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CAP˝TULO 3 141 Caso 22Caso 22 RELATO DO CASO M.G.M., mulher branca de 61 anos, encaminhada em razão de nervosismo e aumento da tireóide. Acompanhada em outro hospital por cardiologista devido ao quadro sugestivo de coronariopatia, refere palpitação esporádi- ca. Foi notado aumento da tireóide à palpação e encaminhada para o serviço de endocrinologia do HUCFF. Há três anos iniciou episódio de “calores”. Refere também dores de leve intensidade generalizada, que piora com o deambular. A paciente é casada, do lar, natural do Rio de Janeiro. Possui enxaqueca e teve relato de hepatite há 30 anos. Apendicectomia na infância. Apresentou fratura traumática de antebraço direito aos 10 anos, após queda. Relata hemotransfusão no primeiro par- to. É hipertensa desde 1992, com tratamento regular com Tena- dren® (propranolol + hidroclorotiazida) e captopril. Refere me- narca aos 10 anos, com menopausa aos 50 anos, ciclos sempre foram irregulares. Gesta 4 para 4 (nenhum aborto). Pai e mãe falecidos de cardiopatia, filha e sobrinha tiveram hepatite. Mãe e irmã com nódulo de mama. Nega etilismo e tabagismo. Ao exame físico, apresenta PA: 120 · 70mmHg, FC: 68bpm, altura: 155cm, peso: 68kg, IMC: 28,30kg/m2. Tireóide discretamente aumentada, lobo direito maior que es- querdo, mais firme, com bordos nítidos, elástica, móvel, sem linfo- nodomegalia cervical. Restante do exame físico sem alterações. EXAMES COMPLEMENTARES • Ultra-sonografia de tireóide (abril/00): glândula tópica, tamanho nor- mal, lobo direito de 3,4 · 1,2 · 1,6cm. Lobo esquerdo de 3,0 · 1,3 · 1,3cm. Ecotextura heterogênea, sem nódulos, sem linfonodomegalias. • Cintilografia e captação de tireóide (maio/00): captação de 9,4%, glân- dula tópica, com distribuição irregular do radiotraçador, sugestivo de tireoidite de Hashimoto. Osso 142 CAP˝TULO 3 CONDUTA • Solicitados anticorpos antitireoidianos, TSH e T4L (Tabela 3.1), densi- tometria óssea (Tabela 3.2); • Encaminhada à ginecologia para iniciar TRH (terapia de reposição hormonal). Tabela 3.1 Exames Laboratoriais para Avaliaçªo Tireoidiana Exame Maio/00 Junho/00 V.R. TSH 1,00 1,00 0,4 a 4,0mcUI/mL T4L 1,74 2,77 0,8 a 1,9ng/dL Tireoglobulina 2,80 2,4 a 52ng/mL Anticorpo antitireoglobulina < 20 < 20UI/mL Anticorpo antiperoxidase 260 < 15UI/mL Tabela 3.2 Densitometria Óssea, atravØs do MØtodo DEXA no Aparelho Lunar Corporations Localizaçªo BMD1 Escore-T2 Escore-Z3 L2-L4 0,861 1,2 0,2 Colo de fŒmur 0,814 3,2 1,7 1 BMO: densidade mineral óssea. 2 T-Escore: comparaçªo com pico de massa óssea. Osteopenia Ø definida como T-escore entre 1 e 2,5 DP, enquanto a osteoporose Ø menor que 2,5 DP. 3 Z-Escore: ajustada para idade. 2a Consulta (novembro de 2000) PA: 160 · 100mmHg, FC: 78bpm, Peso: 61,700kg, IMC: 25,68kg/m2. Tireóide impalpável. • Parecer da ginecologia: contra-indicado TRH devido a hiperplasia e pólipos endometriais. Foi iniciado carbonato de cálcio e vitamina D. Impressão: osteoporose em colo de fêmur e osteopenia em coluna lombar. Conduta: • Iniciado alendronato de sódio 10mg 1· /d; • Mantidos carbonato de cálcio e vitamina D; • Solicitados exames para avaliar metabolismo do cálcio (Tabela 3.3). CAP˝TULO 3 143 Tabela 3.3 Exames Laboratoriais para Avaliaçªo do Metabolismo Ósseo Exame Mai/01 Jun/01 Jun/01 Ago/01 Out/01 V.R. Glicose 78 70 a 110mg/dL UrØia 23 20 a 40mg/dL Creatinina 0,8 0,7 a 1,4mg/dL Proteinœria 95 < 250g/24h CÆlcio 11,5 12,0 11,5 10,80 10,90 8,5 a 10,1mg/dL CÆlcio urinÆrio 194 50 a 250mg/24h Fósforo 4,3 2,7 2,5 2,5 a 4,9mg/dL Fósforo urinÆrio 606 340 a 1.300mg/24h PTH 186 194 7 a 53pg/mL 3a Consulta (junho de 2001) Hipercalcemia, em uso de alendronato, carbonato de cálcio 1g 3· /d, aderogyl D3 1 ampola 15/15d (Tabela 3.3). Impressão: erro laboratorial? Excesso de vitamina D? Conduta: • Suspensa reposição de cálcio e vitamina D; • Solicitado cálcio sérico e paratormônio. 4a Consulta (julho de 2001) Exames laboratoriais confirmaram diagnóstico de hiperparatireoidismo primário. Tireóide discretamente aumentada, de superfície irregular, com nódulo de 1cm firme em lobo inferior esquerdo. Conduta: • Solicitada punção de nódulo guiada por ultra-sonografia e dosagem de PTH no aspirado. • PTH dosado na PAAF: 24.836 pg/mL. A paciente foi encaminhada para o serviço de cirurgia geral, sendo realizada cirurgia de paratireoidectomia em novembro de 2001. Foi encon- trado tumor de paratireóide inferior esquerda de aproximadamente 3,5 · 2,0cm, localizado posteriormente ao pólo inferior do lobo esquerdo da ti- reóide, junto ao esôfago e na ponta do nervo recorrente. Não havia linfono- domegalia. O estudo histopatológico da peça cirúrgica confirmou adenoma de paratireóide (Tabela 3.4). 144 CAP˝TULO 3 Tabela 3.4 Exames Laboratoriais no Primeiro Dia após Paratireoidectomia Exame Maio/01 V.R. CÆlcio 8,6 8,5 a 10,1mg/dL Fósforo 5,7 2,5 a 4,9mg/dL PTH 43,6 7 a 53pg/mL Meu diagnóstico CAP˝TULO 3 145 RESUMO DO CASO Foi iniciado tratamento com alendronato, reposição de cálcio e vita- mina D devido à osteoporose, mas sem ter sido realizado antes estudo do metabolismo do cálcio, mesmo com dados suspeitos como diminui- ção do Z-escore e acometimento do colo de fêmur maior que em coluna lombar. Seis meses após início deste tratamento foi detectado hipercal- cemia, confirmada em novos exames mesmo após a suspensão do tra- tamento. A elevação do PTH confirmou o diagnóstico de hiperparati- reoidismo primário. Restava saber se o nódulo palpável era realmente da tireóide ou de uma paratireóide aumentada (que raramente é palpá- vel). Os níveis elevadíssimos de PTH na PAAF sugeriram a segunda hipótese, confirmada na cirurgia. DISCUSSÃO Diagnóstico Pré-operatório do Adenoma de Paratireóide As principais causas de hiperparatireoidismo primário são: • Adenoma (80%) • Hiperplasia (15 a 20%) • Carcinoma (< 0,5%) A única forma de curar o hiperparatireoidismo é através da cirurgia, mas somente 50% dos casos têm indicação cirúrgica. As indicações são a presença de complicações (nefrolitíase, osteíte fibrosa cística) e episódio de hipercalemia aguda sintomática. No caso da paciente ser assintomática, as recomendações são (Tabela 3.5): Tabela 3.5 Indicaçıes de Paratireoidectomia no Hiperparatireoidismo PrimÆrio AssintomÆtico Comparaçªo das Recomendaçıes de 1990 e Atuais, de 2002 Guideline Guideline 1990 2002 CÆlcio sØrico > 1 a 1,6mg/dL > 1mg/dL (valor acima do normal) CÆlcio urinÆrio > 400mg/dL > 400mg/dL Clearance de creatinina fl 30% fl 30% Densitometria óssea Z-escore < 2 T-escore < 2,5 (rÆdio) (em qualquer sítio) Idade < 50 a < 50 a 146 CAP˝TULO 3 A decisão pela cirurgia levanta a seguinte questão: a exploração cirúr- gica da região cervical realizada por mãos experientes tem êxito em 90- 95% dos casos. A localização do adenoma no pré-operatório não reduz as complicações nem o tempo operatório, mas pode direcionar a exploração cirúrgica inicial para o lado afetado. Esta vantagem é relativa, pois é ne- cessária a exploração de outras paratireóides para afastar que haja hiper- plasia. A exceção é no caso de a paciente possuir risco operatório eleva- do: neste caso, a retirada exclusiva da paratireóide identificada em exames pré-operatórios com anestesia local pode ser realizada nas mãos de um experiente cirurgião. Ultra-sonografia É um método confiável para detecção de glândulas paratireóides au- mentadas, com acurácia de 50% a 92%. A maior parte dos adenomas é homogêneo, hipoecogênico e arredondado. Variações morfológicas (císti- cas, calcificações) ocorrem em 16% a 25%. Doença tireoidiana concomi- tante reduz a especificidade do método. Vantagens: • Exame não-invasivo; • Fácil aquisição; • Possibilita guiar punção. Desvantagens: • Glândulas hiperplásicas,nódulos de tireóide e linfonodos podem ser difíceis de distinguir de adenomas; • Depende do operador. Tomografia Computadorizada (TC) A acurácia em detectar acometimento das paratireóides é de 75% a 81%. Tanto a TC como a ressonância magnética são pouco específicas. Sua utilidade, junto com a cintigrafia, é no diagnóstico de tumores ectópi- cos (mediastinais). Cintigrafia com Sestamibi Tem sido utilizada também para localizar adenomas no pré-operatório, porém ainda existem controvérsias quanto ao seu uso. Nenhum estudo mostrou redução no tempo operatório ou maior taxa de sucesso da cirur- CAP˝TULO 3 147 gia. O cirurgião experiente tem melhores resultados em localizar o adeno- ma do que este exame. Além disso, o exame não é útil para hiperplasia de paratireóide, e, quando há um nódulo de tireóide, pode resultar em falso- positivo. Sua principal indicação é em pacientes com paratireoidectomia prévia, na suspeita de adenoma ectópico. Punção Aspirativa A punção de lesão suspeita de adenoma de paratireóide fornece material para estudo citológico e para dosagem de PTH no aspirado. A ultra-sono- grafia combinada com a punção é um procedimento seguro e tem grande acurácia diagnóstica em pacientes com hiperparatireoidismo primário quando a exploração cirúrgica for planejada. As complicações são raras: hematoma e fibrose. Foi descrito um caso de extensão do carcinoma de paratireóide ao longo do trajeto da punção. A análise citológica é importante para o diagnóstico diferencial. Nos casos de adenoma ectópico, a avaliação citológica confirma o diagnóstico após localização com cintilografia com sestamibi. As células da paratireói- de são identificadas na análise do aspirado, porém não é possível distinguir citologicamente adenoma de hiperplasia. Também é relatada dificuldade no diagnóstico diferencial com neoplasia folicular de tireóide. Auger e cols. relataram um caso de uma mulher de 22 anos que foi submetida a duas PAAF de tireóide e a análise citológica evidenciou grupo de células interpretadas como células de Hürtle e linfócitos, recebendo diag- nóstico de tireoidite linfocítica. A excisão subseqüente revelou grande ade- noma de paratireóide. Dosagem de PTH no Aspirado A técnica foi originalmente descrita por Dopman e cols., em 1983, para medida de PTH em aspirado guiado por TC. Vários estudos mostram que esse é um método específico e confiável na investigação pré-operatória de hiperparatireoidismo, incidentalomas e cistos paratireoidianos. Pode ser mais específico que a citologia e também aumenta a especificidade da ultra- sonografia. Deve ser considerada quando adenoma de paratireóide for sus- peito. A aspiração repetida também pode ser terapêutica nos casos de cis- tos não funcionais. O material, usualmente de uma ou duas gotas, é diluído em água estéril até um volume final de 1mL e congelado a –20oC para determinar o PTH. É considerado positivo se o valor for superior àqueles encontrados no plas- 148 CAP˝TULO 3 ma. A punção de alguns cistos cervicais e dosagem de PTH no líquido estabelece origem paratireoidiana do cisto. Marcocci e cols. fizeram estudo para determinar a utilidade da dosa- gem de PTH em punção de massas cervicais suspeitas para confirmar a origem paratireoidiana destas, em pacientes com hiperparatireoidismo pri- mário. Trinta e três pacientes foram submetidos à ultra-sonografia, cinti- grafia com sestamibi e dosagem de PTH no aspirado. Foi concluído que este último método é simples e útil para confirmar o diagnóstico em pacien- tes com resultados dos outros exames discordantes ou não diagnosticados. BIBLIOGRAFIA 1. Auger M, Charboneau M, Huttner I. Unsuspected intrathyroidal parathyroid adenoma: mimic of lymphocytic thyroiditis in fine-needle aspiration specimens – a case report. Diagn Cytopathol. Oct; 21(4):276-9, 1999. 2. Bilezikian JP, Potts JT Jr, Fuleihan Gel-H, Kleerekoper M, Neer R, Peacock M, Rastad J, Silverberg SJ, Udelsman R, Wells SA. Summary statement from a workshop on asymptomatic primary hyperparathyroidism: a perspective for the 21st century. J Clin Endocrinol Metab. Dec; 87(12):5353-61, 2002. 3. Campbell J, Diamond T, North L. Ultrasound-guided parathyroid aspiration to diagnose parathyroid adenomas. Australas Radiol. Aug; 40(3):273-5, 1996. 4. Galloway A, Jarmer S, Moinuddin S. Fine needle aspiration cytology of an ectopic parathyroid adenoma: a case report. Acta Cytol. Mar-Apr; 40(2):315-8, 1996. 5. Lumachi F, Ermani M, Basso S, Zucchetta P, Borsato N, Favia G. Localization of parathyroid tumours in the minimally invasive era: which technique should be chosen? Population-based analysis of 253 patients undergoing parathyroidectomy and factors affecting parathyroid gland detection. Endocr Relat Cancer. Mar; 8(1):63-9, 2001. 6. Marcocci C, Mazzeo S, Bruno-Bossio G et al. Preoperative localization of suspicious parathyroid adenomas by assay of parathyroid hormone in needle aspirates. Eur J Endocrinol Jul; 139(1):72-7, 1998. 7. Nozeran S, Duquenne M, Guyetant S, Rodien P, Rohmer V, Ronceray J, Saint-Andre JP, Bigorgne JC. Diagnosis of parathyroid cysts: value of parathyroid hormone level in puncture fluid. Presse Med. May 13;29(17):939-41, 2000. 8. Spinelli C, Bonadio AG, Berti P, Materazzi G, Miccoli P. Cutaneous spreading of parathyroid carcinoma after fine needle aspiration cytology. Endocrinol Invest. Apr; 23(4):255-7, 2000. 9. Tikkakoski T, Stenfors LE, Typpo T, Lohela P, Apaja-Sarkkinen M. Parathyroid adenomas: pre-operative localization with ultrasound combined with fine-needle biopsy. J Laryngol Otol. Jun; 107(6):543-5, 1993. CAP˝TULO 3 149 Caso 23Caso 23 RELATO DO CASO G.A.S., feminina, parda, 31 anos, encaminhada por clínica de diálise para avaliação de hiperparatireoidismo secundário. Refere evolução de insuficiência renal crônica aos 22 anos, de etiologia indeterminada, em tratamento dialítico desde agosto de 1983. Há cinco anos evoluiu com elevados níveis de PTH (acima de 2.500pg/mL) refratários ao tratamento clínico, inclusive sem resposta a pulso venoso de calcitriol. Usava carbonato de cálcio de modo irregular e apresentou níveis elevados de fosfato que con- tra-indicaram a continuação do uso do calcitriol. Diagnosticado hiperparatireoidismo secundário à doença renal e indicada para- tireoidectomia, porém a paciente não conseguiu vaga para reali- zar diálise nos hospitais que ofereciam este tipo de tratamento. Há oito meses relata aparecimento de tumor em região maxi- lar direita, evoluindo com aumento progressivamente rápido, im- pedindo-a de se alimentar de modo adequado e dificultando sua respiração por via nasal. A paciente nega diabete melito, tuberculose, cardiopatia. Re- fere fraturas de ambos os fêmures após queda de escada. Hemo- transfusão há três anos. Única cirurgia de fístula com anestesia local, sem complicações. Refere pré-eclâmpsia em gravidez aos 17 anos, evoluindo com HAS após parto. Gesta 4 para 1 (três abortos espontâneos no segundo trimestre da gravidez). Atualmente com amenorréia secundária. História familiar para hipertensão arte- rial sistêmica (mãe). Nega etilismo e tabagismo. Em uso de captopril 50mg 2 · dia, hidralazina 50mg 3 · dia, propranolol 10mg 2 · dia, carbonato de cálcio 7g/d, calcitriol 2,5mg/d, Hemax® e Noripurum®. No momento com queixa de dor óssea. Ao exame físico, a paciente estava em cadeira de rodas, trazi- da por amigos. Hipocorada (++/4). PA: 180 · 120mmHg, FC: 88bpm, FR: 24irpm. Massa óssea maxilar direita, causando deformidade do rosto, acometendo cavidade oral, com rarefação dos dentes (Fig. 3.1). Vários linfonodos palpáveis na cadeia cervical e submandi- bular de consistência elástica, móveis, o maior medindo 3cm. Mas- sas cervicais palpáveis em topografia de tireóide de aproximada- mente 2cm em lobo inferior e superior esquerdos (paratireóides?). Ossos das mãos deformados, tortuosos, comdiminuição do com- primento das falanges distais (Figs. 3.2 e 3.3); caixa torácica e coluna lombar deformadas, com cifose importante. Ritmo cardíaco regular, sem bulhas acessórias, sopro sistólico 5+/6 pancardíaco, irradiando para carótidas. Membros inferiores com edema de +/4, com atrofia muscular. 150 CAP˝TULO 3 Fig. 3.4 Radiografia de tórax em perfil, mostrando rarefaçªo óssea e importante cifose. EXAMES COMPLEMENTARES • Biópsia óssea (dez/99) – osteíte fibrosa acentuada. Negativo para into- xicação por alumínio. Turnover ósseo aumentado. • Ultra-sonografia de paratireóides (abril/2001) – glândulas paratireói- des homogêneas direitas, superior e inferior 13mm, e esquerdas hete- rogêneas com calcificação de 16mm (superior) e 22mm (inferior). • Radiografias de crânio, ossos longos e tórax – reabsorção intensa dos ossos, com grave rarefação, com cifose e deformidades ósseas (Figs. 3.4 e 3.5). Fig. 3.1 Massa óssea maxilar direita, causando deformidade do rosto, acometendo cavidade oral, com rarefaçªo dos dentes. Fig. 3.2 Ossos das mªos deforma- dos, tortuosos, com diminuiçªo do comprimento das falanges distais. Fig. 3.3 Detalhe das falanges CAP˝TULO 3 151 • Dosagens de paratormônio (VR: 12 -72pg/mL): nov/2000 fi 3.400 abr/2001 fi > 2.500 out/2001 fi > 2.500 A conduta assumida foi internação imediata devido à dificuldade de locomoção, feito risco cirúrgico e solicitados exames de rotina e para ava- liação do hiperparatireoidismo (Tabela 3.6): Fig. 3.5 Radiografia de membro superior mostrando reabsorçªo óssea e calcificaçªo subcutânea. Tabela 3.6 Exames Laboratoriais PrØ-operatórios HemÆcias 2.600 Glicose 91 Hemoglobina 7,5 Sódio 136 Hematócrito 22,9 PotÆssio 5,8 VCM 87,7 UrØia 178 HCM 28,7 Creatinina 8,6 Plaquetas 116.000 CÆlcio 8,7 Leucócitos 5.600 Fósforo 7,1 PTH 3.300 152 CAP˝TULO 3 Cirurgia em 5/3/02. Encontrados: 1. Paratireóide inferior D ± 1,5 · 1,0cm posteriormente ao pólo inferior do lobo direito (LD) da tireóide; 2. Paratireóide superior D ± 2,5 · 2,0cm posteriormente ao LD junto à traquéia; 3. Paratireóide inferior E ± 2,5 · 2,0cm anteriormente ao pólo inferior do lado esquerdo (LE); 4. Paratireóide superior E ± 2,5 · 2,0cm posteriormente ao LE da tireóide; 5. Gânglios de cadeia recorrente D; 6. Glândula de tireóide de aspecto normal; 7. Nódulo junto ao LE e anterior a esta. Realizada paratireoidectomia total com autotransplante heterotópico (ressecção de todas as paratireóides; um terço da paratireóide inferior D foi implantada por meio de minifragmentos na musculatura do antebraço direi- to em seis lojas, marcados com fio 5.0). Foi realizada congelação das peças: – Os dois terços da paratireóide que seria implantada confirmaram real- mente ser paratireóide; – Os gânglios da cadeia recorrente D foram negativos para malignidade; – O pequeno nódulo junto ao LE tireóide mostrou ser também paratireóide (supranumerária). A cirurgia transcorreu sem intercorrências. Foi necessário cuidado com a intubação orotraqueal devido à massa em maxila direita. Pós- operatório no CTI (devido à preocupação com tubo orotraqueal) com reposição imediata de 1g de cálcio elementar venoso no primeiro dia de pós-operatório para evitar síndrome do osso faminto. Não apresentou parestesias ou sinais de tetania. Alta três dias após a cirurgia, em uso de 8g diárias de carbonato de cálcio e 0,25µg 3 · /semana (após a diálise) de calcitriol. EVOLUÇÃO A dor óssea desapareceu uma semana após a cirurgia. Seis meses após, a paciente começou a deambular, ainda com certa dificuldade, pelo desapa- recimento da fraqueza muscular, sendo acompanhada pela equipe de fisia- tria do HUCFF. Houve regularização dos níveis de cálcio, fósforo e PTH. Houve apenas ligeira redução do tumor marrom, mas suficiente para a pa- ciente notar melhora na fala e na deglutição (Fig. 3.6). CAP˝TULO 3 153 Fig. 3.6 Evoluçªo do tumor marrom, um ano após a paratireoidectomia. Meu diagnóstico 154 CAP˝TULO 3 IRC síntese 1,25(OH)2D absorçªo do cÆlcio excreçªo do fosfato cÆlcio sØrico PTH Osteíte fibrosa Calcificaçªo metastÆtica osteomalÆcia Alumínio Fig. 3.7 Fisiopatologia das doenças ósseas relacionadas com a insuficiŒncia renal crônica. RESUMO DO CASO Hiperparatireoidismo secundário de longa data, com fratura patológica, deformidades ósseas, evoluindo com tumor marrom em maxila direita que compromete muito o aspecto estético, funcional (alimentação e respiração) e psicológico da paciente. Exames séricos confirmaram aumento de para- tormônio em níveis elevadíssimo com hipercalcemia. Biópsia óssea excluiu doença por alumínio. Após a cirurgia, houve parada de crescimento e até leve regressão do tumor marrom. A melhora da qualidade de vida foi notada rapidamente pela paciente, com desaparecimento da dor, da fraqueza muscular, possibilitan- do o retorno da deambulação sete meses após a paratireoidectomia. DISCUSSÃO Hiperparatireoidismo Secundário à Insuficiência Renal Crônica O mecanismo pelo qual a insuficiência renal crônica (IRC) leva à doença óssea é simplificado pelo seguinte esquema (Fig. 3.7): O hiperparatireoidismo causa a osteíte fibrosa cística generalizada, caracterizada por: – Perda óssea generalizada com aumento da reabsorção óssea, incluindo superfície periosteal e endosteal; – Formação de lesão cística fibrosa em ossos longos e mandíbula (cha- mados tumor marrom), causando protuberância, fraturas patológicas e dor óssea. CAP˝TULO 3 155 Isto ocorre pelo aumento da taxa de remodelação óssea (o paratormô- nio aumenta o número e a atividade dos osteoclastos), diminuindo a massa óssea no córtex devido à reabsorção endosteal; mas, o osso trabecular está preservado. Geralmente acomete mais os ossos longos que as vértebras e as metáfises. Quase todos os pacientes com IRC apresentam algum grau de hiperpa- ratireoidismo secundário. As alterações na glândula paratireóide ocorrem precocemente no desenvolvimento da IRC. O hiperparatireoidismo terciá- rio é caracterizado pela autonomia das glândulas paratireóides, ou seja, há hiperprodução mesmo sem o estímulo da hipocalcemia e da hiperfosfate- mia. Neste caso, o transplante renal não corrige o hiperparatireoidismo. Isto ocorre quando há a transformação de hiperplasia para o tipo nodular, causando crescimento monoclonal e proliferação agressiva. Neste momen- to, o paciente torna-se refratário ao tratamento clínico e ocorre hipercalce- mia persistente. Alguns autores advogam que se pode detectar as glândulas nodulares ao se avaliar as paratireóides pela USG. A prevalência de paratireoidectomia foi de 22% num estudo europeu de 1988 em pacientes em diálise há 10-15 anos. Em 1996, a incidência foi de 5,5%, e aumentava com a duração da diálise (3,3 por 1.000 pacientes- ano se diálise < 5anos, e 30 por 1.000 pacientes-ano se diálise > 10 anos). O tempo médio de diálise é de 5,4 anos até a paratireoidectomia. Ocorria mais em mulheres, não-diabéticos, diálise peritoneal. Sua necessidade di- minuiu naqueles que foram transplantados. Indicações (Tabelas 3.7, 3.8 e 3.9) Tabela 3.7 Indicaçıes de Paratireoidectomia na InsuficiŒncia Renal Crônica, segundo Livros-texto de Endocrinologia e Cirugia Livro-texto de endocrinologia1 Livro-texto de cirurgia2 Hipercalcemia persistente Hipercalcemia persistente e sintomÆtica após transplante Lesªo óssea grave Dor óssea refratÆria ao tratamento clínico Fratura patológica Calcificaçªo ectópica Calcificaçªo ectópica Prurido intratÆvel Prurido intratÆvel 1 Segundo Bringhurst FR, Demay MB, Kronenberg HM, no livro Williams Textbook of Endocrinology. 2 Segundo Doherty GM, Wells AS, no livro de Sabiston DC, Textbook of Surgery: The Biological Basis of Modern Surgical Practice. 156 CAP˝TULO 3 Tabela 3.8 Outras Indicaçıes, Citadas na Literatura Elevaçªo do PTH acima de 10 vezes o limite superior da normalidade; Osteíte fibrosa com dor óssea ou fratura, com controle adequado de calcitriol; Hipercalcemia (excluir mieloma mœltiplo, metÆstases ósseas e intoxicaçªo por alumínio); Prurido intratÆvel; Calcificaçªo de partes moles com fósforo controlado; Calcifilaxia; Artrite, periartrite incapacitantes; Ruptura de tendıes; Tumor marrom quando Ø urgente a necessidade de regressªo da massa. Tabela 3.9 Contra-indicaçıes à Paratireoidectomia na InsuficiŒncia Renal Crônica Alumínio sØrico > 60mcg/L; Paratireoidectomia prØvia; Possibilidade de transplante em 12 meses ou menos a partir da primeira consulta. • A dor óssea e o prurido intratável são os sintomas que geralmente regridem após a cirurgia. As deformidades do esqueleto, a calcificação dos vasos e a redução muito acentuada da massa óssea se tornam irre- versíveis. Além disso, a calcificação dos tecidos moles está relacionada à diminuição da sobrevida, devido à isquemia e gangrena; por isto, não se deve esperar até se ter essas complicações. • Tratamento clínico: é consenso que deve ser tentado antes da indicação da cirurgia. Os objetivos são manter o cálcio e o fósforo normais, com pouca exposição ao alumínio. – Restrição de fosfato – deve ser precoce na IRC, mas é difícil de ser seguida. – Quelantes do fosfato – carbonato de cálcio, acetato de cálcio ou citrato de cálcio (este último pode aumentar a absorção do alumínio). – Calcitriol – (0,25 a 0,5µg/d) altas doses podem piorar a hiperfosfate- mia, sendo geralmente um fator limitante importante. Atualmente a 19-nor-1,25(OH)2D é menos hiperfosfatêmica que a 1a OHD. Pode-se tentar pulso venoso com o calcitriol, mas este apenas reduz o PTH num máximo de 48%, falhando em diminuir o tamanho das glându- las e diminuir a sensibilidade a hipocalcemia. – Corrigir a acidose • Marcadores biológicos de turnover ósseo: a interpretação é difícil devido à diminuição do clearance renal. CAP˝TULO 3 157 • Alumínio: pode provocar osteomalácia. Antigamente era bastante utili- zado como quelante do fosfato e na água da diálise, provocava doença óssea adinâmica (com baixo turnover ósseo). É necessário afastar doença por alumínio, pois a cirurgia pode agravar a doença. A dosagem de alumínio está aumentada em pacientes com osteodistro- fia pelo alumínio, mas não necessariamente reflete o estoque de alumínio no osso. A deferoxamina quela o alumínio e por isto pode ser usada como teste terapêutico. A biópsia especifica a patogenia da osteodistrofia renal. Usa-se a tetra- ciclina para determinar se a mineralização está comprometida. Além disso, afasta a doença por alumínio e também depósito de amilóide (associada com lesões císticas). • Transplante: há relatos na literatura da permanência do quadro após transplante (hiperparatireoidismo terciário) e de maneira grave, como calcificações pulmonares e até do miocárdio, levando a infarto fulmi- nante. Estes autores sugerem avaliar com cuidado a gravidade da doen- ça óssea antes do transplante para se necessário tratar até com cirurgia. Os preditores para avaliar a persistência são os valores de PTH pré- transplante e maior tempo de diagnóstico. O que É Necessário para Documentar Doença Óssea? • Anamnese: dor óssea, prurido, fraturas; • Exame físico: deformidades; • Radiografias de crânio, mãos, ossos longos, tórax, clavícula, quadril; • PTH, cálcio corrigido pela albumina, fósforo, fosfatase alcalina; O que Pedir como Método de Localização? Nenhum estudo demonstrou que a localização pré-operatória diminui a duração da cirurgia ou a incidência de complicações. Geralmente só são usa- dos para reexploração cirúrgica, quando se procura uma glândula ectópica. Não são utilizados geralmente métodos invasivos (arteriografia, venografia). Ultra-sonografia – resolução de até 1mm. O sucesso de identificação durante a cirurgia foi similar com ou sem ultra-sonografia prévia (96 · 97%). Pode ser usado guiando PAAF e medindo o PTH para confirmação de paratireóide. Alguns autores acreditam que serve para diferenciar glân- dulas hiperplásicas de nodulares. Tomografia computadorizada e ressonância magnética – são tão efica- zes quanto a ultra-sonografia mas são mais caras (embora não sejam tão dependentes do operador). 158 CAP˝TULO 3 Qual É o Tipo de Cirurgia? • Parcial; • Subtotal; • Total com autotransplante heterotópico; • Total. A paratireoidectomia parcial possui a maior taxa de recorrência (34,7 · 5-8). Já a total possui a mesma eficácia em diminuir os sintomas e reverter a osteodistrofia renal que a subtotal, e evitou a reexploração cirúrgica cervical, porém, obteve mais hipocalcemias graves pós-operatória. Ainda há contro- vérsias, e alguns autores preferem a subtotal devido à menor morbidade; outros afirmanm que a melhor cirurgia é aquela da preferência do cirurgião. Na paratireoidectomia total com autotransplante heterotópico, geral- mente se coloca no antebraço não-dominante 20 a 25 pequenos pedaços. Cuidado com a dosagem no pós-operatório, pois o sangue deve ser colhido no braço sem o implante. Durante a cirurgia, pode ser feita dosagem do iPTH. A meia-vida não é alterada pela doença renal. Pós-operatório As principais complicações são: • Rouquidão transitória (7%); • Hipocalcemia > 6 meses (32%). A síndrome do osso faminto causa hipocalcemia grave e sintomática, e hipofosfatemia. Os primeiros sintomas são: • Insensibilidade, formigamento em área perioral e extremidades; • Ansiedade, depressão, letargia; • Tetania – espasmo carpopédico, convulsão tônico-clônica, estridor laríngeo; • Sinal de Chvostek e Trousseau. O cálcio geralmente atinge o nadir em 48-72 horas após cirurgia. Quanto mais cedo e mais persistente for a hipocalcemia, maior a probabi- lidade de cura. Recorrência Ocorre aproximadamente em 20% após cinco anos de cirurgia. A recorrência é alta (10-70%) independentemente do tipo de cirurgia CAP˝TULO 3 159 utilizada, e deve-se ao crescimento anormal das glândulas transplanta- das. A maior causa da recorrência não é o tipo da cirurgia, mas o tipo histológico, sendo o tipo nodular preditor de recorrência maior que o tipo hiperplásico. Acompanhamento Há melhora: • Da doença óssea – acompanhar com cálcio corrigido, fósforo, PTH, fosfatase alcalina, e radiografia do esqueleto; • Do prurido; • Do controle da HAS; • Da anemia – talvez por diminuir os níveis séricos de fósforo e cálcio, aumentando a sensibilidade a eritropoietina, já que os níveis desta não aumentam. BIBLIOGRAFIA 1. Bringhurst FR, Demay MB, Kronenberg HM. Hormones and Disorders of Mineral Metabolism. In: Williams Textbook of Endocrinology, 9th edition, 1172-1185. Wilson JD, Foster DW, Kronenberg HM, Larsen PR (editores). WB Saunders Company, 1998. 2. Doherty GM, Wells AS: The Parathyroid Glands. In: Textbook of Surgery: The Biological Basis of Modern Surgical Practice, 647-654, 15th ed. Sabiston DC (editor), 1997. 3. Gasparri G, Camandona M, Abbona GC, Papotti M, Jeantet A, Radice E, Mullineris B, Dei Poli M. Secondary and tertiary hyperparathyroidism: causes of recurrent disease after 446 parathyroidectomies. Ann Surg. Jan; 233(1):65-9, 2001. 4. Malberti F, Marcelli D, Conte F, Limido A, Spotti D, Locatelli F. Parathyroidectomy in pacients on renal replacement therapy: an epidemiologic study. J Am Soc Nephrol. Jun; 12(6):1242-8, 2001. 5. Morrone LF, Ettore GC, Passavati G, Tampoia M, Schiavone P, Coratelli P. Maxilary brown tumor in secondary hyperparathyroidism requiring urgent parathyreoidectomy. J Nephol. Sep-Oct; 14(5):415-9, 2001. 6. Packman KS, Demeure MJ. Indications for parathyroidectomy and extent of treatment for patients with secondary hyperparathyroidism. Surg Clin North Am. Jun; 75(3):465-82, 1995. 7. Tominaga Y, Johansson H, Johansson H, Takagi H. Secondary hyperparathyroidism: pathophysiology,histopathology, and medical and surgical management. Surg Today. 27(9):787-92, 1997. 8. Tominaga Y, Uchida K, Haba T, Katayama A, Sato T, Hibi Y, Numano M, Tanaka Y, Inagaki H, Watanabe I, Hachisuka T, Takagi H. More than 1,000 cases of total parathyroidectomy with forearm autograft for renal hyperparathyroidism. Am J Kidney Dis. Oct; 38 (4 Suppl 1):S168-71, 2001. 160 CAP˝TULO 3 Caso 24Caso 24 RELATO DO CASO C.D.S.J., masculino, pardo, 14 anos e 8 meses, estudante (7a série do 1o grau), natural do Rio de Janeiro. Iniciou acompanhamento com o serviço de neurologia do HUCFF em março de 2000, devido à crise convulsiva tônico-cloni- ca generalizada há 10 meses (dois episódios). Foi medicado com fenobarbital 100mg/dia. Devido à sonolência, a medicação foi subs- tituída por fenitoína 150mg/dia. Durante o acompanhamento com o serviço de Neurologia, foi identificado aumento isolado da fosfatase alcalina com cálcio e fósforo séricos normais. Foi solicitada a avaliação pelo serviço de Endocrinologia. Nega dor óssea, fratura ou deformidades. Nega meningoencefalites, convulsão febril. Nascido de parto normal a termo, crescimento e desenvolvimento normais. Pubarca aos 13 anos. Nega epilepsia na família ou outras doenças. Nega tabagismo, etilismo ou uso de drogas ilícitas. Alimentação reduzi- da quantitativa e qualitativamente. Ao exame físico, apresenta altura: l55cm, peso: 41,3kg, PA: l20 · 80mmHg, FC: 72bpm. Tireóide sem anormalidades. Sem massas cervicais. Pêlos axilares presentes. Genitália Tanner III. Restante do exame (incluindo neurológico) normal. EXAMES COMPLEMENTARES PRÉVIOS (TABELAS 3.10 E 3.11) Tabela 3.10 Exames Laboratoriais PrØvios Hemograma e Bioquímica (Março/00) Exames Resultado V.R. Glicose 88 70 a 110mg/dL UrØia 28 20 a 40mg/dL Creatinina 0,8 0,6 a 1,0mg/dL TGO 54 15 a 37U/L TGP 40 30 a 65U/L Hematócrito 44 40 a 54% Hemoglobina 14,2 13 a 18g/dL Leucócitos 7500 4 a 11mil/mm3 Diferencial 0/5/0/0/4/50/35/6 Plaquetas 244.000 150 a 450mil/mm3 CAP˝TULO 3 161 • Tomografia computadorizada de crânio: normal. Em abril de 2001, apresentava altura de 156cm, peso 46,8kg. Exame físico sem alterações. Estava em uso de fenitoína 150mg/dia. Tabela 3.11 Exames Laboratoriais PrØvios Perfil HepÆtico e Ósseo Exame Out/00 Nov/00 Dez/00 V.R. TGO 46 38 5 a 40U/L TGP 20 20 8 a 40U/L F. alcalina 1.715 1.955 50 a 136U/L Fósforo 5,9 2,5 a 5,0mg/dL (adulto) CÆlcio 9,3 8,5 a 10,1mg/dL • Radiografia de bacia, coluna torácica e crânio sem alterações. Coluna lombar com espondilolistese L4-L5, redução do espaço; defeito de sol- dadura do arco posterior de L5-S1. Foi então iniciada reposição de vitamina D (aderogyl D3) e carbonato de cálcio. O paciente evoluiu com normalização do PTH e diminuição da fosfatase alcalina (Tabela 3.13). Tabela 3.12 Exames Laboratoriais (Março/01) Exame Resultado V.R. Glicose 80 70 a 110mg/dL Sódio 138 136 a 145mEq/L PotÆssio 4,4 3,5 a 5,1mEq/L TGO 24 15 a 37U/L TGP 18 30 a 65U/L Gama GT 84 5 a 55U/L CÆlcio 9,6 8,5 a 10,1mg/dL CÆlcio urinÆrio 48 50 a 300mg/24h Fósforo urinÆrio 765 340 a 1.300mg/24h Volume urinÆrio 2.200mL F. alcalina 1.659 50 a 136 U/L PTH 95 7,8 a 72,5pg/mL 162 CAP˝TULO 3 Tabela 3.13 Exames Laboratoriais Metabolismo Ósseo (Junho/01) durante Tratamento com Aderogyl D3 Exame Resultado V.R. CÆlcio 8,5 8,5 a 10,1mg/dL Fósforo 4,8 2,5 a 5,0mg/dL Fosfatase alcalina 758 50 a 136U/L CÆlcio urinÆrio 24 50 a 300mg/24h Fósforo urinÆrio 813 340 a 1.300mg/24h Volume urinÆrio 1.600mL PTH 64,9 7,8 a 72,5pg/mL Meu diagnóstico CAP˝TULO 3 163 RESUMO DO CASO Adolescente, com epilepsia, iniciou uso de anticonvulsivantes re- centemente. Apresentou dosagem de fosfatase alcalina elevada sem al- teração significativa de gama GT ou transaminases. Apesar de ausência de sintomatologia, iniciou a investigação para doenças relacionadas ao metabolismo ósseo sendo observado PTH aumentado, cálcio e fósforo séricos normais (eventualmente com hipocalcemia) e cálcio urinário baixo sugerindo o diagnóstico de hiperparatireoidismo secundário a alterações relacionadas à vitamina D, devido, provavelmente, ao uso de anticonvulsivantes, drogas que reconhecidamente interferem no me- tabolismo da vitamina D. DISCUSSÃO Osteomalácia Induzida por Drogas A osteomalácia resulta da redução de mineralização de matriz óssea de- monstrada histomorfometricamente pelo aumento da espessura do osteóide, aumento da área de superfície do osteóide juntamente com diminuição da taxa de deposição mineral e da área de superfície de mineralização ativa. Drogas que levam à deficiência de cálcio, fosfato e vitamina D ou que interfiram na sua deposição e ação podem causar osteomalácia. Drogas que Causam Osteomalácia Alterações relacionadas à vitamina D: • Bloqueio da produção – bloqueadores solares; • Inibidores da absorção – colestiramina; • Interferência no metabolismo: – Produção de 25 (OH) D fi fenitoína – fenobarbital – rifampicina; – Produção da 1,25 (OH) D fi cádmio; • Antagonista da ação – glicocorticóides: Alterações da homeostase do fósforo: • Inibição da absorção do fósforo – antiácidos que contenham alumínio; • Indução da perda renal de fosfato – cádmio, chumbo; Interferência na mineralização óssea: • Alumínio; • Bisfosfonatos; • Fluoreto. 164 CAP˝TULO 3 Bloqueio da Produção de Vitamina D A ausência de exposição à luz solar é um fator de risco provável para o desenvolvimento de osteomalácia em adultos e raquitismo na criança. Os pacientes idosos e institucionalizados com limitação nutricional e de acesso à luz solar têm risco maior. O uso de bloqueadores solares contribui para a deficiência de vitamina D. Inibidores da Absorção da Vitamina D A vitamina D assim como outras vitaminas lipossolúveis é absorvida no jejuno e íleo por um processo facilitado pelos ácidos biliares. O uso de seqüestrantes de ácidos biliares como a colestiramina e coles- tipol pode, portanto, interferir na absorção da vitamina D. O desenvolvimento de osteomalácia tem sido descrito após ressecção ileal em paciente com doença de Crohn tratado com colestiramina. O pa- ciente foi tratado com reposição de vitamina D e obteve sucesso. Isto evi- dencia que, em pacientes com níveis de vitamina D limítrofes, o uso de seqüestrantes de ácidos biliares pode precipitar osteomalácia. Interferência no Metabolismo da Vitamina D Os anticonvulsivantes são as drogas mais estudadas com relação à in- dução de osteomalácia ou raquitismo. A rifampicina também pode acelerar o catabolismo da vitamina D, po- rém a relação causal com osteomalácia é menos estabelecida. Alguns estudos sugerem que 20% a 65% dos pacientes com epilepsia em uso de anticonvulsivantes desenvolvem sinais de raquitismo ou osteo- malácia, especialmente se forem institucionalizados. Estes pacientes têm maior risco de fraturas durante as crises convulsivas. Por outro lado, a hipocalcemia pode também agravar a doença epilética. Pacientes não-institucionalizados têm risco menor de desenvolver doença óssea clinicamente significativa. As anormalidades laboratoriais a seguir são observadas em 10% a 40% dos pacientes que recebem tratamento com anticonvulsivantes de longa data: 1. Redução do cálcio sérico e/ou urinário, fósforo sérico baixo ou normal; 2. Elevação do PTH; 3. Elevação da fosfatase alcalina; 4. Redução dos níveis de 25 (OH) D; 5. Redução de densidade óssea; 6. Aumento do osteóide na biópsia óssea. CAP˝TULO 3 165 Raramente se encontra evidência de osteomalácia histomorfométrica nos pacientes ambulatoriais. O fenobarbital e a fenitoína induzem enzimas hepáticas metabolizado- ras de drogas, aumentando a metabolização e o clearance da vitamina D. Vários estudos demonstram que pacientes bem nutridos com exposi- ção solar adequada raramentedesenvolvem doença óssea clinicamente sig- nificativa com o uso de anticonvulsivantes. Antagonista da Ação da Vitamina D Os glicocorticóides interferem na absorção intestinal de cálcio por me- canismo pouco estudado. Inibidores da Absorção de Fósforo A hipofosfatemia é um achado central de várias doenças que levam a osteomalácia ou raquitismo. Todos decorrem de tubulopatia proximal, con- gênita ou adquirida, perdedora de fosfato. A hiperfosfatúria é causa da hipofosfatemia embora também haja diminuição da 1,25 di-hidroxicolecal- ciferol produzida nos túbulos proximais. Como exemplos, o raquitismo hipofosfatêmico ligado ao X ou autossômico recessivo, síndrome de Fan- coni, tumores que produzem substância fosfatúrica etc. Diversas substân- cias podem levar à síndrome de Fanconi ao lesar os túbulos renais. A principal forma de osteomalácia hipofosfatêmica induzida por droga é causada por excessiva ingestão de antiácidos que contenham alumínio, pois estes inibem a absorção intestinal de fósforo. Ocorre baixa excreção de fósforo urinário e aumento dos níveis de 1,25 (OH) D. Os cálcios sérico e urinário tendem a ser elevados. Esta síndrome é incomum e deve ser diferenciada daquela que ocorre em pacientes com IRC que apresentam osteomalácia de- corrente da inibição da mineralização causada pela intoxicação com alumínio. Inibidores da Mineralização Óssea Alumínio As duas principais causas de osteomalácia induzida por alumínio: • Hemodiálise (uso de água não-deionizada); • Nutrição parenteral total (NPT) (contaminação com alumínio dos com- ponentes da NPT): – Apresentam fosfato sérico normal ou alto e baixos níveis de 1,25 (OH)2 D. 166 CAP˝TULO 3 O alumínio inibe a proliferação e função dos osteoblastos, inibe a sínte- se de colágeno e suprime a secreção de PTH, causando a osteodistrofia renal adinâmica, na qual o nível de PTH é normal ou baixo. Nestes casos, o tratamento da osteomalácia consiste em evitar a exposição ao alumínio e na utilização da deferoxamina para reduzir a carga corporal deste íon. Bisfosfonatos Os bisfosfonatos são análogos não-hidrolisados do pirofosfato, um ini- bidor da mineralização óssea. Estudos experimentais usavam os bifosfonatos para prevenir calcifica- ção ectópica. Não foi surpresa observar posteriormente que a utilização de etidronato em doença de Paget levou à osteomalácia. Este efeito parece ser direto, não alterando cálcio ou vitamina D. Estudos recentes com o uso de pamidronato na doença de Paget mos- traram osteomalácia em alguns pacientes tratados com 180 a 360mg por 6 a 9 semanas. Não foi relatada osteomalácia com uso de alendronato. Fluoreto Tem ação como agente terapêutico na osteoporose pelo seu efeito esti- mulador de crescimento ósseo. O mecanismo não é claro. Vários estudos clínicos têm demonstrado aumento da densidade mine- ral com uso de fluoreto. Em estudos duplo-cegos placebo-controlados, a diminuição do risco de fratura não foi claramente demonstrada, em parte porque o novo osso mostra evidência de mineralização anormal. Este defeito na mineralização é agravado por condições de baixo aporte de cálcio, mas não completamente prevenido pela administração de cálcio e vitamina D. A síndrome do membro inferior doloroso vista em alguns pacientes tratados com fluoreto é conseqüência do desequilíbrio entre a produção da matriz e mineralização levando à microfraturas. Alguns estudos descrevem a possibilidade de aumento do risco de fra- tura de quadril com uso de fluoreto, causado também por um desequilíbrio entre formação de matriz e mineralização. BIBLIOGRAFIA 1. Bikle DD. Drug-Induced Osteomalacia. In: Primer on the Metabolic Bone Diseases and Disorders of Mineral Metabolism, 4th edition. Favus MJ (editor). Lippincott Williams & Wilkins, 343-346, 1999. CAP˝TULO 3 167 Caso 25Caso 25 RELATO DO CASO R.M.A., 15 anos, masculino, branco, solteiro, natural e resi- dente em Campos. Refere ser assintomático até julho de 1999, quando apre- sentou quadro progressivo de fraqueza muscular além de dores nos membros superiores e inferiores. Evoluiu, após quadro fe- bril, com episódio de crises convulsivas tônico-clônicas gene- ralizadas, sendo levado ao serviço de emergência. Também re- latava episódios febris associados à cefaléia. Foi detectada hipocalcemia, ocorrendo diminuição das crises convulsivas após sua correção. Foi encaminhado ao serviço de Endocrinologia do HUCFF para investigação diagnóstica, em uso de carbona- to de cálcio 1g 4/4h, Alfad® (vitamina 25(OH)D) 0,25mg e feno- barbital. Mantinha tetania episódica, relacionada a episódios febris e ao sono. Não apresentava outras co-morbidades. Seu crescimento, de- senvolvimento mental e puberdade foram normais. Mora com os pais, que são de classe média, está na escola e apresenta bom desempenho estudantil. Um ano antes foi submetido à cirurgia de- vido à tumoração óssea em clavícula direita. Referia ainda irmã de 13 anos também com episódios de hipocalcemia sintomática, ini- ciados antes dele. O pai e irmão mais novo são sadios, não haven- do história de convulsão na família. A mãe apresenta braquidacti- lia do quarto metacarpo esquerdo e braquitarsia bilateral do quarto metatarso. Não há história de diabete, hipertensão, neo- plasias, uso de drogas ou colagenose na família. Não havia histó- ria de consangüinidade entre os pais. Ao exame físico, paciente lúcido e orientado, corado, hidratado, eupnéico, rosto arredondado, pescoço alado (Fig. 3.8). Apresen- tava baixa estatura (abaixo do percentil 05). PA: 110 · 60mmHg, FC: 76bpm, FR: 14irpm, Peso: 50kg, Altu- ra: 155cm, IMC: 22kg/m2. Tireóide normopalpável. Sem linfonodos cervicais palpáveis. Tórax: nódulo endurecido palpável na porção distal da claví- cula direita. Aparelhos cardiovascular, respiratório, abdômen e neuroló- gico: normais. MMII: pele com lesões hipocrômicas no 1/3 distal de ambas as pernas. Quarto metatarso curto (braquimetacarpia) bilateralmente (Fig. 3.9). MMSS: quarto metacarpo curto (braquimetacarpia) bilate- ralmente (Fig. 3.10). 168 CAP˝TULO 3 Desenvolvimento sexual: – pêlos finos supralabiais; – pêlos axilares finos e em moderada quantidade; – genitália Tanner IV-V. EXAMES COMPLEMENTARES NA ADMISSÃO • Cálcio – 8,0/8,5/7,5 (8,5 a 10,1mg/dL) • Fósforo – 5,5/6,3/6,0 (2,5 a 4,9mg/dL) • PTH – 1.050 (normal até 53pg/mL) • Tomografia computadorizada de crânio com contraste – calcificações em gânglios da base (Fig. 3.11). Fig. 3.9 Quarto metatarso curto. Fig. 3.10 Quarto metacarpo curto bilate- ralmente. Fig. 3.8 FÆcies arredondada, com pescoço alado. CAP˝TULO 3 169 EXAMES COMPLEMENTARES NA INTERNAÇÃO (TABELAS 3.14, 3.15 E 3.16) Fig. 3.11 Tomografia computadorizada de crânio com contraste, mostrando numerosas imagens espontaneamente hiperdensas em gânglios da base, sugestivas de calcificaçıes. Tabela 3.14 Exames Laboratoriais Realizados durante a Internaçªo Exames 26/julho 29/julho V.R. CÆlcio 8,5 8,4 8,5 a 10,1mg/dL Fósforo 4,8 5,5 2,5 a 4,9mg/dL Glicose 60 MagnØsio 1,9 1,3 a 2,1mEq/L UrØia, creatinina Normais Sódio e potÆssio Normais Hemograma Normal Tabela 3.15 Urina de 24 horas Realizada durante a Internaçªo Vol. urinÆrio 1.700 mL CÆlcio 39 40 a 353mg/24h Fósforo 352 400 a 1.300mg/24h Proteína 256mg/24h Creatinina 51mg/dL Clearance da creatinina 100,3mL/min 170 CAP˝TULO 3 • Radiografias do esqueleto – quarto metacarpo curto, quarto metatarso curto, sem reabsorção na porção distal das clavículas. Idade óssea de 15 anos (Figs. 3.12 e 3.13). Tabela 3.16 Exames Laboratoriais Hormonais, Realizados durante a Internaçªo Exame Resultado V.R. Cortisol 10,5 5 a 25µg/dL TSH 15,6 0,4 a 4,0mU/L T4L 0,94 0,8 a 1,9ng/dL Anti-TPO Negativo PTH 67 < 53pg/mL Fig. 3.12 Radiografia de membro inferior mostrando linhas de Milkman. ESTUDO DAFAMÍLIA (TABELA 3.17) Fig. 3.13 Radiografia de crânio, em perfil, mostrando padrªo de sal e pimenta. Tabela 3.17 Exames Laboratoriais do Metabolismo Ósseo de Toda Família Menino Menina Mªe Pai Irmªo VR CÆlcio 6,4 8,9 9,0 9,3 9,2 9,0-10,7mg/d Fósforo 4,0 3,8 3,0 3,6 4,2 2,7-4,5mg/dL Fosfatase alcalina 169 132 55 36 75 26-117U/L Paratormônio 585 729 47,3 52,8 21 12,0-72,0pg/mL CAP˝TULO 3 171 Meu diagnóstico 172 CAP˝TULO 3 IMPRESSÃO DIAGNÓSTICA Paciente com manifestações clínicas de hipocalcemia, com exames la- boratoriais caracterizando um estado de resistência ao PTH: hipocalcemia, hiperfosfatemia e PTH elevado. Apresentava ainda rosto arredondado, com pescoço alado, quarto metacarpo e metatarso curtos e sem retardo mental, achados fenotípicos da osteodistrofia hereditária de Albright. Outra observação é o achado de TSH elevado com T4L no limite inferior da normalidade e com anticorpo negativo (anti-TPO), sugerindo hipotireoidis- mo primário sem auto-imunidade. Ao associarmos estes dados, a hipótese diagnóstica foi de pseudo-hipoparatireoidismo tipo Ia. Toda a família foi investigada sendo o pai e o irmão caçula normais e a irmã e a mãe apresentando pseudopseudo-hipoparatireoidismo. O pa- ciente evoluiu bem com melhora completa da sintomatologia com o trata- mento proposto. CONDUTA • Suspenso fenobarbital; • Ajustada dose do cálcio oral e realizada troca da vitamina D3 por calcitriol (0,5mg/dia); • Iniciada reposição dos hormônios tireoidianos, com levotiroxina; • Solicitada densitometria óssea de corpo inteiro; • Acompanhamento da família. O paciente recebeu alta hospitalar, e com taxas de cálcio e fósforo sérico normalizadas e PTH reduzido em relação à dosagem da admissão. Por questão de distância, optou por prosseguir acompanhamento médico em sua cidade de origem, fazendo uso de carbonato de cálcio (4g/dia), calcitriol (0,5mg/dia) e levotiroxina (50mcg/d). DISCUSSÃO Pseudo-hipoparatireoidismo A síndrome de Fahr engloba um grupo de diversas doenças, caracte- rizadas pela presença de calcificações bilaterais e simétricas dos núcleos de base. Inicialmente descrita por Theodor Fahr em 1930, foi posteriormente relacionada a doenças inflamatórias, sistêmicas e metabólicas, como as que resultam de distúrbios do metabolismo do cálcio. Se, por um lado, a coe- xistência da síndrome de Fahr e hipoparatireoidismo é freqüente, por outro lado a sua associação com hiperparatireoidismo e pseudo-hipoparatireoi- CAP˝TULO 3 173 dismo é muito rara. Portanto a avaliação da calcemia se impõe no diagnós- tico diferencial da síndrome de Fahr. O pseudo-hipoparatireoidismo (PHP) apresenta-se como algumas síndromes clínicas de resistência ao PTH (hormônio da paratireóide), que se caracterizam por: • Cálcio sérico reduzido e fósforo sérico elevado; • Secreção aumentada de PTH; • Tecidos-alvo sem resposta ao PTH. A fisiopatologia nestes casos é diferente do hipoparatireoidismo, em que temos real ausência do PTH. No PHP, o PTH sérico está presente, porém há resistência à sua ação. A ação deste hormônio nos tecidos-alvo está relacionada à sua ligação a receptores PTH/PTHrp para ativação das proteínas G e conseqüente geração dos segundo mensageiros, com eleva- ção do AMPc como caracterizador da ação do PTH. No paciente com PHP, a patogenia pode-se apresentar de quatro mo- dos, o que o classifica como tipos Ia, Ib, Ic e II, com diferentes manifes- tações clínicas (fenótipo) e laboratoriais (Tabela 3.18). No PHP tipo I observa-se resposta anormal do AMPc urinário à admi- nistração de PTH exógeno. Nestes casos, a resistência ocorre por defeito no complexo adenilciclase. Este tipo se subdivide em Ia, Ib e Ic, com as seguintes características: No tipo Ia, inicialmente postulou-se que o problema estaria no receptor específico do PTH. A observação de que outros hormônios também estão afetados levou à hipótese de que o defeito estaria na proteína Gsd, que apresenta diminuição de 50% na sua expressão ou atividade, e isto define o tipo Ia. Além do acometimento de outros hormônios, existem características fenotípicas encontradas nestes pacientes que compõem a osteodistrofia hereditária de Albright (OHA): uma série de características clínicas des- critas por Albright e que incluem baixa estatura, rosto arredondado, obesi- dade, braquidactilia, ossificações subcutâneas e alterações neurossensori- ais. Observou-se ainda que 50% têm algum grau de retardo do desenvolvimento mental. Questiona-se se isso seria devido à hipocalcemia ou à alteração na proteína G, uma vez que outros quadros de hipocalcemia não apresentam maior associação com retardo mental. Ainda relacionado a OHA, observamos o quadro chamado de pseudop- seudo-hipoparatireoidismo (PseudoPHP) que seria uma variante normo- calcêmica da AHO que responde ao PTH normalmente. Ou seja, estes pa- cientes têm função normal do PTH, somente possuindo o fenótipo de Albright. É importante fazer a diferenciação com pacientes do tipo Ia que 174 CAP˝TULO 3 permanecem normocalcêmicos sem tratamento, mas que terão resposta anormal do AMPc urinário ao PTH exógeno. Estudos mostram haver uma ligação genética entre estas duas formas (tipo Ia e PseudoPHP), podendo estar inclusive ambos presentes em um mesmo grupo familiar. Análise dos tecidos-alvo de pacientes destes grupos familiares mostra deficiência funcional equivalente da Gsd nas duas formas, embora com quadros clínicos distintos. Tal achado ainda não apresenta explicação. A deficiência da proteína Gsd parece ser gerada por diversas mutações por inativação no gene GNAS1. Uma variedade destas mutações levaria ao caráter autossômico dominante desta doença. Algumas questões permanecem não elucidadas: • Por que alguns setores hormonais são afetados (PTH, TSH, gonado- trofinas) e outros (ACTH, ADH) não? • Por que alguns têm toda alteração bioquímica e outros somente o fenótipo? A base para explicar a penetrância variável estaria na transmissão paterna · materna da mutação. Aqueles que recebem a mutação como herança ma- terna desenvolvem o fenótipo e as alterações bioquímicas (PHP), enquanto a transmissão paterna leva à manifestação somente do fenótipo (pseudoPHP). Devemos ainda citar a descrição recente do caso de dois meninos, sem relação familiar entre si, com puberdade precoce e PHP tipo Ia. A explica- ção seria a presença de uma proteína Gsd sensível à temperatura, e por isso ativada nos testículos, porém inativada nos outros tecidos. A conseqüência seria a resistência ao PTH e TSH, ACTH com resposta normal e LH com ação independente. No tipo Ib a resistência hormonal está limitada ao PTH, sem afetar outros hormônios e não há manifestações da AHO. A maioria dos casos é esporádica e os casos familiares descritos têm manifestação autossô- mica dominante. Nestes pacientes também observamos resposta renal defeituosa do AMPc ao PTH exógeno, porém com lesões ósseas do hiperparatireoidismo. Isto sugere que a via de sinal intracelular do receptor do PTH está funcionante no tecido ósseo e defeituoso no tecido renal. Como o defeito de resistência renal leva a aumento dos níveis séricos do PTH, este passa a agir de forma deletéria nos ossos, como no hiperparatireoidismo. Por identificarmos esta resistência específica dos tecidos ao PTH com atividade normal da proteína Gsd em alguns tecidos, a hipótese é de que o defeito estaria no receptor PTH/PTHrp. Entretanto, estudos mostraram que CAP˝TULO 3 175 tal defeito não está no gene que codifica este receptor e sim em outro gene localizado próximo a região do GNAS1, ainda por ser identificado. Existe ainda o tipo Ic, em que há, como no tipo Ia, resistência a múlti- plos hormônios, porém sem defeitos demonstráveis na proteína G. O de- feito estaria em outro local do sistema adenilciclase. O PHP tipo II é uma desordem heterogênea sem base genética ou familiar clara. Suasprimeiras manifestações clínicas podem surgir da in- fância à senilidade e por isso questiona-se se seria uma desordem adquirida ou uma desordem genética com necessidade de um fator precipitante não definido para deflagrar o quadro clínico. Nestes pacientes observa-se após estímulo renal com PTH exógeno: • Ausência de resposta fosfatúrica ao PTH; • Aumento normal do AMPc urinário. Devido aos achados citados, postula-se que o defeito estaria em uma inabilidade do AMPc normalmente produzido em prosseguir a via ou ainda na alteração de outra via de transdução do sinal também dependente do PTH, mas sem relação com o AMPc. Para a compreensão da fisiopatologia desta entidade, estuda-se tam- bém a existência de um inibidor do PTH como causador da resistência. Dados que sugerem esta hipótese são os achados de alguns estudos de diferentes níveis circulantes de PTH imunorreativo (que é alto), e bioativo (que é normal), no PHP tipo I. O plasma destes pacientes também diminui a atividade biológica do PTH exógeno. Além da confirmação da presença de tal inibidor, há outras questões a serem respondidas. Qual é este inibidor ou antagonista? Qual é a sua importância? Seria na verdade conseqüência dos níveis elevados do PTH presentes nesta desordem? O diagnóstico inicia-se naquele paciente com quadro clínico de hipo- paratireoidismo, mas com PTH imunorreativo elevado. Nele, é importante dosar o magnésio, uma vez que este é causa de hipocalcemia resistente. Outras manifestações iniciais são hipotireoidismo neonatal (naqueles em que há acometimento de outros hormônios), insuficiência cardíaca con- gestiva de causa não determinada, doença de Parkinson e síndrome de compressão medular. No caso dos tipos Ia e Ic, a presença da AHO cola- bora para o diagnóstico. No diagnóstico diferencial, devemos considerar que a deficiência grave de vitamina D pode causar padrão clínico e bioquímico similar, devendo sempre ser excluída. Embora o fenótipo da OHA seja bem definido, temos que lembrar que algumas características do AHO estão presentes em ou- tras síndromes genéticas. 176 CAP˝TULO 3 Para a confirmação bioquímica do estado de resistência ao PTH, é utilizado o teste de Ellsworth-Howard clássico e com modificações por Chase, que consiste em administrar PTH e depois dosar AMPc, fosfato e creatinina urinária e sérica. Como resposta normal, esperamos um aumen- to de 10 a 20 vezes nos níveis do AMPc urinário. Importante ressaltar que a resposta do fosfato e do AMPc depende do nível sérico do PTH e cálcio, por isso deve ser feita esta correção antes da realização do teste. O diagnóstico do tipo II é mais difícil. Como pré-requisito, temos que documentar AMPc urinário basal e PTH sérico elevados. Por outro lado, a avaliação da resposta fosfatúrica, que é o achado alterado neste tipo, é difícil de ser interpretada, por existirem variações randômicas do seu clearance renal ao longo do dia. Tabela 3.18 Diagnóstico Diferencial dos Tipos de Pseudo-hiperparatireoidismo DeficiŒncia Osteodistrofia de Outros HereditÆria Tipo AMPc PO4 Hormônios Albright Fisiopatologia Ia ß ß Sim Sim Mutaçªo da Gsa Pseudopseudo N N Nªo Sim Mutaçªo da Gsa Ib ß ß Nªo Nªo Receptor PTH? Ic ß ß Sim Sim Gsa normal I I N ß Nªo Nªo Defic. vit D? O tratamento destes casos tem as mesmas bases do tratamento do hipoparatireoidismo. O objetivo é manter o cálcio sérico normal sem levar à hipercalciúria. Observa-se que estes pacientes normalmente precisam de doses menores da vitamina D3 para controlar o nível de cálcio. A administração de cálcio e vitamina D3 diminui a absorção intestinal do fosfato e aumenta sua excreção urinária. A ação do estrogênio nestes pacientes é controversa, pois se observa que ele diminui os níveis do cálcio sérico. Durante a menstruação, porém, quando seus níveis sofrem queda, algumas mulheres podem apre- sentar hipocalcemia sintomática. Na gravidez, por outro lado, há menor ne- cessidade da vitamina D3 exógena para normalizar o cálcio sérico, o que seria justificado pelo aumento fisiológico da vitamina 1,25 (OH)2D3 de origem placentária. Nas pacientes com hipoparatireoidismo há maiores necessidades de vitamina D3 e cálcio no terceiro trimestre da gestação. Nos indivíduos com PHP tipo Ia, temos que também pesquisar e tratar a deficiência dos outros hormônios. CAP˝TULO 3 177 BIBLIOGRAFIA 1. Bastepe M, Lane AH, Juppner H. Paternal uniparental isodisomy of chromosome 20q and the resulting changes in GNAS1 methylation as a plausible cause of pseudohypoparathyroidism. Am J Hum Genet. May; 68(5):1283-9, 2001. 2. De Sanctis C, De Sanctis V, Radetti G et al. Hypoparathyroidism and pseudohypoparathyroidism. Minerva Pediatr. Jun; 54(3):271-8, 2002. 3. Farfel Z. Pseudohypoparathyroidism: a multitude of mutations in the stimulatory G protein alpha subunit (Gsalpha). J Pediatr Endocrinol Metab. Mar; 15(3):255-7, 2002. 4. Grumbach MM, Conte FA. Disorders os sex differentiation. In: Williams Textbook of Endocrinology, 9th edition. Wilson JD, Foster DW, Jronenberg HM, Larsen PR (editores). WB Saunders Company, 1342-5, 1998. 5. Kalinowska-Nowak A, Garlicki A, Bociaga-Jasik M et al. Calcifications of basal ganglia and cerebellum in patient with pseudohypoparathyroidism – case report. Przegl Lek. 59(7):548-50, 2002. 6. Levine MA. 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Ela é natural do Rio de Janeiro e estudante, atualmente cur- sando a 6a série do 1o grau. Teve doenças comuns da infância, além de bronquite alérgica tratada com nebulização. Nega uso de corticóides, alterações na dentição ou surdez. Cirurgia para correção de escoliose lombar aos 11 anos com haste da quarta vértebra torácica a quarta lombar. Relata menarca aos 11 anos, com ciclos regulares. O pai tem diabete melito e a mãe enfisema, mas nega história familiar de doença óssea semelhante. Possui uma irmã saudável. Mora em casa de alvenaria com confortáveis cômodos. Nega etilismo e tabagismo. Ao exame físico, a paciente apresenta-se tímida, queixando-se de dor óssea. Corada, hidratada, escleras azuladas (Fig. 3.14). PA: 110 · 70mmHg, FC: 90bpm, peso: 51,5kg, altura: 146cm. Tireóide normopalpável. Ritmo cardíaco regular, sem sopros, pulmões limpos. Genitália feminina, no estágio 5 de Tanner (P5 e M5). Restante do exame físico sem alterações. Fig. 3.14 Escleras azuladas. CAP˝TULO 3 179 CONDUTA 1. Exames de sangue e urina de 24 horas: hemograma, cálcio e fósforo séricos e urinários; 2. Radiografia com idade óssea; 3. Densitometria óssea; 4. Iniciar reposição de cálcio e vitamina D, além de alendronato. EXAMES COMPLEMENTARES (TABELA 3.19) Tabela 3.19 Exames Laboratoriais Basais Exames Resultados V.R.1 Hematócrito 39,1 40 a 54% Glicose 80 70 a 110mg/dL Sódio 143 135 a 148mEq/L PotÆssio 4,3 3,5 a 5,3mEq/L Creatinina 0,7 0,7 a 1,4mg/dL CÆlcio 8,2 8,5 a 10,1mg/dL Fósforo 2,7 2,5 a 4,9mg/dL CÆlcio urinÆrio 179 50 a 250mg/24 horas Fósforo urinÆrio 387 340 a 1.300mg/24horas Proteinœria 50 < 150mg/24 horas 1 Valores de referŒncia para adultos. Meu diagnóstico 180 CAP˝TULO 3 RESUMO DO CASO Paciente jovem com história de múltiplas fraturas associadas à dor ós- sea e esclera azulada, sugerindo diagnóstico de osteogenesis imperfecta. Os exames laboratoriais mostram hipocalcemia e fósforo sérico e urinário no limite inferior da normalidade. DISCUSSÃO Osteogenesis Imperfecta (OI) É uma doença hereditária do tecido conjuntivo, cuja patogenia envolve anormalidade quantitativa ou qualitativa do colágeno tipo 1. Este tipo de proteína está presente nos ossos, dentes, ligamentos, pele, esclera etc. Há grande heterogeneidade clínica, pois os defeitos moleculares são variados em genes que codificam dois tipos de proteína, que se combinam para formar os heterodímeros de colágeno tipo 1: cadeias pró- a 1 e pró- a 2. A história familiar ajuda, mas muitos casos são de mutação nova. As características clínicas são de osteopenia, fraturas recorrentes e deformidades ósseas. Os casos graves apresentam também: escoliose, bai- xa estatura, cabeça desproporcionalmente grande para o corpo, deformida- de torácica e cliques mitrais sem doença cardíaca. Os achados radiológicos mais comuns são: osteopenia generalizada, defeitos na forma de ossos longos, platibasia, pode progredir com pneuma- tização excessiva dos seios paranasais e ossos wormianos. A calcificação em formato de pipoca é incomum, mas quando acomete joelhos e cotove- los pode limitar crescimento. As fraturas são geralmente transversais e cicatrizam com taxa normal. Os achados laboratoriais mostram turnover ósseo normal ou elevado, com aumento da fosfatase alcalina e n-telopeptídeo (NTx). Hipercalciúria é comum, sem comprometimento da função renal. A biópsia óssea traz matriz óssea anormal com osso desorganizado. Como alguns casos graves (OI tipo II) resultam em morte intra-útero ou perinatal pelas deformidades causadas, o diagnóstico precoce é de gran- de importância, que pode ser feito com a ajuda da ultra-sonografia no primeiro trimestre, através da visualização de ossos longos encurtados, fraturas múltiplas e esqueleto hipoecogênico. O diagnóstico diferencial inclui osteoporose juvenil idiopática, sín- drome de Cushing, homocistinúria e abuso na infância. CAP˝TULO 3 181 A classificação mais usada é a de Sillence e colaboradores (1970), embora atualmente se tenham descrito outras formas de OI (ex.: tipos V, VI e VII) (Tabela 3.20). Tabela 3.20 Classificaçªo de Osteogenesis Imperfecta, segundo Sillence e cols. (1970) Tipo Clínica Herança Defeito Bioquímico I Estatura normal; Autossômica Diminuiçªo da produçªo Pouca deformidade; Dominante de colÆgeno tipo 1; Escleras azuis; Substituiçªo por outro Diminuiçªo da audiçªo resíduo que nªo Gli na (50% dos casos); tripla hØlice do alfa1. Raro dentinogŒnese imperfecta. IA: sem dentinogŒnese imperfecta IB: com dentinogŒnese imperfecta II Letal no período perinatal; Autossômica Rearranjos nos genes Mineralizaçªo pequena da Dominante do col 1A1 e col 1A2; abóbada craniana; (nova mutaçªo) Substituiçªo dos resíduos Deformidade de ossos longos; Autossômica de glicil no domínio da Costelas em rosÆrio. Dominante tripla hØlice da cadeia (raro) alfa1 e alfa2; Pequena deleçªo no alfa2. III Deformidade progressiva Autossômica Mutaçıes pontuais na dos ossos; Dominante cadeia alfa1 ou alfa2; Moderada deformidade ao nascer; Frameshift mutation: Esclera clareia com o tempo; mutaçªo que impede Estatura muito baixa; Autossômica incorporaçªo do Diminuiçªo da audiçªo: comum; Dominante pró-alfa1 nas molØculas. DentinogŒnese imperfecta Ø comum. IV Esclera normal; Autossômica Mutaçıes pontuais na Deformidade óssea leve; Dominante cadeia alfa2. Raramente Baixa estatura variÆvel; na cadeia alfa1; Pode diminuir a audiçªo; Pequenas deleçıes na DentinogŒnese imperfecta cadeia alfa2. Ø comum. O tipo VII é de herança autossômica recessiva, descrita em índios do norte do Quebec (Canadá). O fenótipo é moderado a grave, caracterizado por fraturas no parto, escleras azuladas, deformidades de membros infe- riores, coxa vara e osteopenia. Os achados histomorfométricos são simila- res aos do tipo I, com diminuição da espessura cortical e do número de trabéculas, aumento do turnover ósseo, e preservação do padrão birrefrin- gente do osso lamelar. O defeito genético foi localizado no cromossoma 3p22-24.1, que é o loci para genes do colágeno tipo I. 182 CAP˝TULO 3 O tratamento ainda é controverso, havendo resultados promissores com bisfosfonatos e preliminares com GH. No 84th Annual Meeting of The Endocrine Society foi sugerido que o pamidronato administrado a cada três meses diminuiria o número de fraturas em crianças com esta doença. Glorieux e cols. administraram pamidronato venoso (dose: 6,8 ± 1,1mg/kg/ano) em 30 crianças com grave OI, com intervalo de 4 a 6 meses por 1,3 a 5 anos. Houve aumen- to da densidade mineral óssea (41,9 ± 29%) e redução sustentada da fosfatase alcalina e NTx. Refere também redução de fraturas confirma- das radiologicamente e melhora substancial da dor crônica e do cansa- ço, sem alterar a taxa de crescimento. Rauch e cols. também avaliaram 165 pacientes com tipo I, II e IV. O NTx permaneceu 30% a 35% mais baixo que o basal após quatro meses de tratamento. Zeitlin e cols. ava- liaram se o pamidronato poderia afetar o tamanho final, avaliando 116 pacientes com tipos I, II e IV: após quatro anos, houve aumento signi- ficativo da estatura naqueles moderada ou gravemente acometidos. Nos primeiros dois dias de tratamento o paciente pode apresentar febre. O cálcio sérico pode diminuir significativamente durante as infusões, prin- cipalmente no primeiro ciclo. O uso de hGH foi avaliado por Antoniazzi e cols. Sete pacientes foram tratados com 0,2mg/kg/semana (0,6IU/kg) de hGH por 12 meses. Compa- rando com sete controles, houve aumento significativo da velocidade de crescimento linear, e a idade óssea não avançou tão rápido quanto a idade cronológica. O índice de fratura por ano também foi menor que antes do tratamento, e nenhum apresentou fratura durante o período de uso do hGH. Houve diminuição do turnover ósseo (níveis de pró-colágeno tipo I carbo- xiterminal foram significativamente menor que os valores basais), e a den- sidade mineral óssea aumentou significativamente na coluna lombar. A melhora na densidade mineral óssea também foi confirmada por estudo de Kanaka-Gantenbein, mas este autor questionou se há real efeito benéfico na altura final dos pacientes. Este questionamento permanece nas recomenda- ções feitas em 2000 por Antoniazzi e cols., sugerindo que este tratamento não deva ser considerado como primeira escolha. Outra forma de tratamento é o transplante alogênico de medula óssea para casos graves, com doadores HLA compatíveis. Cinco pacientes fo- ram avaliados por Horwitz e cols., mostrando melhora na velocidade de crescimento e na densidade mineral óssea quando comparados com con- trole. Continua, porém, como tratamento experimental. A intervenção baseia-se nas cirurgias ortopédica, dentária, de estapédio e reabilitação. CAP˝TULO 3 183 O aconselhamento genético é importante, pois mosaico pode ter filho gravemente afetado. BIBIOGRAFIA 1. Antoniazzi F, Bertoldo F, Mottes M, Valli M, Sirpresi S, Zamboni G, Valentini R, Tato L. Growth hormone treatment in osteogenesis imperfecta with quantitative defect of type I collagen synthesis. J Pediatr. Sep; 129(3):432-9, 1996. 2. Antoniazzi F, Mottes M, Fraschini P, Brunelli PC, Tato L. Osteogenesis imperfecta: practical treatment guidelines. Paediatr Drugs. Nov-Dec; 2(6):465-88, 2000. 3. Buisson O, Senat MV, Laurenceau N, Ville Y. 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