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CAP˝TULO 8 51 88 CAP˝TULOCAP˝TULO Hiperplasia Congênita das Supra-renais Sofia Helena Valente de Lemos-Marini Hiperplasia congŒnita das supra-renais (HCSR) Ø a denominaçªo de um grupo de doenças autossômicas recessivas caracterizadas por uma deficiŒncia enzimÆ- tica da biossíntese de cortisol (Tabela 8.1) que leva a um aumento compensa- tório da secreçªo de corticotrofina (ACTH). AlØm da deficiŒncia de cortisol, os diferentes tipos de hiperplasia podem ter associados um aumento ou uma diminuiçªo da secreçªo de mineralocorticóides e esteróides sexuais. DEFICI˚NCIA DA 20,22 DESMOLASE (CYP11A1) Muito rara. Cursa com diminuiçªo na produçªo dos trŒs tipos de esteróides supra-renais (SR), geralmente leva à perda de sal grave, precoce e letal. No sexo feminino a genitÆlia Ø normal enquanto os recØm-nascidos (RNs) do sexo masculino apresentam ambigüidade genital. DEFICI˚NCIA DA 17 a -HIDROXILASE (CYP17) Muito rara. A deficiŒncia enzimÆtica ocorre nªo só na SR como tambØm nas gônadas. A deficiŒncia de glicocorticóides geralmente Ø leve e acom- panhada de diminuiçªo na produçªo de esteróides sexuais, o que leva à genitÆlia ambígua (chegando atØ a genitÆlia feminina) no sexo masculino. O sexo feminino apresenta genitÆlia normal. O desenvolvimento puberal Ø incompleto ou ausente em ambos os sexos. Neste tipo de hiperplasia hÆ excesso de mineralocorticóides, o que pode levar à alcalose metabólica, hipocalemia e hipertensªo. 52 CAP˝TULO 8 DEFICI˚NCIA DA 3 b -HIDROXISTERÓIDE DESIDROGENASE (3 b -HSD II) Rara. Esta deficiŒncia enzimÆtica tambØm ocorre nas gônadas havendo, portanto, alØm da deficiente produçªo de glicocorticóides, alteraçªo na produ- çªo de esteróides sexuais. Devido ao excesso de ACTH ocorre aumento de esteróides sexuais com açªo androgŒnica fraca, o que pode produzir ambi- güidade genital no sexo feminino. A diminuiçªo da produçªo de esterói- des sexuais fortes leva à virilizaçªo deficiente no sexo masculino (genitÆlia ambígua) e ao desenvolvimento puberal incompleto em ambos os sexos. Esta deficiŒncia enzimÆtica tambØm costuma cursar com deficiente pro- duçªo de mineralocorticóides, levando às crises de perda de sal: acidose metabólica, hipercalemia e hipotensªo. DEFICI˚NCIA DA 11 b -HIDROXILASE (CYP11B1) IncidŒncia em torno de 5% a 8% das HCSR. A deficiŒncia de glico- corticóides leva ao aumento de ACTH que causa: excesso de produçªo de esteróides sexuais levando à genitÆlia ambígua no sexo feminino e à virilizaçªo pós-natal em ambos os sexos, excesso de produçªo da desoxicorticosterona (DOCA) que pode provocar hipertensªo acompanhada de alcalose metabó- lica e hipocalemia. DEFICI˚NCIA DA 21 HIDROXILASE (CYP21A2) A HCSR por deficiŒncia da 21 hidroxilase (HCSR-21) Ø o mais comum destes defeitos enzimÆticos, sendo responsÆvel por mais de 90% dos casos de HCSR. É classificada em duas variantes (Tabela 8.2): Tabela 8.1 Síntese de Cortisol e Nomenclatura das Enzimas Envolvidas Colesterol Œ Pregnenolona Ł 17 OH Pregnenolona Ł Deidroepiandrosterona Œ Œ Œ Progesterona Ł 17 OH Progesterona Ł Androstenediona Œ Œ Desoxicorticosterona 11 Desoxicortisol Œ Œ Corticosterona Cortisol Œ Aldosterona denominaçªo clÆssica anterior atual 20,22 desmolase (SCC) P-450SCC CYP11A1 17 a -hidroxilase/17,20-liase (17-OH) P-450 C17 CYP17 3 b -hidroxisteróide-desidrogenase (3 b -HSD) 3 b -HSD 3 b -HSD II 21 hidroxilase (21-OH) P-450 C21 CYP21A2 11 b -hidroxilase (11 b -OH) P-450 C11 CYP11B1 CAP˝TULO 8 53 clÆssica hÆ deficiŒncia enzimÆtica grave; o hiperandrogenismo ocorre desde a gestaçªo (incidŒncia de 1:14.500 nascidos vivos). tardia a deficiŒncia enzimÆtica Ø menos severa; o hiperandrogenismo nªo Ø evidente nos primeiros anos de vida (incidŒncia em mulheres caucasianas 1% a 2%) Tabela 8.2 Variantes da HCSR 21-OH e Principais Características Clínicas Variante Início Ø Tipo Sexo Feminino Sexo Masculino Andrógenos ClÆssica Nªo-perdedora de sal Ambigüidade Pseudopuberdade PrØ-natal genital precoce Perdedora de sal Ambigüidade genital Desidrataçıes desidrataçıes Nªo- Pós-natal Hiperandrogenismo Pseudopuberdade clÆssica pós-natal precoce HCSR-21 VARIANTE CL`SSICA Na variante clÆssica da HCSR-21 hÆ diminuiçªo de síntese de glicocor- ticóides e excesso de produçªo de andrógenos adrenais associados a graus variados de deficiŒncia de mineralocorticóides. O excesso de andrógenos jÆ se inicia durante a gestaçªo, o que provoca virilizaçªo do feto feminino levando a graus variados de ambigüidade genital. O feto do sexo masculi- no que jÆ tem níveis androgŒnicos altos, devido à produçªo testicular, nªo costuma apresentar macrogenitossomia neonatal. A deficiŒncia de glicocor- ticóides manifesta-se por hipoglicemia, fadiga e pouca tolerância ao estresse conseqüente a infecçıes ou trauma. A sua expressªo clínica varia de acordo com o sexo e com a produçªo defi- ciente ou nªo de mineralocorticóides. Se hÆ deficiŒncia isolada da produçªo de cortisol, sem haver prejuízo da síntese de aldosterona, temos a forma virilizante simples ou nªo-perdedora de sal (NPS); havendo tambØm comprometimento da produçªo de mineralocorticóides teremos a forma perdedora de sal (PS). HCSR-21 Forma Nªo Perdedora de Sal (HCSR-21 NPS) AlØm da produçªo deficiente de cortisol existe aumento na produçªo de andrógenos a partir do terceiro mŒs de gestaçªo, o que provoca, no sexo feminino, ambigüidade genital que pode variar desde uma discreta clitoro- megalia atØ uma genitÆlia totalmente virilizada, indistinguível de uma do sexo masculino, a nªo ser pela nªo-palpaçªo de gônadas. O quadro clínico mais freqüente Ø aumento de clitóris, fusªo de pregas labioescrotais e presença de seio urogenital, que ocorre pela açªo androgŒnica na porçªo distal da vagina. Nªo se palpam gônadas. O desenvolvimento dos ovÆrios e do œtero ocorre normalmente. Se nªo hÆ tratamento adequado, ocorre virilizaçªo progressiva pós-na- tal com progressivo aumento do clitóris, aparecimento de pilificaçªo pubiana, acne e crescimento rÆpido. O tratamento inadequado após a puberdade, sem bloqueio do excesso de andrógenos, pode provocar infertilidade e amenorrØia. 54 CAP˝TULO 8 No sexo masculino a genitÆlia Ø normal ao nascimento mas a exposiçªo contínua a altas concentraçıes de andrógenos provoca aparecimento pre- coce dos caracteres sexuais secundÆrios. Geralmente após o segundo ano de vida ocorrem aceleraçªo do crescimento, pubarca e aumento de pŒnis acompanhados de testículos pequenos (prØ-pœberes), acne, engrossamento da voz, hipertrofia muscular e avanço da idade óssea. Em ambos os sexos o diagnóstico tardio, ou o tratamento inadequado, podem levar a uma maturaçªo do eixo hipotÆlamo-hipófise-gônadas com desencadeamento de uma puberdade precoce verdadeira, que pode anteci- par a fusªo epifisÆria e agravar a baixa estatura. HCSR-21 Forma Perdedora de Sal (HCSR-21 PS) Corresponde a 75% dos casos de deficiŒncia clÆssica de 21-OH e ocorre quando hÆ comprometimento nªo só da produçªo de cortisol, mas tambØm de mineralocorticóides. As crises de insuficiŒncia adrenal costumam ocorrer após a segunda semana de vida, sendo mais freqüentes na primeira infância. Os pri- meiros eventos de uma crise de perda de sal, num RN afetado, sªo a hiperca- lemia e o aumento da atividade de renina plasmÆtica, que geralmente aconte- cem após o quarto dia de vida. O RN apresenta baixo ganho de peso acompanhado de episódios de vômitos, desidrataçªo, colapso vascular e cho- que, levando freqüentemente ao óbito se a reposiçªo de esteróides adrenais nªo for realizada. O diagnóstico diferencial deve ser feito com estenose hipertrófica do piloro, refluxo gastroesofÆgico, infecçªo urinÆria, septicemia, acidose tubular renal, intolerância à lactose e hipoplasia congŒnita das supra-renais. Na menina, devido à ambigüidade genital,o diagnóstico Ø mais evidente, mas nos meninos, que nªo apresentam sinais de hiperandrogenismo ao nas- cimento, o diagnóstico muitas vezes nªo Ø aventado. AlØm disto, a desnutri- çªo geralmente mascara o crescimento acelerado que o excesso de andrógenos deveria provocar, dificultando ainda mais o diagnóstico no sexo masculino. HCSR-21 VARIANTE NˆO-CL`SSICA (HCSR-21 NC) É a denominaçªo atual das deficiŒncias mais leves da 21-OH cuja sintomatologia clínica de hiperandrogenismo tem início pós-natal. JÆ foi chamada de forma de início tardio, atenuada, leve ou adquirida. É caracte- rizada por exposiçªo contínua a concentraçıes baixas de andrógenos que nªo produz doença clínica aparente atØ o fim da infância ou adolescŒncia. Quando ocorre no sexo feminino pode provocar adrenarca prematura, acne, hirsutismo, idade óssea avançada e, algumas vezes, clitoromegalia. Após a puberdade as características mais freqüentes sªo: irregularidade menstrual, acne grave, calvície temporal e infertilidade. É uma das etiologias dos ovÆrios micropolicísticos. A deficiŒncia enzimÆtica Ø raramente diagnosticada no sexo masculino que pode apresentar adrenarca precoce ou, após a puberdade, baixa esta- tura e/ou diminuiçªo da fertilidade. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA HCSR-21 VARIANTES CL`SSICAS O aumento de ACTH leva à produçªo excessiva de progesterona e 17-OH progesterona (17-OHP), com desvio do metabolismo produzindo aumento CAP˝TULO 8 55 de androstenediona, que fica disponível para conversªo adrenal e perifØri- ca em testosterona. Temos, portanto, concentraçıes sØricas aumentadas de 17-OHP, progesterona, androstenediona, testosterona, e aumento urinÆrio de 17-cetosteróides. O marcador desta deficiŒncia Ø a elevaçªo da 17-OHP sØrica, cujos va- lores normais variam de acordo com a idade do paciente. Na forma perdedora de sal a avaliaçªo laboratorial pode mostrar, tam- bØm, acidose metabólica acompanhada de hiponatremia e hipercalemia, alØm do aumento da atividade de renina plasmÆtica. VARIANTE NˆO-CL`SSICA Pode haver aumento moderado das concentraçıes basais de 17-OHP e tes- tosterona. O diagnóstico baseia-se na resposta exagerada (acima de 1.200ng/dl) da 17-OHP após teste de estímulo com ACTH. No sexo feminino a pesquisa da HCSR variante nªo-clÆssica, após a menarca, deve ser feita no início da fase folicular para evitar a secreçªo ovariana de 17-OHP do meio do ciclo e da fase lœtea. TRATAMENTO DA HCSR-21 VARIANTES CL`SSICAS Se a criança estÆ em crise de perda de sal deve-se fazer a reposiçªo da volemia e iniciar a administraçªo de hemissuccinato de hidrocortisona. Costumamos utilizar dose de 50-100mg/m2SC em bolos, IV, seguido de mesma dose infundida nas 24 horas subseqüentes. O mineralocorticóide de esco- lha na crise de perda de sal Ø o acetato de desoxicorticosterona 0,5 a 1,0mg/ dia IM; pode-se usar, quando este nªo estiver disponível, o acetato de fludrocortisona (Florinefe Ò ) 0,05-0,1mg 12/12h VO. A terapia de substituiçªo com glicocorticóides tem como metas a supressªo da hipersecreçªo de 17-OHP e andrógenos, e o bloqueio da virilizaçªo e do avanço do crescimento, sem provocar efeitos colaterais, como hipertensªo e retardo do crescimento. O glicocorticóide de escolha Ø a hidrocortisona oral. Como nªo hÆ pre- paraçªo comercial para uso oral nós utilizamos o acetato de hidrocortisona manipulado. Usualmente iniciamos a terapia com a dose de 20 a 25mg/m2SC/ dia divididos em trŒs tomadas VO. Posteriormente o tratamento deve ser individualizado, de acordo com os controles laboratoriais, a evoluçªo clí- nica, o crescimento e a progressªo da idade óssea. Glicocorticóides mais potentes como prednisona, prednisolona e dexameta- sona devem ser evitados em crianças menores pelo risco de inibiçªo do crescimento, com prejuízo da altura final, podendo ser usados após a pu- berdade. Nos pacientes perdedores de sal deve-se usar o acetato de fludrocortisona oral. A dose necessÆria habitualmente situa-se entre 0,05 a 0,2mg/dia, de- vendo ser dividida em duas ou trŒs tomadas diÆrias no início do tratamento, quando a perda de sal Ø intensa. A dose deve ser ajustada de acordo com a atividade de renina, o sódio e o potÆssio sØricos, e deverÆ ser diminuída se houver aparecimento de hipertensªo arterial ou hipernatremia. Nos lactentes com a forma perdedora de sal hÆ a necessidade de se acres- centar à dieta pelo menos 0,5 a 1g de NaCl a cada 10kg/dia para conseguir 56 CAP˝TULO 8 normalizaçªo dos eletrólitos. Costumamos preparar uma soluçªo com 1g de sal em 100 a 200ml de Ægua e oferecer à vontade nos intervalos das mama- das. Na criança maior esta reposiçªo pode nªo ser necessÆria, mas ela deve ter fÆcil acesso a sal, principalmente em Øpoca de altas temperaturas. Algumas vezes pacientes com a forma clínica nªo perdedora de sal con- seguem melhor controle com associaçªo de doses pequenas de acetato de fludrocortisona. Por este motivo, em muitos serviços tornou-se rotineira a administraçªo de mineralocorticóide a todos os pacientes com a variante clÆssica da deficiŒncia, a fim de garantir a normalizaçªo da atividade de renina plasmÆtica. Em ocasiıes de estresses moderados ou graves (processos infecciosos febris, febre após vacinaçªo, cirurgias) a dose de hidrocortisona deve ser aumen- tada (por exemplo, aumentada em 50% ou dobrada durante um a quatro dias), devendo ser obrigatoriamente administrada IM ou IV caso o pacien- te apresente vômitos. A dose de mineralocorticóide nªo deve ser alterada. Nestas ocasiıes, por ser muito freqüente a ocorrŒncia de hipoglicemias graves, costumamos reforçar a oferta de carboidratos, seja com consumo de sucos ou frutas em maior freqüŒncia, seja atravØs da administraçªo de soro glicosado IV nos casos de necessidade de pausa alimentar. O controle clínico do tratamento Ø realizado atravØs do acompanha- mento do aumento ou ereçªo do clitóris ou do pŒnis, bem como do apa- recimento ou aumento de pilificaçªo pubiana, que podem indicar excesso de produçªo de andrógenos. A estatura deve manter-se dentro dos pa- drıes normais para a idade e para a família, lembrando que a falta de glicocorticóides provoca aumento de andrógenos e aumento da veloci- dade de crescimento, enquanto o excesso de glicocorticóides diminui o crescimento linear. O controle laboratorial, com acompanhamento da 17-OHP, andros- tenediona e, se possível, atividade de renina, deve ser realizado a cada trŒs a seis meses, para posterior ajuste da medicaçªo. Devemos avaliar tambØm a evoluçªo da maturaçªo esquelØtica com a determinaçªo anu- al da idade óssea. Em nossa experiŒncia as mais freqüentes causas de mau controle, prin- cipalmente quando a dose prescrita de acetato de hidrocortisona jÆ estiver acima de 20mg/m2 SC/dia, sªo: erro na manipulaçªo da medicaçªo, falha na administraçªo das doses (esquecimento habitual), nªo administraçªo da medicaçªo em intervalos regulares de cerca de 8 horas cada. A correçªo cirœrgica inicial da ambigüidade genital (clitoroplastia e introi- toplastia) deve ser realizada precocemente atØ os 24 meses, devido à defi- niçªo psicológica do sexo. Algumas vezes hÆ necessidade de nova intervençªo cirœrgica na Øpoca da puberdade, principalmente se houver algum grau de hipoplasia vaginal. O prognóstico dos casos diagnosticados e tratados precoce e adequada- mente Ø bom, com desenvolvimento puberal, psicossexual, altura final e prognósticos em relaçªo à fertilidade semelhantes aos da populaçªo nor- mal, e parece ser diretamente proporcional ao sucesso da reconstruçªo cirœrgica genital. Se o diagnóstico Ø tardio ou o tratamento Ø irregular pode haver acele- raçªo da idade óssea, baixa estatura final e virilizaçªo, com distœrbios menstruais e de fertilidade no sexo feminino. Recomenda-se o tratamento perene dos pacientes do sexo masculino, pois a testosterona aumentada pode provocar supressªo das gonadotrofinas e infertilidade, e porqueo aumento constante de ACTH pode levar ao apa- CAP˝TULO 8 57 recimento de tumores testiculares derivados de restos de cØlulas adrenais implantadas nos testículos. VARIANTE NˆO-CL`SSICA O tratamento da variante nªo-clÆssica da HCSR-21 deve ser realizado somente se a sintomatologia Ø importante, levando ao avanço da idade óssea, acne grave ou distœrbios menstruais; utiliza-se a hidrocortisona oral atØ que o crescimento se complete. A partir desta Øpoca o controle pode ser reali- zado com drogas de meia-vida mais prolongada, como prednisona ou de- xametasona. As doses geralmente sªo menores que aquelas necessÆrias para o controle adequado das variantes clÆssicas de HCSR. Nªo hÆ necessidade de uso de mineralocorticóides. TRIAGEM NEONATAL DAS HCSR Em alguns países Ø realizada a triagem neonatal para a HCSR-21 com base nos seguintes argumentos: Ter esta patologia uma incidŒncia significativa 1:14.500 nascidos vivos (a fenilcetonœria tem incidŒncia de 1:12.000). Evitar o erro de determinaçªo de sexo que costuma ocorrer em meni- nas intensamente virilizadas. Evitar a morte por crises de perda de sal dos pacientes do sexo mas- culino, que por nªo apresentarem clínica de hiperandrogenismo ao nas- cimento, tem seu diagnóstico dificultado. O mesmo se aplica às meni- nas severamente virilizadas, erroneamente identificadas como sendo do sexo masculino. Evitar a ocorrŒncia de morte sœbita em crianças do sexo masculino afe- tadas, que apresentam aumento sØrico de potÆssio sem clínica de per- da de sal. CONSIDERA˙ÕES FINAIS Deve-se pensar em HCSR: Em recØm-nascidos que apresentem ambigüidade genital. Em recØm-nascidos com sexo aparente masculino mas com criptor- quidia bilateral, com ou sem hipospadia. Em lactentes com ou sem desidrataçªo que apresentem hiponatremia e hipercalemia. Em lactentes do sexo masculino com quadro clínico compatível com refluxo gastroesofÆgico acompanhado de desnutriçªo grave, e com epi- sódios freqüentes de desidrataçªo. Em meninos que apresentem pubarca precoce, mesmo que o aumento do pŒnis nªo seja muito evidente e, principalmente, se os testículos forem pequenos. Em crianças com virilizaçªo precoce. Em crianças hipertensas. Todo recØm-nascido que apresente ambigüidade genital deve ter acompa- nhamento cuidadoso de seu ganho de peso, e, se possível, determinaçıes seriadas de sódio e potÆssio no primeiro mŒs de vida, numa tentativa de se evitar uma inesperada, e muitas vezes fatal, crise de perda de sal (Tabela 8.3). 58 CAP˝TULO 8 BIBLIOGRAFIA 1. Azziz R, Dewailly D, Owerbach D. Nonclassic adrenal hyperplasia: current concepts. J Clin Endocrinol Metab 78:810-814, 1994. 2. Forest MG. Hiperplasia suprarrenal congØnita. In: Tratado de Endocrinología PediÆtrica. 2a Edición. Pombo Arias M, (ed). Madrid. pp. 901-935, 1997. 3. Huma Z, Crawford C, New MI. Congenital adrenal hyperplasia. In: Clinical Paediatric Endocrinology. 3rd edition. Brook CGD, (ed). London. pp. 536-557, 1995. 4. Miller WL. 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Tabela 8.3 Diferencial Clínico e Laboratorial das HCSR GenitÆlia Externa DeficiŒncia Sexo F Sexo M Hipertensªo Perda Sal Na K SCC N Ambígua / F - + Œ ØØ 3 b -HSD Ambígua Ambígua / F - + Œ Ø 17-OH N Ambígua / F + - Ø ŒŒ 11-OH Ambígua N - / + - Ø Œ 21-OH NPS Ambígua N - - N N 21-OH PS Ambígua N - + ŒŒ ØØ N = normal ØØ = muito aumentado Ø = aumentado ŒŒ = muito diminuído Œ = diminuído F = feminina (-) = ausente (+) = presente (/) = ou
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