ano, e 100.000 pessoas recebem profilaxia por exposição. Ape- nas um número pequeno de países, na realidade 45 em 145, era declarado livre da raiva até 1999. Muitos deles são ilhas do mundo desenvolvido, como Japão e Nova Zelândia, e do mundo em desenvolvimento: Barbados, Fidji, Maldivas e Seychelles. Regiões do norte e sul da Europa Continental, como Grécia, Portugal e países da Escandinávia, e da América Latina, como Chile e Uruguai, também estão livres da raiva. No Brasil, a raiva é notificada em 22 estados, na maio- ria dos quais existe o mapeamento das áreas com epizoo- tia, sem, no entanto, que isso signifique maior vigilância epidemiológica. No ano 2000, foram notificados 18 casos, sendo 38,6% no Maranhão, 16,4% em Rondônia, 11% no Acre e aparecendo Pernambuco, Pará, Ceará, Bahia, Mato Grosso e Goiás com 5,5% das notificações daquele ano. Nesse período, o cão foi responsável pela transmissão de 73,1% dos casos, seguido pelo morcego, com 10,3% e pelo gato, 4,6%. De 1995 a 1999, 44,1% dos casos eram da re- gião Nordeste, 31,6% da região Norte, 12,5% do Centro- Oeste e 11,8% do Sudeste. A região Sul não registra casos desde 1987. No estado de São Paulo, o perfil epidemioló- gico da raiva está se alterando, com queda de casos nos ani- mais de estimação (cão e gato), aumento crescente da doen- ça em herbívoros e encontro cada dia mais freqüente do vírus em morcegos, hematófagos ou não. Até 2000, foram di- agnosticados mais de cem casos em locais freqüentados por pessoas que tinham conhecimento do envolvimento deste animal na cadeia de transmissões da raiva. As coberturas vacinais no país têm sido superiores a 80% nos últimos cinco anos, atingindo 88,13% em 1999. Apenas nas regiões Norte e Nordeste alguns es- tados não atingiram a meta nos últimos anos. Em 1999, foram vacinados, nas áreas de foco, 183.302 cães cap- turados e eliminados 12.571. DIAGNÓSTICO CLÍNICO INFECÇÃO Ocorre após a penetração do vírus pelas mucosas, so- lução de continuidade da pele ou trato respiratório. A ve- locidade de migração para o SNC dependerá da proximi- dade e do número de terminações nervosas no local, cor- respondendo ao período de incubação. Todos os esforços da profilaxia são para evitar que o vírus atinja essas termi- nações e progrida protegido pela bainha de mielina. DOENÇA O período de incubação é variável, com extremos de menos de uma semana até 19 anos, mas 50% dos pacien- tes adoecem entre 30 e 90 dias após a exposição. Uma vez o vírus presente nos nervos periféricos, as condutas atuais não interrompem a subseqüente disseminação e evolução para as manifestações clínicas, que se dividem em Perío- do Prodrômico e Doença Neurológica. Período Prodrômico Febre, anorexia, náuseas, vômitos, cefaléia e mal-estar são os primeiros sintomas a surgirem. Podem ocorrer si- multaneamente dore parestesia no local da exposição, que perdura até o óbito. Esta fase tem duração de dois a dez dias. Doença Neurológica Raiva furiosa: faceta da doença presente em cerca de 2/3 dos casos, os sintomas são de hiperatividade, cursando com alterações de comportamento, ansiedade, alucina- ções, salivação, sudorese, hidrofobia, convulsões, hiperven- tilação, diabetes insipidus, arritmias cardíacas, priapismo, ejaculação espontânea, midríase e anisocoria. A evolução para o coma ocorre entre uma e duas semanas e o óbito é inevitável, geralmente causado por arritmias. Cuidados de terapia intensiva podem aumentar a sobrevida, mas não alteram o prognóstico. Raiva paralítica: em cerca de 1/3 dos pacientes o quadro clínico se inicia por uma paralisia ascendente progressiva, sendo mais evidente na região da exposição. Apesar da se- melhança com a síndrome de Guillain-Barré há preservação de sensibilidade. Sinais de irritação meníngea podem ocor- rer, mas com manutenção do estado de consciência. A pro- gressão leva a confusão mental e coma. As terapias de supor- te também são ineficazes na alteração do prognóstico. DIAGNÓSTICO D IFERENCIAL Os achados do período prodrômico são inespecíficos e semelhantes aos de muitas viroses, como a gripe. Na rai- va furiosa, faz-se necessário excluir outras encefalites vi- rais, principalmente quando a hidrofobia e a hiperativida- de não são muito pronunciadas. A encefalite herpética tem alterações semelhantes de líquor e eletroencefalograma, situação que não ocorre no tétano que, eventualmente, é confundido com a raiva pela presença de opistótono. Hi- drofobia é distinguível de comportamentos histéricos de recusa à ingestão de água e pelos espasmos faríngeos pre- sentes no ato de beber. Encefalite por arborvírus amazôni- co e por outros rabdovírus, como Mokola, tem descrições de quadros clínicos compatíveis. A raiva paralítica faz diagnóstico diferencial principal- mente com polineuropatia progressiva inflamatória aguda Capítulo 14 145 (síndrome de Guillain-Barré) e com mielite transversa; a investigação deve contar com estudos eletromiográficos e de imagem, que são normais nos pacientes com raiva. A poliomielite merece ser lembrada em regiões com baixa cobertura vacinal. ASPECTOS CLÍNICOS EM ANIMAIS Os cães mais novos são susceptíveis, iniciando o perío- do prodrômico com alterações sutis de comportamento, como anorexia e desatenção ao dono. Após cerca de três dias, o animal polariza, a exemplo da raiva humana, para as formas furiosa ou paralítica. Na primeira há inquietu- de, excitação, tendência à agressão, alterações do latido (la- tido rouco), dificuldade de deglutição, sialorréia, evoluin- do para coma e morte. Na última, estão presentes fotofobia e sintomas predominantemente paralíticos, que se iniciam pelos músculos da cabeça e pescoço, paralisia dos mem- bros posteriores, estendendo-se por todo o corpo do ani- mal, dificuldade de deglutição, sialorréia, coma e morte. O curso da doença dura, em média, dez dias e o cão pode estar eliminando vírus na saliva desde o 5.º dia antes de apresentar os primeiros sintomas. Os gatos tendem a apresentar a forma furiosa e suas arranhaduras devem ser consideradas meio de transmissão, visto o hábito de lamber as garras. O morcego pode albergar o vírus rábico em sua saliva e ser infectante antes de adoecer por períodos maiores que os de outras espécies, devendo-se evitar a manipulação de animais doentes ou mortos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Durante o período de incubação, não há nenhum en- saio laboratorial eficiente no diagnóstico, sendo este então basicamente epidemiológico; a exposição a um animal potencialmente rábico deve ser rapidamente identificada, para que a profilaxia seja iniciada. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL EM ANIMAIS Em animais com suspeita clínica, não passíveis de ob- servação ou já mortos, deve-se proceder à realização da imunofluorescência direta (IFD) em cérebro, exame rápi- do, bem padronizado, disponível e com sensibilidade pró- xima a 100%, que revela em poucas horas a presença ou não de antígenos rábicos (Fig. 14.2). O exame histopatológico de tecido cerebral e menin- ges revela um padrão de encefalomielite com infiltração mononuclear, linfócitos e polimorfonucleares em região perivascular, pequenos nódulos de células gliais e os cor- púsculos de Negri (Fig. 14.3). Essas estruturas são inclu- sões citoplasmáticas perinucleares, onde ocorre a replica- ção viral, porém o achado não é sensível o bastante (70 a 90%) e nem específico, já que tecidos não rábicos podem apresentar estruturas indistinguíveis. A imuno-histoquímica, assim como a IFD, tem boa sensibilidade e especificidade e utiliza anticorpos para a detecção do vírus; é mais usada para estudar os subtipos virais, por meio de anticorpos monoclonais (Fig. 14.4). A ultra-estrutura do vírus pode ser visualizada através de microscopia eletrônica, revelando seu formato de bala de revólver. Em situações em que a amostra a ser pesqui- sada é pequena e há dificuldade na identificação antigêni- ca, pode-se amplificar a quantidade viral em cultura em células nervosas de camundongo, ou em rim de hamster, ou, ainda, utilizar-se de amplificação por reação de cadeia da polimerase (PCR), após transformar o RNA viral em DNA pela transcriptase reversa (RT-PCR). DIAGNÓSTICO LABORATORIAL EM HUMANOS Após o início dos sintomas, exames empregados na in- vestigação rotineira de uma encefalite não são específicos para determinar a etiologia; o líquor pode apresentar dis- creta pleiocitose (5 a 30 células/mm3) e aumento de pro- teinorraquia (até 100 mg/mL) e níveis de glicose normais. Exames de imagem são normais, na sua maioria. A IFD é o exame de escolha, sendo que, em vida, a biópsia deve ser colhida na nuca, região da linha dos ca- belos, pois o vírus tende a se localizar nos folículos capi- lares. Saliva e líquor podem ser materiais para pesquisa através de RT-PCR. O ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay), inicialmente utilizado para detectar anticorpos neutra- lizantes, foi otimizado para detectar anticorpos dos nucleocapsídeos, denominado de rapid rabies enzyme immu-nodiagnosis (RREID). Apesar de uma boa correla- ção, tem sensibilidade menor que o IFD, não devendo substituí-lo em laboratórios que disponham deste último. Por ser simples e relativamente de baixo custo, é mais usado em inquéritos epidemiológicos ou em lugares que não disponham do IFD. TRATAMENTO (PROFILAXIA) A potencial exposição ao vírus da raiva deve ser iden- tificada o mais rápido possível, sendo que a situação ideal ocorre quando ações preventivas são capazes de minimi- zar os riscos. Quando a prevenção falha e ocorre o aciden- te, é imprescindível que uma completa anamnese seja colhida com informações sobre a história vacinal pregressa, data, localidade, tratamento prévio e natureza da agres- são, assim como o tipo e estado de saúde do animal, no mo- mento do acidente e sua evolução após. Como depois da instalação dos sintomas não há, atual- mente, conduta terapêutica que altere o prognóstico, as medidas a serem tomadas são exclusivamente profiláticas. PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO O ferimento deve ser lavado exaustivamente com água corrente e sabão ou outros detergentes, o mais rápido pos- sível, sendo que, após, recomenda-se o uso de anti-sépticos (álcool iodado). Se houver riscos funcionais, estéticos ou de infecções, a sutura pode ser realizada, porém existe a pos- sibilidade de infiltração mecânica do vírus nas terminações nervosas. A infiltração local com soro ou imunoglobulina anti-rábica ajuda a prevenir essa possibilidade. Não esque- cer de avaliar a necessidade de profilaxia para tétano. São consideradas lesões leves: mordedura, arranhadura ou lambedura de ferimento de pele em tronco, membros, excetuando mãos e pés, se único, superficial ou pequeno. 146 Capítulo 14 Fig. 14.5 B – Acidentecom cão ou gato. Fig. 14.5 A – Acidente com cão ou gato. Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana Área de raiva controlada Quando, de forma rotineira e durante alguns anos, são enviados materiais para diagnóstico laboratorial da raiva das espécies canina e felina, não ocorrendo casos positivos da doença nesses animais (variante de cão do vírus da raiva). Área de raiva não controlada Quando existe caso positivo de raiva em cão ou gato (área produtiva), ou, quando a situação epidemiológica da circulação do vírus rábico é desconhecida (área silenciosa). Área de raiva controlada Área de raiva não controlada Leve Grave Observar o animal durante 10 dias, a partir da exposição Sadio Doente Morto Encerrar o caso Ver item B Ver item C Iniciar esquema de vacinação A Sadio Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana Grave Leve Grave Leve Positivo Negativo Com condições para diagnóstico laboratorial Sem condições para diagnóstico laboratorial Enviar material para diagnóstico laboratorial Início de vacinação ou esquema de reexposição Início de soro-vacinação ou esquema de reexposição Vacinação ou esquema de reexposição Soro-vacinação ou esquema de reexposição Positivo Negativo Grave Leve Soro-vacinação ou esquema de reexposição Vacinação ou esquema de reexposição Encerrar o caso Enviar material para diagnóstico laboratorial Com condições para diagnóstico laboratorial Sem condições para diagnóstico laboratorial Completar o tratamento Interromper o tratamento B Com sinais ou sintomas sugestivos de raiva C Morto sem sinais ou sintomas de raiva Capítulo 14 147 São consideradas lesões graves: mordedura, arra- nhadura ou lambedura de ferimento de pele em seg- mento cefálico, pescoço, pés ou mãos e também feri- mento múltiplo, extenso ou profundo em qualquer parte do corpo. Os esquemas profiláticos que se seguem são os propos- tos atualmente pelo Instituto Pasteur de São Paulo. As modalidades de esquema de proteção pós-exposição em uso são as que seguem: • Vacina Fuenzalida-Palacios modificada: dose de 1,0 mL, por via intramuscular, em região deltóide. A perio- dicidade de aplicação das doses de vacina é indicada pelo tipo de exposição: – observação do animal: dias 0, 2, 4; Figs. 14.5 C – Acidente com cão ou gato. Figs. 14.5 D – Acidente com herbívoro. Positivo Negativo Soro-vacinação ou esquema de reexposição Vacinação ou esquema de reexposição Encerrar o caso Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana Enviar material para diagnóstico laboratorial • Quando o animal apresentar sintomatologia sugestiva de raiva, preferencialmente esperar o óbito. Somente quando houver muito sofrimento do animal, proceder a eutanásia. • No animal para descarte, errante ou cujo responsável autorize a eutanásia, este procedimento deve ser realizado após o 10o dia da agressão. Grave Leve D Desaparecido E Para descarte Grave Leve Enviar material para diagnóstico laboratorial Soro-vacinação ou esquema de reexposição Vacinação ou esquema de reexposição Encerrar o caso Positivo Negativo Sem condições para diagnóstico laboratorial Com condições para diagnóstico laboratorial Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana F Sadio G Morto 148 Capítulo 14 – vacinação: diariamente, por sete dias consecutivos, duas doses de reforço dez e 20 dias após a 7.ª dose; – soro-vacinações: diariamente, por dez dias conse- cutivos, três doses de reforço dez, 20 e 30 dias após a 10.ª dose; – reexposição: considerar o tempo decorrido e o nú- mero de doses já aplicadas. Após 90 dias, três do- ses com dois a três dias de intervalo; • Vacina de cultivo celular: doses de 0,5 ou 1,0 mL, dependendo do fabricante, por via intramuscular na região deltóide. A periodicidade de aplicação das doses de vacina é indicada pelo tipo de expo- sição: – observação do animal: dias 0, 3, 7; – vacinação: dias 0, 3, 7, 14, 28; – sorovacinação: dias 0, 3, 7, 14, 28; Fig. 14.5 E – Acidente com herbívoro. Fig. 14.5 F – Acidente com animal silvestre. Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana Sem condições para diagnóstico laboratorial Com condições para diagnóstico laboratorial Grave Leve Grave Leve Positivo Negativo Enviar material para diagnóstico laboratorial Soro-vacinação ou esquema de reexposição Vacinação ou esquema de reexposição Início de vacinação ou esquema de reexposição Início de soro-vacinação ou esquema de reexposição Completar o tratamento Interromper o tratamento Animais silvestres (exceto morcegos) Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana Sem condições para diagnóstico laboratorial Com condições para diagnóstico laboratorial Grave Leve Grave Leve Positivo Negativo Enviar material para diagnóstico laboratorial Soro-vacinação ou esquema de reexposição Vacinação ou esquema de reexposição Início de vacinação ou esquema de reexposição Início de soro-vacinação ou esquema de reexposição Completar o tratamento Interromper o tratamento H Com sinais ou sintomas sugestivos de raiva Capítulo 14 149 – reexposição: considerar tempo decorrido, tipo de vacina e número de doses. Após 90 dias, aplicar nos dias 0 e 3. A sorovacinação consiste em aplicar as doses de vacina previstas associadas ao soro ou imunoglobulina anti-rábicos; infiltrar em torno da ferida produzida pelo animal, de modo a cobrir toda sua extensão e profundidade. Se necessário, a dose indicada deve ser diluída, a fim de haver quantidade su- ficiente de material para os casos de lesões múltiplas e exten- sas. Se houver sobras, essas devem ser aplicadas, profunda- mente, na região glútea. As doses são as seguintes: – soro (heterólogo) anti-rábico (SAR): 40 UI/kg; – imunoglobulina humana anti-rábica (HRIG): 20 UI/kg. A profilaxia deve ter início imediatamente, mesmo quando há demora na procura por assistência médica. Po- dem-se aguardar até 48 horas pelo exame diagnóstico em animais, desde que eles não estejam demonstrando sinto- matologia sugestiva de raiva no momento da agressão. Gravidez não é contra-indicação de profilaxia. Toda vez que possível, indivíduos sob utilização de corticosteróides devem ter essa medicação suspensa, durante a aplicação da profilaxia pós-exposição indicada. PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO Indicada para indivíduos com mais chance de exposi- ções de risco, como veterinários, vacinadores, laçadores e domadores de cães, profissionais que trabalham com o ví- rus no laboratório, espeleólogos e outros. Após a adminis- tração do esquema, é imprescindível a dosagem de anticor- pos neutralizantes para confirmar o efeito da imunização. Após o 10.º dia, o título deve estar igual a ou acima de 0,5 UI/mL; a verificação deve ser anual ou, mesmo, semestral, se o risco for intenso. Utilizam-se os seguintes esquemas: • Vacina Fuenzalida-Palacios modificada: doses de 1,0 mL, por via intramuscular em região deltóide. Aplicar nos dias 0, 2, 4, 28; • Vacina de cultivo celular: doses de 0,5 a 1,0 mL, depen- dendo das especificações do fabricante, pela via intra- muscular, em região deltóide. CONDUTAS NO PACIENTEDOENTE POR RAIVA Muitos tratamentos já foram estudados em casos de rai- va; vacinas, imunoglobulina, interferon, ribavirina não ob- tiveram sucesso terapêutico. Os poucos pacientes que não evoluíram para o óbito tinham recebido algum tipo de pro- filaxia anterior, ou não eram casos de raiva confirmados. Todos os cuidados então devem convergir para dimi- nuir o sofrimento do doente e de seus familiares, além de promover o suporte básico de vida em Unidades de Tera- pia Intensiva. Fig. 14.5 H – Acidente com roedor e lagomorfo. Fig. 14.5 G – Acidente com morcego. Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana Soro-vacinação ou esquema de reexposição L Morcegos (espécies de alto risco) Condição do animal Natureza da lesão Conduta em relação ao animal Resultado laboratorial Conduta profilática humana Considerar individualmente Em geral, dispensar o tratamento profilático, salvo em condições excepcionais, como áreas epizoóticas M Roedores ou lagomorfos (urbanos ou de criação) 150 Capítulo 14 BIBLIOGRAFIA 1. Araújo FAA. A situação da raiva no Brasil. Disponível em: http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/informacoes/anais/ seminario_internacional/resumo_2_2.htm. [Acessado em: 4 de fev de 2004]. 2. Belotto AJ. Situação da raiva no mundo e perspectivas de eli- minação da raiva transmitida pelo cão na América Latina. Dis- ponível em: http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/informacoes/ anais/seminario_internacional/resumo_21.htm. [Acessado em: 4 de fev de 2004]. 3. Bleck TP, Rupprecht CE. 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