Transtornos de personalidade

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TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
A personalidade é definida como um conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características individuais, em sua relação com o meio, incluindo todos os fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais de sua formação, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso da existência.
Constituição Corporal: conjunto das propriedades morfológicas, metabólicas, bioquímicas, hormonais e etc., transmitidas ao individuo principalmente pelos mecanismos genéticos. Estabelece o aspecto do individuo, aparência física, gestos, voz, movimentos, influencia diretamente as experiências psicológicas ao longo da vida.
Temperamento: conjunto de particularidades psicofisiológicas e psicológicas inatas, que diferenciam os indivíduos. Determinados por fatores genéticos, constitucionais precoces, endócrinos ou metabólicos. 
Temperamento astênico: tendência à passividade, à hipoatividade.
Temperamentos estênicos: tendência forte a iniciativa e a reagir prontamente aos estímulos ambientais, ativo.
Caráter: soma de traços da personalidade, expressos no modo básico do individuo reagir perante a vida, seu estilo pessoal, suas formas de interação social, gostos, aptidões, etc. Reflete o temperamento moldado, modificado e inserido no meio familiar e social. O caráter resulta do modo como o individuo equacionou, consciente e inconscientemente, o seu temperamento com tais exigências e expectativas.
NÃO CONFUNDIR COM TEMPERAMENTO> o temperamento é algo básico e constitutivo do individuo, ao passo que o caráter traduz-se pelo tipo de reação predominante da pessoa ante diversas situações e estímulos do ambiente. Muitas vezes o caráter se desenvolve no sentido oposto do temperamento (ex: caráter exibicionista esconde alguém com temperamento tímido e fóbico).
Tipologias humanas ou tipos de personalidade
Primeira tipologia: Hipocrática
Convivência harmônica dos quatro humores: sangue – coração, bílis – fígado, fleuma – cérebro, atrabílis –baço (bile negra).
Eucrásis: saúde, equilíbrio entre os humores.
Discrásis: doença, desequilíbrio, deleção de algum humor.
Sanguíneo: face rosada, porte atlético, musculatura consistente e firme. Expansivo e otimista, irritável e impulsivo. Submete-se ao clamor de seus instintos.
Fleumático ou linfático: fácies pálidas, formas arredondados, olhar doce e vago. Sonhador, pacifico e dócil, subordina-se a determinados hábitos e tende a levar uma existência isenta de paixões. 
Colérico ou bilioso: de olhar ardente e protuberâncias musculares evidentes. Possui vontade tenaz e muitas vezes poderosa, tende a mostrar ambição e desejo de domínio, tem propensão a reações abruptas e explosivas.
Melancólico ou atrabiliário: tipo nervoso, de olhar triste e músculos pouco desenvolvidos. Caráter muito excitável, tende ao pessimismo, ao rancor e à solidão.
Formas básicas de doença mental são:
Melancolia: forma discreta de loucura.
Mania: apresentação exuberante e furiosa de loucura.
Frenetis: loucura com febre.
Segunda tipologia: Carl Gustav Jung
Instancias da totalidade da personalidade:
A persona: A máscara adotada pelo individuo nas relações sociais que ao final ele considera como si mesmo. “Papel social”. Semelhante ao ego da escola lacaniana, descrito em O Espelho de Machado de Assis no personagem do alferes. 
A sombra: Aspectos da própria pessoa que frequentemente são repudiados e rejeitados com veemência por ela. Inconsciente, estando oposta à persona. O mais comum é projetar essa sombra sobre uma pessoa, inimigo, etc.
Ânima e animus: Conjunto de elementos femininos inconscientes presentes em todo homem. “Resíduo de todas as impressões fornecidas pela mulher” ao longo da vida. A primeira ânima vem da Mãe. Animus é o conjunto de elementos masculinos inconscientes presentes em toda mulher. O primeiro animus vem do Pai.
Self: É algo que o individuo se destina ao longo do seu desenvolvimento anterior. O desenvolvimento e o autoconhecimento pessoal produzem um alargamento do mundo interior e possibilitam que o self passe a ocupar o centro da personalidade.
Os tipos humanos básicos:
Segundo o movimento e a direção da energia psíquica (libido):
Extroversão: A libido flui sem embaraço ou dificuldade em direção aos objetos externos. 
Introversão: A libido recua perante os objetos do mundo externo, voltando para o seu interior.
Segundo as funções psíquicas adaptativas básicas:
Pensamento: Esclarece o devido significado dos objetos, racionalidade e a lógica dos processos da vida.
Sentimento: Capacidade de estimar afetivamente o mundo, de decidir qual valor afetivo e emocional tem fator tem para o individuo.
Sensopercepção: Capta e identifica com precisão os objetos do mundo externo e permite o contato objetivo com a realidade.
Intuição: É uma percepção inconsciente, uma apreensão imediata de como os objetos do mundo se comportam, de como os fenômenos ocorrem.
Terceira tipologia: Freud
Fase oral; Fase Anal; Fase Fálica (complexo de Édipo); 
Quarta tipologia: biotipologia de Kretschmer
Longílineos/Leptossômicos -> tendem à esquizoidia, esquizofrenia, personalidades esquizoides ou esquizotípicas. Hiper-racional. (Ex: Dom Quixote).
Brevelíneos/Pícnicos -> Ciclotimia ou sintonia, transtorno afetivo bipolar, depressão e timopatias em geral. (Ex: Sancho Pança).
Atlético/Muscular -> Tendem à esquizofrenia ou a epilepsia.
Modelos de personalidade obtidos por estudos empíricos e psicométricos:
Modelo de Eysenck
Baseou em três dimensões: neuroticismo (traços ansiosos); extroversão/introversão; psicoticismo (traços compartilhados entre pessoas normais e indivíduos psicóticos como descuido ou negligencia em relação a si, descaso pelo senso comum, expressão anormal das emoções).
Modelo dos cinco fatores:
Neuroticismo: traços ansiosos, preocupação, autopiedade, instabilidade.
Extroversão/Introversão.
Abertura: curiosidade, imaginação, originalidade, tendência à arte, maior insight, abertura de interesses.
Amabilidade: gentil, confiável, generoso, empático, perdoador.
Conscienciosidade: organizado, eficiente, responsável, confiável, planejador.
Modelo de Cloninger
Procura por novidade: Sujeito intolerante à monotonia. Age por impulso e muda constantemente de interesse e amizades. Sistemas doparminegicos de recompensa. Tendência a abuso de substancias e a comportamento sociopáticos no geral.
Evitação de danos: Sujeito temeroso, pessimista, inibido. Vias envolvidas seriam as serotonérgicas.
Dependência de recompensa: Dependência de apoios emocionais e intimidade com os outros, sensíveis a sugestões sociais e responsivos a pressão social, sensíveis à rejeição. Vias envolvidas seriam as noradrenérgicas.
TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
O transtorno de personalidade já foi nomeado de diversas formas ao longo dos séculos: insanidade moral, monomania moral, transtorno ou neurose de caráter, dentre outros. Hoje é conhecido como psicopatia, mas o termo ainda é usado de formas diferentes como a se referir à psicopatia de sociopatia ou a psicopatia de transtornos de personalidade.
Kurt Schneider definiu os transtornos considerando que o elemento central desses transtornos é que o individuo apresenta as seguintes características básicas:
Sofre e faz sofrer a sociedade;
Não aprende com a experiência.
Isso quer dizer que, no transtorno da personalidade, há uma marcante desarmonia que se reflete tanto no plano intrapsíquico como no das relações interpessoais.
Os transtornos de personalidade, embora de modo geral produzam consequências muito penosas para o individuo, familiares e pessoas próximas, não são facilmente modificáveis por meio das experiências da vida, tendem, antes, a permanecer estáveis ao longo da vida.
Segundo a classificação atual de transtornos mentais da OMS (1993), a CID-10, os transtornos da personalidade são definidos pelas seguintes características:
Geralmente surgem na infância ou adolescência e tendem a permanecer relativamente estáveis ao longo da vida do indivíduo.
Manifestam um conjuntode comportamentos e reações afetivas claramente desarmônicas, envolvendo vários aspectos da vida do indivíduo, como a afetividade, o controle de impulsos, o modo e o estilo de relacionamentos interpessoais, dentre outros.
O padrão anormal de comportamento e de respostas afetivas e volitivas (relacionados a vontades) é permanente, de longa duração e não limitado ao episódio de doença mental associada (como uma fase maníaca ou depressiva, um surto esquizofrênico, etc.).
O padrão anormal de comportamento inclui muitos aspectos do psiquismo e da vida social do individuo, não sendo restrito a apenas um tipo de reação ou uma área do psiquismo.
O padrão comportamental é mal-adaptativo, produz uma série de dificuldades para o indivíduo e/ ou para as pessoas que com ele convivem.
São condições não relacionadas diretamente à lesão cerebral evidente ou a outro transtorno psiquiátrico (embora haja alterações de personalidade secundárias à lesão cerebral).
O transtorno da personalidade leva a algum grau de sofrimento (angústia, solidão, sensação de fracasso pessoal, dificuldades no relacionamento vividas com amargura, etc.); entretanto, salienta a CID-10, tal sofrimento pode se tornar aparente para o indivíduo apenas tardiamente em sua vida. 
Em geral, o transtorno da personalidade contribui para o mau desempenho ocupacional (no trabalho, estudos, etc.) e social (com familiares, amigos, colegas de trabalho ou estudo). Entretanto, tal desempenho precário não é condição obrigatória.··.
Transtornos da personalidade segundo as classificações oficiais:
Podem ser agrupados em três grandes subgrupos:
GRUPO A: esquisitos e/ou desconfiados; 
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PARANÓIDE:
Sensibilidade excessiva a rejeições e a contratempos 
Tendência a guardar rancores persistentemente 
Desconfiança excessiva e tendência exagerada a distorcer as experiências por interpretar erroneamente as ações neutras ou amistosas de outros como hostis ou depreciativas 
Obstinado senso de direitos pessoais e sensação de estar sendo injustiçado em relação a esses direitos, em desacordo com a situação real. 
Suspeitas recorrentes, sem justificativa, com respeito à fidelidade sexual do parceiro. 
Tendência a experimentar autovalorização excessiva, manifesta por meio de atitude persistente de auto-referência. 
Preocupação com explicações “conspiratórias”, sem fundamento em dados reais.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZÓIDE 
Distanciamento afetivo, afeto embotado, aparente frieza emocional. 
Capacidade limitada para expressar sentimentos calorosos, ternos ou raiva para com os outros. 
Indiferença aparente a elogios ou críticas 
Poucas atividades produzem prazer
Pouco interesse em ter experiências sexuais com terceiro 
Preferência quase invariável por atividades solitárias
Preocupação excessiva com fantasias e introspecção 
Ausência de amigos íntimos ou de relacionamentos confidentes
Insensibilidade marcante em relação a normas e convenções sociais
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOTÍPICA 
Desconforto e incapacidade importante para ter relações interpessoais.
Frequentes ideais de auto-referência (tudo o que acontece no mundo se refere a ele).
Ideias e crenças estranhas, tendendo ao pensamento mágico.
Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais.
Pensamento e discurso incomuns, estranhos, por exemplo, pensamento vago, exageradamente metafórico, hiperelaborado ou estereotipado.
Ideação paranóide, individuo muito desconfiado.
Afetos inapropriados ou muito reduzidos.
Comportamento e/ou aparência física (inclusive vestimenta) estranhos, os pacientes parecem excêntricos ou muito peculiares.
Ausência de amigos íntimos ou confidentes, além dos parentes de primeiro grau.
 Ansiedade excessiva em situações sociais, que não diminui com a familiaridade em relação a tal situação ou é colorida com ideação paranóide.
(EX: PERSONAGEM EULÁLIA DE MACHADO DE ASSIS)
(É difícil diferenciar a esquizotípica da esquizoide).
GRUPO B: instáveis e/ou manipuladores; 
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL (SOCIOPATA)
Indiferença e insensibilidade pelos sentimentos alheios.
Irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e obrigações sociais.
Incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê-los.
Muito baixa tolerância a frustrações e baixo limiar para descarga de agressões, inclusive violência.
Incapacidade de experimentar culpa e de aprender com a experiência, particularmente com a punição. 
Propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer racionalizações plausíveis para o comportamento que gerou seu conflito com a sociedade.
Crueldade e sadismo são frequentes. 
(EX: PERSONAGEM FORTUNATO DE MACHADO DE ASSIS – A CAUSA SECRETA).
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BODERLINE OU EMOCIONALMENTE INSTÁVEL
Instabilidade emocional intensa.
Sentimentos crônicos de vazio.
Relacionamentos pessoais intensos, mas muito instáveis, oscilando em curtos períodos de uma grande paixão ou amizade para ódio e rancor profundos.
Esforços excessivos para evitar abandonos.
Dificuldades sérias e instabilidade com relação à autoimagem, aos objetivos e às preferências pessoais (inclusive sexuais).
Atos repetitivos de autolesão, envolvendo-se em atuação perigosas (como guiar muito embriagado e velozmente, intoxicar-se com substancias, etc.).
Atos suicidas repetitivos.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DO TIPO IMPULSIVO
Tendência marcante de agir impulsivamente, sem considerar as consequências.
Instabilidade afetiva intensa.
Acessos de raiva intensa.
Explosões comportamentais.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA
Dramatização, teatralidade, expressão exagerada das emoções.
Sugestionabilidade aumentada, facilmente influenciado por outros ou pela circunstancia. 
Afetividade superficial, pueril e lábia.
Busca continua de atenção e apreciação pelos outros, quer ser o centro das atenções
Sedução inapropriada em aparência (vestimenta, maquiagem, etc.).
Erotização em situações não estritamente eróticas (consulta ao dentista, audiência com o juiz, etc.).
Infantilidade, tendência a reações infantis, pouca tolerância à frustração.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NASCISISTA **
Senso grandioso (e irreal) da importância de sua pessoa. Julga ter talentos especiais, espera ser reconhecido como superior, sem que tenha feito algo concreto para isso.
Muito voltado para fantasias de grande sucesso pessoal, de poder, de brilho, de beleza ou de um amor ideal.
Acha-se excepcionalmente “especial” e “único”, acreditando que só pessoas ou instituições também excepcionalmente especiais e únicas podem estar a sua altura.
Requer admiração excessiva.
Tende a ser “explorador” nas relações interpessoais, buscando vantagens sobre os outros para atingir o seu fim ou sucesso pessoal.
Sem empatia pelas pessoas comuns.
Frequentemente invejoso dos outros ou do sucesso alheio, acha que os outros sempre têm inveja dele.
Frequentemente arrogante.
GRUPO C: ansiosos e/ ou controlados-controladores.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANANCÁSTICA OU OBSESSIVA
Preocupação excessiva com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou esquemas.
Perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas.
Duvidas excessivas sobre assuntos irrelevantes.
Cautela demasiada.
Rigidez e teimosia.
Insistência incomum para que os outros se submetam exatamente à sua maneira de fazer as coisas.
Excesso de escrúpulos e preocupação indevida com detalhes da vida.
A rigidez impede ou anula o prazer nas relações interpessoais.
Adesão excessiva às convenções sociais e certo pedantismo.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANSIOSA OU EVITAÇÃO
Estado constante de tensão e apreensão.
Crença de ser socialmente incapaz, desinteressante ou inferior aos outros.
Preocupação ou medo excessivo de ser criticado ou rejeitado.
Restrições na vida diária devido à necessidade de segurança física ou psíquica.
Evitação de atividades sócias e ocupacionais que envolvam contato interpessoal significativo, principalmente por medo de críticas, desaprovação ourejeição.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE 
Subordinação das próprias necessidades e desejos àqueles dos outros dos quais é dependente.
Solicitação constante de que outros tomem as decisões importantes em sua vida pessoal.
Sentimento de desamparo quando sozinho por causa de medo exagerado de ser incapaz de se cuidar.
Preocupação ou medo exagerado de ser abandonado pela pessoal a qual depende.
Capacidade limitada de tomar decisões	 sem excesso de conselhos e reasseguramento pelos outros.
Relutância em fazer exigências ainda que razoáveis à pessoa a quem depende.
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DO TIPO EPILÉPTICO OU SINDROME DE GESCHWIND**
Irritabilidade: irrita-se com facilidade e aparentemente sem motivos.
Impulsividade: tendência a explosões comportamentais.
Desconfiança: tendência a atitudes paranoides em relação às pessoas. 
Prolixidade: tendência ao pensamento vago, que não chega a um fim definido.
Viscosidade na interação pessoal (grudento).
Tendência à hipergrafia, pratica escrita de forma compulsiva.
Circunstancialidade, individuo com pensamento que “roda” em torno do tema.
Tendência à hiper-religiosidade.
Tendência à hipossexualidade.
Outras tendências como: obsessionalidade, culpa, moralismo, dependência, passividade, senso aumentado de um destino pessoal, hostilidade e falta de humor.
(São comportamentos relacionados à epilepsia, não ocorrem necessariamente em todos os casos. Alguns pacientes, sobretudo com crises parciais complexas, com focos epileptogênicos nos lobos temporais, apresentam alterações de personalidade).
Semiotécnica da personalidade:
Pede aos familiares que digam: como ele é no dia-a-dia, como é seu jeito de ser, seu estilo pessoal, seu modo de reagir, de sentir e de atuar ao longo dos anos nas diversas situações da vida.