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VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 1 VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE ATIVIDADES HUMANAS JOÃO MELLO DA SILVA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO FACULDADE DE TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA BRASÍLIA, AGOSTO/2014 VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 2 1 – RESUMO DA ABORDAGEM O objetivo é desenvolver o conhecimento sobre a formação de valor em sistemas que envolvam a ação explícita do ser humano. Esse tipo de sistema, que aflora quando a própria consciência humana é parte explícita da sua origem, denomina-se SISTEMA DE ATIVIDADES HUMANAS, abreviado pela sigla “SAH”. A premissa básica é que a formação de valor ou simplesmente a VALORIZAÇÃO, considerada como o propósito maior de qualquer sistema de atividades humanas, engloba tanto a geração e a conformação de valor quanto a apropriação desse valor a indivíduos ou grupos sociais interessados, internos e externos ao SAH, genericamente denominados stakeholders, que podem afetar ou ser afetados pela valorização. O espaço maior de convivência pessoal, institucional e em rede, que se constitui na base sobre a qual as configurações de SAHs são consolidadas quanto à valorização, considera um modelo de sociedade que caracteriza os diferentes tipos de valor e os respectivos planos nos quais esses valores são objeto das interações humanas. A consideração da sustentabilidade conduz à Valorização Sustentável. A premissa básica de que a sociedade deve fazer parte de ecossistemas sustentáveis dá origem à categoria de “Sistemas Sustentáveis de Atividades Humanas – SSAHs”, tomados como referência para a disciplina. A valorização em um SSAH é explicitada como função dos posicionamentos tempo/espaço de estados resultantes do comportamento do SSAH, posicionamentos esses traduzidos em trajetórias que cruzam uma DIVERSIDADE DE ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO (transição espacial), sob DIFERENTES PERSPECTIVAS DE TEMPO (transição temporal). A MATURIDADE de um SSAH, em termos da evolução tempo/espaço envolvendo sete estados básicos, numerados de acordo com uma ordem de evolução tomada como “natural” (1-FUNCIONAMENTO, 2- ESPECIALIZAÇÃO, 3-CRESCIMENTO, 4-ABSTRAÇÃO, 5-CONVERGÊNCIA, 6-REFERÊNCIA e 7-MUTAÇÃO) pode ser avaliada quanto à valorização em trajetórias tempo/espaço, com desempenho contemplando quatro constituintes originais de qualquer SSAH (FACES DE RELACIONAMENTO, OBJETOS DE VALOR, INTERESSADOS INTERNOS e MOVIMENTAÇÕES DE OBJETOS DE VALOR). A partir do enquadramento de um coletivo humano qualquer em um determinado estado básico 1 a 7 pode-se tomar decisões quanto a fins e meios (“planejar”) que permitam a transição temporal entre pares de estados. Essa transição binária pode resultar em: (i) permanência no mesmo estado; (ii) deslocamento entre estados contíguos; ou (iii) deslocamento entre estados não contíguos. Para tanto, utiliza-se uma MATRIZ DE TRANSIÇÕES BINÁRIAS, com sete linhas e sete colunas, que tem cada uma de suas quarenta e nove posições associada à caracterização das possibilidades de evolução entre dois estados do SSAH em determinado período de tempo. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 3 2 – CONCEITOS BÁSICOS 2.1 – SISTEMAS E MODELOS Como a formação de valor acontece em “sistemas de atividades humanas”, é necessário entender o que seja sistema. Partindo do texto conciso de que SISTEMA é um CONJUNTO DE ELEMENTOS INTER- RELACIONADOS, vários autores e instituições de renome desenvolveram conceitos mais aderentes aos seus objetivos: � Ackoff (1976): Conjunto de dois ou mais elementos que satisfazem: � O comportamento de cada elemento tem um efeito no comportamento do todo; � O comportamento dos elementos e seus efeitos sobre o todo são interdependentes; � Qualquer subgrupo de elementos tem efeito no comportamento do todo; � Nenhum subgrupo tem efeito independente sobre o todo. � Bertalanffy (2006): Entidade que mantém sua existência pela interação mútua de suas partes. � Checkland (1981): Conjunto de elementos conectados que formam um todo, com esse todo tendo propriedades que são dele e não de suas partes. � DAU (2005): Um composto integrado de pessoas, produtos e processos que proveem uma capacitação para satisfazer necessidade ou objetivo estabelecido. � Rosnay 1979): Conjunto de elementos que interagem para formar um todo integrado. � Saussure (1931): Totalidade organizada, feita de elementos solidários que só podem definir-se uns em relação aos outros em função do lugar que ocupam nesta totalidade. � Turchin (1977): Objeto que consiste de outros objetos que são denominados subsistemas do dado sistema. Entendendo o que seja um sistema, o próximo passo é a aplicação prática de tal entendimento. Emerge, então, o conceito de modelo como a representação de alguma coisa real, por exemplo, um sistema de atividades humanas. Segundo Weinberg (2001), “Qualquer modelo é em essência a expressão de alguma coisa que esperamos entender em termos de outra que pensamos entender.” No que se refere a modelos de sistemas, Checkland (1981) considera sistemas que se encontram dentro dos limites do conhecimento humano e sistemas que transcendem tal conhecimento. No espaço de conhecimento humano, existem duas grandes classes: (i) sistemas naturais, que tratam da origem do universo e dos processos de evolução natural, nos quais o ser humano é considerado apenas como um ser vivo da esfera biológica; e (ii) sistemas decorrentes da ação explícita do ser humano. Como integrantes desta última classe, os SISTEMAS DE ATIVIDADES HUMANAS (SAHs) vêm à tona quando a própria consciência humana passa a fazer parte explícita da origem dos sistemas. Ackoff (1974) apresenta o seguinte conjunto de conceitos básicos relativos a sistemas: (i) Estado de um sistema em um dado momento de tempo� conjunto de propriedades relevantes do sistema naquele momento; (ii) Ambiente de um sistema em um dado momento de tempo� conjunto de elementos e suas propriedades relevantes, cujos elementos não são parte do sistema, mas mudanças em qualquer um deles pode produzir mudanças no estado do sistema; (iii) Sistema aberto� sistema que tem ambiente; (iv) Evento de um sistema (ou de seu ambiente)� mudança em propriedades estruturais do sistema (ou seu ambiente) durante um determinado período de tempo; (v) Reação de um sistema� evento do sistema para o qual outro evento (antecedente) que ocorra no mesmo sistema ou em seu ambiente é suficiente; VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 4 (vi) Resposta de um sistema� evento do sistema para o qual outro evento (antecedente) que ocorra no mesmo sistema ou em seu ambiente é necessário mas não suficiente; (vii) Ação de um sistema� evento do sistema para o qual a ocorrência de outro evento (antecedente) no mesmo sistema ou em seu ambiente não é necessária nem suficiente; (viii) Comportamento de um sistema� eventos do sistema necessários ou suficientes para outro evento no mesmo sistema ou em seu ambiente. Comportamento diz respeito a eventos do sistema cujas consequências são de interesse; (ix) Sistema com propósito� pode produzir a mesma saída de diferentes maneiras no mesmo estado (interno ou externo) e pode produzir diferentes saídas no mesmo ou em diferentes estados. Pode alterar suas metas sob condições constantes; seleciona fins e meios, mostrando vontade (will). A partir do conceito de sistema com propósito (purposeful), Ackoff and Guarajedagui (1996) caracterizam quatro tipos de sistemas, em termos de o todo (sistema) e suas partes terem ou não propósito: (i) Determinístico�o todo e as partes não têm propósito; (ii) Animado�o todo tem propósito e as partes não; (iii) Social�o todo e as partes têm propósito; e (iv) Ecológico�o todo não tem propósitoe as partes sim. A Figura 2.1 mostra graficamente essa caracterização. TIPO DE SISTEMA PROPÓSITO TODO PARTES NÃO NÃO SIM NÃO SIM SIM NÃO SIM DETERMINÍSTICO ANIMADO SOCIAL ECOLÓGICO FIGURA 2.1 - O sistema social é aquele aplicável a SAHs. Por serem sistemas abertos, consomem insumos (entradas) disponíveis na sociedade e tornam possível o consumo, pela sociedade, dos produtos (saídas) por eles produzidos. A premissa básica é que a formação de valor ou simplesmente VALORIZAÇÃO, considerada como o propósito maior de qualquer sistema de atividades humanas, engloba tanto a geração e a conformação de valor quanto a apropriação desse valor a indivíduos ou grupos sociais interessados, internos e externos ao SAH, que podem afetar ou ser afetados pela valorização, genericamente denominados stakeholders. Para Ackoff e Guarajedagui (1996), um dos maiores problemas relacionando sistemas e modelos diz respeito às consequências de se aplicar modelo de um tipo de sistema a outro tipo de sistema. Segundo Rosnay (1979), os ecossistemas terrestres, que têm matéria, energia e informação como elementos básicos, podem ser vistos em termos de atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera para: a) Operacionalizar os ciclos de produção, armazenamento, consumo e regeneração de matéria viva; b) Fazer uso do fluxo inesgotável e irreversível de energia solar; c) Regular o funcionamento do ecossistema como um todo. Os SAHs dependem do funcionamento em longo prazo dos ecossistemas terrestres a que pertencem. Segundo o relatório Nosso Futuro Comum (http://www.un-documents.net/wced-ocf.htm), da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Na conclusão do Capítulo 2 do relatório, caminhar em direção ao desenvolvimento sustentável requer: • sistema político que assegure participação efetiva da população na tomada de decisão; • sistema econômico capaz de gerar excedentes e conhecimento técnico em bases autônomas e sustentáveis; • sistema social que provê soluções para as tensões decorrentes de desenvolvimento não harmonioso; VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 5 • sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica para o desenvolvimento; • sistema tecnológico que possa continuamente buscar novas soluções; • sistema internacional que crie padrões comerciais e financeiros sustentáveis; e • sistema administrativo que seja flexível e tenha a capacidade de auto-correção. O conceito de desenvolvimento sustentável conduz à VALORIZAÇÃO SUSTENTÁVEL. Daí, a premissa básica de que a sociedade humana deve ser parte de ecossistemas sustentáveis dá origem à categoria de “SISTEMAS SUSTENTÁVEIS DE ATIVIDADES HUMANAS – SSAHs”, tomados como referência para a disciplina. A Figura 2.2 ilustra o conceito, mostrando os SSAHs da sociedade humana como elementos de ecossistemas sustentáveis, que por sua vez pertencem à biosfera, atmosfera, hidrosfera e litosfera da Terra, planeta do sistema que tem o Sol como fonte inesgotável e irreversível de energia. ATMOSFERA, HIDROSFERA, LITOSFERA BIOSFERA SISTEMA SOLAR SOCIEDADE HUMANA SS AH B 2 SS AH Z2 SSAH ZN ECOSSISTEMAS SUSTENTÁVEIS TERRA FIGURA 2.2 - 2.2 – PARADIGMAS Como este trabalho pressupõe inquirição sobre um objeto da realidade, especificamente os SSAHs, é mister entender o paradigma científico sob o qual essa inquirição será desenvolvida. Em Guba e Lincoln (1994), paradigmas são conceituados como “sistemas de crenças básicas a partir de hipóteses éticas, ontológicas, epistemológicas e metodológicas.” Crenças são básicas no sentido de que devem ser aceitas pela fé, sem contestação, o que não exclui boa argumentação na sua apresentação. Na mesma publicação é colocado que paradigmas de inquirição definem, para os inquiridores, o objeto e o que está dentro e o que está fora da inquirição. As crenças básicas que definem paradigmas de inquirição podem ser sumariadas pelas respostas dadas pelos proponentes de qualquer paradigma a quatro questões fundamentais: � Questão ética: Qual é o papel moral do inquiridor no que concerne à realidade? � Questão ontológica: Qual é a forma e a natureza da realidade e o que se pode saber sobre essa realidade? � Questão epistemológica: Qual é a natureza do relacionamento entre o inquiridor e o que pode ser conhecido? � Questão metodológica: Como pode o inquiridor proceder em descobrir o que ele acredita poder ser conhecido? Ao tratar do paradigma construtivista em seu livro sobre fenomenologia aplicada ao ensino de geometria, Bicudo (2000) leva em consideração o trabalho de Guba e Lincoln (1994) na comparação entre dois grandes paradigmas, um baseado em crenças convencionais (positivistas) e outro em crenças construtivistas, nas dimensões ontológicas, epistemológicas e metodológicas. Fazendo ressalvas sobre a generalização a partir de apenas dois grandes paradigmas, Bicudo (2000) coloca várias questões que necessitam ser respondidas para se entender a realidade com vistas à construção do conhecimento: VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 6 “Como construída? Como estando em construção? Como estando sendo construída por um sujeito pensante? Como estando sendo construída socialmente? O ato de construção da realidade é criador, quer seja ele efetuado por um sujeito ou socialmente? O que esse ato cria? Uma realidade objetiva? Realidades múltiplas? Que tipo de realidade o processo pelo qual a realidade (construída) é conhecida fornece como produto: clara e distinta, única, múltipla, consensual?” Tomando como base um outro trabalho de Guba e Lincoln (1985), Bicudo (2000) explicita quatro significados de realidade: objetiva, percebida, construída e criada. Descartando apenas o significado de realidade objetiva, denotada como “realismo ingênuo ou hipotético”, para o qual “o mundo, a respeito do qual temos conhecimento, existe independentemente de termos dele conhecimentos”, são considerados válidos pontos relativos aos outros três significados de realidade. A partir desses conceitos, foi adotada uma atitude construtivista, tratando da construção do conhecimento e da construção da realidade. Referindo-se a Jean Piaget, que considera conhecimento como atividade que se edifica na relação indissociável entre sujeito e objeto, são tratados o ONDE e o COMO relativos à ocorrência dessa atividade. Com base nas reflexões de Merleau-Ponty em Fenomenologia da Percepção (1994), reconhece-se o ONDE como o mundo, explicitando que a consideração do “mundo como sendo o campo de todos os pensamentos e de todas as percepções explícitas, tem-se o núcleo da conexão construção do conhecimento e construção da realidade.” No que se refere à ocorrência do conhecimento como atividade, são introduzidos os conceitos de tempo, temporalidade e movimento, referindo-se a Merleau-Ponty de que a ORDEM DA COEXISTÊNCIA de objetos (aqui, ali) não é dissociada da sua ORDEM DE SUCESSÃO (antes, agora, depois). Ainda segundo Bicudo (2000), “Distância no tempo (passado, presente, futuro) e distância no espaço (aqui, ali) são unificadas por sínteses de transição que efetuam passagem de uma percepção a outra, em um continuum, sem ligar perspectivas diretas.” Uma outra citação complementa o raciocínio quanto à relação tempo/espaço: “Imbricada na percepção de tempo/espaço, vista como uma experiência original, está aquela de movimento. O fenômeno do movimento manifesta de modo mais sensível a mútua implicação espacial e temporal.” 2.3 - VALORIZAÇÃO TEMPO/ESPAÇO O quadro conceitual apresentado neste trabalho considera que o propósitomaior de um SSAH é a formação sustentável de valor ou VALORIZAÇÃO SUSTENTÁVEL. Na condição de indicador síntese do desempenho quanto ao futuro desejado de um SSAH, a VALORIZAÇÃO SUSTENTÁVEL pode ser explicitada em termos dos posicionamentos tempo/espaço dos estados resultantes do comportamento do SSAH, posicionamentos esses traduzidos em TRAJETÓRIAS que cruzam uma DIVERSIDADE DE ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO, sob diferentes PERSPECTIVAS DE TEMPO. Considerando a valorização ocorrendo em um espaço i genérico, a ferramenta mestre da abordagem, que se constitui em uma espécie de “DNA” de um SSAH, é a MATRIZ DE VALORIZAÇÃO TEMPORAL DE SSAH NO ESPAÇO i, mostrada na Figura 2.3. Como pode ser notado pelos próprios títulos e subtítulos de linhas e colunas, o trabalho de Bicudo (2000) foi tomado como referência principal para a concepção dessa matriz. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 7 PRÓXIMO DISTANTE AQUI E S P A Ç O i O R D E M D O S C O E X I S T E N T E S ORDEM DOS SUCESSIVOS TEMPO AGORAANTES DEPOIS MATRIZ DE VALORIZAÇÃO TEMPORAL DE COLETIVO HUMANO NO ESPAÇO i PERCEPÇÃO DE VALOR DE POSICIONAMENTOS INTERNOS E EXTERNOS NO ESPAÇO i LOCAÇÃO ESPACIAL INFLUÊNCIAS CONFLUÊNCIAS LOCALIZAÇÃO EM REDES DE VALOR DO ESPAÇO i SEQUÊNCIA TEMPORAL PASSADO HISTÓRICO FUTURO DESEJADO PRESENTE PARADIGMAS CONSIDERADOS FIGURA 2.3 – 2.4 – TRANSIÇÃO ESPACIAL O entendimento do que seja “Aqui”, “Próximo” e “Distante” nos títulos das linhas da matriz, que correspondem à Ordem dos Coexistentes em qualquer Espaço i, exige a conceituação de ESCOPO, CONTEXTOS e AMBIENTES. Essa conceituação, por seu lado, toma como referência uma das primeiras categorizações aplicadas a sistemas por Guarajedagui (2006), que segmenta as variáveis associadas aos elementos de qualquer sistema, incluídos os SSAHs, em dois grandes grupos: as variáveis que podem e as que não podem ser controladas pelo sistema como decorrência de suas ações. Ainda de acordo com Guarajedagui (2006), CONTROLAR significa que as ações do sistema são NECESSÁRIAS E SUFICIENTES para produzir saídas desejadas em conjuntos interativos de variáveis. Dentro desse enfoque, SISTEMA engloba todos os conjuntos interativos de variáveis que podem ser por ele controlados, enquanto que no AMBIENTE estão todos os demais conjuntos interativos de variáveis que, apesar de poderem afetar o comportamento do sistema, não são por ele controlados. A BORDA, que estabelece os limites do sistema em termos do que está dentro e do que está fora do sistema, é tratada como algo subjetivamente definido pelos interesses e habilidades dos integrantes do sistema. Vindo de fora para dentro, Guarajedagui (2006) considera a existência de variáveis pertencentes a macrossistemas do ambiente que, apesar de não poderem ser controladas, podem influenciar o sistema ou serem influenciados pelo sistema. Utilizando o conceito de controlar acima descrito, INFLUENCIAR significa não ter controle, no sentido de que a ação, apesar de necessária, não é suficiente para uma saída desejada, sendo apenas uma CO-PRODUTORA. Ou seja, parte das variáveis não controláveis passa à categoria de influenciáveis, caracterizando um novo recorte, aquele dos macrossistemas com interesses, no qual estão incluídos os stakeholders. Continuando no movimento de fora para dentro, à medida que se aproxima das bordas do sistema, as características da proximidade fazem com que parte das variáveis influentes passem a confluentes. CONFLUENCIAR, aqui tomado como verbo mais ativo em termos de participação do que influenciar, significa que a ação, apesar de não suficiente para saídas desejadas, é uma CO-PRODUTORA PRÓXIMA que carrega condições de alavancagem em relação ao seu grau original de suficiência nas proximidades do sistema, desde que sejam consideradas interseções com ações de integrantes de outros sistemas com possibilidades de agir nas mesmas proximidades. No limite, a interseção das ações co-produtoras pode resultar em grau de suficiência que transforme ações confluentes em ações sob controle conjunto e não apenas individual do sistema em questão, englobando condições necessárias e suficientes para saídas desejadas do conjunto de sistemas envolvidos. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 8 Tomando os conceitos acima como referência, é possível delimitar quatro seções para a caracterização de ações em sistemas: o ESCOPO, dois CONTEXTOS e o AMBIENTE: � Escopo: ações sob controle do sistema, no sentido de serem necessárias e suficientes para saídas desejadas; � Contextos: co-produção � Confluência: ações de co-produção, necessárias e, alavancadas pela proximidade, cada vez mais suficientes para saídas desejadas. No limite, a interseção das ações co-produtoras confluentes pode resultar em ações sob controle conjunto, englobando condições necessárias e suficientes para saídas desejadas de todos ou de parte dos sistemas co-produtores envolvidos. � Influência: ações de co-produção, necessárias e não suficientes para saídas desejadas, que não são alavancadas pela proximidade; � Ambientes: ações sem controle do SSAH quanto a saídas desejadas. A transição espacial, presente na última coluna da matriz, associa “confluências” a “próximo”, “localização corrente” a “aqui” e “influências” a “distante”. O “ambiente”, não explicitado na matriz, está associado aos “limites do distante” em termos de interesses. 2.5 – TRANSIÇÃO TEMPORAL À semelhança da abordagem acima para a dimensão ESPAÇO, o entendimento do “Antes”, “Agora” e “Depois” nos títulos das colunas da matriz correspondentes à Ordem dos Sucessivos no Espaço i exige a conceituação de HORIZONTES DE MODELAGEM, que engloba generalizações da dimensão TEMPO quanto a prazos, complexidade e orientação. No HORIZONTE DE MODELAGEM DE PROJEÇÃO, o futuro é tratado como uma continuidade do passado, com base em plataformas inteligentes, que se caracterizam por possuir (i) dados integrados com qualidade e armazenados de modo inteligente; (ii) um arsenal de modelos analíticos; e (iii) um conjunto de ferramentas de inteligência. Projeções são elaboradas por composição (orientação bottom-up) a partir de evidências do passado, tendo sua grande aplicação no tratamento de situações de curto prazo envolvendo principalmente causa-efeito. Ainda que baseadas em plataformas inteligentes, projeções geralmente começam a ficar difusas à medida que os prazos ficam mais longos, as situações mais complexas em termos de causa-efeito e as composições de dados envolvem maiores níveis de abstração em relação às bases originais. Ou seja, o todo resultante das composições têm cada vez menos a ver com as partes originais consideradas. A REAÇÃO constitui a atitude essencial quanto à modelagem por projeção, que toma como ponto de partida o conhecimento sobre a realidade já acontecida. No HORIZONTE DE MODELAGEM DE VISÃO, tenta-se vislumbrar o futuro próximo a partir de visões futuras mais distantes. A visão complexa do futuro de longo prazo é tomada como referência compacta a ser decomposta (orientação top-down) para o que se espera acontecer no futuro mais próximo. A construção de visões de fronteiras do conhecimento, a serem tomadas como referências, são fundamentalmente consolidações do conhecimento especializado. Visões geralmente começam a ficar difusas à medida que os prazos tornam-se mais curtos, as situações mais simples e as decomposições mais abstratas com relação aos modelos sintéticos originais. Ou seja, as partes resultantes das decomposições têm cada vez menos a ver com o todo original considerado. A atitude essencial quanto à modelagem por visão é a IMAGINAÇÃO, partindo-se do conhecimento sobre a realidade ainda não acontecida. NoHORIZONTE DE MODELAGEM DE PROSPECÇÃO, combina-se projeção e visão, com (i) a COMPOSIÇÃO de todos obtidos em diferentes futuros pela montagem das partes a partir de bases analíticas atuais de dados; e (ii) a DECOMPOSIÇÃO de todos em partes obtidas em diferentes futuros mais próximos pela desmontagem desses todos em futuros mais distantes. Esse horizonte, que se constitui na ponte entre os outros dois, tem seu foco na sobreposição e fusão dos resultados das abordagens bottom-up e top- VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 9 down dos horizontes de modelagem de projeção e de visão. Cenários são elaborados no horizonte de modelagem de prospecção. A ADAPTAÇÃO é a atitude essencial quanto à modelagem por prospecção. 2.6 – INDICADORES DE DESEMPENHO O Sistema de Múltiplos Níveis de Aprendizagem desenvolvido por Wasdell (1993), considera SSAHs como sistemas abertos com propósito. O Nível Zero de um SSAH quanto à aprendizagem corresponde ao sistema sem ciclo de realimentação. Nesse nível, apesar de mudanças no ambiente, o SSAH não tem como se adaptar, não havendo alterações no comportamento e desempenho do sistema. Ao galgar o Nível 1, o sistema incorpora o Ciclo 1 de Aprendizagem, com possibilidade de adaptação do comportamento em função da realimentação recebida sobre os resultados obtidos. Esse progresso do SSAH, denominada Evolução 0/1, engloba desde meros ajustes até a transição completa para um novo comportamento do sistema. A Figura 2.4 mostra graficamente a Evolução 0/1. RESULTADOS ADEQUADOS AO COMPORTAMENTO? EVOLUÇÃO 0/1 TRANSIÇÃO COMPORTAMENTO (REAÇÃO/RESPOSTA/AÇÃO) CONSEQUÊNCIAS (RESULTADOS) CICLO 0 (SEM APRENDIZAGEM) CICLO 1 (SIMPLES) 0/1 TRANSIÇÃO AJUSTES SIM NÃO AJUSTES EVENTO(S) ANTECEDENTE(S) (SISTEMA OU SEU AMBIENTE) FIGURA 2.4 – EVOLUÇÃO 0/1 A despeito da evolução do sistema em si, o correspondente sistema de aprendizagem está no Nível Zero. Ou seja, o sistema de aprendizagem do Ciclo 1 do SSAH não conta com nenhum ciclo de realimentação. Assim, apesar das mudanças no ambiente de aprendizagem, o sistema de aprendizagem nesse Nível Zero não tem como se adaptar, não havendo alterações no comportamento e desempenho em aprendizagem/aprendizado. Subindo agora ao Nível 2 do SSAH, há a incorporação do Ciclo 2 de aprendizagem, com possibilidade de alterações no comportamento do SSAH, em função da realimentação recebida não só sobre os resultados obtidos via Ciclo 1 do sistema de aprendizagem, mas também sobre os resultados do próprio Ciclo 1. Esse progresso do SSAH, denominada Evolução 1/2, que tem a Evolução 0/1 nela imersa, engloba desde meros ajustes até a transição para um novo comportamento do sistema, agora também em termos de aprendizagem. Continuando nessa incorporação de ciclos de aprendizagem, o progresso do SSAH do Nível n-1 para o Nível n, denominada Evolução (n-1)/n, que tem o conjunto {Evolução 0/1, Evolução 1/2, Evolução 2/3, ..., Evolução (n-2)/(n-1)} nela imersa, engloba desde meros ajustes até a transição completa para um novo comportamento do sistema em termos de aprendizagem. Segundo Wasdell (1993), como teoricamente essa incorporação pode continuar indefinidamente, não há limites para o SSAH em aprendizagem. No âmbito este trabalho, dada a relevância das características únicas dos quatro primeiros ciclos de aprendizagem, esse conjunto de ciclos ganha um destaque especial. Ao tratar aprendizagem organizacional, Garavan (1997) considera os tipos adaptativo e regenerativo definidos por Argyris (1987). O adaptativo ou de Ciclo Simples de aprendizagem (single-loop), em que o comportamento deve obedecer premissas de aprendizagem organizacional, sem questionar valores da teoria de ação, usualmente ocorre de forma sequencial, incremental e focado em tópicos e oportunidades no âmbito das atividades tradicionais da organização. O regenerativo ou de Ciclo Duplo VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 10 (double-loop) ocorre quando a organização passa a questionar valores da teoria de ação, estratégias e premissas às quais o comportamento está submetido. O conceito de Ciclo Triplo (triple-loop) abordado em Rome and Wittloostuijn (1999) remete ao questionamento da perspectiva da contextualização à qual as premissas devem ter aderência. A continuação desse movimento de expansão dá origem ao Ciclo Quádruplo (quadruple-loop) em que se questiona o referencial de modelagem sobre o qual o comportamento, as premissas e os contextos estão baseados. A sequência lógica correspondente aos quatro primeiros ciclos é então Referenciais�Contextos�Premissas�Comportamento�Resultados. Conforme mostra a Figura 2.5, esses quatro ciclos podem ser associados a quatro Indicadores de Excelência: (i) Eficiência (“Fazer certo”) � Ciclo Simples; (ii) Eficácia (“Fazer o certo”) � Ciclo Duplo; (iii) Efetividade (“Fazer certo o certo”) � Ciclo Triplo; (iv) Evidência (“Ter referencial certo para fazer certo o certo”) � Ciclo Quádruplo. Por se constituir na última fronteira com denominação própria, o Ciclo Quádruplo, no qual se questiona os Referenciais 1 e 2, passa a ser a denominação genérica dos ciclos de realimentação a partir do quarto: Ciclo 5�Quádruplo1 (questionamento dos Referenciais 1, 2 e 3), Ciclo 6�Quádruplo2 (questionamento dos Referenciais1, 2, 3 e 4), e assim por diante. Sistema com propósito (purposeful) já foi definido acima, enquanto que Sistema com busca de ideais (ideal-seeking), que tem inerente o conceito de perfeição ou de mais desejável, é um sistema com propósito que, ao atingir qualquer de suas metas ou alcançar qualquer de seus objetivos, busca outra meta ou outro objetivo que mais se aproxima de seus ideais (Ackoff, 1974). Evidência, Eficiência, Eficácia e Efetividade, todos iniciados pela letra “E” de Excelência, são possíveis títulos de conjuntos de indicadores. Esses conjuntos de indicadores delimitam o futuro desejado para o coletivo humano, em termos de fins almejados e meios utilizados, sob diferentes perspectivas de tempo em cada um dos horizontes de modelagem: � Programas são meios para atingir metas dentro de um horizonte de tempo; � Estratégias buscam alcançar objetivos além do horizonte de tempo; � Diretrizes caminham em direção à concretização de ideais, que são fins não alcançáveis, mas que podem ser aproximados sem limite. FAZEND O C ERTO? EV OLUÇà O 0/1 M U DANÇ AS COM PORTA MEN TO (REAÇÃO /RESP OSTA/AÇÃO) CO NSE QU Ê NC IAS (RESU LTADO S) CIC LO 0 ( SEM AP REN DIZA DO ) CIC LO 1 (SIM P LE S) 0/1 MUDANÇ AS AJU ST ES SIM N ÃO AJU STES EVEN TO(S) AN TECEDENTE( S) (S IS TE MA OU SE U AM BIEN TE ) FAZENDO O CERTO? EVOLUÇÃO 1/2 SIM NÃO AJUSTES PREMISSAS MUDANÇAS CICLO 2 (DUPLO) 0/1 MUDANÇAS AJUSTES 1/2 SIM NÃOAJUSTES FAZENDO CERTO O CERTO? EVOLUÇÃO 2/3 CONTEXTOS MUDANÇAS CICLO 3 (TRIPLO) 0/1 MUDANÇAS AJUSTES 1/2 2/3 REFERENCIAL 1 CERTO PARA FAZER CERTO O CERTO? EVOLUÇÃO 3/4 SIM NÃO AJUSTES TRANSIÇÃO CICLO 4 (QUÁDRUPLO) 0/1 TRANSIÇÃO AJUSTES 1/2 2/3 3/4 REFERENCIAL 1 REFERENCIAL 2 CICLO 1 ����EFICIÊNCIA CICLO 2 ����EFICÁCIA CICLO 3 ����EFETIVIDADE CICLO 4 ����EVIDÊNCIA 1 FIGURA 2.5 – ASSOCIAÇÃO DE NÍVEIS DE APRENDIZAGEM COM EXCELÊNCIA VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 11 Com relação à Figura 2.5 cabem as seguintes perguntas genéricas referentes aos indicadores de excelência, com imersão crescente: 1. Comportamento está tendo Resultados alinhados às Premissas? (�Eficiência) 2. Premissas associadas aos Contextos são válidas (�Eficácia) para 2.1. Fazer Certo? (�Eficiência) 3. Contextos decorrentes do Referencial 1 são adequados (�Efetividade) para 3.1. Fazer O Certo?(�Eficácia) 3.2. Fazer Certo? (�Eficiência) 4. Referencial 1 está no estado da arte (�Evidência) para 4.1. Fazer Certo O Certo? (�Efetividade) 4.2. Fazer O Certo? (�Eficácia) 4.3. Fazer Certo? (�Eficiência) 3 – TRAJETÓRIAS DE EXCELÊNCIA NA VALORIZAÇÃO EM SSAHs Os posicionamentos tempo-espaço devem buscar TRAJETÓRIAS DE EXCELÊNCIA, em relação a FINS e MEIOS e INDICADORES DE DESEMPENHO. A transição temporal, presente na última linha da MATRIZ DE VALORIZAÇÃO TEMPORAL DE SSAH NO ESPAÇO i da Figura 2.3, associa “passado histórico” a “antes”, “percepção do presente via paradigmas considerados” a “agora” e “futuro desejado” a “depois”. A Figura 3.1 sintetiza graficamente a valorização de SSAHs, em termos de horizontes de modelagem, diversidade de espaços e trajetórias de excelência. EXCELÊNCIA (“Es”) � EVIDÊNCIA � EFICÁCIA � EFICIÊNCIA � EFETIVIDADE FINS E MEIOS � IDEAIS/DIRETRIZES � OBJETIVOS/ESTRATÉGIAS �METAS/PROGRAMAS TRAJETÓRIAS POSICIONAMENTOS INTERNOS E EXTERNOS CORRENTES EM DIVERSOS ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO SITUAÇÃO CORRENTE IMPLEMENTAÇÕES PASSADAS POSICIONAMENTOS INTERNOS E EXTERNOS HISTÓRICOS EM DIVERSOS ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO SSAH SSAH POSICIONAMENTOS INTERNOS E EXTERNOS DESEJADOS EM DIVERSOS ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO IMPLEMENTAÇÕES FUTURAS SSAH PROJEÇÃO (DENTRO PARA FORA) ����PLATAFORMAS INTELIGENTES HORIZONTES DE MODELAGEM VISÃO (FORA PARA DENTRO) CONHECIMENTO ESPECIALIZADO ���� PROSPECÇÃO ���� SOBREPOSIÇÕES E FUSÕES ���� FIGURA 3.1 – DIAGRAMA SINTÉTICO DA VALORIZAÇÃO EM SSAHs É interessante notar que, apesar de o tempo ser uma dimensão absoluta comum a todos os estados, pode haver distinção quanto à consideração de durações de períodos em diferentes espaços de valorização. Assim, as hipóteses de durações para programas, estratégias e diretrizes associadas às valorizações nos diferentes espaços torna-se um grande desafio de integração e coordenação. 3.1 – INTERAÇÃO HUMANA E CONVIVÊNCIA Dentro do enfoque de que o propósito maior de qualquer SSAH é a sua VALORIZAÇÃO, SSAHs consomem insumos (entradas) disponíveis na sociedade e tornam possível o consumo, pela sociedade, dos produtos (saídas) por eles produzidos. O espaço maior de convivência, que se constitui na base sobre a qual as configurações de SSAHs serão consolidadas quanto à valorização, pressupõe a existência de um modelo de sociedade que permita caracterizar diferentes tipos de valor e os respectivos planos nos quais os portadores desses valores VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 12 serão objeto das interações humanas. A abordagem apresentada a seguir é uma adaptação do trabalho de Hélio Jaguaribe em seu livro “Sociedade, Mudança e Política” (Jaguaribe, 1975). Tomando como base o modelo de Talcott Parsons para localizar a sociedade em um quadro geral da realidade (“The Social System-1951” (Talcot Parsons, 1951) e “Societies: Evolutionary and Comparative Perspectives-1966” (Talcot Parsons, 1966), Jaguaribe aborda o Sistema Social, definido como: “Um sistema de interação humana ... que constituirá sempre em (a) uma pluralidade de atores; (b) interagindo para realizar objetivos; (c) por certos meios; e (d) em certas condições.” Com relação às funções inerentes ao processo societal, Jaguaribe considera a interação humana ocorrendo em quatro planos estruturais da sociedade, associados aos principais conjuntos de funções do processo de interação humana: participacional; cultural; econômico; e político. Nessa abordagem, cada um desses planos constitui-se no lugar analítico de produção e apropriação de “algo que tenha valor” na satisfação de necessidades societais. Assim, no Plano Participacional acontece a interação pessoal, via atores, papéis e status, enquanto que no Plano Cultural há a interação simbólica, por crenças (factuais, de valores e normativas) e símbolos expressionais. No Plano Econômico, a interação ocorre por meio de bens e serviços e, no Plano Político acontece via comandos sancionáveis. A interação social global é resultado da síntese das interações levadas a efeito em cada um desses quatro planos. Para “algo que tenha valor”, Jaguaribe utiliza o termo genérico “valuável”, para denotar o que está sendo produzido e apropriado em qualquer dos quatro planos. Como decorrência do processo de aquisição de valuáveis de determinado plano, Jaguaribe, em uma colocação deveras interessante, introduz o conceito de influência, como indicativo de posse de qualquer meio primário intercambiável. Influência é então o meio secundário decorrente da posse de meios primários associados, respectivamente, aos planos Participacional, Cultural, Econômico e Político: Prestígio, Cultura, Dinheiro e Poder. São definidos ainda os seguintes Regimes de estratificação para cada um dos quatro planos: (i) Participacional�Participação; (ii) Cultural�Valores; (iii) Econômico�Propriedade; e (iv) Político�Poder. Cada um dos planos apresenta uma certa ordem social com diferenciação entre as camadas superior, média e inferior. Essas três camadas são aqui adaptadas e renomeadas para definidores da oferta de valuáveis, executores da oferta de valuáveis e consumidores dos valuáveis em oferta. Essa hierarquia definidor- executor-consumidor é equivalente àquela de Jaguaribe para as camadas superior-média-inferior nos planos cultural (formuladores e intérpretes de símbolos-divulgadores de símbolos-consumidores de símbolos) e político (tomadores de decisão-executores da decisão-governados). No plano participacional, é necessário supor que o status de cada pessoa confunde-se com a própria pessoa. Ou seja, uma pessoa é definidora de status na medida em que seu status é um padrão superior de referência. Aqueles que procuram garantir a observância de padrões superiores de referência são os executores, enquanto que os que aceitam esses padrões constituem-se nos consumidores de status. Já no plano econômico, os controladores dos meios de produção são os definidores, enquanto que são considerados executores tanto os gerentes e técnicos (camada média de Jaguaribe) quanto os trabalhadores (camada inferior de Jaguaribe), já que ambas as camadas dizem respeito a empregados ou prepostos. Foram introduzidos, no nível de consumidores, os clientes e outros stakeholders nos mercados de provisão, não explicitados por Jaguaribe. No nível hierárquico Operacional, no qual as interações realmente acontecem, Jaguaribe define, de acordo com esses regimes, um tipo de organização para cada um dos respectivos planos: (i) Famílias no Participacional; (ii) Entidades culturais no Cultural; (iii) Empresas no Econômico; e (iv) Estado no Político. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 13 Para efeitos de quantificação do valor criado pelo respectivo valuável no âmbito de qualquer organização dentro do processo social, todas as demais organizações são tratatas como unidades de demanda do valuável em questão. Na implementação do modelo teórico, é necessário ter o completo entendimento do papel de cada tipo de organização em todos os níveis das interações humanas. Por exemplo, na “economia informal”, pode existir a criação e apropriação de valor, via bens e serviços, pelas famílias, que são organizações do plano participacional. Do mesmo modo, o estado, que cria e apropria comandos sancionáveis, é o responsável maior por serviços de segurança pública, educação e saúde, bem como pela infraestrutura básica do país. Por meio de uma matriz quatro por quatro, na qual as quatro linhas correspondem aos tipos de organização e as quatro colunas aos planos de interação social, consegue-se mostrar dezesseis possíveis combinações “de-para” envolvendo todos os tipos de organização e todos os planos societais. A evolução dos coletivos humanos tem acompanhado aevolução da natureza da convivência dos seres humanos na terra. Os primeiros coletivos humanos foram as famílias, cujas interações se davam (e ainda se dão) basicamente em termos de parentescos, vizinhança e interesses que tratam da convivência pessoal, em territórios locais, valor associado a papéis e status pessoais e relações de conhecimento mútuo quanto a identidades e atos. Dada a natureza da convivência pessoal, as famílias cumpriram e continuam cumprindo o papel de operacionalizarem as diferentes interações humanas em grupos relativamente pequenos. O crescimento da população humana, que se traduziu em maior ocupação física da superfície terrestre, concentração em aglomerados humanos mais densos, e relacionamentos humanos cada vez mais intensos, redundou em territórios com fronteiras, grande intercâmbio de objetos de valor e relações institucionais formais. Essa complexidade estabeleceu a necessidade de um outro nível de convivência, agora em bases institucionais, exigindo a criação de organizações que operacionalizassem as interações humanas nos planos econômico, político e cultural, pelo intercâmbio de algo que tivesse valor, que Jaguaribe (1975) denota por “valuável” em cada um dos respectivos planos. A Figura 3.2 ilustra a dinâmica das interações via organizações. EMPRESAS BENS E SERVIÇOS �DINHEIRO ECONÔMICO ORGANIZAÇÕES REGIME DE PROPRIEDADE •CONTROLADORES DE MEIOS •EMPREGADOS •CLIENTES REGIME DE VALORES •FORMULADORES DE SÍMBOLOS •DIVULGADORES •SEGUIDORES, ADEPTOS REGIME DE PODER •TOMADORES DE DECISÃO •EXECUTORES •GOVERNADOS FIGURA 3.2 – CONVIVÊNCIA INSTITUCIONAL VIA ORGANIZAÇÕES A hipercomplexidade associada principalmente à globalização decorrente da crescente integração de sistemas de informação e redes de telecomunicações forçou o surgimento de um terceiro nível de convivência global em rede, para fazer frente a territórios sem fronteiras, valor no saber individualizado e relações institucionais virtuais, com o aparecimento de entidades sociais em rede, caracterizadas principalmente pela capacidade de adaptação e aprendizado. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 14 A sequência de citações de textos das páginas 264 e 265 em Castells (2000), sobre características dos processos produtivos informacionais e da nova divisão de trabalho que caracteriza o paradigma informacional emergente, constitui-se em um referencial básico para o entendimento dessas entidades sociais em rede. A transcrição de apenas uma dessas citações, sobre os processos produtivos informacionais, transmite a sua densidade: “A maior parte das atividades ocorre nas organizações. Uma vez que as duas características principais da forma organizacional predominante (a empresa em rede) são adaptabilidade e flexibilidade externa, as duas características mais importantes do processo serão: capacidade de gerar tomada de decisão estratégica flexível e capacidade de conseguir integração organizacional entre todos os elementos do processo produtivo.” A Figura 3.3 mostra as interações envolvendo as três dimensões de convivência: pessoal, institucional e em rede. EMPRESAS BENS SERVIÇOS EST ADO COMANDO S SANCI ONÁVEIS EN T I DA DE S CU L T UR AI S SÍM BO L O S CU LT UR ALPO LÍT ICO ECONÔM ICO ORGANIZAÇÕES EMPRESAS BENS SERVIÇOS EMPRESAS BENS SERVIÇOS EST ADO COMANDO S SANC I ONÁVEIS EST ADO COMANDO S SANC I ONÁVEIS EN T I DA DE S CU L T UR AI S SÍM BO L O S EN T I DA DE S CU L T UR AI S SÍM BO L O S CU LT UR ALPO LÍT ICO ECONÔM ICO ORGANIZAÇÕES CU LT UR ALPO LÍT ICO ECONÔM ICO ORGANIZAÇÕES PARENTESCOS CONVIVÊNCIA PESSOAL • TERRITÓRIOS����LOCAIS • VALOR����PAPÉIS E STATUS PESSOAIS • RELAÇÃO����CONHECIMENTO MÚTUO • IDENTIDADES • ATOS ����FAMÍLIAS FAMÍLIAS CONVIVÊNCIA INSTITUCIONAL • TERRITÓRIOS����COM FRONTEIRAS • VALOR����VALUÁVEIS INTERCAMBIÁVEIS • ECONÔMICO����BENS E SERVIÇOS • POLÍTICO����COMANDOS SANCIONÁVEIS • CULTURAL����SÍMBOLOS • RELAÇÃO����INSTITUIÇÕES ����ORGANIZAÇÕES CONVIVÊNCIA GLOBAL • TERRITÓRIOS����SEM FRONTEIRAS • VALOR����SABER INDIVIDUALIZADO • RELAÇÃO����INSTITUIÇÕES VIRTUAIS ����ENTIDADES SOCIAIS EM REDE ENTIDADES SOCIAIS EM REDE (ADAPTÁVEIS E FLEXÍVEIS) PRINCÍPIOS DE COHABITAÇÃO • COEXISTÊNCIA • COOPERAÇÃO • COEDUCAÇÃO ���� PG 132, BOARDMAN, JONH AND BRIAN SAUSER, SYSTEMS THINKING: COPING WITH 21st CENTURY PROBLEMS, CRC PRESS, 2008 FIGURA 3.3 – CONVIVÊNCIA PESSOAL, INSTITUCIONAL E EM REDE Na evolução conceitual de planos de interação humana para espaços de convivência, os SSAHs, daqui por diante denominados Coletivos Humanos Sustentáveis – CHS (Lévy, 2003), tornam-se o foco deste trabalho. Os espaços de convivência pessoal, institucional e em rede, este último aderente aos conceitos de Castells (2000), passam então a constituir os referenciais para a consolidação de configurações de coletivos humanos que levem em conta uma diversidade analítica de espaços de valorização. 3.2 – DIVERSIDADE DE ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO Apesar de não haver um número pré-definido para a DIVERSIDADE ANALÍTICA, oito espaços de valorização, separados em dois graus de diversidade, estão sendo explicitamente tratados neste trabalho: (i) grau de diversidade de fundação�encadeamento, contabilização, interesses e dinâmica; e (ii) grau de diversidade de procura�coesão, aprendizado, qualidade e governança. A abordagem utilizada permite ainda a consideração de outros espaços específicos que porventura venham a ter relevância para um ou mais CHSs em particular. 3.2.1 – GRAU DE DIVERSIDADE DE FUNDAÇÃO A caracterização da valorização é iniciada levando em conta a orientação estruturante inerente aos espaços de encadeamento, contabilização, interesses e dinâmica, presentes no GRAU DE DIVERSIDADE DE FUNDAÇÃO de espaços de valorização de qualquer CHS. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 15 No ESPAÇO DE ENCADEAMENTO a valorização decorre do estabelecimento dos locais e condições para os diferentes tipos de valores sejam criados e transacionados entre CHSs, seja na obtenção de entradas, como na geração interna via consolidação de entradas com disponibilidades internas, quanto na provisão de saídas. Assim, as possibilidades de ganho concentram-se na OBTENÇÃO, CONSOLIDAÇÃO INTERNA e PROVISÃO, que se constituem nos elos de cadeias de redes de valor. No elo de OBTENÇÃO ocorre a percepção e delimitação de provedores e outros stakeholders em mercados de obtenção, bem como a internalização de objetos de valor e adição de valor nesses objetos de valor. No elo de CONSOLIDAÇÃO INTERNA há a conjugação de internalizações com as disponibilidades internas e a adição interna de valor e a alocação do valor total adicionado. No elo de PROVISÃO acontece a externalização de objetos de valor e adição de valor nesses objetos de valor, bem como a percepção e delimitação de clientes e outros stakeholders em mercados de provisão. A Figura 3.4 ilustra graficamente o conceito. AMBIENTES PROXIMIDADES SISTEMA SUSTENTÁVEL DE ATIVIDADES HUMANAS ENTRADAS SAÍDAS B O R D A S B O R D A S RESULTADO TOTAL CONFORMAÇÃO INTERNA MACROSSISTEMAS DE INTERESSE VALORIZAÇÃO NA OBTENÇÃO VALORIZAÇÃO NA PROVISÃO VALORIZAÇÃO TOTAL VALORIZAÇÃO NA CONSOLIDAÇÃO FIGURA 3.4 – ESPAÇO DE VALORIZAÇÃO DE ENCADEAMENTO No ESPAÇO DE CONTABILIZAÇÃO, que valoriza o SSAH por MÉTRICAS de adequado tratamento analítico, as diferentes formas de OBJETOS DE VALOR, segmentadas em ATIVOS TRADICIONAIS e CAPITAL INTELECTUAL, são cotejadas com o reconhecimento dos objetos de valor, quanto à tangibilidade, em REALIZAÇÕES ou POTENCIALIDADES.No que se refere ao plano econômico, Ballow, Burgman & Burgoz (2004) propõem uma matriz de objetos de valor, na qual cinco formas de Objetos de Valor, agrupadas em Ativos Tradicionais (MONETÁRIOS e FÍSICOS) e Capital Intelectual (HUMANO, ORGANIZACIONAL e RELACIONAL), são cotejadas com o reconhecimento contábil dos Objetos de Valor em função da concretização como REALIZAÇÕES (mais tangíveis) ou POTENCIALIDADES (mais intangíveis). Nas POTENCIALIDADES, as oportunidades emergem do estabelecimento de negócios com chances reais de valorização da empresa, da correta caracterização de fatores com maiores possibilidades de se tornarem os insumos requeridos pela empresa e da manutenção dos melhores mercados atuais e da criação de promissores novos mercados. Quanto às REALIZAÇÕES, as oportunidades estão na oferta direta de produtos (composto bens e serviços) a clientes em mercados primários, no fornecimento direto de insumos a clientes de mercados secundários ou no atendimento a clientes de mercados primários ou secundários com compartilhamento de riscos com terceiros. A Figura 3.5 mostra os objetos de valor em termos das dimensões de Forma e Tangibilidade. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 16 R E A L I Z A Ç Õ E S P O T E N C I A L I D A D E S T A N G I B I L I D A D E ATIVOS TRADICIONAIS MANUFATURADOSFINANCEIROS ORGANIZACIONALHUMANO RELACIONAL FORMA CAPITAL INTELECTUAL OBJETOS DE VALOR RF RM RH RO RR PF PM PH PO PR FIGURA 3.5 – MATRIZ DE OBJETOS DE VALOR O ESPAÇO DE INTERESSES valoriza o CHS ao dar tratamento equânime aos diferentes indivíduos ou grupos sociais que afetam ou podem ser afetados pela valorização, os stakeholders, levando em conta principalmente o poder, a urgência e a legitimidade de cada um. A Figura 3.6 (Mitchell, 1995) mostra uma tipologia de oito tipos de stakeholders, todos iniciados pela letra D, com base em três dimensões: Poder, Legitimidade e Urgência: 1. Dormente: Detentor de poder; 2. Demandante: Conduzido pela urgência; 3. Discricionário: Vestido pela legitimidade; 4. Destrutivo (dangerous): Dormente e Demandante; 5. Dominante: Dormente e Discricionário; 6. Dependente: Demandante e Discricionário; 7. Definitivo: Dormente, Demandante e Discrionário; 8. Desinteressado: Sem poder, urgência e legitimidade. FIGURA 3.6 – TIPOLOGIA DE STAKEHOLDERS No espaço de DINÂMICA a valorização resulta da integração de funções, estrutura e processo, com foco em movimentações de objetos de valor. Com atenção especial no plano econômico, Burgman&Ross (2004) argumentam VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 17 “... que o foco da gestão para criar valor para o acionista é na transformação dos ativos (objetos de valor) à sua disposição, não apenas na posse desses ativos. ...” Para facilitar a visualização das transformações “De/Para” entre diferentes formas de Objetos de Valor e as valorizações decorrentes dessas transformações, os autores sugerem a utilização de uma matriz, na qual cada posição (x, y) corresponde à situação original x (“De”) e situação final y (“Para”) de cada transformação entre os respectivos pares de Objetos de Valor. A Tabela 3.1 – Transformação de Objetos de Valor é uma adaptação daquela apresentada em [BUR04], no que concerne à consideração explícita da dimensão “Tangibilidade”, presente na Matriz de Objetos de Valor, que classifica os Objetos em Tangíveis ou Intangíveis. REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES REALIZAÇÕES POTENCIALIDADES ORGANIZACIONAL HUMANO CAPITAL INTELECTUAL MONETÁRIO FÍSICO MATRIZ DE TRANSFORMAÇÃO DE OBJETOS DE VALOR SITUAÇÃO INICIAL ("DE") HUMANO PRIMARIAMENTE IMPACTA VALOR CORRENTE SITUAÇÃO FINAL ("PARA") PRIMARIAMENTE IMPACTA VALOR FUTURO ATIVOS TRADICIONAIS RELACIONAL ATIVOS TRADICIONAIS CAPITAL INTELECTUAL MONETÁRIO FÍSICO RELACIONAL ORGANIZACIONAL TABELA 3.1 – TRANSFORMAÇÃO DE OBJETOS DE VALOR 3.2.2 – CONSTITUIÇÃO DE COLETIVOS HUMANOS Conforme mostra a Figura 3.7, fazendo-se uma associação direta com os quatro espaços do grau de diversidade de fundação – encadeamento, contabilização, interesses e dinâmica – a ESTRUTURA de constituição de um CHS pode ser descrita em termos de: a) considerar stakeholders internos (QUEM); b) segmentar objetos de valor de modo a facilitar o reconhecimento e a quantificação (O QUE); c) ter espaços para relacionamentos internos e externos (ONDE); d) caracterizar a dinâmica das movimentações de objetos de valor (COMO). SISTEMA SUSTENTÁVEL DE ATIVIDADES HUMANAS = COLETIVO HUMANO SUSTENTÁVEL INTER-RELACIONADOS CONJUNTO DE ELEMENTOS ANÁLISE SÍNTESE COLETIVO HUMANO SUSTENTÁVEL SÍNTESE II INTERESSADOS INTERNOS (STAKEHOLDERS) IDENTIFICAR E CARACTERIZAR INTERESSADOS INTERNOS INTERESSES PODER LEGITIMIDADE URGÊNCIA QUEM? FINALIDADE FR FACES DE RELACIONAMENTO ESTABELECER RELACIONAMENTOS INTERNOS E EXTERNOS ENCADEAMENTO ONDE? OBTENÇÃO TRANSFORMAÇÃO PROVISÃO FINALIDADE MOVIMENTAÇÕES DE OBJETOS DE VALOR MO DISPONIBILIZAR PROCESSOS QUE CONSOLIDEM FUNÇÕES E ESTRUTURAS EM MOVIMENTAÇÕES DE OBJETOS DE VALOR COMO? FUNÇÃO ESTRUTURA PROCESSO DINÂMICA FINALIDADE OBJETOS DE VALOR OVs APLICAR MÉTRICAS DE VALORAÇÃO ENVOLVENDO FORMAS E TANGIBILIDADE CONTABILIZAÇÃO TANGIBILIDADE FORMAS O QUE? MÉTRICAS FINALIDADE FIGURA 3.7 – ESTRUTURA CONSTITUCIONAL OU CONSTITUIÇÃO ESTRUTURAL Quanto à ITERATIVIDADE, a constituição de um CHS contempla o Ciclo PDCA, também conhecido por Ciclo de Deming, em homenagem ao seu idealizador, William Edwards Deming. Associado à própria existência do CHS, cada uma das quatro letras corresponde a um verbo em inglês: P de Plan; D de Do; C de Check; e A de Act. Procurando manter as mesmas letras para a sigla em português, foi necessário escolher palavras ou combinações de palavras que melhor retratassem os significados originais em VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 18 inglês. Em lugar de tradução direta do inglês, um livro em francês possibilitou uma seleção mais adequada de textos. Assim, tomando como base André Chardonnet e Dominique Thibaudon em “Le Guide Du PDCA de Deming” (Chardonnet&Thibaudon, 2003), principalmente o item 1.2. Interprétation managériale des quatre phases de ce cycle do capítulo 2, foram escolhidas as seguintes palavras, com seus respectivos verbos em francês mostrados entre parênteses: P de Planejamento (“Planifier: Préparer l’action”); D de Desdobramento (“Déployer: Developper et réaliser l’action”); C de Compreensão (“Comprende: Vérifier et comprendre les résultats”) ; e A de Aprimoramento (“Améliorer: Réagir pour améliorer l’action future”). Utilizando essas quatro palavras, o caráter iterativo do Ciclo PDCA, ilustrado na Figura 3.8, pode ser descrito em termos das seguintes fases: 1. Planejamento: (i) decidir, no presente, o que fazer para que o futuro desejado aconteça; e (ii) o decidido resulta em planos. 2. Desdobramento: (i) caminhar em direção ao futuro desejado conforme planejado; e (ii) a implementação dos planos concretiza o futuro. 3. Compreensão: (i) coletar, comparar e controlar dados e informações sobre a consecução do futuro; e (ii) a caracterização de desvios e oportunidades explicita situações com possibilidades de ganhos ou perdas na consecução do futuro. 4. Aprimoramento: (i) consolidar possibilidades de ganhos ou perdas na consecução do futuro; e (ii) a consolidaçãode correções e ajustes no planejado, bem como de incorporação de situações ainda não contempladas antecipa progresso e possibilidades de valorização. PLANEJAMENTO DECISÃO SOBRE FUTURO DESEJADO DECIDIDO DESDOBRAMENTO CONSECUÇÃO DO FUTURO REALIZADO COMPREENSÃO COLETA, COMPARAÇÃO E CONTROLE APRIMORAMENTO CORREÇÕES, AJUSTES E APROVEITAMENTO DE OPORTUNIDADES CONSOLIDADOS DESVIOS E OPORTUNIDADES CARACTERIZADOS ANTECIPAÇÃO DO PROGRESSO FIGURA 3.8 – ITERATIVIDADE CONSTITUCIONAL OU CONSTITUIÇÃO ITERATIVA O capítulo 3 de Chardonnet&Thibaudon (2003), principalmente os itens 3.1. PDCA du rôle du manager dans la démarche d’amélioration e 3.2. L’efficace managériale en PDCA huit phases, consolida uma caracterização funcional interna para cada uma das fases do PDCA em termos de GESTÃO e IMPLEMENTAÇÃO, conforme a Figura 3.9. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 19 P DC A FIGURA 3.9 – CARACTERIZAÇÃO FUNCIONAL INTERNA AO PDCA A Figura 3.10, resultante da combinação das Figuras 3.7 e 3.9, mostra a constituição estrutural-iterativa de um CHS que, assim conceituado, compõe um quadro de referência muito mais amplo. ESCOPO MOVIMENTAÇÕES DE OBJETOS DE VALOR MOOBJETOS DE VALOR OVs COLETIVO HUMANO SUSTENTÁVEL II INTERESSADOS INTERNOS (STAKEHOLDERS) FR FACES DE RELACIONAMENTO P DC A FIGURA 3.10 – CONSTITUIÇÃO ESTRUTURAL-ITERATIVA DE UM CHS A Figura 3.11, que corresponde ao recorte sincrônico sintético de CHS nas várias seções de um espaço de valorização, mostra os ambientes natural e social, bem como os macrossistemas sociais com interesses delimitando suas macro-fronteiras. Além dos contextos específicos que, juntamente com as bordas e o escopo configuram a coesão do coletivo humano, as setas da parte central da Figura 3.11 explicitam os seguintes relacionamentos associados a seus quatro constituintes: • Relacionamentos Externos � Entradas de Objetos de Valor de Contextos de Entradas, compostos por Provedores e Outros Interessados Externos; � Saídas de Objetos de Valor para Contextos de Saídas, compostos por Clientes e Outros Interessados Externos. • Relacionamentos Internos � Os Objetos de Valor que entraram via Camada de Obtenção são combinados com as disponibilidades internas, visando à adição interna de valor e à alocação do valor total adicionado; � Os Stakeholders Internos interagem de acordo com os seus interesses para as movimentações de Objetos de Valor que resultarão em adição interna de valor e à alocação do valor total adicionado. Vale ressaltar que entre os Stakeholders Internos ocorrem interações nos três níveis de convivência: pessoal, institucional e em rede. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 20 � Os Objetos de Valor resultantes da valorização interna são encaminhados para a Camada de Provisão. AMBIENTE NATURAL AMBIENTE SOCIAL MACROSSISTEMAS SOCIAIS COM INTERESSES CONTEXTOS DE SAÍDAS: CLIENTES E OUTROS STAKEHOLDERS CONTEXTOS DE ENTRADAS: PROVEDORES E OUTROS STAKEHOLDERS ����INFLUÊNCIA ����SEM CONTROLE ESCOPO MOVIMENTAÇÕES DE OBJETOS DE VALOR MOOBJETOS DE VA LOR OVs COLETIVO H UMANO SUSTENTÁVEL II INTERESSADOS INTERNOS (STAKEHOLDERS) FR FACES DE RELACIONAMENTO P DC A PROXIMIDADES ����CONFLUÊNCIA ENTRADAS DE OVs SAÍDAS DE OVs ����CONTROLE FIGURA 3.11 – DINÂMICA DE VALORIZAÇÃO 3.2.3 – GRAU DE DIVERSIDADE DE PROCURA A inclusão de outros quatro espaços de valorização configura o GRAU DE DIVERSIDADE DE PROCURA de espaços de valorização do CHS, grau esse que se caracteriza pela abertura da possibilidade de busca e aquisição de valor por coesão, aprendizado, qualidade e governança. O ESPAÇO DE COESÃO valoriza o SAH ao tratar integradamente escopo, bordas e contextos, em termos de (i) sincronia ao longo dos espaços de valorização; (ii) diacronia no decorrer do tempo de diferentes horizontes; e (iii) progresso na busca de excelência. Os modelos de referência utilizados para estruturar o conteúdo de coesão incluem dois conceitos desenvolvidos por Werner Ulrich: (i) a “Triangulação Sistêmica”, que é um dos pilares da dinâmica da metodologia de heurísticas críticas de sistemas – Critical Systems Heuristics – CSH (Ulrich, 2005); e (ii) os “Degraus Filosóficos para a Definição, Desenho e Desenvolvimento” de sistemas de informação (Ulrich, 2001). Conforme a Figura 3.12, na Triangulação Sistêmica cada vértice do triângulo deve sempre ser visto à luz dos outros dois. Segundo a metodologia CSH, a definição de um problema, uma proposta de solução ou outros focos de aplicação prática, pressupõem a consideração de fatos da realidade e normas de valores dependentes da delimitação de fronteiras do sistema de referência e vice-versa. Por exemplo: • de que modo a alteração (expansão ou contração) de fronteiras do sistema de referência influi na determinação da relevância de fatos e valores; • qual o impacto da observação de novos fatos da realidade na delimitação de fronteiras e no estabelecimento de normas de valores; • como novas avaliações com as mesmas normas de valores alteram a delimitação de fronteiras e a relevância de fatos da realidade. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 21 FIGURA 3.12 – COESÃO POR TRIANGULAÇÃO SISTÊMICA Quanto a sistemas de informação, Ulrich (2001) considera três degraus filosóficos: informação, conhecimento e ação racional. No degrau de informação, a base é a Semiótica, que é a teoria dos sinais e símbolos. Os componentes desse degrau têm a ver com a clareza quanto à sintática (compreensão), semântica (significado) e pragmática (relevância). A questão básica colocada é: “Como saber se um sinal ou uma mensagem representa informação?” A base para o degrau de conhecimento é a Epistemologia, teoria do conhecimento. Esse degrau tem o foco na validade, em termos expressivos (veracidade), empíricos (verdade) e normativos (correição). A questão básica é a seguinte: “Como saber se uma informação representa conhecimento válido e relevante?” O degrau de ação racional, os passos filosóficos práticos dizem respeito quanto à racionalidade instrumental (com propósito), estratégica (viabilidade) e comunicativa (legitimidade). A questão básica a ser respondida é: “Como saber se o conhecimento no qual se está confiando conduzirá a ação racional?” O ESPAÇO DE APRENDIZADO considera que um coletivo humano tem possibilidade de aprender nos patamares de EXISTÊNCIA, VIVÊNCIA e INTELIGÊNCIA. Como externado pelas próprias denominações, esses patamares exibem uma hierarquia no sentido de que aprendizado por vivência pressupõe aprendizado por existência, enquanto que aprendizado por inteligência demanda, além de maior e melhor aprendizado por existência, também algum aprendizado por vivência. Reconhecendo a iteratividade e a interatividade inerentes ao aprendizado, a cada um desses patamares está associada uma ferramenta com atributos iterativos e interativos, que se constitui no fundamento principal para o aprendizado no respectivo patamar: � Existência: Ciclo PDCA (Deming); � Vivência: Ciclo de Vida; � Inteligência: Espiral do Conhecimento (Nonaka). Como decorrência do espírito hierárquico entre os patamares, a ferramenta de um patamar continua presente nos patamares superiores. Assim, o Ciclo PDCA é uma das bases para o Ciclo de Vida, sendo que ambos são bases para a Espiral do Conhecimento. No PATAMAR DE EXISTÊNCIA, a atenção está destinada ao entendimento das atividades quanto à sua funcionalidade. A caracterização funcional interna para cada uma das fases do PDCA em termos de GESTÃO e IMPLEMENTAÇÃO, conforme a Figura 3.9, será aqui utilizada para caracterizar atividades deacordo com o seguinte: VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 22 • PCA�Atividades de Gestão; • D�Atividades de Implementação. Na valorização envolvendo o conceito de PDCA, de acordo com a caracterização funcional Implementação (“D”) e Gestão (“PCA”), as atividades fazem parte de trabalhos predominantemente transformacionais, transacionais rotineiros ou transacionais complexos. Inicialmente as atividades são agrupadas em três blocos, que caracterizam três “focos” de valorização: Cadeias de Valor (“Produção), Redes de Valor (“Mediação”) e Oficinas de Valor (“Solução”). O cruzamento das três configurações puras de valorização (cadeias de produção, redes de mediação, oficinas de solução) com os três tipos de trabalho quanto à predominância (transformacional, transacional rotineiro, transacional complexo), dá origem a segmentos que abrigam as atividades quanto ao alinhamento com a predominância de cada segmento. No PATAMAR DE VIVÊNCIA, a atenção está destinada ao entendimento das atividades quanto à sua perenidade. Nesse enfoque, as atividades são agrupadas em blocos de operações ou projetos. Atividades de operações são perenes e repetitivas, sendo responsáveis pela continuidade e possibilidade de evolução vegetativa do SAAH. Por seu lado, atividades de projetos são temporárias e não repetitivas, resultando em degraus de evolução do CHS. Na valorização envolvendo o Ciclo de Vida do CHS, as atividades são distribuídas em quatro fases: concepção, implantação, operação e desativação. As fases de concepção e implantação englobam basicamente o desenvolvimento de algo ainda não existente, enquanto as fases de operação e desativação constituem a exploração de alguma coisa já existente. Um dos pontos principais da quarta edição do Guia PMBOK (PMI, 2008), publicado em 2008 pelo Project Management Institute – PMI diz respeito ao cruzamento dos cinco grupos de processos em atividades de projetos do PMBOK (início, planejamento, execução, monitoramento e controle, encerramento) com as nove áreas de conhecimento do PMBOK (integração, escopo, tempo, custo, qualidade, recursos humanos, riscos, comunicações, aquisição). No PATAMAR DE INTELIGÊNCIA, procura-se entender contribuição das atividades para a criação do conhecimento e transferência do conhecimento, agrupando-se as atividades em blocos ligados ao conhecimento tácito ou explícito. O modelo de análise realiza o mapeamento de espirais de criação e transferência de conhecimento em duas dimensões: natureza do conhecimento (tácito�explícito), no eixo horizontal, contra o patamar de conhecimento (existente�mais elevado), no eixo vertical. O conhecimento tácito atual, ponto de partida em determinada espiral de conhecimento, aumenta por socialização. Segue-se então a externalização desse conhecimento, que se consolida em conhecimento explícito. Esse conhecimento explícito então aumenta como decorrência da combinação com outros conhecimentos explícitos. Daí resulta a internalização de conhecimento, que resulta em novo conhecimento implícito, agora em nível mais elevado, levando ao estabelecimento de uma nova espiral do conhecimento em patamar mais elevado. A Figura 3.13, adaptada de Nonaka (1997), mostra graficamente o acima exposto. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 23 CONHECIMENTO TÁCITO ATUAL CONHECIMENTO TÁCITO(AMPLIADO) INTERNALIZAÇÃO SOCIALIZAÇÃO COMBINAÇÃO CONHECIMENTO EXPLÍCITO EXTERNALIZAÇÃO PATAMAR DE CONHECIMENTO NATUREZA DO CONHECIMENTO TÁCITO EXPLÍCITO EXISTENTE MAIS ELEVADO SOCIALIZAÇÃO CONHECIMENTO EXPLÍCITO(AMPLIADO) COMBINAÇÃO EXTERNALIZAÇÃO INTERNALIZAÇÃO E S P I R A L C R I A Ç Ã O C O N H E C I M E N T O FIGURA 3.13 – O ESPAÇO DE QUALIDADE apresenta um alto grau de paralelismo e de interação conceitual em relação ao Espaço de Aprendizado. Assim, em termos de estrutura, são considerados três níveis de qualidade: qualificação, diferenciação e perpetuação. Como no Espaço de Aprendizado, esses níveis exibem uma hierarquia no sentido de que qualidade por diferenciação pressupõe qualidade por qualificação, enquanto que qualidade por perpetuação demanda, além de maior e melhor qualidade por qualificação, muita qualidade por diferenciação. No NÍVEL DE QUALIFICAÇÃO, a atenção está destinada ao entendimento das atividades quanto à sua contribuição à PADRONIZAÇÃO e MELHORIA CONTÍNUA. Predominam as atividades de operações, perenes e repetitivas, que caracterizam a continuidade do CHS. Eventuais projetos destinam-se à melhoria da padronização e de processos de melhoria contínua. No NÍVEL DE DIFERENCIAÇÃO, a atenção está destinada ao entendimento das atividades quanto à sua contribuição à RENOVAÇÃO e à INOVAÇÃO. Nesse enfoque, as atividades são agrupadas em blocos de operações ou projetos. Predominam as atividades de projetos, temporárias e não repetitivas, que são responsáveis pelos degraus de evolução do CHS. Como o próprio nome indica, o foco de atenção da renovação é algo existente, enquanto que a inovação destina-se ao desenvolvimento de algo ainda não existente. No NÍVEL DE PERPETUAÇÃO, procura-se a contribuição das atividades para a DISTINÇÃO ou RUPTURA. Distinção significa tornar-se referência (benchmark) para outros, havendo a perpetuação por clonagem. Ruptura, como o próprio nome indica, significa romper com tudo o que existe em termos de ordem estabelecida, caracterizando uma perpetuação por mutação. O ESPAÇO DE GOVERNANÇA foca a valorização do CHS decorrente do seu alinhamento aos princípios básicos de transparência, equidade e responsabilização. De acordo com o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (IBG, 2003): “Governança Corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade.” 3.2.4 – GRAU DE DIVERSIDADE DE DESCOBERTA A consideração de espaços adicionais de valorização que tenham foco em particularidades únicas do coletivo humano traz à tona o GRAU DE DIVERSIDADE DE DESCOBERTA de espaços de valorização do CHS, que se caracteriza pela possibilidade formação de valor por meio de veios específicos. A Figura 3.14 ilustra (i) interação humana em quatro planos: participacional, econômico, político, cultural; (ii) VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 24 convivência em três espaços de convivência: pessoal, institucional, em rede; (iii) configuração do SAH em termos de valorização em até vinte espaços: quatro de origem no grau de diversidade de fundação (siglas OE, OC, OI, OD), inclusão de quatro de aquisição no grau de diversidade de procura (siglas AC, AA, AQ, AG) e incorporação de até mais doze veios específicos no grau de diversidade de descoberta (siglas VE1 a VE12). A justificativa para a adoção dessas siglas será dada quando da descrição da Matriz de Valorização Espacial, alguns parágrafos à frente. OE AC OC OI OD AA AQ AG A Q U I S I Ç Ã O O R I G E M DESCOBERTA PROCURA FUNDAÇÃO VEIOS ESPECÍFICOS V E I O S E S P E C Í F I C O S VE1 VE2 VE3 VE4 VE5 VE6 VE7 VE8 VE9 VE10 VE12 VE11 PARTICIPACIONAL CULTURAL ECONÔMICO POLÍTICO CONVIVÊNCIA PESSOAL, INSTITUCIONAL, EM REDE INTERAÇÃO HUMANA CONFIGURAÇÃO • FUNDAÇÃO����4 • PROCURA����+4 • DESCOBERTA����ATÉ + 12 FIGURA 3.14 – 4 – EVOLUÇÃO DE COLETIVOS HUMANOS A evolução de coletivos humanos por trajetórias de excelência em termos da valorizaçãoglobal ao longo dos diversos espaços de valorização pode ser conseguida pela consolidação das trajetórias específicas ao longo de cada um dos espaços de valorização. Em termos de sistemas consolidados, um SAH apresenta, a cada instante, um estado decorrente da consolidação das variáveis de estado específicas de cada um dos espaços de valorização. Nesse trabalho estão sendo considerados sete estados contíguos, numerados de 1 a 7, em escala crescente de evolução: (1) FUNCIONAMENTO: Iteração e Interação; (2) ESPECIALIZAÇÃO: Núcleos e Lógicas; (3) CRESCIMENTO: Vida de Objetos de Valor; (4) ABSTRAÇÃO: Criação e Transferência de Conhecimento; (5) CONVERGÊNCIA: Concretização de Inovações; (6) REFERÊNCIA: Percepção e Clonagem da Distinção por Outros; e (7) MUTAÇÃO: Ruptura da Ordem Estabelecida. A Figura 4.1 mostra a evolução entre estados contíguos, que define uma ordem “natural” de evolução. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 25 MUTAÇÃO ���� ESTADO CRESCIMENTO ���� ESTADO 3 ABSTRAÇÃO ���� ESTADO 4 CONVERGÊNCIA ���� ESTADO 5 REFERÊNCIA ���� ESTADO 6 ESPECIALIZAÇÃO ���� ESTADO 2 ���� ESTADO 1 FUNCIONAMENTO FIGURA 4.1 – Cada estado é descrito em termos da MATRIZ DE VALORIZAÇÃO ESPACIAL, que corresponde ao recorte sincrônico analítico desse estado nas seções do conjunto de espaços de valorização. As colunas da matriz têm como objeto os quatro constituintes do CHS (Camadas de Relacionamento, Objetos de Valor, Interessados Internos, Movimentações de Objetos de Valor). As linhas, por seu turno, correspondem às seções dos espaços de valorização: (i) Escopo (graus de diversidade de fundação, procura e descoberta); (ii) Contextos de Coprodução (entradas e saídas); e (iii) Ambientes (social e natural). Por terem sido a origem da definição dos constituintes do CHS, os quatro espaços do grau de diversidade de fundação têm a denominação genérica de “Original”, com a letra “O” precedendo a primeira letra do nome de cada espaço nas respectivas siglas de identificação. Essas siglas aparecem logo abaixo do título das quatro colunas da matriz: • Camadas de Relacionamento �OE: Espaço Original de Encadeamento; • Objetos de Valor �OC: Espaço Original de Contabilização; • Interessados Internos �OI: Espaço Original de Interesses; • Movimentações de OVs �OD: Espaço Original de Dinâmica. De modo similar, os quatro espaços incluídos para configurar o Grau de Diversidade de Procura – Coesão, Aprendizado, Qualidade e Governança – por guardarem a característica de “Aquisição”, passam a ter essa denominação genérica, com a letra “A” precedendo a primeira letra do nome de cada espaço nas respectivas siglas de identificação. Essas siglas aparecem nos subtítulos das linhas 2 a 5 da matriz: �AC: Espaço de Aquisição de Coesão; �AA: Espaço de Aquisição de Aprendizado; �AQ: Espaço de Aquisição de Qualidade; �AG: Espaço de Aquisição de Governança. No mesmo sentido, os espaços incluídos para configurar o Grau de Diversidade de Descoberta por serem associados a “Veios Específicos”, passam a ter essa denominação genérica, com as letras “VE” seguidas de um número sendo as respectivas siglas de identificação. Essas siglas aparecem na linha 6 da matriz. Mais do que simplesmente ter sido explicitado no título da primeira coluna da matriz, o conteúdo da primeira posição da primeira linha confunde-se com a própria descrição do constituinte “Camadas de Relacionamento” do SAH, pois contempla a descrição da valorização do constituinte “Camadas de Relacionamento” na seção “Escopo” de espaços de valorização de fundação, especificamente no Espaço Original de Encadeamento. O mesmo raciocínio aplica-se ao conteúdo das posições da primeira linha VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 26 correspondentes à segunda, terceira e quarta colunas, quanto à descrição dos constituintes “Objetos de Valor”, “Interesses Internos” e “Movimentações de OVs”, respectivamente. A partir da segunda linha da matriz, o conteúdo de cada uma das posições da primeira, segunda, terceira e quarta colunas diz respeito, respectivamente, à valorização de cada um dos quatro constituintes do SAH (Camadas de Relacionamento, Objetos de Valor, Interessados Internos, Movimentações de OVs) na seção do espaço de valorização correspondente à linha. A última coluna e a última linha da matriz correspondem, respectivamente, às consolidações das seções de espaços de valorização do e dos constituintes do coletivo humano. A Figura 4.2 mostra a Matriz de Valorização Espacial 1, preparada para o preenchimento dos dados do Estado 1. FACES DE RELACIONAMENTO OBJETOS DE VALOR INTERESSADOS INTERNOS MOVIMENTAÇÕES DE OVs OE OC OI OD AC AA AQ AG C O N FL U ÊN C IA IN FL U ÊN C IA C O N FL U ÊN C IA IN FL U Ê N C IA ITERAÇÃO E INTERAÇÃO E ST A D O 1 : F U N C IO N A M EN TO MATRIZ DE VALORIZAÇÃO ESPACIAL 1 ES C O P O P R O C U R A D ES C O B ER TA V Es SE Ç Õ E S D E E SP A Ç O S D E V A LO R IZ A Ç Ã O FU N D A Ç Ã O C O N TE X TO S D E C O P R O D U Ç Ã O EN TR A D A S SA ÍD A S FIGURA 4.2 – MATRIZ DE VALORIZAÇÃO ESPACIAL 1 A Figura 4.3 mostra o conjunto das sete matrizes de valorização espacial, numeradas de 1 a 7, cada uma contendo as características do respectivo estado (“meta-estado”). Preenchendo-se agora a matriz de valorização espacial com os dados correspondentes a um determinado coletivo humano em estudo, é possível fazer o enquadramento deste coletivo humano em um meta-estado de 1 a 7 ou então nos intervalos entre esses meta-estados. VALORIZAÇÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO 27 F AC ES DE R ELA CIO N AM EN T O O BJE TOS D E VALO R INT ERE SSA DO S INT ERN O S M OVIME NT AÇ Õ ES DE O Vs O E OC O I O D AC AA AQ AG C O N F LU Ê N C IA IN F L U Ê N C IA C O N F LU Ê N C IA IN F L U Ê N CI A MATR IZ DE VALORIZAÇÃO ESPAC IAL 7 RUPTU RA DA ORDEM ESTABELECIDA E ST A D O 7 : M U T A Ç Ã O SE Ç Õ E S D E E S PA Ç O S D E V A LO R IZ A Çà O E SC O P O P R O C U R A D E S C O B E R T A V E s F U N D A Ç Ã O CO N T EX T O S D E C O P R O D U Ç Ã O EN T R A D A S SA ÍD A S F AC ES DE RELA CIO N AM EN T O O B JE TO S D E VALO R INT ERE SSA DO S INT ERN O S MOVIME NT AÇ Õ ES DE O Vs O E OC O I O D AC AA AQ AG C O N F LU Ê N C IA IN F L U Ê N C IA C O N F LU Ê N C IA IN F L U Ê N C IA MATR IZ DE VALORIZAÇÃO ESPAC IAL 6 PERCEPÇÃO E CL ONAGEM DE DISTINÇÃO POR OUTROS E ST A D O 6 : R E FE R Ê N C IA SE Ç Õ E S D E E S PA Ç O S D E V A LO R IZ A Çà O ES C O P O P R O C U R A D E S C O B E R T A V E s FU N D A Ç Ã O CO N TE XT O S D E C O P R O D U Ç Ã O EN T R A D A S S A ÍD A S F AC ES DE RELA CIO N AM EN T O O B JE TO S D E VALO R INT ERE SSA DO S INT ERN O S MOVIME NT AÇ Õ ES DE O Vs OE OC O I O D AC AA AQ AG C O N F LU Ê N C IA IN F LU Ê N C IA C O N F LU Ê N C IA IN F L U Ê N C IA MATR IZ DE VALORIZAÇÃO
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