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580 Capítulo 60 Morton Scheinberg Artrite Infecciosa DEFINIÇÃO A artrite infecciosa ou séptica é uma reação inflamató- ria resultante da invasão direta do espaço articular por microrganismos patogênicos, provocando dor, edema, ver- melhidão, limitação do movimento articular e, por fim, destruição articular e incapacidade permanente, se não tra- tada. Ela continua sendo uma questão relevante na medi- cina clínica, e, apesar de avanços significativos nas condu- tas diagnósticas e do desenvolvimento de antibióticos mais recentes e mais poderosos, seu impacto em termos de mor- bidade e mortalidade humanas continua inalterado. ARTRITE BACTERIANA NÃO-GONOCÓCICA EPIDEMIOLOGIA, PATOGENIA E FATORES DE R ISCO A artrite séptica ocorre em todas as faixas etárias, po- rém é mais comum em crianças que em adultos. Os ho- mens em geral são afetados com mais freqüência que as mulheres, embora as mulheres sejam freqüentemente afe- tadas pela artrite reumatóide (AR) subjacente. Uma inci- dência anual de artrite séptica comprovada por cultura de 1 em 62.500 recentemente foi mostrada em um estudo prospectivo bem conduzido no Reino Unido. Em um ou- tro estudo prospectivo comunitário conduzido na Holanda, foi encontrada uma incidência de artrite bacteriana de 5,7 por 100.000 habitantes por ano. Quaisquer microrganismos incluindo bactérias, fungos, vírus e protozoários podem invadir as articulações; entre- tanto, a maioria avassaladora (90%) dos casos de artrite séptica é causada por bactérias piogênicas (isto é, estafilo- cocos, estreptococos) (Tabela 62.1). As bactérias podem atingir a articulação por meio de diversas vias, sendo a mais comum a disseminação hematogênica. Outras vias menos comuns incluem a inoculação direta durante artroscopias ou artrocenteses diagnósticas ou terapêuticas, traumatismo e osteomielite, celulite, abscessos, tenossino- vites e/ou bursite séptica contíguos. Assim que o agente microbiano penetra no espaço articular, ele inicia uma sé- rie de reações inflamatórias e pode levar a destruição ar- ticular e dano permanente da articulação. Microrganismos viáveis e/ou seus produtos ativam a liberação de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral (TNF)- a e a interleucina-1, e enzimas proteolíticas, como as me- taloproteinases e outras enzimas degradadoras de coláge- no. Essas substâncias podem induzir a proliferação da membrana sinovial, tecido de granulação, neovasculariza- ção e infiltração por células polimorfonucleares (PMN) e pode resultar, se não tratado, em destruição cartilaginosa e óssea. O dano articular pode progredir mesmo após er- radicação dos microrganismos pela antibioticoterapia, de- vido a persistência de antígenos bacterianos, e metalopro- teinases na articulação continuarão a promover uma resposta inflamatória. MICRORGANISMOS RESPONSÁVEIS POR ARTRITE BACTERIANA NÃO-GONOCÓCICA AGUDA (TODAS AS IDADES) • Microrganismo • Freqüência (%) • Gram-positivos – Staphylococcus aureus – estreptococos grupo A, B, C – Staphylococcus epidermidis – Streptococcus pneumoniae – Enterococcus spp. – Corynebacterium spp. • Gram-negativos 6060 Capítulo 60 581 – Salmonella spp. – Pseudomonas aeruginosa – Escherichia coli – Klebsiella pneumoniae – Enterobacter spp. – Brucella spp. – Haemophilus influenzae – Kingella kingae • Anaeróbicos – Fusobacterium spp. – Bacteroides fragilis Os fatores de risco importantes para o desenvolvimen- to de artrite séptica incluem idade superior a 60 anos, dia- betes melittus, estados de imunodeflciência, dano articular preexistente (particularmente AR), infecção cutânea, uso de drogas intravenosas, condições debilitantes, hemoglo- binopatia e próteses articulares. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O início da artrite séptica em geral é agudo e mais de 75% dos pacientes têm artrite monoarticular. Qualquer articulação pode ser afetada na artrite séptica, embora a ar- ticulação do joelho, seguida pela do quadril e do tornoze- lo, seja a mais comumente afetada. O envolvimento das articulações sacroilíacas, costocondrais e esternoclavi- culares é mais encontrado em usuários de drogas intrave- nosas. Queixas constitucionais são relativamente comuns e incluem calafrios, febres, mal-estar e anorexia. No exa- me físico, as articulações afetadas podem estar extrema- mente dolorosas, quentes, edemaciadas e repletas de líqui- do. Estes sinais inflamatórios, entretanto, podem estar mascarados em pacientes debilitados, gravemente enfer- mos, ou naqueles que estejam recebendo corticosteróides ou agentes imunossupressores. A poliartrite pode ocorrer em pacientes com doença do tecido conjuntivo subjacen- te, particularmente AR, ou a um estado imunossupressor, e comporta um pior prognóstico com a taxa de mortalida- de de aproximadamente 30%. D IAGNÓSTICO A artrite séptica deve ser suspeitada na presença de um quadro clínico apropriado, achados nos exames diagnós- ticos por imagem e exame do líquido sinovial. Um diag- nóstico definitivo é feito na presença de uma cultura po- sitiva do líquido sinovial. O reconhecimento precoce da infecção é a etapa mais importante no controle da artrite séptica. A artrocentese é mandatória na presença de derrame articular, particular- mente quando um processo infeccioso estiver sendo con- siderado. Todo o líquido aspirado deve ser enviado para a coloração pelo método de Gram, culturas para bactérias aeróbicas e anaeróbicas e contagem de células com um leucograma diferencial. A leucometria no líquido sinovial em geral fica entre 40.000 e 50.000 leucócitos/mm3, com a predominância (> 80%) de células PMN. Os níveis de glicose, proteína e lactato não são muito úteis e, em sua grande maioria, são inespecíficos. O produto de microrga- nismos da cultura do líquido articular é aproximadamen- te de 50 a 60%. A velocidade de hemossedimentação, os níveis de proteína C reativa e a leucometria no sangue pe- riférico estão elevados na maioria dos pacientes e estes úl- timos dois podem ser úteis no acompanhamento dos pa- cientes. Um nível persistentemente elevado de proteína C reativa e/ou leucocitose pode implicar persistência da in- fecção articular. Radiografias simples raramente são úteis, inicialmente na doença, embora possam revelar anorma- lidades articulares como perda da cartilagem articular e erosão óssea em pacientes não tratados ou com doença agressiva. Em pacientes com suspeita de infecções articu- lares de localização profunda, como o envolvimento da articulação sacroilíaca ou da faceta, a cintilografia, tomografia computadorizada ou exame por ressonância magnética podem ser úteis. FATORES DE R ISCO PREDISPONENTES PARA INFECÇÃO ARTICULAR • Dano preexistente da articulação; • Osteoartrite; • Artrite reumatóide; • Uso de drogas intravenosas; • Diabetes mellitus; • Idoso, estado debilitado; • Neoplasia; • Terapia imunossupressora; • lmunodeficiência; • Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana; • Hipogamaglobulinemia; • Deficiência de complemento; • Menstruações e gravidez – gonococcemia; • Prótese articular; • Cirrose; • Úlceras de perna. RAIOS X: TRATAMENTO A pronta instituição de antibioticoterapia apropriada e drenagem articular do líquido purulento é essencial no controle da artrite séptica. Mesmo assim, seu tratamento permanece insatisfatório. Antibióticos devem ser adminis- trados a todos os pacientes com suspeita de artrite séptica mesmo antes de os resultados dos exames bacteriológicos estarem disponíveis. A seleção inicial dos antibióticos deve ser baseada na coloração pelo método de Gram do líqui- do articular ou outros líquidos ou secreções corporais. Se não forem identificados microrganismos, o tratamento empírico deve ser administrado consoantemente com a idade, fatores de risco e quadro clínico do paciente. Indi- víduos normais devem ser tratados inicialmentepara infec- ções com microrganismos Gram-positivos, enquanto anti- bióticos de amplo espectro estão indicados em indivíduos imunocomprometidos, gravemente enfermos e debilitados. Assim que os resultados da cultura estiverem disponíveis, os antibióticos podem ser trocados, se indicado. Um perí- odo de tratamento de três semanas (uma semana de anti- 582 Capítulo 60 biótico parenteral seguida de duas semanas com antibió- ticos orais) é atualmente a norma para a maioria dos pa- cientes com artrite séptica. A terapia parenteral e não intra- articular com penicilina resistente a β-lactamase ou uma cefalosporina de primeira geração devem ser dadas de iní- cio. A vancomicina deve ser usada para tratar a infecção por Staphylococcus aureus resistente a meticilina. Micror- ganismos Gram-negativos devem ser tratados com uma cefalosporina de terceira geração como a cefotaxima ou ceftriaxona ou um aminoglicosídio. A administração em longo prazo de antibióticos orais é recomendada em paci- entes com infecções ósseas e articulares crônicas (por exemplo, próteses articulares). A aspiração com agulha fechada diariamente ou quan- do necessário é uma parte importante do controle clínico. A maioria dos pacientes pode ser tratada desta maneira embora a drenagem cirúrgica esteja indicada em articula- ções mais profundas (incluindo quadris e ombros), articu- lações com dano preexistente, articulações que não respon- dem ao controle clínico apropriado ou articulações com derrame localizado ou osteomielite contígua. A cirurgia artroscópica e não a aberta está recomendada. A imobili- zação da articulação não está indicada exceto em pacien- tes com dor incapacitante ou após drenagem cirúrgica. A imobilização da articulação e a colocação de tala funcio- nal nas articulações afetadas são recomendadas para pre- venir a atrofia e contraturas musculares e para preservar a função da articulação. A análise da reação em cadeia da polimerase (RCP) do líquido sinovial pode ser usada para monitorizar a presença de DNA bacteriano, a ausência do qual pode ajudar na decisão de descontinuar o tratamen- to com antibióticos. ARTRITE GONOCÓCICA A Neisseria gonorrhoeae é a causa mais comum de artri- te séptica nos Estados Unidos, particularmente em indiví- duos jovens sexualmente ativos. As mulheres são afetadas duas a três vezes mais freqüentemente que os homens. Sua incidência diminuiu nos últimos anos, coincidindo com mudanças no comportamento sexual que ocorreram des- de o advento da epidemia do vírus da imunodeficiência humana (HIV). Infecção gonocócica disseminada ocorre de 0,5 a 3% dos casos da infecção da mucosa e é a razão mais comum de internação hospitalar como resultado de artrite séptica nos Estados Unidos, com uma incidência estimada de 2,8 casos por 100.000 pessoas por ano. A infecção gonocócica disseminada é sempre precedi- da por infecção da mucosa por N. gonorrhoeae. A infecção comumente envolve o endocérvix ou a uretra, mas pode envolver a faringe e o reto e pode ou não ser sintomática. O risco de disseminação gonocócica após uma infecção da mucosa depende do estado imunológico do paciente e da virulência do microrganismo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A artrite gonocócica pode apresentar-se como parte de uma infecção disseminada ou como uma infecção monoar- ticular. A infecção gonocócica disseminada em geral apre- senta artralgias migratórias, febre, calafrios, dermatite e tenossinovite. A infecção gonocócica genital, anal ou farín- gea assintomática é, em geral, a norma. Uma variedade de lesões cutâneas pode estar presente, incluindo pequenas pápulas eritematosas que progridem para lesões vesicula- res, pustulares e/ou necrosantes. A erupção cutânea pode ser observada em qualquer região, incluindo palmas. A tenos- sinovite pode ser transitória e é caracterizada por dor, ede- ma e eritema periarticular. A artrite séptica que afeta uma ou algumas articulações ou a poliartrite franca pode ser en- contrada na ausência de envolvimento cutâneo e é clinica- mente indistinguível de outras formas de artrite séptica. DIAGNÓSTICO Raramente, a N. gonorrhoeae é encontrada no líquido sinovial ou em lesões cutâneas. Na maioria dos pacientes, o diagnóstico é feito indiretamente pelo achado de uma cultura positiva para as vias genitourinárias ou, muito me- nos freqüentemente, do reto ou da faringe. Na presença de uma coloração de Gram-negativa e/ou cultura do líquido sinovial negativa, o diagnóstico presuntivo pode ser feito pelo quadro clínico característico, associado a rápida res- posta aos antibióticos. A RCP permite a identificação dos microrganismos no líquido sinovial. Outros achados labo- ratoriais são inespecíficos. RAIO X: TRATAMENTO A hospitalização é recomendada, particularmente se complicações graves como endocardite e meningite estive- rem presentes. Uma cefalosporina resistente a β-lactamase de terceira geração, como a ceftriaxona, 1 g intramuscular ou intravenoso a cada 24 horas é inicialmente recomen- dada. Outros esquemas incluem cefotaxima ou ceftizoxi- ma, 1 g por via intravenosa a cada oito horas. A espectino- micina, 2 g intramuscular a cada 12 horas, é o tratamento de escolha para os indivíduos alérgicos a medicamentos β- lactâmicos. Se os microrganismos forem sensíveis a peni- cilina, o tratamento pode ser trocado para ampicilina, 1 g intravenoso a cada seis horas ou penicilina G, 10 milhões de unidades por via intravenosa por dia em doses dividi- das. A ceftriaxona e a espectinomicina são seguras e efica- zes no tratamento da gonorréia na gravidez. A terapia parenteral deve ser administrada até que evidências de melhora clínica sejam observadas, em geral de dois a qua- tro dias; em seguida os antibióticos orais podem ser intro- duzidos em substituição; um derivado da penicilina e ce- falosporina deve ser administrado por mais sete a dez dias. Devido a alta prevalência de infecção co-existente por clamídia, terapia concomitante com doxiciclina oral ou outra tetraciclina deve ser administrada. Testes para sífilis, clamídia e infecção pelo HIV devem ser considerados após a complementação do tratamento. ARTRITES VIRAIS Este grupo de artrites constitui a segunda causa mais comum de artrite infecciosa após artrite bacteriana. Várias infecções virais estão acompanhadas de envolvimento ar- ticular inflamatório, incluindo vírus da hepatite, parvo- vírus, vírus da rubéola e HIV. A artrite crônica aguda e, mui- Capítulo 60 583 to menos comumente, a crônica e a vasculite foram descri- tas com infecções virais. A artrite aguda geralmente perdu- ra por três a quatro semanas, pode afetar articulações pe- quenas e grandes ser extremamente dolorosa e de natu- reza não-erosiva e desaparecer sem deixar seqüelas. Ra- ramente, ela é acompanhada de alterações sorológicas e radiológicas, e pode ser monoarticular, oligoarticular e, menos freqüentemente, poliarticular e simétrica, mimeti- zando a AR. Pacientes com vírus da hepatite C e parvovírus podem exibir uma artrite mais crônica, simétrica de pequenas e grandes articulações, com um fator reumatóide positivo indistinguível da AR. Os vírus da hepatite B e C e, em me- nor grau, da hepatite A podem causar outras síndromes reumáticas mediadas por complexos imunes, inclusive a vasculite relacionada à crioglobulinemia mista. A artrite associada a rubéola ocorre em dias do apare- cimento da erupção cutânea na infecção natural ou duas a quatro semanas após a vacinação. O padrão de inflamação articular é freqüentemente o da poliartralgia migratória e, menos freqüentemente, o da poliartrite. Ela pode mimeti- zar a AR e pequenas articulações das mãos, bem como dos joelhos, podem ser mais comumente afetadas. O episódio agudo geralmente perdura por três a 21 dias, mas pode per- sistir por meses. O vírus da rubéola foi isolado no sangue periférico do líquido sinovial de indivíduos afetados, mas seu papel como agenteetiológico na AR e outras artrites crônicas é altamente questionável. Manifestações reumáticas são relativamente freqüentes durante o curso da infecção pelo HIV. Elas podem ocorrer em qualquer período durante o curso da doença, embora tendam a ser mais comuns nos estágios tardios. Na África Central, em geral, as manifestações reumáticas são as ma- nifestações clínicas iniciais da infecção pelo HIV. Um am- plo espectro de transtornos articulares inflamatórios pode ser encontrado, variando desde artralgias até transtornos reumatológicos distintos como artrite reativa e a artrite psoriática. As infecções osteoarticulares raramente são encontra- das, mas quando presentes em pacientes infectados pelo HIV tendem a ocorrer na presença de baixas contagens de linfócitos CD 4 +. A artrite séptica e a polimiosite podem ser observadas. Em geral, o quadro clínico e a resposta à tera- pia são similares aos dos pacientes sem infecção pelo HIV. Os microrganismos causadores também são similares aos encontrados em populações HIV negativas, sendo o S. aureus o agente etiológico mais comum. A maioria dos pacientes com artrite associada a vírus responde bem à terapia antiinflamatória e analgésica. Agentes antiinflamatórios de segunda linha e agentes imu- nossupressores, incluindo esteróides, metotrexato, azatio- prina ou ciclosporina, podem precisar ser usados naque- les casos refratários a terapia convencional. Outros vírus que menos comumente causam artralgias e artrite incluem o vírus do herpes zoster, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, ecovírus, adenovírus e coxsackievírus. Os vírus Chi-Kunguya, O’nyong-nyong e Ross River são alfavírus responsáveis por importantes epidemias de poliartrite febril na África, na Austrália, na Europa e na América Latina FORMAS DIVERSAS DE ARTRITES INFECCIOSAS ARTRITE POR M ICOPLASMA A monoartrite ou oligoartrite induzida por micoplas- mas é relativamente comum em crianças e em pacientes imunocomprometidos, particularmente naqueles com aga- maglobulinemia. A prevalência exata da artrite relaciona- da com micoplasmas é desconhecida. DOENÇA DE LYME A artrite é a manifestação clínica mais comum da in- fecção tardia (persistente) ou estágio 3. A articulação do joelho é envolvida em quase todos os casos. O envolvimen- to articular tipo artrite reumatóide ou simétrico em asso- ciação ao HLA-DR4 geralmente não responde a antibioti- coterapia. O diagnóstico laboratorial é baseado em técnicas sorológicas. O tratamento com antibióticos apropriados é eficaz na maioria dos pacientes com o diagnóstico corre- to. Os fatores de risco identificados que levam ao fracas- so da antibioticoterapia incluem a idade mais velha no momento do diagnóstico e a administração prévia de es- teróides intra-articulares. Alguns casos são refratários à te- rapia convencional e, nesses pacientes, modalidades mais recentes como vacinação podem ser necessárias. ARTRITE TUBERCULOSA Tanto a tuberculose pulmonar como a extrapulmonar exi- biram um ressurgimento nos últimos anos. A principal razão disso é a pandemia pelo HIV, considerando que este afeta es- pecificamente a imunidade celular, que é a primeira linha de defesa contra a tuberculose. O envolvimento pulmonar ativo freqüentemente não é detectado, mas o teste cutâneo do PPD em geral é positivo. As evidências histológicas diretas e a cul- tura do líquido sinovial são necessárias ao diagnóstico – par- ticularmente em pacientes que apresentam monoartrite ou oligoartrite crônica de grandes articulações não responsiva a terapia antiinflamatória convencional. A artrite tuberculosa é uma complicação potencial em pacientes com AR e que es- tão sendo tratados com agentes biológicos mais recentes como os inibidores do TNF-α. O envolvimento articular por Mycobacterium atípico deve ser considerado em pacientes imunocomprometidos após injeções intra-articulares repeti- das de esteróides e em certas ocupações (por exemplo, pes- cador). A terapia de longo prazo com isoniazida, etambutol e/ou rifampicina está indicada. SÍFILIS O envolvimento articular pode ocorrer em qualquer estágio da sífilis congênita, secundária e terciária. Ela tam- bém pode apresentar-se em associação à infecção pelo HIV. Um amplo espectro clínico é encontrado incluindo osteo- condrite, osteíte, periostite e hidrartrose bilateral, geral- mente envolvendo os joelhos e as articulações indolores (articulações de Clutton) em crianças com sífilis congêni- ta. A poliartralgia, a poliartrite e a tenossinovite (não tão comum ou dolorosa como na infecção gonocócica disse- minada), sacroileíte unilateral e espondilite podem ocor- rer em pacientes com sífilis secundária. As articulações de 584 Capítulo 60 Charcot, a artrite gomosa, a osteíte e a artrite crônica podem ser encontradas em pacientes com sífilis terciária. O diag- nóstico pode ser difícil, especialmente na vigência de infec- ção pelo HIV, no qual a análise sorológica repetida freqüen- temente é necessária. A penicilina é o agente de escolha na artrite sifilítica e em geral ela fornece bons resultados. ARTRITES FÚNGICAS O envolvimento musculoesquelético secundário a in- fecção fúngica é uma ocorrência rara, embora uma inci- dência aumentada de infecções fúngicas patogênicas e oportunistas e o surgimento de novas espécies, particular- mente em pacientes imunossuprimidos, tenham sido des- critas. O curso clínico e o diagnóstico tardio são comuns. O uso de agentes biológicos, como os inibidores da TNF-α, também pode ser acompanhado por infecção fúngica sis- têmica, inclusive articular. Por conseguinte, a possibilida- de de artrite fúngica deve ser mantida em mente quando se trata pacientes dessa maneira. Os fungos que mais comumente afetam o sistema musculoesquelético são o Coccidioides immitis, Histoplasrna capsulatum, Blastomyces dermatitides, Sporothrix schenckíi, e em pacientes imunocomprometidos, Candida, Aspergillus, Cryptococcus e Hístoplasma. O diagnóstico exige identificação de outros microrganismos no tecido sinovial ou isolamento do líquido sinovial ou tecido. A terapia de longo prazo com anfotericina-ß e agentes antimicóticos mais recentes com ou sem desbridamento cirúrgico é freqüentemente eficaz. ARTRITE E INFECÇÃO CRÔNICA POR MYCOBACTERIUM LEPRAE Existem dois tipos clássicos de artrite relacionada à le- pra. Uma artrite crônica progressiva relacionada à doença e uma forma reacional ligada a tratamento ou a manifes- tação clínica eritema nodosum leprae. Os mecanismos pe- los quais o micróbio pode induzir artrite a distância são ainda desconhecidos em sua grande parte, podendo ocor- rer ou por infiltração direta do tecido ou pela presença de fenômenos autoimunes. As manifestações articulares são infreqûentes nas formas clínicas da doença, prevalecendo o quadro neurológico e cutâneo. O uso de corticóides tem sido mencionado como ligado à reativação e possível causa de artrite. RUMOS FUTUROS O microrganismo infectante é detectável por técnicas de cultura de rotina ou coloração pelo método de Gram em apenas 50% dos casos de artrite séptica. Por isso exis- te a necessidade do desenvolvimento de métodos rápidos e sensíveis para identificação e suscetibilidade antimicro- biana dos microrganismos responsáveis, inclusive a análise por RCP e do DNA. O tratamento da artrite séptica preci- sa ser completamente definido, particularmente quanto às duração e às vias de administração dos antibióticos e quan- to ao tipo de drenagem. O desenvolvimento de outras téc- nicas diagnósticas por imagem capazes de discriminar en- tre a infecção e a inflamação estéril é necessário para um melhor diagnóstico. BIBLIOGRAFIA 1. Grupta MN, Surrock RD, Field M. A prospective 2 year study of 75 patients with adult onset septic arthritis. Rheumatol 2001; 40:24-30. 2. Stengel D, Bauwens K, Sehouli J. Systematíc review and metanalysis of antibiotic therapy for bone and jointinfections. Lancet Infect Dis 2001; 1:175-188.
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