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Formação de Valor em Sistemas de Produção – FVSP Assunto: Método de Transporte Aplicado à Localização UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Faculdade de Tecnologia Núcleo de Engenharia de Produção Prof. João Mello da Silva APLICAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO LINEAR AO PROBLEMA DE LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL: O MÉTODO DE TRANSPORTE O método de transporte, desenvolvido em programação linear, pode ser aplicado ao problema de localização de instalações industriais. Considere uma companhia que atualmente conta com duas fábricas em funcionamento, uma localizada em Goiânia e a outra em Belo Horizonte. A distribuição ao mercado é feita por meio de cinco distribuidores, situados em Brasília, Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Para atender ao um aumento de demanda detectado por pesquisa de mercado, a companhia decidiu construir uma nova fábrica com capacidade igual a 25000 unidades semanais, que corresponde ao incremento esperado da demanda. Estudos preliminares já pré-qualificaram três locais alternativos para a futura fábrica: São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Os custos de distribuição, incluindo manuseio, estocagem e frete, os custos de produção bem como as capacidades de produção de cada fábrica (existente ou propostas) e as demandas dos centros distribuidores estão mostrados na tabela abaixo. Centros de Distribuição Das Fábricas Custo de distribuição por unidade Capac. Mensal da fábrica Custo de produção por unidade Brasília Vitória São Paulo Rio de Janeiro Porto Alegre Fá br ic a s e xi st e n te s Belo Horizonte 0,42 0,38 0,41 0,36 0,50 27.000 2,70 Goiânia 0,32 0,48 0,42 0,44 0,49 20.000 2,68 Lo ca liz a çõ e s pr o po st a s pa ra n o va s fá br ic a s São Paulo 0,46 0,42 0,30 0,37 0,43 25.000 2,64 Rio de Janeiro 0,44 0,38 0,37 0,30 0,45 25.000 2,69 Porto Alegre 0,48 0,46 0,43 0,45 0,27 25.000 2,62 Demanda mensal 10.000 19.000 16.000 15.000 12.000 72.000 - Formação de Valor em Sistemas de Produção – FVSP Assunto: Método de Transporte Aplicado à Localização Como mostrado, os custos de produção são menores em Porto Alegre, mas os custos de distribuição são relativamente altos quando comparados com os relativos a São Paulo e ao Rio. A questão é a seguinte: qual localização (São Paulo, Rio ou Porto Alegre) resultará em menores custos totais de produção e distribuição, quando considerada em conjunto com as fábricas existentes (Belo Horizonte e Goiânia) e os centros distribuidores (Brasília, Vitória, São Paulo, Rio e Porto Alegre)? Como a nova fábrica será localizada em apenas uma cidade, a localização em cada uma dessas cidades pode ser individualmente formulada como o problema do transporte de programação linear. Ou seja, são formulados três problemas de transporte com as seguintes combinações de localização de fábricas: 1. Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo; 2. Belo Horizonte, Goiânia e Rio de Janeiro; 3. Belo Horizonte, Goiânia e Porto Alegre. A solução de cada um desses problemas é em termos das quantidades a serem enviadas de cada uma das três fábricas a cada um dos cinco centros distribuidores que resultem no menor custo de distribuição. Essas quantidades, por sua vez, satisfazem ás restrições de capacidade de cada fábrica e de atendimento da demanda de cada centro distribuidor. Com a adição do custo de produção a esse custo (mínimo) de distribuição, tem-se o custo total de cada uma das combinações de fábricas. A combinação que resultar no menor custo total fornece a localização da nova fábrica. Antes de passar à discussão dos resultados obtidos, é apresentado um pequeno resumo sobre o problema de transporte em programação linear. Na interpretação do modelo, existem m pontos de suprimentos, com itens sendo remetidos a n pontos de demanda. Especificamente, o ponto de suprimento i pode remeter no máximo Si itens enquanto que o ponto de demanda j requer pelo menos Dj itens. Esses valores, Si i = 1,2,...,m e Dj, j = 1,2...n, são referências fixas durante todo o horizonte de planejamento. O custo de se remeter cada unidade do ponto de suprimento i no ponto de demanda j é cij. O objetivo é selecionar, para a duração do horizonte de planejamento, um plano de distribuição que minimize os custos totais do transporte. Denotando a quantidade remetida de i para j por xij, a descrição matemática do problema de transporte é: m n Minimizar Σ Σ cij xij (função objetivo) I = 1 j = 1 Sujeito a n Σ xij ≤ Si i= 1,2,...m (restrições de suprimento) j = 1 Formação de Valor em Sistemas de Produção – FVSP Assunto: Método de Transporte Aplicado à Localização m Σ xij ≥ Dj j= 1,2,...n (restrições de demanda) i = 1 xij ≥ 0 para todos os i,j (restrições de não negatividade) Observar que a soma das remessas do ponto de suprimento i a todos os pontos de demanda j não pode exceder o suprimento disponível Si (restrições de suprimento). Similarmente, a soma das remessas ao ponto de demanda j de todos os pontos de suprimento i deve ser pelo menos igual ao requisito de demanda Dj. Notar ainda que a função objetivo soma todos os custos associados a todos as remessas. Um resultado importante obtido em teoria de fluxos em redes é que dentre as soluções ótimas para o modelo acima, existe pelo menos uma com todos os Xij inteiros, desde que todos os Si e Dj sejam também inteiros. Então,supondo todos os Si e Dj como valores inteiros, pode-se considerar as restrições (não negatividade) como sendo igual a: xij = 0,1,2,... Tal procedimento não afeta o valor de e facilita a obtenção de valores (inteiros) ótimos como xij. Se o custo unitário para se produzir em item difere de um ponto de suprimento para outro, então esse custo é incluído na determinação de cij. Se, por razões físicas ou econômicas, um certo ponto de demanda j é inacessível por um ponto de suprimento i, então o xij associado é eliminado, ou se for mais conveniente, o cij correspondente é definido como arbitrariamente alto. Para simplificar, supor cij ≥ 0. Para o modelo possuir uma solução viável, é necessário que o suprimento total seja pelo menos igual a demanda total, ou seja, m n Σ Si ≥ Σ Dj I = 1 j = 1 Através de um artifício formal pode-se forçar a igualdade sem qualquer perda de generalidade: criar uma destinação (ponto de demanda) fictícia, com um requisito de demanda igual a: m n Σ Si - Σ Dj I = 1 j = 1 Considerar essa destinação fictícia como n’ésimo ponto de demanda, com o custo associado cin = 0, i = 1,2,...m, de modo que a interpretação de xin seja a folga na capacidade (capacidade ociosa) do ponto de suprimento i. Desse modo, a soma das capacidades é igual à dos requisitos. Com o auxílio desse artifício, as relações (2) e (3) podem ser escritas como igualdades. Assim, para valores inteiros de Si e Dj, i = 1,2,...,m e j = 1,2,...n e com a variável xin, i = i,...m, representando a capacidade ociosa do ponto de suprimento i, o modelo de transporte pode ser escrito como: Formação de Valor em Sistemas de Produção – FVSP Assunto: Método de Transporte Aplicado à Localizaçãom n Minimizar Σ Σ cij xij (função objetivo) I = 1 j = 1 Sujeito a n Σ xij ≤ Si i= 1,2,...m (restrições de suprimento) j = 1 m Σ xij ≥ Dj j= 1,2,...n (restrições de demanda) i = 1 xij = 0, 1, 2, ... para todos os i,j (restrições de não negatividade e valores inteiros) Para o problema da escolha da localização da nova fábrica em São Paulo, no Rio de Janeiro, ou em Porto Alegre, a formulação é a seguinte: xij = quantidade da fábrica i para depósito j i = 1: Belo Horizonte - 2 FÁBRICAS EXISTENTES = 2: Goiânia i = 3: São Paulo - 3 LOCALIZAÇÕES POTENCIAIS DA NOVA FÁBRICA = 4: Rio de Janeiro = 5: Porto Alegre j = 1: Brasília - 5 DEPÓSITOS = 2: Vitória = 3: São Paulo = 4: Rio = 5: Porto Alegre A solução para os problemas de transporte mostram que a fábrica localizada em Porto Alegre é a melhor opção em termos de custos variáveis de distribuição e produção. A solução encontrada é muito simples, mas outras restrições poderiam ser adicionadas como níveis de estoque nas várias localizações, futuras localizações de outros centros distribuidores, custos de imóveis, e de construção futura expansão do mercado, etc. DINÂMICA LOCACIONAL PARA MÚLTIPLAS FÁBRICAS A decisão de construir a fábrica de Porto Alegre foi baseada nos custos correntes, na estrutura da demanda e numa avaliação do futuro. Suponha que o balanço desses fatores mude. Suponha por exemplo que após a fábrica de Porto Alegre ter sido construída, a companhia sofra um declínio na demanda por causa de competição. Suponha que ao invés de uma demanda total Formação de Valor em Sistemas de Produção – FVSP Assunto: Método de Transporte Aplicado à Localização de 72.000 unidades/semana, como prevista e usada no planejamento, existe apenas a demanda de 56.000 unidades por semana, divididas nas áreas dos centros distribuidores como: Brasília.................... .9.000 Vitória..................... 15.000 São Paulo ............. 11.000 Rio...........................13.000 Porto Alegre..............8.000 Devido às suas características, as fábricas de Porto Alegre e Belo Horizonte podem atender a essa demanda sem a fábrica de Goiânia desde que funcionem em regime de trabalho extra. De fato, quaisquer 2 das 3 fábricas podem atender à demanda (56.000/semana) se trabalho extra for realizado. Tem-se então tanto essas alternativas (2 funcionando em regime de trabalho extra e a outra desativada) como a de continuar com as 3 fábricas em funcionamento com capacidade parcial. Qual alternativa é a melhor e qual a diferença obtida? Para se chegar a uma resposta, é necessário conhecer, além dos custos do trabalho extra em cada fábrica, a capacidade adicional (quando em regime de trabalho extra) e as reduções de custo que se obtém pela desativação de uma fábrica. Cumpre ressaltar que mesmo parada, uma fábrica incorre em uma série de custos fixos. Belo Horizonte Goiânia Porto Alegre Custo de produção em trabalho extra (por unidade) 3,37 3,33 3,27 Aumento de capacidade com trabalho extra (unidade/semana) 7.000 5.000 6.000 Custos fixos(por semana) em operação 12.000 9.000 13.000 Custos fixos(por semana) parada 5.000 4.000 6.000 As quatro opções são as seguintes: 1. Belo Horizonte, Goiânia e Porto Alegre funcionando; 2. Belo Horizonte desativada, Goiânia e Porto Alegre funcionando; 3. Goiânia desativada, Belo Horizonte e Porto Alegre funcionando; 4. Porto Alegre desativada, Belo Horizonte e Goiânia funcionando. As soluções obtidas para os problemas relativos a essas quatro alternativas são apresentadas a seguir. Notar que para manter o formato de um problema do transporte, as capacidades com trabalho extra foram consideradas como nova fonte de produção. Formação de Valor em Sistemas de Produção – FVSP Assunto: Método de Transporte Aplicado à Localização Dos resultados obtidos conclui-se que a alternativa mais vantajosa é: . desativação da fábrica de Goiânia . produção semanal em Belo Horizonte em horário normal = 27.000 unidades . produção semanal em Porto Alegre: 25.000 unidades em horário normal e 4.000 unidades em horário extra Se a situação fosse mais séria, talvez se pudesse considerar a venda de uma fábrica, ao invés de a manter desativada. Nesse caso, uma análise similar poderia ser feita. Em tal caso, todos os custos fixos atribuídos à fábrica vendida seriam eliminadas, sendo também necessário avaliar o capital conseguido com a venda.
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