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Capítulo 29 281 Doenças Causadas por Parasitas P A R T E44 282 Capítulo 29 Capítulo 29 283 Raúl E. Istúriz Jaime Torres R. Cisticercose INTRODUÇÃO Entende-se por cisticercose a infecção tecidual do ho- mem ou dos animais causada pelo Cysticercus cellulosae e Cysticercus racemosus, formas larvárias, metacestódeos da Taenia solium. A afecção do sistema nervoso central (neu- rocisticercose ou NCC) é considerada, em nível global, como a enfermidade parasitária neurológica mais comum no ser humano. Trata-se de uma parasitose zoonótica na qual tanto o ser humano como o gado suíno podem atuar como hospe- deiros naturais intermediários; mas somente o humano, hospedando o cestódeo adulto, serve como hospedeiro de- finitivo. A enfermidade constitui um sério problema de saúde pública para alguns países em desenvolvimento e está relacionada como uma das enfermidades emergentes nas populações dos países desenvolvidos que recebem grande imigração de indivíduos provenientes de áreas en- dêmicas. ETIOLOGIA, CICLO VITAL E EPIDEMIOLOGIA O cisticerco típico é uma vesícula única elipsoidal com um a dois centímetros de diâmetro, de cor branco- acinzentada opalescente, constituída por uma parede membranosa translúcida de três capas que contém um lí- quido claro, que, por sua vez, recobre um protoescólex es- férico invaginado, equipado com ganchos e ventosas na cabeça, e ligado à capa interna reticular por um estróbilo rudimentar. Sua localização mais freqüente é no córtex cerebral, nos gânglios basais e na substância branca. Em localizações subaracnóideas, como a fissura silviana e as cisternas basais, podem crescer, provavelmente por menor limitação de pressão, até uns cinco centímetros. Os cisticercos intraventriculares são de tamanho variável e podem flutuar livremente ou aderir-se ao plexo coróideo. O cisticerco racemoso se forma por crescimento despro- porcionado da membrana e consiste em múltiplas estrutu- ras císticas, acefálicas a olho nu, interconectadas, com sub- divisões ou ramificações irregulares lobuladas, e de até dez centímetros de diâmetro em conjunto. A apresentação clínica tende a ser mais agressiva e a localização preferen- cial nas cisternas basais. As razões pelas quais se desenvol- ve uma ou outra forma cestódica larvária ainda não são bem definidas; ambas podem ser observadas no mesmo paciente. O ser humano adquire cisticercose ao ingerir ovos de Taenia solium provenientes de sua própria infecção intes- tinal ou das fezes de outras pessoas com teníase, fenôme- no denominado auto-infecção externa. A auto-infecção in- terna também é possível através do transporte dos proglótides grávidos ou ovos por um fenômeno de retro- peristaltismo para o estômago humano. Os estudos epide- miológicos mostram a aglomeração de casos clínicos de NCC nas proximidades de indivíduos portadores de teníase intestinal, sugerindo que a contaminação direta, e não através do ambiente, seja a principal fonte de infecção no ser humano. Embora seja possível registrar uma histó- ria de teníase intestinal prévia em aproximadamente 25% dos pacientes com NCC, menos de 10% são portadores de teníase no momento do diagnóstico. Uma vez ingeridos, os ovos liberam no duodeno os embriões, denominados oncosferas, que penetram na mu- cosa intestinal e ganham acesso à circulação sangüínea, onde se distribuem em numerosos locais ou órgãos corpo- rais, especialmente nos tecidos subcutâneos, musculoes- queléticos e nervosos, nos quais maturam lentamente recobrindo-se de uma cápsula fibrosa, até que eventual- mente entrem em um processo de degeneração que termi- na com a morte. Esse processo evolutivo sucede por eta- pas que são imaginativamente estimáveis e pode durar em 2929 284 Capítulo 29 torno de cinco anos. O parasito morto dá lugar finalmen- te a uma lesão nodular calcificada. A cisticercose é endêmica em numerosas áreas do mun- do. Na América Latina, os países nos quais se observa a in- cidência mais alta são: México, Peru, Brasil, Bolívia, Co- lômbia, Equador e Venezuela. A incidência também é alta na Índia e nas Filipinas, assim como nas regiões da África e Ásia, especialmente no Sudeste Asiático e em todas as áreas onde se consome carne de porco. Estimativas recen- tes indicam que cerca de 75 milhões de pessoas vivem em áreas onde a cisticercose é endêmica e aproximadamente 400 mil delas sofrem de doença sintomática. A proporção de casos de epilepsia de instalação tardia (em indivíduos com idade acima de 25 anos) atribuíveis à NCC em áreas de endemicidade na América Latina é de 25 a 50%, sendo assim possível assumir que, nessas mesmas áreas, para cada mil habitantes, quatro a cinco casos de epilepsia são devidos à NCC. A enfermidade está nitidamente ausente em países ou comunidades islâmicas ou judaicas, onde a proibição re- ligiosa dessa dieta impede a propagação da teníase solium e interrompe seu ciclo vital. Na Europa meridional e na Europa oriental, Espanha e Portugal a cisticercose continua endêmica, porém a incidência é menor. Nos Estados Uni- dos e em outras nações industrializadas, nas quais se exerce um controle sanitário da carne de porco que limita a inci- dência de teníase, a cisticercose é vista às vezes com carac- terísticas epidemiológicas de problema emergente em imi- grantes, em cidadãos que regressam de áreas endêmicas, ou transmitida de forma autóctone a indivíduos que não via- jaram mas que têm contato caseiro com infectados por Taenia solium. A recente descrição no Brooklin, estado de Nova York, de um surto de NCC em uma comunidade ju- daica ortodoxa e, portanto, sem história de consumo de carne de porco, porém com imigrantes ilegais como em- pregados domésticos, serve de exemplo para recordar que a cisticercose não é causada pela ingestão de carne de por- co, mas pelos ovos da Taenia solium. FISIOPATOLOGIA A oncosfera, após alojar-se no tecido, evolui para metacestódeo em dois ou três meses, e estado larvário pa- togênico. Os cisticercos são cobertos por uma membrana colágeno-epitelial nutriente e, enquanto se mantêm saudá- veis, não provocam maior reação imunológica local. Os cistos típicos crescem muito lentamente, em anos ou dé- cadas. Nessa fase, podem determinar alterações fisiológi- cas por compressão e atrofia do tecido circunjacente. É quando começa sua degeneração e até depois de sua mor- te, que provocam uma reação inflamatória local tipo gra- nulomatosa, e são encerrados por uma rede de tecido co- nectivo celularmente rica, composta de células plas- máticas, linfócitos, eosinófilos e macrófagos. A gravidade da inflamação está associada ao nível de deterioração do parasito. Embora a maioria dos cisticercos se aloje na musculatura estriada, as manifestações da doença geral- mente provêm das localizações no sistema nervoso central (SNC). De 1 a 1.000 cisticercos (geralmente menos de 10) podem se localizar aproximadamente no tecido pa- renquimatoso cerebral (60%), o espaço subaracnóideo; na região meningobasal e cortical (40%); no sistema ventricular (10%); em diversas áreas simultâneas (> 50%); e na medula espinhal (1%). Em alguns casos o processo in- flamatório pode produzir vasculite, neurite e fenômenos vasculares obstrutivos que tornam o diagnóstico diferen- cial ainda mais difícil. A presença de parasitos nos ven- trículos e sua passagem para as meninges se associam a meningite basal. A elevação da pressão intracraniana resul- tante é freqüente na NCC. A cisticercose humana é acompanhada também de uma resposta defensiva sistêmica, principalmente humoral, que pode ser medida para fins diagnósticos e prognósticos no soro, liquor e até na saliva. QUADRO CLÍNICO O estado de invasão de cisticercose é geralmente assin- tomático ou produz sintomas leves e inespecíficos como febre, fadiga e dores musculares, podendo ser acompanha- dos de eosinofilia. As infecções nos tecidos molescostu- mam se manifestar com o aparecimento de nódulos palpá- veis ou até visíveis que se convertem em dados diagnósticos especialmente em pacientes da Ásia e da África. A NCC pode ser variar de assintomática a letal e seu prognóstico é sempre reservado. Quando há produção de sinais e/ou sintomas, os mesmos aparecem por volta dos 4,8 anos após a infecção e dependem da localização das lesões, do número e tipo de cistos, e principalmente da res- posta inflamatória do paciente. Esse pleomorfismo de lo- calização, tamanho e grau de inflamação no SNC explica a variabilidade das síndromes e enfermidades neurológi- cas resultantes que podem ser desde muito simples até ex- traordinariamente complexas. A epilepsia é a apresentação mais constante, presente em mais de 50% dos casos com localizações intracerebrais. O exame neurológico entre as crises, que podem ser focais ou generalizadas, costuma ser normal. A NCC é uma cau- sa tão importante de epilepsia em regiões endêmicas que seu aparecimento, especialmente em adultos, deve sugerir o diagnóstico e constitui uma indicação para exames com- plementares adequados. A cefaléia é outro sintoma fre- qüente. Os cistos intraventriculares costumam provocar sintomas subagudos como convulsões, cefaléias, sinais de focalização neurológica e demência, que podem progredir de forma rápida. Os mesmos são causados por hidrocefa- lia causada pela obstrução do fluxo normal do LCR ou por inflamação meníngea. A hidrocefalia pode também ser causada pela presença de encefalite ou obstrução por cis- tos de grande tamanho. Neste último caso, quando se apre- senta a síndrome de Brun – perda súbita do conhecimen- to relacionada à posição da cabeça que favorece a posição do cisto nas áreas de passagem do LCR. A hipertensão in- tracraniana se apresenta com cefaléia severa e às vezes vi- olenta, acompanhada de vômitos, alterações visuais e papiledemas que podem ser intermitentes ou progressivos. Manifestações psiquiátricas podem ocorrer associadas ou não a outra sintomatologia neurológica. Os sintomas fo- cais mais freqüentes são subagudos ou crônicos, e incluem sinais piramidais, sensoriais, cerebelosos, extrapiramidais e disfunção na haste cerebral. A encefalite cisticercótica é uma forma muito severa de NCC, na qual a infecção é ma- ciça. É vista freqüentemente em mulheres jovens e em crianças, e se caracteriza pela diminuição progressiva sen- Capítulo 29 285 sorial, hipertensão intracraniana severa e mau prognósti- co. Recentemente descreveu-se na América Latina uma forma de apresentação particular de NCC caracterizada pela ocorrência de infecção cerebral maciça com cistos viáveis e mínima reação inflamatória no parênquima cir- cundante, em associação com uma inesperada e elevada incidência de teníase intestinal. A cisticercose racemosa é outra apresentação agressiva de NCC, na qual cistos proliferativos crescem na base do cérebro produzindo, algumas vezes, deterioração neuroló- gica rápida, coma e morte. As lesões intra-espinhais apre- sentam sintomas precocemente, as extra-espinhais, mais gradativamente. As manifestações são também inespecífi- cas. Os cistos intraparenquimatosos produzem déficits motores e sensitivos, e a racnoidite ocorre com dor radi- cular e debilidade, todos no nível da lesão. As manifesta- ções oculares são geralmente causadas pela localização dos cistos no humor vítreo e nos tecidos sub-retinianos, e po- dem se complicar com o desprendimento da retina e coriorretinite. A cisticercose miocárdica é geralmente as- sintomática. Diversos sintomas neurológicos associados com múl- tiplos cistos em localizações e em fases de desenvolvimen- to diferentes podem produzir uma progressão de manifes- tações neurológicas bizarras, capazes de desafiar as habilidades diagnósticas dos melhores clínicos. D IAGNÓSTICO IMAGENOLÓGICO E LABORATORIAL Com a impossibilidade da visualização direta do metacestódeo a olho nu, embora a presença da teníase in- testinal ou a história da permanência em locais endêmicos, o achado de nódulos subcutâneos e uma enfermidade neu- rológica com eosinofilia moderada e/ou pleocitose do LCR – dados que sugerem cisticercose –, não é possível realizar um diagnóstico confiável da afecção. Por outro lado, a re- cuperação do parasito do SNC é muito difícil. Entretanto, o emprego de métodos neuroimagenológicos, que permi- tem mostrar a localização dos cisticercos e suas diversas fa- ses de desenvolvimento ou involução, e também a identifi- cação de áreas de atrofia ou edema cerebral, e a medição dos ventrículos, em associação com técnicas sorológicas que avaliam a resposta humoral específica do paciente no soro ou no LCR, podem ser de grande utilidade e tornam possí- vel a realização de um diagnóstico mais adequado. Das técnicas de imagens cerebrais, a tomografia axial computadorizada (TAC), especialmente se acompanhada do uso do contraste, e a ressonância magnética nuclear (RM) são as mais úteis, especialmente quando mostram a típica lesão hipodensa (cisto) com um ponto excêntrico (escólex) em seu interior, ou os maiores racemos (cistos racemosos) característicos. A TAC é preferível para de- monstrar calcificações e a utilização de contrastes facilita o reconhecimento do edema perilesional. A RM visualiza melhor os cistos em áreas como as convexidades cincun- volucionais, o edema cerebral que rodeia algumas lesões e pode evidenciar melhor as alterações evolutivas internas no cisticerco. Em algumas ocasiões, ambas as técnicas são suplementares e necessárias no mesmo paciente. A detecção de anticorpos específicos anticisticerco no soro ou no LCR permite a confirmação diagnóstica. A pro- va preferida é o imunoblot (imunoblot enzimático de eletrotransferência), que utiliza antígenos de glicoproteí- nas purificadas de cisticercos. Sua especificidade é de 100% e sua sensibilidade excede 90% em enfermos com múltiplos cistos viáveis; entretanto, abaixa para 50% a 70% em pacientes com lesões únicas ou somente com lesões calcificadas. DIAGNÓSTICO D IFERENCIAL As manifestações clínicas da NCC são tão inespecíficas e pleomórficas, que o diagnóstico pode ser confundido com numerosas enfermidades neurológicas, especialmente as que cursam com convulsões, efeito de massa, hidroce- falia, meningite crônica, encefalite e lesões da medula es- pinhal. A epilepsia, os tumores cerebrais ou espinhais, a enfermidade vascular cerebral incluindo a vasculite, e di- versas outras enfermidades neuropsiquiátricas produzem quadros indistinguíveis. As neuroimagens compatíveis de- vem ser diferenciadas de cistos coenurais ou hidáticos, de neoplasias primárias ou secundárias, de lesões isquêmicas e de abscessos, tuberculomas, e infecções fúngicas e luéticas do SNC. TRATAMENTO Muitos pacientes com NCC requerem tratamento espe- cífico, e para a maioria deles o tratamento de escolha é o farmacológico. Entretanto, o emprego de tratamento anti- parasitário na NCC continua sendo motivo de controvér- sia. É de grande importância reconhecer que, por tratar-se a NCC de uma patologia pleomórfica, tanto do ponto de vista do quadro clínico como da viabilidade do parasito, não existe um tratamento único para todas as apresenta- ções. Por isso, a individualização é a chave da terapêutica vitoriosa. Tanto o albendazol (10 a 15 mg/kg/dia durante oito dias) como o praziquantel (50 mg/kg/dia durante 15 a 30 dias) possuem propriedades cisticidas in vivo; melho- ram as lesões tomográficas e favorecem a evolução de pa- cientes selecionados. Ambos mostraram utilidade quando as lesões de NCC são produzidas por cistos viáveis que se encontram em localização intraparenquimatosa. O albendazol também pode ser utilizado com êxito no tra- tamento de cistos subaracnóideos grandes e na cisticercose intra-ocular. Outra utilidade das substâncias anticisticercó- ticas é o seu papel ao permitir o diagnóstico diferencial de lesões císticas parenquimatosasem pacientes com convul- sões. A exacerbação da inflamação local que se produz concomitantemente à rápida perda de viabilidade dos cis- tos cisticercóticos, como efeito do tratamento antiparasi- tário, pode ser responsável pela exacerbação (às vezes se- vera) dos sintomas entre o segundo e o quinto dia. O uso de esteróides controla o edema e a hipertensão endocrania- na resultantes, porém pode diminuir os níveis séricos de praziquantel. Outro potencial inconveniente do prazi- quantel é que os níveis séricos de difenilidantoína e de carbamazepina podem baixar quando se as administra ao mesmo paciente, que requer uma medicação apropriada durante todo o tratamento. Apresentações clínicas da NCC, como a encefalite, pi- oram com o tratamento cisticida, contra-indicado em al- guns pacientes. Nos outros, como os que apresentam cis- 286 Capítulo 29 tos parenquimatosos e hidrocefalia, deve-se colocar uma derivação ventricular antes do tratamento antiparasitário, a fim de evitar uma elevação maior da pressão intracrania- na. Nos que apresentam grandes cistos subaracnóideos vi- áveis, a administração de corticosteróides é indispensável para evitar a severa reação inflamatória que pode levar a infartos cerebrais. Lesões de NCC que afetam as cisternas basais ou late- rais, lesões calcificadas e aquelas causadas pela forma racemosa não respondem bem ao tratamento anticisticer- cótico e requerem avaliação e intervenção neurocirúrgica às vezes de urgência. A extirpação do metacestódeo e a co- locação de válvulas apropriadas para a melhoria da hidro- cefalia resultante podem ser requisito para salvar a vida ou preservar a integridade neurológica do paciente. A hidro- cefalia cisticercótica é difícil de tratar. As derivações com freqüência devem ser mudadas por obstrução causada pela inversão do trânsito do LCR e a passagem de células infla- matórias e restos parasitários. O prognóstico piora em cada alteração. Novos projetos de válvulas para derivação que produzem fluxo constante estão em fase de avaliação. Pa- cientes com NCC freqüentemente exigem fármacos antiepilépticos, e seu uso às vezes deve ser mantido mes- mo depois de obter a morte dos parasitos, especialmente quando se encontram calcificações depois de tratamento com albendazol, ou quando o paciente apresentava con- vulsões recorrentes e múltiplos cistos antes do tratamen- to. Os esteróides são também freqüentemente necessários, em ocasiões mandatórias, às vezes associados ao manitol e outras medidas antiedema. PROFILAXIA, PREVENÇÃO E CONTROLE A erradicação vitoriosa da infecção por Taenia solium tem sido possível em países industrializados por meio de práticas estritas de processamento e inspeção da carne de porco, de medidas higiênicas e instalações sanitárias ade- quadas que permitam a disposição segura de excrementos humanos, de educação sanitária, assim como o tratamen- to maciço de grandes números de indivíduos com fárma- cos tenicidas. O diagnóstico precoce da teníase em imi- grantes de áreas endêmicas e o seu tratamento protegem grupos selecionados da população de países desenvolvidos. A niclosamida e o praziquantel foram particularmente úteis nessa indicação, diminuindo com eficácia os reserva- tórios de ovos infectantes no hospedeiro definitivo e con- seqüentemente no ambiente. A niclosamida deve ser segui- da por um laxante suave para evitar a auto-infecção potencial retroperistáltica, e o praziquantel tem o risco de incluir sintomas neurológicos nos pacientes portadores de uma NCC assintomática, necessitando por isso de uma administração rigorosamente acompanhada. O oxfendazol mostrou ser eficaz e barato para o tratamento do hospedei- ro suíno. Entretanto, em países em desenvolvimento a ma- nutenção e a disseminação destas zoonoses são um fato, porque as medidas mencionadas não foram aplicáveis. O desenvolvimento de uma vacina contra a Taenia solium, teoricamente possível por clonagem do imunogênio con- tra Taenia ovis, está atrasado em virtude da falta de um modelo animal experimental. Em pacientes com lesões císticas e viáveis, com con- vulsões, especialmente quando estas são generalizadas, o tratamento com albendazol diminui a carga parasitária e reduz o número de convulsões com poucos efeitos secun- dários se comparado ao placebo. O emprego de drogas antiparasitárias no tratamento da neurocisticercose tem sido um tema intensamente contro- verso por mais de 20 anos. Três argumentos importantes contra o uso corrente da terapia antiparasita em neurocis- ticercose têm sido empregados: a. podem desencadear ris- cos imediatos devido aos sintomas neurológicos associa- dos à inflamação aguda como resultado da morte dos cistos; b. o prognóstico a largo prazo do transtorno convul- sivo subjacente pode agravar-se devido ao crescimento de maiores cicatrizes corticais pelo processo inflamatório agudo; c. o tratamento é desnecessário já que a maioria dos cistos morre por si própria em um período relativamente curto. Não obstante, estudos recentes, com numerosos pa- cientes acompanhados em forma prospectiva e controlada, mostram que em pacientes com convulsões causadas por cistos parenquimatosos possíveis, a terapia antiparasitária com albendazol diminui a carga parasitária de forma se- gura e eficaz, pelo menos em relação à redução do núme- ro de crises convulsivas generalizadas, se comparado a pa- cientes tratados somente com placebo. Por outro lado, os cistos cerebrais resolvem-se bem mais rapidamente depois do tratamento com albendazol do que depois do placebo, tal como tem sido demonstrado também previamente em estudos de tratamento em porcos e em diversas séries de pacientes tratados sem grupos de controle comparativos. BIBLIOGRAFIA 1. Bern C, García HH, Evans C et al. Magnitude of the disease burden from neurocysticercosis in a developing country. Clin Infect Dis 1999; 29:1.203. 2. Bickerstaff ER, Cloake PCP, Hughes B et al. The racemose form of cerebral cysticercosis. Brain 1952; 75:12. 3. Colli BO, Martelli N, Assirati JA Jr. et al. Results of surgical treatment of neurocysticercosis. J Neurosurg 1986; 65:309. 4. Cysticercosis working group in Peru. The marketing of cysticercotic pig in the sierra of Peru. Bull World Health Organ 1993; 71(2):223. 5. Del Brutto O, Sotelo J, Aguirre R et al. Albendazol therapy for giant subarachnoid cysticerci. Arch Neurol 1992; 49:535. 6. Del Brutto O, Sotelo J, Roman GC. 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